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O Brasil no Global Competitiveness Report
                   2010-2011
                                            Carlos Arruda, Marina Araújo, Arthur Kux

1 – Um pouco sobre o Global Competitiveness Report 2010-2011

Com o intuito de oferecer ferramentas de benchmarking para gestores e formuladores de
políticas, o Global Competitiveness Report (GCR), produzido anualmente pelo Forum
Econômico Mundial, analisa alguns dos fatores fundamentais para o crescimento
econômico sustentável e a prosperidade no longo prazo (WEF, 2010).

As análises de competitividade possuem como indicador básico o Global
Competitiveness Index (GCI). Esse indicador de competitividade considera tanto fatores
macro como os microeconômicos, preservando, portanto, a importância da interação
entre os fatores sistêmicos, empresariais e estruturais da economia. De forma sintética,
competitividade é para o WEF (2010) o conjunto de instituições, políticas e fatores que
determinam o nível de produtividade do país. No que tange à produtividade, essa é
considerada um fator primordial para a sustentabilidade da prosperidade econômica das
nações. Assim, para o WEF (2010), em linhas gerais, economias mais competitivas
tentem a gerar altos níveis de renda para a população. E a ponte desse processo está nos
ganhos de produtividade auferidos pela economia dadas as suas condições de
competitividade. Além disso, a sustentabilidade da prosperidade de uma nação somente
pode ser garantida se a sua produtividade for adequadamente mantida.

Num raciocínio mais retilíneo, países mais competitivos terão maiores níveis de
produtividade, que geram, no médio e no longo prazo, maiores níveis de renda (proxy
de crescimento econômico). Recorrentemente formulado em bases macro, o WEF
entende não ser esse suficiente para a definição do termo. A exploração dos conceitos
microeconômicos e, principalmente, do conceito de produtividade no seu nível micro é
de suma importância para as formulações do “Global Competitiveness Report”. A
produtividade, anteriormente citada como componente de um contexto macro, é
formulada a partir de componentes microeconômicos, como a sofisticação das
companhias, a qualidade do ambiente de negócios e das externalidades que possibilitam
a formação de clusters e dão suporte às indústrias – e é nessas bases que o conceito de
produtividade será desenhado (WEF, 2010). Tendo esses três fatores microeconômicos
básicos, a quantidade de trabalho dessa nação aumentará e, a partir dele, o produto
interno gerado. Esse processo levará, também, a um aumento da renda nacional.
Considerando que as condições microeconômicas traduzem as oportunidades geradas
pelas condições macro, a produtividade é determinada a partir da atuação dos
“geradores” de produtividade, que são, por exemplo, a exportação das empresas, as
importações, os investimentos diretos recebidos do exterior ou aqueles realizados pelas
empresas nacionais nos exterior, a inovação, etc. Assim, um ambiente competitivo gera
condições macroeconômicas, políticas e sociais adequadas, proporcionando para a
empresa um ambiente micro favorável para o aumento de sua produtividade, e,
conseqüentemente, a quantidade de trabalho empregada na economia e, por fim, o nível
de renda e produto.

Com base nisso, o Relatório Global de Competitividade é composto por dois índices
distintos de competitividade:

• O Global Competitiveness Index (GCI), criado em 2004 pela equipe do WEF
juntamente com o Prof. Prof. Xavier Sala-i-Martin, da Columbia University, leva em
consideração o nível de desenvolvimento dos países e inclui variáveis – econômicas,
institucionais, sociais e empresariais - que definem o ambiente competitivo de uma
nação.
• O Business Competitiveness Index (BCI), sob a responsabilidade do Prof. Michael
Porter, preocupa-se com os fatores microeconômicos que moldam a produtividade das
firmas.

Os índices são formados por dois tipos de informações:
• Hard data ou dados secundários provenientes de fontes públicas internacionais. A
maioria dos dados é referente ao ano anterior de publicação do relatório (2009) ou o
dado mais recente disponível.
• Soft Data ou dados primários provenientes da pesquisa de opinião de executivos
conduzidas nos países através das instituições parceiras locais, no caso do Brasil, a
Fundação Dom Cabral e o Movimento Brasil Competitivo. A competitividade envolve
diversos aspectos de uma economia, muitos deles subjetivos ou de difícil mensuração.
Por essa razão, o WEF realiza anualmente uma pesquisa de opinião de executivos
(Executive Opinion Survey - EOS) para obter essas informações complementares, como
qualidade das instituições públicas, independência do poder judiciário e o grau da
corrupção em uma economia.

Os executivos respondem a aproximadamente 150 questões sobre o ambiente no qual
seus negócios estão inseridos, apontando sua percepção em uma escala entre 1 a 7, em
que 1 geralmente corresponde à pior opção e 7 à melhor. O WEF e as instituições
parceiras selecionam a amostra dos executivos que participarão da EOS visando
representar da melhor forma possível o universo das empresas do país, ou seja,
considerando a dispersão geográfica, estrutura setorial e o tamanho das empresas. Para
obter uma amostra com significativa participação no PIB, são consultados,
prioritariamente, executivos de grandes empresas. A amostra deve, obrigatoriamente,
conter firmas com participação estatal, privada nacional e privada estrangeira, além de
firmas domésticas que vendem em mercados internacionais.

Os executivos selecionados para responder ao questionário são da alta gerência das
empresas, que possuam conhecimentos sobre o ambiente econômico nacional e
internacional. A pesquisa pode ser respondida pelo questionário enviado para as
empresas ou através da internet. O instituto Gallup International atua como consultor do
World Economic Forum, garantindo a qualidade do processo de revisão metodológica e
técnica da pesquisa. No mundo, a pesquisa em 2010 envolveu mais de 13.607
participantes e 139 economias1. No Brasil, mais de 140 executivos responderam ao
questionário entre janeiro e maio. A metodologia adotada pelo World Economic Forum
para elaboração do relatório e respectivos rankings será apresentada em detalhes neste
documento. As mais de 100 variáveis analisadas no estudo são agrupadas em 12
"pilares", que correspondem a grupos diferentes de variáveis e que, por sua vez, são
agrupados em três grupos de análise: “Requisitos Básicos”, “Propulsores de Eficiência”
e “Inovação e Sofisticação Empresarial”.

Para o relatório de 2010-2011, os 12 pilares analisados foram:

Requisitos básicos

1. Instituições: Referem-se a transparência, grau de corrupção e eficiência do setor
público, proteção a direitos de propriedade, qualidade da segurança pública, além da
ética das empresas, e eficácia das auditorias e padrões contábeis do setor privado.

2. Infra-estrutura: Relacionado à qualidade da infra-estrutura de transportes,
comunicação e de fornecimento de energia.

3. Estabilidade Macroeconomia: Refere-se ao nível de endividamento, inflação,
contas públicas e spread bancário.

4. Saúde e Educação Primária: Refere-se à incidência de doenças e seus impactos na
economia, à expectativa de vida e à abrangência do sistema educacional primário.

Propulsores de eficiência

5. Educação Superior e Treinamento: Refere-se à abrangência e qualidade do sistema
educacional nos níveis secundário e terciário, além dos serviços de treinamento e
pesquisa especializados.




1
    Em relação a 2009, o estudo contou com um país a menos – Suriname.
6. Eficiência do Mercado de Bens: Refere-se ao impacto das regulamentações
governamentais na atividade empresarial privada e às características competitivas do
ambiente empresarial.

7. Eficiência do Mercado de Trabalho: Reflete o grau de flexibilidade das leis do
trabalho e as práticas de meritocracia adotadas nas empresas.

8. Sofisticação do Mercado Financeiro: Avalia a qualidade do mercado bancário e a
disponibilidade no país de marcos regulatórios, práticas e recursos que facilitem o
acesso a capital por empresas do setor privado.

9. Prontidão Tecnológica: Relacionada à difusão de novas tecnologias nas empresas e
na sociedade.

10. Tamanho do Mercado: te Refere-se ao tamanho do mercado pelo qual as empresas
se orientam.

Inovação e sofisticação empresarial

11. Sofisticação dos Negócios: Relacionado à qualidade e quantidade de fornecedores
locais, às práticas empresariais e à natureza da vantagem competitiva das firmas.

12. Inovação: Refere-se à capacidade inovativa da economia.

Após essa apresentação do estudo, segue uma análise detalhada das condições
competitivas do Brasil para o ano de 2010, que se estrutura da seguinte forma. Na seção
2 discuti-se a situação competitiva geral do Brasil com base no GCR de 2010. A seção 3
dedica espaço ao seu detalhamento com destaque para a análise dos pilares e fatores que
compõem o indicador. Ao final da seção será apresentado alguns desafios do Brasil para
o futuro. A seção 4 conclui a discussão empreendida.

2 – O Brasil no GCR 2010-2011

Apesar dos avanços nas áreas sociais e econômicas, o Brasil perdeu 2 posições no
ranking geral de competitividade do Global Competitiveness Report 2010-2011.
Ocupando a 58ª posição o país ainda não conseguiu recuperar o posicionamento de
2004 (49º lugar), mesmo considerando os seus avanços e estabilidade em áreas chaves
da competitividade como a macroeconomia e o emprego. Como pode ser observado no
Gráfico 1, o país não conseguiu atingir um bom ritmo de recuperação competitiva. A
velocidade com que a nação perdeu 23 posições entre os anos de 2004 e 2007 (em 3
anos) não pode ser percebida na recuperação de posições vivida entre 2007 e 2010 –
anos estes que o país recuperou 14 das 23 posições perdidas.
Gráfico 1: Global Competitiveness Index
                                    2010-2011
               0

              20

              40    49
                            57                             56       58
                                    66              64
              60                            72

              80
                    2004   2005    2006    2007    2008   2009    2010

           FONTE: World Economic Forum, 2010. Elaboração própria.

O ganho de 8 posições vivenciado no ano de 2009 esteve não somente relacionado aos
ganhos reais de competitividade do país mas, também, pela perda generalizada de
competitividade das demais nações como consequencia da crise. Já em 2010, a perda de
duas posições no ranking geral parece relacionado a um ganho competitivo das demais
nações analisadas. Corrobora essa observação o fato de as posições do Brasil nos
grandes blocos de análise terem praticamente se mantido ao longo do estudo. Em um
ranking onde o posicionamento competitivo é relativo, não ganhar novas posições pode
ser um sinal de perda competitiva, principalmente quando as demais nações estão numa
constante corrida pela recuperação competitiva em um cenário de pós-crise. Esse parece
ser o caso do Brasil. O importante ganho de 8 posições do país parece ser balizado no
ano de 2010 pela recuperação competitiva dos demais países do ranking, fazendo com
que o país retomasse sua posição real através da perda de 2 posições.

        TABELA 1: O Brasil no Global Competitiveness Report 2010-2011
         GCR 2009-2010           2006    2007      2008     2009     2010
 Global Competitiveness Index          66        72          64          56     58
 Requisitos Básicos                    84       101          96          91     86
 Propulsores de Eficiência             51        55          51          42     44
 Inovação e sofisticação de fatores.   36        41          42          38     38
FONTE: World Economic Forum, 2010. Elaboração própria.

O GCR analisa a competitividade das nações em acordo com seu nível de
desenvolvimento econômico. Assim, o Brasil que pertence ao grupo 2 (Direcionados
para a Eficiência) no referido modelo deveria ter superado as suas necessidades e
deficiências nos requisitos básicos da competitividade e buscar pelo desenvolvimento
dos propulsores de eficiência e inovação. Como já apontado em relatórios anteriores, o
país apresenta uma inversão de prioridades tendo as suas bases competitivas em fatores
ligados a inovação e a sua sofisticação de fatores. Na contra-mão, as suas maiores
fragilidades e desafios estão justamente nos fatores que, por hipótese, deveriam ser as
forças competitivas do país – os requisitos básicos. Como pode-se observar na TAB. 1,
o país incrementou a sua posição competitivas nos fatores de Inovação e Sofisticação
de 2007, quando ocupava a 41ª posição, até 2010, quando ocupou a 38º lugar. Nesse
bloco o Brasil está à frente de nações como Índia (42ª posição), Chile (44ª) e Espanha
(41ª).

Já os requisitos básicos, fatores de pior desempenho do país, saíram do 101º lugar em
2007 para o 86º lugar em 2010. Apesar da reconhecida deficiência, esse último tem
apresentado taxas de crescimento superiores aos demais blocos, com uma média de
ganhos de 5 posições por ano. Esse fato é consequencia das fortes intervenções do
governo e das políticas de recuperação econômica e social. Por último, o bloco de
propulsores de eficiência foi o único a apresentar uma pequena perda competitiva (duas
posições), mesmo assim o país está a frente de países como Itália (45ª), México (61ª) e
Rússia (53ª).

De uma forma geral o Brasil continua com forte participação competitiva e política
frente aos dois grandes grupos econômicos à qual pertence. Com relação à América
Latina (AL), o Brasil apresenta o segundo melhor desempenho competitivo, perdendo
somente para o Chile (30ª posição). Ainda vale comentar que, no que tange a
competitividade, a distância relativa entre as economias do Brasil e do México parece
aumentar. Em 2009 o Brasil ocupava a 56ª posição enquanto o México ocupou a 60ª –
uma diferença de 4 posições. Já no ano de 2010, apesar de as duas nações apresentarem
perdas, a distância entre os mesmos aumentou para 8 posições (TAB. 2).

Nesse movimento, caberia ressaltar o mau posicionamento generalizado dos países
latino-americanos no ranking geral. Dentre as 30 nações mais competitivas do globo,
somente o Chile representa a região. No segundo quadrante (com posicionamentos que
variam de 35 ao 70) localizam-se nações como Porto-Rico (41ª), Panamá (53ª), Brasil
(58ª), Uruguai (64ª), México (66ª) e Colômbia (68ª). As demais nações localizaram-se
nos quadrantes de mais baixo desempenho competitivo, com um total de 13 nações
participantes. Essa concentração de países latino-americanos nos quadrante de baixo
desempenho coloca a região para trás na corrida pela competitividade, corrida essa
bastante acirrada quando se considera o potencial asiático em competir. No que tange à
competitividade brasileira, em comparação com a citada região, a sua força pode estar
na estabilidade macroeconômica e no tamanho do seu mercado, que atualmente
apresenta alto potencial de renda e compra.
TABELA 2: O Brasil e algumas nações latino-americanas no Global
                     Competitiveness Report 2010-2011




      FONTE: World Economic Forum, 2010. Elaboração própria.

Em relação aos BRICs a situação competitiva do Brasil pode não ser tão favorável.
Ocupando o 3º lugar (dentre as 4 nações consideradas), o Brasil perde para China e
Índia, estando à frente somente de Rússia. Ao longo dos últimos três anos, somente
Brasil e Rússia apresentaram variações competitivas consideráveis. Como já
comentado, o Brasil ganhou 8 posições em 2009 enquanto Rússia perdia 12 posições.
As variações de China e Índia em 2009 sinalizaram para a estabilidade, dada a variação
de somente 1 posição. Já no ano de 2010, todas as nações elencadas pelo grupo
apresentaram certa estabilidade. Nesse cenário, Brasil e Índia perderam duas posições,
enquanto China ganhou duas. Já Rússia manteve seu posicionamento de 2009.
Relativamente, somente China pertence ao primeiro quadrante do ranking geral, estando
as 3 outras nações concentradas no segundo quadrante.

  TABELA 3: O Brasil e os BRICs no Global Competitiveness Report 2010-2011




FONTE: World Economic Forum, 2010. Elaboração própria.

Numa análise transversal, o posicionamento geral do Brasil está consideravelmente
aquém de suas potencialidades. Não somente por sua força política e econômica, o
Brasil sub-utiliza a sua plataforma competitiva levando-o ao desempenho mediano
apresentado acima. No ranking geral o país perde competitividade para nações como
Qatar (17ª), Irlanda (29ª) e Mauritânia (55ª). Essa situação é respaldada por questões já
amplamente discutidas em análises anteriores como a falta de infraestrutura e educação
adequadas, ausência de um marco regulatório eficiente e de políticas de fomento para
investimento empresarial. Esses e mais outros tantos fatores se reproduzem no histórico
competitivo brasileiro de forma inercial. Romper com esse ciclo é o maior desafio do
próximo governo.

Porem, não somente velhos fantasmas rondam a competitividade nacional. O desafio
das continuidades (ARRUDA, ARAÚJO, KUX, 2010) ainda é presente. Dar
continuidade às boas políticas, às boas práticas governamentais, à estabilidade
macroeconômica com desenvolvimento e ao investimento do governo são desafios tão
complexos quanto o primeiro elenco de desafios apresentados. Mas afinal, o que foi o
Brasil em 2010? Qual herança ficará para o próximo governo? E quais os principais
desafios do Brasil? Essas são algumas das perguntas que essa análise tentará explanar
nas páginas que se seguem.

3 – Um retrato do Brasil:

Para se entender a competitividade do Brasil na primeira década do século XXI é
importante ter em mente alguns fatores históricos de seu desenvolvimento. Até a década
de 80, considerando os governos de Getúlio, Juscelino e dos militares, todo
desenvolvimento industrial e da base competitiva eram motivados por uma necessidade
intensa de recuperação de fatores defasados ou tardios. Assim foi a constituição da
indústria de base no país, a construção de sua infraestrutura logística, a instalação de
estruturas de telecomunicações e o desenvolvimento da educação básica com as salas do
Mobral. Sempre atrás de um desenvolvimento tardio, o país continua sendo a promessa
do futuro, condição essa que ainda não alcançamos.

O Brasil de FHC era um país assolado pela crise econômica e inflacionária. Sem
condições de investir em um desenvolvimento efetivo, os 8 anos de FHC deixaram de
herança a estabilidade da moeda e as contas públicas ajustadas, além da privatização e
da criação das agência reguladoras. Casa arrumada o governo Lula inicia-se com
demandas efetivas de desenvolvimento. Incrementar o investimento do país era algo
mais que necessário, era urgente. Somente via investimento (das empresas ou dos
governos) é que o país poderia incrementar a renda e o emprego, além de colocar as
empresas nacionais em condições de maior competitividade internacional.

Sem qualquer posicionamento crítico a respeito, esse incremento do investimento foi
realizado, principalmente pelas fontes governamentais. Muito investiu-se em
infraestrutura, em desenvolvimento social, em educação. E o país cresceu. Cresceu a
renda média da população, cresceu o número de empregos ofertados, reduziu-se a
capacidade ociosa das fábricas e aumentou-se o consumo. O país, enfim, parece viver
um verdadeiro crescimento econômico, e não mais um milagre econômico sem
fundamentos sólidos como na década de 70.

Frente a um novo patamar de desenvolvimento econômico, talvez o maior desafio esteja
na sustentabilidade desse movimento. Mais que dar continuidade é imprescindível que o
ciclo virtuoso da economia ganhe vida própria. Dado o impulso inicial fomentado pelas
diversas ações governamentais, cabe agora aos demais agentes econômicos continuarem
a fomentar esse ciclo seja via investimentos do setor privado, seja via investimento da
sociedade em educação e treinamento, ou em outros tantos caminhos possíveis. Mais
que cobrar do governo ações em prol da competitividade nacional, talvez seja o
momento de se fomentar uma melhor interação público-privada, onde a participação de
todos é imprescindível.

Sem dúvidas as maiores deficiências competitivas do país estão no bloco Requisitos
básicos. Composto por 4 pilares básicos, à saber Instituições, Infraestrutura,
Estabilidade Macroeconômica e Saúde e Educação básica, esse é o conjunto de fatores
que, historicamente, deprimem o resultado líquido da competitividade nacional.
Ocupando o 86º lugar no ranking do referido bloco, o pilar de pior desempenho está na
estabilidade macroeconômica (111ª posição) e o de melhor desempenho está na infra-
estrutura (62ª posição).

     TABELA 4: O Brasil e os requisitos básicos da competitividade no Global
                     Competitiveness Report 2010-2011
                                              2007      2008      2009      2010
       Global Competitiveness Index          72        64           56        58
       Requisitos Básicos                   101        96           91        86
       Instituições                         104        91           93        93
       Infra-estrutura                       78        78           74        62
       Estabilidade Macroeconômica          126       122          109       111
       Saúde e Educação Básica               84        79           79        87
       FONTE: World Economic Forum, 2010. Elaboração própria.

No pilar instituições, onde é avaliada a qualidade das instituições públicas e privada em
fornecer condições favoráveis à competitividade internacional, o Brasil manteve estável
a sua posição de 2009, 93º lugar. O baixo desempenho nesse pilar é histórico e está
relacionado ao baixo desempenho do país em fatores como Diversificação dos Fundos
Públicos (121ª posição), confiança pública nos políticos (127ª), desperdício dos gastos
governamentais (136ª) e os custos gerados pelo crime e violência (123ª). De uma forma
geral, o desempenho do referido pilar é bastante baixo, estando o seu melhor
desempenho na posição 64 para as variáveis Força dos padrões de auditoria e Proteção
dos interesses dos acionistas minoritários. Vale ressaltar que os “melhores”
desempenhos do pilar estão relacionados ao desempenho das instituições privadas.

Infraestrutura, apesar das intensas criticas do setor privado é o pilar de melhor
desempenho, 62º lugar. Apesar do ganho de 12 posições no pilar, as variáveis do
mesmo não apresentaram grandes alterações de posições entre os anos de 2009 e 2010.
A qualidade geral da infraestrutura apresentou perdas competitivas de 3 posições em
relação ao ano anterior (ocupando a 84ª posição em 2010). Somente os fatores qualidade
da infraestrutura rodoviária e portuária apresentaram tímidas melhorias de 1 e 4
posições, respectivamente (ocupando a 105ª e a 123 posição).
A estabilidade macroeconômica talvez seja o Tendão de Aquiles da competitividade
atual. Por quatro anos consecutivos, como pode-se observar na tabela 4, o país não
conseguiu sair do último quadrante do ranking de competitividade, apresentando
posicionamentos inferiores ao 100º lugar. No ano de 2010, o país ocupou o 111º lugar,
perdendo duas posições quando comparado com o seu desempenho do ano de 2009. De
uma forma geral, esse pilar sofre com a incongruência interna de suas variáveis, que
refletem a incongruência dos agentes econômicos que o regem. Apesar do bom
desempenho macroeconômico em fatores como o balanço dos gastos governamentais
(50ª posição e ganho de 19 posições) e o Country Credit Rating (46ª posição) o país
ainda possui sérios problemas em variáveis chaves da macroeconomia nacional. A
exemplo, tem-se a taxa de poupança nacional em que o país ocupou a 101ª posição
(perda de 15 posições) no ranking e o Spread Bancário onde o país ocupou a 136ª
posição (perda de 8 posições).

Para além, o estudo aponta uma maior pressão inflacionária contra a estabilidade
macroeconômica tão defendida. O país saiu da 46ª posição no quesito Inflação em 2009
para a 93ª posição. Porem, essa mudança negativa de posicionamento parece estar
relacionado muito mais a um processo de deflação das economias como um todo do que
a perda de competitividade do Brasil no que tange seu controle da inflação. No ano de
2008 o país apresentou uma inflação média de 5.7%. Já no ano de 2009 essa média caiu
para 4.9%, padrão adequado frente as metas inflacionárias controladas pelo BACEN.
Logo, na realidade, o Brasil não apresentou no ano de 2010 uma tendência crescente da
inflação mas, sim, uma manutenção de seu controle.

O pilar saúde e educação primária, último do bloco requisitos básicos, apresentou um
perda de 8 posições entre os anos de 2009 e 2010, passando a ocupar a 87º lugar. Tal
posição, inferior ao desempenho competitivo do ano de 2007, coloca as condições
educacionais e de saúde do Brasil inferiores a de países como Argentina (60ª), Equador
(75ª), México (70ª) e Rússia (53ª). Nesse pilar a qualidade de educação primária (127ª
posição com perda de 8 posições) e a incidência de malária (104ª posição com perdas de
6 posições) foram os fatores de pior desempenho do país. No ano de 2010, o referido
pilar sofreu consideráveis mudanças em sua estrutura com a diminuição do número de
indicadores que expressam a qualidade da educação básica nos países estudados. De
uma forma geral, 80% dos indicadores desse pilar expressam a qualidade da saúde
ofertada pelo país mas pouco discorre sobre a qualidade da educação básica (que é
representado por apenas 20% das variáveis).
TABELA 5: O Brasil e os propulsores de eficiência da competitividade no Global
                     Competitiveness Report 2010-2011
                                             2007      2008     2009      2010
       Global Competitiveness Index          72        64         56        58
       Propulsores de Eficiência             55        51          42       44
       Educação Superior e Treinamento       64        58          58       58
       Eficiência do Mercado de Bens         97       101          99      114
       Eficiência do Mercado de Trabalho    104        91          80       96
       Sofisticação do Mercado
       Financeiro                            73        64          51       50
       Prontidão Tecnológica                 55        56          46       54
       Tamanho do Mercado                    10        10          10       10
       FONTE: World Economic Forum, 2010. Elaboração própria.

O segundo bloco apresentado pelo WEF é destacado pelos fatores que movimentam a
eficiência produtiva de uma determinada nação. Nessa lógica, para as empresas
produzirem com eficácia e eficiência elas deverão encontrar em sua plataforma
produtiva uma mão-de-obra com formação técnica e superior adequada à produção, um
mercado de trabalho eficiente, um mercado financeiro que suporte as suas transações
financeiras, dentre outras tantas características que dão movimento e intensidade à
atividade empresarial. Ressalva-se que, na lógica desenvolvimentista do WEF, a
existência de uma dessas bases não isenta a necessidade de que as demais coexistam. Na
verdade, cabe esclarecer que o ideal competitivo perseguido pelo WEF demanda,
justamente, a busca pela existência efetiva dos três blocos de analise aqui discutidos.

Retomando a analise dos dados, como pode-se observar na tabela 5, os fatores
propulsores de eficiência no Brasil apresentam um comportamento diversificado.
Enquanto variáveis como Tamanho de mercado (10ª posição), Sofisticação do mercado
financeiro (50ª) e Prontidão tecnológica (54ª) vem a colaborar para a eficiência das
empresas, outros fatores historicamente deprimem as condições competitivas nacionais
– como, por exemplo, Eficiência do mercado de bens (114ª) e Eficiência do mercado de
trabalho (96ª).

Dentro do referido bloco, o pilar de maior estabilidade tanto de posições quanto de
posicionamento competitivo está no tamanho de mercado brasileiro. Ocupando a 10ª
posição a mais de 5 anos, este pilar é um dos fatores chaves para o crescimento da
economia vivenciados nos últimos anos. Como será tratado em detalhe mais à frente, o
tamanho do mercado é medido não somente por sua capacidade de geração de riqueza
(PIB na paridade do poder de compra) mas, também, pela sua capacidade de
transacionar com os mercados externos. Assim, o Brasil ocupa a 9ª posição no tamanho
de sua geração de riqueza, com um PIB de US$ 2.013 bilhões de dólares, e a 24ª
posição no indicador de tamanho de mercado estrangeiro. Cabe notar que o melhor
posicionamento do país está justamente na sua capacidade doméstica. Com ganho de 1
posição, o Brasil passa a ocupar a 8ª posição de maior econômica doméstica (medido
pelo indicador de tamanho de mercado doméstico). Fator esse gerado pelo intenso
movimento de expansão da renda real vivido pelo país nos últimos anos.

Outro fator que apresenta um comportamento competitivo bastante interessante está no
pilar Sofisticação do mercado financeiro. Por três anos consecutivos o referido pilar
alcançou melhores posicionamentos no ranking de forma bastante sustentável. De 2007
a 2010, este pilar alcançou 23 novas posições que se sustentaram tanto na depressão
pré-crise, durante e, principalmente, no pós-crise (quando teoricamente, os demais
países deveriam voltar ao nível de competitividade normal). Essa sustentabilidade está
ancorada numa eficiente regulamentação da bolsa de valores (ganho de 5 posições
passando a ocupar o 5º lugar no ranking); na solidez do setor bancário (perda de 4
posições ocupando o 14º lugar); na disponibilidade de bons serviços financeiros (27º
lugar); na melhoria dos fluxos de capitais no país (ganho de 18 posições passando a
ocupar o 73º lugar) e numa melhor disponibilidade de venture capital (ganho de 8
posições passando a ocupar o 60º lugar).

Os pilares que apresentaram maiores perdas de posições competitivas são Eficiência do
mercado de trabalho (perda de 16 posições) e Eficiência do Mercado de Bens (perda de
15 posições). Com relação ao mercado de trabalho, os ganhos de 24 posições auferidos
entre os anos de 2007 e 2009 parecem esmorecer. Estão relacionados a essa perda de
competitividade fatores como a perda de 17 posições na variável confiança na gestão
empresarial (52ª posição); o aumento da rigidez do emprego (gerando uma perda de 18
posições e ocupando a 114ª posição); e diminuição da flexibilidade da determinação
salarial (perda de 6 posições ocupando a 116ª). Além desses fatores, colaboram para
esse cenário a falta de cooperação nas relações de trabalho (90ª), a redundância dos
custos salariais (80ª) e o pouco relacionamento existente entre pagamento e
produtividade (80ª). Cabe a ressalva de que a maioria desses fatores estão relacionados
ao marco regulatório brasileiro.

O segundo pilar que apresentou maiores perdas competitivas também justifica seu
desempenho pela ausência de competitividade do marco regulatório que o rege. Assim
como no pilar anteriormente apresentado, o desempenho geral do Brasil no referido
pilar é relativamente bem representado pelas variáveis de atuação direta das empresas,
caso oposto às variáveis que expressam atuação do governo. Assim, a queda de 15
posições é justificada pela perda de competitividade no que tange a concentração dos
mercados (perda de 11 posições passando a ocupar a 46ª posição); ao grande impacto
que os impostos tem para a eficiência da produção e para a formação de preços (variável
que ocupou em 2009 e 2010 o ultimo lugar no ranking); ao total de taxas e impostos
desembolsados pelas empresas (perda de 10 posições passando a ocupar a 127ª
posição); ao excesso de procedimentos dedicados à abertura de novos negócios (perda
de 6 posições passando a ocupar a 132ª posição), dentre outros fatores. Para esse mesmo
pilar, o desempenho do Brasil mostra-se mais adequado ao seu nível de
desenvolvimento nas variáveis grau de orientação da produção para os clientes
(ocupando o 50º lugar) e a sofisticação dos consumidores (ganho de 5 posições
passando a ocupar a 52ª posição).

Por fim, tratar de educação superior e treinamento no Brasil é sempre uma temática
delicada. Apesar dos avanços já registrados na área, é reconhecido que um amplo
caminho à qualidade do ensino superior e treinamento ainda precisa ser perseguido. No
ranking do referido pilar, o ganho de 6 posições no ano de 2007 foi mantido por três
anos consecutivos, inclusive em 2010, fazendo do Brasil a 58ª economia mais
competitiva no que tange sua educação superior. Apesar da manutenção da posição no
ano de 2010, o referido pilar apresenta uma sensível perda de posições em algumas de
suas variáveis. Perda essa que poderá em um futuro próximo culminar em perdas
generalizadas no pilar. Dessa forma, no ano de 2010, o número de matrículas no nível
secundário e terciária mantiveram, aproximadamente, as suas posições do ano anterior.
Mas, apesar de todo o investimento do governo e das políticas do MEC para
incrementar o nível terciário, a posição competitiva média da variável continua baixa
(73º lugar). Além dessa questão, a qualidade do sistema educação do Brasil ainda é
bastante mal avaliada pelos executivos, ocupando desde 2009 o 103º lugar. Critica
também foi a avaliação dos executivos para a disponibilidade local de pesquisa
especializada e serviços de treinamento, variável essa que ocupou o 36º lugar com um
perda de 7 posições em relação ao desempenho de 2009.


   TABELA 6: O Brasil e os fatores de inovação da competitividade no Global
                    Competitiveness Report 2010-2011
                                              2007     2008      2009      2010
       Global Competitiveness Index          72         64         56        58
       Inovação e sofisticação de fatores     41        42          38       38
       Sofisticação dos Negócios              39        35          32       31
       Inovação                               44        43          43       42
      FONTE: World Economic Forum, 2010. Elaboração própria.

Por fim, a análise do bloco Inovação e Sofisticação dos fatores parece detalhar sobre o
melhor da competitividade do país. Ocupando o 38º lugar, este bloco é composto pelos
pilares inovação (com ganhos competitivos de 1 posição ocupando o 31º lugar) e
sofisticação dos negócios (ganho de 1 posição e ocupando o 42º lugar). No que tange a
inovação, a capacidade geral de gerar inovação no país foi bem avaliada pelos gestores,
fazendo o país ocupar a 29ª posição no referido ranking. Também apresentaram bons
posicionamentos as variáveis despesas das empresas em P&D (29ª posição) e
colaboração universidade-indústria para geração de P&D (34ª posição). Como essas
duas últimas variáveis apresentadas são baseadas em fontes softs, pode ocorrer de as
mesmas apresentarem certas distorções da realidade. Com relação às despesas das
empresas com atividades de P&D, apesar do bom posicionamento indicado pelo
empresariado brasileiro, em dados quantitativos a realidade parece ser outra. As
empresas brasileiras, segundo dados do MDIC, investem menos de 0,5% de seu PIB em
atividades de P&D. Dados esses bastante reduzidos quando comparados com países
como China (1,18%), USA (2,01%) e Israel (3,93%).

O país teve consideráveis ganhos de posição em variáveis como Capacidade do governo
em adquirir novas tecnologias (50ª posição com um ganho de 10 posições). Na contra-
mão, o país perdeu 8 posições na variável Disponibilidade de cientistas e engenheiros,
saindo da 60ª posição para a 68ª. Essa última variável é especialmente critica em
momentos de crescimento econômico dada a falta de mão-de-obra devidamente
qualificada para a continuidade desse mesmo crescimento.

Quanto a sofisticação dos negócios, a quantidade e qualidade de oferta de bens (9ª e 29ª
posição, respectivamente) apontam para um cenário empresarial competitivo. Já a
variável Natureza da Competitividade (89º lugar) indica um posicionamento médio das
empresas brasileiras, elas estariam tanto dedicadas a produção de bens de baixo valor
agregado, como recursos naturais, como a produção dedicada a produtos e processos
únicos e com agregação tecnológica. De uma forma geral, o perfil produtivo brasileiro
mostra-se bastante competitivo e eficiente, essas observações estão calcadas na posição
do país nas variáveis Controle da distribuição internacional (27ª), Extensão dos
mercados (22ª), Sofisticação dos processos produtivos (29ª). Somente a variável
Extensão da cadeia de valor, que apresentou perdas competitivas de 3 posições, teve o
pior desempenho do pilar, ocupando a 60ª posição.

Como já comentado em anos anteriores, a competitividade brasileira parece ser
sustentada pela atividade empresarial. Mas, sem dúvidas, o atual crescimento do país e
todo o seu desenvolvimento recente estão bastante ancorados nas políticas e ações
governamentais. Sustentar o atual desenvolvimento econômico envolve mais que a
superação de desafios historicamente consolidados, envolve, também, a promoção de
uma conexão efetiva entre agentes públicos e privados. Afinal, como constituir um setor
privado forte e economicamente sustentável? Sem dúvidas, a resposta dessa pergunta
pode estar na efetiva parceria entre governo, empresas e sociedade.

4 – Um novo desafio para o Governo e as empresas brasileiras

O país ainda inspira prosperidade. Pensar na sustentabilidade do desenvolvimento
econômico brasileiro envolve, sem dúvidas, garantir a estabilidade do crescimento. O
desafio, talvez, seja torná-lo sustentável. Para se ter idéia, o crescimento real do PIB em
2010 girará em torno dos 4,8%, número esse que contrasta significativamente com os
1,17% negativos apresentados no ano de 2009 (em decorrência da crise e da
desaceleração da economia mundial) e que sinaliza bons ventos quando comparado com
o desempenho de 2008 (crescimento real de 3,96%).
Gráfico 2: Real GDP Growth per
                                  capita
              6,00                                                              4,80
                                        4,33                  4,50
              5,00                                                   3,96
              4,00                                    2,75
              3,00                             1,88
              2,00           1,21
              1,00   -0,16
                 -                  -0,23
                                                             -1,17
             -1,00   1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008
             -2,00


Para manter o ritmo do crescimento a palavra de ordem é equilíbrio. Sendo o ano de
2008 o ano da euforia e o ano de 2009 o ano da precaução, esse seria o momento ideal
de equilibrarmos as nossas ações em prol de um crescimento mais sustentável. Nesse
movimento, a expansão do emprego, da renda e do consumo foram os motores do
referido crescimento.

Como mostra os dados abaixo, o consumo das famílias parece ser a variável que mais
cresceu (em termos de participação no PIB) nos últimos 3 anos. Representando no ano
de 2009 mais de 62% do PIB, essa variável simbolizou um total de 986 bilhões de
dólares no ano de 2009, e um montante de R$ 566 bilhões de reais circulando na
economia no 3º trimestre do ano de 2010. Outro destaque está no próprio consumo do
governo que representou em 2009 quase 21% do PIB e mais de 327 bilhões de dólares
no mesmo ano. Entretanto, a manutenção desse desempenho está diretamente ligada a
um contexto macroeconômico de expansão real dos salários e continuidade do
crescimento das taxas de emprego da economia. O que, por sua vez, esta relacionada ao
padrão e volume de investimento atual da economia.


TABELA 7: Formação PIB Brasil                                 2007       2008     2009
Consumo das famílias(%PIB)                                   59.90      60.32    62.76
Consumo do Governo (%PIB)                                    20.26      19.58    20.81
Formação Bruta de Capital Fixo (%PIB)                        17.44      18.67    16.73
Poupança Bruta Doméstica (%PIB)                              19.84      20.11    16.43

Um dos principais desafios do ano de 2011 para o Brasil está, justamente, em repensar a
lógica do investimento nacional. (Re)pensar sobre o investimento e o seu volume é algo
já extensamente discutido pelos estudiosos e interessados no tema, porem repensar o seu
perfil pode ser o grande desafio competitivo de 2011. Para romper com a lógica de
crescimento promovido até então, e exemplificada pelo breve contexto histórico acima
discutido, seria necessário um reposicionamento das empresas e do governo. O caminho
da sustentabilidade do crescimento das firmas e da estabilidade macroeconômica
alcançada pelo governo está, justamente, na inversão da lógica do investimento.
Nos dias de hoje, os investimentos de base estão em sua grande parte calcados no
governo. Não isentando o Estado de suas responsabilidades no que tange a oferta de
condições competitivas adequadas, deve-se levar em conta a sustentabilidade desses
investimentos. Apesar de necessários eles estão levando o Estado a níveis de
endividamento exorbitantes. Como pode-se observar no gráfico abaixo, a tão comentada
redução da dívida externa foi alcançada graças à expansão da dívida interna. Entre os
anos de 1995 e 2000, a evolução de ambas as dívidas sinalizavam para a mesma direção
de crescimento. Em 2002 os dados sinalizam para uma inversão da inclinação das
mesmas, tendo um direcionamento positivo (de crescimento) para a dívida interna e um
direcionamento negativo (de queda) para a dívida externa. Nesse mesmo ano de 2002, a
dívida externa representou 18,25% do PIB e a interna 37.71%. Após sete anos esses
valores passaram a representar 44.89% do PIB para a dívida interna e 3,15% para a
externa.


          Gráfico 3: Dívida do Governo Central (% PIB)
                                                                                       45,47 46,46 46,46       44,89
                                                                       41,37 41,16                         42,46
                                                       38,86 37,71



                                       24,26
                                               22,69
                               21,06
                       17,26                                   18,25
               14,86
                                                       13,01           13,30
       10,33                                                                   10,50
                                       8,66 7,24                                       8,27
                                                                                              6,05
       3,67                    4,25                                                                  4,09 4,41 3,15
               1,63 2,01

   1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009

                Central government domestic debt                       Central government foreign debt



No curto prazo, esses montantes de investimento realizados a custo da dívida não
somente geram crescimento econômico como desenvolvimento social. A questão é
pensar nas conseqüências desses investimentos para o longo prazo. Frente a um alto
endividamento, a tendência é que os investimentos cessem e com ele, todo o motor do
atual crescimento do emprego, da renda e do consumo. O receio está na
insustentabilidade dos investimentos e da dívida do atual governo levar a mais um ciclo
recessivo da economia brasileira.

Para se evitar tal contexto a sugestão está, como já comentado, na mudança do padrão
dos investimentos nacionais e num envolvimento mais direto do setor privado na
promoção dos investimentos de base e recuperação da plataforma competitiva.
Ressaltamos que não estamos defendendo o descolamento dos agentes governamentais
do processo de investimento e expansão do desenvolvimento econômico. Na verdade,
estamos defendendo a parceira efetiva e eficiente dos principais agentes motores do
crescimento.


                    TABELA 8: Formação Bruta de Capital Fixo (em
                                 milhões de reais)
                    Ano Adm. Pública    Empresas e Familias
                    1995         15,955               113,341.29
                    1996         17,054               125,327.40
                    1997         16,231               146,902.59
                    1998         23,665               142,509.22
                    1999         15,274               151,472.74
                    2000         21,293               176,858.00
                    2001         25,935               195,837.00
                    2002         30,468               211,694.00
                    2003         25,604               234,110.00
                    2004              -                         -
                    2005         37,490               304,747.00
                    2006         48,245               341,083.00
                  Fonte: IpeaData, 2011

Nessa lógica, o investimento e todo o seu aporte de capital deveria ser direcionado ao
setor privado que, dada a sua disponibilidade financeira e flexibilidade de ação, poderia
com muito mais agilidade percorrer o caminho rumo à formação de condições
competitivas mais adequadas (o que inclui investimentos em infra-estrutura, energia,
ciência e tecnologia, etc). No mesmo sentido, o Estado poderia fortalecer a sua ação
reguladora no sentido de garantir que esses investimentos privados atendam aos
interesses de toda nação.

Além dos benefícios de agilidade e maior disponibilidade financeira, esse movimento,
que desonerará as contas públicas, poderia ainda gerar redução da carga tributária no
país. No cenário atual, qualquer reforma tributária parece inviável dado o perfil da
dívida e dos gastos do governo. Repassando parcela considerável dos investimentos ao
setor privado, o governo poderá ter melhores condições de receita para promover a tão
demandada reforma.

A mudança aqui proposta ultrapassa as questões legislativas e governamentais.
Reconhece-se que transformar a lógica dos investimentos nacionais envolve mudanças
muito mais profundas que as econômicas. Envolve a mudança de uma sociedade
construída em base paternalista e pouco colaborativa. Apesar de ethos brasileiro ser
assim, ainda é possível que essa transformação de nossa racionalidade venha a trazer um
efetivo e sustentado crescimento e desenvolvimento econômico.
Fundação Dom Cabral
        55 3589-7300
          www.fdc.org.br

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O Brasil no Global Competitiveness Report

  • 1. O Brasil no Global Competitiveness Report 2010-2011 Carlos Arruda, Marina Araújo, Arthur Kux 1 – Um pouco sobre o Global Competitiveness Report 2010-2011 Com o intuito de oferecer ferramentas de benchmarking para gestores e formuladores de políticas, o Global Competitiveness Report (GCR), produzido anualmente pelo Forum Econômico Mundial, analisa alguns dos fatores fundamentais para o crescimento econômico sustentável e a prosperidade no longo prazo (WEF, 2010). As análises de competitividade possuem como indicador básico o Global Competitiveness Index (GCI). Esse indicador de competitividade considera tanto fatores macro como os microeconômicos, preservando, portanto, a importância da interação entre os fatores sistêmicos, empresariais e estruturais da economia. De forma sintética, competitividade é para o WEF (2010) o conjunto de instituições, políticas e fatores que determinam o nível de produtividade do país. No que tange à produtividade, essa é considerada um fator primordial para a sustentabilidade da prosperidade econômica das nações. Assim, para o WEF (2010), em linhas gerais, economias mais competitivas tentem a gerar altos níveis de renda para a população. E a ponte desse processo está nos ganhos de produtividade auferidos pela economia dadas as suas condições de competitividade. Além disso, a sustentabilidade da prosperidade de uma nação somente pode ser garantida se a sua produtividade for adequadamente mantida. Num raciocínio mais retilíneo, países mais competitivos terão maiores níveis de produtividade, que geram, no médio e no longo prazo, maiores níveis de renda (proxy de crescimento econômico). Recorrentemente formulado em bases macro, o WEF entende não ser esse suficiente para a definição do termo. A exploração dos conceitos microeconômicos e, principalmente, do conceito de produtividade no seu nível micro é de suma importância para as formulações do “Global Competitiveness Report”. A produtividade, anteriormente citada como componente de um contexto macro, é formulada a partir de componentes microeconômicos, como a sofisticação das companhias, a qualidade do ambiente de negócios e das externalidades que possibilitam a formação de clusters e dão suporte às indústrias – e é nessas bases que o conceito de produtividade será desenhado (WEF, 2010). Tendo esses três fatores microeconômicos
  • 2. básicos, a quantidade de trabalho dessa nação aumentará e, a partir dele, o produto interno gerado. Esse processo levará, também, a um aumento da renda nacional. Considerando que as condições microeconômicas traduzem as oportunidades geradas pelas condições macro, a produtividade é determinada a partir da atuação dos “geradores” de produtividade, que são, por exemplo, a exportação das empresas, as importações, os investimentos diretos recebidos do exterior ou aqueles realizados pelas empresas nacionais nos exterior, a inovação, etc. Assim, um ambiente competitivo gera condições macroeconômicas, políticas e sociais adequadas, proporcionando para a empresa um ambiente micro favorável para o aumento de sua produtividade, e, conseqüentemente, a quantidade de trabalho empregada na economia e, por fim, o nível de renda e produto. Com base nisso, o Relatório Global de Competitividade é composto por dois índices distintos de competitividade: • O Global Competitiveness Index (GCI), criado em 2004 pela equipe do WEF juntamente com o Prof. Prof. Xavier Sala-i-Martin, da Columbia University, leva em consideração o nível de desenvolvimento dos países e inclui variáveis – econômicas, institucionais, sociais e empresariais - que definem o ambiente competitivo de uma nação. • O Business Competitiveness Index (BCI), sob a responsabilidade do Prof. Michael Porter, preocupa-se com os fatores microeconômicos que moldam a produtividade das firmas. Os índices são formados por dois tipos de informações: • Hard data ou dados secundários provenientes de fontes públicas internacionais. A maioria dos dados é referente ao ano anterior de publicação do relatório (2009) ou o dado mais recente disponível. • Soft Data ou dados primários provenientes da pesquisa de opinião de executivos conduzidas nos países através das instituições parceiras locais, no caso do Brasil, a Fundação Dom Cabral e o Movimento Brasil Competitivo. A competitividade envolve diversos aspectos de uma economia, muitos deles subjetivos ou de difícil mensuração. Por essa razão, o WEF realiza anualmente uma pesquisa de opinião de executivos (Executive Opinion Survey - EOS) para obter essas informações complementares, como qualidade das instituições públicas, independência do poder judiciário e o grau da corrupção em uma economia. Os executivos respondem a aproximadamente 150 questões sobre o ambiente no qual seus negócios estão inseridos, apontando sua percepção em uma escala entre 1 a 7, em que 1 geralmente corresponde à pior opção e 7 à melhor. O WEF e as instituições parceiras selecionam a amostra dos executivos que participarão da EOS visando representar da melhor forma possível o universo das empresas do país, ou seja, considerando a dispersão geográfica, estrutura setorial e o tamanho das empresas. Para obter uma amostra com significativa participação no PIB, são consultados,
  • 3. prioritariamente, executivos de grandes empresas. A amostra deve, obrigatoriamente, conter firmas com participação estatal, privada nacional e privada estrangeira, além de firmas domésticas que vendem em mercados internacionais. Os executivos selecionados para responder ao questionário são da alta gerência das empresas, que possuam conhecimentos sobre o ambiente econômico nacional e internacional. A pesquisa pode ser respondida pelo questionário enviado para as empresas ou através da internet. O instituto Gallup International atua como consultor do World Economic Forum, garantindo a qualidade do processo de revisão metodológica e técnica da pesquisa. No mundo, a pesquisa em 2010 envolveu mais de 13.607 participantes e 139 economias1. No Brasil, mais de 140 executivos responderam ao questionário entre janeiro e maio. A metodologia adotada pelo World Economic Forum para elaboração do relatório e respectivos rankings será apresentada em detalhes neste documento. As mais de 100 variáveis analisadas no estudo são agrupadas em 12 "pilares", que correspondem a grupos diferentes de variáveis e que, por sua vez, são agrupados em três grupos de análise: “Requisitos Básicos”, “Propulsores de Eficiência” e “Inovação e Sofisticação Empresarial”. Para o relatório de 2010-2011, os 12 pilares analisados foram: Requisitos básicos 1. Instituições: Referem-se a transparência, grau de corrupção e eficiência do setor público, proteção a direitos de propriedade, qualidade da segurança pública, além da ética das empresas, e eficácia das auditorias e padrões contábeis do setor privado. 2. Infra-estrutura: Relacionado à qualidade da infra-estrutura de transportes, comunicação e de fornecimento de energia. 3. Estabilidade Macroeconomia: Refere-se ao nível de endividamento, inflação, contas públicas e spread bancário. 4. Saúde e Educação Primária: Refere-se à incidência de doenças e seus impactos na economia, à expectativa de vida e à abrangência do sistema educacional primário. Propulsores de eficiência 5. Educação Superior e Treinamento: Refere-se à abrangência e qualidade do sistema educacional nos níveis secundário e terciário, além dos serviços de treinamento e pesquisa especializados. 1 Em relação a 2009, o estudo contou com um país a menos – Suriname.
  • 4. 6. Eficiência do Mercado de Bens: Refere-se ao impacto das regulamentações governamentais na atividade empresarial privada e às características competitivas do ambiente empresarial. 7. Eficiência do Mercado de Trabalho: Reflete o grau de flexibilidade das leis do trabalho e as práticas de meritocracia adotadas nas empresas. 8. Sofisticação do Mercado Financeiro: Avalia a qualidade do mercado bancário e a disponibilidade no país de marcos regulatórios, práticas e recursos que facilitem o acesso a capital por empresas do setor privado. 9. Prontidão Tecnológica: Relacionada à difusão de novas tecnologias nas empresas e na sociedade. 10. Tamanho do Mercado: te Refere-se ao tamanho do mercado pelo qual as empresas se orientam. Inovação e sofisticação empresarial 11. Sofisticação dos Negócios: Relacionado à qualidade e quantidade de fornecedores locais, às práticas empresariais e à natureza da vantagem competitiva das firmas. 12. Inovação: Refere-se à capacidade inovativa da economia. Após essa apresentação do estudo, segue uma análise detalhada das condições competitivas do Brasil para o ano de 2010, que se estrutura da seguinte forma. Na seção 2 discuti-se a situação competitiva geral do Brasil com base no GCR de 2010. A seção 3 dedica espaço ao seu detalhamento com destaque para a análise dos pilares e fatores que compõem o indicador. Ao final da seção será apresentado alguns desafios do Brasil para o futuro. A seção 4 conclui a discussão empreendida. 2 – O Brasil no GCR 2010-2011 Apesar dos avanços nas áreas sociais e econômicas, o Brasil perdeu 2 posições no ranking geral de competitividade do Global Competitiveness Report 2010-2011. Ocupando a 58ª posição o país ainda não conseguiu recuperar o posicionamento de 2004 (49º lugar), mesmo considerando os seus avanços e estabilidade em áreas chaves da competitividade como a macroeconomia e o emprego. Como pode ser observado no Gráfico 1, o país não conseguiu atingir um bom ritmo de recuperação competitiva. A velocidade com que a nação perdeu 23 posições entre os anos de 2004 e 2007 (em 3 anos) não pode ser percebida na recuperação de posições vivida entre 2007 e 2010 – anos estes que o país recuperou 14 das 23 posições perdidas.
  • 5. Gráfico 1: Global Competitiveness Index 2010-2011 0 20 40 49 57 56 58 66 64 60 72 80 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 FONTE: World Economic Forum, 2010. Elaboração própria. O ganho de 8 posições vivenciado no ano de 2009 esteve não somente relacionado aos ganhos reais de competitividade do país mas, também, pela perda generalizada de competitividade das demais nações como consequencia da crise. Já em 2010, a perda de duas posições no ranking geral parece relacionado a um ganho competitivo das demais nações analisadas. Corrobora essa observação o fato de as posições do Brasil nos grandes blocos de análise terem praticamente se mantido ao longo do estudo. Em um ranking onde o posicionamento competitivo é relativo, não ganhar novas posições pode ser um sinal de perda competitiva, principalmente quando as demais nações estão numa constante corrida pela recuperação competitiva em um cenário de pós-crise. Esse parece ser o caso do Brasil. O importante ganho de 8 posições do país parece ser balizado no ano de 2010 pela recuperação competitiva dos demais países do ranking, fazendo com que o país retomasse sua posição real através da perda de 2 posições. TABELA 1: O Brasil no Global Competitiveness Report 2010-2011 GCR 2009-2010 2006 2007 2008 2009 2010 Global Competitiveness Index 66 72 64 56 58 Requisitos Básicos 84 101 96 91 86 Propulsores de Eficiência 51 55 51 42 44 Inovação e sofisticação de fatores. 36 41 42 38 38 FONTE: World Economic Forum, 2010. Elaboração própria. O GCR analisa a competitividade das nações em acordo com seu nível de desenvolvimento econômico. Assim, o Brasil que pertence ao grupo 2 (Direcionados para a Eficiência) no referido modelo deveria ter superado as suas necessidades e deficiências nos requisitos básicos da competitividade e buscar pelo desenvolvimento dos propulsores de eficiência e inovação. Como já apontado em relatórios anteriores, o país apresenta uma inversão de prioridades tendo as suas bases competitivas em fatores ligados a inovação e a sua sofisticação de fatores. Na contra-mão, as suas maiores fragilidades e desafios estão justamente nos fatores que, por hipótese, deveriam ser as forças competitivas do país – os requisitos básicos. Como pode-se observar na TAB. 1, o país incrementou a sua posição competitivas nos fatores de Inovação e Sofisticação
  • 6. de 2007, quando ocupava a 41ª posição, até 2010, quando ocupou a 38º lugar. Nesse bloco o Brasil está à frente de nações como Índia (42ª posição), Chile (44ª) e Espanha (41ª). Já os requisitos básicos, fatores de pior desempenho do país, saíram do 101º lugar em 2007 para o 86º lugar em 2010. Apesar da reconhecida deficiência, esse último tem apresentado taxas de crescimento superiores aos demais blocos, com uma média de ganhos de 5 posições por ano. Esse fato é consequencia das fortes intervenções do governo e das políticas de recuperação econômica e social. Por último, o bloco de propulsores de eficiência foi o único a apresentar uma pequena perda competitiva (duas posições), mesmo assim o país está a frente de países como Itália (45ª), México (61ª) e Rússia (53ª). De uma forma geral o Brasil continua com forte participação competitiva e política frente aos dois grandes grupos econômicos à qual pertence. Com relação à América Latina (AL), o Brasil apresenta o segundo melhor desempenho competitivo, perdendo somente para o Chile (30ª posição). Ainda vale comentar que, no que tange a competitividade, a distância relativa entre as economias do Brasil e do México parece aumentar. Em 2009 o Brasil ocupava a 56ª posição enquanto o México ocupou a 60ª – uma diferença de 4 posições. Já no ano de 2010, apesar de as duas nações apresentarem perdas, a distância entre os mesmos aumentou para 8 posições (TAB. 2). Nesse movimento, caberia ressaltar o mau posicionamento generalizado dos países latino-americanos no ranking geral. Dentre as 30 nações mais competitivas do globo, somente o Chile representa a região. No segundo quadrante (com posicionamentos que variam de 35 ao 70) localizam-se nações como Porto-Rico (41ª), Panamá (53ª), Brasil (58ª), Uruguai (64ª), México (66ª) e Colômbia (68ª). As demais nações localizaram-se nos quadrantes de mais baixo desempenho competitivo, com um total de 13 nações participantes. Essa concentração de países latino-americanos nos quadrante de baixo desempenho coloca a região para trás na corrida pela competitividade, corrida essa bastante acirrada quando se considera o potencial asiático em competir. No que tange à competitividade brasileira, em comparação com a citada região, a sua força pode estar na estabilidade macroeconômica e no tamanho do seu mercado, que atualmente apresenta alto potencial de renda e compra.
  • 7. TABELA 2: O Brasil e algumas nações latino-americanas no Global Competitiveness Report 2010-2011 FONTE: World Economic Forum, 2010. Elaboração própria. Em relação aos BRICs a situação competitiva do Brasil pode não ser tão favorável. Ocupando o 3º lugar (dentre as 4 nações consideradas), o Brasil perde para China e Índia, estando à frente somente de Rússia. Ao longo dos últimos três anos, somente Brasil e Rússia apresentaram variações competitivas consideráveis. Como já comentado, o Brasil ganhou 8 posições em 2009 enquanto Rússia perdia 12 posições. As variações de China e Índia em 2009 sinalizaram para a estabilidade, dada a variação de somente 1 posição. Já no ano de 2010, todas as nações elencadas pelo grupo apresentaram certa estabilidade. Nesse cenário, Brasil e Índia perderam duas posições, enquanto China ganhou duas. Já Rússia manteve seu posicionamento de 2009. Relativamente, somente China pertence ao primeiro quadrante do ranking geral, estando as 3 outras nações concentradas no segundo quadrante. TABELA 3: O Brasil e os BRICs no Global Competitiveness Report 2010-2011 FONTE: World Economic Forum, 2010. Elaboração própria. Numa análise transversal, o posicionamento geral do Brasil está consideravelmente aquém de suas potencialidades. Não somente por sua força política e econômica, o Brasil sub-utiliza a sua plataforma competitiva levando-o ao desempenho mediano apresentado acima. No ranking geral o país perde competitividade para nações como Qatar (17ª), Irlanda (29ª) e Mauritânia (55ª). Essa situação é respaldada por questões já amplamente discutidas em análises anteriores como a falta de infraestrutura e educação adequadas, ausência de um marco regulatório eficiente e de políticas de fomento para investimento empresarial. Esses e mais outros tantos fatores se reproduzem no histórico
  • 8. competitivo brasileiro de forma inercial. Romper com esse ciclo é o maior desafio do próximo governo. Porem, não somente velhos fantasmas rondam a competitividade nacional. O desafio das continuidades (ARRUDA, ARAÚJO, KUX, 2010) ainda é presente. Dar continuidade às boas políticas, às boas práticas governamentais, à estabilidade macroeconômica com desenvolvimento e ao investimento do governo são desafios tão complexos quanto o primeiro elenco de desafios apresentados. Mas afinal, o que foi o Brasil em 2010? Qual herança ficará para o próximo governo? E quais os principais desafios do Brasil? Essas são algumas das perguntas que essa análise tentará explanar nas páginas que se seguem. 3 – Um retrato do Brasil: Para se entender a competitividade do Brasil na primeira década do século XXI é importante ter em mente alguns fatores históricos de seu desenvolvimento. Até a década de 80, considerando os governos de Getúlio, Juscelino e dos militares, todo desenvolvimento industrial e da base competitiva eram motivados por uma necessidade intensa de recuperação de fatores defasados ou tardios. Assim foi a constituição da indústria de base no país, a construção de sua infraestrutura logística, a instalação de estruturas de telecomunicações e o desenvolvimento da educação básica com as salas do Mobral. Sempre atrás de um desenvolvimento tardio, o país continua sendo a promessa do futuro, condição essa que ainda não alcançamos. O Brasil de FHC era um país assolado pela crise econômica e inflacionária. Sem condições de investir em um desenvolvimento efetivo, os 8 anos de FHC deixaram de herança a estabilidade da moeda e as contas públicas ajustadas, além da privatização e da criação das agência reguladoras. Casa arrumada o governo Lula inicia-se com demandas efetivas de desenvolvimento. Incrementar o investimento do país era algo mais que necessário, era urgente. Somente via investimento (das empresas ou dos governos) é que o país poderia incrementar a renda e o emprego, além de colocar as empresas nacionais em condições de maior competitividade internacional. Sem qualquer posicionamento crítico a respeito, esse incremento do investimento foi realizado, principalmente pelas fontes governamentais. Muito investiu-se em infraestrutura, em desenvolvimento social, em educação. E o país cresceu. Cresceu a renda média da população, cresceu o número de empregos ofertados, reduziu-se a capacidade ociosa das fábricas e aumentou-se o consumo. O país, enfim, parece viver um verdadeiro crescimento econômico, e não mais um milagre econômico sem fundamentos sólidos como na década de 70. Frente a um novo patamar de desenvolvimento econômico, talvez o maior desafio esteja na sustentabilidade desse movimento. Mais que dar continuidade é imprescindível que o ciclo virtuoso da economia ganhe vida própria. Dado o impulso inicial fomentado pelas
  • 9. diversas ações governamentais, cabe agora aos demais agentes econômicos continuarem a fomentar esse ciclo seja via investimentos do setor privado, seja via investimento da sociedade em educação e treinamento, ou em outros tantos caminhos possíveis. Mais que cobrar do governo ações em prol da competitividade nacional, talvez seja o momento de se fomentar uma melhor interação público-privada, onde a participação de todos é imprescindível. Sem dúvidas as maiores deficiências competitivas do país estão no bloco Requisitos básicos. Composto por 4 pilares básicos, à saber Instituições, Infraestrutura, Estabilidade Macroeconômica e Saúde e Educação básica, esse é o conjunto de fatores que, historicamente, deprimem o resultado líquido da competitividade nacional. Ocupando o 86º lugar no ranking do referido bloco, o pilar de pior desempenho está na estabilidade macroeconômica (111ª posição) e o de melhor desempenho está na infra- estrutura (62ª posição). TABELA 4: O Brasil e os requisitos básicos da competitividade no Global Competitiveness Report 2010-2011 2007 2008 2009 2010 Global Competitiveness Index 72 64 56 58 Requisitos Básicos 101 96 91 86 Instituições 104 91 93 93 Infra-estrutura 78 78 74 62 Estabilidade Macroeconômica 126 122 109 111 Saúde e Educação Básica 84 79 79 87 FONTE: World Economic Forum, 2010. Elaboração própria. No pilar instituições, onde é avaliada a qualidade das instituições públicas e privada em fornecer condições favoráveis à competitividade internacional, o Brasil manteve estável a sua posição de 2009, 93º lugar. O baixo desempenho nesse pilar é histórico e está relacionado ao baixo desempenho do país em fatores como Diversificação dos Fundos Públicos (121ª posição), confiança pública nos políticos (127ª), desperdício dos gastos governamentais (136ª) e os custos gerados pelo crime e violência (123ª). De uma forma geral, o desempenho do referido pilar é bastante baixo, estando o seu melhor desempenho na posição 64 para as variáveis Força dos padrões de auditoria e Proteção dos interesses dos acionistas minoritários. Vale ressaltar que os “melhores” desempenhos do pilar estão relacionados ao desempenho das instituições privadas. Infraestrutura, apesar das intensas criticas do setor privado é o pilar de melhor desempenho, 62º lugar. Apesar do ganho de 12 posições no pilar, as variáveis do mesmo não apresentaram grandes alterações de posições entre os anos de 2009 e 2010. A qualidade geral da infraestrutura apresentou perdas competitivas de 3 posições em relação ao ano anterior (ocupando a 84ª posição em 2010). Somente os fatores qualidade da infraestrutura rodoviária e portuária apresentaram tímidas melhorias de 1 e 4 posições, respectivamente (ocupando a 105ª e a 123 posição).
  • 10. A estabilidade macroeconômica talvez seja o Tendão de Aquiles da competitividade atual. Por quatro anos consecutivos, como pode-se observar na tabela 4, o país não conseguiu sair do último quadrante do ranking de competitividade, apresentando posicionamentos inferiores ao 100º lugar. No ano de 2010, o país ocupou o 111º lugar, perdendo duas posições quando comparado com o seu desempenho do ano de 2009. De uma forma geral, esse pilar sofre com a incongruência interna de suas variáveis, que refletem a incongruência dos agentes econômicos que o regem. Apesar do bom desempenho macroeconômico em fatores como o balanço dos gastos governamentais (50ª posição e ganho de 19 posições) e o Country Credit Rating (46ª posição) o país ainda possui sérios problemas em variáveis chaves da macroeconomia nacional. A exemplo, tem-se a taxa de poupança nacional em que o país ocupou a 101ª posição (perda de 15 posições) no ranking e o Spread Bancário onde o país ocupou a 136ª posição (perda de 8 posições). Para além, o estudo aponta uma maior pressão inflacionária contra a estabilidade macroeconômica tão defendida. O país saiu da 46ª posição no quesito Inflação em 2009 para a 93ª posição. Porem, essa mudança negativa de posicionamento parece estar relacionado muito mais a um processo de deflação das economias como um todo do que a perda de competitividade do Brasil no que tange seu controle da inflação. No ano de 2008 o país apresentou uma inflação média de 5.7%. Já no ano de 2009 essa média caiu para 4.9%, padrão adequado frente as metas inflacionárias controladas pelo BACEN. Logo, na realidade, o Brasil não apresentou no ano de 2010 uma tendência crescente da inflação mas, sim, uma manutenção de seu controle. O pilar saúde e educação primária, último do bloco requisitos básicos, apresentou um perda de 8 posições entre os anos de 2009 e 2010, passando a ocupar a 87º lugar. Tal posição, inferior ao desempenho competitivo do ano de 2007, coloca as condições educacionais e de saúde do Brasil inferiores a de países como Argentina (60ª), Equador (75ª), México (70ª) e Rússia (53ª). Nesse pilar a qualidade de educação primária (127ª posição com perda de 8 posições) e a incidência de malária (104ª posição com perdas de 6 posições) foram os fatores de pior desempenho do país. No ano de 2010, o referido pilar sofreu consideráveis mudanças em sua estrutura com a diminuição do número de indicadores que expressam a qualidade da educação básica nos países estudados. De uma forma geral, 80% dos indicadores desse pilar expressam a qualidade da saúde ofertada pelo país mas pouco discorre sobre a qualidade da educação básica (que é representado por apenas 20% das variáveis).
  • 11. TABELA 5: O Brasil e os propulsores de eficiência da competitividade no Global Competitiveness Report 2010-2011 2007 2008 2009 2010 Global Competitiveness Index 72 64 56 58 Propulsores de Eficiência 55 51 42 44 Educação Superior e Treinamento 64 58 58 58 Eficiência do Mercado de Bens 97 101 99 114 Eficiência do Mercado de Trabalho 104 91 80 96 Sofisticação do Mercado Financeiro 73 64 51 50 Prontidão Tecnológica 55 56 46 54 Tamanho do Mercado 10 10 10 10 FONTE: World Economic Forum, 2010. Elaboração própria. O segundo bloco apresentado pelo WEF é destacado pelos fatores que movimentam a eficiência produtiva de uma determinada nação. Nessa lógica, para as empresas produzirem com eficácia e eficiência elas deverão encontrar em sua plataforma produtiva uma mão-de-obra com formação técnica e superior adequada à produção, um mercado de trabalho eficiente, um mercado financeiro que suporte as suas transações financeiras, dentre outras tantas características que dão movimento e intensidade à atividade empresarial. Ressalva-se que, na lógica desenvolvimentista do WEF, a existência de uma dessas bases não isenta a necessidade de que as demais coexistam. Na verdade, cabe esclarecer que o ideal competitivo perseguido pelo WEF demanda, justamente, a busca pela existência efetiva dos três blocos de analise aqui discutidos. Retomando a analise dos dados, como pode-se observar na tabela 5, os fatores propulsores de eficiência no Brasil apresentam um comportamento diversificado. Enquanto variáveis como Tamanho de mercado (10ª posição), Sofisticação do mercado financeiro (50ª) e Prontidão tecnológica (54ª) vem a colaborar para a eficiência das empresas, outros fatores historicamente deprimem as condições competitivas nacionais – como, por exemplo, Eficiência do mercado de bens (114ª) e Eficiência do mercado de trabalho (96ª). Dentro do referido bloco, o pilar de maior estabilidade tanto de posições quanto de posicionamento competitivo está no tamanho de mercado brasileiro. Ocupando a 10ª posição a mais de 5 anos, este pilar é um dos fatores chaves para o crescimento da economia vivenciados nos últimos anos. Como será tratado em detalhe mais à frente, o tamanho do mercado é medido não somente por sua capacidade de geração de riqueza (PIB na paridade do poder de compra) mas, também, pela sua capacidade de transacionar com os mercados externos. Assim, o Brasil ocupa a 9ª posição no tamanho de sua geração de riqueza, com um PIB de US$ 2.013 bilhões de dólares, e a 24ª posição no indicador de tamanho de mercado estrangeiro. Cabe notar que o melhor posicionamento do país está justamente na sua capacidade doméstica. Com ganho de 1 posição, o Brasil passa a ocupar a 8ª posição de maior econômica doméstica (medido
  • 12. pelo indicador de tamanho de mercado doméstico). Fator esse gerado pelo intenso movimento de expansão da renda real vivido pelo país nos últimos anos. Outro fator que apresenta um comportamento competitivo bastante interessante está no pilar Sofisticação do mercado financeiro. Por três anos consecutivos o referido pilar alcançou melhores posicionamentos no ranking de forma bastante sustentável. De 2007 a 2010, este pilar alcançou 23 novas posições que se sustentaram tanto na depressão pré-crise, durante e, principalmente, no pós-crise (quando teoricamente, os demais países deveriam voltar ao nível de competitividade normal). Essa sustentabilidade está ancorada numa eficiente regulamentação da bolsa de valores (ganho de 5 posições passando a ocupar o 5º lugar no ranking); na solidez do setor bancário (perda de 4 posições ocupando o 14º lugar); na disponibilidade de bons serviços financeiros (27º lugar); na melhoria dos fluxos de capitais no país (ganho de 18 posições passando a ocupar o 73º lugar) e numa melhor disponibilidade de venture capital (ganho de 8 posições passando a ocupar o 60º lugar). Os pilares que apresentaram maiores perdas de posições competitivas são Eficiência do mercado de trabalho (perda de 16 posições) e Eficiência do Mercado de Bens (perda de 15 posições). Com relação ao mercado de trabalho, os ganhos de 24 posições auferidos entre os anos de 2007 e 2009 parecem esmorecer. Estão relacionados a essa perda de competitividade fatores como a perda de 17 posições na variável confiança na gestão empresarial (52ª posição); o aumento da rigidez do emprego (gerando uma perda de 18 posições e ocupando a 114ª posição); e diminuição da flexibilidade da determinação salarial (perda de 6 posições ocupando a 116ª). Além desses fatores, colaboram para esse cenário a falta de cooperação nas relações de trabalho (90ª), a redundância dos custos salariais (80ª) e o pouco relacionamento existente entre pagamento e produtividade (80ª). Cabe a ressalva de que a maioria desses fatores estão relacionados ao marco regulatório brasileiro. O segundo pilar que apresentou maiores perdas competitivas também justifica seu desempenho pela ausência de competitividade do marco regulatório que o rege. Assim como no pilar anteriormente apresentado, o desempenho geral do Brasil no referido pilar é relativamente bem representado pelas variáveis de atuação direta das empresas, caso oposto às variáveis que expressam atuação do governo. Assim, a queda de 15 posições é justificada pela perda de competitividade no que tange a concentração dos mercados (perda de 11 posições passando a ocupar a 46ª posição); ao grande impacto que os impostos tem para a eficiência da produção e para a formação de preços (variável que ocupou em 2009 e 2010 o ultimo lugar no ranking); ao total de taxas e impostos desembolsados pelas empresas (perda de 10 posições passando a ocupar a 127ª posição); ao excesso de procedimentos dedicados à abertura de novos negócios (perda de 6 posições passando a ocupar a 132ª posição), dentre outros fatores. Para esse mesmo pilar, o desempenho do Brasil mostra-se mais adequado ao seu nível de desenvolvimento nas variáveis grau de orientação da produção para os clientes
  • 13. (ocupando o 50º lugar) e a sofisticação dos consumidores (ganho de 5 posições passando a ocupar a 52ª posição). Por fim, tratar de educação superior e treinamento no Brasil é sempre uma temática delicada. Apesar dos avanços já registrados na área, é reconhecido que um amplo caminho à qualidade do ensino superior e treinamento ainda precisa ser perseguido. No ranking do referido pilar, o ganho de 6 posições no ano de 2007 foi mantido por três anos consecutivos, inclusive em 2010, fazendo do Brasil a 58ª economia mais competitiva no que tange sua educação superior. Apesar da manutenção da posição no ano de 2010, o referido pilar apresenta uma sensível perda de posições em algumas de suas variáveis. Perda essa que poderá em um futuro próximo culminar em perdas generalizadas no pilar. Dessa forma, no ano de 2010, o número de matrículas no nível secundário e terciária mantiveram, aproximadamente, as suas posições do ano anterior. Mas, apesar de todo o investimento do governo e das políticas do MEC para incrementar o nível terciário, a posição competitiva média da variável continua baixa (73º lugar). Além dessa questão, a qualidade do sistema educação do Brasil ainda é bastante mal avaliada pelos executivos, ocupando desde 2009 o 103º lugar. Critica também foi a avaliação dos executivos para a disponibilidade local de pesquisa especializada e serviços de treinamento, variável essa que ocupou o 36º lugar com um perda de 7 posições em relação ao desempenho de 2009. TABELA 6: O Brasil e os fatores de inovação da competitividade no Global Competitiveness Report 2010-2011 2007 2008 2009 2010 Global Competitiveness Index 72 64 56 58 Inovação e sofisticação de fatores 41 42 38 38 Sofisticação dos Negócios 39 35 32 31 Inovação 44 43 43 42 FONTE: World Economic Forum, 2010. Elaboração própria. Por fim, a análise do bloco Inovação e Sofisticação dos fatores parece detalhar sobre o melhor da competitividade do país. Ocupando o 38º lugar, este bloco é composto pelos pilares inovação (com ganhos competitivos de 1 posição ocupando o 31º lugar) e sofisticação dos negócios (ganho de 1 posição e ocupando o 42º lugar). No que tange a inovação, a capacidade geral de gerar inovação no país foi bem avaliada pelos gestores, fazendo o país ocupar a 29ª posição no referido ranking. Também apresentaram bons posicionamentos as variáveis despesas das empresas em P&D (29ª posição) e colaboração universidade-indústria para geração de P&D (34ª posição). Como essas duas últimas variáveis apresentadas são baseadas em fontes softs, pode ocorrer de as mesmas apresentarem certas distorções da realidade. Com relação às despesas das empresas com atividades de P&D, apesar do bom posicionamento indicado pelo empresariado brasileiro, em dados quantitativos a realidade parece ser outra. As empresas brasileiras, segundo dados do MDIC, investem menos de 0,5% de seu PIB em
  • 14. atividades de P&D. Dados esses bastante reduzidos quando comparados com países como China (1,18%), USA (2,01%) e Israel (3,93%). O país teve consideráveis ganhos de posição em variáveis como Capacidade do governo em adquirir novas tecnologias (50ª posição com um ganho de 10 posições). Na contra- mão, o país perdeu 8 posições na variável Disponibilidade de cientistas e engenheiros, saindo da 60ª posição para a 68ª. Essa última variável é especialmente critica em momentos de crescimento econômico dada a falta de mão-de-obra devidamente qualificada para a continuidade desse mesmo crescimento. Quanto a sofisticação dos negócios, a quantidade e qualidade de oferta de bens (9ª e 29ª posição, respectivamente) apontam para um cenário empresarial competitivo. Já a variável Natureza da Competitividade (89º lugar) indica um posicionamento médio das empresas brasileiras, elas estariam tanto dedicadas a produção de bens de baixo valor agregado, como recursos naturais, como a produção dedicada a produtos e processos únicos e com agregação tecnológica. De uma forma geral, o perfil produtivo brasileiro mostra-se bastante competitivo e eficiente, essas observações estão calcadas na posição do país nas variáveis Controle da distribuição internacional (27ª), Extensão dos mercados (22ª), Sofisticação dos processos produtivos (29ª). Somente a variável Extensão da cadeia de valor, que apresentou perdas competitivas de 3 posições, teve o pior desempenho do pilar, ocupando a 60ª posição. Como já comentado em anos anteriores, a competitividade brasileira parece ser sustentada pela atividade empresarial. Mas, sem dúvidas, o atual crescimento do país e todo o seu desenvolvimento recente estão bastante ancorados nas políticas e ações governamentais. Sustentar o atual desenvolvimento econômico envolve mais que a superação de desafios historicamente consolidados, envolve, também, a promoção de uma conexão efetiva entre agentes públicos e privados. Afinal, como constituir um setor privado forte e economicamente sustentável? Sem dúvidas, a resposta dessa pergunta pode estar na efetiva parceria entre governo, empresas e sociedade. 4 – Um novo desafio para o Governo e as empresas brasileiras O país ainda inspira prosperidade. Pensar na sustentabilidade do desenvolvimento econômico brasileiro envolve, sem dúvidas, garantir a estabilidade do crescimento. O desafio, talvez, seja torná-lo sustentável. Para se ter idéia, o crescimento real do PIB em 2010 girará em torno dos 4,8%, número esse que contrasta significativamente com os 1,17% negativos apresentados no ano de 2009 (em decorrência da crise e da desaceleração da economia mundial) e que sinaliza bons ventos quando comparado com o desempenho de 2008 (crescimento real de 3,96%).
  • 15. Gráfico 2: Real GDP Growth per capita 6,00 4,80 4,33 4,50 5,00 3,96 4,00 2,75 3,00 1,88 2,00 1,21 1,00 -0,16 - -0,23 -1,17 -1,00 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 -2,00 Para manter o ritmo do crescimento a palavra de ordem é equilíbrio. Sendo o ano de 2008 o ano da euforia e o ano de 2009 o ano da precaução, esse seria o momento ideal de equilibrarmos as nossas ações em prol de um crescimento mais sustentável. Nesse movimento, a expansão do emprego, da renda e do consumo foram os motores do referido crescimento. Como mostra os dados abaixo, o consumo das famílias parece ser a variável que mais cresceu (em termos de participação no PIB) nos últimos 3 anos. Representando no ano de 2009 mais de 62% do PIB, essa variável simbolizou um total de 986 bilhões de dólares no ano de 2009, e um montante de R$ 566 bilhões de reais circulando na economia no 3º trimestre do ano de 2010. Outro destaque está no próprio consumo do governo que representou em 2009 quase 21% do PIB e mais de 327 bilhões de dólares no mesmo ano. Entretanto, a manutenção desse desempenho está diretamente ligada a um contexto macroeconômico de expansão real dos salários e continuidade do crescimento das taxas de emprego da economia. O que, por sua vez, esta relacionada ao padrão e volume de investimento atual da economia. TABELA 7: Formação PIB Brasil 2007 2008 2009 Consumo das famílias(%PIB) 59.90 60.32 62.76 Consumo do Governo (%PIB) 20.26 19.58 20.81 Formação Bruta de Capital Fixo (%PIB) 17.44 18.67 16.73 Poupança Bruta Doméstica (%PIB) 19.84 20.11 16.43 Um dos principais desafios do ano de 2011 para o Brasil está, justamente, em repensar a lógica do investimento nacional. (Re)pensar sobre o investimento e o seu volume é algo já extensamente discutido pelos estudiosos e interessados no tema, porem repensar o seu perfil pode ser o grande desafio competitivo de 2011. Para romper com a lógica de crescimento promovido até então, e exemplificada pelo breve contexto histórico acima discutido, seria necessário um reposicionamento das empresas e do governo. O caminho da sustentabilidade do crescimento das firmas e da estabilidade macroeconômica alcançada pelo governo está, justamente, na inversão da lógica do investimento.
  • 16. Nos dias de hoje, os investimentos de base estão em sua grande parte calcados no governo. Não isentando o Estado de suas responsabilidades no que tange a oferta de condições competitivas adequadas, deve-se levar em conta a sustentabilidade desses investimentos. Apesar de necessários eles estão levando o Estado a níveis de endividamento exorbitantes. Como pode-se observar no gráfico abaixo, a tão comentada redução da dívida externa foi alcançada graças à expansão da dívida interna. Entre os anos de 1995 e 2000, a evolução de ambas as dívidas sinalizavam para a mesma direção de crescimento. Em 2002 os dados sinalizam para uma inversão da inclinação das mesmas, tendo um direcionamento positivo (de crescimento) para a dívida interna e um direcionamento negativo (de queda) para a dívida externa. Nesse mesmo ano de 2002, a dívida externa representou 18,25% do PIB e a interna 37.71%. Após sete anos esses valores passaram a representar 44.89% do PIB para a dívida interna e 3,15% para a externa. Gráfico 3: Dívida do Governo Central (% PIB) 45,47 46,46 46,46 44,89 41,37 41,16 42,46 38,86 37,71 24,26 22,69 21,06 17,26 18,25 14,86 13,01 13,30 10,33 10,50 8,66 7,24 8,27 6,05 3,67 4,25 4,09 4,41 3,15 1,63 2,01 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 Central government domestic debt Central government foreign debt No curto prazo, esses montantes de investimento realizados a custo da dívida não somente geram crescimento econômico como desenvolvimento social. A questão é pensar nas conseqüências desses investimentos para o longo prazo. Frente a um alto endividamento, a tendência é que os investimentos cessem e com ele, todo o motor do atual crescimento do emprego, da renda e do consumo. O receio está na insustentabilidade dos investimentos e da dívida do atual governo levar a mais um ciclo recessivo da economia brasileira. Para se evitar tal contexto a sugestão está, como já comentado, na mudança do padrão dos investimentos nacionais e num envolvimento mais direto do setor privado na promoção dos investimentos de base e recuperação da plataforma competitiva.
  • 17. Ressaltamos que não estamos defendendo o descolamento dos agentes governamentais do processo de investimento e expansão do desenvolvimento econômico. Na verdade, estamos defendendo a parceira efetiva e eficiente dos principais agentes motores do crescimento. TABELA 8: Formação Bruta de Capital Fixo (em milhões de reais) Ano Adm. Pública Empresas e Familias 1995 15,955 113,341.29 1996 17,054 125,327.40 1997 16,231 146,902.59 1998 23,665 142,509.22 1999 15,274 151,472.74 2000 21,293 176,858.00 2001 25,935 195,837.00 2002 30,468 211,694.00 2003 25,604 234,110.00 2004 - - 2005 37,490 304,747.00 2006 48,245 341,083.00 Fonte: IpeaData, 2011 Nessa lógica, o investimento e todo o seu aporte de capital deveria ser direcionado ao setor privado que, dada a sua disponibilidade financeira e flexibilidade de ação, poderia com muito mais agilidade percorrer o caminho rumo à formação de condições competitivas mais adequadas (o que inclui investimentos em infra-estrutura, energia, ciência e tecnologia, etc). No mesmo sentido, o Estado poderia fortalecer a sua ação reguladora no sentido de garantir que esses investimentos privados atendam aos interesses de toda nação. Além dos benefícios de agilidade e maior disponibilidade financeira, esse movimento, que desonerará as contas públicas, poderia ainda gerar redução da carga tributária no país. No cenário atual, qualquer reforma tributária parece inviável dado o perfil da dívida e dos gastos do governo. Repassando parcela considerável dos investimentos ao setor privado, o governo poderá ter melhores condições de receita para promover a tão demandada reforma. A mudança aqui proposta ultrapassa as questões legislativas e governamentais. Reconhece-se que transformar a lógica dos investimentos nacionais envolve mudanças muito mais profundas que as econômicas. Envolve a mudança de uma sociedade construída em base paternalista e pouco colaborativa. Apesar de ethos brasileiro ser assim, ainda é possível que essa transformação de nossa racionalidade venha a trazer um efetivo e sustentado crescimento e desenvolvimento econômico.
  • 18. Fundação Dom Cabral 55 3589-7300 www.fdc.org.br