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Controle de Resultados em Pecuária de
Corte

Marcelo Pimenta
Consultor Sênior
Exagro – Excelência em Agronegócios
marcelopimenta@exagro.com.br


Artigo do AnualPec 2010 pag. 137


Há anos temos presenciado a arrancada da pecuária de corte brasileira rumo ao processo de
modernização, que tem nos consolidado como um dos maiores produtores e o maior
exportador de carne bovina do mundo. Nesse processo, novas técnicas para aumento de
produtividade têm sido constantemente desenvolvidas e divulgadas, e o seu uso consciente e
responsável tem tirado boa parte das fazendas brasileiras do sistema tradicional e
extrativista.


Porém, a imensa maioria dos pecuaristas brasileiros, independente do nível tecnológico que
adota na sua produção, não tem noção da importância, ou não tem conhecimento para
adotar uma visão empresarial na sua fazenda. Em nossa opinião, essa visão é mais
importante ainda que a adoção de tecnologias de produção, pois só com ela as tecnologias
podem ser empregadas conscientemente, com análises de viabilidade e controles de
resultados e custos.


Para que a fazenda funcione como empresa, podemos citar alguns tópicos a serem
trabalhados, como pontos básicos do sistema de gestão:



       Estabelecimento de metas e objetivos.

       Conhecimento do ambiente e dos recursos disponíveis.

       Dimensionamento, organização e treinamento dos recursos humanos.

       Planejamento de longo prazo do sistema a ser adotado, estudando e prevendo a

        viabilidade técnica e econômica de cada variável ao longo dos anos.

       Controle sistemático de resultados e ocorrências, permitindo uma análise detalhada

        de cada processo para atingimento das metas traçadas no planejamento.
No nosso entender todos esses pontos têm um grau de importância equivalente, e a boa
gestão da empresa rural passa pelo uso e pela organização de todos eles de forma
complementar. Especificamente nesse artigo, vamos nos ater a somente um deles, que é o
controle de resultados e ocorrências. Ele trata do levantamento e da aferição dos dados
produtivos e econômicos do sistema, servindo de base para as tomadas de decisão no dia a
dia, e também para as alterações necessárias no planejamento de longo prazo.


Dentro de cada fazenda existem indicadores próprios conforme o sistema de produção
adotado. Esses indicadores, ou índices, podem ser divididos em produtivos e econômicos.
Para exemplificar, vamos listar alguns abaixo:



      Índices produtivos:


- Concepção


- Desmama


- Mortalidade


- Suporte – Kg de peso vivo/ha


- Carga animal – Kg de peso vivo/ha


- Ganhos de peso por dia nas diferentes categorias



      Índices econômicos:


- Custeio anual por cabeça


- Custos de cada etapa ou produto do sistema:


- Custo de manutenção de máquinas


- Custo de manutenção de pastagem por ha


- Custo do bezerro produzido


- Custo da arroba produzida


- Valor de venda médio do produto (bezerro ou arroba de boi)


O número de indicadores a serem acompanhados, e quais deles tem importância em cada
sistema, é uma questão que tem que ser resolvida em cada fazenda. No nosso exemplo
citamos apenas alguns deles, e no nosso entender um grande equívoco do pecuarista é dar
demasiada atenção aos índices isoladamente, principalmente os produtivos, e se esquecer
que cada índice isolado, apesar de importante, simplesmente retrata uma peça do quebra
cabeças. Afinal, para quê mesmo queremos controlar nossos resultados e ocorrências? Quais
as   grandes   questões   a   serem   respondidas   com      esses   números?   Basicamente,   o
questionamento que o empresário rural precisa se fazer, e que os números levantados em
sua empresa precisam responder constantemente são:


1-    Estou obtendo na minha fazenda um resultado econômico adequado, em relação às
possibilidades da pecuária moderna brasileira?


2-    Os meus objetivos financeiros podem ser atendidos dentro das características da
minha fazenda?


3-    Quais os pontos do meu sistema de produção precisam ser melhorados hoje, para que
possamos atingir os resultados programados?


Os índices isoladamente ajudam a responder a terceira questão, mas para responder as duas
primeiras, todos os índices produtivos têm que ser resumidos em um só à Produção de
arrobas de boi por hectare de área aberta. Da mesma forma, todos os índices
econômicos devem ser resumidos em um só à Margem líquida anual por hectare de área
aberta.


Através da análise da produção de arrobas por hectare e da margem líquida por hectare, o
resultado de cada fazenda pode ser comparado com a média de resultados de fazendas
semelhantes, e mesmo comparado a outras atividades do agronegócio, ajudando o
empresário rural a se posicionar e a definir expectativas.


Calculando a produção de arrobas de boi por hectare:


Independente se o sistema é cria, recria ou engorda, toda a produção deve ser indexada em
arrobas de boi, para que os sistemas e as diferentes fazendas possam ser comparadas entre
si. O passo a passo para se obter esse resultado pode ser resumido assim:


1-    Estabelecer um sistema e critérios de levantamentos de dados periódicos, com
treinamento do pessoal e uso de softwares ou planilhas para controle de pesagens, de venda
e compra de animais.


2-    Calcular o estoque em arrobas de boi no início do ano. Para isso, multiplica-se o
peso médio de cada categoria animal pelo número de animais dessa categoria, e pelo ágio ou
deságio do valor da arroba de cada categoria em relação à arroba do boi na região.


3-    Da mesma maneira, calcular o estoque de arrobas de boi no final do ano.
4-     Calcular o número de arrobas de boi compradas no ano, dividindo-se o valor total
da compra de animais em dinheiro pelo valor médio da arroba de boi na região.


5-     Da mesma maneira, calcular o número de arrobas de boi vendidas no ano, dividindo-
se o valor total de venda de gado (independente da categoria) pelo valor médio da arroba na
região.


6-     O cálculo da produção total de arrobas de boi no ano é obtido pela seguinte
equação:


Prod. @ boi = estoque final @ boi – estoque inicial @ boi – @ boi compradas + @ boi
vendidas.


7-     Finalmente, dividindo-se o total de arrobas de boi produzidas no ano pela área aberta
da fazenda, obtém-se a produção de arrobas de boi por hectare/ano.


Calculando a margem líquida anual por hectare:


A obtenção desse índice se dá da seguinte maneira:


1-     Criação de um plano de contas, com os principais itens de despesa e receita. Ele deve
ser acompanhado constantemente, com o lançamento de todas as ocorrências financeiras e
um fechamento no mínimo mensal. No final de cada ano, fecha-se o resultado consolidado
de todas as contas, comparando com o previsto para cada conta no orçamento. Nesse
fechamento, temos o total das despesas de custeio, dos gastos com
investimentos, gastos com compra de animais de reposição, e o total das receitas
do ano. Um exemplo desse plano de contas está na tabela 1.


2-     Calcular a diferença de inventário em animais ao longo do ano. Para isso,
subtrai-se o estoque de arrobas de boi no final do ano menos o estoque no início do ano, e
multiplica-se pelo valor médio da arroba de boi do ano.


3-     Assim, a margem líquida anual = total de receitas – total de despesas + diferença
de inventário em animais.


4-     Dividindo-se a margem líquida pela área aberta, temos a margem líquida por
hectare.


OBS:


Um ponto que pode ser analisado de diferentes maneiras é como apropriar as despesas com
investimentos. Para uma análise mais conservadora, pode-se considerar o valor em
investimentos do ano dentro das despesas totais no cálculo da margem líquida. Para uma
análise mais realista, pode-se somar às despesas no cálculo da margem líquida apenas o
valor da amortização dos investimentos, através de cálculos de sua vida útil.


Com relação à depreciação de pastagens e da estrutura, como cercas, currais, casas e
demais instalações, na nossa metodologia ela não tem importância. Como toda a estrutura é
fundamental para o funcionamento do sistema, consideramos que ela nunca pode acabar, ou
se depreciar. Assim, todas as despesas necessárias para manutenção e reforma das
estruturas estão consideradas dentro das despesas do ano no cálculo da margem líquida.


Considerações finais


Como já foi dito, a produção de arrobas de boi por hectare e a margem líquida por hectare
são os principais indicadores de resultados em pecuária de corte, mas vários outros índices
devem ser levantados, de acordo com cada projeto. Deixamos na tabela 2um exemplo de
fechamento de resultados de um dos clientes da Exagro, para ilustrar os indicadores
complementares. Sabemos que esse tópico é apenas mais um ponto dentro do processo de
gestão de uma propriedade rural, e que isoladamente não tem como levar a aumento de
produtividade e lucratividade do sistema. Esperamos, porém, ter despertado a atenção para
a sua importância.

       *MARCELO PIMENTA É CONSULTOR E DIRETOR DA E XAGRO – EXCELÊNCIA EM AGRONEGÓCIOS.
       A EXAGRO É UMA EMPRESA DE CONSULTORIA QUE PRESTA SERVIÇOS DE PLANEJAMENTO E
       ACOMPANHAMENTO PRODUTIVO E DE GESTÃO EM FAZENDAS DE PECUÁRIA DE CORTE , PECUÁRIA
       DE LEITE E SISTEMAS INTEGRADOS HÁ VINTE ANOS . ATUA HOJE EM TODAS AS REGIÕES DO
       BRASIL, EM MAIS DE TREZENTAS FAZENDAS.

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Controle de resultados em pecuária de corte

  • 1. Controle de Resultados em Pecuária de Corte Marcelo Pimenta Consultor Sênior Exagro – Excelência em Agronegócios marcelopimenta@exagro.com.br Artigo do AnualPec 2010 pag. 137 Há anos temos presenciado a arrancada da pecuária de corte brasileira rumo ao processo de modernização, que tem nos consolidado como um dos maiores produtores e o maior exportador de carne bovina do mundo. Nesse processo, novas técnicas para aumento de produtividade têm sido constantemente desenvolvidas e divulgadas, e o seu uso consciente e responsável tem tirado boa parte das fazendas brasileiras do sistema tradicional e extrativista. Porém, a imensa maioria dos pecuaristas brasileiros, independente do nível tecnológico que adota na sua produção, não tem noção da importância, ou não tem conhecimento para adotar uma visão empresarial na sua fazenda. Em nossa opinião, essa visão é mais importante ainda que a adoção de tecnologias de produção, pois só com ela as tecnologias podem ser empregadas conscientemente, com análises de viabilidade e controles de resultados e custos. Para que a fazenda funcione como empresa, podemos citar alguns tópicos a serem trabalhados, como pontos básicos do sistema de gestão:  Estabelecimento de metas e objetivos.  Conhecimento do ambiente e dos recursos disponíveis.  Dimensionamento, organização e treinamento dos recursos humanos.  Planejamento de longo prazo do sistema a ser adotado, estudando e prevendo a viabilidade técnica e econômica de cada variável ao longo dos anos.  Controle sistemático de resultados e ocorrências, permitindo uma análise detalhada de cada processo para atingimento das metas traçadas no planejamento.
  • 2. No nosso entender todos esses pontos têm um grau de importância equivalente, e a boa gestão da empresa rural passa pelo uso e pela organização de todos eles de forma complementar. Especificamente nesse artigo, vamos nos ater a somente um deles, que é o controle de resultados e ocorrências. Ele trata do levantamento e da aferição dos dados produtivos e econômicos do sistema, servindo de base para as tomadas de decisão no dia a dia, e também para as alterações necessárias no planejamento de longo prazo. Dentro de cada fazenda existem indicadores próprios conforme o sistema de produção adotado. Esses indicadores, ou índices, podem ser divididos em produtivos e econômicos. Para exemplificar, vamos listar alguns abaixo:  Índices produtivos: - Concepção - Desmama - Mortalidade - Suporte – Kg de peso vivo/ha - Carga animal – Kg de peso vivo/ha - Ganhos de peso por dia nas diferentes categorias  Índices econômicos: - Custeio anual por cabeça - Custos de cada etapa ou produto do sistema: - Custo de manutenção de máquinas - Custo de manutenção de pastagem por ha - Custo do bezerro produzido - Custo da arroba produzida - Valor de venda médio do produto (bezerro ou arroba de boi) O número de indicadores a serem acompanhados, e quais deles tem importância em cada sistema, é uma questão que tem que ser resolvida em cada fazenda. No nosso exemplo
  • 3. citamos apenas alguns deles, e no nosso entender um grande equívoco do pecuarista é dar demasiada atenção aos índices isoladamente, principalmente os produtivos, e se esquecer que cada índice isolado, apesar de importante, simplesmente retrata uma peça do quebra cabeças. Afinal, para quê mesmo queremos controlar nossos resultados e ocorrências? Quais as grandes questões a serem respondidas com esses números? Basicamente, o questionamento que o empresário rural precisa se fazer, e que os números levantados em sua empresa precisam responder constantemente são: 1- Estou obtendo na minha fazenda um resultado econômico adequado, em relação às possibilidades da pecuária moderna brasileira? 2- Os meus objetivos financeiros podem ser atendidos dentro das características da minha fazenda? 3- Quais os pontos do meu sistema de produção precisam ser melhorados hoje, para que possamos atingir os resultados programados? Os índices isoladamente ajudam a responder a terceira questão, mas para responder as duas primeiras, todos os índices produtivos têm que ser resumidos em um só à Produção de arrobas de boi por hectare de área aberta. Da mesma forma, todos os índices econômicos devem ser resumidos em um só à Margem líquida anual por hectare de área aberta. Através da análise da produção de arrobas por hectare e da margem líquida por hectare, o resultado de cada fazenda pode ser comparado com a média de resultados de fazendas semelhantes, e mesmo comparado a outras atividades do agronegócio, ajudando o empresário rural a se posicionar e a definir expectativas. Calculando a produção de arrobas de boi por hectare: Independente se o sistema é cria, recria ou engorda, toda a produção deve ser indexada em arrobas de boi, para que os sistemas e as diferentes fazendas possam ser comparadas entre si. O passo a passo para se obter esse resultado pode ser resumido assim: 1- Estabelecer um sistema e critérios de levantamentos de dados periódicos, com treinamento do pessoal e uso de softwares ou planilhas para controle de pesagens, de venda e compra de animais. 2- Calcular o estoque em arrobas de boi no início do ano. Para isso, multiplica-se o peso médio de cada categoria animal pelo número de animais dessa categoria, e pelo ágio ou deságio do valor da arroba de cada categoria em relação à arroba do boi na região. 3- Da mesma maneira, calcular o estoque de arrobas de boi no final do ano.
  • 4. 4- Calcular o número de arrobas de boi compradas no ano, dividindo-se o valor total da compra de animais em dinheiro pelo valor médio da arroba de boi na região. 5- Da mesma maneira, calcular o número de arrobas de boi vendidas no ano, dividindo- se o valor total de venda de gado (independente da categoria) pelo valor médio da arroba na região. 6- O cálculo da produção total de arrobas de boi no ano é obtido pela seguinte equação: Prod. @ boi = estoque final @ boi – estoque inicial @ boi – @ boi compradas + @ boi vendidas. 7- Finalmente, dividindo-se o total de arrobas de boi produzidas no ano pela área aberta da fazenda, obtém-se a produção de arrobas de boi por hectare/ano. Calculando a margem líquida anual por hectare: A obtenção desse índice se dá da seguinte maneira: 1- Criação de um plano de contas, com os principais itens de despesa e receita. Ele deve ser acompanhado constantemente, com o lançamento de todas as ocorrências financeiras e um fechamento no mínimo mensal. No final de cada ano, fecha-se o resultado consolidado de todas as contas, comparando com o previsto para cada conta no orçamento. Nesse fechamento, temos o total das despesas de custeio, dos gastos com investimentos, gastos com compra de animais de reposição, e o total das receitas do ano. Um exemplo desse plano de contas está na tabela 1. 2- Calcular a diferença de inventário em animais ao longo do ano. Para isso, subtrai-se o estoque de arrobas de boi no final do ano menos o estoque no início do ano, e multiplica-se pelo valor médio da arroba de boi do ano. 3- Assim, a margem líquida anual = total de receitas – total de despesas + diferença de inventário em animais. 4- Dividindo-se a margem líquida pela área aberta, temos a margem líquida por hectare. OBS: Um ponto que pode ser analisado de diferentes maneiras é como apropriar as despesas com investimentos. Para uma análise mais conservadora, pode-se considerar o valor em investimentos do ano dentro das despesas totais no cálculo da margem líquida. Para uma
  • 5. análise mais realista, pode-se somar às despesas no cálculo da margem líquida apenas o valor da amortização dos investimentos, através de cálculos de sua vida útil. Com relação à depreciação de pastagens e da estrutura, como cercas, currais, casas e demais instalações, na nossa metodologia ela não tem importância. Como toda a estrutura é fundamental para o funcionamento do sistema, consideramos que ela nunca pode acabar, ou se depreciar. Assim, todas as despesas necessárias para manutenção e reforma das estruturas estão consideradas dentro das despesas do ano no cálculo da margem líquida. Considerações finais Como já foi dito, a produção de arrobas de boi por hectare e a margem líquida por hectare são os principais indicadores de resultados em pecuária de corte, mas vários outros índices devem ser levantados, de acordo com cada projeto. Deixamos na tabela 2um exemplo de fechamento de resultados de um dos clientes da Exagro, para ilustrar os indicadores complementares. Sabemos que esse tópico é apenas mais um ponto dentro do processo de gestão de uma propriedade rural, e que isoladamente não tem como levar a aumento de produtividade e lucratividade do sistema. Esperamos, porém, ter despertado a atenção para a sua importância. *MARCELO PIMENTA É CONSULTOR E DIRETOR DA E XAGRO – EXCELÊNCIA EM AGRONEGÓCIOS. A EXAGRO É UMA EMPRESA DE CONSULTORIA QUE PRESTA SERVIÇOS DE PLANEJAMENTO E ACOMPANHAMENTO PRODUTIVO E DE GESTÃO EM FAZENDAS DE PECUÁRIA DE CORTE , PECUÁRIA DE LEITE E SISTEMAS INTEGRADOS HÁ VINTE ANOS . ATUA HOJE EM TODAS AS REGIÕES DO BRASIL, EM MAIS DE TREZENTAS FAZENDAS.