2. É comum ouvirmos afirmações como estas: “Fora da
verdade não há salvação” ou “Fora da Igreja não há
salvação”, ambas se equivalem e contêm o exclusivismo e
o preconceito de quem se julga superior ao outro. “Estou
salvo porque pertenço a esta ou aquela religião, assim nem
preciso me melhorar”. “Para que evoluir? Sou dono da
verdade! Quem não pensa como eu é que está errado!” E
assim por diante.
3. O Evangelho de Jesus é o grande manual da vida, porque
estabelece lições que representam a orientação necessária
para a nossa evolução espiritual. Toda moral do Cristo se
resume na caridade e na humildade, isto é, nas duas
virtudes contrárias ao egoísmo e ao orgulho. Em todos os
seus ensinos, Ele aponta essas duas virtudes como sendo as
que conduzem à eterna felicidade.
4. No capítulo XV de O Evangelho Segundo o Espiritismo,
verdadeiro roteiro para essa caminhada, Kardec registra
uma das máximas mais sublimes de Jesus, colocando-a
como farol a iluminar o caminho a ser seguido, ou seja, o
caminho para a eterna felicidade. Imprescindível,
portanto, sempre renovarmos e aprofundarmos o nosso
entendimento acerca desta sublime máxima: “Fora da
caridade não há salvação”.
5. Muitos de nós, oriundos de religiões dogmáticas, muitas
vezes, mesmo em contato com os ensinamentos cristalinos
do Espiritismo, mantemos o entendimento repassado
nessas religiões, acreditando que, quando Jesus nos fala de
salvação está falando de “ganhar o céu”; céu aí entendido
não como um estado de espírito, mas como um local
material paradisíaco a que os justos teriam direito ao final
de uma única existência.
6. Esse entendimento gera em nós uma atitude muitas vezes
negociadora perante Deus, quando o Bem pretensamente
praticado em direção ao próximo não tem o próximo como
foco, mas sim, a si mesmo: “Se eu for bonzinho com o
outro vou para o céu”. Assim, ao invés de fazermos o Bem
desinteressadamente praticamos uma aparente caridade por
puro interesse; uma verdadeira barganha. Toda vez que
nos afastamos do Bem, nos perdemos do verdadeiro
caminho evolutivo.
7. Kardec, ao trazer Jesus de volta ao nosso sentimento e à
nossa razão, clareou-nos o entendimento, e agora podemos
perceber que esta salvação é contra os nossos próprios
erros. Então, é preciso que nós nos salvemos de nós
mesmos. Porque não são os erros dos nossos pais ou dos
nossos amigos que nos fazem sofrer. Mas os nossos.
Portanto, não adianta fazer o Bem só como pagamento de
pedágio para a entrada no paraíso.
8. A Parábola do Bom Samaritano é um belo símbolo dessa
caminhada, onde muitas pessoas que a princípio
poderíamos considerar como “salvas” pelo conhecimento
que possuíam, demonstraram estar em verdade
completamente “perdidas”, ao passarem ao largo do irmão
caído na estrada.
Respondendo a um doutor da lei, que querendo parecer
que era justo, indagara quem é o meu próximo? Jesus,
tomando a palavra, contou essa alegoria:
9. “Um homem que descia de Jerusalém para Jericó caiu em
poder de ladrões que o despojaram, cobriram o infeliz de
ferimentos e se foram, deixando-o semimorto. Aconteceu
em seguida que, um sacerdote descendo pelo mesmo
caminho o viu e passou adiante. Um levita que também
veio àquele lugar, tendo-o observado, passou igualmente
adiante. Mas, um samaritano que viajava, chegando ao
lugar onde jazia aquele homem e tendo-o visto, foi tocado
pela compaixão.
10. Aproximuo-se dele, deitou-lhe óleo e vinho nas feridas e
as pensou; depois, pondo-o no seu cavalo, levou-o a uma
hospedaria e cuidou dele. No dia seguinte tirou dois
denários e os deu ao hospedeiro, dizendo: -Trata muito
bem deste homem e tudo o que despenderes a mais, eu te
pagarei quando regressar. Qual desses três te parece ter
sido o próximo daquele que caíra em poder dos ladrões?
Perguntou Jesus. O doutor da lei respondeu: -aquele que
usou de misericórdia para com ele. Então, vai, diz o
Cristo, e faze o mesmo”.
11. O Bom Samaritano, considerado herege, foi o único que
efetivamente fez o Bem e o fez de forma completamente
desinteressada e dedicada. E, ao final dessa significativa
parábola, Jesus se dirige ao doutor da lei, que neste
momento pode ser o símbolo de cada um de nós que,
conhecedores da Doutrina Espírita, já possuímos “olhos de
ver” e “ouvidos de ouvir” e nos convida a praticar a
caridade.
12. A caridade, segundo Jesus, não se restringe à esmola,
abrange todas as relações com nossos semelhantes, quer se
trate de nossos inferiores, iguais ou superiores. Ela nos
manda ser indulgentes porque temos a necessidade de
indulgência, e nos proíbe humilhar o infortúnio. O
significado da caridade que encontramos nessa parábola
vai mais além do que imaginamos. Implica em estarmos
no nosso dia a dia observando todas as oportunidades de
sermos úteis àqueles irmãos de jornada que estão ao nosso
lado, porque existem infortúnios ocultos.
13. O exercício da caridade passa por muitos estágios. Apenas
a compreensão de que ela é condição essencial para a
elevação espiritual não torna o novo discípulo em
merecedor do reino de Deus. Não nos adianta ter somente
a teoria, pois, que, a prova a que seremos submetidos pela
Providência Divina, para a promoção desejada, consta
essencialmente de atividades práticas. Não existem
perguntas nesse exame, e só serão promovidos aqueles que
apresentarem maior bagagem de amor em seus corações e
uma história mais longa de indulgência, benevolência, e de
beneficência em suas ações.
14. A caridade é algo muito mais profundo e importante do
que apenas dar o que nos sobra aos carentes. Embora isto
também seja um ato caritativo, não resume a grandiosidade
desta virtude. Caridade é doar-se ao próximo, condição
que não requer recurso financeiro nem influência social.
Todos nós podemos fazê-la. Ao negarmos ao nosso irmão
o nosso apoio, a nossa atenção, estaremos assumindo mais
um compromisso de resgate de dívidas com o nosso futuro.
Naquele momento tivemos uma grande oportunidade de
demonstrar a nós mesmos que entendemos e aceitamos as
palavras de Jesus, porém a perdemos.
15. Segundo Jesus, tudo o que fizermos ao necessitado é a Ele
que estaremos fazendo. Se nós agirmos como agiu o
anônimo bom samaritano que, sem questionar ou emitir
julgamentos acerca do ferido caído à margem da estrada,
arregaçou as mangas e o trouxe de volta à vida, estaremos
praticando a caridade verdadeira.
É bom lembrar que estamos vivendo na pré-história de um
mundo de regeneração. Quantos caídos à margem do
caminho temos socorrido? O que estamos fazendo
efetivamente para que esse momento não se alongue em
demasia?
16. Vamos escolher o caminho das pedras e cascalhos,
ferindo-nos, acumulando pontos de dor e de sofrimento?
Ou vamos seguir essa proposta de Jesus, entendendo que
fora da caridade não há salvação?
Por que será que o Cristo escolheu o samaritano e não o
sacerdote ou o levita para prestar auxílio ao necessitado?
Para deixar bem claro que praticar caridade não é
privilégio das pessoas religiosas. Mas procedimento
comum às almas nobres e compassivas, ainda que, às
nossas vistas, pareçam distantes de Deus por não
possuírem religião.
17. Que lição Jesus nos oferece com essa parábola? Para
olharmos à nossa volta e descobrir as necessidades
aparentes ou secretas de nossos irmãos; amenizar-lhes as
dores, consolar-lhes as aflições. Enfim, a sermos seus
“Bons Samaritanos”.
Por tudo isso, nós podemos concluir que a salvação do
espírito depende do Bem que ele faz ao próximo, e não as
práticas exteriores ou rótulos religiosos.
18. Assim, sendo, devemos nos revestir de bondade, e dar a
nossa parcela de esforço aos falidos do caminho. Não lhes
perguntando quem são, de onde vêm, ou por que caíram.
Em qualquer situação, sejamos o bom samaritano,
considerando todo e qualquer irmão que seja colocado à
nossa frente, não como o adversário de ontem ou o
inimigo de hoje, mas como nosso próximo, a quem
devemos ajudar.
A caridade é a maior das virtudes.
Muita paz!