A Teologia da Libertação (TdL) e a Teologia da Missão Integral (MI) são abordadas. A TdL surgiu na América Latina nos anos 1960-1970 como uma teologia que reflete criticamente sobre a prática de libertação dos oprimidos. Leonardo Boff explica a TdL como tendo três dimensões: libertação social, humana e transcendente. A MI enfatiza que a missão de Deus inclui tanto a evangelização quanto trabalhar para a justiça social de forma integral.
2. Proposta da Aula
• Apresentar de forma panorâmica (conceito
e história) de duas teologias importantes
para o contexto latino americano e
brasileiro:
– TdL
– MI
5. TdL - 1
• no pensamento grego em geral, a libertação por mais que fosse
desejada, não era alcançada devido à tríplice corrente: Destino,
natureza e história, onde o homem permanece sujeito sem
qualquer oportunidade ou chance de mudá-la.
6. TdL - 1
• judaísmo e o cristianismo = uma nova concepção de libertação,
que tira a idéia de destino e centraliza Deus, como o libertador da
humanidade (em todos os sentidos).
7. TdL - 1
• Para Hegel, a libertação é obra do espírito absoluto
(iluminismo/modernidade), e este “espírito” é o próprio homem que
não depende de recursos, ou seja, não existem “barreiras” ou
perigos que o ameacem, pois, esta liberdade já está sendo
manifestada no mundo de hoje e no seu mover na história.
8. TdL - 1
• Para Kant, a libertação é uma “república moral”, onde o ser humano
supera interiormente a motivação passional interessada a
obedecer à lei, ou o que ele chama de “dever”, que por sua vez é
externo ao homem em seu curso.
– Segundo o pensador, este ato de conseguir atuar na própria
interioridade do ser, é conhecido também como “igreja visível”, que é a
representação do reino moral de Deus constituído pelos homens
9. TdL - 1
• Para Kierkegaard, libertação é conseqüência ou
“aquisição” da fé, que é obra de Deus e não do homem
10. TdL - 1
• Contrapondo Kierkegaard, Nietzsche considera a
libertação como obra central da filosofia.
– Para ele, o homem é escravo da lógica, da metafísica, da moral e da
religião. E o homem só obterá a libertação (Ou inocência), quando este
demolir o mundo dos valores construídos pelos medíocres, revertendo
os valores tradicionais e estabelecendo o posto, como por exemplo:
Moralidade por imoralidade, religião por ateísmo etc.; que está
reservado somente ao “super-homem” vencê-la.
11. Libertação
• Sou da opinião que a pesquisa cientifica e filosófica é indispensável
para entender a realidade humana e para adquirir válidos
conhecimentos sobre as estratégias a adotar para realizar a
libertação. Mas ao mesmo tempo convencido, por motivos teóricos
mais que históricos, que uma adequada compreensão do homem e
uma teorização plenamente satisfatória da estratégia da libertação,
ultrapassa as possibilidades da razão. É um setor este cuja palavra
definitiva cabe a fé (1980, p. 24). – Battista Mondin.
MONDIN, B. Os teólogos da libertação. São Paulo: Paulinas, 1980.
12. Libertação
• vocação esta que é a nossa ação para a salvação/libertação do
próximo, que busca primeiramente a mudança do ser (do
pecado à justiça), e depois a mudança do mundo em que
vivemos (da situação de pecado à situação de justiça). Citando
Comblin, ele diz o seguinte acerca dessa nossa vocação:
Se a liberdade é agir, não é qualquer agir. A mensagem cristã é muito
clara. O que desperta o ser humano como pessoa, por conseguinte
como liberdade, é o outro. O outro, sobretudo o Outro diferente, por
exemplo, o pobre, o estrangeiro, o pecador, o escravo e, sobretudo,
a mulher para o homem e o homem para a mulher. O outro
questiona, obriga a fazer alguma coisa. (Comblin, 1998, p.243)
COMBLIN, José. Vocação para a liberdade, São Paulo: Paulus, 1998.
14. TdL - 2
• Historicamente a TdL é um movimento de cunho
teológico que desejou mostrar aos cristãos, que a sua fé
deve ser vivida numa práxis libertadora.
– Destaque para alguns inspiradores dessa práxis:
• Bartolomeu de Las Casas
• Antonio de Montesinos
15. TdL - 2
• Sua manifestação se deu principalmente em países da
América Latina por volta dos anos 60/70, observando os
ambientes político-sociais, culturais e religiosos.
16. Contexto da AL
• Ditadura na AL (década de 60 até fim da 80)
- Brasil (1964-1985)
29. TdL - 2
• efervescência eclesial e teológica também perfizeram a
TdL.
– Com destaque ao Concílio Vaticano II (1962-1965) que de certa
forma proporcionara aos teólogos católicos e também os
protestantes, de refletirem teologicamente acerca da ação
pastoral no continente.
• Lado católico destacamos: Gustavo Gutiérrez, Segundo Galilea,
Juan Luis Segundo, Lucio Gera etc.
• Do lado Protestante: Emílio Castro, Júlio de Santa Ana, Rubem
Alves e José Miguez Bonino.
30. TdL - 2
• Segundo Leonardo Boff, em 1964 um dos pais da TdL – o teólogo
Peruano Gustavo Gutiérrez, apresenta o conceito dessa nova
teologia, que era uma teologia como reflexão crítica sobre a práxis.
• Em 1968, a partir de Medellín (Colômbia), essa teologia incorpora
ao seu conceito teológico, a opção preferencial pelos pobres ou da
solidariedade para os pobres.
• Em dezembro de 1971 Gustavo Gutiérrez lança seu livro - Teologia
da Libertação, perspectivas -, Hugo Assmann com Opresión-
Liberación: Desafio de los cristianos e Leonardo Boff, em forma de
artigo, com Jesus Cristo Libertador.
31. RESUMO
• Assim, a TdL começava a trilhar o seu caminho a
partir da periferia da AL
– Para uns, essa teologia era anátema, devido ao seu discurso marxista,
mas para outros, era uma teologia com particularidades dinâmicas.
– Para os ‘BONS’ teólogos da TdL a análise marxista era justificada não
para uma ideologia ‘mundana’, mas um subsídio (instrumento de
análise social) para substanciar crenças cristãs.
32. NOTA
• Segundo André Corten e tantos outros estudiosos acerca da TdL,
no ano de 1968, o teólogo e psicanalista Ruben Alves (ex-pastor
Presbiteriano), apresenta em Princeton sua tese de doutorado que
tinha como título: Toward a Theology of Liberation. (influenciada
pela teologia da esperança de Moltmann e também pela teologia de
Barth)
– Segundo o autor, a tese foi publicada no ano de 1969, mas o diretor
mudou o título. A Theology of Human Hope é depois traduzida em
1972 para Christianisme, opinium ou libération? Une Théologie de
l’espoir humain.
34. TdL - 3
• Segundo Leonardo Boff a libertação para a TdL
possui três dimensões:
– A primeira, é um processo sócio-histórico que se refere à libertação
social do oprimido, implicando diretamente na superação histórica do
sistema capitalista, visando uma sociedade mais participativa e
constituída de estruturas que gerem mais justiça para todos.
35. Segunda
• A segunda dimensão está no fato de que a libertação
não é meramente social, mas, é um fenômeno humano
cheio de significados de dignidade e grandeza humana,
que visa à construção de um novo destino coletivo
36. Terceira
• E na terceira dimensão está, à luz da fé, a salvação
(ou à perdição) com seu significado transcendente, mas
antes, com ordenação no que é a utopia de Cristo,
Reino de Deus, com repercussão na eternidade.
37. Segundo Boff, essas dimensões “celebra[m] a presença
vitoriosa da libertação operada pelos homens na força de
Deus, que tudo penetra, e proclama também a plena
libertação que já nos foi galardoada na vida, morte e
ressurreição de alguém também oprimido, Jesus Cristo,
como sinal de que nossa luta e esperança por uma total
libertação não permanece no mero âmbito da utopia” (Boff,
1998 a, p. 82 [Colchetes nosso]).
BOFF, C & L. Como fazer teologia da Libertação. Petrópolis: Vozes, 1998 a
38. TdL - 3
• Diante dessas dimensões, a TdL caiu em algumas
tentações (ou problemáticas) que foram:
– o descuido das raízes místicas
– inflação do aspecto político e subordinação do discurso da fé ao
discurso da sociedade.
39. TdL - 3
• Mas para equilibrar a teoria e prática da TdL, Boff
recorre aos princípios arquitetônicos e hermenêutico
da teologia e da antropologia teológica.
– Princípio arquitetônico = Base de ordenamento de todos os
outros mistérios e eventos da história da salvação
– Princípio hermenêutico = verdade primária que dá luz a toda a
compreensão e interpretação da palavra de Deus em seu plano
da salvação.
40. TdL - 3
• Para Boff a TdL deve entender:
– Princípio arquitetônico como sendo o próprio Jesus Cristo, o
libertador (ou o Messias-ungido-salvador-libertador para os
cristão protestantes) que é apresentado nas escrituras por meio
da fé.
– Princípio hermenêutico partindo da cristologia como chave
para os contextos. (dos títulos de Jesus – filho de Daví, Filho,
Mestre, Senhor,libertador etc - para o contexto)
41. Princípio Arquitetônico: Jesus
Cristo
• Para Leonardo Boff, Cristo não veio pregar ele próprio como
libertador, mesmo que entendamos suas ações e práticas como
libertadoras, mas veio pregar o Reino de Deus que implica
automaticamente na revolução no modo de ser, pensar e agir (nova
humanidade) frente ao que está neste mundo.
• Nesta perspectiva, Boff diz que esta reviravolta ou revolução (que é
a conversão) no modo de ser, pensar e agir, “quer ser sadia: quer
levar o homem para uma crise e a se decidir pela nova ordem que
já está no nosso meio, isto é, Jesus Cristo mesmo” (1983, p. 77).
BOFF, L. Jesus Cristo Libertador. Petrópolis: Vozes, 1983
42. Princípio hermenêutico:
Cristologia
• Para Boff, essa nova leitura, cristológica, proporciona a
aquisição de um novo “horizonte a partir do qual se
podem visualizar realidades novas em outros campos
diversos daquele da política e da sociologia, como na
concepção da própria história, nas demais ciências
humanas, na interpretação do fenômeno da
secularização e na própria teologia” (1998 c, p. 22)
BOFF, L. O caminhar da Igreja com os oprimidos. Petrópolis: Vozes, 1998 c
44. MI
1. Bases bíblico-teológicas da Missão Integral (definições
primárias)
2. Desafios do Pacto de Lausanne para a igreja hoje
(base bíblico teológica)
3. A igreja local como agente de transformação integral
4. Missão Integral no contexto urbano
46. ‘Missão’ - conceito (semântica) com o passar
dos tempos
• a) Envio de missionários a um território específico
• b) Atividades empreendidas por tais missionários
• c) Área geográfica em que os missionários atuavam
• d) A agência (ou “missão”) que expedia os missionários
• e) O mundo não-cristão ou o “campo de missão”
• f) O centro a partir do qual os missionários atuavam no “campo”
• g) Uma congregação local sem pastor residente
• h) Serviços especiais destinados a propagar e difundir a fé cristã
num ambiente nominalmente cristão (re-evangelização como
serviço missionário).
47. Missão mais amplamente definida
• Missão (no singular)
– designa a Missio Dei (Missão e Deus), ou seja, “a auto-
revelação de Deus como Aquele que ama o mundo, o
envolvimento de Deus no e com o mundo, a natureza da
atividade de Deus, que compreende tanto a igreja quanto o
mundo, e das quais a igreja tem o privilégio de participar”.
• Missões (no plural)
– Missões designa os empreendimentos missionários da igreja,
isto é, “formas particulares, relacionadas com tempos, lugares
ou necessidades específicos, de participação na missio Dei”.
48. Observação
• A Missão (no singular) inclui a evangelização como uma de suas
dimensões, mas não se resume somente a ela (assim como não se
sintetiza em missões transculturais, pois a essência da missão está
em fazê-la onde quer que se esteja).
Uma definição de René Padilla (Um dos Pais da MI) sobre
evangelização é:
“Evangelizar é anunciar as boas novas de Jesus Cristo por palavras e
ações àqueles que não o conhecem, com a intenção de que, pela
obra do Espírito de Deus, as pessoas se convertam a Jesus Cristo
com o propósito de restaurar a sua relação consigo mesmo, com o
próximo e com Deus”.
49. Definição de MI
• Porque usar o termo “integral”? Será que existe uma
verdadeira missão que não seja integral? Mas o que
de fato significa isso?)
50. Missão Integral
• Por missão integral entende-se como aquele aspecto
em que não se olha para o mundo e o divide em vários
fragmentos, como se alguns fatores fossem mais
importantes que outros (como as necessidades
“espirituais” do ser). Implica, porém, que a igreja está
interessada em transformar o ser humano em todas as
áreas de sua vida através do evangelho, que também é
integral.
51. Missão Integral
• A missão integral implica a ação para que Cristo seja
Senhor sobre tudo, todos, em todas as dimensões da
vida humana” - Ed René Kivitz
• Em suma: MI é mais do que o mix: evangelismo pessoal
+ assistência : social. É o evangelho integrando pessoas
e transformando-as na integralidade de suas vidas
52. MAS PORQUE NOSSA MISSÃO DEVE SER DESENVOLVIDA DE
FORMA INTEGRAL?
(3 aspectos ou Bases Bíblicas conforme John Stott)
1. O caráter de Deus.
– Deus se preocupa com o total bem-estar dos seres humanos
(espiritual e material) assistindo-os em todas as suas necessidades.
Ele exige tanto uma lealdade integral a Ele, como também que se haja
com justiça e misericórdia para com o próximo. Em Deus, essas
coisas caminham juntas (Cf. Dt 10.12-20; Mq 6:8).
– Como ele se importa com os pobres e os famintos, também espera
que seu povo seja voz dos que “não têm voz” e sejam defensores dos
impotentes. O jejum que Deus quer de nós, porventura, não é esse:
“que soltes as ligaduras da impiedade, desfaças as ataduras da
servidão, deixes livres os oprimidos e despedaces todo jugo?” (Is
58.6).
– Tiago deixa bem claro o tipo de religião que Deus espera que
cultivemos (Tg 1.27).
53. Segundo Aspecto
2. O ministério e o ensinamento de Jesus
– O propósito do ministério de Jesus não era apenas de salvar pessoas do
inferno, mas também de livrá-las da enfermidade desse mundo presente.
A declaração que Jesus fez na sinagoga acerca de sua missão (uma
alusão ao livro de Isaías) é uma prova disso (Lc 4.18).
– Outro exemplo são duas das mais conhecidas parábolas por ele
contadas: Filho pródigo (Lc 15.11-32), cuja ênfase está na conversão,
um retorno à casa do Pai; e o Bom Samaritano (Lc 10.30-37), cuja
ênfase está na ação de misericórdia de um pecador frente a outro, em
detrimento da omissão dos “espirituais”.
– A ênfase de Jesus estava tanto na salvação como no serviço ao mundo.
Ele servia enquanto salvava e salvava enquanto servia. Assim é a igreja:
“em sua missão, ela tanto proclama quanto serve; tanto adora quanto
ensina. A missão é integral por causa disso: ela é um todo, indivisível.
Assim foi Cristo, assim somos nós” (Antonio Carlos Barro - FTSA)
54. Terceiro Aspecto
3. A comunicação do Evangelho
– Não bastam palavras (de discurso vazio todo mundo está cheio), elas
têm que vir acompanhadas das ações. Como em Jesus, nossas ações
legitimam nossas palavras. A palavra de Deus “se fez carne”, e como
resultado nós “vimos sua glória” (Jo 1.14).
– A proclamação do evangelho nasce de uma viva conexão entre as
palavras e as ações, entre um saber profundo das Escrituras Sagradas
e atos de misericórdia e justiça às pessoas que nos rodeiam, a quem
Deus ama.
55. 2. Os desafios do Pacto de
Lausanne para a igreja de hoje
• A teologia e prática da MI nasceu oficialmente em 1974, na cidade de
Lausanne, Congresso mundial de evangelização que se tornou um
divisor de águas quanto a visão missionária da igreja cristã, tratando
da questão da “tarefa inacabada da evangelização”;
• foi promovido por Billy Grahm e contou com pessoas de mais de 150
nações e de suas reflexões resultaram um documento intitulado
“Pacto de Lausanne”;
• Esse documento tem como base a Palavra de Deus e busca restaurar
na igreja os propósitos de Deus para os quais ele a formou.
56. Desafios – Baseados no Pacto de
Lausanne
1. As bases da Missão;
2. A realidade da Missão e
3. A Capacitação para a Missão.
57. As bases da Missão
• Primeira Base:
1. O PROPÓSITO DE DEUS (Que o seu povo, a Igreja, seja
conhecida como povo missionário)
• Deus, o Criador e Senhor do Mundo; GN 1:1 Êxodo 20:11 e Neemias
9:6
• Governa todas as coisas; Sl 47:2
• Chama do mundo um povo para si; Gn 12 – Chamado de Abraão –
“serão benditas todas as famílias da terra”; Êx 19:5 – Moisés.
• Envia esse povo ao mundo como seus servos e testemunhas. Lucas
1:17
58. Reflexão: Mas o que a Igreja hoje
entende por propósito de Deus
para a sua vida comunitária?
59. Segunda base
• A AUTORIDADE E O PODER DA BÍBLIA (não são as
experiências, mas a palavra que deve ser o fio condutor da Missão)
– Inspiração divina, a veracidade e autoridade;
– Cumpri o propósito divino de salvação;
– Destina-se a toda a humanidade;
– Através dela o Espírito Santo fala ainda hoje: Para todas as culturas
com a sua própria “lente cultural”
61. Terceira base
• A RESPONSABILIDADE SOCIAL CRISTÃ (somos chamados por
Deus não apenas para salvar a “alma” das pessoas, mas também
para restaurar-lhes a dignidade levando um evangelho integral.
Deus é o Criador e o Juiz de todos os homens)
– Devemos partilhar o seu interesse pela justiça e pela conciliação em
toda a sociedade humana, e pela libertação dos homens de todo tipo
de opressão;
– A evangelização e o envolvimento sócio-político são ambos parte do
nosso dever cristão;
– pessoas que recebem Cristo devem procurar não só evidenciar mas
também divulgar a retidão do reino em meio a um mundo injusto.
62. Reflexão: Como a Igreja atual tem
encarado sua responsabilidade
social?