1) O documento discute as práticas estabelecidas e emergentes no jornalismo impresso e online, analisando quatro jornais brasileiros e o The New York Times.
2) Analisa categorias como estrutura, elementos de hipertextualidade, códigos de superfície, interação com o leitor e convergência de mídias.
3) Busca entender como esses elementos se relacionam no meio digital e impresso, e como o jornalismo online explora as potencialidades do suporte digital.
Inteligência coletiva, espiritualidade e renovação do laço social
Cibercultura e práticas estabelecidas e emergentes no jornalismo impresso e online
1. 1
UNIVERSIDADE FUMEC
FACULDADE DE CIÊNCIAS HUMANAS E
FACULDADE DE ENGENHARIA E ARQUITETURA
Coordenadores: Denise Eler, Dunya Azevedo
Bolsistas: Francisco Machado, Karine Feibelmann, Pedro Leone , Rosiane Benini
Cibercultura e práticas estabelecidas e
emergentes no jornalismo impresso e online
Propic 2009/2010
Belo Horizonte
2010
2. 2
Sumário
I. INTRODUÇÃO ...................................................................................................................... 06
II. REFERENCIAL TEÓRICO: DA CULTURA ORAL À CIBERCULTURA ....................... 10
2.1 Cultura oral e cultura escrita ............................................................................................ 11
2.2 Cultura de massas e cultura de mídias.............................................................................. 15
2.3 Cibercultura – Convergência de mídias .......................................................................... 20
2.3.1 O hipertexto ............................................................................................................... 21
2.3.2 Elementos originais da cibercultura – bancos de dados, imagens de síntese e
programas ............................................................................................................................ 23
2.3.3 Cibercultura ............................................................................................................... 25
III. ESTUDO EMPÍRICO .......................................................................................................... 30
3.1. Estado de Minas ............................................................................................................. 32
3.1.1 Posicionamento da marca .......................................................................................... 43
3.1.2 Estrutura do jornal – Impresso .................................................................................. 44
3.1.2.1 Cadernos ............................................................................................................ 44
3.1.2.2 Primeira Página ................................................................................................. 45
3.1.3 Estrutura do jornal - Online ....................................................................................... 46
3.1.4 Elementos de hipertextualidade – Impresso .............................................................. 50
3.1.5 Elementos de hipertextualidade – Online .................................................................. 50
3.1.6 Códigos de superfície – Impresso ............................................................................. 51
3.1.7 Códigos de superfície – Online ................................................................................. 54
3.1.8 Interação com o leitor – Impresso ............................................................................. 54
3.1.9 Interação com o leitor – Online ................................................................................. 54
3.1.10 Convergência de mídias – Impresso ........................................................................ 56
3.1.11 Convergência de mídias – Online ........................................................................... 56
3.1.12 Presença online extra site ........................................................................................ 57
3.1.13 Formas opcionais de visualização e filtros de conteúdo ......................................... 57
3.1.14 Publicidade – Impresso ........................................................................................... 58
3.1.15 Publicidade – Online ............................................................................................... 58
3.2. Folha de São Paulo .......................................................................................................... 59
3.2.1 Posicionamento da marca .......................................................................................... 59
3.2.2 Estrutura do jornal – Impresso .................................................................................. 60
3.2.2.1 Cadernos ............................................................................................................ 60
3.2.2.2 Primeira Página ................................................................................................. 60
3. 3
3.2.3 Estrutura do jornal – Online ...................................................................................... 61
3.2.3.1 Seções ................................................................................................................ 61
3.2.3.2 Primeira Página ................................................................................................. 63
3.2.4 Elementos de hipertextualidade - Impresso .............................................................. 64
3.2.5 Elementos de hipertextualidade – Online .................................................................. 65
3.2.6 Códigos de superfície – Impresso ............................................................................. 67
3.2.7 Códigos de superfície – Online ................................................................................. 71
3.2.8 Interação com o leitor – Impresso ............................................................................. 74
3.2.9 Interação com o leitor – Online ................................................................................. 74
3.2.10 Convergência de mídias – Impresso ........................................................................ 75
3.2.11 Convergência de mídias – Online ........................................................................... 76
3.2.12 Presença online extra site ........................................................................................ 77
3.2.13 Formas opcionais de visualização e filtros de conteúdo ......................................... 78
3.2.14 Publicidade – Impresso ........................................................................................... 79
3.2.15 Publicidade – Online ............................................................................................... 80
3.3. Estado de São Paulo ........................................................................................................ 80
3.3.1 Posicionamento da marca .......................................................................................... 80
3.3.2 Estrutura do jornal – Impresso .................................................................................. 82
3.3.2.1 Cadernos ............................................................................................................ 82
3.3.2.2 Primeira Página ................................................................................................. 82
3.3.3 Estrutura do jornal – Online ...................................................................................... 83
3.3.3.1 Seções ................................................................................................................ 83
3.3.3.2 Primeira Página ................................................................................................. 85
3.3.4 Elementos de hipertextualidade - Impresso .............................................................. 86
3.3.5 Elementos de hipertextualidade – Online .................................................................. 86
3.3.6 Códigos de superfície – Impresso ............................................................................. 87
3.3.7 Códigos de superfície – Online ................................................................................. 89
3.3.8 Interação com o leitor – Impresso ............................................................................. 91
3.3.9 Interação com o leitor – Online ................................................................................. 91
3.3.10 Convergência de mídias – Impresso ........................................................................ 92
3.3.11 Convergência de mídias – Online ........................................................................... 92
3.3.12 Presença online extra site ........................................................................................ 92
3.3.13 Formas opcionais de visualização e filtros de conteúdo ......................................... 92
3.3.14 Publicidade – Impresso ........................................................................................... 93
3.3.15 Publicidade - Online ................................................................................................ 93
3.4. O Globo ........................................................................................................................... 94
4. 4
3.4.1 Posicionamento da marca .......................................................................................... 94
3.4.2 Estrutura do jornal – Impresso .................................................................................. 95
3.4.2.1 Cadernos ............................................................................................................ 95
3.4.2.2 Primeira Página ................................................................................................. 95
3.4.3 Estrutura do jornal – Online ...................................................................................... 96
3.4.3.1 Seções ................................................................................................................ 96
3.4.3.2 Primeira Página ................................................................................................. 98
3.4.4 Elementos de hipertextualidade - Impresso .............................................................. 99
3.4.5 Elementos de hipertextualidade – Online .................................................................. 99
3.4.6 Códigos de superfície – Impresso ........................................................................... 101
3.4.7 Códigos de superfície – Online ............................................................................... 102
3.4.8 Interação com o leitor – Impresso ........................................................................... 105
3.4.9 Interação com o leitor – Online ............................................................................... 105
3.4.10 Convergência de mídias – Impresso ...................................................................... 106
3.4.11 Convergência de mídias – Online ......................................................................... 107
3.4.12 Presença online extra site ...................................................................................... 108
3.4.13 Formas opcionais de visualização e filtros de conteúdo ....................................... 110
3.4.14 Publicidade – Impresso ......................................................................................... 110
3.4.15 Publicidade - Online .............................................................................................. 111
3.5. The New York Times .................................................................................................... 112
3.5.1 Posicionamento da marca ........................................................................................ 112
3.5.2 Estrutura do jornal ................................................................................................... 112
3.5.2.1 Seções .............................................................................................................. 112
3.5.2.2 Primeira Página ............................................................................................... 113
3.5.3 Elementos de hipertextualidade .............................................................................. 114
3.5.4 Códigos de superfície .............................................................................................. 114
3.5.5 Interação com o leitor .............................................................................................. 117
3.5.6 Convergência de mídias .......................................................................................... 120
3.5.7 Presença online extra site ........................................................................................ 120
3.5.8 Formas opcionais de visualização e filtros de conteúdo ......................................... 120
3.5.9 Publicidade .............................................................................................................. 123
3.6. G1 ................................................................................................................................... 123
3.6.1 Posicionamento da marca ........................................................................................ 123
3.6.2 Estrutura do jornal ................................................................................................... 124
3.6.2.1 Primeira Página ............................................................................................... 124
3.6.3 Elementos de hipertextualidade ............................................................................... 128
5. 5
3.6.4 Códigos de superfície .............................................................................................. 132
3.6.5 Interação com o leitor .............................................................................................. 133
3.6.6 Convergência de mídias .......................................................................................... 137
3.6.7 Presença online extra site ........................................................................................ 137
3.6.8 Formas opcionais de visualização e filtros de conteúdo ......................................... 140
3.6.9 Publicidade .............................................................................................................. 141
IV. PRÁTICAS ESTABELECIDAS E TENDÊNCIAS NO JORNALISMO IMPRESSO E
ONLINE .................................................................................................................................... 142
V. CONCLUSÃO .................................................................................................................... 151
VI. BIBLOGRAFIA ................................................................................................................. 154
VII. ANEXOS ................................................................................................................................
7.1. Wireframes e Gráficos ..........................................................................................................
7.2. Glossário...............................................................................................................................
6. 6
I. INTRODUÇÃO
Uma transformação tecnológica de dimensões comparáveis ao surgimento do alfabeto está
mudando profundamente o caráter da comunicação na sociedade contemporânea. Por integrar
textos, imagens, áudio em uma rede interativa global, que pode ser acessada e modificada de
vários pontos do planeta, a internet altera de forma fundamental a nossa cultura.
A informação é a matéria prima da sociedade globalizada, definida por Manuel Castells como
sociedade informacional - caracterizada por toda a conjuntura que permeia o mundo a partir dos
anos 1990 e que possibilita a convergência das mídias de forma ampla e multicêntrica, em um
sistema comunicacional interativo. Vivemos em uma sociedade profundamente influenciada
pela cibercultura - conjunto de técnicas (materiais e intelectuais), de práticas, atitudes, de modos
de pensamento e de valores que se desenvolvem juntamente com o crescimento da rede mundial
de computadores (LEVY, 1999).
De acordo com Castells (1999, p. 79), a produção, distribuição e intercâmbio de dados
digitalizados através de um sistema integrado de comunicação traz conseqüências importantes
para os processos sociais. A inclusão da maioria das expressões culturais na internet
“enfraquece de maneira considerável o poder simbólico dos emissores tradicionais fora do
sistema, transmitindo por meio de hábitos sociais historicamente codificados: religião,
moralidade, autoridade, valores tradicionais, ideologia política”.
Neste contexto, em que a informação é o maior bem simbólico e espinha dorsal da sociedade, o
jornalismo sofre profundas transformações. O advento da internet está provocando grandes
mudanças nas empresas jornalísticas, deslocando leitores e anunciantes para o ambiente online,
onde a participação do usuário e a interatividade ganham dimensões sem precedentes. O
segmento está passando por um período de transição para se adaptar às novas configurações do
mercado e a um novo perfil de público. Paralelamente à expansão do jornalismo online a partir
da década de 1990, inicia-se um movimento de redefinição das funções do jornal impresso. A
redução das receitas com publicidade tem provocado uma crise no setor editorial, onde várias
publicações têm procurado solucionar seus problemas financeiros com fusões e aquisições de
empresas.
Tendo como base estudos teóricos para a compreensão do fenômeno da cibercultura, esta
pesquisa investiga as práticas emergentes relativas aos aspectos formais e interativos de quatro
7. 7
grandes jornais brasileiros, em suas vertentes impressas e online (Estado de S. Paulo, Folha de
S.Paulo, Estado de Minas, O Globo), e também o jornal nativo da web G1 O estudo é completo
com uma análise da versão online do The New York Times, por ter sido precursor no uso da
internet em 1970 e por ser referência nas formas de apropriação do ambiente web.
A partir de categorias de análises definidas na fase de estudos teóricos, fazemos uma descrição
de como os elementos se estruturam no meio digital e no impresso para entendermos como estes
se relacionam, ou não, para ampliar as potencialidades da informação. É nosso objetivo também
verificar como o jornalismo online explora o potencial que o novo suporte oferece. Embora o
conteúdo textual tenha tomado características específicas no meio digital, esta pesquisa se
concentra na estrutura e na visualização do conteúdo jornalístico. Um estudo do texto
demandaria maior tempo de pesquisa.
Com quase duas décadas de existência, o jornal online ainda está explorando formas de
melhorar a interatividade com o leitor. Também o jornal impresso, assim como todos os outros
veículos de comunicação, vem passando por várias transformações ao longo de sua história,
para se adequar a novas necessidades de uma sociedade em constante transformação. De longos
blocos de texto, cuja ênfase era dada ao conteúdo escrito, o jornal diário impresso - muito
influenciado pela TV, principalmente na década de 1960 - passou a apresentar blocos menores
de textos intercalados com fotos, intertítulos, títulos secundários e outros elementos editoriais,
quebrando a lógica da linearidade textual rígida. A divisão dos jornais em seções, cadernos,
encartes, suplementos dirigidos a públicos específicos, o aumento dos recursos
editoriais/visuais, a capa construída como uma espécie de mosaico modernizaram o jornal e o
tornaram um produto de consumo massivo. No ambiente online, o hipertexto cujos elementos
essenciais são os links, reforça o processo de fragmentação iniciado pelo jornal moderno e pela
TV. A interatividade, já latente na mídia tradicional, ganha contornos inéditos.
Um dos indicadores de mudança na forma de tratamento da informação pode ser notado no uso
crescente de infográficos no jornal impresso, apontados como um novo gênero jornalístico por
diversos autores (CAIRO, 2008; DE PABLOS, 1999). No ambiente online, fala-se dos
infográficos de segunda geração, onde o acesso instantâneo a um banco de dados amplia as
possibilidades de manipulação das informações, elevando-o ao nível de simuladores de
situações, como no caso dos premiados infográficos do New York Times. “As infografias dos
meios digitais se tornaram peças jornalísticas depuradas, que integram textos, imagens estáticas
e dinâmicas, 3D, sons, e cada vez maiores doses de interatividade” (SALAVERRIA, 2007, p.
3). Tendo o New York Times como referência, as análises de versões online dos grandes jornais
impressos citados e do G1, nesta pesquisa, têm como objetivo também constatar se esses
recursos são explorados ou não pelos nacionais.
8. 8
Ampliando ainda mais os espaços de interação entre os participantes do processo de
comunicação, a Web 2.0, como segunda geração de serviços online, caracteriza-se por
potencializar as formas de publicação, compartilhamento e organização de informações. A Web
2.0 refere-se não apenas a uma combinação de técnicas informáticas, mas também a um
conjunto de novas estratégias mercadológicas e a processos de comunicação mediados pelo
computador. (PRIMO, 2007). Como advento da segunda geração de tecnologias web,
destacam-se os blogs (sites pessoais ou corporativos atualizados diariamente, abertos a
comentários de usuários e à postagem de novos tópicos por seus membros), o tagging (sistema
que permite ao usuário identificar documentos na internet segundo próprio vocabulário), o
podcasting (produção e publicação de arquivos de áudio e vídeo que podem ser descarregados
automaticamente na internet) e o microblogging (blog de mensagens curtas e disseminação
instantânea para a rede de seguidores do serviço, via web ou celular) (ELER, 2007).
Estas tecnologias têm provocado uma mudança cultural e econômica sem precedentes ao
ampliar e pulverizar as fontes de conteúdo na internet, dotando qualquer usuário de poder para
criação, publicação, distribuição, edição e interação com outros usuários. O fenômeno é
conhecido como “A Cauda Longa” (ANDERSON, 2006) e descreve modelos de negócio e de
comportamentos viabilizados pela internet, onde as barreiras físicas para estocagem de produtos
são superadas pela natureza digital destes e, principalmente, onde mercados de nichos são
potencializados. O estudo de Anderson mostra como a tecnologia digital em redes está
“convertendo o mercado de massa (hits) em milhões de nichos”. Se o primeiro modelo é
pautado pela escassez na oferta, pela concentração de títulos e de distribuidores de produtos, a
economia da Cauda Longa é sustentada justamente pela abundância de oferta de produtos, pela
pulverização das fontes de informação (os distribuidores) e pela liberdade de escolha dos
usuários, agora elevados, a interatores. No caso do jornalismo, o fenômeno pode ser notado no
surgimento do jornalismo colaborativo, onde pessoas sem formação específica colaboram com
profissionais na produção de notícias, utilizando-se de ferramentas como blogs, wikis, celulares
e câmeras digitais. Esta prática se insere em um novo conceito de produção baseado na
contribuição coletiva, descentralizada e autônoma de indivíduos, intitulada Crowdsourcing
(HOWE, 2006).
Nosso trabalho de pesquisa contempla então estas duas etapas: o estudo teórico e a observação
empírica. A revisão bibliográfica nos auxiliou na compreensão do fenômeno da cibercultura,
segundo quatro autores principais: Castells (1999; 2003), Levy (1993; 1996; 1999; 1998),
Lemos (1999; 2004) e Santaella (2007). No segundo capítulo, primeiramente, procuramos
definir como o desenvolvimento tecnológico estrutura e molda o pensamento de determinada
época em que se insere. Para isso, foi necessário o entendimento do modo de armazenamento de
informações e o efeito das tecnologias desenvolvidas para tais armazenamentos na estrutura do
9. 9
pensamento desde as sociedades orais, passando pelo surgimento da escrita alfabética, o
desenvolvimento dos meios de comunicação de massa até a cultura digital. Na segunda parte
deste capítulo, nos concentramos nos conceitos ligados à Cibercultura: convergência de mídias,
hipertexto, bancos de dados, imagens de síntese e programas. Esta etapa nos auxiliou na
identificação de categorias de análise para a pesquisa empírica, cujos resultados são
apresentados no Capítulo 2 e analisados criticamente no Capítulo 3, onde são identificados
padrões de comportamento e práticas emergentes no jornalismo contemporâneo, segundo o
observado nas amostras dos jornais já mencionados. Se muitas das questões iniciais foram
satisfatoriamente respondidas por esta pesquisa, outras tantas surgiram à medida que ideias pré-
concebidas foram desmistificadas, gerando o desejo de aprofundamento em assuntos específicos
como a infografia analítica de segunda geração, a produção de conteúdo específico para
telefones celulares, os novos perfis profissionais demandados pela área e o papel da Educação
Superior neste processo. Estas e outras inquietações são compartilhadas no último capítulo.
10. 10
II. REFERENCIAL TEÓRICO: DA CULTURA ORAL À CIBERCULTURA 2.0
Tanto a linguagem - como instrumento de propagação da memória social e de suas
representações -, quanto os processos materiais - que tornam possíveis o armazenamentos destas
informações - atuam como modeladores do tempo. Se a sociedade contemporânea é
caracterizada pelo ritmo acelerado das transformações, pelo obsoletismo das informações e dos
artefatos, pelas crises de ansiedade e déficit de atenção das pessoas e pela necessidade de estar
conectado a tudo e a todos sob o risco de estar desatualizado, certamente há uma relação com as
tecnologias que suportam tais comportamentos. Este é o cerne do pensamento do filósofo Pierre
Lévy (1993) que procura responder de que forma as tecnologias moldam o estilo de pensamento
e a temporalidade. Para o autor, as novas maneiras de pensar e de representar o mundo na
atualidade são conseqüências das inovações tecnológicas oriundas das telecomunicações e da
informática e representam um momento histórico similar ao Renascimento, quando a imprensa
alterou profundamente a forma de pensar medieval.
No entanto, o autor ressalta que a sucessão da oralidade, da escrita e da informática como
modos fundamentais de gestão social do conhecimento não se dá por simples substituição, mas
antes por complexificação1 e deslocamento de centros de gravidade. Sua tese é a de que certas
técnicas de armazenamento e de processamento das representações tornam possíveis ou
condicionam certas evoluções culturais. Lévy propõe então uma teoria de interfaces, onde,
ambos, dispositivos sociotécnicos e informações, constituem elementos indissociáveis de uma
ecologia cognitiva. Dito de outra forma, o significado de uma informação está intimamente
condicionado pela natureza de seu suporte: “traduzir antigos saberes em novas tecnologias
intelectuais equivale a produzir novos saberes” (LEVY, 1993, p. 184). Este pensamento foi
sintetizado na célebre colocação “o meio é a mensagem”, de Marshall McLuhan (2005) outro
importante teórico da comunicação. Tanto Levy (ênfase na linguagem e nas interações sociais),
quanto McLuhan (ênfase nas mídias), defendem a premissa de que as tecnologias condicionam
nossa percepção do mundo (LEVY,1993, p.19) (MCLUHAN, 2005, p.102). Para completar
nosso referencial teórico, recorremos aos estudos de Lucia Santaella sobre a cultura de massa e
a cultura de mídias, ambas essenciais no esforço de entender o advento e particularidades da
Cibercultura, e André Lemos como principal pesquisador desta área no Brasil.
1
Complexificação: processo pelo qual “uma nova formação comunicativa e cultural vai se integrando na
anterior, provocando nela reajustamentos e refuncionalizações.” (Santaella, 2008: 13)
11. 11
2.1. Cultura oral e cultura escrita
Levy, em As tecnologias da Inteligência (1993), lembra que nas sociedades orais, onde não
existe modo para armazenamento das representações verbais para futuras reutilizações, as
comunidades recorrem à prática da repetição das informações sob pena de que estas deixem de
existir. As limitações da memória humana, por sua vez condicionam as formas de apresentação
destas informações. Predominam as representações de causa e efeito, carregadas de carga
emotiva e elementos audiovisuais e sensoriomotores, como os rituais de dança. É sabido hoje,
pelos estudos da psicologia cognitiva, que estes artifícios auxiliam os processos mnemônicos
de retenção e recuperação de informações. Por sua vez, os agentes da comunicação
compartilham uma mesma rede de significados (hipertexto), produzem um conhecimento local
e encontram-se geograficamente próximos. Dada à baixa confiabilidade da memória humana
em relação ao registro original e as elaborações posteriores acrescidas pelo sujeito em função
de condições emocionais, as informações nas sociedades orais são sempre subjetivas e
dependentes do contexto e dos indivíduos que as transmitem. O uso das interfaces
mente/fala/gestos, para o armazenamento e a comunicação de informações condiciona a
percepção do tempo como algo circular, onde a redução das singularidades dos acontecimentos
a estereótipos (construção de mitos) auxilia na perenidade das preposições de uma dada
cultura. Após esta análise, Levy demonstra como o estilo de temporalidade e os modos de
conhecimento então vigentes, foram radicalmente alterados pelo advento de uma nova
tecnologia: a escrita. (Quadro 1)
"Quando uma circunstância como uma mudança técnica desestabiliza o antigo
equilíbrio das forças e das representações, estratégias inéditas e alianças
inusitadas tornam-se possíveis.” (LEVY, 1993, p.16)
A possibilidade de separar o discurso das circunstâncias particulares em que este foi produzido
só foi possível a partir do momento que a humanidade passou a utilizar signos escriturários
transmitidos em suportes materiais, tais como cerâmicas, pergaminhos, papiros etc. O uso
destas tecnologias provocou uma revolução na forma como a sociedade da época percebia o
mundo e seus reflexos são vividos até hoje quando as tecnologias digitais começam a
engendrar novas formas de relacionamento com o saber. Ao separar as mensagens das
situações de uso originais, as sociedades letradas tiveram como ambição a criação de um texto
teórico, ou seja, abstrato e conceitual, cujo sentido não dependesse de um contexto específico.
Uma vez deslocados no tempo e no espaço, os sujeitos da comunicação não tinham mais,
necessariamente, um hipertexto em comum, nem a possibilidade de interação entre si. Porém,
esta objetivação da memória, possibilitou o acúmulo de informações que poderiam ser
12. 12
acessadas, comparadas e transportadas em suportes materiais, criando a noção do tempo linear,
ESCRITA
TIPO DE CULTURA ORAL
Manuscritos Impressa
SIGNOS
ESCRITURÁRIOS
TIPO DE INTERFACE transmitidos em
1.MENTE HUMANA papiro, cerâmica,
pergaminho, etc. SIGNOS ESCRITURÁRIOS
transmitidos em
2.FALA E GESTOS
(suportes de registro e
transmissão PAPEL / LIVRO.
EXPOSIÇÃO
de informações) ESCRITA E
ORAL (ainda
ligada à forte
intermediação
humana)
Dissociação do contexto de produção da informação
Agentes compartilham hipertextos e do tempo e local de recepção da mesma.
(rede de significados) próximos e
Pressão pelo universalismo e pela objetividade.
PRAGMÁTICA DA encontram-se em um mesmo contexto
COMUNICAÇÃO geográfico e histórico. Compartilhamento de abstrações conceituais.
Hiato entre letrados e analfabetos
MEMÓRIA SUBJETIVA
CARACTERÍSTICA DA
MEMÓRIA OBJETIVA
MEMÓRIA
1. Memória encarnada em pessoas
ou histórico.
13. 13
vivas e grupos atuantes
2. Predominância da memória de 1. Grande volume de
longo prazo. publicações impossibilita a
Problema com a exposição oral, fim das
3. Associação da memória semântica a intermediações humanas
qualidade das
memórias musicais e sensoriomotoras. diretas.
reproduções
(dependência do
2. Criação de elementos de
talento humano para
manuscritos e interface: paginação,
imagens) cabeçalho, índice etc
3. Instauração da cultura
visual: facilidade de
reprodução técnica de imagens
PERCEPÇÃO TEMPO CIRCULAR:
TEMPO LINEAR, HISTÓRICO
DO TEMPO redução das singularidades dos
acontecimentos a estereótipos
atemporais (construção de mitos)
Pensamento científico,, universalismo,
VALORES Tradição, humano, local, imaginação literacia, registro escrito como documento
Discurso indissociável do contexto
Objetividade
Narrativas míticas,
LINGUAGEM Predominância do texto sobre a imagem
atemporais
Narrativas históricas
Representação do mundo por imagens
A escrita fonética significou a ruptura entre as experiências auditiva, tátil, e visual do homem e
a fragmentação da experiência em unidades uniformes aptas a produzir ações e mudanças
formais mais rápidas e menos suscetíveis a interpretações subjetivas de seus destinatários.
Mcluhan credita ao alfabeto fonético a criação do “homem civilizado”, na medida em que esta
promoveu a separação do indivíduo da tribo, a continuidade do espaço e do tempo e a
uniformidade dos códigos - marcas das sociedades letradas e civilizadas. (p.103).
14. 14
Ambos (planejamento industrial e planos militares) são moldados pelo
alfabeto, em sua técnica de transformação e controle e que consiste em tornar
todas as situações uniformes e continuas. (MCLUHAN, 2003, p. 105)
Este processo foi intensificado pelo advento de outra tecnologia, a prensa mecânica de
Gutenberg, em 1445. Os antigos manuscritos imitavam a comunicação oral e dependiam muito
do talento do copista para manter a fidedignidade das reproduções à obra original (LEVY, 1993,
p. 99). O autor sustenta que a prensa permitiu a instauração de um novo estilo cognitivo porque
a partir de então houve uma inspeção periódica de mapas, esquemas, gráficos, tabelas e
dicionário, elementos que são o centro da atividade científica. Passou-se da discussão verbal,
característica da Idade Média, para a demonstração visual.
A escrita inaugurou também o pensamento racional a partir do momento em que o
conhecimento passou a ser representado de forma modular. Levy afirma que, “com a escrita, as
representações perduram em outros formatos que não o canto ou a narrativa”, como no caso das
observações astronômicas dos sumérios ou os bancos de dados atuais. Historicamente, estas
micro-representações “livres” - fórmulas, símbolos, números, tabelas etc – permitiram uma
passagem da dramatização para a sistematização dos saberes que constitui a base do
conhecimento científico.
Neste ponto, Levy enfatiza o papel dos elementos de interface criados com a popularização do
livro impresso, a partir do século XVI, para facilitar a relação do texto com o leitor: índice,
títulos, sumário, numeração regular, notas de rodapé, etc. Estes dispositivos lógicos criaram
uma experiência de leitura diferente da proporcionada pelos manuscritos, tais como
“possibilidade de exame rápido do conteúdo, de acesso não linear e seletivo do texto, de
segmentação do saber em módulos, de conexão múltipla a uma infinidade de outros livros”
(LEVY, 1993, p. 34). Além disso, a redução do peso dos livros e de seus tamanhos, alcançada
por uma nova forma de dobradura das folhas, possibilitou sua rápida difusão na sociedade.
Como o computador, afirma Levy, “o livro só se tornou uma mídia de massa quando as
variáveis de interface - “tamanho” e “massa” - atingiram um valor suficientemente baixo.”
(1993, p. 35). Comparativamente, a interface gráfica dos jornais e revistas impressos é
organizada através de manchetes, chamadas, fotos, legendas de forma a guiar o leitor por suas
notícias, até fisgar a atenção para uma matéria específica.
As características da leitura nos suportes impressos e digitais serão estudadas em breve, porém
recorreremos a outros autores para preenchermos um hiato deixado por Levy ao analisar os
modos de cultura engendrados por “tecnologias intelectuais”.
15. 15
2.2 Cultura de massas e cultura de mídias
Segundo Santaella (2003, p. 79), a cultura de massas (Quadro 2) originou-se com o jornal,
acentuou-se com o cinema (recepção coletiva) e solidificou-se com a televisão, na década de
1960. Embora o termo seja evocativo de uma grande quantidade de indivíduos alienados e
acríticos quanto às mensagens recebidas, Castells (1999; p. 360), relembra os estudos de
Humberto Eco sobre o papel do espectador no processo de comunicação televisiva:
“A conseqüência dessa análise é que aprendemos uma coisa: não existe uma
cultura de massa no sentido imaginado pelos críticos apocalípticos das
comunicações de massa, porque esse modelo compete com outros (constituídos
por vestígios históricos, cultura de classe, aspectos da alta cultura transmitidos
pela educação, etc).” (ECO, apud CASTELLS, 1999, p. 360)
O impacto desta descoberta, leva Castells (1999, p.360) a considerar que o conceito de mídia de
massa refere-se, na verdade, a um sistema tecnológico, e não a uma forma de cultura. Temos
assim, tecnologias de massa, e não, uma cultura de massa. Esta afirmação será especialmente
importante para entendermos a cultura de mídias mais à frente, onde mostraremos que este
modelo de comunicação tem características próprias e importantes para a compreensão do
fenômeno da Cibercultura.
Thompson (2002, 32-37) esclarece que, em um sistema de comunicação de massa, o fluxo de
comunicação tem um caráter transmissionista, não-dialógico. Ainda que os receptores possam
interferir com eventos e conteúdos durante o processo comunicativo, a profundidade desta
participação é circunscrita. Esta capacidade de intervenção limitada deriva do modo de
estruturação do fluxo de mensagens em sistemas em que a emissão e recepção da mensagem
ocorrem em contextos distintos. Como conseqüência negativa, tem-se a privação da interação
direta, face a face e a riqueza de feedbacks que esta permite. Por outro lado, ocorre uma
“ampliação na disponibilização das formas simbólicas no tempo e no espaço.” O caráter
institucionalizado de produção e difusão generalizada de informações, a pluralidade de
destinatários e o aumento em escala da mercantilização pública de bens simbólicos (a exemplo
dos espaços publicitários em jornais) marcam este processo comunicativo.
Como reflexo do advento das tecnologias de telecomunicação nos meados do Século XIX, em
especial o telégrafo, temos a disjunção entre o espaço e o tempo (“onde o distanciamento
espacial não mais implicava em distanciamento temporal”) e a conseqüente descoberta da
simultaneidade não-espacial (a separação da experiência de simultaneidade de seu
condicionamento geográfico). Os efeitos do telégrafo sobre as práticas jornalísticas foram
analisados por McLuhan, conforme veremos a seguir.
16. 16
Com o telégrafo, deu-se uma revolução no método de captar e apresentar as
notícias. Naturalmente, foram espetaculares os efeitos causados na linguagem,
no estilo literário e nos assuntos (2005, p.282).”
McLuhan (2005, p. 238) enfatiza que o jornal, desde o início, tendeu para uma forma
participante, em mosaico – e não para a forma livresca. O fato mais importante para a
estruturação das informações em “massa de tópicos descontínuos e desconexos”, foi o uso do
telégrafo para a recepção das notícias. A relação direta entre a forma de diagramação do
veículo com a era tecnológica vigente é exemplificada pela diferença estrutural de jornal
literário (era mecânica) para um jornal telegráfico (era da eletricidade). Enquanto no primeiro,
temos colunas representando um ponto de vista, no segundo “são expostos recortes desconexos
num campo unificado por uma data.” O autor afirma que esta tecnologia libertou a imprensa
provinciana marginal da dependência da grande imprensa metropolitana, descentralizando o
poder de comunicação. Tratava-se, então, de um meio que abolia a noção de distância espacial
por permitir a troca instantânea de mensagens. Este poder de aceleração dos processos foi, para
McLuhan, a causa do enfraquecimento do sistema de jornalismo então vigente, orientado pelas
opiniões editoriais, um reflexo da dinâmica natural do livro. No seu lugar, presenciamos o
aumento do volume de notícias e a consagração da estrutura mosáiquica.
É necessário declarar, de vez, que o ‘interesse humano’ é um termo técnico que
designa o que é que acontece quando muitas páginas de um livro ou os
múltiplos itens informacionais são dispostos em mosaico numa página. O livro
é uma forma provada e confessional que induz ao “ponto de vista”. O jornal é
uma forma confessional de grupo que induz à participação comunitária.. (....) é
a exposição comunitária diária de múltiplos itens de justaposição que confere
ao jornal a sua complexa dimensão de interesse humano. (p.231)
Holtzman reconhece no telégrafo um catalisador do desenvolvimento das mídias mosáiquicas
(expressão de McLuhan), ou seja, aquelas que apresentam a mensagem de forma descontínua.
Para o autor,
(...) a primeira página do jornal é um ícone das notícias feitas de muitos
momentos e eventos do dia anterior em todo um país e mesmo no mundo. (...)
O jornal moderno, enformado pelo telégrafo, pressagiou as qualidades da era
digital. (HOLTZMAN 1997, apud SANTAELLA, 2008, p.96)
Santaella (2007, p. 82-83) relembra que o jornal impresso foi também percussor na criação de
sintaxes híbridas, unindo palavra, foto e diagramação para a criação de uma espacialidade
informacional. A hibridização de meios, códigos e sistemas sígnicos desenvolveu-se
especialmente com o cinema e com a TV, dadas as características audiovisuais destes meios.
17. 17
Como relembra Castells (1999, p. 358), foi a TV que inaugurou uma modalidade de
comunicação totalmente nova, “caracterizada pela sedução, estimulação sensorial da realidade e
fácil comunicabilidade, na linha do menor esforço psicológico”. Esta última característica tem
sido transformada após o advento de tecnologias que permitem maior controle do usuário sobre
o sistema comunicativo, a exemplo do videocassete e os aparelhos de DVD, e mais,
recentemente, dos games, conforme defende Steven Jhonson, em Surpreendente! - A televisão e
o videogame nos tornam mais inteligentes (2005).
(...) somos uma nação de viciados em reallity shows e maníacos por Nintendo.
Perdida nesse relato, encontra-se a tendência mais interessante de todas: a de
que a cultura popular tem se tornado cada vez mais complexa durante as
últimas décadas, exercitando nossas mentes de forma mais poderosa. (2005,
p.11)
De qualquer forma, a televisão representou o fim da predominância de um sistema de
comunicação formatado pelo sistema tipográfico de Gutenberg e pela ordem do alfabeto
fonético. (MCLUHAN, 2005; POSTMAN; 1985). Mais que isso, a TV reestruturou todos os
outros meios de comunicação que a antecederam.
O rádio perdeu sua centralidade, mas ganhou em penetrabilidade e
flexibilidade, adaptando modalidades e temas ao ritmo da vida cotidiana das
pessoas. Filmes foram adaptados para atender às audiências televisivas. Jornais
e revistas especializaram-se no aprofundamento de conteúdos ou enfoque de
sua audiência. Os livros continuaram sendo os livros, embora o desejo
inconsciente atrás de muitos deles fosse tornar-se roteiro de TV. (CASTELLS,
1999, p. 355-6)
Com a introdução da TV, na década de 1960, e do acirramento da concorrência entre os jornais,
grandes periódicos se engajaram em processos de reformas editoriais e gráficas. Essas reformas
incluíam mudanças na forma de cobrir os acontecimentos e de redigir as matérias, introdução do
planejamento visual das páginas, edição das fotografias e antecipação do fechamento das
edições. Os jornais aprimoraram a apresentação gráfica, principalmente das capas, onde os
elementos editoriais fragmentavam a página, que deixaram de apresentar a monótona exposição
de matérias em colunas verticais, tornando-se vitrines de conteúdos desenvolvidos no miolo
(AZEVEDO, 2007).
A TV potencializou a lógica da fragmentação, que se acirrou com o zapping. A mídia de massa
passa a segmentar seu público. Conforme CASTELLS (1999):
(...) o fato de a audiência não ser objeto passivo, mas sujeito interativo, abriu o
caminho para sua diferenciação e subseqüente transformação da mídia que, de
comunicação de massa, passou à segmentação, adequação ao público e
18. 18
individualização, a partir do momento em que a tecnologia, empresas e
instituições permitiram essas iniciativas. (CASTELLS, 1999, p. 362)
Santaella (1992) propõe o termo “Cultura de Mídias” para definir um período posterior à
Cultura de Massas, caracterizado por fenômenos emergentes que flexibilizaram a dinâmica de
comunicação midiática, a partir da década de 1970 e mais notadamente na década de 80. Como
exemplos de tecnologias promotoras destes novos processos comunicacionais, a autora cita as
máquinas de fotocópias e de fax, o videocassete, os videogames, os walkmans e a tv a cabo. O
que todos estes meios tinham em comum? Elas ampliavam as escolhas do público, criando a
segmentação da audiência, e, consequentemente, minando a experiência massiva. Em síntese,
estes meios possibilitaram a descentralização da comunicação. Santaella (2001) lembra que a
prática do zapping (mudança de canais através do controle remoto) tornou-se, desde então, uma
preocupação central na indústria da publicidade e dos programas de TV. Sabbah (1985, apud
Castells 1990) analisou a nova situação da seguinte forma: embora a audiência continuasse
quantitativamente massiva, dois pilares da comunicação de massa haviam sido abalados - a
simultaneidade e a uniformidade da mensagem recebida. Desta forma, a cultura de mídias
deixou de ser mídia de massa “no sentido tradicional do envio de um número limitado de
mensagens a uma audiência homogênea de massa”.
Como vimos, este período é marcado pela convivência de mídias, pela hibridização de
linguagens, e pela ampliação das ações do receptor da mensagem. Para Santaella, os processos
de recepção surgidos por estas tecnologias segmentadoras, prepararam a sensibilidade dos
usuários para as formas alineares e participativas da cultura digital. Ao citar esses processos
comunicativos considerados constitutivos de uma cultura das mídias, a autora afirma:
Foram eles que nos arrancaram da inércia da recepção de mensagens
impostas de fora e nos treinaram para a busca da informação e do
entretenimento que desejamos encontrar. Por isso mesmo, foram esses meios
e os processos de recepção que eles engendram que prepararam a
sensibilidade dos usuários para a chegada dos meios digitais cuja marca
principal está na busca dispersa, alinear, fragmentada, mas certamente uma
busca individualizada da mensagem e da informação. (SANTAELLA,
2003,p. 15-16).
19. 19
CULTURA DE MASSA CULTURA DE MÍDIAS
TIPO DE CULTURA
Tecnologias segmentadoras:
Tecnologias massivas: jornal impresso,
fotocopiadoras, videoclipes, TV a
tv, radio, telégrafo cabo, videocassete, jogos eletrônicos,
TECNOLOGIAS
walkman, etc
Agentes são expostos aos mesmos Algumas tecnologias permitem
hipertextos, simultaneamente, via um
número reduzido de fontes que os usuários do sistema midiático
institucionalizadas de produção e tenha uma experiência
difusão de informação. As mídias não
de comunicação mais segmentada
PRAGMÁTICA DA permitem interações de mão-dupla,
COMUNICAÇÃO criando a dicotomia emissor-receptor, e individualizada, devido à
prevalecendo a pluralidade dos diversidade de escolha de canais.
destinatários e a prática transmissionista
de mensagens. O contexto de produção Prevalece a lógica emissão-recepção.
é separado do contexto de recepção de
mensagens.
A memória individual também é
passível de registro pela
popularização das novas tecnologias,
A memória social é objetivada, mas como gravadores de videocassete.
CARACTERÍSTICA DA
compartilhada por letrados e
MEMÓRIA
analfabetos Construção da memória individual.
Escolha e registro individualizado da
informação.
Disjunção tempo/espaço e
PERCEPÇÃO Fragmentação
simultaneidade não-espacial
DO TEMPO
Escolha/Seletividade / Experiências
VALORES Simultaneidade e uniformidade
invidualizadas
LINGUAGEM Cultura do audiovisual Sintaxes híbridas
20. 20
2.3 Cibercultura – Convergência de mídias
Para Levy (1999, p.17), um novo meio de comunicação surgiu a partir da interconexão mundial
de computadores – o ciberespaço. O conjunto de técnicas (materiais e intelectuais), de práticas,
de atitudes, de modos de pensamento e de valores que se desenvolvem juntamente com o
crescimento desta rede, é chamado de cibercultura.2 O avanço tecnológico desestabilizador do
sistema então vigente é o processo de digitalização, segundo o qual todas as fontes de
informação são passíveis de codificação em dados binários (0 e 1), armazenamento e
visualização em dispositivos informáticos. Este processo possibilitou o fenômeno da
convergência de todas as mídias anteriores em um único dispositivo, uma vez que dissociou a
informação de um suporte específico: papel, película, fita magnética, etc. (SANTAELLA, p. 83-
84). Uma das vantagens da codificação digital, é a manutenção da integridade das informações
quando copiadas e transmitidas, infinitamente. Além disso, em seu estado numérico, as
informações podem se manipuladas, e produzidas, automaticamente, em grande escala e
rapidez. (LEVY, 1999, p. 52-3).
O pixel é a expressão visual, materializada na tela, de um cálculo efetuado pelo
computador, conforme as instruções de um programa. Se alguma coisa pré-
existe ao pixel e à imagem é o programa, isto é, linguagem e números, e não
mais o real. Eis porque a imagem numérica não representa mais o mundo real,
ela o simula. (COUCHOT, 1993, p.42)
Santaella lembra, no entanto, que o ciberespaço se apropria de todas as linguagens pré-
existentes e deste hibridismo emerge uma ordem simbólica específica que “afeta nossa
constituição como sujeitos culturais e os laços sociais que estabelecemos.” (p.125). Esta nova
linguagem estrutura a visão de mundo do homem pós-moderno: um sujeito múltiplo
disseminado, descentrado e com uma identidade instável. A autora afirma que o advento das
comunidades virtuais e da inteligência coletiva são as principais conseqüências da cibercultura.
Embora as comunidades virtuais não sejam uma particularidade desta (STONE, apud
SANTAELLA, 2003), a World Wide Web, as potencializa. Por comunidades virtuais, entende-se
grupos de pessoas conectadas globalmente na base de interesses e afinidades, em lugar de
conexões acidentais ou geográficas. Para Levy (1999, p.129), estas comunidades ampliam as
formas de debate público e as possibilidades de interação social, incluindo as presenciais. Ele
afirma também que o objetivo último de toda comunidade virtual é desfrutar de uma inteligência
coletiva. Estes dois fatores – comunidades virtuais e inteligência coletiva - somados à
interconexão dos computadores constituem os três princípios básicos da cibercultura. “A
2
Para maiores informações das origens históricas da cibercultura, consultar Cibercultura, de Pierre Levy.
1999
21. 21
interconexão condiciona a comunidade virtual, que é uma inteligência coletiva em potencial.”
(Ibid, p. 134).
Levy pondera que o processo de virtualização do mundo teve início com a escrita, que permitiu
a telecomunicação, a telepresença e a comunicação assíncrona. A novidade, segundo o autor,
está na possibilidade de compartilhamento de uma memória comum por determinado grupo, em
tempo real, independente da localização geográfica, horários ou número de participantes (1999,
p. 43)
2.3.1 O hipertexto
O termo hipertexto foi criado por Theodore Nelson para representar a ideia de uma escrita e de
uma leitura não linear em um sistema de informática. Porém, de acordo com Lévy (1993, p. 25),
o hipertexto pode ser uma metáfora válida para todos os âmbitos da realidade onde significações
e interpretações estejam presentes. O autor identificou seis princípios do hipertexto, enquanto
modelo teórico:
I. Principio de metamorfose
o A rede hipertextual possui uma configuração dinâmica.
II. Princípio de heterogeneidade
o Os nós e as conexões de uma rede hipertextual são de natureza heterogênea:
analógica, digital, multimodais, etc
III. Princípio de multiplicidade e de encaixe das escalas
o O hipertexto possui uma estrutura fractal, ou seja, a análise de cada um de seus
nós pode revelar uma rede análoga em escala.
IV. Princípio de exterioridade
o A modificação da rede depende de um agente exterior indeterminado.
V. Princípio de topologia
o A forma da rede é determinada pelas associações entre os nós.
VI. Princípio de mobilidade dos centros
o A rede possui diversos centros móveis, trazendo ao redor de si diversas
ramificações.
Todos estes princípios se aplicam à forma como o ser humano cria, mentalmente, redes de
significados por associação de informações. Não por acaso, este foi o modelo proposto pelo
22. 22
cientista Vannevar Bush (1945) para solucionar o já crescente problema de armazenamento e
recuperação de documentos. Em seu ensaio visionário, “As We May Think”, Bush idealiza um
aparato tecnológico constituído por uma rede hipertextual de informações em diversos formatos,
chamado Memex.
Nossa principal dificuldade em encontrar as informações de que precisamos
estão relacionadas à superficialidade dos sistemas de indexação adotados. A
informação é normalmente indexada ou em ordem alfabética ou em ordem
numérica. Mas a mente humana não funciona dessa forma. Ela não opera por
ordenamento alfabético ou numérico. Ela opera por associação. Quando ela
apreende um item, ela salta imediatamente para o próximo que lhe é sugerido
por associação de idéias, em função de algum processo complexo de
elaboração de "trilhas" que é executado pelo seu cérebro. (Bush, 1945, p.)
A aliança da metáfora de rede com o suporte informático, deu origem a um tipo de interface que
“retoma e transforma antigas interfaces da escrita.” (Levy, 1993, p. 34). Uma interface é
constituída por uma série de dispositivos lógicos, classificatórios e espaciais que determinam o
tipo de relação do leitor com a informação. Por exemplo, os elementos de interface
desenvolvidos a partir da técnica de impressão de Gutenberg, tais como páginas de títulos,
cabeçalhos, numeração regular, sumários, notas e referências cruzadas possibilitaram o acesso
não linear às informações, a segmentação do saber em módulos, a conexão a outras referências
bibliográficas, etc. Além destes elementos visuais, Levy considera determinantes para a
experiência cognitiva: a natureza do suporte da informação (papiro, papel, argila, pergaminho,
etc), a forma como este se apresenta (organização do livro em códex ou em rolos, por exemplo)
e a portabilidade dos suportes (favorecendo ou não a mobilidade).
A partir dos exemplos de Levy (1993, p.56-57) concluímos que o termo hipertexto – ou
texto em rede – é um mecanismo de estruturação de informações que flexibiliza o
acesso aos documentos de um dado sistema. Os nós (elementos de informação), os
conectores (elementos de orientação) e a estrutura não-linear caracterizam um
documento hipertextual, a exemplo das bibliotecas, notas de rodapé, índices, etc. O
suporte digital em rede possibilitou: a navegação instantânea em hipertextos (e a
ampliação da escala), a associação de vários formatos de informação (imagem, texto,
áudio, vídeo) e a mistura de fusão entre leitura e escrita (na medida em que os
documentos digitais na web podem ser editáveis por seus leitores). Dentre os problemas
do uso do hipertexto como interface da cibercultura, o autor pontua a perda da noção de
totalidade (não há totalidade no ciberespaço). A interface digital da tela dos
computadores oferece uma visão parcial do conteúdo, levando ao aumento da dispersão
23. 23
da atenção, e conseqüente necessidade de elementos de orientação para melhor acesso
aos documentos. Por sua capacidade de tornar os hipertextos “explicitamente
disponíveis, diretamente visíveis e manipuláveis à vontade”, Levy considera “os
esquemas, mapas ou diagramas interativos as interfaces mais importantes das
tecnologias intelectuais de suporte informático.”
O jornal encontra-se todo em open Field, já quase inteiramente desdobrado.
A interface informática, por outro lado, nos coloca diante de um pacote
terrivelmente redobrado, com pouquíssima superfície que seja diretamente
acessível em um mesmo instante. A manipulação deve então substituir o
sobrevôo. (LEVY, P. 36)
2.3.2 Elementos originais da cibercultura – bancos de dados, imagens de síntese e
programas
Além da peculiaridade da codificação digital, sistema fundamental de gravação e transmissão de
informações na cibercultura, Levy (1999, p. 62) aponta dois conceitos originais em relação às
mídias já estudadas: a informação em fluxo e o mundo virtual. Ambos são considerados
dispositivos informacionais, pois qualificam a estrutura da mensagem.
O espaço de fluxos diz respeito aos dados armazenados em bancos digitais, passíveis de
atualização a qualquer momento (tempo real), e recuperáveis graças a sistemas especialistas e a
programas de simulação. Se comparada à oralidade primária, quando não se dispunha de
técnicas de armazenamento exterior ao corpo, e à sociedade histórica, fundada sobre a escrita,
LEVY conclui que o saber informatizado afasta-se tanto da memória (o saber de cor), que o
conceito de verdade (no sentido de exatidão) perde sua importância em função de outros valores
como a operacionalidade e a velocidade. (Ibid, p.119). Desta forma, critérios de pertinência
local e temporal substituem os de universalidade e objetividade, instaurados pelo pensamento
científico. Se a função do pensamento teórico é a de explicar ou esclarecer um fenômeno, cabe
aos simuladores dizer “como”. (Ibid, p.121)
Por analogia com o tempo circular da oralidade primária e o tempo linear das
sociedades históricas, poderíamos falar de uma espécie de implosão
cronológica, de um tempo pontual instaurado pelas redes de informática.
(LEVY 1999, p. 115)
24. 24
O segundo conceito original da cibercultura é o mundo virtual, formado por imagens de síntese,
também chamadas de infografias3, imagens de terceira geração (PLAZA, 1993). Uma imagem é
classificada desta forma se for obtida por processos de síntese numérica digital e, portanto, por
ter um caráter originalmente virtual4, não mantendo nenhuma relação física com algo pré-
existente. O resultado da digitalização de uma fotografia (imagem analógica) não é, portanto,
uma imagem de síntese, mas, uma imagem digital. Toda imagem de síntese é também uma
imagem digital, mas nem toda imagem digital é uma imagem de síntese. (PARENTE, 1993, p.
284). Este método original de produção de imagens, “subverte os conceitos de cópia, de original
e de reprodutibilidade” (PLAZA, 1993, p. 284). Quéau (1993, p.93), por sua vez, chama nossa
atenção o fato de que estas imagens são essencialmente linguagens com potencial para a
visualização, e que nisto reside seu poder: “em sua capacidade de interação com o espectador e
na possibilidade de geração em tempo real”.
Flusser (2007) propõe um estudo das formas de codificação da informação em duas categorias:
linha e superfície. O registro linear foi propiciado pela tecnologia da escrita, como já foi dito
também por Levy (1999). Os códigos de superfície, por sua vez, propiciam um tipo de
experiência diferente entre sujeito e informação, e caracterizam o modelo predominante de
nossa época (Ibid, p.102). São imagens de todos os tipos, analógicas ou digitais, dinâmicas ou
estáticas e também as cores, por seu poder de transmitir mensagens. O filósofo destaca ainda a
natureza numérica das imagens de síntese que propiciou um novo modo de produção imagético.
Sobre este fenômeno, Flusser adverte: “temos que aprender a renunciar as explicações causais
em favor do cálculo de probabilidades...” O mundo virtual pode ser considerado, então, como a
quarta dimensão da imagem (PARENTE, 1993), um espaço contínuo, com o propósito de
favorecer a exploração de simuladores ou modelos por usuários. Este tipo de conhecimento por
simulação digital de um sistema modelado (planilhas, simuladores, games, etc) favorece uma
forma de conhecimento distinta do “conhecimento teórico, da experiência prática e do acúmulo
de uma tradição oral” (LEVY, p.122). Enquanto a escrita é uma tecnologia intelectual que
expande a memória de curto prazo, a informática de simulação e visualização expande a
imaginação e a intuição (Ibid, p.126). Trata-se de um conhecimento de cunho operatório, onde a
interpretação (requisito da escrita) dá lugar à exploração.
3
Não confundir com o termo infografia (gráfico informativos), usado para definir uma representação
diagramática de dados. (Cairo, 2008; 21).
4
Segundo LEVY, "(...) o virtual não se opõe ao real, mas sim ao atual. Contrariamente ao possível,
estático e já constituído, o virtual é como o complexo problemático, o nó de tendências ou de forças que
acompanha uma situação, um acontecimento, um objeto ou uma entidade qualquer, e que chama um
processo de resolução: a atualização." (1996, p.16)
25. 25
Sobre a infra-estrutura técnica do virtual, Levy destaca os programas
(em inglês, software) que são listas de instruções codificadas destinadas a fazer com que os
processadores cumpram determinadas tarefas. O ciberespaço está repleto de programas com as
mais diversas funcionalidades. Os programas aplicativos permitem ao computador prestar
serviços específicos aos usuários, como editores de textos, planilhas, calculadoras, envio de e-
mails, navegadores web, buscas em bancos de dados e blogs5. Por meio de “knowbots”, ou
“agentes inteligentes” os usuários podem delegar tarefas para os computadores, substituindo a
interação por manipulação direta por interação com assistentes automatizados. (SANTAELLA,
2003, p.109). Este paradigma emergente tem sido chamado de gerenciamento indireto (COSTA,
1999) e parece ser uma tendência de interface.
Por fim, é importante lembrar que a compatibilidade entre softwares e hardwares6 na rede
depende da adoção de padrões como os estabelecidos e regulamentos pela W3C7. Esta
interconexão, como vimos, é um dos princípios básicos da cibercultura. É ela quem torna
possível uma civilização de telepresença generalizada.
2.3.3 Cibercultura 2.0
Santaella (2009) e Lemos (2005) defendem que o advento de um conjunto de processos e de
tecnologias inauguraram uma nova fase de desenvolvimento da cibercultura, marcada pela
computação móvel e pervasiva associada aos sistemas de localização geográfica (GIS). Esta
combinação deu origem às mídias locativas digitais, em que conteúdos são agregados a um
lugar específico, “servindo para funções de monitoramento, vigilância, mapeamento,
geoprocessamento, localização, anotação ou jogos.” (LEMOS, 2008).
Mídia Locativa. Tecnologias e serviços baseados em localização cujos sistemas
infocomunicacionais são atentos e reagem ao contexto. (...) Dimensão atual da
cibercultura constituindo a era do “ciberespaço vazando para o mundo real”
(Russel, 1999), a era da “internet das coisas”. (Manifesto sobre Mídia Locativa,
Lemos, 2009, online)
5
Blog: Abreviação de “web blog” (registro de informações na web), o termo inicialmente se referia a uma
plataforma tecnológica que permitia atualização fácil e rápida de conteúdo na web. Cada vez mais, passou
a se referir a uma forma de publicação de origem alternativa, em resposta a informações que circulam em
outros blogs ou nas mídias comerciais. (Jenkins; 2008, 330)
6
Software: conjunto de instruções em lingaugem de máquina que controlam e determinam o
funcionamento do computador e de seus periféricos. Hardware: qualquer componente físico de um
computador. (LEVY, 199, 259)
7
O Consórcio World Wide Web (W3C) é um consórcio internacional no qual organizações filiadas, uma
equipe em tempo integral e o público trabalham juntos para desenvolver padrões para a web. A missão do
órgão é conduzir a World Wide Web para que atinja todo seu potencial, desenvolvendo protocolos e
diretrizes que garantam seu crescimento de longo prazo. Acessível em: http://www.w3c.br/sobre/
26. 26
Novas práticas sociais têm emergido deste cenário em que o indivíduo tem acesso à rede por
meio de dispositivos sem fio, e onde intervenções virtuais podem ressignificar a percepção de
determinado espaço geográfico, como no caso da realidade aumentada. As principais diferenças
entre mídias locativas digitais e análogicas estão dispostas no quadro 6.
Santaella aponta que nesta segunda fase da cibercultura, a dicotomia real/virtual deixa de fazer
sentido. O que está em jogo é a emergência de espaços interticiais.
Os espaços intersticiais referem-se às bordas entre espaços físicos e digitais,
compondo espaços conectados, nos quais se rompe a distinção tradicional entre
espaços físicos, de um lado, e digitais, de outro. Assim, um espaço intersticial
ou híbrido ocorre quando não mais se precisa “sair” do espaço físico para
entrar em contato com ambientes digitais. (Santaella, 2008, p.21)
MÍDIA LOCATIVA DIGITAL MÍDIA LOCATIVA ANALÓGICA
Informação massiva genérica sem
Personalização da informação, identificação feedback ou processamento.
do usuário. Mídia “smart”.
Dados digitais e bancos de dados com Dados primários estáticos.
informações de contexto local.
Emissão por redes sem fio e captação em dispositivos Estática, “vista ao acaso”.
móveis. Pervasiva e sensitiva.
Processamento e customização da informação
(controle, monitoramento, personalização). Não processa informação.
Dados variáveis e modificáveis em tempo real. Dados estáveis.
Quadro 6 - Comparação entre mídias locativas digitais e analógicas – Lemos (2008)
27. 27
Lemos (2008) prefere o termo “territórios informacionais” para definir estas “áreas de controle
do fluxo informacional digital em uma zona de intersecção entre o ciberespaço e o espaço
urbano”. “O ciberespaço é, ao mesmo tempo, lócus de territorialização (mapeamento, controle,
máquinas de busca, agentes, vigilância) mas também de reterritorialização (blogs, chats, P2P,
tecnologias móveis)” (LEMOS, 2006, p. 15). Se antes as trocas informacionais eram originadas
em meios massivos, com a cibercultura a interação entre pessoas passa, também, a ser efetuada
pela internet fixa, mas limitada a lugares com estrutura de fios de eletricidade (escritório, lares,
escolas). Na fase emergente, a troca de informações emerge de objetos que emitem localmente
informações, processadas através de artefatos móveis conectados à rede mundial de
computadores. Os próprios artefatos comunicam-se automaticamente entre si, realizando o que
tem sido chamado de “internet das coisas”, internet 3.0 e Web 3.0.
Dentre as principais tecnologias relacionadas a este feito, destacam-se: “dispositivos móveis
(telefones celulares, smartphones, GPS), redes telemáticas sem fio (Wi-Fi, Wi-Max, Bluetooth,
GPS) e sensores (RFID, principalmente)” (Lemos, 2009, p. 623). Estes artefatos permitem que
informações locais sejam armazenadas em bases de dados remotos, e recuperadas quando o
usuário estiver em uma posição geográfica específica. Em 2008, o jornal New York Times e o
Google fecharam uma parceira para possibilitar a indexação de notícias no Google Earth,
inaugurando a prática do geo-jornalismo online. Desta forma, os leitores do jornal podem
navegar
pelas notícias de uma forma completamente nova: geograficamente. Outra prática emergente e
em ascensão, é o jornalismo “hiperlocal” que une colaboração de usuários e cobertura
comunitária, como o Bairros.com8, do Jornal O Globo.
8
http://oglobo.globo.com/rio/bairros/
28. 28
CIBERCULTURA
TIPO DE CULTURA
Primeira Fase Segunda Fase
Computadores móveis
Computador desktop (fixo) +
(digitalização da informação) Redes sem fio
+ +
Telecomunicações (rede) Sistemas GIS (tecnologia de mapeamento geográfico)
TECNOLOGIAS
Convergência de mídias Advento das mídias locativas digitais
Internet das pessoas Convergência de mídias
Internet das coisas
Agentes compartilham hipertextos próximos, mesmo estando geograficamente dispostos.
Forma de socialização: comunidades virtuais/redes sociais
PRAGMÁTICA DA
COMUNICAÇÃO
Exploração da realidade móvel aumentada
Exploração da realidade virtual
no espaço urbano
Desterritorialização
Hibridação do espaço físico com o ciberespaço
Ciberespaço
CARACTERÍSTICA A memória social é objetivada, mas em constante transformação, construída e desconstruída
DA MEMÓRIA coletivamente, intermediada por computadores em rede
TEMPO REAL
PERCEPÇÃO
29. 29
DO TEMPO
Declínio do estatuto de verdade e da crítica (uso de simuladores e modelos operacionais)
Valorização da imediatez e da mudança
Pertinência local das informações (diminui a pressão pelo universalismo)
Simultaneidade e descentralização
Multiplicidade de escolhas / exploração
Autoria e co-autoria / negociação
Fragmentação, dispersão, alinearidade
Cultura de acesso e não de posse
Identidade instável
Interação e iteração
Imaginação
VALORES Registros em bancos de dados
Reterritorializações (territórios informacionais): Novas
formas de apropriação do urbano
Desterritorialização
Importância do Contexto (hiperlocal)
Acesso por redes fixas
Mobilidade
Apropriação do ciberespaço
Conectividade
LINGUAGEM
Hipertextual / hibridização / Interação
30. 30
III. ESTUDO EMPÍRICO
O referencial teórico aqui estudado nos permitiu compreender melhor que caminhos
seguir no trabalho de campo, pois algumas características do jornalismo impresso que
julgávamos ser decorrentes do advento da internet são devidas a tecnologias mais
remotas, como o telégrafo, por exemplo. Em decorrência do exposto, foram então
discriminadas seis categorias de análise das interfaces impressa e online de O Estado de
S. Paulo, Folha de S.Paulo, Estado de Minas e O Globo, e apenas online para os jornais
G1 e New York Times. Por interface, adotamos a definição de Levy: “Uma série de
dispositivos lógicos, classificatórios e espaciais que determinam o tipo de relação do ser
humano com a informação” (1993, p. 34)
Categorias de análise de interface
Posicionamento da marca: público, história, marca (símbolo, slogan e nome) endereço
na web. Observar a correlação entre o posicionamento impresso e online e se a forma de
acesso online é intuitiva, como o nome do domínio, por exemplo. Verificar se há uma
identidade corporativa entre as duas presenças ou se a imagem da marca é fragmentada.
Estrutura do jornal
- Cadernos e suplementos: (nomes e número de cadernos e suplementos).
Observa se as versões online mantêm a mesma categorização que os impressos e se
surgiram novas categorias como advento da web.
- Primeira capa - As capas de jornais impressos sofreram alguma mudança
estrutural e simbólica que possa ser atribuída à cibercultura? (Para jornais em que foi
possível analisar edições anteriores à web, comparar antes e depois.) Observar também:
o Variedade de assuntos por página
o Tamanho dos textos (informação por texto + informação por imagens)
Elementos de hipertextualidade: elementos que quebram a
sequencialidade/linearidade do texto ampliando as informações relativas ao assunto.
31. 31
Códigos de superfície: (cores, gráficos, ilustrações, fotografias, infográficos, etc)
Alguma transformação pode ser notada nos jornais em relação ao uso de recursos
imagéticos?
Por infográficos, adotamos a definição de Cairo (2008: 21), para o qual infografia é uma
“representação diagramática de dados”; bem como sua proposta de classificação (p.29),
em infográficos estetizantes (predomínio de ilustrações informativas) e analíticos
(visualização de dados; gráficos estatísticos).
Interação com o leitor: Observar se há opções para o leitor interagir com o Jornal e
com outros leitores e a presença do Jornal em mídias sociais.
Convergência de mídias (tv/rádio/revistas/web etc) O fenômeno da convergência de
mídias é notada? Por quais indicadores?
Presença online extra site – Observar se há formas de o conteúdo do jornal ser
acessado por outros meios além do site e do jornal impresso
Formas opcionais de visualização e filtro do conteúdo - Observar se o jornal online
oferece outras formas de visualização de seu conteúdo: como simulação da versão
impressa (flip page) ou acesso por filtros prévios ou livres (ferramenta de busca)
Publicidade – Observar os tipos de anúncios em cada meio, a quantidade e o espaço
dedicado à publicidade.
A seguir, serão apresentadas as respostas a estas perguntas para cada um dos jornais
analisados. Para fins didáticos, cada categoria será analisada primeiro para a versão
impressa e, logo depois, para a versão online. No capitulo 4, será feita uma análise
crítica dos resultados aqui apresentados, uma vez que nossa intenção não é comparar os
jornais entre si, mas encontrar padrões de comportamento e tendências em suas práticas
mais emergentes que nos mostrem qual o estágio de apropriação da web por este
segmento.
32. 32
3.1. Jornal Estado de Minas
Nos jornais do período de 1985 a 2001 não foram aplicadas os critérios as categorias de analise
definidas no item três (estudo empírico). Essas categorias só se aplicam aos jornais analisados
em 2009 por estarem inseridos no contexto da web 2.0.
Em 2008 o jornal Estado de Minas comemorou 80 anos de existência. Publicado pela primeira
vez no dia 7 de março de 1928, esse periódico, considerado um dos mais importantes jornais
mineiros, faz parte dos Diários Associados, um poderoso grupo de comunicação, criado por
Francisco de Assis Chateaubriand em 1924. Ao longo dos anos, o EM foi, diversas vezes,
premiado internacionalmente pelo seu design gráfico e até hoje é referência nessa área.
Nessa pesquisa analisamos exemplares do jornal do período que vai de 1985 até 2009.
Iniciamos a analise a partir de 1985 para observar o impresso antes do advento da Internet. A
análise de edições de 1988 teve como objetivo observar o início da utilização de imagens em
policromia em algumas páginas do jornal, contudo, tirando este fato, a estrutura diagramática
desse período é muito similar à de 1985. As análises se referem aos anos das reformas
ocorridas no Estado de Minas.
Em 1996 houve uma reforma gráfica (que normalmente ocorre ao mesmo tempo em que a
reforma editorial), contudo a reforma editorial ocorreu apenas em 1998, portanto levantamos
dados sobre esses dois períodos. Em 2001 houve outra reforma gráfica e editorial. E a última foi
em 2004. Como o projeto gráfico de 2004 está vigente até hoje, optamos por incluir na
pesquisas as edições de 2009, ano de publicação deste artigo. Com a finalidade de estudar todos
os cadernos publicados em cada período, decidimos analisar edições de todos os dias da
semana, com exceção de 1985 e 1988, quando o jornal não era publicado nas segundas. Dessa
forma procuramos entender como a estrutura diagramática do jornal foi se transformando com o
objetivo de adequar a leitura a uma nova dinâmica.
As datas das edições analisadas são:
1985 – 26/11/85 – 27/11/85 – 28/11/85 – 29/11/85 – 30/11/85 – 01/11/85
1988 – 20/03/88 – 22/03/88 – 23/03/88 – 24/03/88 – 25/03/88 – 26/03/88
1996 – 07/03/96 – 08/03/96 – 09/03/96 – 10/03/96 – 11/03/88 – 12/03/88 – 13/03/88
1998 – 31/05/98 – 01/06/98 – 02/06/98 – 03/06/98 – 04/06/88 – 05/06/88 – 06/06/88
2001 - 07/03/01 – 08/03/01 – 09/03/88 – 10/03/88 – 11/03/88 – 12/03/88 – 13/03/08
2009 – 27/10/09 – 28/10/09 – 29/10/09 – 30/10/09 – 31/10/09 – 01/11/09 – 02/11/09
2009 (edições complementares de domingo) – 31/05/09 – 14/06/09 – 21/06/09 – 05/07/09 –
19/07/09 – 20/07/09 – 26/07/09 – 23/08/09 – 13/09/09
33. 33
O Estado de Minas em 1985
Os cadernos existentes na época eram: Turismo, (figura 01) 2º Seção, Agropecuário
(complemento), Dinheiro Vivo, Feminino, Fim de Semana, Classificados especiais, Veículos e
Pequenos anúncios.
Figura 1 - Caderno De Turismo Em 1985
Na capa do jornal havia algumas notas completas: nesse caso, toda a notícia se encontrava na
capa, não havia indicação para o miolo. Contudo a maior parte delas contava com indicações
para a página onde se encontra a matéria completa. Os elementos gráficos na capa se
restringiam às fotografias (figura 2).
Figura 2 - Capa 1985
Os textos da capa eram extensos e organizado em seis colunas. No geral, havia uma
hierarquização das notícias. Para destacar alguns elementos na página, eram utilizados alguns
títulos em itálico, quadros informativos, linhas e tipografia em tamanhos variados. Neste
período, o jornal ainda não era impresso em policromia.
34. 34
O uso de fotos e recursos gráficos não era tão freqüente quanto no jornal atual, porém em
cadernos como “fim de semana” e “feminino” (figura 3) havia uma preocupação maior com o
uso de imagens e outros recursos. A maior parte desses elementos eram ilustrações. Havia
também algumas charges, que ocupavam um espaço ainda tímido na página. Na época já existia
um infográfico sobre previsão do tempo (figura 4).
Figura 4
Figura 3 - Caderno Feminino – 1985
O espaço para diálogo com o leitor era reduzido, a seção ‘Cartas à redação’ ocupava apenas
uma coluna (figura 5).
Figura 5 - Cartas à Redação (em destaque)
A interação com outros meios de comunicação era grande. Cinema, TV, teatro e música eram
assuntos recorrentes na publicação e também havia muita publicidade sobre esses meios. Havia
35. 35
uma seção chamada “telemania” com novidades sobre o universo televiso, além de comentários
feitos por um especialista. Às vezes eram publicadas cartas de leitores, que opinavam sobre um
programa de TV. Essa interação era voltada principalmente para a divulgação de filmes e
programação das principais emissoras, também havia dicas sobre peças de teatro em cartaz.
O Estado de Minas de 1988
Em 1988 o jornal usa, pela primeira vez, imagens em policromia na capa do impresso e na capa
de alguns cadernos (Figura 6). O miolo continuava monocromático. Os cadernos eram os
mesmos de 1985, contudo o estilo tipográfico de alguns títulos foi alterado. A capa continuava
apresentando uma predominância textual com poucos recursos gráficos.
Os anúncios publicitários eram frequentes, alguns ocupando a página inteira. Os mais
recorrentes eram sobre o Governo de Minas Gerais, no caderno de política, eletrodomésticos e
eletrônicos e comunicados.
Figura 6 - Imagem policromia – Caderno De Esportes (20/03/1988)
36. 36
O Estado de Minas de 1996
Foi a partir da queda da “Lei de reserva de mercado para Informática” em 1992, que o Estado
de Minas começou a investir em páginas visualmente mais atrativas. Foi nessa época também
que as editorias de arte, infografia e ilustração foram criadas no EM.
Com a chegada da internet e de tecnologias gráficas, alguns pontos, como informações visuais e
interatividade ganharam importância e projeção. Em 1996 podemos perceber várias mudanças
no Estado de Minas. No dia 07 de março de 1996, foi implementada uma reforma gráfica, feita
pelo designer cubano Mario Garcia. A reforma começou em novembro e 1995, atingindo,
primeiramente, o caderno “Informática” e “Telecomunicações” para depois ser implantada no
restante do jornal.
Nessa época, a organização das editorias do jornal foi modificada, existia o caderno principal,
que era dividido em várias seções, como: Economia, Esportes, Exterior, Indicadores e dólar,
Nacional, Opinião, Policia e Política, Local, Ciência e Tecnologia e Consumidor. Além disso,
havia vários outros cadernos e suplementos. Eram eles: Especial, Esportes (Figura 7)
Espetáculo, Gerais, Pequenos anúncios, Turismo, Gabarito, Gurilândia, Feminino, Veículos,
Final de semana, Informática, Agropecuário. As cores eram utilizadas em alguns títulos com o
objetivo de destacar e evidenciar determinados conteúdos.
Figura 7 - Capa de caderno em 1996
A capa (figura 8) deste período apresenta elementos de alinearidade como índice e chamadas
com indicação da página da matéria. Notamos aí a introdução da indicação do site do Estado de
37. 37
Minas, que aparece bem timidamente no final da última coluna, no rodapé da página (marcação
1).
Figura 8 - Capa de 1996
Nessa época, os recursos gráficos utilizados nas páginas do impresso ganharam mais espaço,
como forma de atrair o leitor e facilitar a absorção do conteúdo. A hierarquização dos elementos
torna-se mais evidente, recursos como tabelas, cores, títulos de retrancas (Figura 9) foram
introduzidos com o objetivo de hierarquizar o texto e facilitar a leitura.
O tamanho da fonte do titulo e do subtítulo na página também reflete a hierarquização. Notamos
claramente a presença de notas, matérias e reportagens, mas os textos se tornaram mais enxutos,
já que havia mais elementos gráficos como ilustrações. Nesse momento, a internet já estava em
fase de crescimento, e o processo de informatização das redações já havia começado.
As imagens passaram a ser usadas mais freqüentemente em todo jornal e o espaço ocupado por
elas também passa a ser maior. Havia diversos elementos gráficos que destacavam o texto como
linhas e espaçamentos maiores. Havia também ilustrações, quadros de informações, além de
alguns infográficos (figura 10).
38. 38
Figura 9
Figura 10 - Infográfico
A interatividade com o leitor também aumenta nesse período. O jornal passa a dedicar mais
espaço para a seção Cartas à Redação. Foi criado o Tell Service Cidadão, que permite a
interação do leitor através de pesquisas de opinião, além disso, o Tell Service também é
utilizado como um serviço de apoio à sociedade, disponibilizando informações sobre saúde,
educação, lazer, entre outros. Por último, através do Tell Service, o EM divulga informações,
que por questão de horário, não foram publicadas na edição do jornal do dia anterior, chamado
de Jornal Interativo (figura 11). Também há a seção fale com o editor, espaço para que o leitor
tire dúvidas e dê sugestões. O número do telefone comercial de vários departamentos e
funcionários do EM também foram incluídos ao lado do título de algumas seções e cadernos,
39. 39
como economia e esportes. Esses novos recursos têm como objetivo suprir uma necessidade de
interação maior com o leitor que a internet já começava a possibilitar.
Figura 11 - Tell Service
O diálogo com outros tipos de mídia englobava agora, além das mídias tradicionais, como
cinema e TV, a Internet. Inclusive o Estado de Minas inaugurou um provedor de acesso à
internet, chamado de Net Service, (figura 12) que posteriormente passou a se chamar Uai.
Figura 12 - Net Service
A reforma editorial de 1998
Em 1998 houve ume reforma editorial no Estado de Minas. Normalmente a reforma editorial
acontece simultaneamente à reforma gráfica, porém esse caso foi uma exceção. Essa reforma
consistiu em um processo no qual as diretrizes editoriais foram revistas.
As seções dentro do primeiro caderno eram: Exterior, Nacional, Opinião, Política, Ultimas,
Ciência e Tecnologia, Economia, Esportes e Indicadores. Os outros cadernos eram:
Classificados, Economia, Espetáculo, Esportes, Feminino, Final de semana, Gerais, Guia de
negócios, TV, Veículos, Informática, França 98, Campus, Agropecuário, Onde Morar, Turismo,
Ecológico, Gabarito, Viver BH e Pensar.