O pai conta uma história para seus três filhos sobre seus deveres de levar presentes para o rei. Ao tentarem cumprir seus deveres, cada irmão se preocupa com o dever do outro e nenhum consegue cumprir o seu, resultando na perda dos presentes. O pai ensina que o caminho mais curto para a plenitude é o cumprimento do próprio dever.
2. Três filhos se reuniram com o pai, um sábio, para questioná-lo qual seria o
caminho mais curto para a plenitude da vida. E o pai, aproveitando aquele
momento, disse para eles:
- Antes de responder a pergunta, eu vou lhes dar uma incumbência. O rei
gosta muito de ser presenteado, e eu tenho aqui três presentes para dar ao
nosso soberano. E de tal forma, eu preciso muito da ajuda de vocês.
Você, que é o mais velho, mais experiente, vai levar um vaso muito
bonito, e de muito valor. Mas tome muito cuidado, porque ele é
extremamente frágil, um manuseio em falso pode quebrá-lo, e será um
desastre. Sei também que ele gosta muito de corça, e eu criei uma especial
para sua majestade. Mas, cuidado, ela é ágil e tem uma energia muito
grande, de tal forma que você, meu filho do meio, tome muito cuidado com
ela para que não fuja.
3. Como o rei gosta muito de bolo, a sua mãe preparou um bolo delicioso para
ele, disse ao filho mais novo. Então, é preciso muito cuidado para que esse
bolo não venha a ficar despedaçado. Depois que vocês voltarem, eu darei a
resposta da pergunta que me foi feita. Andem! Façam o que eu estou
pedindo.
Os rapazes saíram em direção ao palácio, levando os presentes para o rei.
Começaram a caminhada. Logo o do meio disse ao mais velho para que
tomasse muito cuidado com o vaso: - segure-o bem; proteja-o com seu
corpo. Aí, o de trás disse para o do meio: - você está preocupado com o vaso
do nosso irmão mais velho, mas cuidado com a corça, porque se você não
segurá-la muito bem ela vai escapar. O mais velho aproveitou a ocasião para
repreender o mais novo:
4. - Você fica falando aí, mas cuidado com o bolo.
Volta e meia, sempre um lembrava ao outro:
- Cuidado com o vaso; cuidado com a corça; cuidado com o bolo.
E, assim, foram seguindo. No fato de um se preocupar com a
responsabilidade do outro, a corça foge. Foi aquele alvoroço. O irmão mais
velho, para ajudar na captura da corça, colocou o vaso no chão para sair
correndo. Só, que, o vaso bateu numa pedra e se estilhaçou. O irmão mais
jovem, querendo também ajudar, colocou o bolo no chão, e também saiu
correndo. Não conseguiram pegar a corça. Quando o irmão mais novo
voltou para pegar o bolo, este já havia sido consumido pelas formigas. Foi
uma situação muito dramática para aqueles três jovens. Não conseguiram
objetivar o intento, e voltaram à casa do pai para relatar o acontecido.
5. O pai aproveitou o ensejo para responder à pergunta dos filhos. Vocês me
perguntaram qual o caminho mais curto para a plenitude da vida. E eu vou
dizer que é exatamente o que vocês não fizeram, que é o cumprimento do
dever. O seu dever era levar o vaso, disse ao mais velho; o seu era levar a
corça, disse ao do meio; e o seu era levar o bolo, disse ao mais novo.
Mas, no entanto, muito antes
de se preocuparem com os seus
deveres, vocês se preocuparam com os deveres dos outros, e não cumpriram
os seus.
Reflexão:
Com base na estória narrada acima (autoria não revelada), vamos analisar a
questão do dever. Dever é o princípio da ação e estriba-se na razão. Muitas
vezes, o dever é usado como sinônimo de obrigação...
6. Enquanto obrigação designaria a necessidade moral que vincula a pessoa a
proceder de determinado modo. Dever significaria esse procedimento a que
ela está obrigada. O dever, na sua origem, e segundo os estoicos (aqueles
que seguem o estoicismo), pertencia a uma ética fundada na norma do viver
segundo a Natureza, isto é, conformar-se à ordem racional do todo. Os
estoicos não se referiam à felicidade, ao prazer ou à conquista de
virtudes, simplesmente alimentavam a crença que, havendo uma lei
natural, a conduta humana nela seria alicerçada. Isso já era suficiente para
pautar o comportamento de cada ser humano. O dever está presente em
todos os aspectos de nossa vida de relação. Refletir sobre os nossos deveres
e obrigações é muito útil para o nosso aperfeiçoamento moral e intelectual.
7. Sócrates, Platão e Aristóteles, filósofos gregos, deram outro verniz ao dever:
embora aceitassem a conformação com a ordem racional do
todo, procuraram relacioná-lo com a felicidade e a prática das virtudes.
Dever e o Evangelho Segundo o Espiritismo
O dever é o conjunto das prescrições da lei moral, primeiro para consigo
mesmo, e depois para com os outros. O dever é a lei da vida, é a regra pela
qual o homem deve conduzir-se nas relações com seus semelhantes e com o
Universo inteiro. O dever encontra-se tanto nos mais ínfimos como nos
mais elevados detalhes da vida. O dever “De” e o dever “Para com” são
conquistas do homem espiritualizado. É o reconhecimento de que somos
todos iguais perante a lei de Deus.
8. Estamos todos envolvidos em um mesmo processo de evolução individual e
coletiva, e o dever (o substantivo, não o verbo) constitui-se então, um aliado
importantíssimo. Há várias formas de dever, descritos por Léon Denis, no
livro “Depois da Morte”: o dever para com Deus, na busca do conhecimento
de Suas leis e no esforço de sua prática; dever para consigo mesmo, que
consiste no respeito a si próprio em governar-se com sabedoria e em querer
sempre o que for útil, bom e belo; o dever profissional, que exige o
cumprimento consciencioso das obrigações, das funções exercidas; os
deveres
familiares,
que
quanto
melhor
compreendidos
e
cumpridos, concorrem para que a família seja de fato, um núcleo facilitador
do desenvolvimento do amor entre seus membros, irradiando-se para a
comunidade.
9. O dever não é idêntico para todos; varia segundo a condição e saber. Quanto
mais nos elevamos tanto mais a nossos olhos ele adquire
grandeza, majestade, extensão. O dever é a regra pela qual o homem deve
conduzir-se nas relações com seus semelhantes e com o Universo inteiro.
Figura nobre e santa, o dever paira acima da Humanidade. O dever inspira
os grandes sacrifícios, os puros devotamentos, os grandes entusiasmos.
Risonho para uns, temível para outros, inflexível sempre, ergue-se perante
nós, apontando a escadaria do progresso, cujos degraus se perdem em
alturas incomensuráveis. O culto do dever é sempre agradável ao virtuoso e
a submissão às suas leis é fértil em alegrias íntimas, inigualáveis. O dever
íntimo do homem está entregue ao seu livre-arbítrio, o aguilão da
consciência, ...
10. Esse guardião da probidade interior, o adverte e sustenta, mas ele se mostra
frequentemente impotente diante dos sofismas da paixão. Mas como
precisar esse dever? Onde ele começa? Onde acaba? “O dever começa
precisamente no ponto em que ameaçais a felicidade ou a tranquilidade do
vosso próximo, termina no limite que não gostaríeis de ser ultrapassado em
relação a vós mesmos”. Por mais obscura que seja a condição do
homem, por mais humilde que pareça a sua sorte, o dever domina-lhe e
enobrece a vida, esclarece a razão, fortifica a alma. Ele nos traz essa calma
interior, essa serenidade de espírito, mais preciosa que todos os bens da
Terra e que podemos experimentar no próprio seio das provações e dos
reveses. Não depende de nós desviarmos os acontecimentos, porque o nosso
destino deve seguir os seus trâmites rigorosos; mas sempre
podemos, mesmo através de tempestades, firmar essa paz de consciência, ...
11. Esse contentamento íntimo que o cumprimento do dever acarreta. Todos os
Espíritos superiores têm profundamente enraizado em si o sentimento do
dever; é sem esforços que seguem a própria rota. É por uma tendência
natural, resultante dos progressos adquiridos, que se afastam das coisas vis e
orientam os impulsos do ser para o bem. O dever torna-se, então, uma
obrigação de todos os momentos, a condição imprescindível da
existência, um poder ao qual nos sentimos indissoluvelmente ligados para a
vida e para a morte. A prática constante do dever leva-nos ao
aperfeiçoamento. Para apressá-lo, convém que estudemos primeiramente a
nós mesmos, com atenção, e submetamos os nossos atos a um exame
escrupuloso, porque ninguém pode remediar o mal sem antes o conhecer.
Você é único na vida. Seus deveres são somente seus, e são ...
12. Em verdade escolhas do seu espírito no curso educativo que segue para a
perfeição. O cumprimento do dever depende das circunstâncias, ou
seja, implica em contrariar e ser contrariado. Por isso, ao estarmos livres
para escolher esta ou aquela ação, tornamo-nos responsáveis pelo que
praticarmos. Se nós quisermos ser felizes devemos cumprir o nosso dever e
o primeiro que devemos cumprir é conosco mesmo. É um dever para com a
nossa própria pessoa. Ajamos sempre de acordo com o interesse geral. Esta
ação várias vezes repetida, amplia-nos a visão de mundo, colocando-nos no
devido lugar para o cumprimento de nossos deveres.
Muita Paz!
Meu Blog: http://espiritual-espiritual.blogspot.com.br