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Capacitação em Educação para o Trânsito – Módulo 1
SENASP/MJ - Última atualização em 18/09/2009
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Capacitação em Educação para o Trânsito
Conteudista
Rubiane Pereira Bezerra – Policial rodoviário federal
Capacitação em Educação para o Trânsito – Módulo 1
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Apresentação
Os conflitos da convivência humana e a divisão entre o bem individual e o bem
coletivo têm refletido no alto índice de acidentes automobilísticos e,
consequentemente, mortes no trânsito, requerendo por parte do Estado medidas
urgentes de controle, combate e prevenção de acidentes de trânsito.
Nesse contexto, a polícia rodoviária federal tem por competência atuar em 65.000km
de rodovias federais, onde, além de fiscalizar e autuar veículos e usuários infratores,
conscientiza os condutores da necessidade de atenderem as normas de convivência
no trânsito, a fim de reduzir os índices de mortes nas rodovias federais.
Para que isso ocorra, são necessárias várias medidas e uma delas é o
aperfeiçoamento profissional de acordo com as exigências de uma sociedade
moderna, ou seja, o policial rodoviário federal deve ser versátil o bastante para
atuar não só no combate à criminalidade e no atendimento aos acidentes de trânsito,
como também na sua prevenção.
Bom estudo!
Com o curso a distância de Educação para o Trânsito, o DPRF espera:
● Conscientizar o policial rodoviário federal de que esse papel social demanda de
todos uma postura ética, o conhecimento da legislação em vigor e o compromisso
com a construção de um trânsito mais consciente e harmonioso;
● Agregar ações educativas preventivas às ações fiscalizatórias, como um dos
caminhos para a melhoria da qualidade do trânsito, garantindo, assim, o
cumprimento do Código de Trânsito Brasileiro e o fortalecimento da imagem
institucional da Polícia Rodoviária Federal enquanto componente do Sistema Nacional
de Trânsito; e
● Demonstrar que, além das ações rotineiras, a categoria específica de educador de
trânsito requer técnicas próprias de didática, de comportamento humano, unindo o
Capacitação em Educação para o Trânsito – Módulo 1
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conhecimento com sua forma adequada de exposição. Dessa forma, conseguir maior
eficiência em sua missão principal, que é “salvar vidas”.
Além do aperfeiçoamento profissional é importante observar que os projetos,
programas, campanhas e outras propostas para desenvolver ações voltadas à
educação para o trânsito no Brasil surgiram a partir da implementação do primeiro
Código Nacional de Trânsito (Decreto-Lei nº 3.651, de 25 de setembro de 1941).
Desde então, o Brasil – especialmente por meio dos órgãos executivos de trânsito –
não parou mais de produzir materiais educativos na área. De 1950 a 1980, foram
elaborados manuais, cartilhas, fitas cassete, slides e até discos de vinil... O
conteúdo? Obediência e reconhecimento ao policial de trânsito, punições para o
descumprimento das leis, regras e mais regras de trânsito. Na verdade, esses
materiais não poderiam ser diferentes, pois refletiam a ideologia política da época.
Veja um exemplo.
Campanha Educativa de Trânsito
(…) O homem sofre para conhecer, como a criança é castigada para aprender. Nunca
será, com efeito, mal empregado um puxão de orelhas como corretivo para as
travessuras de um menino endiabrado. (…) Se a criança se submete ao imério da
força que pune, também o adulto aceita com submissão a ação repressora do Estado.
(…) Tudo isso vem a propósito dos ciclistas, as crianças grandes do tráfego. (…) Mas
de todas as faltas, a mais grave é, sem dúvida, esse hábito inveterado que eles têm
de circular nos passeios. (…) Para acabar com esse abuso só há um remédio: multas
elevadas. Não há outro jeito, não; perder dinheiro é o que dói. Só o temor desses
bárbaros pelo prejuízo a que ficassem, assim, sujeitos, poderia por fim a isso.
PEQUENO, Waldemar. Campanha Educativa de Trânsito (palestras). Belo Horizonte,
1955.
Era um produto do autoritarismo dessa época e da manipulação por ele dos aparelhos
policiais. A atividade policial foi caracterizada pela sociedade como repressora e
antidemocrática, truculenta, conservadora, gerando de fato uma divisão entre
sociedade e polícia, como se a última não fizesse parte da primeira.
De 1990 aos dias atuais, o crescimento da democracia e o avanço tecnológico
possibilitaram a ampliação e a reflexão de várias questões que envolvem as
atividades de Segurança Pública, bem como a sensibilização para a problemática do
Capacitação em Educação para o Trânsito – Módulo 1
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contexto trânsito. Na elaboração dos recursos educativos, os slides foram
substituídos pelos vídeos; os discos de vinil, por CDs e CD-ROMs. Hoje, é possível
encontrar uma enorme variedade desses recursos. Os manuais e as cartilhas
resistiram ao tempo, mas de resto, quanto mais moderno melhor.
Será que o conteúdo desses materiais reflete os valores democráticos que
precisam ser trazidos à luz,debatidos e ensinados num país em processo de
democratização? Atende às expectativas das pessoas? Estimula a reflexão sobre a
necessidade de mudanças das atuais políticas de Segurança Pública, buscando
priorizar a dimensão pedagógica/educativa do policial em sua formação
profissional? Educa – realmente – para a construção de um trânsito melhor?
São muitos os questionamentos, porém, não é necessário solucioná-los agora. Espera-
se que no decorrer deste curso, importantes aprendizados sejam construídos para
possibilitar mudanças significativas na consciência, postura e atuação do policial
rodoviário federal.
O curso de Formação de Educadores para o Trânsito, da Polícia Rodoviária
Federal, criará condições para que você possa:
● Ampliar os conceitos que norteiam a atuação pedagógica no contexto policial;
● Identificar a legislação pertinente acerca das ações de educação para o trânsito no
contexto escolar e no âmbito da polícia rodoviária federal;
● Identificar os valores culturais e éticos necessários à boa convivência e segurança
no trânsito, relacionando-os à prática educacional;
● Compreender a dimensão coletiva das relações sociais e a necessidade de
contextualizá-la ao inalienável direito de ir e vir;
● Compreender a dinâmica e a natureza de comportamentos arriscados no trânsito,
considerando-os no planejamento de ações educativas de trânsito, bem como na
atuação policial
● Reconhecer a importância da transversalização do tema trânsito nas escolas;
● Identificar os principais recursos educativos a serem utilizados em ações de
educação para o trânsito, bem como sua finalidade na aplicação;
● Apropriar-se do funcionamento da área de educação para o trânsito no âmbito do
Departamento de Polícia Rodoviária Federal;
Capacitação em Educação para o Trânsito – Módulo 1
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● Utilizar os passos para a elaboração de projeto básico ou termo de referência,
visando ao planejamento e à operacionalização de ações educativas de trânsito; e
● Fortalecer uma atitude consciente e crítica em relação à postura e a
responsabilidade na construção de um trânsito mais educado.
Para alcançar seus objetivos, o curso está dividido em 3 módulos:
Módulo 1 – Legislação, ética e convivência
Módulo 2 – Trânsito: Um enfoque comportamental e pedagógico
Módulo 3 – O DPRF e a educação para o trânsito
Uma pesquisa realizada em 2005, pelo IPEA – Instituto de Pesquisa Econômica e
Aplicada, Denatran e ANTP – Associação Nacional de Transportes Públicos demonstra
que, nas rodovias federais, os atropelamentos ocupam o segundo lugar no ranking de
mortalidade por acidente. A cada 34 atropelamentos ocorrem 10 mortes; ocorrem
cerca de 4 mil atropelamentos por ano, aproximadamente um a cada duas horas.
Minas Gerais, Rio de Janeiro, São Paulo, Santa Catarina e Paraná lideram com 54%
das mortes de pedestres e 12 rodovias federais detêm 75,3% das ocorrências
envolvendo pedestres, das quais, as três primeiras (BR-116, BR-101, BR-040)
respondem por 50% das mortes.
A maioria dos acidentes envolvendo pedestres ocorre à noite, sendo mais crítico o
período das 18h às 20h. Os estados e as rodovias identificadas dão um indicativo de
que as travessias urbanas das rodovias federais podem ser a principal área dessa
violência contra a vida dos pedestres.
Os acidentes com motocicletas guardam proporções semelhantes. Embora eles
tenham representado 10,8% de todos os acidentes, causaram 15,2% de todas as
mortes.
A pesquisa também visa fornecer indicativos para a formulação de políticas públicas
e programas efetivos voltados, não só para a redução do número de acidentes, mas,
sobretudo, para a redução da gravidade desses acidentes. O custo médio associado à
pessoa de um ileso corresponde a R$ 1.040,00, já uma vítima classificada como
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ferida apresenta um custo médio de R$ 36.305,00, uma vítima fatal gera custo de R$
270.165,00, e o custo total de um acidente é de R$ 407.000,00.
Considerando o número de mortos em 2008, estima-se que nesse mesmo ano foram
gastos, diariamente, R$ 4.862.970,00 e, anualmente, R$ 780.387.350,00 com vítimas
fatais nas rodovias brasileiras.
Veja a tabela com os dados dos acidentes referentes ao ano de 2006, 2007 e 2008.
Fonte: ROD On Line – Polícia Rodoviária Federal
Atualmente, os acidentes de trânsito se tornaram questão de saúde pública e a
tendência mostra que a educação para o trânsito está entre as principais armas na
luta contra essa triste realidade. É urgente e necessário implementar medidas para o
constante aperfeiçoamento das ações educativas pelos órgãos componentes do
Sistema Nacional de Trânsito. Não basta sinalizar as vias públicas ou colocar radares
nas avenidas, é preciso educar.
É a educação para o trânsito a ação capaz de sensibilizar os cidadãos brasileiros para
a mudança de comportamentos arriscados. A educação para o trânsito, enquanto
ação preventiva, constitui um instrumento de transformação da cultura no trânsito.
Capacitação em Educação para o Trânsito – Módulo 1
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Após as considerações introdutórias leia o texto “História do lápis” e reflita sobre a
questão colocada.
REFLEXÃO: “HISTÓRIA DO LÁPIS”
Você conhece a história do lápis?
Um menino olhava a avó escrevendo uma carta. A certa altura perguntou: -
Você está escrevendo uma história que aconteceu conosco? E por acaso, é uma
história sobre mim? A avó parou a carta, sorriu, e comentou com o neto: - Estou
escrevendo sobre você, é verdade. Entretanto, mais importante do que as palavras,
é o lápis que estou usando. Gostaria que você fosse como ele quando crescesse. O
menino olhou para o lápis, intrigado, e não viu nada de especial: - Mas ele é igual a
todos os lápis que vi em minha vida! Respondeu a avó: - Tudo depende do modo
como você olha as coisas. Há cinco qualidades nele que, se você conseguir mantê-las,
será sempre uma pessoa em paz consigo mesmo, com os outros e com Deus.
Primeira qualidade: Você pode fazer grandes coisas, mas não deve esquecer
nunca que existe uma mão que guiará seus passos. Esta mão nós chamamos de Deus,
e Ele deve sempre conduzi-lo em direção à Sua vontade.
Segunda qualidade: De vez em quando eu preciso parar o que estou
escrevendo e usar o apontador. Isso faz com que o lápis sofra um pouco, mas no
final, ele estará mais afiado. Portanto, saiba suportar algumas dores porque elas o
farão ser uma pessoa melhor.
Terceira qualidade: O lápis sempre permite que usemos uma borracha para
apagar aquilo que está errado. Entenda que corrigir uma coisa que fizemos não é,
necessariamente, algo mau, mas algo importante para nos manter no caminho da
justiça.
Quarta qualidade: O que realmente importa no lápis não é a madeira ou sua
forma exterior, mas o grafite que está dentro. Portanto, sempre cuide daquilo que
acontece dentro de você.
Finalmente, a quinta qualidade do lápis: Ele sempre deixa uma marca. Da
mesma maneira, saiba que tudo que você fizer na vida irá deixar traços...
Paulo Coelho
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Com base nos conceitos iniciais, na problemática atual do trânsito e na mensagem
acima, reflita sobre o que pode ser feito pelo policial rodoviário federal, enquanto
educador, na busca por um trânsito mais humanizado?
Módulo 1 – Legislação, ética e convivência
Antes de iniciar o estudo deste módulo, assista ao vídeo(
http://www.youtube.com/watch?v=A3WbWOBJxks ) da música Rua da Passagem
(Trânsito), ou leia a sua letra( http://vagalume.uol.com.br/lenine/rua-da-passagem-
transito.html ). Em seguida, pense sobre a seguinte questão:
De que maneira valores como cooperação, respeito, colaboração, tolerância,
equilíbrio pessoal, amizade, vida, liberdade, justiça, solidariedade, igualdade e
responsabilidade podem subsidiar as ações de educação para o trânsito?
Por que somente os aspectos legais não bastam para tornar a
convivência no trânsito segura?
Neste módulo, você estudará os aspectos legais e éticos relacionados à convivência
humana no trânsito.
Ao final do estudo deste módulo, você será capaz de:
● Identificar os aspectos legais nos quais a educação para o trânsito está inserida;
● Analisar os aspectos contextuais que limitam a relação entre o Código de Trânsito
brasileiro
versus Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional;
● Reconhecer a importância de se pensar e agir ética e coletivamente;
● Utilizar valores como a base da elaboração de ações de educação para o trânsito.
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Este módulo está dividido em:
Aula 1 – Aspectos legais
Aula 2 – Ética e cidadania no trânsito
Aula 3 – Convivência humana no espaço coletivo
Aula 1 – Aspectos legais
A educação para o trânsito inclui a percepção da realidade, educação, assimilação e
incorporação de novos hábitos e atitudes perante o trânsito, enfatizando a
responsabilidade do governo e da sociedade, em busca da segurança e bem-estar.
Nesse sentido, Freire (1999) lembra que se a educação sozinha não transforma a
sociedade, sem ela tampouco a sociedade muda.
A educação para o trânsito tem fundamento na Constituição da República Federativa
do Brasil, de 1988:
Art. 23 É competência comum da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos
Municípios:
(...)
XII – Estabelecer e implantar política de educação para a segurança do trânsito.
Nesse dispositivo constitucional, fica clara a abrangência que deverá possuir a
dimensão educativa, priorizando as políticas de educação e a segurança no trânsito.
Veja o que estabelece o Código de Trânsito Brasileiro (CTB – Lei n 9.503, de
23/09/1997):
Capacitação em Educação para o Trânsito – Módulo 1
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Art. 1º
§ 2º O trânsito, em condições seguras, é um direito de todos e dever dos órgãos e
entidades componentes do Sistema Nacional de Trânsito, a estes cabendo, no âmbito
das respectivas competências, adotar as medidas destinadas a assegurar esse direito.
(...)
§ 5º Os órgãos e entidades de trânsito pertencentes ao Sistema Nacional de Trânsito
darão prioridade em suas ações à defesa da vida, nela incluída a preservação da
saúde e do meio ambiente.
Veja também o artigo 75 da citada legislação e o artigo 76 que se refere, mais
diretamente, a educação.
Art. 75 O CONTRAN estabelecerá, anualmente, os temas e os cronogramas das
campanhas de âmbito nacional que deverão ser promovidas por todos os órgãos ou
entidades do Sistema Nacional de Trânsito, em especial, nos períodos referentes às
férias escolares, feriados prolongados e à Semana Nacional de Trânsito.
§ 1º Os órgãos ou entidades do Sistema Nacional de Trânsito deverão promover
outras campanhas no âmbito de sua circunscrição e de acordo com as peculiaridades
locais.
§ 2º As campanhas de que trata este artigo são de caráter permanente e os serviços
de rádio e difusão sonora de sons e imagens explorados pelo Poder Público são
obrigados a difundi-las gratuitamente, com a frequência recomendada pelos órgãos
competentes do Sistema Nacional de Trânsito.
Nessa mesma perspectiva, veja o artigo que mais diretamente se refere ao
tema educação:
Art. 76 A educação para o trânsito será promovida na pré-escola e nas escolas de
1º, 2º e 3º graus, por meio de planejamento e ações coordenadas entre os órgãos e
entidades do Sistema Nacional de Trânsito e de Educação, da União, dos Estados,
do Distrito Federal e dos Municípios, nas respectivas áreas de atuação.
Parágrafo único. Para a finalidade prevista neste artigo, o Ministério da Educação e
do Desporto, mediante proposta do CONTRAN e do Conselho de Reitores das
Universidades Brasileiras, diretamente ou mediante convênio, promoverá:
I - A adoção, em todos os níveis de ensino, de um currículo interdisciplinar com
conteúdo programático sobre segurança de trânsito;
Capacitação em Educação para o Trânsito – Módulo 1
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II - A adoção de conteúdos relativos à educação para o trânsito nas escolas de
formação para o magistério e o treinamento de professores e multiplicadores;
III - A criação de corpos técnicos interprofissionais para levantamento e análise de
dados estatísticos relativos ao trânsito; e
IV - A elaboração de planos de redução de acidentes de trânsito junto aos núcleos
interdisciplinares universitários de trânsito, com vistas à integração universidades-
sociedade na área de trânsito.
O primeiro Código Nacional de Trânsito (Decreto-Lei nº 3.561, 25 de setembro de
1941, que revogou o Decreto-Lei nº 2.994, de 28 de janeiro de 1941) não mencionava
o tema educação de trânsito em qualquer um de seus 12 capítulos.
Após 25 anos, com a lei nº 5.108, de 21 de setembro de 1966, que instituiu o
segundo Código Nacional de Trânsito, estão as primeiras citações referentes ao tema.
A educação de trânsito começou a ser mencionada.
( http://www.planalto.gov.br/ccivil/Leis/1950-1969/L5108.htm )
Passados trinta e um anos (repletos de resoluções e decretos), a Lei nº 9.503, de 23
de setembro de 1997 foi sancionada, instituindo o Código de Trânsito Brasileiro
(CTB), que dispensa um capítulo (com 6 artigos) exclusivo ao tema educação para o
trânsito
“No Código Nacional de Trânsito de 1961, a palavra educação aparece duas vezes; o
termo campanhas educativas, quatro vezes; a palavra aprendizagem, duas vezes.
Assim, o tema educação aparece num total de oito vezes, o que representa pouco
mais de 6%, levando em conta os 131 artigos da Lei.
No CTB, a palavra educação pode ser lida 28 vezes, além de mais 13 palavras e
termos correlatos (aprendizagem, campanha educativa, especialização, nível de
ensino, currículo de ensino, currículo interdisciplinar, escola pública, etc.) que
aparecem 21 vezes.”
ALMEIDA, Dílson de Souza. Palestra proferida em 1999.
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A importância da educação para o trânsito fica evidente nesses artigos do CTB,
como resultado de constante evolução, na medida em que o tema é abordado 49
vezes, representando 15% do total de 341 artigos da Lei. E, como se pode
observar, sua promoção é obrigatória nos ensinos infantil, fundamental, médio e
superior, além de ser uma das atribuições legais da polícia rodoviária federal. No
entanto, quando o CTB foi instituído, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação
Nacional (LDB), Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996, já vigorava e dispõe
claramente que os currículos do ensino fundamental têm base nacional comum
(Parâmetros Curriculares Nacionais) e que cabe a cada sistema de ensino e a cada
escola oferecerem uma parte diversificada, de acordo com as características
regionais e locais da sociedade, da cultura, da economia e da clientela.
Base nacional comum
A base comum é o estudo da língua portuguesa e da matemática, o conhecimento do
mundo físico e natural e da realidade social e política, especialmente no Brasil. O
ensino da arte e da educação física (facultativa nos cursos noturnos) também é
componente curricular obrigatório. O ensino da história do Brasil levará em conta as
diferentes culturas e etnias para a formação do povo brasileiro.
Para atender a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), Lei nº 9.394, de
20 de dezembro de 1996, assim como à Constituição Brasileira, que estabelece a
necessidade e a obrigação de o Estado elaborar parâmetros claros capazes de
orientar ações educativas do ensino obrigatório, de forma a adequá-los aos ideais
democráticos e à melhoria do ensino nas escolas brasileiras, foram criados os
Referenciais Curriculares Nacionais da Educação Infantil (RCNEI), os Parâmetros
Curriculares Nacionais do Ensino Fundamental e do Ensino Médio (PCN).
Como se pode notar, a LDB não contempla o estudo do trânsito em sua base
nacional comum. Da mesma forma, os RCNEI e os PCN não indicam o trânsito sequer
como tema transversal.
Os temas transversais no ensino fundamental foram estabelecidos conforme os
seguintes critérios:
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● Urgência social: questões graves que se apresentassem como obstáculos para a
concretização da plena cidadania;
● Abrangência nacional: questões que fossem pertinentes a todo o país;
● Possibilidade de ensino e aprendizagem no ensino fundamental: temas ao
alcance da aprendizagem nessa etapa de ensino;
● Alcance da aprendizagem nessa etapa de ensino; e
● Que favoreçam a compreensão da realidade e a participação social.
De acordo com os critérios, já vistos anteriormente, os temas transversais eleitos,
para o ensino, foram: Ética, pluralidade cultural, meio ambiente, saúde, e
orientação sexual.
Nos PCN é encontrada uma concepção reducionista sobre o tema. O trânsito é
mencionado apenas nos PCN do ensino fundamental, como sugestão de tema local,
não havendo referência alguma sobre o tema nos RCNEI, assim como nos PCN do
ensino médio. Ao contrário do que muitos pensam, o tema trânsito não é tema
transversal eleito pelo MEC, pior ainda, não é obrigatório por lei dar aulas de trânsito
nas escolas. É importante que qualquer profissional de educação do trânsito esteja
ciente desses fatos.
Entende-se que a educação para o trânsito é um direito de todos e não se pode
mais aceitá-la apenas como um fenômeno isolado, característico dos grandes
centros urbanos. Ela deve estar fundamentada em valores relacionados ao nosso
sistema de convivência e que envolvam o pensar e o agir de cada pessoa,
respeitando sua liberdade.
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Aula 2 – Ética, cidadania e trânsito
Ética, cidadania e trânsito são assuntos complexos e envolventes, porém, de
fundamental importância para a análise das relações sociais e onde o contexto do
trânsito se apresenta como cenário ideal, com uma reflexão baseada no texto
exposto.
O agente ético é pensado como sujeito ético, isto é, como um ser racional e
consciente que sabe o que faz, como um ser livre que decide e escolhe o que faz
e como um ser responsável que responde pelo que faz. A ação ética é balizada
pelas idéias de bem e mal, justo e injusto, virtude e vício. Assim, uma ação só será
ética se consciente, livre e responsável, e será virtuosa se realizada em
conformidade com o bom e o justo. A ação ética só é virtuosa se for livre e só o
será se for autônoma, isto é, se resultar de uma decisão interior do próprio
agente e não de uma pressão externa. Evidentemente, isso leva a perceber que há
um conflito entre a autonomia da vontade do agente ético (a decisão emana apenas
do interior do sujeito) e a heteronomia dos valores morais de sua sociedade (os
valores são dados externos ao sujeito).
Esse conflito só pode ser resolvido se o agente reconhecer os valores de sua
sociedade como se tivessem sido instituídos por ele, como se ele pudesse ser o autor
desses valores ou das normas morais, pois, nesse caso, ele será autônomo, agindo
como se tivesse dado a si mesmo sua própria lei de ação.
Enfim, a ação só é ética se realizar a natureza racional, livre e responsável do sujeito
e se esse respeitar a racionalidade, liberdade e responsabilidade dos outros agentes,
de sorte que a subjetividade ética é uma intersubjetividade socialmente
determinada.
O trânsito é um campo fértil para se discutir a vida em sociedade. Diariamente, os
espaços urbanos reproduzem cenas que, de tão comuns, já se tornaram familiares a
maior parte das pessoas. O curioso é que as cenas se repetem, mas as questões que
essas cenas provocam raramente são levadas em conta. Conheça uma delas, por meio
da história a seguir:
Capacitação em Educação para o Trânsito – Módulo 1
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Esta vaga é minha
Dayse estava em seu automóvel, esperando pacientemente por uma vaga em um
estacionamento. Ela contava os minutos no relógio para não chegar atrasada ao seu
compromisso. Eis que surge uma vaga! Cuidadosa e atenta, sinaliza e faz menção de
ocupar a vaga. Então, de uma hora para outra, eis que surge alguém que corta sua
trajetória e ocupa o lugar.
O tipo de situação, exposta na história da página anterior, via de regra envolve
temperamentos naturalmente tensos ou estressados. As chances de um conflito são
grandes e as consequências previsíveis. Mas, considerando que esse exemplo siga por
um caminho mais civilizado, e a pessoa cuja vaga acabou de ser tomada, apesar de
educada e tranquila em seu cotidiano, reclame, buzine e faça vários gestos. Inútil:
como se não tivesse nada a ver com a história, quem ocupou a vaga tranca o carro e,
com toda a calma, vai fazer suas compras.
● Quem está certo?
● Quem tomou a atitude correta?
● Com base em quais critérios pode-se chegar a uma conclusão?
● Afinal, o que é certo e o que é errado?
Considerando o usuário que “perdeu” sua vaga para outro no estacionamento, no
campo da ética um conflito gerado a partir de perspectivas internas e externas –
autonomia da vontade do agente (“eu cheguei primeiro, portanto tenho direito a
uma vaga”) e heteronomia dos valores morais de sua sociedade (regra social: “quem
chegar primeiro, tem direito a uma vaga”), é possível considerar ética ou no mínimo
aceitável sua atitude?
Por outro lado, que critérios poderão ser considerados para analisar com a
amplitude adequada o comportamento do outro condutor? É realmente reprovável
sua atitude, com base em uma regra social existente? E se ele por algum motivo não
viu que alguém esperava pela vaga? E se estivesse distraído, preocupado, doente? E
se fosse surdo e não pudesse ouvir os gritos do motorista?
Capacitação em Educação para o Trânsito – Módulo 1
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Os níveis de entendimento das ações – as diversas leituras que se pode fazer de uma
ação – ilustram esse fascinante campo de debates: a ética. Nesse plano, pode-se
refletir sobre os julgamentos e comportamentos – os próprios e os das outras pessoas
– quando a intenção é entender o sentido de um ato atribuindo-lhe valor. Isso é
ética.
Falar de ética não é algo simples, mesmo porque, muitas vezes, há atitudes
reprováveis no campo da moralidade.
Moralidade
Originariamente a palavra moral vem do latim mos/mores, que significa costume. E,
em geral, essas três palavras – costume, norma, lei – se entrecruzam. (…)
Antigamente, quando ainda se trafegava com carros de bois pelas cidades, alguém
iniciou o costume de usar sebo nos eixos para neutralizar o ruído estridente das
rodas. Com o tempo, o que era costume de um ou mais puxadores de bois passou a
virar norma (não obrigatória) para a maioria. Entendiam, para o bem da comunidade,
a pertinência dessa prática. Ainda com o passar do tempo, quem não lubrificava os
carros para trafegar em silêncio pela cidade começou a receber, com certeza,
reclamações dos moradores. Conclusão: Ainda hoje, no Fórum de Bragança Paulista,
está em vigor uma lei que obriga os puxadores de carros de bois a untar os eixos com
sebo, a fim de não perturbar o silêncio da comunidade. Dessa forma, por várias
décadas, o descumprimento daquilo que foi acordado juridicamente entre os
indivíduos e a comunidade implicava sanções. Uma sanção é sempre a recompensa ou
castigo em face de um pedido, uma advertência ou uma lei. No caso do
descumprimento da lei, ela é punição (não apenas de “efeito moral”, como o
castigo); punição legalizada. Assim, na ordem hierárquica, um costume pode vir a ser
uma norma e uma norma virar lei. (PEREIRA, Otaviano. O que é moral. São Paulo:
Braziliense, 1998)
É aceitável no plano da ética, roubar para alimentar filhos que passam fome, por
exemplo. Refletir a dimensão ética significa considerar várias óticas, ampliar a visão
daquele fato, buscando aproximar as ações daquele sujeito aos valores socialmente
construídos. Somente assim, a ação poderá ser considerada ética, ou seja, quando o
sujeito a pratica percebendo-se como parte de um todo onde sua subjetividade é
produto da construção ativa de valores sociais.
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Caso a ação só seja ética quando realiza a natureza racional, livre e responsável
do sujeito e se esse respeita a racionalidade, liberdade e responsabilidade do
outro, é possível dizer que a máxima da ética é o bem comum.
As pessoas convivem em sociedade e precisam se perguntar, por mais difícil que seja
a resposta: “como devo agir perante os outros?”. Pensar sobre nossa conduta e
sobre a conduta dos outros a partir de valores e não de receitas prontas pode ser um
bom caminho.
No plano da ética, as verdades podem mudar de acordo com as circunstâncias. Isso se
torna ainda mais importante ao se considerar que os costumes mudam com o passar
do tempo. Afinal, as sociedades mudam porque as pessoas mudam. O que é costume
hoje, pode não ser amanhã. O que é considerado errado agora, também pode ser
visto como certo daqui a algum tempo.
Fato histórico
No Brasil, no ano de 1800, era deselegante permanecer com chapéu no interior dos
veículos. A norma era tirar o chapéu, colocá-lo sobre os joelhos ou junto ao peito,
sempre com o forro de seda virado para dentro.
Se os costumes mudam, as sociedades mudam, as pessoas mudam, por que alguns
conceitos na educação de trânsito perduram por tantos anos em nosso país?
“Trânsito é a integração entre veículo, via e homem”.
“O acidente de trânsito é consequência de um comportamento inadequado do
usuário, produto de algum processo psicológico que não funciona bem”.
“O objetivo da educação de trânsito é formar motoristas do futuro”.
“Trânsito é um fenômeno dos grandes centros urbanos”.
(Trechos retirados de cartilhas publicadas entre 1970 e 1995)
“Quando damos um passo para trás, toda a humanidade dá”.
Gandhi
É curioso pensar que, num mundo em que os valores mudam com tanta
velocidade, os conceitos tratem o trânsito ainda de forma extremamente
simplista. Parece que, nessa área, as verdades são eternas e as definições valem
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para sempre. Mas no trânsito, como na vida, não existem verdades absolutas. E,
como na vida, é preciso estar preparado para aprender, mudar conceitos, evoluir.
Refletindo sobre a questão...
Observe os diversos contextos no trânsito presentes nas imagens abaixo e reflita
sobre os aspectos éticos trabalhados até aqui.
A nova perspectiva em estar preparado para aprender, mudar conceitos, evoluir,
comentados na aula anterior, permite pensar em trânsito como um DIREITO.
Afinal, trânsito envolve o direito fundamental de ir e vir. Seja a pé, de automóvel,
de barco, de mula, de avião.
A proposta de pensar em trânsito como algo inerente à vida abre muitas e
surpreendentes possibilidades. Locomover-se é tão importante quanto respirar. O
desejo humano de locomoção vem dos tempos mais remotos. Na tentativa de ampliar
seus horizontes, de descobrir novos lugares, de procurar ambientes favoráveis às suas
necessidades de sobrevivência, as pessoas partiram em busca do desconhecido.
Assim, em cada momento histórico, descobriram formas e criaram meios para atingir
o objetivo de locomover-se, de transitar no espaço. Por isso, o trânsito é muito mais
antigo que qualquer veículo ou qualquer via.
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Com o passar dos tempos, as cidades cresceram, os veículos apareceram e as pessoas
perceberam que era necessário organizar o espaço público. Então, criaram
sinalizações capazes de atender sua necessidade de locomoção: os semáforos, as
placas de sinalização, o apito dos agentes de trânsito.
É possível pensar em trânsito de forma ainda mais aberta, mais ampla. Ao se pensar
na cidade onde se vive, por exemplo: nas ruas e avenidas, nas praças, nos parques e
nas calçadas. Esse lugar pertence a cada pessoa, indistintamente, e também a seus
pais, a seus filhos, ao seu marido ou à sua mulher, ao seu vizinho, ao mendigo, ao
lixeiro, ao empresário, ao carroceiro e a todas as pessoas que vivem nele. Sendo
assim, todas as pessoas têm o direito de usufruí-lo e precisam, para isso, aprender a
conviver.
“O trânsito é algo que todos enfrentam, portanto, é algo normal. Não desejado, mas
normal. É preciso encará-lo com naturalidade. Se você estiver dentro do mar e tentar
reagir a uma onda, será derrubado. É preciso seguir com ela.”
(...)
A agressividade nasce de achar que o outro é diferente de mim, que não é meu
irmão. Ao consideramos o outro como parte da família, a raiva se dissipará.”
Atmatattwananda, 1995-2009, WebMotors S.A
É impossível pensar em qualquer ação educativa de trânsito sem uma atenção
especial ao campo da ética. E essa tarefa não é fácil. Fácil é produzir uma cartilha
ou qualquer outro material com um amontoado de regras:
Atravesse na faixa de pedestres;
 Obedeça às leis do trânsito;
 Não dirija falando ao celular;
 Use o cinto de segurança;
 Quando beber não dirija, quando dirigir, não beba.
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Fácil é ensinar o que fazer. Difícil é ensinar como ser. Trabalhar em favor de uma
educação para a vida, que contribua para o desenvolvimento das pessoas em sua
socialização.
Ensinar além do que fazer
É possível ensinar uma criança a atravessar na faixa destinada aos pedestres, muito
embora, em diversas situações, ela não encontre tal faixa. Mas, além desse
ensinamento, pode-se mostrar como é possível ajudar uma pessoa deficiente visual a
atravessar a rua, por exemplo. É possível e necessário ir muito além de ensinar o que
fazer. Compromisso a ser assumido por todos os profissionais da área. Não existem
fórmulas mágicas para trabalhar nesse sentido. Deve existir, sim, muita criatividade
e força de vontade, além de uma visão abrangente sobre trânsito. Para isso, é
preciso seguir em frente, sem medo de se arriscar e de experimentar.
“Por que cometer erros antigos se há tantos novos a escolher?”
Bertrand Russel, matemático inglês (1872-1970)
Aula 3 – Convivência humana no espaço coletivo
A educação para a segurança no trânsito se apresenta como novo desafio no dia-a-dia
do policial rodoviário federal. Não por opção do servidor, mas pela necessidade de
mudanças na forma de agir das polícias, para melhor proteger uma sociedade que
sofre com os altos índices de mortalidade e acidentes de trânsito.
É necessário que o policial agregue em seu perfil ações educadoras, embasadas em
técnicas pedagógicas e dados reais que lhe permitam atuar com confiança e
competência na multiplicação de medidas preventivas. É preciso pensar e definir
quais valores devem ser incentivados em nossa sociedade quando o assunto é
trânsito. Esses valores devem regular nosso sistema de convivência e envolver o
pensar e o agir de cada pessoa, respeitando sua liberdade.
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No contexto do que se tem estudado, está claro que educação de trânsito não é uma
educação qualquer. Para torná-la realidade, são necessárias ações educativas
comprometidas com informações, mas, sobretudo, com valores ligados a cidadania.
Caro profissional de trânsito, se ser cidadão é adotar uma postura em favor do bem
comum, é possível perceber a razão pela qual ética e cidadania são temas tão
ligados. Certamente, uma não existe sem a outra.
Refletindo sobre a questão...
Como educar para a cidadania, já que vive-se em um mundo repleto de violência,
desrespeito ao espaço público, egocentrismo, desonestidade, injustiças?
Quando o assunto é trânsito, parece que tudo fica ainda mais complicado. Os
profissionais da educação de trânsito, certamente, podem encontrar dificuldades.
Começando pelos órgãos de trânsito (federais, estaduais e municipais). Alguns não
possuem recursos financeiros e humanos suficientes para a implementação de
projetos educacionais de qualidade. Outra barreira pode ser encontrada nas escolas
de ensino regular. Vários professores resistem muito ao projeto da educação de
trânsito. Eles têm seus motivos: ganham pouco, precisam dar conta do conteúdo das
disciplinas obrigatórias, não têm tempo, etc. No entanto, com criatividade, bom
senso, estudo permanente e boa vontade é possível realizar um bom trabalho, o que
é sempre aceito e reconhecido. O que importa é a qualidade. E em tudo o que se
fizer, jamais se pode perder de vista essa tal cidadania.
É fundamental propor participação da sociedade (cidadania ativa) nas questões
relativas ao trânsito da cidade: o que as pessoas pensam, quais os seus anseios, quais
as suas necessidades. Pesquisar é fundamental, investigando e analisando os
problemas antes de dar as soluções. Geralmente, as campanhas educativas de
trânsito, os recursos pedagógicos, os projetos e tantas outras iniciativas são
realizados sem objetivos concretos. Partem de uma cúpula de especialistas que
acham que aquilo é bom e está certo. Não será por esse motivo que há tantas
décadas se faz educação de trânsito sem resultados visíveis?
A educação de trânsito deve ser para todos. É importante que o profissional de
trânsito, ao assumir essa responsabilidade, entre em contato com organizações de
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bairro, conheça a região onde atua, proponha parcerias com conselhos de educação,
instituições interessadas, etc. e ouça o que essas pessoas têm a dizer. Só assim
poderá elaborar projetos que atendam às necessidades e às expectativas das pessoas
em favor do bem comum. Talvez não consiga resolver todos os problemas levantados,
mas, com certeza, saberá que eles existem e que algo precisa ser feito.
Sabe-se que existem pessoas que “roubam” uma vaga, “furam” uma fila, dirigem em
alta velocidade, despejam lixo pelas janelas de seus carros, furam o sinal, aceleram
para obstruir a passagem de outro veículo, enfim, pessoas que, em pequenas ações
do dia-a-dia, não agem eticamente, pois perderam ou ainda não adquiriram o hábito
de pensar coletivamente.
É fundamental para o educador de trânsito, em especial o policial rodoviário federal,
saber que ninguém nasce ético nem é completamente cidadão e que, numa
sociedade em processo de evolução cultural, ainda tão violenta e com tantos
estímulos que favorecem condutas individualistas e antiéticas, deve-se assumir a
responsabilidade de educar para o trânsito sem se questionar se o trabalho vale a
pena ou se é possível. Também é urgente e necessário reformular valores internos,
compreender a natureza de tantos comportamentos negativos e inadequados, de
forma que possa realizar a sua parte sem restrições.
Talvez não seja possível mudar o mundo. Mas é possível começar a trilhar o
caminho da ética e da cidadania hoje, a partir de agora.
Conclusão
Neste módulo, você estudou que...
► O Código de Trânsito Brasileiro e a Lei de Diretrizes da Educação Nacional
possuem abordagens e prioridades diferenciadas sobre o tema trânsito.
► Enquanto o CTB evolui para priorizar a educação como meio de promover a
segurança no trânsito, a LDB, bem como os Referenciais Curriculares Nacionais da
Educação Infantil (RCNEI), os Parâmetros Curriculares Nacionais do Ensino
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Fundamental e do Ensino Médio (PCN) tratam o tema de forma reducionista, sendo
tratado apenas no PCN do Ensino Fundamental como sugestão de tema local.
► A educação para o trânsito não pode ser compreendida apenas como um fenômeno
de grandes centros urbanos. Deve estar fundamentada em valores relacionados a um
sistema de convivência onde o pensar, o agir e a liberdade de cada pessoa devem ser
respeitados.
► O trânsito é um campo fértil para a análise do comportamento ético na vida em
sociedade.
► Refletir a dimensão ética, como foi proposto, significa considerar várias óticas,
ampliar a visão daquele fato, buscando aproximar as ações daquele sujeito aos
valores socialmente construídos. Muitas atitudes reprováveis no campo da moralidade
são aceitáveis no plano da ética – roubar para alimentar filhos que passam fome, por
exemplo.
► É possível dizer que a máxima da ética é o bem comum, considerando que a ação
só é ética quando realiza a natureza racional, livre e responsável do sujeito e se esse
respeita a racionalidade, liberdade e responsabilidade do outro.
► No plano da ética, as verdades podem mudar de acordo com as circunstâncias,
principalmente porque os costumes mudam com o passar do tempo. As sociedades
modificam porque as pessoas mudam. As pessoas convivem em sociedade e precisam
repensar suas condutas a partir de valores e não de receitas prontas.
► O trânsito envolve o desejo humano de locomoção, o direito fundamental de ir e
vir – seja a pé, de automóvel, de barco, de mula, de avião – e a necessidade de
convivência e organização do espaço coletivo.
► Para tornar a educação para o trânsito uma realidade são necessárias ações
educativas comprometidas com informações, mas, sobretudo, com valores ligados
a cidadania.
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► Ser cidadão é adotar uma postura em favor do bem comum, eis a razão pela qual
ética e cidadania são temas tão ligados. Portanto, é fundamental propor participação
da sociedade (cidadania ativa) nas questões relativas ao trânsito da cidade – o que as
pessoas pensam, quais os seus anseios e necessidades – com vistas à elaboração de
projetos em favor do bem comum.
Neste módulo são apresentados exercícios de fixação para auxiliar a compreensão
do conteúdo.
O objetivo destes exercícios é complementar as informações apresentadas nas
páginas anteriores.
1. Acerca do tema trânsito e seus aspectos legais, marque V ou F:
( ) A Educação para o Trânsito tem fundamento na Constituição Federal, é de
competência comum da União, estados, Distrito Federal e municípios e constitui
prioridade das políticas de educação e segurança no trânsito.
( ) A Educação para o Trânsito é formalmente reconhecida como tema
transversal na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional.
( ) Urgência social e abrangência nacional foram alguns dos critérios utilizados
para para estabelecer temas transversais no ensino fundamental.
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2. Acerca da ética e da moral relacione cada conceito às definições
correspondentes:
(1) Moral
(2) Ética
( ) Possui como características a racionalidade, responsabilidade e liberdade de
escolha de cada um, balizada por idéias pré-concebidas.
( ) Relacionada ao cumprimento ou descumprimento de leis, normas ou
costumes.
( ) Determinada pela sociedade, diz respeito aos comportamentos que devem ser
considerados bons ou maus.
( ) Propicia a reflexão sobre os julgamentos e comportamentos quando a
intenção é entender o sentido de um ato atribuindo-lhe valor.
3. Marque a alternativa incorreta:
Ser cidadão é:
( ) Adotar atitudes em favor do bem comum, com base em valores éticos.
( ) Respeitar as lei de trânsito, e agir conscientemente respeitando os limites de
convivência.
( ) Adotar uma postura com base em interesses e necessidades individuais,
definindo objetivos concretos para o alcance dessas metas.
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4. Marque a alternativa incorreta:
A cidadania ativa é:
( ) Fundamental para o sucesso de uma ação educativa.
( ) Parte de uma cúpula de especialistas que estabelecem metas e definem
necessidades a serem supridas.
( ) Parte do princípio que a sociedade deve ser participativa, portanto os
projetos a serem elaborados devem contemplar os anseios e as necessidade
coletivas de determinada comunidade.
Este é o final do módulo 1 - Legislação, Ética e convivência
Gabarito
1. V – F – V
2. 2-1-1-2
3. Adotar uma postura com base em interesses e necessidades individuais,
definindo objetivos concretos para o alcance dessas metas.
4. Parte de uma cúpula de especialistas que estabelecem metas e definem
necessidades a serem supridas.
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Anexo
1. TEMA TRANSVERSAL1
Todas as pessoas aprendem na escola a ler, a escrever, a somar, a dividir. Ao longo
da vida escolar, aprendem centenas, talvez milhares, de conteúdos: sinônimos,
antônimos, relevo, hidrografia, raiz quadrada, equação numérica, colônia, república.
Mas, desde sempre, os professores – além de conteúdos – trabalham com valores,
embora sem saber disso. Também se aprende na escola que “xingar” o colega não é
correto; que não se deve riscar as carteiras, pois é preciso cuidar da escola...
Qualquer pessoa é capaz de lembrar diversas ocasiões em que seu professor ou sua
professora interrompeu a aula para falar sobre a importância do respeito aos colegas,
da preservação do meio ambiente, das diferenças entre as pessoas. Assuntos que –
aparentemente – não tinham nada a ver com a aula. Entretanto, sempre que fizeram
isso, transversalizavam um tema.
Na escola hoje, estas conversas informais precisam ser planejadas. Ou seja: o
professor, ao programar sua aula, já deve saber que, além do conteúdo formal,
precisa criar situações que possibilitem a aquisição de valores, posturas e atitudes. É
nesse momento que os temas transversais aparecem. Eles têm por objetivo trazer à
tona, em sala de aula, questões sociais que favoreçam a prática da democracia e da
cidadania.
Os temas transversais não são novas disciplinas. São conteúdos educacionais –
fundamentados em aspectos da vida social – que transpassam pelas disciplinas.
Portanto, o professor não vai dar ”aulas de ética” ou “aulas de meio ambiente” e tão
pouco “aulas de trânsito”. Ele vai inserir, em sua aula, atividades que favoreçam a
análise e a reflexão sobre estes temas, a fim de que os alunos realizem sua própria
aprendizagem e traduzam em comportamentos os conhecimentos construídos.
Tema Transversal: Caderno do Curso de Educação de Trânsito /2007 , do Projeto
"Capacitação de Profissionais de Trânsito"DENATRAN/Ministério das Cidades/
SEST/SENAT. (Coordenação: Juciara Rodrigues)
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Módulo 2 – Trânsito: Um enfoque comportamental e pedagógico
Apresentação
De que forma a polícia rodoviária federal poderá contribuir para estimular uma
proposta de trabalhar o trânsito, como tema transversal nas escolas?
Neste módulo, você estudará o enfoque comportamental e pedagógico relacionado ao
tema trânsito.
Ao final deste módulo, você será capaz de:
● Compreender a dinâmica e a natureza de comportamentos arriscados no trânsito,
considerando-os no planejamento de ações educativas, bem como na atuação
policial;
● Reconhecer a importância da transversalização do tema trânsito nas escolas;
● Utilizar conceitos sobre linguagem e comunicação na transmissão de informações
sobre educação e segurança no trânsito; e
● Identificar os principais recursos educativos a serem utilizados em ações de
educação para o trânsito.
O conteúdo deste módulo está dividido em 3 aulas:
Aula 1 – Psicologia e segurança de trânsito
Aula 2 – Trânsito como tema transversal
Aula 3 – Recursos educativos, linguagem e comunicação
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Aula 1 – Psicologia e segurança de trânsito
Para trabalhar de maneira mais eficiente a educação para o trânsito, é importante
que você conheça alguns conceitos referentes aos aspectos comportamentais que
envolvem, em especial, os condutores no trânsito. Embora considerando que todos –
condutores, ciclistas, motociclistas, pedestres – são elementos ativos desse cenário,
deve se dar merecida atenção ao condutor pela potencial capacidade de contribuir
para o bem-estar social no trânsito.
É indispensável o aprimoramento do comportamento e das atitudes do ser humano
ao volante. Em direção defensiva, por exemplo, aprende-se as habilidades técnicas
para dirigir com segurança, utilizando elementos primários na prevenção de
acidentes, como atenção constante, capacidade de previsão, a agir em caso de
emergência, etc. Porém, é possível constatar que conhecimentos e técnicas apenas,
assim como os aspectos legais, não são suficientes para que se tenha um trânsito
seguro, pois o que ocorre na prática é que os condutores, ao se envolverem em
acidentes, conheciam os procedimentos de segurança, mas, por algum motivo, não
aplicaram esses conhecimentos de maneira satisfatória. Ou seja, entre conhecer
procedimentos de segurança e aplicá-los constantemente, existe uma distância
considerável, que passa por uma decisão do próprio condutor. E essa decisão
depende, dentre outros, dos fatores psicológicos.
De maneira simplificada, a psicologia é a ciência que estuda o comportamento
humano e suas relações com o meio físico e social. Comportamento é o conjunto
de ações de um indivíduo ou de um grupo de indivíduos, nas mais diversas situações
da vida. É formado por fatores internos e externos.
Fatores internos
Também chamados de fatores psicológicos ou de personalidade, caracterizam a
individualidade de cada um. Embora todos os seres humanos sejam diferentes entre
si, há muitas reações semelhantes, classificadas em grupos pela psicologia.
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Certamente, você conhece alguém que se encaixa no grupo de pessoas consideradas
irritadas, que perdem a calma com facilidade ou que, dificilmente, mudam de
opinião. Essas são as características psicológicas internas do indivíduo.
“Para o entendimento dos fatores próprios e individuais, ou seja, os fatores
internos inerentes ao comportamento humano, deve-se considerar que o ser
humano é um animal social; entretanto, cada sujeito possui aspectos que os tornam
únicos. Existem diferenças sociais, culturais e particulares que influenciam nos
padrões de comportamento, na formação da personalidade, nas aspirações,
valores, aptidões, e motivações de cada um. Cada pessoa é considerada um
fenômeno multidimensional.”
(Chiavenato, 1998)
Fatores externos
Já os fatores externos são as influências que o meio físico e social exerce sobre o
indivíduo. Veja esta situação: Num estádio de futebol, influenciado pela torcida,
pelo ambiente, pelo resultado do jogo e por diversos outros fatores externos, o
indivíduo poderá comportar-se de maneira muito diferente do que se comporta
normalmente. As pressões e acontecimentos do dia-a-dia, ou estímulos, podem
alterar o padrão de comportamento. Constantemente, você recebe estímulos e
pressões do meio físico e do social onde vive.
Grupos sociais
As características psicológicas ou pessoais formam o padrão ou predisposição que
define o comportamento do indivíduo ou do grupo em determinada situação. E esse
padrão será influenciado pelos estímulos externos. Com esses conceitos já é possível
entender um pouco mais as reações individuais e os diferentes tipos de
comportamento.
Os indivíduos formam os grupos sociais e esses a sociedade. É importante salientar
que você, como indivíduo, tem pouco contato com toda a sociedade, mas tem
contato direto e participa de vários grupos sociais. Cada ser humano é livre para
escolher os grupos sociais aos quais deseja pertencer, ou seja, pode escolher o seu
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grupo de amigos, grupo religioso, com quem se deseja constituir família, o grupo
político, o grupo de trabalho, etc. E um dos fatores que possibilita a escolher ou ser
escolhido pelos grupos é a afinidade de comportamentos.
Se você pertence a determinado grupo estará, automaticamente, aceitando os seus
padrões de comportamento.
“O fato é que o ser humano se diferencia dos outros animais, por ser capaz de
interferir conscientemente no mundo. Além disso, ao mesmo tempo em que preserva
e deseja manter-se isolado e em sua individualidade, sente-se impelido para o grupo,
formando a sociedade humana.
A sociabilidade ou a capacidade de viver, sobreviver e existir em coletividade parece
ser uma das melhores caracterizações do homem. Diferentemente do que ocorre com
outras espécies, o homem não se associa por instinto, mas por vontade. O homem
não é dependente, mas senhor da sociedade; não está nela devido aos instintos, mas
porque assim o quer.” (Carneiro, 2009)
A sociedade e o trânsito
Analisando o trânsito como fenômeno social e resultante da necessidade que o ser
humano tem de movimentação e deslocamento, fica evidente a vulnerabilidade e
diversidade de estímulos a que o ser humano é exposto diariamente em função de
sua complexidade.
Veja quais são estes estímulos.
Estímulos a que o ser humano é exposto diariamente em função de sua
complexidade.
● É cada vez maior o espaço ocupado por estradas, ruas, avenidas, estacionamentos,
viadutos, etc. Dessa forma, o carro está “tomando” o espaço do homem e da
natureza;
● O trânsito, ao contrário dos grupos sociais, é um local que reúne pessoas de todos
os níveis sociais e culturais e com os mais diversos tipos de personalidade, objetivos
e padrões de comportamento;
● Essa diversidade e o amplo espaço proporcionado pelo trânsito, permite que o
indivíduo comporte-se inadequadamente protegido pelo anonimato;
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● A crescente violência é resultado da descarga diária das pressões, frustrações e
problemas pessoais;
● O trânsito lidera as estatísticas mundiais de mortes violentas, tanto no Brasil como
no restante do mundo; e
● Por estar diariamente no trânsito, o ser humano tende a banalizar os seus efeitos
e, muitas vezes, não percebe como ele afeta o seu comportamento e como as suas
ações podem alterá-lo.
O automóvel
O automóvel é considerado um dos maiores sucessos como produto de marketing. Os
veículos automotores estão hoje presentes em todas as partes do mundo, sendo
utilizados indistintamente por todos os tipos de pessoas, nas mais variadas situações,
assumindo diferentes significados:
Meio de transporte
Decorrente da necessidade humana de “ir e vir”, esta invenção proporcionou um
inevitável progresso ao homem, “reduzindo as distâncias”, poupando tempo e
multiplicando as oportunidades.
Símbolo de posição social
Para muitas pessoas, o automóvel ainda é um objeto de desejo. Possuir um passou a
significar liberdade, contentamento, status e outras subjetividades.
Símbolo de poder
A máquina passou a ser uma verdadeira extensão do homem. Alguns indivíduos usam
o tamanho e a potência dos seus veículos para demonstrar superioridade ou atender
às suas vaidades.
Autoafirmação
Existe hoje uma verdadeira “cultura sobre rodas”: o veículo deixou de ser uma
ferramenta de trabalho e passou a representar um artigo de luxo.
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O automóvel passou a ser utilizado como indicador socioeconômico, mostrando o
nível ao qual o seu proprietário pertence ou gostaria de pertencer. Para a maioria
dos adolescentes, o veículo preenche a necessidade de autoafirmação e de projetar
uma boa imagem sobre seus amigos e outros jovens, porém, muitos adultos imaturos
ainda carregam essa necessidade, em alguns casos por toda a vida. O trânsito, no
qual “cada um quer aparecer mais do que o outro”, acabou virando um palco de
vaidades, base sólida para gerar e alimentar conflitos.
Comportamento no trânsito
O indivíduo com bom grau de maturidade e de equilíbrio é aquele que sabe
identificar as suas tendências e atitudes inadequadas, controlando-as para que não
interfiram negativamente no seu comportamento no trânsito.
Pode-se afirmar sem sombra de dúvidas:
o trânsito é um indicador muito preciso das características de cada indivíduo.
Inicialmente, convém esclarecer que as estatísticas mostram que a maioria dos
motoristas (mais de 2/3) raramente comete infrações ou envolve-se em acidentes de
trânsito. Todos os problemas de trânsito são causados por uma minoria de motoristas
cujo comportamento, sob o ponto de vista psicológico, está quase sempre
relacionado à dificuldade de lidar com as pressões da vida. Motoristas com essa
característica sempre procuram alguma justificativa para os seus comportamentos
inadequados, como se eles tivessem mais motivos para errar do que os outros. Só
que, se outra pessoa comete os mesmos erros que os seus, eles imediatamente a
criticam e a reprimem.
Essa dificuldade em lidar com as pressões externas do cotidiano, aliada a outros
fatores, como a personalidade e a própria educação do indivíduo, pode levá-lo a
apresentar alguns tipos de comportamento.
Ansiedade
A ansiedade é a sensação de estar sempre fora do horário ou fora do lugar. Quando a
pessoa está num lugar, tem a sensação que deveria estar em outro. Esses fatores
causam atitudes imprevisíveis no trânsito, pois a mente continuamente ansiosa não
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consegue concentrar-se, erra frequentemente o caminho e perde mais tempo, o que
realimenta a ansiedade. A má administração do tempo também está presente no
perfil dessas pessoas e o indivíduo não pensa que a pressa e a correria vão
economizar apenas alguns minutos, isso se não causar um acidente pelo caminho.
Raiva
A raiva é uma explosão momentânea que ocorre, geralmente, nas pessoas que têm
facilidade de perder o controle. No trânsito, essa explosão pode levar a
comportamentos extremamente perigosos, causados pelo desatino instantâneo, pela
reação exagerada, impensada e descontrolada. O trânsito é o cenário propício para
desencadear atitudes desequilibradas. É muito difícil para o indivíduo com raiva ter
reações sensatas. De maneira geral, a raiva é uma reação inadequada a situações
frustrantes, tem efeito cumulativo. Indivíduos que manifestam a raiva com
frequência devem aprender a administrar melhor suas frustrações.
Egoísmo
O egoísmo coloca sua vítima no centro das atenções. O egoísta não cede nem
compartilha, e isso sempre é problema no trânsito, que é um espaço compartilhado
por excelência. Ele não facilita a vida das outras pessoas e não é capaz de uma
cortesia ou de uma gentileza. Sente-se no direito de parar em fila dupla, bloquear os
cruzamentos, estacionar em entradas de imóveis, entre uma centena de outros
absurdos, simplesmente porque não imagina que possa estar incomodando.
Competição
O espírito competitivo parece ter tomado conta da sociedade moderna. Está bem
claro para todos, homens ou mulheres, jovens ou adultos, que a competitividade tem
tudo a ver com o sucesso, pois essa mensagem é passada em todos os lugares. Muitos
acidentes ocorrem dessa forma, pois no trânsito, o indivíduo com espírito
competitivo encontra facilmente um concorrente. É preciso fazer uma séria reflexão,
pois o trânsito é um ambiente altamente inadequado para competições.
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Agressividade
Algumas pessoas são de índole agressiva. Essas pessoas normalmente tendem a
subestimar os riscos e as consequências das suas atitudes, o que as torna
imprudentes. Além disso, perdem o controle com facilidade, estando sujeitas a
explosões repentinas. Quando aliada à competitividade, gera o desejo de dominar
completamente o oponente, ocasionando muitas vezes resultados trágicos. Quando
isso ocorre no trânsito, as pessoas podem envolver-se em acidentes de grande
proporção.
Hostilidade
O indivíduo hostil tem como característica predominante a intolerância automática.
É aquele que mostra extrema irritação com acontecimentos banais, lança toda sorte
de grosserias e explora os erros alheios a seu favor. É fácil prever o que acontece
quando um indivíduo hostil encontra pessoas semelhantes. Nessas ocasiões é que
acontecem discussões, agressões, brigas e outras cenas até mais graves.
Urgência
A sensação de urgência também é prejudicial, decorre da ansiedade de lidar com
atividades diárias, devido a uma má administração do tempo. Essa característica
denota desorganização e falta de planejamento, pois a urgência surge quando as
pessoas assumem mais compromissos do que são capazes de atender. Quando estão
com pressa, as pessoas utilizam todos os truques possíveis no trânsito: trafegam no
acostamento, na contramão, nas calçadas, etc. Assumindo riscos desnecessários e
praticam todo tipo de imprudências, simplesmente para conseguirem vencer o
relógio.
Euforia
A euforia pode advir de variações hormonais, da ingestão de drogas ou bebidas
alcoólicas, de fortes emoções, de surpresas, dentre outros fatores. É um estado de
grande felicidade e alegria manifestado com exagero e descontrole. Nessas ocasiões,
o indivíduo que estiver dirigindo pode perder a concentração e a noção do perigo,
descuidando-se, cometendo imprudências ou envolvendo-se em acidentes.
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Impulso
As pessoas que agem por impulso só irão pensar no que fizeram depois do fato
ocorrido. O indivíduo impulsivo faz pouca ou nenhuma reflexão sobre suas ações,
tornando-se altamente irresponsável, imprudente e inconsequente. No trânsito, o
fato de ter atitudes imprevisíveis, cria em torno de si mesmo uma área de perigo
permanente.
Distração
A distração é um grau de indisciplina interna que necessita ser corrigido. O “aéreo ou
avoado” tem sua capacidade de concentração altamente prejudicada. O grau de
concentração e foco que um indivíduo dedica para a atividade de dirigir, mesmo
quando rotineira, determina o grau de segurança. Ao permitir que acontecimentos
paralelos desviem a sua atenção (música, pedestres, objetos no interior do veículo,
conversa com passageiros, etc.), o distraído expõe-se a riscos, oferecendo perigo
também para os demais elementos do trânsito.
Em primeiro lugar é importante ressaltar que apresentar, ocasionalmente, um desses
traços é muito diferente do que ser portador de um padrão comportamental
sintomático ou, até mesmo, um distúrbio psicológico. Além disso, entre um extremo
e outro, existem diferentes níveis de gravidade. Todo indivíduo apresenta um ou
mais desses fatores em determinadas ocasiões ou determinadas fases da vida. O
perigo é que, muitas vezes, não percebe isso.
A maior finalidade em aprender sobre os fatores psicológicos é perceber a influência
das características comportamentais na segurança do trânsito, identificando-as em si
mesmo e nas demais pessoas. Só assim será possível desenvolver mecanismos mais
eficientes para lidar com esses episódios, de forma que os comportamentos se
tornem mais conscientes, seguros e menos automáticos.
Exemplo:
Algumas pessoas simplesmente não conseguem resistir à tentação de responder na
mesma medida quando são provocadas, muitas vezes esquecem que continuar ou
aceitar a provocação só serve para agravar a situação. É necessário reconhecer essas
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reações, fazer reflexões constantes sobre elas para, consciente e efetivamente,
mudar o comportamento, com responsabilidade e maturidade.
Conflitos no trânsito
Internos
Muitos são os conflitos internos que você precisará administrar no cotidiano, em
função das pressões externas: não poder viver da maneira como gostaría, o
cumprimento do orçamento doméstico, trabalho em excesso, tarefas desagradáveis,
relacionamentos indesejáveis, são apenas alguns dos exemplos, numa lista
interminável. A maneira de administrar os conflitos ainda sofre influência de fatores
físicos, como cansaço, estado de saúde, alimentação, sono, ingestão de álcool,
drogas, etc.
Externos
Os conflitos externos, isto é, com as outras pessoas, ocorrem principalmente porque
as pessoas têm interesses e necessidades diferentes e nesse ponto a combinação do
estado físico e mental poderá agravar ou solucionar esses conflitos.
No cotidiano do trânsito é inevitável que surjam alguns conflitos, porque os
interesses são distintos. Os condutores de automóveis particulares geralmente têm
alguns objetivos e necessidades bem definidos, tais como: fazer o percurso de
maneira fácil e rápida, encontrar uma vaga próxima, evitar trânsito congestionado,
muitos ônibus, etc. Já os condutores de transporte coletivo têm obrigações e
objetivos bem diferentes: cumprir seus horários, independentemente da fluidez no
trânsito, conduzir veículos nem sempre em boas condições, administrar situações
adversas (reclamações de passageiros, trânsito lento, paradas cheias, etc.). Soma-se
a isso os interesses dos motociclistas, ciclistas, pedestres, caminhoneiros, etc.
Inversões de papéis
Os papéis que cada um assume no trânsito não são fixos. Mesmo que na maior parte
do tempo seja um papel de condutor, por exemplo, quando se encontra na qualidade
de pedestre, facilmente inverterá os papéis, reclamando, disputando espaço e
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muitas vezes conflitando com os motoristas. Larga-se a “armadura” que o carro
representa e passa-se a sofrer na pele as fragilidades de ser pedestre. Porém, ao
retornar ao papel de condutor, rapidamente volta-se a desrespeitar os pedestres.
Esse exemplo ilustra bem a dificuldade que o ser humano tem para se colocar no
lugar do outro, para entender e respeitar suas necessidades e direitos.
Reconhecer comportamentos inadequados, descobrir e modificar maus hábitos não
são tarefas fáceis. Primeiramente, porque reconhecer algumas características
negativas em si mesmo exige honestidade e autocrítica. Partindo dessa premissa
torna-se possível adotar um padrão de comportamento mais adequado, cooperativo,
solidário, tolerante e civilizado. Em segundo lugar, porque existe um fator interno
chamado resistência que dificulta as mudanças. É como se algo dentro de nós
preferisse continuar da maneira que somos. Para algumas pessoas, dependendo da
gravidade, é muito difícil conseguir mudar isso sozinho. É necessário procurar ajuda
especializada sempre que um comportamento esteja afetando negativamente a
segurança e a integridade.
Estresse
O estresse ou stress é um conjunto de sintomas psicológicos e físicos que prejudicam
o desenvolvimento das atividades diárias e a própria saúde do indivíduo e está se
tornando uma verdadeira epidemia nos dias de hoje.
Existe um tipo de estresse muito leve e que, em alguns casos, é positivo, pois tira a
apatia do indivíduo, deixando-o mais alerta, potencializando seu desempenho. Mas,
quando se trata do estresse negativo, ocorrem alterações indesejáveis no
metabolismo e no comportamento da pessoa, podendo ter consequências perigosas
tanto para a vida pessoal quanto para a vida profissional.
O estresse apresenta sintomas psicológicos e físicos.
Veja os principais sintomas de cada fase:
Em sua fase inicial destacamos:
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- Insônia, falta de concentração, perda de memória, baixo desempenho
profissional;
- Alteração do apetite, do peso, para mais ou para menos;
- Dores de estômago, problemas digestivos (náuseas, azias, gastrite);
- Dores de cabeça, dores nas costas, tensões musculares, formigamentos;
- Emoção exagerada, irritabilidade, alterações no humor;
- Alergias, dificuldade de pele;
- Alterações na pressão arterial, tonturas, mal-estar.
Em fase avançada do estresse, os sintomas são caracterizados por um quadro
sintomático mais grave, que poderá colocar a vida do indivíduo em risco:
Hipertensão arterial;
- Infarto do miocárdio;
- Úlceras, vômitos, diarreia frequente;
- Impotência;
- Insônia constante;
- Agressividade, apatia, depressão;
- Impossibilidade de trabalhar.
Dicas para combater o estresse
Prevenir-se, conscientizando-se e abandonando maus hábitos é o melhor remédio
contra o estresse. Identificar os próprios pontos vulneráveis que predispõem ao
estresse, bem como reconhecer fatores estressantes no ambiente, é o primeiro
passo. A segunda e decisiva etapa é realmente adotar um padrão de vida mais
saudável.
Conselhos úteis:
- Organize sua vida, separando o essencial do que não é importante;
- Selecione suas tarefas por prioridades e faça uma coisa de cada vez, mesmo
as mais simples;
- Não se sobrecarregue, aprenda a “passar a bola” de vez em quando;
- Durante suas jornada de trabalho, faça pequenos intervalos para recuperar as
energias;
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- Reveja seus objetivos de vida e elimine o menos importante, vivendo o
presente e planejando a longo prazo;
- Seja generoso com você mesmo, parabenize-se diariamente pelas pequenas
conquistas;
- Procure estimular pensamentos positivos em relação aos acontecimentos do
dia-a-dia;
- Mantenha uma vida social regular, mantendo contato com os familiares e
amigos;
- Identifique os momentos de ansiedade e combata-os com relaxamentos ou
atividades que distraiam ou que deem prazer;
- Alimente-se bem e regularmente, não pule refeições;
- Consuma bastante líquido durante o dia;
- Reserve 50 minutos do seu dia para cuidar de si mesmo, do seu bem-estar,
de sua saúde e físico. Nesse intervalo, pratique exercícios físicos pelo menos 3
(três) vezes por semana.
Pense sobre o processo de estresse e como o policial rodoviário pode auxiliar na
conscientização dos sintomas pelo usuário, seja no trabalho preventivo, seja na
atuação ostensiva.
Aula 2 – Trânsito como tema transversal
Ao iniciar esta aula, retome inicialmente o conceito de trânsito, conforme o CTB:
Art. 1º
§ 1º Considera-se trânsito a utilização das vias por pessoas, veículos e animais,
isolados ou em grupos, conduzidos ou não, para fins de circulação, parada,
estacionamento e operação de carga ou descarga.”
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A palavra trânsito nos remete ao “inalienável direito de ir e vir” das pessoas. Os
seres humanos se locomovem por diversas maneiras: automóveis, motos, bicicletas,
ônibus, lotação, canoas, animais, a pé, dentre outras.
Vasconcelos (1985), destaca a complexidade da sua dinâmica:
“O trânsito é uma disputa pelo espaço físico, que reflete uma disputa pelo tempo e
pelo acesso aos equipamentos urbanos; é uma negociação permanente do espaço,
coletiva e conflituosa.
(…)
O dono do veículo julga-se com muito mais direito à circulação do que os demais
participantes do trânsito, o que está ligado às características autoritárias da nossa
sociedade e a falta de conscientização sobre os direitos do cidadão, que faz com que
os motoristas ocupem o espaço viário com violência. O pedestre, por sua vez, assume
o papel de cidadão de segunda classe, numa cidade que é cada vez mais o habitat do
veículo e o anti-habitat do homem.”
A complexidade das relações humanas gera conflitos individuais e coletivos no
trânsito, cuja superação passa pelo respeito aos direitos e aos deveres. É nossa
responsabilidade transformar o trânsito em um bem social, resgatando seu real
significado de convivência humana.
Nesse cenário, a educação para o trânsito surge como elemento de transformação
social, como sugere a Política Nacional de Trânsito (2004):
“A educação para o trânsito ultrapassa a mera transmissão de informações. Tem
como foco o ser humano e trabalha a possibilidade de mudança de valores,
comportamentos e atitudes. Não se limita a eventos esporádicos e não permite ações
descoordenadas. Pressupõe um processo de aprendizagem continuada e deve utilizar
metodologias diversas para atingir diferentes faixas etárias e clientela diferenciada.”
O trânsito não foi eleito pelo MEC como tema transversal.
Porém, se quiserem, as escolas podem encaminhar sua prática educativa nessa
direção.
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Para compreender melhor o conceito de tema transversal, leia o texto “Tema
Transversal”.(Anexo)
A partir de uma visão ampla é possível propor às escolas um trabalho de
transversalização do tema. Entretanto, implementar o trânsito como tema
transversal nas escolas é um grande desafio para os órgãos gestores de trânsito. Esse
trabalho requer a elaboração de um projeto sério: objetivos bem definidos, recursos
educativos de qualidade, acompanhamento e avaliação permanentes, corpo técnico
capacitado.
Outras ações também podem ser desenvolvidas com sucesso, como por exemplo:
Encontros de professores: Seminários, oficinas, etc., que sensibilizem e incentivem
os educadores para o desenvolvimento de atividades relacionadas ao trânsito na
escola;
Espetáculos teatrais: Peças de teatro bem montadas, com textos adequados às
diferentes faixas etárias, com espaço para debate ao final da peça;
Sessões de vídeo: A produção de programas educativos, abordando valores, gerando
debates entre os alunos;
Oficinas com os alunos: A apresentação de pesquisas e de outros trabalhos
produzidos pelos alunos; e
Encontros com pais, alunos e comunidade: A promoção de eventos com o objetivo
de debater questões relacionadas ao trânsito.
Sugestão!
Caso haja interesse em um maior aprofundamento do tema transversalidade, faça o
curso a distância Formação de Formadores disponibilizado pela SENASP.
Nenhuma ação educativa destinada às escolas deve ter como objetivo formar
futuros motoristas. Isso porque não existe lei alguma determinando que todas as
pessoas devem ser motoristas. Além disso, mais do que ensinar às crianças a valorizar
um bem material, o importante é despertar para tantos outros valores a serem
aprendidos. A função da escola é analisar, refletir e debater sobre o respeito às leis
de trânsito e ao espaço público; sobre a convivência entre as pessoas pelas ruas
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da cidade, baseada na cooperação; sobre tolerância, igualdade de direitos,
responsabilidade, solidariedade e tantos outros valores imprescindíveis para um
trânsito mais humano.
Aula 3 – Recursos educativos, linguagem e comunicação
A importância do recurso humano
Quando o assunto é educação, é fundamental tratar especificamente do “recurso
humano” envolvido com o trânsito. Os profissionais de educação para o trânsito,
especialmente o policial educador, são peças fundamentais para o sucesso de
qualquer iniciativa da Instituição para qual trabalham.
Quando desenvolve suas atividades, o policial recebe pessoas em eventos, propõe
ações em diversas instituições e empresas, realiza orientações durante uma
abordagem, enfim, nas mais variadas situações do contexto policial, o servidor
representa sua instituição. Ele é responsável pela construção de uma imagem entre o
DPRF e os usuários das rodovias, por isso deve se preocupar com a forma de se
apresentar, com o tom de voz empregado e com a devida urbanidade.
A conduta do policial educador também é fundamental, tanto no ambiente de
trabalho quanto no dia-a-dia, como uma pessoa comum. De nada adianta falar sobre
cinto de segurança e não usá-lo ou fazer uma campanha de redução de velocidade e
dirigir sempre acima do limite. Dar o exemplo é imprescindível, é moral e confere
credibilidade.
Como ensina Paulo Freire (2000):
“É fundamental diminuir a distância entre o que se diz e o que se faz, de tal
forma que, num dado momento, a tua fala seja a tua prática.”
É necessário que o policial agregue em seu perfil ações educadoras, embasadas em
técnicas pedagógicas e dados reais que lhe permitam atuar com confiança e
competência na propagação de medidas preventivas. Os projetos de educação para o
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trânsito não devem transmitir apenas as normas, regras e preceitos legais. Devem
contemplar também aspectos éticos e de cidadania, ampliando o nível de
conscientização dos diversos atores do trânsito, para que adotem atitudes prudentes,
compatíveis com as necessidades de segurança de todos.
Comunicação
Observe a propaganda abaixo:
Quais foram os elementos utilizados pelo autor da mensagem para comunicá-la?
Como você pode perceber, na mensagem transmitida na página anterior, não está
contida apenas no texto (comunicação verbal) ou na imagem (comunicação não-
verbal). Mas sim, um conjunto de elementos que, em sintonia, possibilitam a
comunicação entre quem a emite e quem a recebe. A comunicação verbal é a forma
de expressão por intermédio da palavra falada ou escrita. A comunicação não-verbal
é estabelecida pelo uso de elementos sem a palavra, tais como: imagens, figuras,
desenhos, símbolos, dança, tom de voz, postura corporal, pintura, música, mímica,
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escultura e gestos como meio de comunicação. A comunicação não-verbal também
pode ser percebida nos animais: quando um cachorro balança a cauda quer dizer que
está feliz, quando coloca a cauda entre as pernas tem medo, tristeza.
No trânsito há uso intenso de comunicação não-verbal.
Exemplos de comunicação não-verbal no trânsito:
Sinalização de trânsito, semáforo, logotipos, bandeiras, uso de cores para chamar a
atenção ou exprimir uma mensagem.
É importante que todos que participam do trânsito conheçam e utilizem essa
simbologia.
No processo de comunicação é utilizada a comunicação verbal e não-verbal de forma
combinada, como no exemplo da propaganda, ou mesmo na forma que você se
expressa (você fala e gesticula ao mesmo tempo), isso fortalece o conteúdo da
mensagem que deseja transmitir e amplia a possibilidade de compreensão. Lembre-
se de que uma forma de comunicação que apresente elementos verbais e não-verbais
possibilitará uma comunicação rica, variada e significativa.
Apresentação de palestras
Postura, apresentação e domínio
Como você já estudou, o policial representa a instituição e por isso deve primar pela
apresentação individual. Além da necessidade de autorização da chefia para a
realização de palestras, elas só deverão ocorrer com o policial devidamente
uniformizado.
Frequentemente, os policiais, a trabalho ou não, são questionados sobre legislação
de trânsito. As palestras são ocasiões em que os usuários se sentem mais confortáveis
em fazer determinadas perguntas sobre trânsito, assim, dominar o assunto do qual se
pretende falar e estar atualizado com a legislação, são premissas básicas. Sem isso,
por mais que uma pessoa detenha todas as técnicas pedagógicas, fatalmente perderá
a atenção do público.O domínio do conteúdo resulta em uma postura segura do
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policial. Dar uma palestra torcendo para que não surjam indagações é o primeiro
indicativo que você precisa se aprofundar mais em um assunto.
Cada palavra deve ser facilmente entendida e, para isso, empregar um tom de voz
adequado é imprescindível. Falar baixo demais, sussurrar ou gritar pode ser um
recurso interessante para uso eventual numa palestra, mas jamais usualmente
aplicado. O microfone pode ser um aliado ou um vilão, é preciso dosar o volume e a
distância entre o microfone e a boca.
É prudente evitar certos vícios de linguagem e posturas, como usar
constantemente as expressões “né", “ãhhh” e “então”, além de passar na frente
da projeção, sentar-se/escorar-se em mesas ou colocar a mão na parede que
recebe a projeção para indicar algum conteúdo. O palestrante policial não deve
utilizar a posição de entrevista durante a palestra, visto que o público desconhece
seu fundamento. Ela pode originar gracejos e interpretações errôneas. Mesmo que a
participação na palestra esteja concentrada em algum ponto, o palestrante deve
evitar direcionar o olhar para apenas um ouvinte ou “grupinho”. Nunca isole seu
público. Movimentar-se lentamente enquanto fala, indo a todos os lados do
ambiente é uma forma interessante de manter a atenção de todos.
Ao fazer perguntas, evite direcioná-las especificamente a um indivíduo. Embora
alguns digam que é uma forma de retomar a atenção daquela pessoa, ela pode
sentir-se constrangida se não souber a resposta ou se estiver “voando” no assunto.
Faça a pergunta ao público e pergunte quem pode respondê-la (trabalhe com
voluntários). Se o assunto corrupção for mencionado, procure informar sobre o
trabalho que a instituição está realizando no sentido de “limpar a casa” e
comente que essa mancha não é exclusividade da Polícia Rodoviária Federal. Fale
sobre a Corregedoria Participativa e destaque a existência em cada regional das
corregedorias e das comissões de ética, orientando a todos que esses setores
estão sempre à disposição da sociedade.
A apresentação pessoal do policial em palestras, seja para crianças ou adultos, em
colégios ou empresas, deve primar pela doutrina utilizada na postura policial voltada
ao atendimento do cidadão. Em palestras, o policial deve sempre portar o
equipamento que utiliza rotineiramente, lembrando que a arma é parte integrante
do uniforme. Nas exposições para crianças, deve-se ter em mente que a utilização de
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elementos dispersores da atenção, como colete, lanterna, brevês, algema, bastão,
faca e muitos carregadores, irá desviar a atenção do conteúdo a ser transmitido,
transformando o policial educador e cidadão no policial “super-herói caçador de
bandidos”, o que não estaria condizente com a atual imagem que a sociedade
procura na polícia, a imagem de “segurança do público”. Caso num ambiente escolar
o policial seja questionado quanto ao uso da arma no interior de colégios, deve-se
passar a sensação de segurança aos questionadores, lembrando de que a instituição
policial representa a proteção aos cidadãos e não ameaça. O porte da sua arma é
autorizado somente a você, não podendo ser entregue a outrem, nem para guarda
temporária. Previna os acidentes: mantenha seu equipamento pessoal sob total
domínio em locais com muitas crianças, pois o descuido associado à curiosidade
infantil pode ser fatal.
Linguagem adequada ao público-alvo
A linguagem sempre deve ser adequada ao público a que está se dirigindo. O
emprego de uma linguagem simples demais ou excessivamente rebuscada, ou com
termos técnicos mal empregados ou, ainda, em volume inadequado, cria desinteresse
no público, para não dizer pânico.
Não é a vastidão do vocabulário que determina o bom palestrante, mas sua
capacidade de ser entendido pelo público-alvo do evento.
Como você já estudou é importantíssimo caracterizar o público-alvo da ação. Além
do tipo de linguagem a ser utilizada, ele poderá determinar quais temas, recursos a
serem utilizados e a logística necessária. A proposta de um trabalho educativo a ser
realizado com crianças portadoras de deficiência auditiva, por exemplo, exige uma
adequação técnica de equipe especializada composta de intérprete, recursos
educativos e materiais voltados para a comunicação não-verbal. Esse trabalho é
perfeitamente possível e já foi realizado pelo DPRF.
Recentemente, foi promovido, por iniciativa do Ministério da Justiça, um curso de
Libras que contou com a participação de alguns policiais rodoviários federais. O
objetivo da participação da PRF no referido curso é o de inclusão dessa clientela no
trabalho de educação para o trânsito.
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Dimensionamento do tempo
Toda palestra deve ser elaborada com uma duração prevista. Com o tempo, um
palestrante experiente saberá dar uma “corridinha” com o conteúdo sem trazer
prejuízos ao aprendizado ou, ainda, intercalar comentários e questionamentos
oportunos a fim de “esticar” um pouco mais sua apresentação. Atrasos ou excessos
na duração da palestra podem ser entendidos como presunção, descaso, esnobismo
ou irresponsabilidade.
Os materiais de apoio, como, por exemplo, músicas e vídeos, devem ser empregados
com equilíbrio, não devem ser exagerados, de forma a esgotar o tempo sem atingir
plenamente o conteúdo planejado para aquela atividade, nem poucos a ponto de o
palestrante precisar unicamente da participação dos presentes ou de seu talento
para manter a atenção no assunto.
Uma boa dica é respeitar o horário de início e elaborar palestras com muitos
vídeos incorporados ou “linkados”, não havendo a obrigatoriedade de empregar
todos. A opção do palestrante em usá-los dependerá do tempo disponível.
Dispor de um espaço para debater ou esclarecer dúvidas ao final de sua palestra
produzirá maior interação e, consequentemente, maior eficiência naquilo que foi
proposto. Se o número de questionamentos for grande demais e você tiver algum
compromisso em seguida, crie algum mecanismo, como dar seu e-mail para posterior
atendimento, ou ficar além do tempo, no final, com aquelas pessoas interessadas.
Evite que o público saia com a sensação de não ser atendido. Caso possa ficar para
dirimir as dúvidas, primeiramente agradeça e encerre sua exposição. Permita que
permaneça no local somente com os interessados, liberando aqueles que não
desejam ou não podem mais ali permanecer.
Utilização de materiais de apoio
Os materiais de apoio são muito úteis para uma palestra, porém, o recurso humano
é, sem sombra de dúvida, o principal agente de transmissão das informações. Há
palestrantes no mundo inteiro que são capazes de manter a atenção da plateia e
“passar o seu recado” sem usar essas ferramentas. Contudo, é preciso considerar que
a sociedade moderna se encontra imersa em imagens, sons,informações e tecnologia.
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De acordo com os princípios da Andragogia, o ser humano retém 10% do que lê, 20%
do que escuta, 30% do que vê, 50% do que vê e escuta e 80% do que vê, ouve e logo
pratica.
Observe a tabela:
Método de ensino Dados retidos após 3
horas
Dados retidos após
3 (três) dias
Somente oral 70% 10%
Somente visual 72% 20%
Oral e visual (simultaneamente) 85% 65%
Fonte: Oficina de Estudos na Sociedade Norte Americana
Socondy Vacuum Oil Co. Studies (1971)
Os recursos audiovisuais (que conjugam audição e visão) são os mais eficazes para
a aprendizagem. Utilizar recursos como o datashow, teatro, músicas e fantoches
significa seguir uma tendência mundial para garantir maior absorção do conteúdo.
A escolha correta dos materiais de apoio depende de critérios, devendo o
palestrante:
 Optar pelo recurso audiovisual de acordo com o objetivo que deseja atingir;
 Avaliar quais assuntos necessitam de melhor compreensão/fixação;
 Optar por um recurso que conheça totalmente o seu manuseio, as vantagens e as
desvantagens;
 Considerar o horário para o uso dos recursos. Após o almoço, por exemplo, vídeos
longos tendem a causar sonolência e diminuição do grau de interesse.
Quadro-de-giz
Empregado em conjunto com giz branco ou colorido, é o recurso didático mais
simples. Com baixo custo, serve como recurso auxiliar para qualquer tipo de assunto,
sendo ideal para explicações rápidas, resumos ou recapitulação de ideias. Usado
como base para diversos recursos audiovisuais.
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Ao usar esse recurso, escrever sempre da esquerda para a direita, usando letras com
bom tamanho e legíveis, valendo-se de elementos dinâmicos, como setas, círculos e
barras, e nunca falar virado para o quadro, enquanto estiver escrevendo.
Caso a letra do palestrante não seja legível, afixar placas/faixas com palavras-chaves
ou frases.
Quadro magnético
Quadro branco usado em conjunto com pincéis próprios.
Sua utilização é similar ao quadro-negro, porém permite mais contraste no conteúdo
escrito. Apenas o pincel apropriado deve ser utilizado, de forma a não danificar a
película que recobre o quadro.
Cavalete com folhas ou flipchart
Ideal para frisar pontos importantes, relacionar dados, recordar assuntos e agregar
ideias.
Retroprojetor e transparências
Recurso ainda muito utilizado, que permite ao expositor ficar de frente para o
público enquanto usa a transparência para ordenar logicamente ideias e exibir
textos, figuras e gráficos. Ao confeccionar uma transparência, considere questões
como visibilidade, clareza e uso das cores.
Produção de slides
Em relação à produção de slides, normalmente, utiliza-se os planos de fundo do
DPRF.
Procure criar slides simples, use fontes com tipos, tamanhos e cores adequados.
Considere sempre a cor de fundo e aplique a regra de “fundo escuro, fonte clara;
fundo claro, fonte escura”. Atente quanto ao número de linhas por slide, para que a
legibilidade não fique comprometida (máximo de 10 linhas).
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Não abuse das cores nem dos efeitos e busque promover a instituição que representa,
quer pelo conteúdo ou pelas imagens utilizadas.
Teste sempre todos os equipamentos antes do momento da palestra e tenha
sempre um “plano B” caso haja alguma pane.
Uso de imagens
Filmes e fotos digitalizadas tornam a apresentação mais agradável. Insira imagens
locais para afastar a ideia de que os acidentes só acontecem longe de nós, de nossa
família e das outras pessoas que amamos.
Algumas imagens podem exigir tratamento digital, de forma a tarjar placas de
veículos ou “embaçar” rostos dos envolvidos, evitando assim constrangimentos e
diminuindo a possibilidade de que as imagens sejam reconhecidas por pessoas
próximas aos acidentados, que eventualmente estejam na plateia.
Buscar sempre uma atualização do acervo de fotos é uma prática interessante, pois
imagens inéditas atraem a plateia. Solicite materiais de acidentes aos policiais, aos
órgãos de imprensa ou faça intercâmbio com outros educadores. Sempre avalie se o
material que deseja empregar é adequado ao público-alvo da palestra. Há entre os
educadores duas correntes divergentes em relação ao emprego de imagens
chocantes. Valendo-se de pensamentos como “palestras chocantes causam maior
efeito” ou “a realidade precisa ser mostrada”, uma delas emprega imagens com
cadáveres e mutilações, dentre outras do gênero. Por outro lado, encontram-se
imagens de acidentes sem esse nível de agressividade, exibidas por um grupo que
considera a exibição de imagens fortes desnecessária, traumática e fator de
banalização da violência: “Se já mostramos o pior, acidentes menos graves não
ganharão a devida importância.”
Não há pretensão de defender uma ou outra corrente. Mas a maior parte dos
pedagogos modernos não apoia a exibição das imagens violentas.
As imagens devem ser capazes de transmitir valores, como cooperação, respeito e
solidariedade, enfim, de estimular comportamentos positivos no trânsito. Existem
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vários vídeos e imagens interessantes sobre trânsito. Todo esse material deve ter
impacto, interesse e sequência. Não adianta empregar um vídeo sensacional se
ele estiver fora do contexto e da finalidade a que se destina.
Outros aspectos importantes
Direitos autorais
Com o tempo, cada educador constrói seu acervo e a troca de materiais com outros
educadores é uma ótima fonte para obtê-los. O palestrante do DPRF deve ter cuidado
com a questão dos direitos autorais.
Veja alguns fragmentos da Lei n 9.610, de 19 de fevereiro de 1998 que altera,
atualiza e consolida a legislação sobre direitos autorais.
Lei n 9.610, de 19 de fevereiro de 1998.
Art. 46 Não constitui ofensa aos direitos autorais:
I - A reprodução:
a) Na imprensa diária ou periódica, de notícia ou de artigo informativo, publicado em
diários ou periódicos, com a menção do nome do autor, se assinados, e da publicação
de onde foram transcritos;
II - A reprodução, em um só exemplar de pequenos trechos, para uso privado do
copista, desde que feita por este, sem intuito de lucro;
VI - A representação teatral e a execução musical, quando realizada no recesso
familiar ou, para fins exclusivamente didáticos, nos estabelecimentos de ensino, não
havendo em qualquer caso intuito de lucro.
A mesma lei em questão esclarece:
Art. 47 São livres as paráfrases e paródias que não forem verdadeiras reproduções da
obra originária nem lhe implicarem
descrédito.
Capacitação em Educação para o Trânsito – Módulo 2
SENASP/MJ - Última atualização em 14/09/2009
Página 26
Fuga ao tema
Perguntas e narrativas pessoais ocorrem, frequentemente, em palestras. Isso porque,
como já estudou, o público identifica o momento como a oportunidade perfeita para
sanar dúvidas e comentar sobre fatos que ele ou conhecidos vivenciaram no trânsito
ou em abordagens da PRF. A participação do público é válida e enriquece, mas o
palestrante precisa ter a sensibilidade de perceber quando o assunto se desvia do
foco da palestra ou quando o número de intervenções passa a prejudicar sua
continuidade. Às vezes, é necessário dar uma “cortada” educada a fim de retomar o
controle da situação. Uma saída é pedir para que os participantes anotem suas
dúvidas e comentários para que sejam apresentados no final da palestra, de forma
que não se gaste muito tempo naquele assunto e se possa prosseguir. Como forma de
interação com o público, você pode pedir ajuda para recolher as anotações. Faça
uma leitura silenciosa de cada pergunta, analise e só então compartilhe com os
presentes. Além de evitar surpresas, talvez você tenha que fazer adaptações para
garantir sua clareza.
Conclusão
Neste módulo, você estudou que...
► Psicologia é a ciência que estuda o comportamento humano e suas relações com o
meio físico e social.
► A decisão do condutor de aplicar constantemente procedimentos de segurança
depende de fatores psicológicos, dentre outros.
► O comportamento – formado por fatores internos e externos – é o conjunto de
ações de um indivíduo ou de um grupo de indivíduos em variadas situações do
cotidiano.
► Os fatores internos são aqueles inerentes ao indivíduo e que o tornam único.
Também são considerados fatores internos, as características psicológicas que o
inserem em um determinado grupo, classificável pela psicologia.
Educação Trânsito PRF Módulo 1
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Educação Trânsito PRF Módulo 1

  • 1. Capacitação em Educação para o Trânsito – Módulo 1 SENASP/MJ - Última atualização em 18/09/2009 Página 1 Capacitação em Educação para o Trânsito Conteudista Rubiane Pereira Bezerra – Policial rodoviário federal
  • 2. Capacitação em Educação para o Trânsito – Módulo 1 SENASP/MJ - Última atualização em 18/09/2009 Página 2 Apresentação Os conflitos da convivência humana e a divisão entre o bem individual e o bem coletivo têm refletido no alto índice de acidentes automobilísticos e, consequentemente, mortes no trânsito, requerendo por parte do Estado medidas urgentes de controle, combate e prevenção de acidentes de trânsito. Nesse contexto, a polícia rodoviária federal tem por competência atuar em 65.000km de rodovias federais, onde, além de fiscalizar e autuar veículos e usuários infratores, conscientiza os condutores da necessidade de atenderem as normas de convivência no trânsito, a fim de reduzir os índices de mortes nas rodovias federais. Para que isso ocorra, são necessárias várias medidas e uma delas é o aperfeiçoamento profissional de acordo com as exigências de uma sociedade moderna, ou seja, o policial rodoviário federal deve ser versátil o bastante para atuar não só no combate à criminalidade e no atendimento aos acidentes de trânsito, como também na sua prevenção. Bom estudo! Com o curso a distância de Educação para o Trânsito, o DPRF espera: ● Conscientizar o policial rodoviário federal de que esse papel social demanda de todos uma postura ética, o conhecimento da legislação em vigor e o compromisso com a construção de um trânsito mais consciente e harmonioso; ● Agregar ações educativas preventivas às ações fiscalizatórias, como um dos caminhos para a melhoria da qualidade do trânsito, garantindo, assim, o cumprimento do Código de Trânsito Brasileiro e o fortalecimento da imagem institucional da Polícia Rodoviária Federal enquanto componente do Sistema Nacional de Trânsito; e ● Demonstrar que, além das ações rotineiras, a categoria específica de educador de trânsito requer técnicas próprias de didática, de comportamento humano, unindo o
  • 3. Capacitação em Educação para o Trânsito – Módulo 1 SENASP/MJ - Última atualização em 18/09/2009 Página 3 conhecimento com sua forma adequada de exposição. Dessa forma, conseguir maior eficiência em sua missão principal, que é “salvar vidas”. Além do aperfeiçoamento profissional é importante observar que os projetos, programas, campanhas e outras propostas para desenvolver ações voltadas à educação para o trânsito no Brasil surgiram a partir da implementação do primeiro Código Nacional de Trânsito (Decreto-Lei nº 3.651, de 25 de setembro de 1941). Desde então, o Brasil – especialmente por meio dos órgãos executivos de trânsito – não parou mais de produzir materiais educativos na área. De 1950 a 1980, foram elaborados manuais, cartilhas, fitas cassete, slides e até discos de vinil... O conteúdo? Obediência e reconhecimento ao policial de trânsito, punições para o descumprimento das leis, regras e mais regras de trânsito. Na verdade, esses materiais não poderiam ser diferentes, pois refletiam a ideologia política da época. Veja um exemplo. Campanha Educativa de Trânsito (…) O homem sofre para conhecer, como a criança é castigada para aprender. Nunca será, com efeito, mal empregado um puxão de orelhas como corretivo para as travessuras de um menino endiabrado. (…) Se a criança se submete ao imério da força que pune, também o adulto aceita com submissão a ação repressora do Estado. (…) Tudo isso vem a propósito dos ciclistas, as crianças grandes do tráfego. (…) Mas de todas as faltas, a mais grave é, sem dúvida, esse hábito inveterado que eles têm de circular nos passeios. (…) Para acabar com esse abuso só há um remédio: multas elevadas. Não há outro jeito, não; perder dinheiro é o que dói. Só o temor desses bárbaros pelo prejuízo a que ficassem, assim, sujeitos, poderia por fim a isso. PEQUENO, Waldemar. Campanha Educativa de Trânsito (palestras). Belo Horizonte, 1955. Era um produto do autoritarismo dessa época e da manipulação por ele dos aparelhos policiais. A atividade policial foi caracterizada pela sociedade como repressora e antidemocrática, truculenta, conservadora, gerando de fato uma divisão entre sociedade e polícia, como se a última não fizesse parte da primeira. De 1990 aos dias atuais, o crescimento da democracia e o avanço tecnológico possibilitaram a ampliação e a reflexão de várias questões que envolvem as atividades de Segurança Pública, bem como a sensibilização para a problemática do
  • 4. Capacitação em Educação para o Trânsito – Módulo 1 SENASP/MJ - Última atualização em 18/09/2009 Página 4 contexto trânsito. Na elaboração dos recursos educativos, os slides foram substituídos pelos vídeos; os discos de vinil, por CDs e CD-ROMs. Hoje, é possível encontrar uma enorme variedade desses recursos. Os manuais e as cartilhas resistiram ao tempo, mas de resto, quanto mais moderno melhor. Será que o conteúdo desses materiais reflete os valores democráticos que precisam ser trazidos à luz,debatidos e ensinados num país em processo de democratização? Atende às expectativas das pessoas? Estimula a reflexão sobre a necessidade de mudanças das atuais políticas de Segurança Pública, buscando priorizar a dimensão pedagógica/educativa do policial em sua formação profissional? Educa – realmente – para a construção de um trânsito melhor? São muitos os questionamentos, porém, não é necessário solucioná-los agora. Espera- se que no decorrer deste curso, importantes aprendizados sejam construídos para possibilitar mudanças significativas na consciência, postura e atuação do policial rodoviário federal. O curso de Formação de Educadores para o Trânsito, da Polícia Rodoviária Federal, criará condições para que você possa: ● Ampliar os conceitos que norteiam a atuação pedagógica no contexto policial; ● Identificar a legislação pertinente acerca das ações de educação para o trânsito no contexto escolar e no âmbito da polícia rodoviária federal; ● Identificar os valores culturais e éticos necessários à boa convivência e segurança no trânsito, relacionando-os à prática educacional; ● Compreender a dimensão coletiva das relações sociais e a necessidade de contextualizá-la ao inalienável direito de ir e vir; ● Compreender a dinâmica e a natureza de comportamentos arriscados no trânsito, considerando-os no planejamento de ações educativas de trânsito, bem como na atuação policial ● Reconhecer a importância da transversalização do tema trânsito nas escolas; ● Identificar os principais recursos educativos a serem utilizados em ações de educação para o trânsito, bem como sua finalidade na aplicação; ● Apropriar-se do funcionamento da área de educação para o trânsito no âmbito do Departamento de Polícia Rodoviária Federal;
  • 5. Capacitação em Educação para o Trânsito – Módulo 1 SENASP/MJ - Última atualização em 18/09/2009 Página 5 ● Utilizar os passos para a elaboração de projeto básico ou termo de referência, visando ao planejamento e à operacionalização de ações educativas de trânsito; e ● Fortalecer uma atitude consciente e crítica em relação à postura e a responsabilidade na construção de um trânsito mais educado. Para alcançar seus objetivos, o curso está dividido em 3 módulos: Módulo 1 – Legislação, ética e convivência Módulo 2 – Trânsito: Um enfoque comportamental e pedagógico Módulo 3 – O DPRF e a educação para o trânsito Uma pesquisa realizada em 2005, pelo IPEA – Instituto de Pesquisa Econômica e Aplicada, Denatran e ANTP – Associação Nacional de Transportes Públicos demonstra que, nas rodovias federais, os atropelamentos ocupam o segundo lugar no ranking de mortalidade por acidente. A cada 34 atropelamentos ocorrem 10 mortes; ocorrem cerca de 4 mil atropelamentos por ano, aproximadamente um a cada duas horas. Minas Gerais, Rio de Janeiro, São Paulo, Santa Catarina e Paraná lideram com 54% das mortes de pedestres e 12 rodovias federais detêm 75,3% das ocorrências envolvendo pedestres, das quais, as três primeiras (BR-116, BR-101, BR-040) respondem por 50% das mortes. A maioria dos acidentes envolvendo pedestres ocorre à noite, sendo mais crítico o período das 18h às 20h. Os estados e as rodovias identificadas dão um indicativo de que as travessias urbanas das rodovias federais podem ser a principal área dessa violência contra a vida dos pedestres. Os acidentes com motocicletas guardam proporções semelhantes. Embora eles tenham representado 10,8% de todos os acidentes, causaram 15,2% de todas as mortes. A pesquisa também visa fornecer indicativos para a formulação de políticas públicas e programas efetivos voltados, não só para a redução do número de acidentes, mas, sobretudo, para a redução da gravidade desses acidentes. O custo médio associado à pessoa de um ileso corresponde a R$ 1.040,00, já uma vítima classificada como
  • 6. Capacitação em Educação para o Trânsito – Módulo 1 SENASP/MJ - Última atualização em 18/09/2009 Página 6 ferida apresenta um custo médio de R$ 36.305,00, uma vítima fatal gera custo de R$ 270.165,00, e o custo total de um acidente é de R$ 407.000,00. Considerando o número de mortos em 2008, estima-se que nesse mesmo ano foram gastos, diariamente, R$ 4.862.970,00 e, anualmente, R$ 780.387.350,00 com vítimas fatais nas rodovias brasileiras. Veja a tabela com os dados dos acidentes referentes ao ano de 2006, 2007 e 2008. Fonte: ROD On Line – Polícia Rodoviária Federal Atualmente, os acidentes de trânsito se tornaram questão de saúde pública e a tendência mostra que a educação para o trânsito está entre as principais armas na luta contra essa triste realidade. É urgente e necessário implementar medidas para o constante aperfeiçoamento das ações educativas pelos órgãos componentes do Sistema Nacional de Trânsito. Não basta sinalizar as vias públicas ou colocar radares nas avenidas, é preciso educar. É a educação para o trânsito a ação capaz de sensibilizar os cidadãos brasileiros para a mudança de comportamentos arriscados. A educação para o trânsito, enquanto ação preventiva, constitui um instrumento de transformação da cultura no trânsito.
  • 7. Capacitação em Educação para o Trânsito – Módulo 1 SENASP/MJ - Última atualização em 18/09/2009 Página 7 Após as considerações introdutórias leia o texto “História do lápis” e reflita sobre a questão colocada. REFLEXÃO: “HISTÓRIA DO LÁPIS” Você conhece a história do lápis? Um menino olhava a avó escrevendo uma carta. A certa altura perguntou: - Você está escrevendo uma história que aconteceu conosco? E por acaso, é uma história sobre mim? A avó parou a carta, sorriu, e comentou com o neto: - Estou escrevendo sobre você, é verdade. Entretanto, mais importante do que as palavras, é o lápis que estou usando. Gostaria que você fosse como ele quando crescesse. O menino olhou para o lápis, intrigado, e não viu nada de especial: - Mas ele é igual a todos os lápis que vi em minha vida! Respondeu a avó: - Tudo depende do modo como você olha as coisas. Há cinco qualidades nele que, se você conseguir mantê-las, será sempre uma pessoa em paz consigo mesmo, com os outros e com Deus. Primeira qualidade: Você pode fazer grandes coisas, mas não deve esquecer nunca que existe uma mão que guiará seus passos. Esta mão nós chamamos de Deus, e Ele deve sempre conduzi-lo em direção à Sua vontade. Segunda qualidade: De vez em quando eu preciso parar o que estou escrevendo e usar o apontador. Isso faz com que o lápis sofra um pouco, mas no final, ele estará mais afiado. Portanto, saiba suportar algumas dores porque elas o farão ser uma pessoa melhor. Terceira qualidade: O lápis sempre permite que usemos uma borracha para apagar aquilo que está errado. Entenda que corrigir uma coisa que fizemos não é, necessariamente, algo mau, mas algo importante para nos manter no caminho da justiça. Quarta qualidade: O que realmente importa no lápis não é a madeira ou sua forma exterior, mas o grafite que está dentro. Portanto, sempre cuide daquilo que acontece dentro de você. Finalmente, a quinta qualidade do lápis: Ele sempre deixa uma marca. Da mesma maneira, saiba que tudo que você fizer na vida irá deixar traços... Paulo Coelho
  • 8. Capacitação em Educação para o Trânsito – Módulo 1 SENASP/MJ - Última atualização em 18/09/2009 Página 8 Com base nos conceitos iniciais, na problemática atual do trânsito e na mensagem acima, reflita sobre o que pode ser feito pelo policial rodoviário federal, enquanto educador, na busca por um trânsito mais humanizado? Módulo 1 – Legislação, ética e convivência Antes de iniciar o estudo deste módulo, assista ao vídeo( http://www.youtube.com/watch?v=A3WbWOBJxks ) da música Rua da Passagem (Trânsito), ou leia a sua letra( http://vagalume.uol.com.br/lenine/rua-da-passagem- transito.html ). Em seguida, pense sobre a seguinte questão: De que maneira valores como cooperação, respeito, colaboração, tolerância, equilíbrio pessoal, amizade, vida, liberdade, justiça, solidariedade, igualdade e responsabilidade podem subsidiar as ações de educação para o trânsito? Por que somente os aspectos legais não bastam para tornar a convivência no trânsito segura? Neste módulo, você estudará os aspectos legais e éticos relacionados à convivência humana no trânsito. Ao final do estudo deste módulo, você será capaz de: ● Identificar os aspectos legais nos quais a educação para o trânsito está inserida; ● Analisar os aspectos contextuais que limitam a relação entre o Código de Trânsito brasileiro versus Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional; ● Reconhecer a importância de se pensar e agir ética e coletivamente; ● Utilizar valores como a base da elaboração de ações de educação para o trânsito.
  • 9. Capacitação em Educação para o Trânsito – Módulo 1 SENASP/MJ - Última atualização em 18/09/2009 Página 9 Este módulo está dividido em: Aula 1 – Aspectos legais Aula 2 – Ética e cidadania no trânsito Aula 3 – Convivência humana no espaço coletivo Aula 1 – Aspectos legais A educação para o trânsito inclui a percepção da realidade, educação, assimilação e incorporação de novos hábitos e atitudes perante o trânsito, enfatizando a responsabilidade do governo e da sociedade, em busca da segurança e bem-estar. Nesse sentido, Freire (1999) lembra que se a educação sozinha não transforma a sociedade, sem ela tampouco a sociedade muda. A educação para o trânsito tem fundamento na Constituição da República Federativa do Brasil, de 1988: Art. 23 É competência comum da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios: (...) XII – Estabelecer e implantar política de educação para a segurança do trânsito. Nesse dispositivo constitucional, fica clara a abrangência que deverá possuir a dimensão educativa, priorizando as políticas de educação e a segurança no trânsito. Veja o que estabelece o Código de Trânsito Brasileiro (CTB – Lei n 9.503, de 23/09/1997):
  • 10. Capacitação em Educação para o Trânsito – Módulo 1 SENASP/MJ - Última atualização em 18/09/2009 Página 10 Art. 1º § 2º O trânsito, em condições seguras, é um direito de todos e dever dos órgãos e entidades componentes do Sistema Nacional de Trânsito, a estes cabendo, no âmbito das respectivas competências, adotar as medidas destinadas a assegurar esse direito. (...) § 5º Os órgãos e entidades de trânsito pertencentes ao Sistema Nacional de Trânsito darão prioridade em suas ações à defesa da vida, nela incluída a preservação da saúde e do meio ambiente. Veja também o artigo 75 da citada legislação e o artigo 76 que se refere, mais diretamente, a educação. Art. 75 O CONTRAN estabelecerá, anualmente, os temas e os cronogramas das campanhas de âmbito nacional que deverão ser promovidas por todos os órgãos ou entidades do Sistema Nacional de Trânsito, em especial, nos períodos referentes às férias escolares, feriados prolongados e à Semana Nacional de Trânsito. § 1º Os órgãos ou entidades do Sistema Nacional de Trânsito deverão promover outras campanhas no âmbito de sua circunscrição e de acordo com as peculiaridades locais. § 2º As campanhas de que trata este artigo são de caráter permanente e os serviços de rádio e difusão sonora de sons e imagens explorados pelo Poder Público são obrigados a difundi-las gratuitamente, com a frequência recomendada pelos órgãos competentes do Sistema Nacional de Trânsito. Nessa mesma perspectiva, veja o artigo que mais diretamente se refere ao tema educação: Art. 76 A educação para o trânsito será promovida na pré-escola e nas escolas de 1º, 2º e 3º graus, por meio de planejamento e ações coordenadas entre os órgãos e entidades do Sistema Nacional de Trânsito e de Educação, da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, nas respectivas áreas de atuação. Parágrafo único. Para a finalidade prevista neste artigo, o Ministério da Educação e do Desporto, mediante proposta do CONTRAN e do Conselho de Reitores das Universidades Brasileiras, diretamente ou mediante convênio, promoverá: I - A adoção, em todos os níveis de ensino, de um currículo interdisciplinar com conteúdo programático sobre segurança de trânsito;
  • 11. Capacitação em Educação para o Trânsito – Módulo 1 SENASP/MJ - Última atualização em 18/09/2009 Página 11 II - A adoção de conteúdos relativos à educação para o trânsito nas escolas de formação para o magistério e o treinamento de professores e multiplicadores; III - A criação de corpos técnicos interprofissionais para levantamento e análise de dados estatísticos relativos ao trânsito; e IV - A elaboração de planos de redução de acidentes de trânsito junto aos núcleos interdisciplinares universitários de trânsito, com vistas à integração universidades- sociedade na área de trânsito. O primeiro Código Nacional de Trânsito (Decreto-Lei nº 3.561, 25 de setembro de 1941, que revogou o Decreto-Lei nº 2.994, de 28 de janeiro de 1941) não mencionava o tema educação de trânsito em qualquer um de seus 12 capítulos. Após 25 anos, com a lei nº 5.108, de 21 de setembro de 1966, que instituiu o segundo Código Nacional de Trânsito, estão as primeiras citações referentes ao tema. A educação de trânsito começou a ser mencionada. ( http://www.planalto.gov.br/ccivil/Leis/1950-1969/L5108.htm ) Passados trinta e um anos (repletos de resoluções e decretos), a Lei nº 9.503, de 23 de setembro de 1997 foi sancionada, instituindo o Código de Trânsito Brasileiro (CTB), que dispensa um capítulo (com 6 artigos) exclusivo ao tema educação para o trânsito “No Código Nacional de Trânsito de 1961, a palavra educação aparece duas vezes; o termo campanhas educativas, quatro vezes; a palavra aprendizagem, duas vezes. Assim, o tema educação aparece num total de oito vezes, o que representa pouco mais de 6%, levando em conta os 131 artigos da Lei. No CTB, a palavra educação pode ser lida 28 vezes, além de mais 13 palavras e termos correlatos (aprendizagem, campanha educativa, especialização, nível de ensino, currículo de ensino, currículo interdisciplinar, escola pública, etc.) que aparecem 21 vezes.” ALMEIDA, Dílson de Souza. Palestra proferida em 1999.
  • 12. Capacitação em Educação para o Trânsito – Módulo 1 SENASP/MJ - Última atualização em 18/09/2009 Página 12 A importância da educação para o trânsito fica evidente nesses artigos do CTB, como resultado de constante evolução, na medida em que o tema é abordado 49 vezes, representando 15% do total de 341 artigos da Lei. E, como se pode observar, sua promoção é obrigatória nos ensinos infantil, fundamental, médio e superior, além de ser uma das atribuições legais da polícia rodoviária federal. No entanto, quando o CTB foi instituído, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996, já vigorava e dispõe claramente que os currículos do ensino fundamental têm base nacional comum (Parâmetros Curriculares Nacionais) e que cabe a cada sistema de ensino e a cada escola oferecerem uma parte diversificada, de acordo com as características regionais e locais da sociedade, da cultura, da economia e da clientela. Base nacional comum A base comum é o estudo da língua portuguesa e da matemática, o conhecimento do mundo físico e natural e da realidade social e política, especialmente no Brasil. O ensino da arte e da educação física (facultativa nos cursos noturnos) também é componente curricular obrigatório. O ensino da história do Brasil levará em conta as diferentes culturas e etnias para a formação do povo brasileiro. Para atender a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996, assim como à Constituição Brasileira, que estabelece a necessidade e a obrigação de o Estado elaborar parâmetros claros capazes de orientar ações educativas do ensino obrigatório, de forma a adequá-los aos ideais democráticos e à melhoria do ensino nas escolas brasileiras, foram criados os Referenciais Curriculares Nacionais da Educação Infantil (RCNEI), os Parâmetros Curriculares Nacionais do Ensino Fundamental e do Ensino Médio (PCN). Como se pode notar, a LDB não contempla o estudo do trânsito em sua base nacional comum. Da mesma forma, os RCNEI e os PCN não indicam o trânsito sequer como tema transversal. Os temas transversais no ensino fundamental foram estabelecidos conforme os seguintes critérios:
  • 13. Capacitação em Educação para o Trânsito – Módulo 1 SENASP/MJ - Última atualização em 18/09/2009 Página 13 ● Urgência social: questões graves que se apresentassem como obstáculos para a concretização da plena cidadania; ● Abrangência nacional: questões que fossem pertinentes a todo o país; ● Possibilidade de ensino e aprendizagem no ensino fundamental: temas ao alcance da aprendizagem nessa etapa de ensino; ● Alcance da aprendizagem nessa etapa de ensino; e ● Que favoreçam a compreensão da realidade e a participação social. De acordo com os critérios, já vistos anteriormente, os temas transversais eleitos, para o ensino, foram: Ética, pluralidade cultural, meio ambiente, saúde, e orientação sexual. Nos PCN é encontrada uma concepção reducionista sobre o tema. O trânsito é mencionado apenas nos PCN do ensino fundamental, como sugestão de tema local, não havendo referência alguma sobre o tema nos RCNEI, assim como nos PCN do ensino médio. Ao contrário do que muitos pensam, o tema trânsito não é tema transversal eleito pelo MEC, pior ainda, não é obrigatório por lei dar aulas de trânsito nas escolas. É importante que qualquer profissional de educação do trânsito esteja ciente desses fatos. Entende-se que a educação para o trânsito é um direito de todos e não se pode mais aceitá-la apenas como um fenômeno isolado, característico dos grandes centros urbanos. Ela deve estar fundamentada em valores relacionados ao nosso sistema de convivência e que envolvam o pensar e o agir de cada pessoa, respeitando sua liberdade.
  • 14. Capacitação em Educação para o Trânsito – Módulo 1 SENASP/MJ - Última atualização em 18/09/2009 Página 14 Aula 2 – Ética, cidadania e trânsito Ética, cidadania e trânsito são assuntos complexos e envolventes, porém, de fundamental importância para a análise das relações sociais e onde o contexto do trânsito se apresenta como cenário ideal, com uma reflexão baseada no texto exposto. O agente ético é pensado como sujeito ético, isto é, como um ser racional e consciente que sabe o que faz, como um ser livre que decide e escolhe o que faz e como um ser responsável que responde pelo que faz. A ação ética é balizada pelas idéias de bem e mal, justo e injusto, virtude e vício. Assim, uma ação só será ética se consciente, livre e responsável, e será virtuosa se realizada em conformidade com o bom e o justo. A ação ética só é virtuosa se for livre e só o será se for autônoma, isto é, se resultar de uma decisão interior do próprio agente e não de uma pressão externa. Evidentemente, isso leva a perceber que há um conflito entre a autonomia da vontade do agente ético (a decisão emana apenas do interior do sujeito) e a heteronomia dos valores morais de sua sociedade (os valores são dados externos ao sujeito). Esse conflito só pode ser resolvido se o agente reconhecer os valores de sua sociedade como se tivessem sido instituídos por ele, como se ele pudesse ser o autor desses valores ou das normas morais, pois, nesse caso, ele será autônomo, agindo como se tivesse dado a si mesmo sua própria lei de ação. Enfim, a ação só é ética se realizar a natureza racional, livre e responsável do sujeito e se esse respeitar a racionalidade, liberdade e responsabilidade dos outros agentes, de sorte que a subjetividade ética é uma intersubjetividade socialmente determinada. O trânsito é um campo fértil para se discutir a vida em sociedade. Diariamente, os espaços urbanos reproduzem cenas que, de tão comuns, já se tornaram familiares a maior parte das pessoas. O curioso é que as cenas se repetem, mas as questões que essas cenas provocam raramente são levadas em conta. Conheça uma delas, por meio da história a seguir:
  • 15. Capacitação em Educação para o Trânsito – Módulo 1 SENASP/MJ - Última atualização em 18/09/2009 Página 15 Esta vaga é minha Dayse estava em seu automóvel, esperando pacientemente por uma vaga em um estacionamento. Ela contava os minutos no relógio para não chegar atrasada ao seu compromisso. Eis que surge uma vaga! Cuidadosa e atenta, sinaliza e faz menção de ocupar a vaga. Então, de uma hora para outra, eis que surge alguém que corta sua trajetória e ocupa o lugar. O tipo de situação, exposta na história da página anterior, via de regra envolve temperamentos naturalmente tensos ou estressados. As chances de um conflito são grandes e as consequências previsíveis. Mas, considerando que esse exemplo siga por um caminho mais civilizado, e a pessoa cuja vaga acabou de ser tomada, apesar de educada e tranquila em seu cotidiano, reclame, buzine e faça vários gestos. Inútil: como se não tivesse nada a ver com a história, quem ocupou a vaga tranca o carro e, com toda a calma, vai fazer suas compras. ● Quem está certo? ● Quem tomou a atitude correta? ● Com base em quais critérios pode-se chegar a uma conclusão? ● Afinal, o que é certo e o que é errado? Considerando o usuário que “perdeu” sua vaga para outro no estacionamento, no campo da ética um conflito gerado a partir de perspectivas internas e externas – autonomia da vontade do agente (“eu cheguei primeiro, portanto tenho direito a uma vaga”) e heteronomia dos valores morais de sua sociedade (regra social: “quem chegar primeiro, tem direito a uma vaga”), é possível considerar ética ou no mínimo aceitável sua atitude? Por outro lado, que critérios poderão ser considerados para analisar com a amplitude adequada o comportamento do outro condutor? É realmente reprovável sua atitude, com base em uma regra social existente? E se ele por algum motivo não viu que alguém esperava pela vaga? E se estivesse distraído, preocupado, doente? E se fosse surdo e não pudesse ouvir os gritos do motorista?
  • 16. Capacitação em Educação para o Trânsito – Módulo 1 SENASP/MJ - Última atualização em 18/09/2009 Página 16 Os níveis de entendimento das ações – as diversas leituras que se pode fazer de uma ação – ilustram esse fascinante campo de debates: a ética. Nesse plano, pode-se refletir sobre os julgamentos e comportamentos – os próprios e os das outras pessoas – quando a intenção é entender o sentido de um ato atribuindo-lhe valor. Isso é ética. Falar de ética não é algo simples, mesmo porque, muitas vezes, há atitudes reprováveis no campo da moralidade. Moralidade Originariamente a palavra moral vem do latim mos/mores, que significa costume. E, em geral, essas três palavras – costume, norma, lei – se entrecruzam. (…) Antigamente, quando ainda se trafegava com carros de bois pelas cidades, alguém iniciou o costume de usar sebo nos eixos para neutralizar o ruído estridente das rodas. Com o tempo, o que era costume de um ou mais puxadores de bois passou a virar norma (não obrigatória) para a maioria. Entendiam, para o bem da comunidade, a pertinência dessa prática. Ainda com o passar do tempo, quem não lubrificava os carros para trafegar em silêncio pela cidade começou a receber, com certeza, reclamações dos moradores. Conclusão: Ainda hoje, no Fórum de Bragança Paulista, está em vigor uma lei que obriga os puxadores de carros de bois a untar os eixos com sebo, a fim de não perturbar o silêncio da comunidade. Dessa forma, por várias décadas, o descumprimento daquilo que foi acordado juridicamente entre os indivíduos e a comunidade implicava sanções. Uma sanção é sempre a recompensa ou castigo em face de um pedido, uma advertência ou uma lei. No caso do descumprimento da lei, ela é punição (não apenas de “efeito moral”, como o castigo); punição legalizada. Assim, na ordem hierárquica, um costume pode vir a ser uma norma e uma norma virar lei. (PEREIRA, Otaviano. O que é moral. São Paulo: Braziliense, 1998) É aceitável no plano da ética, roubar para alimentar filhos que passam fome, por exemplo. Refletir a dimensão ética significa considerar várias óticas, ampliar a visão daquele fato, buscando aproximar as ações daquele sujeito aos valores socialmente construídos. Somente assim, a ação poderá ser considerada ética, ou seja, quando o sujeito a pratica percebendo-se como parte de um todo onde sua subjetividade é produto da construção ativa de valores sociais.
  • 17. Capacitação em Educação para o Trânsito – Módulo 1 SENASP/MJ - Última atualização em 18/09/2009 Página 17 Caso a ação só seja ética quando realiza a natureza racional, livre e responsável do sujeito e se esse respeita a racionalidade, liberdade e responsabilidade do outro, é possível dizer que a máxima da ética é o bem comum. As pessoas convivem em sociedade e precisam se perguntar, por mais difícil que seja a resposta: “como devo agir perante os outros?”. Pensar sobre nossa conduta e sobre a conduta dos outros a partir de valores e não de receitas prontas pode ser um bom caminho. No plano da ética, as verdades podem mudar de acordo com as circunstâncias. Isso se torna ainda mais importante ao se considerar que os costumes mudam com o passar do tempo. Afinal, as sociedades mudam porque as pessoas mudam. O que é costume hoje, pode não ser amanhã. O que é considerado errado agora, também pode ser visto como certo daqui a algum tempo. Fato histórico No Brasil, no ano de 1800, era deselegante permanecer com chapéu no interior dos veículos. A norma era tirar o chapéu, colocá-lo sobre os joelhos ou junto ao peito, sempre com o forro de seda virado para dentro. Se os costumes mudam, as sociedades mudam, as pessoas mudam, por que alguns conceitos na educação de trânsito perduram por tantos anos em nosso país? “Trânsito é a integração entre veículo, via e homem”. “O acidente de trânsito é consequência de um comportamento inadequado do usuário, produto de algum processo psicológico que não funciona bem”. “O objetivo da educação de trânsito é formar motoristas do futuro”. “Trânsito é um fenômeno dos grandes centros urbanos”. (Trechos retirados de cartilhas publicadas entre 1970 e 1995) “Quando damos um passo para trás, toda a humanidade dá”. Gandhi É curioso pensar que, num mundo em que os valores mudam com tanta velocidade, os conceitos tratem o trânsito ainda de forma extremamente simplista. Parece que, nessa área, as verdades são eternas e as definições valem
  • 18. Capacitação em Educação para o Trânsito – Módulo 1 SENASP/MJ - Última atualização em 18/09/2009 Página 18 para sempre. Mas no trânsito, como na vida, não existem verdades absolutas. E, como na vida, é preciso estar preparado para aprender, mudar conceitos, evoluir. Refletindo sobre a questão... Observe os diversos contextos no trânsito presentes nas imagens abaixo e reflita sobre os aspectos éticos trabalhados até aqui. A nova perspectiva em estar preparado para aprender, mudar conceitos, evoluir, comentados na aula anterior, permite pensar em trânsito como um DIREITO. Afinal, trânsito envolve o direito fundamental de ir e vir. Seja a pé, de automóvel, de barco, de mula, de avião. A proposta de pensar em trânsito como algo inerente à vida abre muitas e surpreendentes possibilidades. Locomover-se é tão importante quanto respirar. O desejo humano de locomoção vem dos tempos mais remotos. Na tentativa de ampliar seus horizontes, de descobrir novos lugares, de procurar ambientes favoráveis às suas necessidades de sobrevivência, as pessoas partiram em busca do desconhecido. Assim, em cada momento histórico, descobriram formas e criaram meios para atingir o objetivo de locomover-se, de transitar no espaço. Por isso, o trânsito é muito mais antigo que qualquer veículo ou qualquer via.
  • 19. Capacitação em Educação para o Trânsito – Módulo 1 SENASP/MJ - Última atualização em 18/09/2009 Página 19 Com o passar dos tempos, as cidades cresceram, os veículos apareceram e as pessoas perceberam que era necessário organizar o espaço público. Então, criaram sinalizações capazes de atender sua necessidade de locomoção: os semáforos, as placas de sinalização, o apito dos agentes de trânsito. É possível pensar em trânsito de forma ainda mais aberta, mais ampla. Ao se pensar na cidade onde se vive, por exemplo: nas ruas e avenidas, nas praças, nos parques e nas calçadas. Esse lugar pertence a cada pessoa, indistintamente, e também a seus pais, a seus filhos, ao seu marido ou à sua mulher, ao seu vizinho, ao mendigo, ao lixeiro, ao empresário, ao carroceiro e a todas as pessoas que vivem nele. Sendo assim, todas as pessoas têm o direito de usufruí-lo e precisam, para isso, aprender a conviver. “O trânsito é algo que todos enfrentam, portanto, é algo normal. Não desejado, mas normal. É preciso encará-lo com naturalidade. Se você estiver dentro do mar e tentar reagir a uma onda, será derrubado. É preciso seguir com ela.” (...) A agressividade nasce de achar que o outro é diferente de mim, que não é meu irmão. Ao consideramos o outro como parte da família, a raiva se dissipará.” Atmatattwananda, 1995-2009, WebMotors S.A É impossível pensar em qualquer ação educativa de trânsito sem uma atenção especial ao campo da ética. E essa tarefa não é fácil. Fácil é produzir uma cartilha ou qualquer outro material com um amontoado de regras: Atravesse na faixa de pedestres;  Obedeça às leis do trânsito;  Não dirija falando ao celular;  Use o cinto de segurança;  Quando beber não dirija, quando dirigir, não beba.
  • 20. Capacitação em Educação para o Trânsito – Módulo 1 SENASP/MJ - Última atualização em 18/09/2009 Página 20 Fácil é ensinar o que fazer. Difícil é ensinar como ser. Trabalhar em favor de uma educação para a vida, que contribua para o desenvolvimento das pessoas em sua socialização. Ensinar além do que fazer É possível ensinar uma criança a atravessar na faixa destinada aos pedestres, muito embora, em diversas situações, ela não encontre tal faixa. Mas, além desse ensinamento, pode-se mostrar como é possível ajudar uma pessoa deficiente visual a atravessar a rua, por exemplo. É possível e necessário ir muito além de ensinar o que fazer. Compromisso a ser assumido por todos os profissionais da área. Não existem fórmulas mágicas para trabalhar nesse sentido. Deve existir, sim, muita criatividade e força de vontade, além de uma visão abrangente sobre trânsito. Para isso, é preciso seguir em frente, sem medo de se arriscar e de experimentar. “Por que cometer erros antigos se há tantos novos a escolher?” Bertrand Russel, matemático inglês (1872-1970) Aula 3 – Convivência humana no espaço coletivo A educação para a segurança no trânsito se apresenta como novo desafio no dia-a-dia do policial rodoviário federal. Não por opção do servidor, mas pela necessidade de mudanças na forma de agir das polícias, para melhor proteger uma sociedade que sofre com os altos índices de mortalidade e acidentes de trânsito. É necessário que o policial agregue em seu perfil ações educadoras, embasadas em técnicas pedagógicas e dados reais que lhe permitam atuar com confiança e competência na multiplicação de medidas preventivas. É preciso pensar e definir quais valores devem ser incentivados em nossa sociedade quando o assunto é trânsito. Esses valores devem regular nosso sistema de convivência e envolver o pensar e o agir de cada pessoa, respeitando sua liberdade.
  • 21. Capacitação em Educação para o Trânsito – Módulo 1 SENASP/MJ - Última atualização em 18/09/2009 Página 21 No contexto do que se tem estudado, está claro que educação de trânsito não é uma educação qualquer. Para torná-la realidade, são necessárias ações educativas comprometidas com informações, mas, sobretudo, com valores ligados a cidadania. Caro profissional de trânsito, se ser cidadão é adotar uma postura em favor do bem comum, é possível perceber a razão pela qual ética e cidadania são temas tão ligados. Certamente, uma não existe sem a outra. Refletindo sobre a questão... Como educar para a cidadania, já que vive-se em um mundo repleto de violência, desrespeito ao espaço público, egocentrismo, desonestidade, injustiças? Quando o assunto é trânsito, parece que tudo fica ainda mais complicado. Os profissionais da educação de trânsito, certamente, podem encontrar dificuldades. Começando pelos órgãos de trânsito (federais, estaduais e municipais). Alguns não possuem recursos financeiros e humanos suficientes para a implementação de projetos educacionais de qualidade. Outra barreira pode ser encontrada nas escolas de ensino regular. Vários professores resistem muito ao projeto da educação de trânsito. Eles têm seus motivos: ganham pouco, precisam dar conta do conteúdo das disciplinas obrigatórias, não têm tempo, etc. No entanto, com criatividade, bom senso, estudo permanente e boa vontade é possível realizar um bom trabalho, o que é sempre aceito e reconhecido. O que importa é a qualidade. E em tudo o que se fizer, jamais se pode perder de vista essa tal cidadania. É fundamental propor participação da sociedade (cidadania ativa) nas questões relativas ao trânsito da cidade: o que as pessoas pensam, quais os seus anseios, quais as suas necessidades. Pesquisar é fundamental, investigando e analisando os problemas antes de dar as soluções. Geralmente, as campanhas educativas de trânsito, os recursos pedagógicos, os projetos e tantas outras iniciativas são realizados sem objetivos concretos. Partem de uma cúpula de especialistas que acham que aquilo é bom e está certo. Não será por esse motivo que há tantas décadas se faz educação de trânsito sem resultados visíveis? A educação de trânsito deve ser para todos. É importante que o profissional de trânsito, ao assumir essa responsabilidade, entre em contato com organizações de
  • 22. Capacitação em Educação para o Trânsito – Módulo 1 SENASP/MJ - Última atualização em 18/09/2009 Página 22 bairro, conheça a região onde atua, proponha parcerias com conselhos de educação, instituições interessadas, etc. e ouça o que essas pessoas têm a dizer. Só assim poderá elaborar projetos que atendam às necessidades e às expectativas das pessoas em favor do bem comum. Talvez não consiga resolver todos os problemas levantados, mas, com certeza, saberá que eles existem e que algo precisa ser feito. Sabe-se que existem pessoas que “roubam” uma vaga, “furam” uma fila, dirigem em alta velocidade, despejam lixo pelas janelas de seus carros, furam o sinal, aceleram para obstruir a passagem de outro veículo, enfim, pessoas que, em pequenas ações do dia-a-dia, não agem eticamente, pois perderam ou ainda não adquiriram o hábito de pensar coletivamente. É fundamental para o educador de trânsito, em especial o policial rodoviário federal, saber que ninguém nasce ético nem é completamente cidadão e que, numa sociedade em processo de evolução cultural, ainda tão violenta e com tantos estímulos que favorecem condutas individualistas e antiéticas, deve-se assumir a responsabilidade de educar para o trânsito sem se questionar se o trabalho vale a pena ou se é possível. Também é urgente e necessário reformular valores internos, compreender a natureza de tantos comportamentos negativos e inadequados, de forma que possa realizar a sua parte sem restrições. Talvez não seja possível mudar o mundo. Mas é possível começar a trilhar o caminho da ética e da cidadania hoje, a partir de agora. Conclusão Neste módulo, você estudou que... ► O Código de Trânsito Brasileiro e a Lei de Diretrizes da Educação Nacional possuem abordagens e prioridades diferenciadas sobre o tema trânsito. ► Enquanto o CTB evolui para priorizar a educação como meio de promover a segurança no trânsito, a LDB, bem como os Referenciais Curriculares Nacionais da Educação Infantil (RCNEI), os Parâmetros Curriculares Nacionais do Ensino
  • 23. Capacitação em Educação para o Trânsito – Módulo 1 SENASP/MJ - Última atualização em 18/09/2009 Página 23 Fundamental e do Ensino Médio (PCN) tratam o tema de forma reducionista, sendo tratado apenas no PCN do Ensino Fundamental como sugestão de tema local. ► A educação para o trânsito não pode ser compreendida apenas como um fenômeno de grandes centros urbanos. Deve estar fundamentada em valores relacionados a um sistema de convivência onde o pensar, o agir e a liberdade de cada pessoa devem ser respeitados. ► O trânsito é um campo fértil para a análise do comportamento ético na vida em sociedade. ► Refletir a dimensão ética, como foi proposto, significa considerar várias óticas, ampliar a visão daquele fato, buscando aproximar as ações daquele sujeito aos valores socialmente construídos. Muitas atitudes reprováveis no campo da moralidade são aceitáveis no plano da ética – roubar para alimentar filhos que passam fome, por exemplo. ► É possível dizer que a máxima da ética é o bem comum, considerando que a ação só é ética quando realiza a natureza racional, livre e responsável do sujeito e se esse respeita a racionalidade, liberdade e responsabilidade do outro. ► No plano da ética, as verdades podem mudar de acordo com as circunstâncias, principalmente porque os costumes mudam com o passar do tempo. As sociedades modificam porque as pessoas mudam. As pessoas convivem em sociedade e precisam repensar suas condutas a partir de valores e não de receitas prontas. ► O trânsito envolve o desejo humano de locomoção, o direito fundamental de ir e vir – seja a pé, de automóvel, de barco, de mula, de avião – e a necessidade de convivência e organização do espaço coletivo. ► Para tornar a educação para o trânsito uma realidade são necessárias ações educativas comprometidas com informações, mas, sobretudo, com valores ligados a cidadania.
  • 24. Capacitação em Educação para o Trânsito – Módulo 1 SENASP/MJ - Última atualização em 18/09/2009 Página 24 ► Ser cidadão é adotar uma postura em favor do bem comum, eis a razão pela qual ética e cidadania são temas tão ligados. Portanto, é fundamental propor participação da sociedade (cidadania ativa) nas questões relativas ao trânsito da cidade – o que as pessoas pensam, quais os seus anseios e necessidades – com vistas à elaboração de projetos em favor do bem comum. Neste módulo são apresentados exercícios de fixação para auxiliar a compreensão do conteúdo. O objetivo destes exercícios é complementar as informações apresentadas nas páginas anteriores. 1. Acerca do tema trânsito e seus aspectos legais, marque V ou F: ( ) A Educação para o Trânsito tem fundamento na Constituição Federal, é de competência comum da União, estados, Distrito Federal e municípios e constitui prioridade das políticas de educação e segurança no trânsito. ( ) A Educação para o Trânsito é formalmente reconhecida como tema transversal na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. ( ) Urgência social e abrangência nacional foram alguns dos critérios utilizados para para estabelecer temas transversais no ensino fundamental.
  • 25. Capacitação em Educação para o Trânsito – Módulo 1 SENASP/MJ - Última atualização em 18/09/2009 Página 25 2. Acerca da ética e da moral relacione cada conceito às definições correspondentes: (1) Moral (2) Ética ( ) Possui como características a racionalidade, responsabilidade e liberdade de escolha de cada um, balizada por idéias pré-concebidas. ( ) Relacionada ao cumprimento ou descumprimento de leis, normas ou costumes. ( ) Determinada pela sociedade, diz respeito aos comportamentos que devem ser considerados bons ou maus. ( ) Propicia a reflexão sobre os julgamentos e comportamentos quando a intenção é entender o sentido de um ato atribuindo-lhe valor. 3. Marque a alternativa incorreta: Ser cidadão é: ( ) Adotar atitudes em favor do bem comum, com base em valores éticos. ( ) Respeitar as lei de trânsito, e agir conscientemente respeitando os limites de convivência. ( ) Adotar uma postura com base em interesses e necessidades individuais, definindo objetivos concretos para o alcance dessas metas.
  • 26. Capacitação em Educação para o Trânsito – Módulo 1 SENASP/MJ - Última atualização em 18/09/2009 Página 26 4. Marque a alternativa incorreta: A cidadania ativa é: ( ) Fundamental para o sucesso de uma ação educativa. ( ) Parte de uma cúpula de especialistas que estabelecem metas e definem necessidades a serem supridas. ( ) Parte do princípio que a sociedade deve ser participativa, portanto os projetos a serem elaborados devem contemplar os anseios e as necessidade coletivas de determinada comunidade. Este é o final do módulo 1 - Legislação, Ética e convivência Gabarito 1. V – F – V 2. 2-1-1-2 3. Adotar uma postura com base em interesses e necessidades individuais, definindo objetivos concretos para o alcance dessas metas. 4. Parte de uma cúpula de especialistas que estabelecem metas e definem necessidades a serem supridas.
  • 27. Capacitação em Educação para o Trânsito – Módulo 1 SENASP/MJ - Última atualização em 18/09/2009 Página 27 Anexo 1. TEMA TRANSVERSAL1 Todas as pessoas aprendem na escola a ler, a escrever, a somar, a dividir. Ao longo da vida escolar, aprendem centenas, talvez milhares, de conteúdos: sinônimos, antônimos, relevo, hidrografia, raiz quadrada, equação numérica, colônia, república. Mas, desde sempre, os professores – além de conteúdos – trabalham com valores, embora sem saber disso. Também se aprende na escola que “xingar” o colega não é correto; que não se deve riscar as carteiras, pois é preciso cuidar da escola... Qualquer pessoa é capaz de lembrar diversas ocasiões em que seu professor ou sua professora interrompeu a aula para falar sobre a importância do respeito aos colegas, da preservação do meio ambiente, das diferenças entre as pessoas. Assuntos que – aparentemente – não tinham nada a ver com a aula. Entretanto, sempre que fizeram isso, transversalizavam um tema. Na escola hoje, estas conversas informais precisam ser planejadas. Ou seja: o professor, ao programar sua aula, já deve saber que, além do conteúdo formal, precisa criar situações que possibilitem a aquisição de valores, posturas e atitudes. É nesse momento que os temas transversais aparecem. Eles têm por objetivo trazer à tona, em sala de aula, questões sociais que favoreçam a prática da democracia e da cidadania. Os temas transversais não são novas disciplinas. São conteúdos educacionais – fundamentados em aspectos da vida social – que transpassam pelas disciplinas. Portanto, o professor não vai dar ”aulas de ética” ou “aulas de meio ambiente” e tão pouco “aulas de trânsito”. Ele vai inserir, em sua aula, atividades que favoreçam a análise e a reflexão sobre estes temas, a fim de que os alunos realizem sua própria aprendizagem e traduzam em comportamentos os conhecimentos construídos. Tema Transversal: Caderno do Curso de Educação de Trânsito /2007 , do Projeto "Capacitação de Profissionais de Trânsito"DENATRAN/Ministério das Cidades/ SEST/SENAT. (Coordenação: Juciara Rodrigues)
  • 28. Capacitação em Educação para o Trânsito – Módulo 2 SENASP/MJ - Última atualização em 14/09/2009 Página 1 Módulo 2 – Trânsito: Um enfoque comportamental e pedagógico Apresentação De que forma a polícia rodoviária federal poderá contribuir para estimular uma proposta de trabalhar o trânsito, como tema transversal nas escolas? Neste módulo, você estudará o enfoque comportamental e pedagógico relacionado ao tema trânsito. Ao final deste módulo, você será capaz de: ● Compreender a dinâmica e a natureza de comportamentos arriscados no trânsito, considerando-os no planejamento de ações educativas, bem como na atuação policial; ● Reconhecer a importância da transversalização do tema trânsito nas escolas; ● Utilizar conceitos sobre linguagem e comunicação na transmissão de informações sobre educação e segurança no trânsito; e ● Identificar os principais recursos educativos a serem utilizados em ações de educação para o trânsito. O conteúdo deste módulo está dividido em 3 aulas: Aula 1 – Psicologia e segurança de trânsito Aula 2 – Trânsito como tema transversal Aula 3 – Recursos educativos, linguagem e comunicação
  • 29. Capacitação em Educação para o Trânsito – Módulo 2 SENASP/MJ - Última atualização em 14/09/2009 Página 2 Aula 1 – Psicologia e segurança de trânsito Para trabalhar de maneira mais eficiente a educação para o trânsito, é importante que você conheça alguns conceitos referentes aos aspectos comportamentais que envolvem, em especial, os condutores no trânsito. Embora considerando que todos – condutores, ciclistas, motociclistas, pedestres – são elementos ativos desse cenário, deve se dar merecida atenção ao condutor pela potencial capacidade de contribuir para o bem-estar social no trânsito. É indispensável o aprimoramento do comportamento e das atitudes do ser humano ao volante. Em direção defensiva, por exemplo, aprende-se as habilidades técnicas para dirigir com segurança, utilizando elementos primários na prevenção de acidentes, como atenção constante, capacidade de previsão, a agir em caso de emergência, etc. Porém, é possível constatar que conhecimentos e técnicas apenas, assim como os aspectos legais, não são suficientes para que se tenha um trânsito seguro, pois o que ocorre na prática é que os condutores, ao se envolverem em acidentes, conheciam os procedimentos de segurança, mas, por algum motivo, não aplicaram esses conhecimentos de maneira satisfatória. Ou seja, entre conhecer procedimentos de segurança e aplicá-los constantemente, existe uma distância considerável, que passa por uma decisão do próprio condutor. E essa decisão depende, dentre outros, dos fatores psicológicos. De maneira simplificada, a psicologia é a ciência que estuda o comportamento humano e suas relações com o meio físico e social. Comportamento é o conjunto de ações de um indivíduo ou de um grupo de indivíduos, nas mais diversas situações da vida. É formado por fatores internos e externos. Fatores internos Também chamados de fatores psicológicos ou de personalidade, caracterizam a individualidade de cada um. Embora todos os seres humanos sejam diferentes entre si, há muitas reações semelhantes, classificadas em grupos pela psicologia.
  • 30. Capacitação em Educação para o Trânsito – Módulo 2 SENASP/MJ - Última atualização em 14/09/2009 Página 3 Certamente, você conhece alguém que se encaixa no grupo de pessoas consideradas irritadas, que perdem a calma com facilidade ou que, dificilmente, mudam de opinião. Essas são as características psicológicas internas do indivíduo. “Para o entendimento dos fatores próprios e individuais, ou seja, os fatores internos inerentes ao comportamento humano, deve-se considerar que o ser humano é um animal social; entretanto, cada sujeito possui aspectos que os tornam únicos. Existem diferenças sociais, culturais e particulares que influenciam nos padrões de comportamento, na formação da personalidade, nas aspirações, valores, aptidões, e motivações de cada um. Cada pessoa é considerada um fenômeno multidimensional.” (Chiavenato, 1998) Fatores externos Já os fatores externos são as influências que o meio físico e social exerce sobre o indivíduo. Veja esta situação: Num estádio de futebol, influenciado pela torcida, pelo ambiente, pelo resultado do jogo e por diversos outros fatores externos, o indivíduo poderá comportar-se de maneira muito diferente do que se comporta normalmente. As pressões e acontecimentos do dia-a-dia, ou estímulos, podem alterar o padrão de comportamento. Constantemente, você recebe estímulos e pressões do meio físico e do social onde vive. Grupos sociais As características psicológicas ou pessoais formam o padrão ou predisposição que define o comportamento do indivíduo ou do grupo em determinada situação. E esse padrão será influenciado pelos estímulos externos. Com esses conceitos já é possível entender um pouco mais as reações individuais e os diferentes tipos de comportamento. Os indivíduos formam os grupos sociais e esses a sociedade. É importante salientar que você, como indivíduo, tem pouco contato com toda a sociedade, mas tem contato direto e participa de vários grupos sociais. Cada ser humano é livre para escolher os grupos sociais aos quais deseja pertencer, ou seja, pode escolher o seu
  • 31. Capacitação em Educação para o Trânsito – Módulo 2 SENASP/MJ - Última atualização em 14/09/2009 Página 4 grupo de amigos, grupo religioso, com quem se deseja constituir família, o grupo político, o grupo de trabalho, etc. E um dos fatores que possibilita a escolher ou ser escolhido pelos grupos é a afinidade de comportamentos. Se você pertence a determinado grupo estará, automaticamente, aceitando os seus padrões de comportamento. “O fato é que o ser humano se diferencia dos outros animais, por ser capaz de interferir conscientemente no mundo. Além disso, ao mesmo tempo em que preserva e deseja manter-se isolado e em sua individualidade, sente-se impelido para o grupo, formando a sociedade humana. A sociabilidade ou a capacidade de viver, sobreviver e existir em coletividade parece ser uma das melhores caracterizações do homem. Diferentemente do que ocorre com outras espécies, o homem não se associa por instinto, mas por vontade. O homem não é dependente, mas senhor da sociedade; não está nela devido aos instintos, mas porque assim o quer.” (Carneiro, 2009) A sociedade e o trânsito Analisando o trânsito como fenômeno social e resultante da necessidade que o ser humano tem de movimentação e deslocamento, fica evidente a vulnerabilidade e diversidade de estímulos a que o ser humano é exposto diariamente em função de sua complexidade. Veja quais são estes estímulos. Estímulos a que o ser humano é exposto diariamente em função de sua complexidade. ● É cada vez maior o espaço ocupado por estradas, ruas, avenidas, estacionamentos, viadutos, etc. Dessa forma, o carro está “tomando” o espaço do homem e da natureza; ● O trânsito, ao contrário dos grupos sociais, é um local que reúne pessoas de todos os níveis sociais e culturais e com os mais diversos tipos de personalidade, objetivos e padrões de comportamento; ● Essa diversidade e o amplo espaço proporcionado pelo trânsito, permite que o indivíduo comporte-se inadequadamente protegido pelo anonimato;
  • 32. Capacitação em Educação para o Trânsito – Módulo 2 SENASP/MJ - Última atualização em 14/09/2009 Página 5 ● A crescente violência é resultado da descarga diária das pressões, frustrações e problemas pessoais; ● O trânsito lidera as estatísticas mundiais de mortes violentas, tanto no Brasil como no restante do mundo; e ● Por estar diariamente no trânsito, o ser humano tende a banalizar os seus efeitos e, muitas vezes, não percebe como ele afeta o seu comportamento e como as suas ações podem alterá-lo. O automóvel O automóvel é considerado um dos maiores sucessos como produto de marketing. Os veículos automotores estão hoje presentes em todas as partes do mundo, sendo utilizados indistintamente por todos os tipos de pessoas, nas mais variadas situações, assumindo diferentes significados: Meio de transporte Decorrente da necessidade humana de “ir e vir”, esta invenção proporcionou um inevitável progresso ao homem, “reduzindo as distâncias”, poupando tempo e multiplicando as oportunidades. Símbolo de posição social Para muitas pessoas, o automóvel ainda é um objeto de desejo. Possuir um passou a significar liberdade, contentamento, status e outras subjetividades. Símbolo de poder A máquina passou a ser uma verdadeira extensão do homem. Alguns indivíduos usam o tamanho e a potência dos seus veículos para demonstrar superioridade ou atender às suas vaidades. Autoafirmação Existe hoje uma verdadeira “cultura sobre rodas”: o veículo deixou de ser uma ferramenta de trabalho e passou a representar um artigo de luxo.
  • 33. Capacitação em Educação para o Trânsito – Módulo 2 SENASP/MJ - Última atualização em 14/09/2009 Página 6 O automóvel passou a ser utilizado como indicador socioeconômico, mostrando o nível ao qual o seu proprietário pertence ou gostaria de pertencer. Para a maioria dos adolescentes, o veículo preenche a necessidade de autoafirmação e de projetar uma boa imagem sobre seus amigos e outros jovens, porém, muitos adultos imaturos ainda carregam essa necessidade, em alguns casos por toda a vida. O trânsito, no qual “cada um quer aparecer mais do que o outro”, acabou virando um palco de vaidades, base sólida para gerar e alimentar conflitos. Comportamento no trânsito O indivíduo com bom grau de maturidade e de equilíbrio é aquele que sabe identificar as suas tendências e atitudes inadequadas, controlando-as para que não interfiram negativamente no seu comportamento no trânsito. Pode-se afirmar sem sombra de dúvidas: o trânsito é um indicador muito preciso das características de cada indivíduo. Inicialmente, convém esclarecer que as estatísticas mostram que a maioria dos motoristas (mais de 2/3) raramente comete infrações ou envolve-se em acidentes de trânsito. Todos os problemas de trânsito são causados por uma minoria de motoristas cujo comportamento, sob o ponto de vista psicológico, está quase sempre relacionado à dificuldade de lidar com as pressões da vida. Motoristas com essa característica sempre procuram alguma justificativa para os seus comportamentos inadequados, como se eles tivessem mais motivos para errar do que os outros. Só que, se outra pessoa comete os mesmos erros que os seus, eles imediatamente a criticam e a reprimem. Essa dificuldade em lidar com as pressões externas do cotidiano, aliada a outros fatores, como a personalidade e a própria educação do indivíduo, pode levá-lo a apresentar alguns tipos de comportamento. Ansiedade A ansiedade é a sensação de estar sempre fora do horário ou fora do lugar. Quando a pessoa está num lugar, tem a sensação que deveria estar em outro. Esses fatores causam atitudes imprevisíveis no trânsito, pois a mente continuamente ansiosa não
  • 34. Capacitação em Educação para o Trânsito – Módulo 2 SENASP/MJ - Última atualização em 14/09/2009 Página 7 consegue concentrar-se, erra frequentemente o caminho e perde mais tempo, o que realimenta a ansiedade. A má administração do tempo também está presente no perfil dessas pessoas e o indivíduo não pensa que a pressa e a correria vão economizar apenas alguns minutos, isso se não causar um acidente pelo caminho. Raiva A raiva é uma explosão momentânea que ocorre, geralmente, nas pessoas que têm facilidade de perder o controle. No trânsito, essa explosão pode levar a comportamentos extremamente perigosos, causados pelo desatino instantâneo, pela reação exagerada, impensada e descontrolada. O trânsito é o cenário propício para desencadear atitudes desequilibradas. É muito difícil para o indivíduo com raiva ter reações sensatas. De maneira geral, a raiva é uma reação inadequada a situações frustrantes, tem efeito cumulativo. Indivíduos que manifestam a raiva com frequência devem aprender a administrar melhor suas frustrações. Egoísmo O egoísmo coloca sua vítima no centro das atenções. O egoísta não cede nem compartilha, e isso sempre é problema no trânsito, que é um espaço compartilhado por excelência. Ele não facilita a vida das outras pessoas e não é capaz de uma cortesia ou de uma gentileza. Sente-se no direito de parar em fila dupla, bloquear os cruzamentos, estacionar em entradas de imóveis, entre uma centena de outros absurdos, simplesmente porque não imagina que possa estar incomodando. Competição O espírito competitivo parece ter tomado conta da sociedade moderna. Está bem claro para todos, homens ou mulheres, jovens ou adultos, que a competitividade tem tudo a ver com o sucesso, pois essa mensagem é passada em todos os lugares. Muitos acidentes ocorrem dessa forma, pois no trânsito, o indivíduo com espírito competitivo encontra facilmente um concorrente. É preciso fazer uma séria reflexão, pois o trânsito é um ambiente altamente inadequado para competições.
  • 35. Capacitação em Educação para o Trânsito – Módulo 2 SENASP/MJ - Última atualização em 14/09/2009 Página 8 Agressividade Algumas pessoas são de índole agressiva. Essas pessoas normalmente tendem a subestimar os riscos e as consequências das suas atitudes, o que as torna imprudentes. Além disso, perdem o controle com facilidade, estando sujeitas a explosões repentinas. Quando aliada à competitividade, gera o desejo de dominar completamente o oponente, ocasionando muitas vezes resultados trágicos. Quando isso ocorre no trânsito, as pessoas podem envolver-se em acidentes de grande proporção. Hostilidade O indivíduo hostil tem como característica predominante a intolerância automática. É aquele que mostra extrema irritação com acontecimentos banais, lança toda sorte de grosserias e explora os erros alheios a seu favor. É fácil prever o que acontece quando um indivíduo hostil encontra pessoas semelhantes. Nessas ocasiões é que acontecem discussões, agressões, brigas e outras cenas até mais graves. Urgência A sensação de urgência também é prejudicial, decorre da ansiedade de lidar com atividades diárias, devido a uma má administração do tempo. Essa característica denota desorganização e falta de planejamento, pois a urgência surge quando as pessoas assumem mais compromissos do que são capazes de atender. Quando estão com pressa, as pessoas utilizam todos os truques possíveis no trânsito: trafegam no acostamento, na contramão, nas calçadas, etc. Assumindo riscos desnecessários e praticam todo tipo de imprudências, simplesmente para conseguirem vencer o relógio. Euforia A euforia pode advir de variações hormonais, da ingestão de drogas ou bebidas alcoólicas, de fortes emoções, de surpresas, dentre outros fatores. É um estado de grande felicidade e alegria manifestado com exagero e descontrole. Nessas ocasiões, o indivíduo que estiver dirigindo pode perder a concentração e a noção do perigo, descuidando-se, cometendo imprudências ou envolvendo-se em acidentes.
  • 36. Capacitação em Educação para o Trânsito – Módulo 2 SENASP/MJ - Última atualização em 14/09/2009 Página 9 Impulso As pessoas que agem por impulso só irão pensar no que fizeram depois do fato ocorrido. O indivíduo impulsivo faz pouca ou nenhuma reflexão sobre suas ações, tornando-se altamente irresponsável, imprudente e inconsequente. No trânsito, o fato de ter atitudes imprevisíveis, cria em torno de si mesmo uma área de perigo permanente. Distração A distração é um grau de indisciplina interna que necessita ser corrigido. O “aéreo ou avoado” tem sua capacidade de concentração altamente prejudicada. O grau de concentração e foco que um indivíduo dedica para a atividade de dirigir, mesmo quando rotineira, determina o grau de segurança. Ao permitir que acontecimentos paralelos desviem a sua atenção (música, pedestres, objetos no interior do veículo, conversa com passageiros, etc.), o distraído expõe-se a riscos, oferecendo perigo também para os demais elementos do trânsito. Em primeiro lugar é importante ressaltar que apresentar, ocasionalmente, um desses traços é muito diferente do que ser portador de um padrão comportamental sintomático ou, até mesmo, um distúrbio psicológico. Além disso, entre um extremo e outro, existem diferentes níveis de gravidade. Todo indivíduo apresenta um ou mais desses fatores em determinadas ocasiões ou determinadas fases da vida. O perigo é que, muitas vezes, não percebe isso. A maior finalidade em aprender sobre os fatores psicológicos é perceber a influência das características comportamentais na segurança do trânsito, identificando-as em si mesmo e nas demais pessoas. Só assim será possível desenvolver mecanismos mais eficientes para lidar com esses episódios, de forma que os comportamentos se tornem mais conscientes, seguros e menos automáticos. Exemplo: Algumas pessoas simplesmente não conseguem resistir à tentação de responder na mesma medida quando são provocadas, muitas vezes esquecem que continuar ou aceitar a provocação só serve para agravar a situação. É necessário reconhecer essas
  • 37. Capacitação em Educação para o Trânsito – Módulo 2 SENASP/MJ - Última atualização em 14/09/2009 Página 10 reações, fazer reflexões constantes sobre elas para, consciente e efetivamente, mudar o comportamento, com responsabilidade e maturidade. Conflitos no trânsito Internos Muitos são os conflitos internos que você precisará administrar no cotidiano, em função das pressões externas: não poder viver da maneira como gostaría, o cumprimento do orçamento doméstico, trabalho em excesso, tarefas desagradáveis, relacionamentos indesejáveis, são apenas alguns dos exemplos, numa lista interminável. A maneira de administrar os conflitos ainda sofre influência de fatores físicos, como cansaço, estado de saúde, alimentação, sono, ingestão de álcool, drogas, etc. Externos Os conflitos externos, isto é, com as outras pessoas, ocorrem principalmente porque as pessoas têm interesses e necessidades diferentes e nesse ponto a combinação do estado físico e mental poderá agravar ou solucionar esses conflitos. No cotidiano do trânsito é inevitável que surjam alguns conflitos, porque os interesses são distintos. Os condutores de automóveis particulares geralmente têm alguns objetivos e necessidades bem definidos, tais como: fazer o percurso de maneira fácil e rápida, encontrar uma vaga próxima, evitar trânsito congestionado, muitos ônibus, etc. Já os condutores de transporte coletivo têm obrigações e objetivos bem diferentes: cumprir seus horários, independentemente da fluidez no trânsito, conduzir veículos nem sempre em boas condições, administrar situações adversas (reclamações de passageiros, trânsito lento, paradas cheias, etc.). Soma-se a isso os interesses dos motociclistas, ciclistas, pedestres, caminhoneiros, etc. Inversões de papéis Os papéis que cada um assume no trânsito não são fixos. Mesmo que na maior parte do tempo seja um papel de condutor, por exemplo, quando se encontra na qualidade de pedestre, facilmente inverterá os papéis, reclamando, disputando espaço e
  • 38. Capacitação em Educação para o Trânsito – Módulo 2 SENASP/MJ - Última atualização em 14/09/2009 Página 11 muitas vezes conflitando com os motoristas. Larga-se a “armadura” que o carro representa e passa-se a sofrer na pele as fragilidades de ser pedestre. Porém, ao retornar ao papel de condutor, rapidamente volta-se a desrespeitar os pedestres. Esse exemplo ilustra bem a dificuldade que o ser humano tem para se colocar no lugar do outro, para entender e respeitar suas necessidades e direitos. Reconhecer comportamentos inadequados, descobrir e modificar maus hábitos não são tarefas fáceis. Primeiramente, porque reconhecer algumas características negativas em si mesmo exige honestidade e autocrítica. Partindo dessa premissa torna-se possível adotar um padrão de comportamento mais adequado, cooperativo, solidário, tolerante e civilizado. Em segundo lugar, porque existe um fator interno chamado resistência que dificulta as mudanças. É como se algo dentro de nós preferisse continuar da maneira que somos. Para algumas pessoas, dependendo da gravidade, é muito difícil conseguir mudar isso sozinho. É necessário procurar ajuda especializada sempre que um comportamento esteja afetando negativamente a segurança e a integridade. Estresse O estresse ou stress é um conjunto de sintomas psicológicos e físicos que prejudicam o desenvolvimento das atividades diárias e a própria saúde do indivíduo e está se tornando uma verdadeira epidemia nos dias de hoje. Existe um tipo de estresse muito leve e que, em alguns casos, é positivo, pois tira a apatia do indivíduo, deixando-o mais alerta, potencializando seu desempenho. Mas, quando se trata do estresse negativo, ocorrem alterações indesejáveis no metabolismo e no comportamento da pessoa, podendo ter consequências perigosas tanto para a vida pessoal quanto para a vida profissional. O estresse apresenta sintomas psicológicos e físicos. Veja os principais sintomas de cada fase: Em sua fase inicial destacamos:
  • 39. Capacitação em Educação para o Trânsito – Módulo 2 SENASP/MJ - Última atualização em 14/09/2009 Página 12 - Insônia, falta de concentração, perda de memória, baixo desempenho profissional; - Alteração do apetite, do peso, para mais ou para menos; - Dores de estômago, problemas digestivos (náuseas, azias, gastrite); - Dores de cabeça, dores nas costas, tensões musculares, formigamentos; - Emoção exagerada, irritabilidade, alterações no humor; - Alergias, dificuldade de pele; - Alterações na pressão arterial, tonturas, mal-estar. Em fase avançada do estresse, os sintomas são caracterizados por um quadro sintomático mais grave, que poderá colocar a vida do indivíduo em risco: Hipertensão arterial; - Infarto do miocárdio; - Úlceras, vômitos, diarreia frequente; - Impotência; - Insônia constante; - Agressividade, apatia, depressão; - Impossibilidade de trabalhar. Dicas para combater o estresse Prevenir-se, conscientizando-se e abandonando maus hábitos é o melhor remédio contra o estresse. Identificar os próprios pontos vulneráveis que predispõem ao estresse, bem como reconhecer fatores estressantes no ambiente, é o primeiro passo. A segunda e decisiva etapa é realmente adotar um padrão de vida mais saudável. Conselhos úteis: - Organize sua vida, separando o essencial do que não é importante; - Selecione suas tarefas por prioridades e faça uma coisa de cada vez, mesmo as mais simples; - Não se sobrecarregue, aprenda a “passar a bola” de vez em quando; - Durante suas jornada de trabalho, faça pequenos intervalos para recuperar as energias;
  • 40. Capacitação em Educação para o Trânsito – Módulo 2 SENASP/MJ - Última atualização em 14/09/2009 Página 13 - Reveja seus objetivos de vida e elimine o menos importante, vivendo o presente e planejando a longo prazo; - Seja generoso com você mesmo, parabenize-se diariamente pelas pequenas conquistas; - Procure estimular pensamentos positivos em relação aos acontecimentos do dia-a-dia; - Mantenha uma vida social regular, mantendo contato com os familiares e amigos; - Identifique os momentos de ansiedade e combata-os com relaxamentos ou atividades que distraiam ou que deem prazer; - Alimente-se bem e regularmente, não pule refeições; - Consuma bastante líquido durante o dia; - Reserve 50 minutos do seu dia para cuidar de si mesmo, do seu bem-estar, de sua saúde e físico. Nesse intervalo, pratique exercícios físicos pelo menos 3 (três) vezes por semana. Pense sobre o processo de estresse e como o policial rodoviário pode auxiliar na conscientização dos sintomas pelo usuário, seja no trabalho preventivo, seja na atuação ostensiva. Aula 2 – Trânsito como tema transversal Ao iniciar esta aula, retome inicialmente o conceito de trânsito, conforme o CTB: Art. 1º § 1º Considera-se trânsito a utilização das vias por pessoas, veículos e animais, isolados ou em grupos, conduzidos ou não, para fins de circulação, parada, estacionamento e operação de carga ou descarga.”
  • 41. Capacitação em Educação para o Trânsito – Módulo 2 SENASP/MJ - Última atualização em 14/09/2009 Página 14 A palavra trânsito nos remete ao “inalienável direito de ir e vir” das pessoas. Os seres humanos se locomovem por diversas maneiras: automóveis, motos, bicicletas, ônibus, lotação, canoas, animais, a pé, dentre outras. Vasconcelos (1985), destaca a complexidade da sua dinâmica: “O trânsito é uma disputa pelo espaço físico, que reflete uma disputa pelo tempo e pelo acesso aos equipamentos urbanos; é uma negociação permanente do espaço, coletiva e conflituosa. (…) O dono do veículo julga-se com muito mais direito à circulação do que os demais participantes do trânsito, o que está ligado às características autoritárias da nossa sociedade e a falta de conscientização sobre os direitos do cidadão, que faz com que os motoristas ocupem o espaço viário com violência. O pedestre, por sua vez, assume o papel de cidadão de segunda classe, numa cidade que é cada vez mais o habitat do veículo e o anti-habitat do homem.” A complexidade das relações humanas gera conflitos individuais e coletivos no trânsito, cuja superação passa pelo respeito aos direitos e aos deveres. É nossa responsabilidade transformar o trânsito em um bem social, resgatando seu real significado de convivência humana. Nesse cenário, a educação para o trânsito surge como elemento de transformação social, como sugere a Política Nacional de Trânsito (2004): “A educação para o trânsito ultrapassa a mera transmissão de informações. Tem como foco o ser humano e trabalha a possibilidade de mudança de valores, comportamentos e atitudes. Não se limita a eventos esporádicos e não permite ações descoordenadas. Pressupõe um processo de aprendizagem continuada e deve utilizar metodologias diversas para atingir diferentes faixas etárias e clientela diferenciada.” O trânsito não foi eleito pelo MEC como tema transversal. Porém, se quiserem, as escolas podem encaminhar sua prática educativa nessa direção.
  • 42. Capacitação em Educação para o Trânsito – Módulo 2 SENASP/MJ - Última atualização em 14/09/2009 Página 15 Para compreender melhor o conceito de tema transversal, leia o texto “Tema Transversal”.(Anexo) A partir de uma visão ampla é possível propor às escolas um trabalho de transversalização do tema. Entretanto, implementar o trânsito como tema transversal nas escolas é um grande desafio para os órgãos gestores de trânsito. Esse trabalho requer a elaboração de um projeto sério: objetivos bem definidos, recursos educativos de qualidade, acompanhamento e avaliação permanentes, corpo técnico capacitado. Outras ações também podem ser desenvolvidas com sucesso, como por exemplo: Encontros de professores: Seminários, oficinas, etc., que sensibilizem e incentivem os educadores para o desenvolvimento de atividades relacionadas ao trânsito na escola; Espetáculos teatrais: Peças de teatro bem montadas, com textos adequados às diferentes faixas etárias, com espaço para debate ao final da peça; Sessões de vídeo: A produção de programas educativos, abordando valores, gerando debates entre os alunos; Oficinas com os alunos: A apresentação de pesquisas e de outros trabalhos produzidos pelos alunos; e Encontros com pais, alunos e comunidade: A promoção de eventos com o objetivo de debater questões relacionadas ao trânsito. Sugestão! Caso haja interesse em um maior aprofundamento do tema transversalidade, faça o curso a distância Formação de Formadores disponibilizado pela SENASP. Nenhuma ação educativa destinada às escolas deve ter como objetivo formar futuros motoristas. Isso porque não existe lei alguma determinando que todas as pessoas devem ser motoristas. Além disso, mais do que ensinar às crianças a valorizar um bem material, o importante é despertar para tantos outros valores a serem aprendidos. A função da escola é analisar, refletir e debater sobre o respeito às leis de trânsito e ao espaço público; sobre a convivência entre as pessoas pelas ruas
  • 43. Capacitação em Educação para o Trânsito – Módulo 2 SENASP/MJ - Última atualização em 14/09/2009 Página 16 da cidade, baseada na cooperação; sobre tolerância, igualdade de direitos, responsabilidade, solidariedade e tantos outros valores imprescindíveis para um trânsito mais humano. Aula 3 – Recursos educativos, linguagem e comunicação A importância do recurso humano Quando o assunto é educação, é fundamental tratar especificamente do “recurso humano” envolvido com o trânsito. Os profissionais de educação para o trânsito, especialmente o policial educador, são peças fundamentais para o sucesso de qualquer iniciativa da Instituição para qual trabalham. Quando desenvolve suas atividades, o policial recebe pessoas em eventos, propõe ações em diversas instituições e empresas, realiza orientações durante uma abordagem, enfim, nas mais variadas situações do contexto policial, o servidor representa sua instituição. Ele é responsável pela construção de uma imagem entre o DPRF e os usuários das rodovias, por isso deve se preocupar com a forma de se apresentar, com o tom de voz empregado e com a devida urbanidade. A conduta do policial educador também é fundamental, tanto no ambiente de trabalho quanto no dia-a-dia, como uma pessoa comum. De nada adianta falar sobre cinto de segurança e não usá-lo ou fazer uma campanha de redução de velocidade e dirigir sempre acima do limite. Dar o exemplo é imprescindível, é moral e confere credibilidade. Como ensina Paulo Freire (2000): “É fundamental diminuir a distância entre o que se diz e o que se faz, de tal forma que, num dado momento, a tua fala seja a tua prática.” É necessário que o policial agregue em seu perfil ações educadoras, embasadas em técnicas pedagógicas e dados reais que lhe permitam atuar com confiança e competência na propagação de medidas preventivas. Os projetos de educação para o
  • 44. Capacitação em Educação para o Trânsito – Módulo 2 SENASP/MJ - Última atualização em 14/09/2009 Página 17 trânsito não devem transmitir apenas as normas, regras e preceitos legais. Devem contemplar também aspectos éticos e de cidadania, ampliando o nível de conscientização dos diversos atores do trânsito, para que adotem atitudes prudentes, compatíveis com as necessidades de segurança de todos. Comunicação Observe a propaganda abaixo: Quais foram os elementos utilizados pelo autor da mensagem para comunicá-la? Como você pode perceber, na mensagem transmitida na página anterior, não está contida apenas no texto (comunicação verbal) ou na imagem (comunicação não- verbal). Mas sim, um conjunto de elementos que, em sintonia, possibilitam a comunicação entre quem a emite e quem a recebe. A comunicação verbal é a forma de expressão por intermédio da palavra falada ou escrita. A comunicação não-verbal é estabelecida pelo uso de elementos sem a palavra, tais como: imagens, figuras, desenhos, símbolos, dança, tom de voz, postura corporal, pintura, música, mímica,
  • 45. Capacitação em Educação para o Trânsito – Módulo 2 SENASP/MJ - Última atualização em 14/09/2009 Página 18 escultura e gestos como meio de comunicação. A comunicação não-verbal também pode ser percebida nos animais: quando um cachorro balança a cauda quer dizer que está feliz, quando coloca a cauda entre as pernas tem medo, tristeza. No trânsito há uso intenso de comunicação não-verbal. Exemplos de comunicação não-verbal no trânsito: Sinalização de trânsito, semáforo, logotipos, bandeiras, uso de cores para chamar a atenção ou exprimir uma mensagem. É importante que todos que participam do trânsito conheçam e utilizem essa simbologia. No processo de comunicação é utilizada a comunicação verbal e não-verbal de forma combinada, como no exemplo da propaganda, ou mesmo na forma que você se expressa (você fala e gesticula ao mesmo tempo), isso fortalece o conteúdo da mensagem que deseja transmitir e amplia a possibilidade de compreensão. Lembre- se de que uma forma de comunicação que apresente elementos verbais e não-verbais possibilitará uma comunicação rica, variada e significativa. Apresentação de palestras Postura, apresentação e domínio Como você já estudou, o policial representa a instituição e por isso deve primar pela apresentação individual. Além da necessidade de autorização da chefia para a realização de palestras, elas só deverão ocorrer com o policial devidamente uniformizado. Frequentemente, os policiais, a trabalho ou não, são questionados sobre legislação de trânsito. As palestras são ocasiões em que os usuários se sentem mais confortáveis em fazer determinadas perguntas sobre trânsito, assim, dominar o assunto do qual se pretende falar e estar atualizado com a legislação, são premissas básicas. Sem isso, por mais que uma pessoa detenha todas as técnicas pedagógicas, fatalmente perderá a atenção do público.O domínio do conteúdo resulta em uma postura segura do
  • 46. Capacitação em Educação para o Trânsito – Módulo 2 SENASP/MJ - Última atualização em 14/09/2009 Página 19 policial. Dar uma palestra torcendo para que não surjam indagações é o primeiro indicativo que você precisa se aprofundar mais em um assunto. Cada palavra deve ser facilmente entendida e, para isso, empregar um tom de voz adequado é imprescindível. Falar baixo demais, sussurrar ou gritar pode ser um recurso interessante para uso eventual numa palestra, mas jamais usualmente aplicado. O microfone pode ser um aliado ou um vilão, é preciso dosar o volume e a distância entre o microfone e a boca. É prudente evitar certos vícios de linguagem e posturas, como usar constantemente as expressões “né", “ãhhh” e “então”, além de passar na frente da projeção, sentar-se/escorar-se em mesas ou colocar a mão na parede que recebe a projeção para indicar algum conteúdo. O palestrante policial não deve utilizar a posição de entrevista durante a palestra, visto que o público desconhece seu fundamento. Ela pode originar gracejos e interpretações errôneas. Mesmo que a participação na palestra esteja concentrada em algum ponto, o palestrante deve evitar direcionar o olhar para apenas um ouvinte ou “grupinho”. Nunca isole seu público. Movimentar-se lentamente enquanto fala, indo a todos os lados do ambiente é uma forma interessante de manter a atenção de todos. Ao fazer perguntas, evite direcioná-las especificamente a um indivíduo. Embora alguns digam que é uma forma de retomar a atenção daquela pessoa, ela pode sentir-se constrangida se não souber a resposta ou se estiver “voando” no assunto. Faça a pergunta ao público e pergunte quem pode respondê-la (trabalhe com voluntários). Se o assunto corrupção for mencionado, procure informar sobre o trabalho que a instituição está realizando no sentido de “limpar a casa” e comente que essa mancha não é exclusividade da Polícia Rodoviária Federal. Fale sobre a Corregedoria Participativa e destaque a existência em cada regional das corregedorias e das comissões de ética, orientando a todos que esses setores estão sempre à disposição da sociedade. A apresentação pessoal do policial em palestras, seja para crianças ou adultos, em colégios ou empresas, deve primar pela doutrina utilizada na postura policial voltada ao atendimento do cidadão. Em palestras, o policial deve sempre portar o equipamento que utiliza rotineiramente, lembrando que a arma é parte integrante do uniforme. Nas exposições para crianças, deve-se ter em mente que a utilização de
  • 47. Capacitação em Educação para o Trânsito – Módulo 2 SENASP/MJ - Última atualização em 14/09/2009 Página 20 elementos dispersores da atenção, como colete, lanterna, brevês, algema, bastão, faca e muitos carregadores, irá desviar a atenção do conteúdo a ser transmitido, transformando o policial educador e cidadão no policial “super-herói caçador de bandidos”, o que não estaria condizente com a atual imagem que a sociedade procura na polícia, a imagem de “segurança do público”. Caso num ambiente escolar o policial seja questionado quanto ao uso da arma no interior de colégios, deve-se passar a sensação de segurança aos questionadores, lembrando de que a instituição policial representa a proteção aos cidadãos e não ameaça. O porte da sua arma é autorizado somente a você, não podendo ser entregue a outrem, nem para guarda temporária. Previna os acidentes: mantenha seu equipamento pessoal sob total domínio em locais com muitas crianças, pois o descuido associado à curiosidade infantil pode ser fatal. Linguagem adequada ao público-alvo A linguagem sempre deve ser adequada ao público a que está se dirigindo. O emprego de uma linguagem simples demais ou excessivamente rebuscada, ou com termos técnicos mal empregados ou, ainda, em volume inadequado, cria desinteresse no público, para não dizer pânico. Não é a vastidão do vocabulário que determina o bom palestrante, mas sua capacidade de ser entendido pelo público-alvo do evento. Como você já estudou é importantíssimo caracterizar o público-alvo da ação. Além do tipo de linguagem a ser utilizada, ele poderá determinar quais temas, recursos a serem utilizados e a logística necessária. A proposta de um trabalho educativo a ser realizado com crianças portadoras de deficiência auditiva, por exemplo, exige uma adequação técnica de equipe especializada composta de intérprete, recursos educativos e materiais voltados para a comunicação não-verbal. Esse trabalho é perfeitamente possível e já foi realizado pelo DPRF. Recentemente, foi promovido, por iniciativa do Ministério da Justiça, um curso de Libras que contou com a participação de alguns policiais rodoviários federais. O objetivo da participação da PRF no referido curso é o de inclusão dessa clientela no trabalho de educação para o trânsito.
  • 48. Capacitação em Educação para o Trânsito – Módulo 2 SENASP/MJ - Última atualização em 14/09/2009 Página 21 Dimensionamento do tempo Toda palestra deve ser elaborada com uma duração prevista. Com o tempo, um palestrante experiente saberá dar uma “corridinha” com o conteúdo sem trazer prejuízos ao aprendizado ou, ainda, intercalar comentários e questionamentos oportunos a fim de “esticar” um pouco mais sua apresentação. Atrasos ou excessos na duração da palestra podem ser entendidos como presunção, descaso, esnobismo ou irresponsabilidade. Os materiais de apoio, como, por exemplo, músicas e vídeos, devem ser empregados com equilíbrio, não devem ser exagerados, de forma a esgotar o tempo sem atingir plenamente o conteúdo planejado para aquela atividade, nem poucos a ponto de o palestrante precisar unicamente da participação dos presentes ou de seu talento para manter a atenção no assunto. Uma boa dica é respeitar o horário de início e elaborar palestras com muitos vídeos incorporados ou “linkados”, não havendo a obrigatoriedade de empregar todos. A opção do palestrante em usá-los dependerá do tempo disponível. Dispor de um espaço para debater ou esclarecer dúvidas ao final de sua palestra produzirá maior interação e, consequentemente, maior eficiência naquilo que foi proposto. Se o número de questionamentos for grande demais e você tiver algum compromisso em seguida, crie algum mecanismo, como dar seu e-mail para posterior atendimento, ou ficar além do tempo, no final, com aquelas pessoas interessadas. Evite que o público saia com a sensação de não ser atendido. Caso possa ficar para dirimir as dúvidas, primeiramente agradeça e encerre sua exposição. Permita que permaneça no local somente com os interessados, liberando aqueles que não desejam ou não podem mais ali permanecer. Utilização de materiais de apoio Os materiais de apoio são muito úteis para uma palestra, porém, o recurso humano é, sem sombra de dúvida, o principal agente de transmissão das informações. Há palestrantes no mundo inteiro que são capazes de manter a atenção da plateia e “passar o seu recado” sem usar essas ferramentas. Contudo, é preciso considerar que a sociedade moderna se encontra imersa em imagens, sons,informações e tecnologia.
  • 49. Capacitação em Educação para o Trânsito – Módulo 2 SENASP/MJ - Última atualização em 14/09/2009 Página 22 De acordo com os princípios da Andragogia, o ser humano retém 10% do que lê, 20% do que escuta, 30% do que vê, 50% do que vê e escuta e 80% do que vê, ouve e logo pratica. Observe a tabela: Método de ensino Dados retidos após 3 horas Dados retidos após 3 (três) dias Somente oral 70% 10% Somente visual 72% 20% Oral e visual (simultaneamente) 85% 65% Fonte: Oficina de Estudos na Sociedade Norte Americana Socondy Vacuum Oil Co. Studies (1971) Os recursos audiovisuais (que conjugam audição e visão) são os mais eficazes para a aprendizagem. Utilizar recursos como o datashow, teatro, músicas e fantoches significa seguir uma tendência mundial para garantir maior absorção do conteúdo. A escolha correta dos materiais de apoio depende de critérios, devendo o palestrante:  Optar pelo recurso audiovisual de acordo com o objetivo que deseja atingir;  Avaliar quais assuntos necessitam de melhor compreensão/fixação;  Optar por um recurso que conheça totalmente o seu manuseio, as vantagens e as desvantagens;  Considerar o horário para o uso dos recursos. Após o almoço, por exemplo, vídeos longos tendem a causar sonolência e diminuição do grau de interesse. Quadro-de-giz Empregado em conjunto com giz branco ou colorido, é o recurso didático mais simples. Com baixo custo, serve como recurso auxiliar para qualquer tipo de assunto, sendo ideal para explicações rápidas, resumos ou recapitulação de ideias. Usado como base para diversos recursos audiovisuais.
  • 50. Capacitação em Educação para o Trânsito – Módulo 2 SENASP/MJ - Última atualização em 14/09/2009 Página 23 Ao usar esse recurso, escrever sempre da esquerda para a direita, usando letras com bom tamanho e legíveis, valendo-se de elementos dinâmicos, como setas, círculos e barras, e nunca falar virado para o quadro, enquanto estiver escrevendo. Caso a letra do palestrante não seja legível, afixar placas/faixas com palavras-chaves ou frases. Quadro magnético Quadro branco usado em conjunto com pincéis próprios. Sua utilização é similar ao quadro-negro, porém permite mais contraste no conteúdo escrito. Apenas o pincel apropriado deve ser utilizado, de forma a não danificar a película que recobre o quadro. Cavalete com folhas ou flipchart Ideal para frisar pontos importantes, relacionar dados, recordar assuntos e agregar ideias. Retroprojetor e transparências Recurso ainda muito utilizado, que permite ao expositor ficar de frente para o público enquanto usa a transparência para ordenar logicamente ideias e exibir textos, figuras e gráficos. Ao confeccionar uma transparência, considere questões como visibilidade, clareza e uso das cores. Produção de slides Em relação à produção de slides, normalmente, utiliza-se os planos de fundo do DPRF. Procure criar slides simples, use fontes com tipos, tamanhos e cores adequados. Considere sempre a cor de fundo e aplique a regra de “fundo escuro, fonte clara; fundo claro, fonte escura”. Atente quanto ao número de linhas por slide, para que a legibilidade não fique comprometida (máximo de 10 linhas).
  • 51. Capacitação em Educação para o Trânsito – Módulo 2 SENASP/MJ - Última atualização em 14/09/2009 Página 24 Não abuse das cores nem dos efeitos e busque promover a instituição que representa, quer pelo conteúdo ou pelas imagens utilizadas. Teste sempre todos os equipamentos antes do momento da palestra e tenha sempre um “plano B” caso haja alguma pane. Uso de imagens Filmes e fotos digitalizadas tornam a apresentação mais agradável. Insira imagens locais para afastar a ideia de que os acidentes só acontecem longe de nós, de nossa família e das outras pessoas que amamos. Algumas imagens podem exigir tratamento digital, de forma a tarjar placas de veículos ou “embaçar” rostos dos envolvidos, evitando assim constrangimentos e diminuindo a possibilidade de que as imagens sejam reconhecidas por pessoas próximas aos acidentados, que eventualmente estejam na plateia. Buscar sempre uma atualização do acervo de fotos é uma prática interessante, pois imagens inéditas atraem a plateia. Solicite materiais de acidentes aos policiais, aos órgãos de imprensa ou faça intercâmbio com outros educadores. Sempre avalie se o material que deseja empregar é adequado ao público-alvo da palestra. Há entre os educadores duas correntes divergentes em relação ao emprego de imagens chocantes. Valendo-se de pensamentos como “palestras chocantes causam maior efeito” ou “a realidade precisa ser mostrada”, uma delas emprega imagens com cadáveres e mutilações, dentre outras do gênero. Por outro lado, encontram-se imagens de acidentes sem esse nível de agressividade, exibidas por um grupo que considera a exibição de imagens fortes desnecessária, traumática e fator de banalização da violência: “Se já mostramos o pior, acidentes menos graves não ganharão a devida importância.” Não há pretensão de defender uma ou outra corrente. Mas a maior parte dos pedagogos modernos não apoia a exibição das imagens violentas. As imagens devem ser capazes de transmitir valores, como cooperação, respeito e solidariedade, enfim, de estimular comportamentos positivos no trânsito. Existem
  • 52. Capacitação em Educação para o Trânsito – Módulo 2 SENASP/MJ - Última atualização em 14/09/2009 Página 25 vários vídeos e imagens interessantes sobre trânsito. Todo esse material deve ter impacto, interesse e sequência. Não adianta empregar um vídeo sensacional se ele estiver fora do contexto e da finalidade a que se destina. Outros aspectos importantes Direitos autorais Com o tempo, cada educador constrói seu acervo e a troca de materiais com outros educadores é uma ótima fonte para obtê-los. O palestrante do DPRF deve ter cuidado com a questão dos direitos autorais. Veja alguns fragmentos da Lei n 9.610, de 19 de fevereiro de 1998 que altera, atualiza e consolida a legislação sobre direitos autorais. Lei n 9.610, de 19 de fevereiro de 1998. Art. 46 Não constitui ofensa aos direitos autorais: I - A reprodução: a) Na imprensa diária ou periódica, de notícia ou de artigo informativo, publicado em diários ou periódicos, com a menção do nome do autor, se assinados, e da publicação de onde foram transcritos; II - A reprodução, em um só exemplar de pequenos trechos, para uso privado do copista, desde que feita por este, sem intuito de lucro; VI - A representação teatral e a execução musical, quando realizada no recesso familiar ou, para fins exclusivamente didáticos, nos estabelecimentos de ensino, não havendo em qualquer caso intuito de lucro. A mesma lei em questão esclarece: Art. 47 São livres as paráfrases e paródias que não forem verdadeiras reproduções da obra originária nem lhe implicarem descrédito.
  • 53. Capacitação em Educação para o Trânsito – Módulo 2 SENASP/MJ - Última atualização em 14/09/2009 Página 26 Fuga ao tema Perguntas e narrativas pessoais ocorrem, frequentemente, em palestras. Isso porque, como já estudou, o público identifica o momento como a oportunidade perfeita para sanar dúvidas e comentar sobre fatos que ele ou conhecidos vivenciaram no trânsito ou em abordagens da PRF. A participação do público é válida e enriquece, mas o palestrante precisa ter a sensibilidade de perceber quando o assunto se desvia do foco da palestra ou quando o número de intervenções passa a prejudicar sua continuidade. Às vezes, é necessário dar uma “cortada” educada a fim de retomar o controle da situação. Uma saída é pedir para que os participantes anotem suas dúvidas e comentários para que sejam apresentados no final da palestra, de forma que não se gaste muito tempo naquele assunto e se possa prosseguir. Como forma de interação com o público, você pode pedir ajuda para recolher as anotações. Faça uma leitura silenciosa de cada pergunta, analise e só então compartilhe com os presentes. Além de evitar surpresas, talvez você tenha que fazer adaptações para garantir sua clareza. Conclusão Neste módulo, você estudou que... ► Psicologia é a ciência que estuda o comportamento humano e suas relações com o meio físico e social. ► A decisão do condutor de aplicar constantemente procedimentos de segurança depende de fatores psicológicos, dentre outros. ► O comportamento – formado por fatores internos e externos – é o conjunto de ações de um indivíduo ou de um grupo de indivíduos em variadas situações do cotidiano. ► Os fatores internos são aqueles inerentes ao indivíduo e que o tornam único. Também são considerados fatores internos, as características psicológicas que o inserem em um determinado grupo, classificável pela psicologia.