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O PAPEL DO FERRO SOBRE A NUTRIÇÃO E A SAÚDE
Introdução
O ferro é um nutriente mineral encontrado em alimentos de origem
vegetal e animal, e de grande importância para a saúde por seu papel
como constituinte de componentes orgânicos conhecidos como hemo-
proteínas, bem como por sua atuação como agente coenzimático.
Coenzimas são substâncias necessárias para regular todos os passos
metabólicos envolvidos com a manutenção da vida. A hemoglobina,
proteína presente nas células vermelhas do sangue – também chamadas
de hemáceas ou eritrócitos - e a mioglobina, presente nos músculos, são
exemplos de hemoproteínas que dependem do fornecimento regular de
ferro. A quantidade de ferro absorvida pelo intestino é regulada por um
mecanismo sofisticado, que depende dos estoques corporais do mineral,
do conteúdo fornecido pela dieta e da fonte alimentar, além de receber
influência dos outros alimentos ingeridos na mesma refeição. Assim, em
situações de suficiência de ferro, a atividade intestinal limita as
quantidades a serem absorvidas, estimulando a perda pelas fezes para a
manutenção de um nível ótimo no organismo, evitando-se toxicidade; ao
contrário, estando o organismo deficiente em ferro, as vias absortivas são
estimuladas a captar maiores quantidades do nutriente.
Carência de ferro e seus efeitos
Apesar da existência deste refinado mecanismo de controle, não há
garantia de suficiência, e a anemia decorrente da falta de ferro, chamada
ferropriva, acomete cerca de 25% da população mundial. Por este motivo,
é a principal doença carencial observada no mundo, e considerada uma
questão de saúde pública freqüentemente abordada pelos organismos
internacionais de vigilância nutricional.
Nutricionista Semíramis Martins Álvares Domene
PUC/Campinas
Membro do Comitê Técnico do SIC – Serviço de Informação da Carne
A Figura 1 traz o percentual da população de diferentes grupos que
apresenta anemia ferropriva. Desde 1992, o Brasil é signatário de
compromisso proposto pela Conferência Internacional em Nutrição,
ocorrida em Roma e que reuniu representantes de 160 países, no sentido
de reduzir os indicadores de anemia ferropriva. A Política Nacional de
Alimentação espera uma redução em 1/3 dos escolares e pré-escolares
anêmicos até 2003.
Figura 1. Prevalência da deficiência de ferro no
mundo: % de indivíduos por grupo
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Crianças 0-4 a
Crianças 5-12 a
Homens
Gestantes
Mulheres 15-49 a
%
Total
Países em
desenvolvimento
Países
Desenvolvidos
DeMayer, 1989
Esta preocupação justifica-se dados os efeitos danosos da anemia,
não só para o indivíduo, mas também para a sociedade. Pessoas anêmicas
apresentam cansaço, fadiga e desatenção. Em crianças, as conseqüências
são o baixo rendimento escolar, o aumento da susceptibilidade a infecções
e, em casos mais severos, o comprometimento do desenvolvimento
intelectual. Para adultos, os efeitos sobre a profissionalização são
marcantes: indivíduos submetidos a anemia crônica de início precoce
apresentam menor capacidade para o trabalho.
Existem quatro grupos populacionais considerados “de risco” para
anemia, por estarem mais sujeitos a apresentar este quadro: crianças de
até 4 anos de idade, adolescentes, especialmente do sexo feminino,
mulheres em idade fértil e gestantes. As explicações para isto são
Nutricionista Semíramis Martins Álvares Domene
PUC/Campinas
Membro do Comitê Técnico do SIC – Serviço de Informação da Carne
diferentes, mas simples: durante a infância, a alimentação é composta
predominantemente por alimentos lácteos, com pequeno fornecimento de
ferro. Em países como o Brasil, em que as condições de saneamento
básico ainda são precárias para uma parcela considerável da população, a
ocorrência de verminoses é comum, o que causa pequenos sangramentos
intestinais, com aumento das perdas de ferro. O efeito da soma destes
dois fatores expõe a criança a uma situação de desequilíbrio crônico, que
leva à instalação da carência do mineral.
Durante a adolescência, observa-se uma aceleração do crescimento,
com aumento considerável da demanda por ferro para a formação de
novas células vermelhas no sangue e mioglobina para os músculos em
expansão.
Mecanismo semelhante ocorre durante a gravidez, e a gestante
precisa aumentar a quantidade de ferro de sua dieta para garantir matéria
prima para o aumento do volume de sangue e constituição dos tecidos do
feto. Mantendo-se a ingestão de ferro em níveis baixos, naturalmente
haverá a manifestação da carência.
Já para mulheres em idade fértil, as perdas menstruais representam
uma via de eliminação de grande quantidade de sangue, com aumento da
perda de ferro, raramente compensada por aumento na ingestão do
nutriente fornecido pela dieta.
Fontes alimentares
A distribuição do ferro nos alimentos é muito ampla: este mineral é
encontrado nas carnes, nos ovos, nos feijões e nos cereais. Além destes
itens, que contém ferro de ocorrência natural, o consumidor dispõe de
uma gama bastante variada de produtos fortificados com ferro,
especialmente alimentos preparados com cereais (como biscoitos) e leites.
O aproveitamento do ferro contido nos alimentos depende de diversos
fatores, entre os quais destaca-se a forma em que o mineral se encontra.
Nutricionista Semíramis Martins Álvares Domene
PUC/Campinas
Membro do Comitê Técnico do SIC – Serviço de Informação da Carne
Neste sentido, cerca de 40% do ferro contido nas carnes está sob a forma
de ferro-heme, de elevada absorção. Nos alimentos de origem vegetal,
assim como para o ferro remanescente das carnes, encontra-se a forma
não-heme, que sofre a influência de componentes da dieta e resulta em
baixa absorção. Entre os componentes que causam diminuição da
absorção de ferro total da dieta, estão os chás e o café, que possuem
polifenóis, e os cereais integrais e farelos, que possuem fitatos. Outros
produtos, como antiácidos e suplementos nutricionais a base de fosfato de
cálcio, também diminuem a quantidade de ferro disponível. De outro
lado, existem meios de melhorar sua absorção, por meio de combinações
de alimentos fonte (como os feijões) e alimentos ricos em Vitamina C e
proteína animal, que apresentam reconhecida capacidade de estimular o
seu aproveitamento. Desta forma, a associação de frutas frescas às
refeições é uma boa estratégia se o objetivo é combater a anemia.
A Figura 2 mostra as quantidades de ferro que a dieta deve
fornecer por dia, para diferentes grupos etários.
Figura 2: Quantidade de Ferro que a dieta deve fornecer (mg/dia)
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anos -
Homens
19 a 50
anos -
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- 8mg
Gestantes
com
menos de
18 anos
Gestantes
de 19 a 50
anos
Lactação
com
menos de
18 anos
Lactação
de 19 a 50
anos
Nutricionista Semíramis Martins Álvares Domene
PUC/Campinas
Membro do Comitê Técnico do SIC – Serviço de Informação da Carne
Em uma porção de alimento, a quantidade de ferro pode variar
bastante, e entre os alimentos mais ricos, pode chegar a representar 30%
da necessidade diária. Como exemplo, uma porção de carne bovina magra
cozida, de cerca de 100 g, contém entre 2 e 3 mg de ferro, que
representa cerca de 20 a 30 % da necessidade diária de um homem
adulto (10 mg). Para efeito de comparação, uma porção de feijões
cozidos, de cerca de 80 g (uma concha pequena) contém 0,8 mg, e de
soja, cerca de 1,5 a 2,0 mg.
O uso de panelas de ferro
Estudos têm demonstrado que alimentos preparados em panelas de
ferro incorporam o mineral durante o processo, e esta medida é vista por
profissionais de nutrição como uma estratégia interessante para o
combate da anemia. Vale a pena mencionar a preocupação com a
eventual incorporação de outros metais, cuja concentração na dieta não
deve aumentar. São os chamados “metais pesados” que podem estar
presentes nas ligas metálicas empregadas para a confecção destes
utensílios e que podem ter efeito negativo sobre a saúde. Portanto, os
utensílios de ferro devem ser de procedência assegurada.
Concluindo, adoção de boas práticas alimentares, associadas ao
consumo regular de alimentos variados e frescos, é a forma mais segura
para garantir o fornecimento diário de ferro, e assim prevenir a ocorrência
da anemia e de seus efeitos.
Nutricionista Semíramis Martins Álvares Domene
PUC/Campinas
Membro do Comitê Técnico do SIC – Serviço de Informação da Carne
Bibliografia
• DE MAYER, E.M. Preventing and controling iron deficiency
anaemia through primary care. Geneva: WHO, 1989. p. 58.
• DUTRA DE OLIVEIRA, J.E.; MARCHINI, J.S. Levantamento
bibliográfico de estudos bioquímicos-nutricionais sobre
micronutrientes realizados no Brasil. Cadernos de Nutrição, V. 8, p.
31-67, 1994.
• ENGELMANN, M. D. M.; SANDSRÖM, B.; MICHAELSEN K. F. Meat
intake and iron status in late infancy: an intervention study.
Journal of Pediatric Gastroenterology and Nutrition, v. 26, p.
26-33, 1998.
• LARSSON, M.; ROSSANDER-HULTHON, L.; SANDSTRÖM, B.
SANDBERG, A.S. Improved zinc and iron absorption from breakfast
meals containing malted oats with reduced phytate content. British
Journal of Nutrition, v. 76, n. 5, p. 677-88, 1996.
• OMS. Elementos traço na nutrição e saúde humanas. [Trace
elements in human nutrition and health]. Trad. Andréa Favano.
Roca, São Paulo, 1998.
• VÍTOLO, M.R.; AGUIRRE, A.N.C.; KONDO, M.R.; GIULIANO, Y.;
FERREIRA, N; LOPEZ, F.A. Impacto do uso de cereal adicionado de
ferro sobre os níveis de hemoglobina e a antropometria de pré-
escolares. Revista de Nutrição, Campinas, v. 11, n. 2, p. 163-171,
1998.
• TORRES, M.A.A.; SOUZA QUEIROZ, S. Prevenção da anemia
ferropriva em nível populacional. Nutrire: Ver. Soc. Bras. Alim.
Nutr. v. 19/20 p. 145-164, 2000.
Nutricionista Semíramis Martins Álvares Domene
PUC/Campinas
Membro do Comitê Técnico do SIC – Serviço de Informação da Carne

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O Papel do Ferro na Nutrição e Saúde

  • 1. O PAPEL DO FERRO SOBRE A NUTRIÇÃO E A SAÚDE Introdução O ferro é um nutriente mineral encontrado em alimentos de origem vegetal e animal, e de grande importância para a saúde por seu papel como constituinte de componentes orgânicos conhecidos como hemo- proteínas, bem como por sua atuação como agente coenzimático. Coenzimas são substâncias necessárias para regular todos os passos metabólicos envolvidos com a manutenção da vida. A hemoglobina, proteína presente nas células vermelhas do sangue – também chamadas de hemáceas ou eritrócitos - e a mioglobina, presente nos músculos, são exemplos de hemoproteínas que dependem do fornecimento regular de ferro. A quantidade de ferro absorvida pelo intestino é regulada por um mecanismo sofisticado, que depende dos estoques corporais do mineral, do conteúdo fornecido pela dieta e da fonte alimentar, além de receber influência dos outros alimentos ingeridos na mesma refeição. Assim, em situações de suficiência de ferro, a atividade intestinal limita as quantidades a serem absorvidas, estimulando a perda pelas fezes para a manutenção de um nível ótimo no organismo, evitando-se toxicidade; ao contrário, estando o organismo deficiente em ferro, as vias absortivas são estimuladas a captar maiores quantidades do nutriente. Carência de ferro e seus efeitos Apesar da existência deste refinado mecanismo de controle, não há garantia de suficiência, e a anemia decorrente da falta de ferro, chamada ferropriva, acomete cerca de 25% da população mundial. Por este motivo, é a principal doença carencial observada no mundo, e considerada uma questão de saúde pública freqüentemente abordada pelos organismos internacionais de vigilância nutricional. Nutricionista Semíramis Martins Álvares Domene PUC/Campinas Membro do Comitê Técnico do SIC – Serviço de Informação da Carne
  • 2. A Figura 1 traz o percentual da população de diferentes grupos que apresenta anemia ferropriva. Desde 1992, o Brasil é signatário de compromisso proposto pela Conferência Internacional em Nutrição, ocorrida em Roma e que reuniu representantes de 160 países, no sentido de reduzir os indicadores de anemia ferropriva. A Política Nacional de Alimentação espera uma redução em 1/3 dos escolares e pré-escolares anêmicos até 2003. Figura 1. Prevalência da deficiência de ferro no mundo: % de indivíduos por grupo 12 7 3 14 11 51 46 26 59 47 43 18 51 35 37 Crianças 0-4 a Crianças 5-12 a Homens Gestantes Mulheres 15-49 a % Total Países em desenvolvimento Países Desenvolvidos DeMayer, 1989 Esta preocupação justifica-se dados os efeitos danosos da anemia, não só para o indivíduo, mas também para a sociedade. Pessoas anêmicas apresentam cansaço, fadiga e desatenção. Em crianças, as conseqüências são o baixo rendimento escolar, o aumento da susceptibilidade a infecções e, em casos mais severos, o comprometimento do desenvolvimento intelectual. Para adultos, os efeitos sobre a profissionalização são marcantes: indivíduos submetidos a anemia crônica de início precoce apresentam menor capacidade para o trabalho. Existem quatro grupos populacionais considerados “de risco” para anemia, por estarem mais sujeitos a apresentar este quadro: crianças de até 4 anos de idade, adolescentes, especialmente do sexo feminino, mulheres em idade fértil e gestantes. As explicações para isto são Nutricionista Semíramis Martins Álvares Domene PUC/Campinas Membro do Comitê Técnico do SIC – Serviço de Informação da Carne
  • 3. diferentes, mas simples: durante a infância, a alimentação é composta predominantemente por alimentos lácteos, com pequeno fornecimento de ferro. Em países como o Brasil, em que as condições de saneamento básico ainda são precárias para uma parcela considerável da população, a ocorrência de verminoses é comum, o que causa pequenos sangramentos intestinais, com aumento das perdas de ferro. O efeito da soma destes dois fatores expõe a criança a uma situação de desequilíbrio crônico, que leva à instalação da carência do mineral. Durante a adolescência, observa-se uma aceleração do crescimento, com aumento considerável da demanda por ferro para a formação de novas células vermelhas no sangue e mioglobina para os músculos em expansão. Mecanismo semelhante ocorre durante a gravidez, e a gestante precisa aumentar a quantidade de ferro de sua dieta para garantir matéria prima para o aumento do volume de sangue e constituição dos tecidos do feto. Mantendo-se a ingestão de ferro em níveis baixos, naturalmente haverá a manifestação da carência. Já para mulheres em idade fértil, as perdas menstruais representam uma via de eliminação de grande quantidade de sangue, com aumento da perda de ferro, raramente compensada por aumento na ingestão do nutriente fornecido pela dieta. Fontes alimentares A distribuição do ferro nos alimentos é muito ampla: este mineral é encontrado nas carnes, nos ovos, nos feijões e nos cereais. Além destes itens, que contém ferro de ocorrência natural, o consumidor dispõe de uma gama bastante variada de produtos fortificados com ferro, especialmente alimentos preparados com cereais (como biscoitos) e leites. O aproveitamento do ferro contido nos alimentos depende de diversos fatores, entre os quais destaca-se a forma em que o mineral se encontra. Nutricionista Semíramis Martins Álvares Domene PUC/Campinas Membro do Comitê Técnico do SIC – Serviço de Informação da Carne
  • 4. Neste sentido, cerca de 40% do ferro contido nas carnes está sob a forma de ferro-heme, de elevada absorção. Nos alimentos de origem vegetal, assim como para o ferro remanescente das carnes, encontra-se a forma não-heme, que sofre a influência de componentes da dieta e resulta em baixa absorção. Entre os componentes que causam diminuição da absorção de ferro total da dieta, estão os chás e o café, que possuem polifenóis, e os cereais integrais e farelos, que possuem fitatos. Outros produtos, como antiácidos e suplementos nutricionais a base de fosfato de cálcio, também diminuem a quantidade de ferro disponível. De outro lado, existem meios de melhorar sua absorção, por meio de combinações de alimentos fonte (como os feijões) e alimentos ricos em Vitamina C e proteína animal, que apresentam reconhecida capacidade de estimular o seu aproveitamento. Desta forma, a associação de frutas frescas às refeições é uma boa estratégia se o objetivo é combater a anemia. A Figura 2 mostra as quantidades de ferro que a dieta deve fornecer por dia, para diferentes grupos etários. Figura 2: Quantidade de Ferro que a dieta deve fornecer (mg/dia) 11 7 10 8 11 15 8 18 8 27 27 10 9 0 5 10 15 20 25 30 7 a 12 m 1 a 3 anos 4 a 8 anos 9 a 13 anos 14 a 18 anos - Meninos 14 a 18 anos - Meninas 19 a 50 anos - Homens 19 a 50 anos - Mulheres >51 anos - 8mg Gestantes com menos de 18 anos Gestantes de 19 a 50 anos Lactação com menos de 18 anos Lactação de 19 a 50 anos Nutricionista Semíramis Martins Álvares Domene PUC/Campinas Membro do Comitê Técnico do SIC – Serviço de Informação da Carne
  • 5. Em uma porção de alimento, a quantidade de ferro pode variar bastante, e entre os alimentos mais ricos, pode chegar a representar 30% da necessidade diária. Como exemplo, uma porção de carne bovina magra cozida, de cerca de 100 g, contém entre 2 e 3 mg de ferro, que representa cerca de 20 a 30 % da necessidade diária de um homem adulto (10 mg). Para efeito de comparação, uma porção de feijões cozidos, de cerca de 80 g (uma concha pequena) contém 0,8 mg, e de soja, cerca de 1,5 a 2,0 mg. O uso de panelas de ferro Estudos têm demonstrado que alimentos preparados em panelas de ferro incorporam o mineral durante o processo, e esta medida é vista por profissionais de nutrição como uma estratégia interessante para o combate da anemia. Vale a pena mencionar a preocupação com a eventual incorporação de outros metais, cuja concentração na dieta não deve aumentar. São os chamados “metais pesados” que podem estar presentes nas ligas metálicas empregadas para a confecção destes utensílios e que podem ter efeito negativo sobre a saúde. Portanto, os utensílios de ferro devem ser de procedência assegurada. Concluindo, adoção de boas práticas alimentares, associadas ao consumo regular de alimentos variados e frescos, é a forma mais segura para garantir o fornecimento diário de ferro, e assim prevenir a ocorrência da anemia e de seus efeitos. Nutricionista Semíramis Martins Álvares Domene PUC/Campinas Membro do Comitê Técnico do SIC – Serviço de Informação da Carne
  • 6. Bibliografia • DE MAYER, E.M. Preventing and controling iron deficiency anaemia through primary care. Geneva: WHO, 1989. p. 58. • DUTRA DE OLIVEIRA, J.E.; MARCHINI, J.S. Levantamento bibliográfico de estudos bioquímicos-nutricionais sobre micronutrientes realizados no Brasil. Cadernos de Nutrição, V. 8, p. 31-67, 1994. • ENGELMANN, M. D. M.; SANDSRÖM, B.; MICHAELSEN K. F. Meat intake and iron status in late infancy: an intervention study. Journal of Pediatric Gastroenterology and Nutrition, v. 26, p. 26-33, 1998. • LARSSON, M.; ROSSANDER-HULTHON, L.; SANDSTRÖM, B. SANDBERG, A.S. Improved zinc and iron absorption from breakfast meals containing malted oats with reduced phytate content. British Journal of Nutrition, v. 76, n. 5, p. 677-88, 1996. • OMS. Elementos traço na nutrição e saúde humanas. [Trace elements in human nutrition and health]. Trad. Andréa Favano. Roca, São Paulo, 1998. • VÍTOLO, M.R.; AGUIRRE, A.N.C.; KONDO, M.R.; GIULIANO, Y.; FERREIRA, N; LOPEZ, F.A. Impacto do uso de cereal adicionado de ferro sobre os níveis de hemoglobina e a antropometria de pré- escolares. Revista de Nutrição, Campinas, v. 11, n. 2, p. 163-171, 1998. • TORRES, M.A.A.; SOUZA QUEIROZ, S. Prevenção da anemia ferropriva em nível populacional. Nutrire: Ver. Soc. Bras. Alim. Nutr. v. 19/20 p. 145-164, 2000. Nutricionista Semíramis Martins Álvares Domene PUC/Campinas Membro do Comitê Técnico do SIC – Serviço de Informação da Carne