Este boletim da associação Fraternitas Movimento discute três tópicos principais: 1) a importância do amor na Igreja e na sociedade; 2) livros publicados por membros da associação entre 2006-2008; 3) o próximo Encontro Nacional em Fátima sobre o papel das mulheres na Igreja.
1. espiral da
ANO xiI
fraternitas moviment
-
ternit
N.º
vimento
boletim da associação fraternitas movimento
N.º 44 JULHO/SETEMBRO
- JULHO/SETEMBRO de 2011
A cor agem do AMOR fERNANDO fÉLIX
N ascida do coração de Deus, a Igreja existe para o
amor. O concílio Vaticano II, no documento do
inquietado, de onde retiro uma frase: «Tu (Deus) criastes o
mundo, nós criamos o imundo.».
sobre a Igreja, Lumen Gentium, logo no número 1, diz que a
Igreja é instrumento de Deus para a união de todos com Ele
e de todos entre si. Igreja existe para que possamos amar a
A Fraternitas é uma presença profética de como é
possível harmonizar o Eros com o Ágape. E não só
a Fraternitas, mas todos os crentes e todas as associações e
Deus e nos possamos amar uns aos outros. É por isso que ela todos os movimentos cristãos que dão testemunho prático
se alegra com todas as tradições e leis que estreitam os laços de como não se pode amar a Deus que não se ê se não se
sociais, religiosos, políticos e culturais entre todas as pessoas, ama o próximo que se vê.
pois assim se alcança a plena unidade com Jesus Cristo.
P or sua vez, se uma tradição ou lei não servir o
estreitamento dos laços pelo amor, deve ser abolida.
S omos famílias cristãs, modelo para os jovens
e as outras famílias. Anunciamos com a nossa vida o
que significa “ser uma só carne”, isto é, ser íntimos ao ponto
E isto tanto na sociedade como, em particular, na Igreja. de deixar tudo e estar disposto a morrer pelo outro. Ser uma
Concretamente, se organização da Igreja não levar ao estreitar só carne é amar, e amar é rir com quem ri, chorar com quem
dos laços, à comunhão – feita de iguais direitos e deveres chora, andar com quem caminha, parar com quem descansa,
diferentes – toda a estrutura de carismas e ministérios, acabaria sonhar com quem sonha, viver consciente e voluntariamente
por ser inútil e até prejudicial. a intimidade com quem se nos dá totalmente.
A sociedade, hoje, não gosta de Deus e, por isso, não
gosta dos cristãos. Mas, nos países ocidentais, a Igreja
e o Cristianismo também perdem força profética, porque os
cristãos adaptam-se em demasia ao modo de vida liberal.
Não são corajosos. Falta-lhes seguir a Jesus Cristo com a
radicalidade dos mártires. Vegetam no vazio espiritual.
F elizmente, também há crentes enérgicos que atraem
multidões. E isso nota-se quando o mundo propõe o
individualismo, e os crentes propõem a comunidade, quando
a sociedade impõe o consumismo, e os crentes propõem a
partilha, quando o ruído social apregoa a indiferença, e a Igreja
propõe o amor, quando os valores do mundo dizem que as
N este boletim reflete-se sobre a crise e a falta de
esperança, que exigem o vigor da fé. Fala-se de
“Nova Evangelização”, para dizer que nós é que precisamos
adversidades conduzem ao desalento e então é preciso destruir
o que incomoda, os crentes dizem-se gratos e fortalecidos
pela esperança de um presente e futuro melhores. Sim, com
de mudar e não o Evangelho. Não pode acontecer na Igreja Jesus Cristo ganhamos confiança e sabemos que poderemos
o que existe no desporto: quando se procura que os jogadores chegar a fazer aquilo de que já tínhamos desistido.
mudem de atitude e a equipa renda mais, dá-se uma chicotada
psicológica, ou seja, despede-se o treinador! E fala-se daquele
amor que os pensadores recortaram em três definições: eros,
filia e ágape. Eros é o amor carnal; filia é o amor de amizade
O Encontro Nacional, em Fátima, de 30 de setembro
a 2 de outubro, vai implicar muita coragem. A
coragem do amor, pois coragem é o amor em ação. Vamos
e ágape é o amor divino, o amor em estado puro. E os falar de “Mulheres no mundo e na Igreja. O que foi feito? O
extremos tornaram-se inconciliáveis com o tempo, mas podem que falta fazer?” E vamos discutir se a Fraternitas pode ou
ser reharmonizados. Termina o «Espiral» com um texto não abrir-se a consagradas e consagrados não ordenados
desvinculados dos seus votos. Que o Espírito nos ilumine!
2. documento
2 espiral
Livros de associados da Fraternitas
editados em 2006 e 2008
Pelos meandros da produção literária
No Espiral número 42 – janeiro/ Em 2008 Jesus – «Ad Jesum per Mariam» a – (…):
março de 2011 – estão anuncia- “ALGUMAS REFLEXÕES A o grande desconhecido dos fiéis cristãos
dos os livros dos associados edi- PROPÓSITO DAS «APARIÇÕES» continua sendo a pessoa adorável de
tados em 2009 e 2010, um EM LOURDES. Algumas Reflexões Jesus de Nazaré. (…) Não há dúvida de
biénio muito profícuo, tendo por
nos 125 anos de culto a Nossa Senhora que estamos em tempo de crise e com
base os dados de que o secretari-
de Lurdes nas Lajes do Pico e nos 150 necessidade de mudança. (…) E na sua
ado dispõe.
prosseguir, agora,
Vamos prosseguir, agor a, com um anos do seu aparecimento a Bernardette Mensagem de Páscoa, o nosso bispo, D.
triénio. E solicitam-se dados rela- Soubirous”, Artur Cunha de Oliveira António de Sousa Braga, teve a clarivi-
tivamente a quaisquer livros pu- (Angra do Heroísmo, 2008), composi- dência e a fortaleza de afirmar:
blicados, prevendo o próximo arti- ção e revisão da esposa, Antonieta Lo- «Nós cristãos deveríamos estar
go sobre o período 2003-2005. pes Oliveira, edição do autor, [em for- mentalizados e preparados para as mu-
Parabéns aos autores, e que Deus mato 17 cm/11.5 cm, 82 páginas]. danças necessárias na sociedade em que
Trino louvado!
Uno e Trino seja louv ado! Em Nota Explicativa, na página 3: vivemos e também na Igreja a que per-
Se puderem, levem os vossos li- “É este o texto da conferência que pre- tencemos […] Qual fermento quer fer-
vros e outras obras para os En-
parei em resposta ao honroso convite menta a massa, a vida cristã é uma ca-
contros Nacionais!...
do vigário da Matriz da Santíssima Trin- minhada permanente de conversão e,
Urtélia Silva
Urtélia Silv dade da nobre Vila das Lajes do Pico, portanto de mudança (o sublinhado é
reverendo padre Rui Silva, para com ela meu), também na forma histórica de
participar na preparação da solene festa presença no mundo» (…).”
em honra de Nossa Senhora de Lourdes
(…). Em vez de acender mais uma “HISTORIAL DOS ARRUAMEN-
consumptiva vela no altar da tradicional TOS DA VILA DE LAVRA”,
e popular devoção (…), optei por Boaventura Santos Silveira (Lavra, 2008),
reflectir um pouco sobre a atual situação [em formato A4, com 546 páginas].
de crise que já se verifica e avulta na Igreja Na Introdução: "Existem, no per-
Católica e no Cristianismo (…).” curso das nossas vidas, pessoas e factos
Em Conclusão, nas páginas 76-79: que nos marcam e lembram o que de
“A partir de 1891 até bem uma deze- mais importante e profundo subsiste no
na de anos depois da implantação da nosso íntimo, quase nos ‘tatuando? a
República em Portugal, não passou alma, a partir do momento em que vi-
ano em que não houvesse numa qual- vemos a oportunidade e/ou felicidade
Deste triénio, em 2008, recebemos quer ilha dos Açores a inauguração de de os encontrar e perscrutar. Ficarão in-
o número duplo 31-32 da revista Refle- templo, ermida ou capela em honra e crustados no nosso ser, quais pedras
xão Cristã, propriedade e edição do louvor de Nossa Senhora de Lurdes, graníticas, belas e imutáveis, fortes e só
C.R.C. (Centro de Reflexão Cristã), a nem fosse trazida para um altar de lidas, como devem ser os pilares da exis-
cuja Direção pertencia à data o associa- igreja, ermida e capela não dedicada tência de cada um de nós.
do n.º 33, Carlos Leonel Pereira dos a Nossa Senhora de Lurdes a sua "Mutatis mutandis", isto é, mudan-
Santos, que saudosamente partiu em 16 veneranda imagem. (…) E que efei- do o que deve ser mudado, igualmente
de outubro desse mesmo ano. A ele se tos resultaram dessa devoção e culto? os topónimos e antropónimos dos
refere outro membro da Direção, Gui- Não é possível sabê-lo. Tudo per- arruamentos da vila de Lavra nos re-
lherme de Oliveira Martins, na página manece no recôndito das consciências e cordam atos e factos passados ou pes-
11 desse mesmo número: “ (…) E não no mistério que é Deus. (…) Ademais, e soas que nos precederam."
esquecendo a sua entrega à causa do li- contrariamente ao que teológica e pas- Do vereador do Pelouro da Cultura
vro cristão, como semente no mundo toralmente devia ser a devoção e o cul- da Câmara Municipal de Matosinhos:
contemporâneo. (…)” to a Maria de Nazaré, Mãe do Senhor "Com este livro, Boaventura Silveira
3. documento
l
espiral 3
volta a surpreender-nos. Depois do Prefácio de D. Manuel Martins, bis- lido a capela que tínhamos, para cons-
exaustivo ensaio "PESSOAS DE LA- po emérito de Setúbal: "Quando Pio XII truir outra nova. (…) Vi-me assim obri-
VRA" em dois volumes, o autor regres- proclamou o nosso Santo António Dou- gado a escrever este livro, ao ritmo do
sa com mais um estudo aprofundado tor da Igreja, anunciou-o ao mundo com andamento dos processos (ao longo de
sobre esta freguesia do concelho. Desta uma carta que começava assim: "Exulta, cinco anos). (…).”
feita, sobre a origem e explicação das ó Portugal Feliz". Quando faço voltar Do III, “Monfebres quer capela
designações das múltiplas artérias viári- às minhas mãos o pri-
as de Lavra. Da enigmática e antiquíssi- meiro volume de
ma designação da "minha" Rua dos Pessoas de Lavra" e ago-
Imbelos até ao incontornável José Do- ra me vejo perante um
mingues dos Santos, são um sem-nú- segundo, apetece-me,
mero de interessantíssimas e úteis infor- mas a sério, servir-me
mações que fazem, afinal, a História. das palavras do grande
(...)”. Pontífice, para exclamar:
"Exulta, ó Lavra Feliz".
Em 2007 É que é mesmo caso para
Nada consta no secretariado. isso. (...) São as pessoas
que fazem a terra, que
Em 2006 dão alma e identidade à
"PESSOAS DE LAVRA" (2.º volu- terra, que permitem que
me), Boaventura Santos Silveira (Lavra, a terra não perca a
2006), [em formato A4, com 572 pági- memória. Está infelizmente em voga a nova”, páginas 87,89,92:
nas]. (Nota: O 1.º volume. foi publica- terrível doença de Alzheimer, que tem “(…) Foi assim que a “11/04/99,
do em 1996). como primeiro sintoma e mais sentido (…) celebrava a primeira missa na nova
agravo a perda de memória. À medida capela (…)A celebração litúrgica (…) foi
que vamos perdendo memória, vamos animada com cânticos e com este
também perdendo consciência de nós. ofertório solene:
Esta doença não atinge, não atingirá, “Trazemos ao teu altar
sobretudo pela sorte que Deus lhe con- P´ra Vós, Senhora das Neves,
cedeu na pessoa de seu ilustre filho Dr. Na luz pura desta vela
Boaventura Silveira, que apreende, sen- Padroeira e Mãe tão boa,
te, comunga e transmite, com mãos de A Fé viva de Monfebres
mestre, a vida da sua terra.(...)”. Já que sois nossa Rainha
Que Te ergueu esta capela.
Na Introdução: "Nós temos a dita “ MEMÓRIAS DE UMA CAPE- (…)
de Lavra se situar na orla marítima. E LA – O Poder da Baixa Política e a For- Trazemos mais esta coroa.”
um dos "frutos" do mar são os búzios, ça Instável do Povo Simples”, Rogério Em Conclusão, nas páginas 142 e
que todos conhecem, e, com certeza, Morais Teixeira (Murça, 2006), edição 143: “ (…) Só muito mais tarde, e de-
muitos, ciosamente, os guardam como do autor [formato A5, 150 páginas]. pois de muito rogada, é que a diocese
objetos de adorno. Ora, se aplicarmos Em Nota Prévia, nas páginas 5e 6: “ se pronunciou sobre o processo judicial
um deles, na sua parte mais bojuda e Sendo a construção de uma capela acon- que nos tinham levantado, e em cuja ori-
aberta, junto do nosso ouvido, escuta- tecimento digno de celebração e de re- gem tinha estado a própria diocese. (…)
remos algo de verdadeiramente surpre- gisto na história de qualquer aldeia, (…) O depoimento chegou tão tarde que
endente e maravilhoso: de dentro dele mais que recordar, nos farão reviver a nem o apresentámos para defesa. (…)
ressoa o murmúrio cavo e confuso de justa alegria que, (…), sentimos na festa O prelado, que nos dera luz verde para
todas as "vozes" do mar, do seu maru- de inauguração [da Capela de avançar, em vez de nos defender, rea-
lhar profundo e contínuo. (...) Oxalá este Monfebres, paróquia de Candedo, con- gindo prontamente, deixou que o toiro
livro desempenhe, junto de cada leitor, celho de Murça]. (…) Só que, vivendo investisse contra nós e nos ferisse grave-
a função do búzio: este lembra o mar, nós ainda um clima de justificado orgu- mente, só nos vindo acudir, quando nós,
onde teve origem; "PESSOAS DE LA- lho, (…) eis que somos surpreendidos por nosso próprio pé e a sangrar, saí-
VRA" oxalá relembre e fortaleça a esti- (…) por uma ação judicial que nos acu- mos já da arena. Mas antes tarde que
ma pelo rico património humano que sava de ter praticado «um ato de nunca. Por isso, mesmo assim, apraz-nos
nos legaram os nossos antepassados. (...)” selvajaria criminoso» por termos demo- agradecer (…).”
4. opinião
4 espiral
Porquê? problemas da vida ausentes. A Fé não
ilumina a vida. Os problemas que nos
afetam passam ao largo. Fala-se do
gestos
A Fé descarnada não ilumina, não ajuda
nem leva à transformação. Não interpreta.
homem, mas do ‘anjo’. A Fé não ilumina,
não ajuda nem leva à transformação. Não
interpreta. Fé desencarnada.
pessoais
A crise que nos afeta não é
maldição de Deus. Não é praga Todos os dias nós acordamos com
contra o homem. Não é uma notícias perturbadoras (…).
fatalidade. É consequência da Queremos dar algumas pistas para
ação do homem, da sua ajudar as comunidades que servimos e
ambição, da sede do domínio, da para que alentem a esperança de todos
sofreguidão do capital. Toda a perante um futuro fortemente
gente sabe disso! Mas é preciso angustiante. (…) Deus ouviu o clamor
alertar. Criar consciência. Vencer do povo oprimido no Egito e nunca
a crise com determinação, foi indiferente ao sofrimento dos pobres.
vontade, certeza de que a força
do nosso Deus está com os
pobres, os marginalizados, os
A política não me seduz. sem teto, os desempregados, os
Desinteressei-me! Debates no velhos… Do outro lado, os lucros
Parlamento, que resolvem? Os desmedidos de empresas, os salários e
compadrios e oportunismos de comissões chorudas dos ‘protegidos’.
deputados e secretários? A E a Igreja? O arcebispo de Braga
permissividade de ministros? O apelou à solidariedade dos padres. O P.e
vedetismo? Decerto, tudo isto ou um Mourujão chamou a atenção do novo
pouco de cada coisa. Governo para a situação dos pobres…
Na campanha eleitoral, fui a um Não basta. A caridade não substitui a 1. Combater a ignorância
comício! Para ver… Pensei nas justiça. E é de justiça que se trata. Melhor: indesculpável como um serviço à
rivalidades partidárias, na falta de ideias, a justiça é a caridade no mais alto grau. verdade que liberta.
na ausência de debates dos problemas Justiça e caridade identificam-se. A cada (…) Reconhecemos que temos vivido
que nos afligem… «Muita parra… Uma um o que é devido. O direito dos pobres: acima das nossas possibilidades. (…) O
noite para esquecer!», pensava. A escola, a dignidade. trabalho deve estar sempre acima do
edifícios, sistema, professores e a sua Interrogo-me. Maria ouve Jesus: capital. O trabalho não é um meio de
avaliação, dotação, depois os tribunais e “Escolheu a melhor parte”. Seria o novo produção ou mais um recurso; nele está
questões de justiça. Os problemas com Reino que Jesus anuncia já presente? em jogo a dignidade da pessoa.
os operários, ordenados em atraso Precisamos de profetas que anunciem, Causa-nos perplexidade o modo
(milhões de euros!), retenção de testemunhem pela palavra e pelo como os lucros são privatizados, e
ordenados, desrespeito pelas categorias exemplo este Reino de verdade, justiça, socializados prejuízos, em parte,
profissionais, violência sobre amor. A liturgia, sacramentos são uma branqueados com o dinheiro público.
trabalhadores, exploração nos horários, parte deste Reino, mas é a vida, a palavra,
os recibos verdes, desvio nos descontos,
despedimentos, falências fraudulentas, o
o exemplo, que fazem de nós
testemunhas verdadeiras.
2. Devemos tomar partido pelas
desemprego, o aproveitamento da crise, Na Igreja sou caput minor. Devo vítimas da crise. A solidariedade é uma
corrupção… os juros, as execuções manter-me em silêncio. Somos laicos. O virtude essencial para tanto elevar a
hipotecárias, o domínio do capital… a leigo deve ouvir com atenção! Não estará moral numa sociedade individualista e
desumanidade que se vive. neste procedimento pastoral a razão de materialista, como para garantir a
Vi-me confrontado com a Fé. abandono de tantos cristãos? Decerto sobrevivência das suas vítimas. Tomar
Nas celebrações da Fé, raramente não será fácil encontrar as causas. O que partido supõe que nem tudo vale e não
aparecem estes problemas. Ninguém se não nos satisfaz são as soluções até agora podemos manter atitudes que nos
questiona. Fazem-se as leituras que a encontradas ou sugeridas. tornem menos credíveis, ou seja, fazer
liturgia prevê. Faz-se a homilia, com os um pacto com as grandes empresas que
Joa q uim Soares
Joa Soares
5. opinião
l
espiral 5
contra a Eu creio,
Senhor!
crise «Eu creio, Senhor, aumenta a minha fé!»
(Mc 9, 24)
económica Há quarenta e dois anos, fui
apresentado ao meu bispo para ser
Fórum «Curas Madrid» / Adital
Fórum Adital ordenado sacerdote. Aceitei-o com
liberdade e responsabilidade. Os tempos
«As alegrias e as esperanças, as tristezas e não eram fáceis. O Vaticano II, encerrado
as angústias dos homens de nosso tempo, havia pouco tempo, ainda estava vivo.
sobretudo dos pobres e de todos os que sofrem, Na nossa memória o bom papa João,
são por sua vez as alegrias e esperanças, tristezas ‘jovem’, estimulava a uma ação
e angústias dos discípulos de Cristo» (GS 1). comprometida, honesta, que se abria ao Esperança! Não me angustio. A
diálogo. O Espírito vivo animava a Deus pertencem os tempos e o universo.
Igreja, impelindo-a para caminhos Deus tira proveito do erro ou das
financiam os nossos eventos e,
novos. Autêntico Pentecostes! limitações dos homens. E a intenção, a
necessariamente, baixar o tom das
E seguimos em frente! Servi com vontade manifesta, a disponibilidade
críticas, aceitando o dito: “Não podes
entusiasmo e alegria. Enfrentámos com total, satisfazem plenamente e
morder a mão que te alimenta.”
determinação o imobilismo paralisante compensam as outras falhas dos
Austeridade, comunhão de bens,
– atrofiante. Superámos dificuldades, homens. Deus não está limitado pela
consumo responsável, o uso da banca
choques… apostámos numa linha de capacidade, iluminada ou mesquinha,
ética, apoio material, apoio emocional e
futuro, apoiados em Jesus Cristo, num dos decisores.
espiritual para com os desempregados,
diálogo aberto, perseverante. Crescemos Amigo, não vejas nestas minhas
a oferta de espaços e momentos para
na Fé! Alterar mentalidades não é fácil, palavras um apelo ao conformismo, à
encontros, para a festa, para a escuta da
remover convicções ancestrais, marcadas aceitação passiva daquilo que nos parece
Palavra de Deus que sustenta a esperança,
pela burocracia, pela religiosidade – contrariar os mais altos desígnios de
para a celebração da vida animada pelo
imobilizadora… Foi o nosso percurso Deus. Sempre: um não rotundo à
Espírito, são algumas ações que
eclesial! rebelião! Mas nunca cruzar os braços e
podemos, baseados na justiça social e
Novos caminhos se abriram. Em deixarmo-nos ir… Não! No tempo de
na Doutrina Social da Igreja.
1978, reiniciei a caminhada, partilhando Pio XII, ninguém esperava o Vaticano
a vida, em rumos novos, de aventura e II. Aconteceu. Uma surpresa! Alguém
3. Mostrar o rosto de uma Igreja realização humana e sacerdotal, com a tinha esperança e mantinha a vela acesa
Samaritana e amável, mas inflexível com companheira de todos os dias. para uma Igreja renovada: ‘serva e
a injustiça. Queremos ser uma igreja que Sonhámos. Era possível continuar com pobre’. Não esperou em vão! Diante
conforta, que dá esperança e que os compromissos anterior mente dos olhos o exemplo de Maria: sempre
denuncia a injustiça. assumidos? É a questão. Os homens, presente, na discrição.
Para isso, fazemos do sofrimento do ainda que com boas intenções, traçam Novos apelos do Espírito. Saber
nosso próximo algo que nos caminhos difíceis. Ai! A coerência… esperar! O caminho será longo. Não
desassossega e nos ocupa, tema das A Igreja condiciona, em nome de perscrutemos os tempos, nem
nossas reflexões, da nossa oração (…). valores mais altos, o exercício do múnus antecipemos acontecimentos. Sejamos
Apostamos em alternativas (valores sacerdotal. É razoável em situações perseverantes. Não nos contentamos
do Evangelho) aos valores materialistas normais. Em situações de exceção, como com soluções fáceis. E o Espírito levar-
do capitalismo desenfreado (…). as de hoje, com inúmeras paróquias nos-á por caminhos novos, para soluções
desprovidas e com o reduzido número futuras, totalmente inesperadas –
de padres assoberbados por celebrações imprevisíveis. Ele está presente. Abramo-
4 . Colaborar com os grupos/ múltiplas - que fazer? Aprecio a posição nos ao Espírito. Às vezes parece um
movimentos/iniciativas sociais que da Fraternitas: mantém viva a esperança fantasma. Não ter medo é caminho de
reivindicam os valores sociais (direitos de que alguns responsáveis da Igreja fé. “Senhor, aumenta a minha fé”.
humanos). revejam a realidade. J. S.
6. notícias
6 espiral
MENS@GENS ELETRÓNIC@S
A qualquer instante, chegam Miranda, C. M. de Barcelos, C. M. de
mensagens por correio eletrónico ao Sousel, J.P.F., Casa de Pascoaes, Herdeiros
endereço do secretariado da Fraternitas do poeta António Pinheiro Guimarães
– secretariado@fraternitas.pt. e em diversas entidades e colecções
São todas bem-vindas. particulares do País e do Estrangeiro. É
Divulgo esta, do associado n.º 7, autor de diversos cartazes, capas de
AlbertoJosé Parente d´Assumpção, publicações e logótipos e tem obras suas
Vice-Presidente da Assembleia Geral: reproduzidas em capas de livros.
«Estimado amigo(a). Agradeço, Integrou o Júri de selecção da II e
desde já, a pronta disponibilidade em da III Bienal de Arte Jovem de Vila
ajudar. Junto envio um folheto que Verde. Foi seleccionado pelo Júri
Internacional para participar na 4.ª Bienal
OBRA DO P e FILIPE
.
poderá facilitar a divulgação entre os seus
conhecimentos. Tenho igualmente Internacional de Arte Contemporânea de 3 de julho – Dia da inauguração do
disponíveis desdobráveis que poderei Firenze – Itália. Foi selecionado para Centro Social “Nossa Senhora do
enviar pelo correio, se necessário. participar no “BIRD 2005 International Amparo”, da Fundação Cónego Filipe
Um abraço Art Award”, Pequim – China e na 1.ª de Figueiredo. O empreiteiro Manuel
Alberto D’Assumpção FRSA Bienal Internacional de Arte de Chapingo, Matos da Prozinco, (também da Direcção
Conteúdo do folheto: México. da Fundação), entregou a obra, dando
Albertod´Assumpção. Filho do É citado no “Dicionário de Artistas por terminados os trabalhos. Num dia
pintor Manuel D’Assumpção, nasceu em Plásticos de Portugal” da Estar Editora, aberto à população, a obra contou com
Lisboa em 1956. Expõe regularmente em “Artes Plásticas – Portugal” da a presença do bispo de Aveiro, D.
desde 1989, dedicando-se em exclusivo Adrian Editora, em “Aspectos das Artes António Francisco dos Santos, para além
à pintura em 1990. É membro da Plásticas em Portugal – III”, “Arte – 98” das individualidades das várias
RoyalSocietyofArts (RSA), de Londres. e “Anuário Internacional de Arte 2003” instituições locais e regionais.
Com os artistas AdrianBayreuther, de Fernando Infante do Carmo, está A Fraternitas esteve presente a convite
ConstantinSeverin, IzabellaPavlushko e referenciado no “Arteguia – Directório da anterior secretária da Liga dos
Olga Dmytrenko constitui o Grupo de Arte Espanha e Portugal”, no “Guia Amigos, Paula Pomar, a quem muito
Internacional “3º Paradigma”. É d’Arte”, no “Whoiswhoofthe Portuguese agradecemos. Segundo o prospecto
igualmente membro da Sociedade Artists”, da Sol Invictus Publicações, no distribuído, Lar de Idosos, Creche,
Portuguesa de Autores, do “International “Anuário das Artes Plásticas” da Estar Apoio Domiciliário e Centro de Dia são
Illustrated Letter Writing Society”, do Editora, no “Artes 2001 – Directório de as valências a abrir brevemente. O local
grupo “Artists For Peace”, do grupo Artes Plásticas”, da Publicenter, no tem espaço para 45 idosos internos, 40
“ArchetypalExpressionism” e do “Magazine das Artes Plásticas” nº1, em no apoio domiciliário, 30 no Centro de
“MircaArtGroup”, Suécia. Está “Surrealismo abrangente – colecção Dia e 33 crianças na Creche. Questionado
representado nas colecções do Banco de particular de Cruzeiro Seixas” Fundação se a qualidade da obra era destinada a
Portugal, Fundação Cupertino de Cupertino de Miranda, em uma camada elitista da sociedade,
“Freedom&Art” e “PlanetHeart, Manuel de Matos garantiu que: “ NÃO.
PlanetArt”, ambos do MircaArtGroup, É uma obra para servir todas as pessoas
Suécia, em “International Dictionary of que delas necessitarem. Claro que é um
Artists”, da WorldWideArtBooks, USA, espaço que tem os seus custos, as coisas
e em “Privatsphären”, Viena, Austria. não podem ser dadas gratuitamente, mas
Contactos: Urb. de S. Gemil, lote 9, não é um espaço para os ricos, é para
4805-318 PONTE GMR todos”, frisou. Que ASSIM SEJA! É de
Telefone: 351 962 364 361 facto uma obra com muita luz!… Mas
alberto.dassumpcao@gmail.com que a LUZ que sempre brilhou na pessoa
w w w. A r t Wa n t e d . c o m / A . D - do fundador, ilumine e ampare os
Assumpcao passos de todos os que para ela
http://3rdparadigm.net trabalhem, porque o padre Filipe de
Recordo que este Artista foi o autor Figueiredo era “um homem de Deus
do logótipo da Fraternitas. Existimos com vocação para os marginalizados”,
para nos ajudarmos! Boa sorte! para os mais pobres…
7. notícias
l
espiral 7
NA S CIMENTO Assembleia constitutiva
DA MARIANA
da União das Associações dos
É neta do José Serafim A. de Sousa
e Maria da Graça. Nasceu no dia do 37.º Antigos Alunos dos Seminários
aniversário do Matrimónio dos avós. “O
mais interessante é que eu profetizei que
ela iria nascer neste dia um mês antes. E
Portugueses( UASP)
aconteceu, sem forçar nada… às 22h”,
escreveu o avô “babado”. Realizou-se no dia 17 de setembro, instituições eclesiais e dos organismos
Que graça de facto: há dois mil e no Seminário Diocesano de Leiria, a oficiais, a nível nacional e internacional,
tantos anos, lá em Nazaré, nascia Maria assembleia constitutiva da UASP (União as suas associadas; defender e promover
de uma Ana, Santas. das Associações dos Antigos Alunos dos a solidariedade entre as suas associadas
Parabéns aos pais e aos avós da Seminários Portugueses). no respeito pela identidade de cada uma
Mariana. Projeto sonhado na preparação e delas (artigo 2º dos Estatutos da UASP).
realização do primeiro Congresso dos Da agenda da reunião constou a
Antigos Alunos dos Seminários leitura e aprovação dos Estatutos, leitura
Portugueses (abril de 2009) e referido da Ata da Constituição e sua assinatura
nas Conclusões como “um sentimento pelos representantes das Associações
generalizado para que seja dada alguma aderentes; celebração da Eucaristia,
sequência ao Congresso através de ações presidida por D. António Marto, bispo
que se venham a organizar no futuro”,
foi amadurecendo nestes dois anos e
tomou a forma de União das
Associações aderentes.
Dos espaços de encontro de antigos
alunos dos Seminários Portugueses, 27
(12 diocesanos e 15 religiosos) criaram
alguma forma de organização. Destes,
12 já aderiram ao projeto: 9 são
diocesanos (Aveiro, Braga, Coimbra,
Évora, Funchal, Lamego, Leiria-Fátima,
Portalegre-Castelo Branco e Vila Real) e
3 são religiosos (Franciscanos,
Espiritanos e Combonianos); em fase de
reestruturação e com intenção de aderir
estão quatro associações dos seminários
Parabéns aos restantes pais e avós que religiosos; outras duas disseram não estar
experimenta(ra)m este tipo de graça ou interessadas; quanto às restantes, umas de Leiria-Fátima e eleição dos órgãos
semelhante, nascimentos ou matrimónios aguardam pela decisão dos órgãos sociais para o primeiro triénio.
… competentes e outras pela evolução do No horizonte deste fórum nacional
Vão sendo muitos os associados que projeto da UASP. das Associações de Antigos Alunos está
se encontram num estado de saúde mais Esta nova estrutura nacional que, à não só a vontade de fazer memória das
ou menos fragilizado. Cada um data da sua constituição, reunirá 44% das origens, mas, sobretudo, de recorrer à
mereceria uma breve descrição para o Associações de Antigos Alunos dos experiência comum, ainda que vivida de
seu caso, que alongaria o texto… Fica Seminários Portugueses, define-se forma muito diversa, para refletir sobre
para a Folha Informativa que juridicamente como associação privada o momento que nos é dado viver,
acompanha o envio deste número do de fiéis e tem os seguintes objetivos: acolher os seus desafios à luz do
Espiral. “fomentar a corresponsabilidade eclesial Evangelho e abrir perspetivas de
A melhor saúde para estes associados e a participação em projetos que participação e compromisso nas
e seus cuidadores e as nossas orações. promovam a dignidade humana e os comunidades cristãs e nos espaços sociais
valores evangélicos; congregar, e culturais de que cada um de nós faz
A Secretária coordenar e representar junto das parte.
8. reflexão
8 espiral
NOVA(?) EVANGELIZAÇÃO
Li, há tempos, um apelo do na cabeça dos Apóstolos e discípulos o mação bíblica. Essa de muitos liturgistas
Vouga,
Correio do Vouga , jornal da essencial do que será ser Seu amigo: a da atualidade quererem cultivar o mis-
diocese de Aveiro, aos leitores, prática, a vivência incondicional do tério intrínseco à celebração eucarística
para transmitirem aos Amor, palavra-chave do Novo à custa de um regresso a práticas dos
responsáveis pelo mesmo a sua
Testamento que, então, Ele lhes/nos tempos tridentinos não passa de um sau-
reação ou sentir sobre os temas
que aí são escritos. Neste sentido
deixou. dosismo bacoco da Igreja triunfalista
e no espírito da preconizada nova anterior ao Vaticano II, hoje quase
evangelização,
evangelização , gostaria de tecer obnubilado, com grande responsabilida-
os seguintes comentários. de da hierarquia.
Além do mais, tais atitudes estão
Fernando Neves contra o espírito da Constituição sobre
a Sagrada Liturgia do Concílio Vaticano
II e a subsequente Constituição
O que é Apostólica Missale Romanum, de Paulo VI,
que promulga o Missal: “Queremos
a nova evangelização? também que tudo quanto nesta
O primeiro é que a expressão nova Constituição fica estabelecido e prescrito
evangelização é, semanticamente, tenha força de lei, agora e para o
tautológica, redundante, repetitiva. futuro, não obstando, se for caso disso,
Vejamos: a palavra evangelização deriva as Constituições e Ordenações
da palavra Evangelho que, na sua origem Abordando Apostólicas dos nossos Predecessores,
grega, quer dizer boa nova/notícia/
mensagem. a reforma lítúrgica
Desdobrando a expressão nova O segundo é uma ligeira discordân-
evangelização concluiríamos, então, que cia com o que o pároco diz na sua en-
será igual ou o mesmo que nova boa trevista, a propósito das obras feitas na
nova/mensagem. Ora não há uma nova matriz de Vagos. Tem a ver com a cen-
boa nova/mensagem ou seja não há um novo tralidade do Altar da Eucaristia e do
Evangelho; há sim um Evangelho (em ambão da Palavra.
quatro narrativas canónicas) que nos O Vaticano II assim o propôs de tal
apresenta a mensagem de Jesus, pessoa modo que a Eucaristia – vulgo missa,
humana e divina sempre nova nas suas termo que já devia ter entrado em de-
palavras, gestos, ações e relacionamento suso – fosse não com o presidente da
com os outros. Ele é verdadeiramente assembleia de costas voltadas para a
o Lógos, a Palavra encarnada, amorosa, mesma, mas de frente, de olhos nos
criadora e renovadora de Deus. olhos. E ainda que a Palavra seja pro-
Assim o que se devia pretender seria clamada na língua vernácula de cada
a revitalização vivencial do Evangelho, povo. E com isto nada se perde do mis-
sobretudo com novas praxis cristãs, tério de fé que, mesmo assim, esta cele-
novos comportamentos, formas de agir, bração litúrgica continua a ser e a ter.
processos, técnicas e meios de anunciar Não é, pois, necessário entrar em para-
a mensagem de Amor que Jesus veio nóias de ocultismos ou dizer coisas to-
trazer ao mundo, para os homens de talmente inacessíveis à compreensão da
todos os tempos. Nos Evangelhos, Assembleia, pela barreira de uma língua
principalmente no de João, isto está como atualmente o Latim. Já bem bas-
condensado nas ações e palavras de ta o carácter fechado e de difícil com-
Jesus, durante a última ceia onde Ele quer preensão das leituras propostas em cada
como que resumir e deixar bem gravado Eucaristia, para quem tem pouca for-
página oficial na Internet: www.fraternitas.pt * e-mail: direccao@fraternitas.pt * blogue: http://fraternitasmovimento.blogspot.
9. reflexão
l
espiral 9
ou quaisquer outras prescrições, ainda
que dignas de especial menção ou
derrogação.”
Cinco
pedrinhas mágicas
O terceiro e último comentário é
sobre As cinco pedrinhas mágicas
propostas para atingir a graça
santificante: 1.ª) A vivência da Eucaristia.
2.ª) A confissão. 3.ª) O rosário. 4.ª)
Leitura e estudo da Bíblia. 5.ª) Jejum.
Desconfio que fossem estas as
prioridades sequenciais de Jesus.
Com a primeira até concordo, mas
numa Eucaristia como celebravam os
apóstolos e discípulos (entenda-se
comunidade cristã), fazendo memória
de Jesus e a partilha do pão por Ele
mesmo proclamada: “Dai-lhes, vós
mesmos, de comer”.
Quanto à segunda, continua Quanto à Palavra de Deus está as economias fruto das refeições eco-
interiorizado o espírito tribunalesco do relegada, postergada para sítio nenhum, nómicas que sempre devemos fazer.
tridentino (muito custa a dar o passo em que não é o seu. Não ficaria nada mal Não são as outras coisas que se dizem
frente para o Vaticano II!). Então não estar mesmo em primeiro lugar, pois, que dão o valor ao jejum. Jejuar, vestir-
devia, ao menos, ser reconciliação? como diz S. Paulo, “fides ex auditu” “a fé se com sacos, de anjinho ou outros
Quanto ao terceiro, bem mal! Então nasce do que é ouvido, proclamado, quejandos, fazer peregrinações ou
já nem só o terço? E mesmo assim lido”. E os católicos apostólicos procissões mais ou menos folclóricas,
lembrar que esta prática popular de rezar romanos, na generalidade, leem muito esfarrapar o corpo, os pés e os joelhos,
(recitar, dizer de cor; não orar!), vem dos pouco a Bíblia. Se ao menos, em cada fazer sacrifícios, será isso que agrada ao
tempos em que o povo não sabia ler e dia, fizessem as leituras que estão no Senhor? “O jejum que Me agrada não
não teria, por isso, muitas outras formas missal quotidiano! Mas quantos o farão? será antes este: quebrar as cadeias injustas,
palpáveis de praticar/viver a sua E sem fé prévia, nem a própria desatar os laços da servidão, por em
religiosidade, aprofundar a sua fé e Eucaristia tem sentido. Não seria, pois, liberdade os oprimidos… repartir o teu
cultura bíblica. Por isso a Igreja tornou nada mau propagandear a necessidade pão com o faminto, dar casa aos pobres
aconselhável essa devoção. Em todo o da leitura da Bíblia de modo que esta sem abrigo, levar roupa aos que não têm
caso, é bom lembrar que ela tem muito fosse mais ´obrigatória` do que a reza que vestir e não voltar as costas ao teu
de semelhante ao que o próprio Jesus do terço. Muitas pessoas declaram na semelhante?” (ver Is 58, 1-9)
censura quando diz que não é com o Penitência como ´pecado`(?) o não ter Assim, se viverá o “dom mais
dizer muitas palavras (distraída e rezado o terço. Mas quantas fazem o excelente” de que fala S. Paulo: a
mecanicamente), sem uma verdadeira mesmo sobre a leitura da Palavra de Caridade. Posso rezar muito, cumprir
relação do emissor (pessoa orante, que Deus? todas as minhas obrigações religiosas e
sabe e pensa o que diz – caso contrário Sobre a última pedrinha (o jejum) o mais algumas “Mas se não tiver
será uma conversa tola) com o recetor que é essencial é que ele deve contribuir Caridade, nada valho”, como discípulo
(Deus, a Quem mesmo no Seu silêncio para nos tornar “solidários, pois o que de Jesus. Serei só blá-blá, como o sino
entendemos como nosso dialogante) que não comemos devemos dar em esmola”. que toca e faz tanto barulho que, por
se é agradável aos olhos de Deus. Diria: partilhar ainda muito mais do que vezes, só incomoda.
.com * e-mail: secretariado@fraternitas.pt * página oficial na Internet: www.fraternitas.pt * e-mail: tesouraria@fraternitas.pt
10. reflexão
10 espiral
AS DUAS FACES DO AMOR:
EROS E ÁGAPE
P.e Raniero Cantalamessa,
Raniero Cantalamessa,
OFMCap
Há um âmbito em que a secularização age de maneira especialmente difusa e nefasta, e é o âmbito do
amor. A secularização do amor consis te em separ ar o amor humano de Deus, em todas as formas desse
amor. consist separar todas formas
amor, merament
amente sobra
amor, reduzindo-o a algo mer amente “profano”, onde Deus sobr a e até incomoda.
Mas o amor não é um assunto importante apenas para a evangelização, ou seja, para as relações com o
mundo. Ele importa, antes de todo o mais, para a própria vida interna da Igreja, para a santificação dos
seus membros. É nesta perspectiva que se situa a encíclica Deus caritas est, do Papa Bento XVI, e é nela
que nós também nos colocamos para estas reflexões.
O amor sofre de uma separação unidos: tudo o que ele faz, amar
nefasta não só na mentalidade do inclusive, tem que refletir essa
mundo secularizado, mas também, estrutura. Se o componente humano
do lado oposto, entre os crentes e, ligado ao tempo e à corporeidade é
em particular, entre as almas sistematica-mente negado ou
consagradas. Poderíamos formular a reprimido, a saída será dúplice: ou
situação, simplificando ao máximo, seguir adiante aos arrastos, por senso
assim: temos no mundo um eros de dever, por defesa da própria
sem ágape; e entre os crentes, temos imagem, ou ir atrás de compensações
frequentemente um ágape sem eros. mais ou menos lícitas, chegando até
O eros sem ágape é um amor os dolorosíssimos casos que estão
romântico, mas comumente afligindo atualmente a Igreja. No
passional, até violento. Um amor fundo de muitos desvios morais de
de conquista, que reduz almas consagradas, não é possível
fatalmente o outro a objeto do ignorá-lo: há uma concepção
próprio prazer e ignora toda distorcida e retorcida do amor.
dimensão de sacrifício, de Temos, então, um duplo
fidelidade e de doação de si. Não é repetitivos, o estro é substituído pela motivo e uma dupla urgência de
preciso insistir na descrição desse técnica, a espontaneidade pelo redescobrir o amor na sua unidade
amor, porque se trata de uma virtuosismo. original. O amor verdadeiro e
realidade que temos todo dia diante Com base nessa distinção, o integral é uma pérola encerrada entre
dos nossos olhos, propagandeada ágape sem eros é um “amor frio”, um duas conchas: o eros e o ágape. Estas
com estrondo pelos romances, amar parcial, sem a participação do duas dimen-sões do amor não podem
filmes, novelas, internet, revistas. É ser inteiro, mais por imposição da ser separa-das sem destruí-lo, como
o que a linguagem comum entende, vontade do que por ímpeto íntimo o hidro-génio e o oxigénio não
hoje, com a palavra “amor”. do coração. Um entrar num cenário podem ser separados sem se privarem
Para nós é mais útil entender o que predefinido, em vez de criar um da água.
significa ágape sem eros. Na música, próprio, realmente irrepetível, como
existe uma diferenciação que pode nos irrepetível é cada ser humano perante IINCOMPATIBILIDADES
ajudar a ter uma ideia: a diferença entre Deus. Os atos de amor voltados para A reconciliação mais importante
o jazz quente e o jazz frio. Eu li certa vez Deus parecem aqueles de namorados entre as duas dimensões do amor é
essa caracterização dos dois géneros, mas desinspirados, que escrevem à amada prática. É aquela que acontece na vida
sei que não é a única possível. O jazz cartas copiadas de modelos prontos. das pessoas, mas, para ser possível, ela
quente (hot) é o jazz apaixonado, ardente, Se o amor mundano é um corpo precisa começar pela reconciliação entre
expressivo, feito de ímpetos, de senti- sem alma, o amor religioso praticado o eros e o ágape inclusive teoricamente,
mentos e, portanto, de improvisações assim é uma alma sem corpo. O ser na doutrina. Isto nos permitirá conhecer
originais. O jazz frio (cool) é o profis- humano não é um anjo, um espírito finalmente o que é que se entende por
sional: os sentimentos se tornam puro; é alma e corpo substancialmente estes dois termos tão comumente
11. reflexão
l
espiral 11
usados e subentendidos.
A importância da questão nasce
do facto de existir uma obra que
popularizou em todo o mundo
cristão a tese oposta da incon-
ciliabilidade das duas formas de
amor. É o livro do teólogo luterano
sueco Anders Nygren, intitulado
Eros e Ágape. Podemos resumir o
pensamento dele nestes termos: eros
e ágape designam dois movimentos
opostos. O primeiro indica ascensão
e subida do homem para Deus e para
o divino como próprio bem e própria
origem; o outro, o ágape, indica a
descida de Deus até o homem com
a encarnação e a cruz de Cristo, e,
portanto, a salvação oferecida ao
homem sem mérito nem resposta de
sua parte, a não ser a fé e somente a
fé. O Novo Testamento fez uma
escolha precisa, usando, para o nosso coração até descansar em ti” Deus, pode, por sua vez, amar a Deus,
exprimir o amor, o termo ágape, e [2]. Também é dele a imagem do dar-lhe algo de seu, o que destruiria a
refutando o termo eros. amor como um peso que atrai a absoluta gratuidade do amor de Deus.
Foi São Paulo quem recolheu e alma, como por força de gravidade, No plano existencial, ainda de acordo
formulou com mais pureza essa para Deus, como ao lugar do próprio com Nygren, o mesmo desvio acontece
doutrina do amor. Depois dele, ainda repouso e prazer [3]. Tudo isso, para na mística católica. O amor dos místicos,
segundo a tese de Nygren, essa antítese Nygren, insere um elemento do com a sua fortíssima carga de eros, nada
radical se perdeu para dar lugar a amor de si, do próprio bem, e, é, para ele, senão amor sensual
tentativas de síntese. Assim que o portanto, de egoísmo, que destrói a sublimado, uma tentativa de estabelecer
cristianismo entra em contato cultural pura gratuidade da graça; é uma com Deus uma relação de presunçosa
com o mundo grego e a visão platônica, recaída na ilusão pagã de fazer a reciprocidade em amor.
já com Orígenes, há uma reavaliação do salvação consistir numa ascensão a Quem rompeu a ambiguidade e
eros, como movimento ascensional da Deus, em vez de na gratuita e devolveu à luz a pura antítese
alma rumo ao bem e ao divino, como imotivada descida de Deus até nós. paulina, segundo o autor, foi Lutero.
atração universal exercitada pela beleza Prisioneiros desta impossível síntese Fundamentando a justificação ape-
e pelo divino. Nesta linha, o Pseudo entre eros e ágape, entre amor de Deus nas na fé, ele não excluiu a caridade
Dionísio Areopagita escreverá que “Deus e amor de si, são, para Nygren, São do momento-base da vida cristã,
é eros” [1], substituindo com este termo Bernardo, quando define o grau como o acusa a teologia católica;
o ágape da célebre frase de João (I Jo, supremo do amor de Deus como um antes, libertou a caridade, o ágape,
4,10). “amar a Deus por si mesmo” e um do elemento espúrio do eros. À
No ocidente, uma síntese “amar a si mesmo por Deus” [4]; São fórmula do “somente a fé”, com
análoga foi feita por Agostinho com Boaventura, com seu ascensional exclusão das obras, corresponderia,
a doutrina da caritas, entendida Itinerário da mente para Deus; e São em Lutero, a fórmula do “somente
como doutrina do amor descendente Tomás de Aquino, que define o amor o ágape”, com exclusão do eros.
e gratuito de Deus pelo homem de Deus infuso no coração do batizado Não me cabe estabelecer se o autor
(ninguém falou da “graça” com mais (cf. Rom, 5,5) como “o amor com que interpretou corretamente neste ponto o
força do que ele), mas também como Deus nos ama e nos faz amá-lo” (amor pensamento de Lutero, que, deve-se
anseio do homem pelo bem e por quo ipse nos diligit et quo ipse nos dizer, nunca pôs o problema em termos
Deus. É dele a afirmação: “Fizeste- dilectores sui facit) [5]. Isto viria a de contraste entre eros e ágape como
nos, Senhor, para ti, e inquieto está significar que o homem, amado por fez com fé e obras.
12. reflexão
12 espiral
o termo erótico, ou, se o emprega, é
em sentido negativo. O motivo é que,
tanto naquele tempo como agora, a
palavra evoca o amor na sua expressão
mais egoísta e sensual [7].
Tão logo o cristianismo entra em
contato e diálogo com a cultura
grega daquele tempo, cai por terra
de imediato, como já vimos, toda
preclusão quanto ao eros. Ele é
usado com frequência, nos autores
gregos, como sinônimo de ágape, e
empregado para indicar o amor de
Deus pelo homem, como também o
amor do homem por Deus, o amor
pelas virtudes e por tudo o que é
belo. Basta, para nos convencermos
disso, uma simples olhada no Léxico
Patrístico Grego, de Lampe [8]. O
sistema de Nygren e Barth,
portanto, foi construído sobre uma
O contragolpe desta operação é bíblica não constrói um mundo paralelo falsa aplicação do assim chamado
a radical mundanização e ou um mundo contraposto ao original argumento “ex silentio”.
secularização do eros. Enquanto fenômeno humano que é o amor, mas
certa teologia retirava o eros do aceita o homem todo, intervindo na sua EROS PARA CONSAGRADOS
ágape, a cultura secular era bem feliz, procura pelo amor para purificá-la, O resgate do eros ajuda acima de
ao retirar o ágape do eros, ou seja, destr uindo, em paralelo, novas tudo os enamorados humanos e os
ao retirar do amor humano toda dimensões suas” (7-8). Eros e ágape esposos cristãos, mostrando a beleza e
referência a Deus e à graça. Freud estão unidos à própria fonte do amor, a dignidade do amor que os une. Ajuda
apresentou para isto uma justificação que é Deus: “Ele ama”, segue o texto os jovens a experimentar o fascínio do
teórica, reduzindo o amor a eros e o da encíclica, “e este seu amor pode ser outro sexo não como coisa turva, a ser
eros a libido, uma mera pulsão sexual qualificado certamente como eros, que, vivida às costas de Deus, mas, ao
que luta contra toda repressão e no entanto, é também e totalmente contrário, como um dom do Criador
inibição. É o estágio a que se reduz ágape” (9). para a sua alegria, desde que vivido na
hoje o amor em muitas manifesta- Entende-se o acolhimento ordem querida por Ele. Na sua encíclica,
ções da vida e da cultura, princi- insolitamente favorável que este o papa acena ainda para esta função
palmente no mundo do espetáculo. documento pontifício encontrou positiva do eros sobre o amor humano
mesmo nos ambientes leigos mais quando fala do caminho de purificação
RETORNO À SINTESE abertos e responsáveis. Dá esperança do eros, que leva da atração
Se não podemos mudar de uma vez ao mundo. Corrige a imagem de uma momentânea ao “para sempre” do
a ideia de amor que o mundo possui, fé que toca o mundo em tangente, matrimônio (4-5).
podemos, sim, corrigir a visão teológica, sem penetrá-lo, com a imagem Mas o resgate do eros deve ajudar
que, sem querer, a favorece e legitima. evangélica da levedura que faz a também aos consagrados, homens e
É o que fez de maneira exemplar o Papa massa fermentar; substitui a ideia de mulheres. Eu acenei no início ao
Bento XVI com a encíclica Deus caritas um reino de Deus que veio julgar o perigo que as almas religiosas correm
est. Ele reafirma a síntese católica mundo pela de um reino de Deus que de um amor frio, que não desce da
tradicional expressando-a com os veio salvar o mundo, começando mente para o coração. Um sol de
termos modernos. “Eros e ágape”, pelo eros que é a sua força inver no, que ilumina, mas não
lemos ali, “amor ascendente e amor dominante. aquece. Se eros significa ímpeto,
descendente, não se deixam jamais O Novo Testamento evitou a palavra desejo, atração, não devemos ter
separar de todo um do outro [...]. A fé “eros” como o pregador de hoje evita medo dos sentimentos, nem muito
13. reflexão
l
espiral 13
menos desprezá-los e reprimi-los. existe o Verbo feito carne, que reuniu qualidades e atenções que um
Quando se trata do amor de Deus, os dois extremos numa só pessoa. É homem procura numa mulher e uma
escreveu Guilherme de Saint Thierry, nele que o próprio amor ao próximo mulher no homem. O amor dele não
o sentimento de afeto (affectio) é encontra o seu fundamento: “Foi a nos elimina necessariamente a
também graça; a natureza não pode mim que o fizestes”. sedução das criaturas e, em parti-
infundir um sentimento assim [9]. O que significa tudo isto pelo amor cular, a atração do outro sexo (ela
Os salmos estão cheios desse anseio de Deus? Que o objeto primário no faz parte da nossa natureza, que Ele
do coração por Deus: “A ti, Senhor, eu nosso eros, da nossa busca, desejo, criou e não quer destruir). Mas nos
elevo a minh’alma...”. “A minh’alma tem atração, paixão, deve ser o Cristo. “Ao dá a força para vencer essas atrações
sede de Deus, do Deus vivente”. “Preste Salvador é pré-ordenado o amor com uma atração mais forte.
atenção”, diz o autor da Nuvem do não humano desde o princípio, como ao seu “Casto”, diz São João Clímaco, “é
conhecimento, “a este maravilhoso modelo e fim, como uma urna tão quem afasta o eros com o Eros” [11].
trabalho da graça na tua alma. Ele não é grande e tão ampla que pudesse acolher Neste mundo, damos a Deus o que
senão impulso imprevisto, que surge sem a Deus [...] O desejo da alma é recebemos dele. “Nós amamos porque
aviso e aponta diretamente para Deus, unicamente de Cristo. Aqui é o lugar do Ele nos amou primeiro” (1 Jo 4, 19). O
como uma centelha que se desencarcera seu repouso, porque só Ele é o bem, a amor que damos a Cristo é o seu próprio
do fogo... Golpeie essa nuvem do não verdade e tudo quanto inspira amor”. amor por nós, que devolvemos a Ele,
conhecimento com a flecha afiada do Não quer dizer restringir o horizonte do como o eco nos devolve a nossa voz.
desejo de amor e não esmoreça, ocorra amor cristão de Deus a Cristo; quer Onde está então a novidade e a
o que ocorrer” [10]. É suficiente, para dizer amar a Deus do jeito que Ele quer beleza deste amor que chamamos
tanto, um pensamento, um movimento ser amado. “O Pai vos ama porque vós eros? O eco reenvia para Deus o seu
do coração, uma jaculatória. me amais” (Jo 16, 27). Não se trata de próprio amor, mas enriquecido,
Deus deu-nos o próximo para um amor quase por procuração, por colorido e perfumado com a nossa
amarmos. “Ninguém jamais viu a meio do qual quem ama Jesus “é como liberdade. E é tudo o que Ele quer.
Deus; se amarmos uns aos outros, se” amasse o Pai. Não. Jesus é um A nossa liberdade lhe paga tudo. E
Deus permanece em nós e o seu mediador imediato; amando a Ele, não só isto, mas, coisa inaudita,
amor se tor na perfeito em nós. amamos, ipso facto, o Pai. “Quem me escreve Cabasilas, “recebendo de
Quem não ama o próprio irmão, a vê, vê o Pai”; quem me ama, ama o Pai. nós o dom do amor em troca de tudo
quem vê, não pode amar a Deus, a A beleza e a plenitude da vida o que Ele nos deu, Ele ainda se
quem não vê” (1 Jo 4, 12-20). Mas consagrada depende da qualidade do reputa nosso devedor” [12]. A tese
devemos ficar atentos para não saltar nosso amor por Cristo. É só o que que contrapõe eros e ágape se baseia
uma fase decisiva: antes do irmão que pode nos defender dos altos e baixos em outra conhecida contraposição:
vemos, há outro que também vemos do coração. Jesus é o homem a contraposição entre graça e
e tocamos: o Deus feito carne, Jesus perfeito; nele se encontram, em grau liberdade, e, mais ainda, na negação
Cristo! Entre Deus e o próximo infinitamente superior, todas aquelas da liberdade no homem decaído.
Notas: 1 Pseudo Dionísio Areopagita, Os nomes divinos, IV,12 (PG, 3, 709 em diante.)
2 S. Agostinho, Confissões I, 1.
3 Comentário ao evangelho de João, 26, 4-5.
4 Cf. S. Bernardo, De diligendo Deo, IX,26 –X,27.
5 S. Tomás de Aquino, Comentário à Carta aos Romanos, cap. V, liç.1, n. 392-293; cf. S. Agostinho, Comentário à Primeira Carta de João,
9, 9.
6 K. Barth, Dogmática eclesial, IV, 2, 832-852.
7 O sentido que os primeiros cristãos davam à palavra eros se deduz do famoso texto de S. Inácio de Antioquia, Carta aos Romanos, 7,2:
“O meu amor (eros) foi crucificado e não há em mim fogo de paixão…não me atraem o nutrir corrupção e os prazeres desta vida”. “O meu
eros” não indica aqui Jesus crucificado, mas “o amor de mim mesmo” , o apego aos prazeres terrenos, na linha do paulino “Fui crucificado com
Cristo, não sou mais eu que vivo” (Gal 2, 19 s.).
8 Cf. G.W.H. Lampe, A Patristic Greek Lexicon, Oxford 1961, pp.550.
9 Guilherme de St. Thierry, Meditações, XII, 29 (SCh 324, p. 210).
10 Anônimo, A nuvem do nao conhecimento, trad. Italiana, Ed. Áncora, Milão, 1981, pp. 136.140.
11 S. João Clímaco, A escada do paraíso, XV,98 (PG 88,880).
12 N. Cabasilas, Vida em Cristo, VI, 4 .Santo - diz o texto do Concílio Vaticano II - de um modo conhecido por Deus, dá a todos a
oportunidade de estar associados ao mistério pascal” [3].
14. fraternitas
fraternit
ternitas
14 espiral
«A Fraternitas deve-lhe imenso»
«Sempre admirei nele o enorme rigor decidiu chamar ao nosso grupo demonstrando um grande Amor à
e a total dedicação com que Fraternitas, foi esboçado pelo Alberto Igreja e uma profunda vivência de Fé, e
desempenhava as suas funções, e Videira o logotipo, e se decidiu que desde logo comecei a simpatizar com
ao mesmo tempo a sua grande desejávamos ser Movimento e não mera ele. Pareceu-me um homem
dimensão como pessoa, como Associação. extremamente calmo, muitíssimo
marido e pai, e como membro ativo O Luís Gouveia, quando chegou a organizado em tudo, meticuloso até ao
da Igreja local», partilha Vasco sua vez de partilhar, deu-nos um belo mais pequeno pormenor, possuidor de
Fernandes, num testemunho sobre testemunho de vida, muito construtivo, grandes qualidades humanas e de uma
Luís António Gouveia, que faleceu a simpatia contagiante. Como o retiro não
6 de Junho transato. era em silêncio, tivemos oportunidade
de conversar entre todos, quer nas
Vasc o
asco Fer n andes
Fern
refeições quer nos corredores, e tanto
Conheci o Luís António Gouveia, e ele como a Maria do Carmo ficaram
a sua mulher Maria do Carmo, claro está, desde logo nossos amigos.
naquele já longínquo mês de abril de Já nos tínhamos encontrado em
1997, no terceiro encontro de pdres grupo com outros padres dispensados
casados e suas mulheres, orientado pelo do ministério, no primeiro retiro
então bispo de Beja, D. Manuel Falcão, realizado em Fátima, em agosto de 1996,
na Casa de N.ª Sr.ª do Carmo, em a convite do P.e Filipe de Figueiredo, de
Fátima. Évora. Aquele fora um desafio que nos
O grupo era muito reduzido, porque motivou e, por isso, voltámos.
a escolha da data não fora a melhor, e Sucederam-se muitos outros
curiosamente foi nesse encontro que se encontros, quer no Porto, a nível mais
«Continuará a encher de luz
Última carta do continuar a andar.
E muito feliz estou, por saber que mais e de encanto»
Luís Gouveia um Bispo orienta o XVIII Encontro Nacional
– o D. Gilberto – Bispo de Setúbal, um dos
No dia 6 de julho, nasceu para o Céu
a Maria Lúcia Guedes da Costa Valente,
Ermesinde, 15 de abril de 2011 “ESTAGIÁRIOS” na nossa Diocese do esposa de Dr. Francisco Carlos Martins
«(…) Juntamente com o «Espiral»– Porto, e com a eleição de Corpos Gerentes para Valente.
ansioso por o receber e tão completo, desde o o triénio de 2011 a 2013. A Maria Lúcia tinha sido operada aos
Editorial do nosso Presidente (…), com os Sumamente ainda estarei muito mais 15 anos a um pulmão que mais tarde
diversos e distintos colaboradores, até à satisfeito, (…), e quem sabe um dia as mulheres foi retirado. Sofria de problemas cárdio-
resenha literária (…) sobre os livros dos serem admitidas ao Sacerdócio Ministerial respiratórios, usando um aparelho para
nossos associados, recebi o convite para o (porventura a Virgem Maria – Nossa a oxigenação....
Encontro Nacional (…). Senhora não foi uma delas?) na Igreja Tinha 78 anos. Nasceu na freguesia
Mui tristemente por não poder participar, Católica, como já acontece em algumas das do Barqueiro, Mesão Frio, a mesma do
visto estar a ser operado na substituição de Igrejas Cristãs. nascimento e ordenação do marido.
revisão à prótese da anca esquerda no (…) Ao Francisco e aos três filhos do casal
Hospital da Arrábida em Vila Nova de Transmita a todos os participantes as – Francisco, Domingos e Graça –
Gaia, no dia 18 de abril, com a estabilização preocupações do 1º Tesoureiro da nossa endereçamos as sentidas condolências,
de não poder andar em transportes públicos Associação, para que a e as palavras de Luís Gonzaga:
durante dois meses, e três meses sem conduzir. “FRATERNITAS” se tor ne um «Só morre quem renuncia a Vida. A
Por outro lado, estou contente por me Movimento providencial no futuro da Igreja Maria Lúcia Viveu, Vive e Viverá.
aliviarem o sofrimento em que me encontro, Católica. Continuará a encher de luz e de encanto
com o joelho esquerdo sempre dorido e já com De mim próprio e da minha esposa Maria cada espaço por ela calcorreado. Ela
queixas da perna direita (tornozelo), do Carmo (…), um ABRAÇO retributivo continuará bem presente no coração do
valendo-me do apoio duma bengala para mui fraternal. seu marido, filhos e amigos.»
15. fraternitas
fraternit
ternitas
l
espiral 15
regional, quer em Fátima, a nível nacional. estimávamos muito, mas sobretudo programa
Mais tarde, na formação da primeira aqueles que com ele trabalharam de ENCONTRO
Direção, presidida pelo João Evangelista perto na criação e consolidação da
Simão, o Luís Gouveia foi convidado e Fraternitas. NACIONAL
aceitou generosamente ser o tesoureiro Uma das belas recordações que Fátima - Seminário do Verbo
do Movimento. Não vou aqui fazer a dele guardo é de quando o fui buscar Divino (Rotunda Norte)
história do desenvolvimento desse grupo, a Ermesinde para o funeral, em Tema: Mulheres no mundo e na
nem dos passos que levaram a que se Felgueiras, do nosso querido colega Igreja: o que mudou? O que falta
constituísse em “Movimento” formal, e sócio da Fraternitas Domingos mudar?
que mais tarde – em maio de 2000 – Moreira, já há um par de anos. Nessa
seria aprovado pela Conferência viagem tive a oportunidade de sentir, Dia 30 de setembro (6.ª-feira)
Episcopal Portuguesa. mais uma vez, como ele era por 20h00 – Jantar, antecedido de
Mas o facto da minha mulher – Isabel dentro, tão enriquecedor e tão acolhimento
– ser a secretária e o Luís Gouveia o profundo. E não posso esquecer que, 21h15 – Informações.
tesoureiro, da primeira Direção, ao chegar a casa dele, fez questão de Diálogo sobre a(s) vida(s) na Fraternitas
naturalmente que nos aproximou e, por me pedir para aguardar um instante, 22h00 – Descanso
isso, contactámos muito mais vezes do para que pudesse ir buscar ao seu
que com a maioria de outros casais apartamento a neta que ele adorava, Dia 1 de outubro (sábado)
elementos da Fraternitas, visitámo-nos porque queria que ela me conhecesse 8h30 – Pequeno-almoço
mutuamente e conhecemo-nos muito e eu a ela. Foi enternecedor e 9h00 – Laudes. Exposição do
melhor. comovente e uma prova da especial Santíssimo
Sempre admirei nele o enorme rigor amizade que me dedicava. Nunca 10h15 – Encontro
e a total dedicação com que esquecerei esse detalhe. 13h00 – Almoço
desempenhava as suas funções, e ao Nas últimas semanas em que 15h15 – Encontro
mesmo tempo a sua grande dimensão esteve em coma induzido no Hospital 19h30 – Vésperas
como pessoa, como marido e pai, e de S. João, e dado que faço lá duas 20h00 – Jantar
como membro ativo da Igreja local. manhãs semanais de voluntariado, 21h15 – Tertúlia fraternal
Quando, por motivos de saúde, teve procurei ir sempre saber em
que ser substituído na estrutura de uma pormenor notícias dele ao serviço Dia 2 de outubro (domingo)
nova Direção da Fraternitas, nem por isso especializado em que estava internado, 8h30 – Pequeno-almoço
deixou nunca de estar disponível para e foi precisamente falando com uma 9h00 – Laudes
tudo aquilo em que pudesse colaborar. das enfermeiras no sábado de manhã 9h45– ASSEMBLEIA GERAL
E como pessoa muito meticulosa, a seguir ao seu falecimento, que soube 12h00 – Eucaristia, com ensaio prévio
anotava tudo quanto considerava que o Pai o tinha finalmente chamado 13h00 – Almoço
importante e tornava-se por isso a nossa para o grande e eterno Abraço.
melhor “memória” para todos os No meu coração, na minha
pormenores da evolução do Movimento memória, e na minha amizade sincera, ASSEMBLEIA
em todas as suas fases. o Luís Gouveia continuará sempre
Infelizmente, as frequentes vivo, e procurarei fazer sentir isto GERAL
intervenções cirúrgicas a que teve de se
submeter, privaram-nos muitas vezes de
mesmo à sua querida Maria do
Carmo, e aos seus filhos e neta.
extraordinária
conviver com ele em encontros e retiros, Tive a felicidade de poder A realizar no dia 2 de outubro de
quer a nível regional quer a nível nacional. acompanhar o seu corpo já depois 2011 (domingo), pelas 9h45, no
Mas nunca foi por comodismo ou da chegada junto de Deus, e de cantar Seminário do Verbo Divino, em
menos vontade de estar presente, e no pequeno coro improvisado na Fátima, com a seguinte ordem de
sempre nos fez saber quão dolorosas Missa de Corpo Presente na Paróquia trabalhos: 1 – Apreciação e votação da
eram essas suas ausências. Quando estava de Ermesinde. acta da última reunião.
um pouco melhor e se conseguia A Fraternitas deve-lhe imenso, e 2 – Informações.
locomover, mesmo com dores e esforço, cada um de nós só pode dar graças a 3 – Discução e deliberação quanto
aproveitava para nos acompanhar nas Deus por ter conhecido e convivido à viabilidade da abertura da Fraternitas
atividades que fazíamos, sempre com o com esta pessoa extraordinária ao a consagradas e consagrados não
mesmo espírito construtivo e animador longo destes últimos anos. ordenados.
que lhe era característico. Todos o Até sempre, Luís! 4 – Outros assuntos.
16. | P.Ta Malmequeres, 4 - 3.º Esq | 2745-816
Pequenos dilúvios
não são um
Senhor, está
dilúvio
teus filhos Tu
Senhor, quem es tá a falar contigo é um dos teus f ilhos pecadores. Tu sabes quem é.
Peço-Te que me dês atenção por um momento. O título des ta car ta pode ser uma per gunta. E posso
Peço-T atenção momento. desta carta pergunta.
expressá-la de outro modo: as semelhanças de pequenos dilúvios não são sinal ou prenúncio de um
verdadeiro dilúvio para os nossos dias, pois não? Silv Pinto
José Silva Pinto
Senhor, temos presente na memória e no coração, na fé, o imundo. Tu criaste-o para nós, e nós estamos a torná-lo
esperança e caridade, os que Te levaram, outrora, a fazer inabitável, cheio de ódios, invejas, rancores, homicídios…
P.Ta
chover uma massa de enxofre sobre as cidades de Sodoma e
Gomorra e, semelhantemente, a ameaçar Níneve. E, como o Mas Tu, Senhor, atendendo à desmedida dedicação dos
teu povo continuava a prevaricar, esquecendo-Te e à tua teus amigos benditos do Pai não vais enviar-nos nenhum
vontade, cada vez pior no modo e na extensão. Tu julgaste – dilúvio nos nossos tempos, pois não?
Boletim de Fraternitas Movimento | Trimestral | Redacção: Fernando Félix
e bem – para que a raça humana não se extinguisse de vez – Atendendo ao sofrimento da tua Igreja por causa da falta
segundo os teus divinos desígnios – fizeste que se produzisse de sacerdotes e pelos casos de pedofilia, não vais enviar-nos
um dilúvio (de água) por toda a Terra então habitada., nenhum dilúvio nos nossos tempos, pois não?
salvando-se, apenas, a família de Noé e os animais que Atendendo aos trabalhos insanos de tantos missionários,
serviriam para o seu alimento e perpetuação na Terra, após o não vais enviar-nos nenhum dilúvio nos nossos tempos, pois
término do dilúvio. Imaginamos quanto isto Te custou não?
(olhando à nossa maneira Atendendo aos
humana), porque Tu, na tua milhares de sacrários
omnipotência e no teu abertos 24 horas por
amor infinito, achaste, por dia, onde és adorado e
bem, conservar a “primeira desagravado, não vais
raça humana” a criar outra. enviar-nos nenhum
dilúvio nos nossos
Vemos, ouvimos e tempos, pois não?
lemos que esta humanidade Atendendo à
atual começa a esquecer-se, inocência de tantas
novamente, de Ti e do crianças, adolescentes,
QUELUZ | E-mail: fernfelix@gmail.com
cumprimento da tua divina jovens, adultos e casais
vontade, embora, talvez, a exemplares, não vais
um nível ainda não tão enviar-nos nenhum
degradado. dilúvio nos nossos
tempos, pois não?
O meu cérebro pensa e Atendendo aos
as três virtudes cardiais milhões de filhas e filhos
sentem que Tu, na tua infinita misericórdia, já tens permitido teus que se dedicam aos apostolado para estender o teu Reino
o aparecimento de pequenos sinais, para que a humanidade por todo o mundo, na fé, esperança e amor, abandonando o
pense e repense alguns caminhos que está ou não a trilhar, seu bem-estar terreno e sacrificando a maior parte das suas
para que recue nos errados e avance nos certos. Depois, vidas, não vais enviar-nos nenhum dilúvio nos nossos tempos,
aparecem as guerras, as guerrilhas, com todo o cortejo de pois não?
milhares de mortos, fome, novas doenças e epidemias… E
estas más vontades influenciam a Natureza. Então, lá está ela Obrigado, Senhor! Aqui está de novo o teu filho pecador
a enviar tsunamis, terramotos, vulcões, tornados, vendavais, a agradecer a tua mais que provada benevolência, porque são
chuvas diluvianas, que levam todo o bem que Tu, criador, muitos milhões os teus filhos por quem destes o vosso Corpo
espalhaste e que o homem bom tem aperfeiçoado, e Sangue, no Calvário, e tu lembrar-te-ás das palavras que
completado, desenvolvido; caem os aviões, afundam-se os disseste a Santa Mónica a respeito da conversão de Agostinho,
submarinos, o povo vive inseguro, cheio de medos, filho dela: “Não podem perder-se tantos(as) filhos(as) por
espi ral
demasiadamente stressado. Habitamos num mundo impuro quem dei o meu corpo e sangue e continuam a recebê-los,
que Tu criastes bom e puro. Tu criastes o mundo; nós criamos todos os dias, na celebração da Eucaristia.»