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          NOTAS SOBRE A GÊNESE DA FORMAÇÃO SÓCIO-ESPACIAL ‫٭‬
                      DO PLANALTO CATARINENSE


                                                     Maria Graciana Espellet de Deus Vieira
                                                 Professora do Departamento de Geografia / UDESC



Introdução

O processo de gênese da formação social do planalto catarinense - inserido na
especificidade da unidade morfológica do planalto meridional brasileiro, que
abrange os estados de São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul -
se estende do século XVIII ao XIX.

Neste período, o território planaltino vivencia, em suas manchas de campos, o
nascimento de uma formação social feudal-mercantil. Esta, por sua própria estrutura
e funcionamento, se expande para além dos limites dos campos, adentrando as
matas que misturam araucárias e ervais, sob a forma da pequena produção
posseira cabocla.

Isso acontece a partir da dinâmica histórica e geográfica de um complexo de modos
de produção primevo, que internamente combina o comunismo primitivo nômade e
semi-nômade das populações indígenas, o patriarcalismo dos clãs bandeirantes
mamelucos - preadores inicialmente de índios e depois de gado – e a teocracia
jesuítica missioneira.

O complexo primevo se movimenta – pulsa – regido pela convergência de suas
forças produtivas humanas e naturais internas, locais e regionais, aliadas aquelas
do complexo geral, que neste período de tempo passa, em termos políticos, de
Colonial à Imperial, de Imperial a Republicano.

No que se refere a relação Sociedade/Natureza, todos estes modos de produção,
estas combinações, presentes na gênese da formação sócio-espacial do planalto
meridional tem profundo vínculo com o quadro natural, com os seus elementos
físicos e biológicos - caracterizando a estruturação de um tempo em que a parte do
homem ainda não assumiu nitidamente a preponderância. 1


‫٭‬
 XII Encontro Nacional de Geógrafos (ENG) ; João Pessoa, 2002.
Relatório de pesquisa, parte do Projeto Integrado de Pesquisa/CNPq intitulado Santa Catarina: sociedade e
natureza. Realizado pelo LABEUR (Laboratório de Estudos Regionais) do Departamento de Geociências da
UFSC, envolvendo pesquisadores de várias universidades, tem como coordenador o Prof. Dr. Armen
Mamigonian (USP).

1
 cf. Cholley, A. Observações sobre alguns pontos de vista geográficos.
 “É somente naquelas combinações as mais evoluídas que a parte do homem assume, nitidamente a
preponderância”... Para Cholley, as combinações mais evoluídas se estruturam pós revolução industrial.
2
1. O processo de conquista do planalto meridional
                      “O ouro produziu a conquista e a colonização de Minas, Mato Grosso e
                      Goiaz, mas, produziu também a conquista e a colonização de zonas situadas
                      a incomensuráveis distâncias da localização das suas jazidas”... ( Oliveira
                      Viana)

A conquista colonial do planalto meridional inicia no segundo quartel do século XVI.
Pequenos contingentes populacionais coloniais do litoral açucareiro vicentista,
exíguo e insalubre, galgam pioneiramente a Serra do Mar, atingindo o planalto
(São Paulo), sua porção norte. Os jesuítas fundam Piratininga. 2 Dentro do contexto
colonial, a liderança na produção de riquezas para a Coroa Portuguesa cabe então
ao nordeste escravista e açucareiro; logo, as atividades que se impõem para a
sobrevivência da formação meridional nascente, frente a sua posição periférica,
resultam em grande mobilidade dos grupos que a compõem.

 A aliança com algumas tribos indígenas, o apresamento e escravização de índios
aldeados e ou reduzidos pela Igreja Católica, através da missão evangelizadora
jesuítica, representa papel crucial na formação dos clãs bandeirantes do planalto
meridional. A constituição de uma “muralha movediça” , na imagem de Gilberto
Freyre3, traduz a combinação do desejo de ascensão dos colonos da península
ibérica com o nomadismo e espírito guerreiro das nossas tribos comunistas
primitivas. Não é por acaso que esses clãs mamelucos tinham como principal
língua o tupi-guarani, obrigando a Coroa Portuguesa a proibi-lo no século XVIII. 4

Esta combinação étnica e social, garantiu o exercício das atividades bandeirantes,
seja na forma das bandeiras mineradoras (Planalto Oriental e Central/ Minas
Gerais, Goiás, Mato Grosso), quanto preadoras de índios e depois de gado (porção
Sul do Planalto Meridional/ Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul). 5

Neste período de preação indígena, as razias dos paulistas sobre as missões
jesuíticas de Guaíra e Tape (décadas iniciais do século XVII: clãs de Raposo
Tavares e Manuel Preto, por exemplo), provocaram além            de   sangue e
escravização, o êxodo da população guaranítica missioneira para as bandas de lá
do Paraná e do Uruguai. Caso não houvesse sido encontrado ouro nas terras altas
das Minas Gerais, estas razias teriam se prolongado e estendido ainda mais o seu
alcance.

A descoberta das minas, aliada ao despertar para a “consciência do valor
econômico da planície platina” - que abrigava então centenas de milhares de
cabeças de gado - vão sustar o ciclo de preadores de homens, substituindo-o pelo
de preadores de animais.6 O meio de produção fundamental deixa de ser o próprio

2
  sobre o assunto consultar o estudo de Prado Jr O Fator Geográfico na Formação e no Desenvolvimento da
Cidade de São Paulo” In: Evolução Política do Brasil e outros Estudos.; como também o trabalho de
Barros, G. L. A Cidade e o Planalto.
3
   Freyre , G. Casa Grande e Senzala, p. 95.
4
   cf. Pereira, R. M. Fontes do A. A Geografia e as Bases da Formação Nacional Brasileira, p. 89
5
   cf. Vianna, O. Populações Meridionais do Brasil, vol. II, p.
6
  idem
3
Homem - os indígenas - sendo substituído pelo gado bovino, cavalar, muar, que se
proliferara no Rio Grande do Sul, a partir das estâncias jesuíticas. Estas nas
últimas décadas do século XVII, se recompõem através do retorno dos jesuítas-
missioneiros às bandas de cá do Uruguai, onde fundam os Sete Povos das
Missões.

A propriedade dos homens, fonte da riqueza dos bandeirantes paulista, é
substituída pela propriedade dos animais.

A formação pastoril, que então se gesta, tem como objetivo inicial abastecer de
gado a formação mineradora. Esta atividade, ainda impregnada de espírito nômade,
aos poucos passa a se sedentarizar, formando vilas, povoados e estâncias
coloniais, transformando o “meio de produção fundamental” 7 de móvel ( homens e
depois gado) em fixo – a terra.

O monopólio da terra forma a estância pastoril, o precoce feudalismo 8 das áreas de
campo do Brasil Meridional.

É só a partir deste momento que podemos considerar concretizado o processo de
conquista desta porção sul do território brasileiro, pois é a partir daí que
internamente a formação pastoril sul-brasileira se estrutura politicamente, a ponto
de ser capaz de se contrapor militarmente aos interesses do Império Brasileiro em
1835, resgatando a sua origem insubordinada e guerreira e impondo, pela força,
uma “íntima aliança” com os senhores de escravos das áreas agrícolas e
manufatureiras, assim como com “.a novel classe dos comerciantes, surgida com a
Abertura dos Portos –Independência, o pacto de poder que assumiu a forma de
Segundo Império.” 9

2. A conquista do planalto catarinense: os Campos de Lages e Curitibanos

O grande obstáculo para o transporte do gado na fase inicial de relacionamento da
planície platina com a região de mineração, serão a Serra do Mar e as Escarpas
do Planalto, a Serra Geral.

(...) “Na região catarinense, o paredão da grande cordilheira oferecia um aspecto
essencialmente rebarbativo e penhascoso, que a tornava, aí, de penosa, ou
impossível acessibilidade. (...) Os preadores lagunistas dominaram, porém, todos
estes obstáculos. Em 1728, abriram , através destes flancos rebarbativos, uma
grande estrada – a estrada do Araranguá.” 10



7
   cf. Rangel, I. Dualidade Básica da Economia Brasileira, pp 27 e 28.
8
   conforme Ignácio Rangel nas áreas de campo do Brasil Meridional, assim como no sertão nordestino, a
  atividade pastoril estabeleceu precocemente a terra como meio de produção fundamental, decorrendo
   daí o “feudalismo precoce”.
9
   Rangel, I. Feudalismo e Propriedade Fundiária in: INCAO, Maria Angela d’ (org.). História e Ideal,
    p 216.
10
   Vianna, O. op. cit. vol II, p97.
4
Ao chegarem em cima da serra deram com “campos e pastos admiráveis, e neles
imensidade de gado, tirados das campanhas da nova colônia, e lançados naqueles
sítios pelos Tapes das Aldeias dos padres jesuítas no ano de 1712.” 11

Até cerca de 1740 esta estrada pertencerá ao percurso arterial de tropas, ligando Viamão,
Laguna, Lages, Curitiba e Sorocaba. A partir de então o litoral catarinense volta a se
desarticular das terras de Serra Acima, mas ao contrário de Laguna, Lages permanece no
circuito arterial das tropas, fortalecendo a atuação da corrente planáltica de ocupação. Esta
mudança de percurso, permanecendo Lages como ponto de passagem obrigatório, agora não
mais ligada ao litoral, mas sim ao planalto e planícies riograndenses, imporá uma
preocupação de cunho estratégico, que resultará na sua edificação como vila em 1771.


3. O campo, o gado e o feudalismo precoce pastoril

Quando da Independência e da Revolução Farroupilha, o planalto catarinense já
se constituíra em uma “zona de percurso” de tropas que iriam abastecer o
comércio interno da região das minas 12 - origem da visão de Santa Catarina “como
mero território de passagem entre São Paulo e Rio Grande do Sul”. 13 Em 1856,
“Lajes, ainda como em 1820, o único distrito a oeste da serra”... 14, até às vésperas
da Independência ainda pertencia à Capitania de São Paulo. 15

Esta mudança de jurisdição, incorpora a formação social nascente – em especial a
região onde se concentra a mais extensa mancha de campo do planalto
Catarinense - os campos de Lages e Curitibanos - àquela do litoral, de história mais
antiga, onde no decorrer do tempo se combinaram, desde os clãs patriarcais
vicentistas (corrente do litoral- século XVII - avanço territorial português frente
Tratado de Tordesilhas – a fundação da Colônia de Sacramento), os escravos
africanos das manufaturas da baleia - pertencentes ao capital comercial português
e a pequena produção mercantil açoriana (século XVIII).

Das localidades litorâneas catarinenses fundadas no século XVII, somente Laguna
se destacará no processo de conquista pastoril do século XVIII, quando aquele
pequeno núcleo fruto da corrente bandeirante litorânea rompe com sua “vida
precária e estagnante”. 16

 Logo, não é por acaso que a Revolução Farroupilha alcance os limites de Santa
Catarina, incorporando na luta riograndense, Laguna e Lages. É significativo
também que no decorrer da revolução, Lages tenha inicialmente pertencido a
11
   Queiroz, M. V., Messianismo e Conflito Social, p. 13 Apud Goulart, J. A. , Tropas e Tropeiros na Formação
    do Brasil
12
   cf. Vianna, O., op. cit
13
    Mamigonian, A. , Indústria . In: Atlas de Santa Catarina, 1986.
14
   Pereira, C. da C., A Região das Araucárias, p 43
15
   (...) “Até 1820, pertencendo o planalto à Capitania de São Paulo e o litoral à de Santa Catarina, era a Serra
Geral o limite entre essas unidades administrativas do Brasil Colonial . A partir daquele ano, com a
subordinação do planalto de Lages ao Governo da Ilha, somente o trecho ao sul do rio das Contas continuou
como divisa entre unidades distintas, que persiste no limite entre o Estado do Rio Grande do Sul e o de Santa
Catarina.” (...)Peluso Jr, Victor.A Costa da Serra. In: Aspectos Geográficos de Santa Catarina, p.127.
16
   Vianna, O, op. cit, p. 107)
5
República Riograndense e depois tenha composto com Laguna a República
Juliana17, unindo politicamente, o litoral e o planalto.

Importa ressaltar, que as guerras farroupilhas, que erigem em classe dominante os
senhores feudais pastoris18, que abastecem de gado o mercado interno brasileiro,
representam principalmente a conquista das áreas de campo, seja de porções do
litoral ou da planície platina, seja as do planalto meridional. Desta forma, esta
formação original se encontra geograficamente limitada pelas áreas de campo, que
são conquistadas de acordo com as necessidades dos trajetos de percurso e frente
a disponibilidade de terra e gado.

A economia charqueadora-pecuarista era dominante na depressão sul-riograndense
(o pampa), enquanto nos campos do planalto meridional, de ocupação mais tardia,
de difícil acesso e obstaculizados pela presença da mata,           a economia
charqueadora não se desenvolve da mesma forma, fazendo com que os
pecuaristas destas áreas planaltinas sejam, no dizer de Jean Roche, os “parentes
pobres da Campanha”.


4. A conquista do Planalto Norte: os ervais dos sertões de Lages

Como nos referimos anteriormente, em meados do século XIX, Lages era o único
distrito a oeste da Serra. Além disso havia os arraiais de Campo Belo (Baguais) e
Campos Novos, pertencentes ao distrito de Lages e a vila de Curitibanos, também
fruto da frente expansionista lageana, que ali fundou por volta de 1800 um arraial
de tropeiros. A população de Santa Catarina em 1856 atingia 111 109 habitantes,
sendo que destes, 104 317 habitavam o litoral e 6 672 o planalto. 19

“Na área de que tratamos, fundaram-se fazendas de todos os tamanhos. Em
meados do século XIX, ainda existiam algumas que demandavam três dias de
viagem para ir-se de ponta a ponta”... 20

Em virtude dos limites florestais das manchas de campo catarinenses, a porção
norte do planalto não foi efetivamente conquistada em função de campos e gado,
mas pela presença da mata de araucária (maior formação original vegetal de
Santa Catarina), em especial, neste período, da erva-mate que a ela se apresenta
combinada. Esta característica irá aproximar a formação ali gestada daquela do
planalto paranaense, pioneiro na exploração comercial da erva-mate, o que no
período colonial havia sido feito pelos jesuítas espanhóis nas suas missões.



17
   cf. Costa, Licurgo, O Continente das Lagens
18
   “A Guerra dos Farrapos ...representa a afirmação política das classes dominantes da formação gaúcha
perante o poder central. (...) Ao contrário do feudalismo precoce nordestino, a pecuária não é mera subsidiária
da economia latifundiária-escravista dominante. Ela é a matéria- prima da charqueada, esta sim subsidiária da
economia escravista central.” Vieira, Maria Graciana E. de Deus. Formação Social Brasileira e Geografia, p.
123.
19
   Pereira, C. da C., op. cit., pp. 43/ 44
20
   Queiroz, M. V. ,op. cit. p 22
6
O desenvolvimento da manufatura ervateira no Paraná, que empregava mão de
obra escrava, atinge em 1853 cerca de 90 engenhos, chamando a atenção dos
governantes da província de Santa Catarina, que em 1849 se manifestam à
Assembléia Legislativa Provincial da seguinte forma: “a erva-mate, ramo
considerável de exportação em Paranaguá, bem vizinho de nosso limite ao Sul, de
que abundam os Campos e Sertões de Lajes, tem estado em perfeito abandono;
ao mesmo tempo em que um ou outro distrito dessa vila a prepara, acha pronto
comprador que a exporta para o Rio Grande.”21

Os primeiros engenhos catarinenses de erva-mate, situados em Lages, tinham seus
lucros limitados pelas despesas de transporte, em razão da inexistência ou más
condições das estradas. 22

Na verdade, “ao se espalharem as fazendas de gado ao longo e para fora das
Estradas de Tropas, a erva começou a ser colhida nas matas vizinhas e preparada
mais para atender as necessidades locais do que para venda. Os fazendeiros
permitiam aos agregados e peões prover-se com a planta por acaso encontrada
dentro da propriedade ou nas vizinhanças, `a qual não atribuíam maior valor. É
possível que os excedentes fossem então mercadejados, sem que representassem
importância de vulto.”23

Aquele ervais que eram vizinhos às áreas de campo foram sendo apropriados
pelos próprios senhores da terra através de seus peões e agregados. Os que se
situavam em plena floresta eram utilizados pelos posseiros, camponeses caboclos
- excedente populacional dos latifúndios, índios de origem missioneira, negros,
mestiços, que já haviam sido escravos e agregados – que se embrenham mata a
dentro e vão ocupando as terras florestadas do planalto.

Na segunda metade do século XIX - enquanto eram fundadas as colônias alemãs e
italianas nos vales atlânticos catarinenses, com base na pequena produção
mercantil - no planalto, a terra continuava sendo ainda apropriada na forma de
domínio feudal e de posse cabocla. A fundação da vila de Canoinhas, pertencente
administrativamente à Santa Catarina, mas já na faixa disputada pelo Paraná, como
relata Queiroz, ilustra o quadro da época.

(...) “Antigo proprietário nos arredores de São Bento, Paula Pereira julgara-se
perseguido pelas autoridades paranaenses e acabou resolvendo estabelecer-se à
margem do Canoinhas. No anos da proclamação da República levou para sua nova
fazenda algumas famílias : ‘Senhor absoluto das terras e tido como chefe local,
Pereira foi logo tratando de localizar num morro perto de sua habitação e em
terras de cultura todo a       que fosse pedir terreno para edificar.’ (jornal FC
10/10/1912). Logo após a revolução federalista, Canoinhas transformou-se numa
espécie de república livre, para onde acorriam, a fim de evitar os tribunais ou a
justiça privada, velhos maragatos derrotados do Rio Grande, reais ou supostos
criminosos do Paraná e Santa Catarina. (...)” 24
21
   Pereira, C.da C. , op. cit., pp. 56/57
22
   idem, p 57
23
   Queiroz, M. V. de , op. cit. p. 24
24
   Queiroz, M. V de , op. cit., pp. 34/35
7

Somente em inícios do século XX, às vésperas da Guerra do Contestado,
Canoinhas será erigida em vila (1911). “Sua principal fonte de comércio era a erva-
mate.” 25

5. A pequena produção posseira cabocla: posse e expropriação

A expansão do domínio pastoril sobre todas as manchas de campo nativo do
planalto catarinense, obstaculiza a reprodução quantitativa do latifúndio pastoril. A
fazenda - que comportava no século XVIII e XIX, escravos e agregados, e no XX,
agregados e arrendatários26 - para reproduzir as relações de produção ali
existentes, necessitava de um controle populacional. O excedente, fruto do
crescimento demográfico daquele domínio, era expelido. Para o agregado e sua
família, o sertão era a alternativa.

Este habitat indígena27 e, gradativamente, também caboclo, era marcado pela
presença maciça da mata de araucária, da qual os ocupantes tiravam grande parte
de seu sustento, combinando para isso conhecimentos assimilados da cultura
indígena com aqueles de origem ibérica. 28

Coletando frutas, caçando, pescando, extraindo erva-mate, criando porcos
selvagens - engordados pelos pinhões - e cultivando, de forma semi-nômade, em
clareiras abertas a machado e fogo, se reproduzia a pequena produção cabocla. Os
instrumentos de plantio “só se distinguem dos paus-de-cavar usados pelos índios
por serem providos de uma ponta de ferro.” Quando sobra algum produto das roças
“os caboclos fazem miúdo comércio – na base da troca – com os bodegueiros.” 29

Na guerra do Contestado foram estes caboclos os camponeses revoltosos, que
lutaram bravamente por suas posses, até a morte e ou expropriação.

É em meados do século XIX que a comarca do Paraná se separa da província de
São Paulo e começa a definir sua feição territorial e sua estrutura política. Tal
formação tardia, implicará em grandes disputas fronteiriças com Santa Catarina,
que se acirrarão a medida da valorização comercial dos recursos naturais ali
presentes: a terra e a madeira.

Importa salientar, que é também em meados do XIX que se promulga a Lei de
Terras, prenunciando o fim da escravidão e a intensificação da imigração européia.
Esta, iniciada nas primeiras décadas do XIX, teve como objetivo locacional, primeiro
proteger pontos estratégicos dos caminhos das tropas, quase sempre onde o

25
   idem, p 25
26
   Peluso Jr, Victor. Fazenda do Cedro. In: Aspectos Geográficos de Santa Catarina, pp. 95 a 115.
27
   “Os Xokleng dominaram a Floresta de Araucária até o contato mais direto com o homem-branco. (...) No
tempo da virada do século [ XIX / XX] foram caçados como animais por bandos armados de ‘ bugreiros’, a
soldo de empresas colonizadoras, que invadiam a mata para liquidá-los.” (...) Tomé, N. Ciclo da Madeira, p.
50.
28
   Cf. Tomé, N. , op. cit., p50.
29
   Queiroz, M. V de , op. cit., pp. 29 e 30.
8
campo se encontrava com a mata.30 Os objetivos iniciais da imigração se alteram
pós 1850. Neles, a comercialização de terras terá importante papel. Em fins do
século XIX, já no advento da República, quando então as terras devolutas passarão
do domínio do poder central para os estados, a construção de ferrovias permitirá a
ocupação de áreas até então de difícil acesso, como os sertões dos pinhais e dos
caboclos do planalto catarinense. Território contestado pelo Paraná.

A mudança do Império para a República, sintetizada de forma geográfica e histórica
pela Revolução Federalista - Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul - e pela
Guerra do Contestado – representou no primeiro caso, uma luta pela afirmação da
oligarquia regional, pastoril–mercantil - nascida nos campos incrustados na mata do
planalto meridional - aliada à burguesia comercial fortalecida em decorrência das
imigrações européias anteriores à República. 31 A Guerra do Contestado, já foi o
desenrolar da vitória nesta luta. A oligarquia regional se manifesta, estadualmente,
no litígio de fronteiras entre os governos do Paraná e de Santa Catarina, na
concessão e venda de terras. Estas até então em posse da pequena produção
cabocla.

A concessão e venda de terras, feitas pelo governo e também por particulares de
forma significativa para o grupo americano Farquhar - que assumiu com
exclusividade a construção da ferrovia, ligando São Paulo ao Rio Grande do Sul,
no trecho que corta o território catarinense – tinha como objetivo também a
comercialização de terras e a extração de madeira através da “Southern Brazil,
Lumber and Colonization Company”, empresa do mesmo grupo. Com uma
capacidade produtiva até então desconhecida na região 32, a “Lumber” potencializa a
velocidade do processo de expropriação dos posseiros do planalto catarinense,
resultando no quadro sangrento da Guerra do Contestado. 33 Na inscrição a lápis
feita por um sertanejo na porta de uma venda, se revela a consciência que os
posseiros tinham do conflito: (...) “O governo da República toca os Filhos
Brasileiros dos terrenos que pertence à nação e vende para os estrangeiros, nós
agora estemo disposto a fazer prevalecer os nossos direitos.” 34


Nota Final

As atividades pastoril e ervateira são fundamentais a estruturação latifundiária do
planalto catarinense e a sua construção como formação política feudal e mercantil.
30
    cf. Waibel, Leo, Capítulos de Geografia Tropical e do Brasil
31
   cf. Rangel, Ignácio. Regionalismo e Federalismo. In: Dualidade Básica da Economia Brasileira, pp. 64 a
   65 e Vieira, Maria Graciana E. de Deus. Formação Social Brasileira e Geografia, pp. 124 a 126.
32
   “Nas propriedades da ‘Southern Brazil, Lumber e Colonization Company’ foram construídas quatro
serrarias, tendo a de Três Barras conquistado a posição destacada de o maior complexo industrial madeireiro
da América do Sul. Esta serraria, praticamente toda mecanizada tinha a capacidade de fabricar de 10 000 a
12 000 metros cúbicos por mês de pranchas e vigas, além de possuir estufas secadoras para eliminar o
excesso de umidade do pinho. ” Silva, Rosângela C. da. Terras Públicas e Particulares, p. 43.
33
   No planalto gaúcho o processo de expropriação da posse cabocla, desenvolvido gradativamente a partir da
lei de Terras de 1850, e atingindo resultados semelhantes - a expropriação cabocla, a comercialização e
colonização de terras e a extração madeireira - não alcança a bárbara violência do ocorrido no planalto
catarinense. Cf. Zarth, Paulo Afonso. História Agrária do Planalto Gaúcho: 1850 – 1920.
34
   Queiroz, M. V de , op. cit., p. 179.
9
Já a atividade madeireira e a colonização mercantil das terras representam a
combinação entre a estrutura vigente e novas forças produtivas e formas de
propriedade presentes na região. Este novo arranjo - econômico, social e político -
se expressa, geograficamente, pela violenta diferenciação da porção oeste do
planalto catarinense, que, a partir das primeiras décadas do século XX, passa a
abrigar em suas terras uma dinâmica formação pequeno produtora agrícola
mercantil, que para se instalar contou com o acelerado derrubar das matas,
promovido pelo intenso desenvolvimento da atividade madeireira em toda a região.
35




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naturais de meios de subsistência, isto é solo fértil, águas piscosas etc. e riquezas naturais de meios de
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decisivo cabe à primeira espécie de riquezas naturais; nos estágios de desenvolvimento superiores , à segunda
espécie. (...) (Marx, K, O Capital, cap. XIV).
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   Congresso de História eGeografia de Santa Catarina. Florianópolis, 1997.
11
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Atlas Geográfico de Santa Catarina. Departamento Estadual de Geografia e
   Cartografia. Florianópolis, 1959.
Atlas de Santa Catarina. Florianópolis:GAPLAN, 1986.




Quando outras áreas brasileiras já produziam para um mercado externo
metropolitano, o Sul não tinha condições de concorrer para esse comércio, pois aí
não se podia obter produtos tropicais.
Este fator de ordem natural, a subtropicalidade, influindo nas modalidades de
aproveitamento econômico, foi, pois, o responsável pela tardia efetivação do
12
povoamento do Sul. .( Monteiro, C. A.. O Brasil Meridional. Rio de Janeiro: IBGE,
1967, p88 )

As feições morfológicas* , certamente se estendem bem mais para o norte da
região em causa. Porém clima, cobertura vegetal, solos, tipo de povoamento,
formas econômicas constituem um complexo geográfico de cunho sub-tropical
muito nítido... (Bernardes, N. A Grande Região Sul. Rio de Janeiro:IBGE, 1969, p
70)
* o autor se refere ao planalto meridional brasileiro

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Notas sobre a gênese da formação sócio espacial do planalto catarinense

  • 1. 1 NOTAS SOBRE A GÊNESE DA FORMAÇÃO SÓCIO-ESPACIAL ‫٭‬ DO PLANALTO CATARINENSE Maria Graciana Espellet de Deus Vieira Professora do Departamento de Geografia / UDESC Introdução O processo de gênese da formação social do planalto catarinense - inserido na especificidade da unidade morfológica do planalto meridional brasileiro, que abrange os estados de São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul - se estende do século XVIII ao XIX. Neste período, o território planaltino vivencia, em suas manchas de campos, o nascimento de uma formação social feudal-mercantil. Esta, por sua própria estrutura e funcionamento, se expande para além dos limites dos campos, adentrando as matas que misturam araucárias e ervais, sob a forma da pequena produção posseira cabocla. Isso acontece a partir da dinâmica histórica e geográfica de um complexo de modos de produção primevo, que internamente combina o comunismo primitivo nômade e semi-nômade das populações indígenas, o patriarcalismo dos clãs bandeirantes mamelucos - preadores inicialmente de índios e depois de gado – e a teocracia jesuítica missioneira. O complexo primevo se movimenta – pulsa – regido pela convergência de suas forças produtivas humanas e naturais internas, locais e regionais, aliadas aquelas do complexo geral, que neste período de tempo passa, em termos políticos, de Colonial à Imperial, de Imperial a Republicano. No que se refere a relação Sociedade/Natureza, todos estes modos de produção, estas combinações, presentes na gênese da formação sócio-espacial do planalto meridional tem profundo vínculo com o quadro natural, com os seus elementos físicos e biológicos - caracterizando a estruturação de um tempo em que a parte do homem ainda não assumiu nitidamente a preponderância. 1 ‫٭‬ XII Encontro Nacional de Geógrafos (ENG) ; João Pessoa, 2002. Relatório de pesquisa, parte do Projeto Integrado de Pesquisa/CNPq intitulado Santa Catarina: sociedade e natureza. Realizado pelo LABEUR (Laboratório de Estudos Regionais) do Departamento de Geociências da UFSC, envolvendo pesquisadores de várias universidades, tem como coordenador o Prof. Dr. Armen Mamigonian (USP). 1 cf. Cholley, A. Observações sobre alguns pontos de vista geográficos. “É somente naquelas combinações as mais evoluídas que a parte do homem assume, nitidamente a preponderância”... Para Cholley, as combinações mais evoluídas se estruturam pós revolução industrial.
  • 2. 2 1. O processo de conquista do planalto meridional “O ouro produziu a conquista e a colonização de Minas, Mato Grosso e Goiaz, mas, produziu também a conquista e a colonização de zonas situadas a incomensuráveis distâncias da localização das suas jazidas”... ( Oliveira Viana) A conquista colonial do planalto meridional inicia no segundo quartel do século XVI. Pequenos contingentes populacionais coloniais do litoral açucareiro vicentista, exíguo e insalubre, galgam pioneiramente a Serra do Mar, atingindo o planalto (São Paulo), sua porção norte. Os jesuítas fundam Piratininga. 2 Dentro do contexto colonial, a liderança na produção de riquezas para a Coroa Portuguesa cabe então ao nordeste escravista e açucareiro; logo, as atividades que se impõem para a sobrevivência da formação meridional nascente, frente a sua posição periférica, resultam em grande mobilidade dos grupos que a compõem. A aliança com algumas tribos indígenas, o apresamento e escravização de índios aldeados e ou reduzidos pela Igreja Católica, através da missão evangelizadora jesuítica, representa papel crucial na formação dos clãs bandeirantes do planalto meridional. A constituição de uma “muralha movediça” , na imagem de Gilberto Freyre3, traduz a combinação do desejo de ascensão dos colonos da península ibérica com o nomadismo e espírito guerreiro das nossas tribos comunistas primitivas. Não é por acaso que esses clãs mamelucos tinham como principal língua o tupi-guarani, obrigando a Coroa Portuguesa a proibi-lo no século XVIII. 4 Esta combinação étnica e social, garantiu o exercício das atividades bandeirantes, seja na forma das bandeiras mineradoras (Planalto Oriental e Central/ Minas Gerais, Goiás, Mato Grosso), quanto preadoras de índios e depois de gado (porção Sul do Planalto Meridional/ Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul). 5 Neste período de preação indígena, as razias dos paulistas sobre as missões jesuíticas de Guaíra e Tape (décadas iniciais do século XVII: clãs de Raposo Tavares e Manuel Preto, por exemplo), provocaram além de sangue e escravização, o êxodo da população guaranítica missioneira para as bandas de lá do Paraná e do Uruguai. Caso não houvesse sido encontrado ouro nas terras altas das Minas Gerais, estas razias teriam se prolongado e estendido ainda mais o seu alcance. A descoberta das minas, aliada ao despertar para a “consciência do valor econômico da planície platina” - que abrigava então centenas de milhares de cabeças de gado - vão sustar o ciclo de preadores de homens, substituindo-o pelo de preadores de animais.6 O meio de produção fundamental deixa de ser o próprio 2 sobre o assunto consultar o estudo de Prado Jr O Fator Geográfico na Formação e no Desenvolvimento da Cidade de São Paulo” In: Evolução Política do Brasil e outros Estudos.; como também o trabalho de Barros, G. L. A Cidade e o Planalto. 3 Freyre , G. Casa Grande e Senzala, p. 95. 4 cf. Pereira, R. M. Fontes do A. A Geografia e as Bases da Formação Nacional Brasileira, p. 89 5 cf. Vianna, O. Populações Meridionais do Brasil, vol. II, p. 6 idem
  • 3. 3 Homem - os indígenas - sendo substituído pelo gado bovino, cavalar, muar, que se proliferara no Rio Grande do Sul, a partir das estâncias jesuíticas. Estas nas últimas décadas do século XVII, se recompõem através do retorno dos jesuítas- missioneiros às bandas de cá do Uruguai, onde fundam os Sete Povos das Missões. A propriedade dos homens, fonte da riqueza dos bandeirantes paulista, é substituída pela propriedade dos animais. A formação pastoril, que então se gesta, tem como objetivo inicial abastecer de gado a formação mineradora. Esta atividade, ainda impregnada de espírito nômade, aos poucos passa a se sedentarizar, formando vilas, povoados e estâncias coloniais, transformando o “meio de produção fundamental” 7 de móvel ( homens e depois gado) em fixo – a terra. O monopólio da terra forma a estância pastoril, o precoce feudalismo 8 das áreas de campo do Brasil Meridional. É só a partir deste momento que podemos considerar concretizado o processo de conquista desta porção sul do território brasileiro, pois é a partir daí que internamente a formação pastoril sul-brasileira se estrutura politicamente, a ponto de ser capaz de se contrapor militarmente aos interesses do Império Brasileiro em 1835, resgatando a sua origem insubordinada e guerreira e impondo, pela força, uma “íntima aliança” com os senhores de escravos das áreas agrícolas e manufatureiras, assim como com “.a novel classe dos comerciantes, surgida com a Abertura dos Portos –Independência, o pacto de poder que assumiu a forma de Segundo Império.” 9 2. A conquista do planalto catarinense: os Campos de Lages e Curitibanos O grande obstáculo para o transporte do gado na fase inicial de relacionamento da planície platina com a região de mineração, serão a Serra do Mar e as Escarpas do Planalto, a Serra Geral. (...) “Na região catarinense, o paredão da grande cordilheira oferecia um aspecto essencialmente rebarbativo e penhascoso, que a tornava, aí, de penosa, ou impossível acessibilidade. (...) Os preadores lagunistas dominaram, porém, todos estes obstáculos. Em 1728, abriram , através destes flancos rebarbativos, uma grande estrada – a estrada do Araranguá.” 10 7 cf. Rangel, I. Dualidade Básica da Economia Brasileira, pp 27 e 28. 8 conforme Ignácio Rangel nas áreas de campo do Brasil Meridional, assim como no sertão nordestino, a atividade pastoril estabeleceu precocemente a terra como meio de produção fundamental, decorrendo daí o “feudalismo precoce”. 9 Rangel, I. Feudalismo e Propriedade Fundiária in: INCAO, Maria Angela d’ (org.). História e Ideal, p 216. 10 Vianna, O. op. cit. vol II, p97.
  • 4. 4 Ao chegarem em cima da serra deram com “campos e pastos admiráveis, e neles imensidade de gado, tirados das campanhas da nova colônia, e lançados naqueles sítios pelos Tapes das Aldeias dos padres jesuítas no ano de 1712.” 11 Até cerca de 1740 esta estrada pertencerá ao percurso arterial de tropas, ligando Viamão, Laguna, Lages, Curitiba e Sorocaba. A partir de então o litoral catarinense volta a se desarticular das terras de Serra Acima, mas ao contrário de Laguna, Lages permanece no circuito arterial das tropas, fortalecendo a atuação da corrente planáltica de ocupação. Esta mudança de percurso, permanecendo Lages como ponto de passagem obrigatório, agora não mais ligada ao litoral, mas sim ao planalto e planícies riograndenses, imporá uma preocupação de cunho estratégico, que resultará na sua edificação como vila em 1771. 3. O campo, o gado e o feudalismo precoce pastoril Quando da Independência e da Revolução Farroupilha, o planalto catarinense já se constituíra em uma “zona de percurso” de tropas que iriam abastecer o comércio interno da região das minas 12 - origem da visão de Santa Catarina “como mero território de passagem entre São Paulo e Rio Grande do Sul”. 13 Em 1856, “Lajes, ainda como em 1820, o único distrito a oeste da serra”... 14, até às vésperas da Independência ainda pertencia à Capitania de São Paulo. 15 Esta mudança de jurisdição, incorpora a formação social nascente – em especial a região onde se concentra a mais extensa mancha de campo do planalto Catarinense - os campos de Lages e Curitibanos - àquela do litoral, de história mais antiga, onde no decorrer do tempo se combinaram, desde os clãs patriarcais vicentistas (corrente do litoral- século XVII - avanço territorial português frente Tratado de Tordesilhas – a fundação da Colônia de Sacramento), os escravos africanos das manufaturas da baleia - pertencentes ao capital comercial português e a pequena produção mercantil açoriana (século XVIII). Das localidades litorâneas catarinenses fundadas no século XVII, somente Laguna se destacará no processo de conquista pastoril do século XVIII, quando aquele pequeno núcleo fruto da corrente bandeirante litorânea rompe com sua “vida precária e estagnante”. 16 Logo, não é por acaso que a Revolução Farroupilha alcance os limites de Santa Catarina, incorporando na luta riograndense, Laguna e Lages. É significativo também que no decorrer da revolução, Lages tenha inicialmente pertencido a 11 Queiroz, M. V., Messianismo e Conflito Social, p. 13 Apud Goulart, J. A. , Tropas e Tropeiros na Formação do Brasil 12 cf. Vianna, O., op. cit 13 Mamigonian, A. , Indústria . In: Atlas de Santa Catarina, 1986. 14 Pereira, C. da C., A Região das Araucárias, p 43 15 (...) “Até 1820, pertencendo o planalto à Capitania de São Paulo e o litoral à de Santa Catarina, era a Serra Geral o limite entre essas unidades administrativas do Brasil Colonial . A partir daquele ano, com a subordinação do planalto de Lages ao Governo da Ilha, somente o trecho ao sul do rio das Contas continuou como divisa entre unidades distintas, que persiste no limite entre o Estado do Rio Grande do Sul e o de Santa Catarina.” (...)Peluso Jr, Victor.A Costa da Serra. In: Aspectos Geográficos de Santa Catarina, p.127. 16 Vianna, O, op. cit, p. 107)
  • 5. 5 República Riograndense e depois tenha composto com Laguna a República Juliana17, unindo politicamente, o litoral e o planalto. Importa ressaltar, que as guerras farroupilhas, que erigem em classe dominante os senhores feudais pastoris18, que abastecem de gado o mercado interno brasileiro, representam principalmente a conquista das áreas de campo, seja de porções do litoral ou da planície platina, seja as do planalto meridional. Desta forma, esta formação original se encontra geograficamente limitada pelas áreas de campo, que são conquistadas de acordo com as necessidades dos trajetos de percurso e frente a disponibilidade de terra e gado. A economia charqueadora-pecuarista era dominante na depressão sul-riograndense (o pampa), enquanto nos campos do planalto meridional, de ocupação mais tardia, de difícil acesso e obstaculizados pela presença da mata, a economia charqueadora não se desenvolve da mesma forma, fazendo com que os pecuaristas destas áreas planaltinas sejam, no dizer de Jean Roche, os “parentes pobres da Campanha”. 4. A conquista do Planalto Norte: os ervais dos sertões de Lages Como nos referimos anteriormente, em meados do século XIX, Lages era o único distrito a oeste da Serra. Além disso havia os arraiais de Campo Belo (Baguais) e Campos Novos, pertencentes ao distrito de Lages e a vila de Curitibanos, também fruto da frente expansionista lageana, que ali fundou por volta de 1800 um arraial de tropeiros. A população de Santa Catarina em 1856 atingia 111 109 habitantes, sendo que destes, 104 317 habitavam o litoral e 6 672 o planalto. 19 “Na área de que tratamos, fundaram-se fazendas de todos os tamanhos. Em meados do século XIX, ainda existiam algumas que demandavam três dias de viagem para ir-se de ponta a ponta”... 20 Em virtude dos limites florestais das manchas de campo catarinenses, a porção norte do planalto não foi efetivamente conquistada em função de campos e gado, mas pela presença da mata de araucária (maior formação original vegetal de Santa Catarina), em especial, neste período, da erva-mate que a ela se apresenta combinada. Esta característica irá aproximar a formação ali gestada daquela do planalto paranaense, pioneiro na exploração comercial da erva-mate, o que no período colonial havia sido feito pelos jesuítas espanhóis nas suas missões. 17 cf. Costa, Licurgo, O Continente das Lagens 18 “A Guerra dos Farrapos ...representa a afirmação política das classes dominantes da formação gaúcha perante o poder central. (...) Ao contrário do feudalismo precoce nordestino, a pecuária não é mera subsidiária da economia latifundiária-escravista dominante. Ela é a matéria- prima da charqueada, esta sim subsidiária da economia escravista central.” Vieira, Maria Graciana E. de Deus. Formação Social Brasileira e Geografia, p. 123. 19 Pereira, C. da C., op. cit., pp. 43/ 44 20 Queiroz, M. V. ,op. cit. p 22
  • 6. 6 O desenvolvimento da manufatura ervateira no Paraná, que empregava mão de obra escrava, atinge em 1853 cerca de 90 engenhos, chamando a atenção dos governantes da província de Santa Catarina, que em 1849 se manifestam à Assembléia Legislativa Provincial da seguinte forma: “a erva-mate, ramo considerável de exportação em Paranaguá, bem vizinho de nosso limite ao Sul, de que abundam os Campos e Sertões de Lajes, tem estado em perfeito abandono; ao mesmo tempo em que um ou outro distrito dessa vila a prepara, acha pronto comprador que a exporta para o Rio Grande.”21 Os primeiros engenhos catarinenses de erva-mate, situados em Lages, tinham seus lucros limitados pelas despesas de transporte, em razão da inexistência ou más condições das estradas. 22 Na verdade, “ao se espalharem as fazendas de gado ao longo e para fora das Estradas de Tropas, a erva começou a ser colhida nas matas vizinhas e preparada mais para atender as necessidades locais do que para venda. Os fazendeiros permitiam aos agregados e peões prover-se com a planta por acaso encontrada dentro da propriedade ou nas vizinhanças, `a qual não atribuíam maior valor. É possível que os excedentes fossem então mercadejados, sem que representassem importância de vulto.”23 Aquele ervais que eram vizinhos às áreas de campo foram sendo apropriados pelos próprios senhores da terra através de seus peões e agregados. Os que se situavam em plena floresta eram utilizados pelos posseiros, camponeses caboclos - excedente populacional dos latifúndios, índios de origem missioneira, negros, mestiços, que já haviam sido escravos e agregados – que se embrenham mata a dentro e vão ocupando as terras florestadas do planalto. Na segunda metade do século XIX - enquanto eram fundadas as colônias alemãs e italianas nos vales atlânticos catarinenses, com base na pequena produção mercantil - no planalto, a terra continuava sendo ainda apropriada na forma de domínio feudal e de posse cabocla. A fundação da vila de Canoinhas, pertencente administrativamente à Santa Catarina, mas já na faixa disputada pelo Paraná, como relata Queiroz, ilustra o quadro da época. (...) “Antigo proprietário nos arredores de São Bento, Paula Pereira julgara-se perseguido pelas autoridades paranaenses e acabou resolvendo estabelecer-se à margem do Canoinhas. No anos da proclamação da República levou para sua nova fazenda algumas famílias : ‘Senhor absoluto das terras e tido como chefe local, Pereira foi logo tratando de localizar num morro perto de sua habitação e em terras de cultura todo a que fosse pedir terreno para edificar.’ (jornal FC 10/10/1912). Logo após a revolução federalista, Canoinhas transformou-se numa espécie de república livre, para onde acorriam, a fim de evitar os tribunais ou a justiça privada, velhos maragatos derrotados do Rio Grande, reais ou supostos criminosos do Paraná e Santa Catarina. (...)” 24 21 Pereira, C.da C. , op. cit., pp. 56/57 22 idem, p 57 23 Queiroz, M. V. de , op. cit. p. 24 24 Queiroz, M. V de , op. cit., pp. 34/35
  • 7. 7 Somente em inícios do século XX, às vésperas da Guerra do Contestado, Canoinhas será erigida em vila (1911). “Sua principal fonte de comércio era a erva- mate.” 25 5. A pequena produção posseira cabocla: posse e expropriação A expansão do domínio pastoril sobre todas as manchas de campo nativo do planalto catarinense, obstaculiza a reprodução quantitativa do latifúndio pastoril. A fazenda - que comportava no século XVIII e XIX, escravos e agregados, e no XX, agregados e arrendatários26 - para reproduzir as relações de produção ali existentes, necessitava de um controle populacional. O excedente, fruto do crescimento demográfico daquele domínio, era expelido. Para o agregado e sua família, o sertão era a alternativa. Este habitat indígena27 e, gradativamente, também caboclo, era marcado pela presença maciça da mata de araucária, da qual os ocupantes tiravam grande parte de seu sustento, combinando para isso conhecimentos assimilados da cultura indígena com aqueles de origem ibérica. 28 Coletando frutas, caçando, pescando, extraindo erva-mate, criando porcos selvagens - engordados pelos pinhões - e cultivando, de forma semi-nômade, em clareiras abertas a machado e fogo, se reproduzia a pequena produção cabocla. Os instrumentos de plantio “só se distinguem dos paus-de-cavar usados pelos índios por serem providos de uma ponta de ferro.” Quando sobra algum produto das roças “os caboclos fazem miúdo comércio – na base da troca – com os bodegueiros.” 29 Na guerra do Contestado foram estes caboclos os camponeses revoltosos, que lutaram bravamente por suas posses, até a morte e ou expropriação. É em meados do século XIX que a comarca do Paraná se separa da província de São Paulo e começa a definir sua feição territorial e sua estrutura política. Tal formação tardia, implicará em grandes disputas fronteiriças com Santa Catarina, que se acirrarão a medida da valorização comercial dos recursos naturais ali presentes: a terra e a madeira. Importa salientar, que é também em meados do XIX que se promulga a Lei de Terras, prenunciando o fim da escravidão e a intensificação da imigração européia. Esta, iniciada nas primeiras décadas do XIX, teve como objetivo locacional, primeiro proteger pontos estratégicos dos caminhos das tropas, quase sempre onde o 25 idem, p 25 26 Peluso Jr, Victor. Fazenda do Cedro. In: Aspectos Geográficos de Santa Catarina, pp. 95 a 115. 27 “Os Xokleng dominaram a Floresta de Araucária até o contato mais direto com o homem-branco. (...) No tempo da virada do século [ XIX / XX] foram caçados como animais por bandos armados de ‘ bugreiros’, a soldo de empresas colonizadoras, que invadiam a mata para liquidá-los.” (...) Tomé, N. Ciclo da Madeira, p. 50. 28 Cf. Tomé, N. , op. cit., p50. 29 Queiroz, M. V de , op. cit., pp. 29 e 30.
  • 8. 8 campo se encontrava com a mata.30 Os objetivos iniciais da imigração se alteram pós 1850. Neles, a comercialização de terras terá importante papel. Em fins do século XIX, já no advento da República, quando então as terras devolutas passarão do domínio do poder central para os estados, a construção de ferrovias permitirá a ocupação de áreas até então de difícil acesso, como os sertões dos pinhais e dos caboclos do planalto catarinense. Território contestado pelo Paraná. A mudança do Império para a República, sintetizada de forma geográfica e histórica pela Revolução Federalista - Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul - e pela Guerra do Contestado – representou no primeiro caso, uma luta pela afirmação da oligarquia regional, pastoril–mercantil - nascida nos campos incrustados na mata do planalto meridional - aliada à burguesia comercial fortalecida em decorrência das imigrações européias anteriores à República. 31 A Guerra do Contestado, já foi o desenrolar da vitória nesta luta. A oligarquia regional se manifesta, estadualmente, no litígio de fronteiras entre os governos do Paraná e de Santa Catarina, na concessão e venda de terras. Estas até então em posse da pequena produção cabocla. A concessão e venda de terras, feitas pelo governo e também por particulares de forma significativa para o grupo americano Farquhar - que assumiu com exclusividade a construção da ferrovia, ligando São Paulo ao Rio Grande do Sul, no trecho que corta o território catarinense – tinha como objetivo também a comercialização de terras e a extração de madeira através da “Southern Brazil, Lumber and Colonization Company”, empresa do mesmo grupo. Com uma capacidade produtiva até então desconhecida na região 32, a “Lumber” potencializa a velocidade do processo de expropriação dos posseiros do planalto catarinense, resultando no quadro sangrento da Guerra do Contestado. 33 Na inscrição a lápis feita por um sertanejo na porta de uma venda, se revela a consciência que os posseiros tinham do conflito: (...) “O governo da República toca os Filhos Brasileiros dos terrenos que pertence à nação e vende para os estrangeiros, nós agora estemo disposto a fazer prevalecer os nossos direitos.” 34 Nota Final As atividades pastoril e ervateira são fundamentais a estruturação latifundiária do planalto catarinense e a sua construção como formação política feudal e mercantil. 30 cf. Waibel, Leo, Capítulos de Geografia Tropical e do Brasil 31 cf. Rangel, Ignácio. Regionalismo e Federalismo. In: Dualidade Básica da Economia Brasileira, pp. 64 a 65 e Vieira, Maria Graciana E. de Deus. Formação Social Brasileira e Geografia, pp. 124 a 126. 32 “Nas propriedades da ‘Southern Brazil, Lumber e Colonization Company’ foram construídas quatro serrarias, tendo a de Três Barras conquistado a posição destacada de o maior complexo industrial madeireiro da América do Sul. Esta serraria, praticamente toda mecanizada tinha a capacidade de fabricar de 10 000 a 12 000 metros cúbicos por mês de pranchas e vigas, além de possuir estufas secadoras para eliminar o excesso de umidade do pinho. ” Silva, Rosângela C. da. Terras Públicas e Particulares, p. 43. 33 No planalto gaúcho o processo de expropriação da posse cabocla, desenvolvido gradativamente a partir da lei de Terras de 1850, e atingindo resultados semelhantes - a expropriação cabocla, a comercialização e colonização de terras e a extração madeireira - não alcança a bárbara violência do ocorrido no planalto catarinense. Cf. Zarth, Paulo Afonso. História Agrária do Planalto Gaúcho: 1850 – 1920. 34 Queiroz, M. V de , op. cit., p. 179.
  • 9. 9 Já a atividade madeireira e a colonização mercantil das terras representam a combinação entre a estrutura vigente e novas forças produtivas e formas de propriedade presentes na região. Este novo arranjo - econômico, social e político - se expressa, geograficamente, pela violenta diferenciação da porção oeste do planalto catarinense, que, a partir das primeiras décadas do século XX, passa a abrigar em suas terras uma dinâmica formação pequeno produtora agrícola mercantil, que para se instalar contou com o acelerado derrubar das matas, promovido pelo intenso desenvolvimento da atividade madeireira em toda a região. 35 Bibliografia ANDRADE, Manuel C, FERNANDES, Eliane M. e CAVALCANTI, Sandra M.(orgs.) . O Mundo que o Português Criou. Recife:CNpq:FJN, 1998. BARROS, Gilberto Leite de. A Cidade e o Planalto. São Paulo: Martins, 1967. BERNARDES, Nilo. A Grande Região Sul. In: Panorama Regional do Brasil. Rio de Janeiro:IBGE, 1969 CHOLLEY, André. “Observações sobre alguns pontos de vista geográficos”. In: Boletim Geográfico. Rio de Janeiro, CNG, n.179 e 180, 1964. COSTA, Licurgo. O Continente das Lagens: Sua História e Influência no Sertão da Terra Firme. (4 vols) Florianópolis:FCC, 1982 DUARTE, Aluízio Capdeville (org). Grande Região Sul. Rio de Janeiro: IBGE, Vol IV, T. II, 1968. ESPÍNDOLA, Carlos José. As Agroindústrias no Brasil: o Caso Sadia. Chapecó: Grifos, 1999. FREYRE, Gilberto. Casa-grande e Senzala: formação da família brasileira sob o regime da economia patriarcal. 18.ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 1977. IHGSC. Anais do Congresso de História e Geografia de Santa Catarina. Florianópolis:CAPES/MEC, 1997 INCAO, Maria Angela d’ (org.). História e Ideal: ensaios sobre Caio Prado Júnior. São Paulo: Secretaria de Estado da Cultura, Editora da UNESP/Editora Brasiliense, 1989. LENZI, Carlos Alberto Silveira. Poder Político e Mudança Social (Estudo sobre o poder político oligárquico no município de Lages-SC). Dissertação de Mestrado em Direito: UFSC, 1977. MACCARINI, Maria de Fátima. Formação Sócio Espacial do Planalto Leste Catarinense: Gênese da Indústria de Papel e Celulose. Relatório de Iniciação Científica do Curso de Geografia da Universidade do Estado de Santa Catarina. Florianóplois, 1998. MAMIGONIAN, A. Vida Regional em Santa Catarina. In: Revista Orientação. São Paulo, set. 1966. ______. Indústria. In: Atlas de Santa Catarina. Florianópolis:GAPLAN, 1986. 35 (...) As condições naturais externas se distinguem economicamente em duas grandes classes: riquezas naturais de meios de subsistência, isto é solo fértil, águas piscosas etc. e riquezas naturais de meios de trabalho, a saber, rios navegáveis, madeira , metais , carvão etc. Nos primórdios da civilização, o papel decisivo cabe à primeira espécie de riquezas naturais; nos estágios de desenvolvimento superiores , à segunda espécie. (...) (Marx, K, O Capital, cap. XIV).
  • 10. 10 ______. Genêse e Objeto da Geografia: Passado e Presente. In: . In: Geosul, Florianópolis n.28, jul./dez. 1999. ______. Desenvolvimento Econômico e Questão Ambiental. In: Anais da Semana de Geografia Maringá. 1997. MARX, Karl. O Capital. São Paulo:Difel, 1984. MONTEIRO, C. A. F; DUARTE, A. C.; SANTOS, L. B. dos. O Brasil Meridional. In: Panorama Regional do Brasil. Rio de Janeiro: IBGE, 1967. PELUSO JR., Victor A. Aspectos geográficos de Santa Catarina. Florianópolis: FCC/EDUFSC, 1991. _______. Estudos de geografia urbana de Santa Catarina. Florianópolis : FCC/EDUFSC, 1991. PEREIRA, Carlos da Costa. A Região das Araucárias. In: Revista do Instituto Histórico e Geográfico. Florianópolis, 2ª semestre,1943 PEREIRA, Raquel M. Fontes do A. A Geografia e as Bases da Formação Nacional Brasileira. Tese de Doutoramento em Geografia Humana. FFLCH/USP, 1997 _______. Da Geografia que se Ensina à Gênese da Geografia Moderna. Florianópolis: UFSC, 1989. PRADO JR., Caio. Evolução Política do Brasil e outros Estudos. São Paulo:Brasiliense,1971. QUEIROZ, Maurício Vinhas. Messianismo e Conflito Social (A guerra sertaneja do Contestado: 1912-1916). Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1966 (Retratos do Brasil, v.45) RANGEL, Ignácio. Introdução ao Desenvolvimento Econômico Brasileiro. São Paulo:Bienal, 1990 _______. História da Dualidade Brasileira. Revista de Economia Política, 4 (1), São Paulo, 1981. _______. Dualidade Básica da Economia Brasileira. São Paulo: Bienal, 1999. SANTOS, Milton. Sociedade e espaço: Ensaios. 2.ed. Petrópolis: Vozes, 1982. SANTOS, Silvio Coellho dos. Os Índios Xokleng. Florianópolis: EDUFSC, Itajaí:EDUNIVALLI, 1997. SILVA, Rosângela Cavalazzi da. Terras Públicas e Particulares – O impacto do capital estrangeiro sobre a institucionalização da propriedade privada. Dissertação de Mestrado em Direito: UFSC, 1983. THOMÉ, Nilson. Ciclo da Madeira. Caçador:Universal, 1995. _______. Trem de Ferro – A Ferrovia no Contestado. Florianópolis:Lunardeli, 1983. VALVERDE, Orlando. Planalto Meridional do Brasil. Rio de Janeiro:CNG, 1957. VIANNA, Francisco J. de Oliveira. Populações meridionais do Brasil. Rio de Janeiro: Companhia Editora Nacional, 1948. VIEIRA, Maria Graciana E. de Deus. Formação Social Brasileira e Geografia: reflexões sobre um debate interrompido. Dissertação de Mestrado em Geografia : Departamento de Geociências / UFSC, 1992. VIEIRA, Maria Graciana E. de Deus e PEREIRA, Raquel M. Fontes do A. FormaçõesSócio-Espaciais Catarinenses: Notas Preliminares. In Anais do Congresso de História eGeografia de Santa Catarina. Florianópolis, 1997.
  • 11. 11 WAIBEL, Leo. Capítulos de geografia tropical e do Brasil. Rio de Janeiro: IBGE, 1958. ZARTH, Paulo Afonso. História Agrária do Planalto Gaúcho: 1850-1920. Dissertação de Mestrado em História: Universidade Federal Fluminense, 1988. Atlas Geográfico de Santa Catarina. Departamento Estadual de Geografia e Cartografia. Florianópolis, 1959. Atlas de Santa Catarina. Florianópolis:GAPLAN, 1986. Quando outras áreas brasileiras já produziam para um mercado externo metropolitano, o Sul não tinha condições de concorrer para esse comércio, pois aí não se podia obter produtos tropicais. Este fator de ordem natural, a subtropicalidade, influindo nas modalidades de aproveitamento econômico, foi, pois, o responsável pela tardia efetivação do
  • 12. 12 povoamento do Sul. .( Monteiro, C. A.. O Brasil Meridional. Rio de Janeiro: IBGE, 1967, p88 ) As feições morfológicas* , certamente se estendem bem mais para o norte da região em causa. Porém clima, cobertura vegetal, solos, tipo de povoamento, formas econômicas constituem um complexo geográfico de cunho sub-tropical muito nítido... (Bernardes, N. A Grande Região Sul. Rio de Janeiro:IBGE, 1969, p 70) * o autor se refere ao planalto meridional brasileiro