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A REVOLUÇÃO FRANCESA
Valter de Oliveira
I - INTRODUÇÃO
No século XVIII a França era uma das mais importantes nações da Europa. Sua língua
era internacional, falada em todas as cortes. Era o centro das modas literárias e
artísticas e sua arquitetura cujo protótipo era o palácio de Versalhes era imitada em
todo o continente europeu.
Contudo, conforme o historiador Pierre Gaxotte, era uma nação rica num Estado
pobre. Este passava por uma série de dificuldades financeiras. Como é freqüente ver
na história dos povos o governo arrecadava mal e gastava pior ainda. A anarquia
financeira era um mal constante. Não há balanços, não há equilíbrio orçamentário. O
terceiro Estado - o Povo - que mais pagava impostos revoltava-se com a situação.
Parte deste caos tinha sua origem na mentalidade absolutista. O rei, a partir do final da
Idade Média, lutava para ampliar seu poder e desenvolver o que passou a ser
chamado de Estado Nacional Moderno. Foi apoiado e financiado pela burguesia.
Assim pode ter fiscais, juízes, funcionários em geral e um exército permanente que lhe
permitiram atingir seus objetivos. A nobreza foi perdendo poder. Contudo, ela não saiu
de cena. Os reis chamaram os filhos dos nobres para a Corte, para os exércitos reais.
Passaram a receber dotações, rendimentos, sem ter as obrigações que tinham outrora
em seus feudos. Muitos tinham uma vida parasitária. A resistência da nobreza
diminuiu. Não perceberam, porém, que ao submeter-se deste modo ao rei passavam a
perder a razão de sua própria existência. Foi o que os defensores dos ideais
burgueses souberam mostrar muito bem já antes do início da Revolução Francesa.
Por outro lado, como já o dissemos, o sistema de impostos era criticado. Por quê? Por
três razões.
1. Normalmente o rei incumbia funcionários de cobrar impostos. Na realidade o rei
arrendava este serviço. Um grupo financeiro adiantava ao rei - que estava sempre
precisando de dinheiro - o valor estimado dos impostos. O rei o autorizava, depois, a
cobrar um percentual a mais do povo para compensar o adiantamento e o trabalho de
coleta. Na prática, os coletores queriam cobrar mais do que o devido. O povo passou a
chamá-los de "tratantes" palavra pejorativa, como ficou até hoje, pois designava que
não eram fiéis ao que era estabelecido com o rei.
Acrescente-se a este abuso a forma como o imposto era calculado em vários lugares:
era proporcionado aos sinais de riqueza apresentado pelo contribuinte. Como
resultado as pessoas evitavam ostentar riqueza. Assim pagariam menos impostos.
2. Os nobres que ainda tinham direito de cobrar impostos queriam aumentar os
chamados "impostos pessoais" já que estavam empobrecendo com a alta dos preços.
Sofreram a resistência dos contribuintes.
3. A burguesia que cada vez mais foi ficando consciente de sua importância passa a
advogar maior poder político. Ora, o orgulho dos nobres que dificultava a ascensão
social, os irrita. Não podendo se nobilitar ficava impossível aos burgueses ter
determinadas funções no Estado.
I - CAUSAS
1. A Reforma
A sociedade medieval era hierárquica e, como diz Sérgio Buarque de Holanda
em Raízes do Brasil, os homens da época a consideravam uma imagem da sociedade
celeste. A desigualdade social era considerada desejada por Deus, mas deveria ser
justa e proporcionada.
Também não era formada por castas, mas por ordens ou estamentos. Assim, havia a
possibilidade de uma certa ascensão social. Difícil do povo para a nobreza; normal,
aberta para quem quer que julgasse que tinha vocação para o Clero.
Essa sociedade era baseada em relações pessoais, entre senhores e vassalos e entre
senhores e o povo. Para existir tinha que ser alicerçada em determinadas virtudes
como lealdade, amor à palavra dada, respeito, admiração, justiça, proteção. E
humildade: que exige uma reta noção de si mesmo e do outro e não tem inveja das
qualidades de quem está acima.
O medieval também tinha verdadeira obsessão pelo privilégio, no sentido real do
termo, ou seja, leis particulares. Cada grupo social desejava se governar por suas
próprias leis e desejava que os superiores as respeitassem.
A decadência religiosa e moral no fim da Idade Média – de certo modo estimulada por
modificações econômicas, políticas e sociais – vai propiciar o surgimento de heresias
que vão colocar em risco a sociedade medieval. Nos séculos XIV e XV o edifício social
sofreu sérios abalos, mas permaneceu de pé. No século XVI surge a Reforma e parte
dele vai ruir. Por quê?
Simplesmente porque a Reforma não foi só um fenômeno religioso. Suas idéias irão
afetar também a política, a economia e, naturalmente, a sociedade.
Com efeito, Lutero proclamou o princípio do Livre Exame da Sagrada Escritura. Com
isto o Clero perdia uma de suas principais funções: propagar a Fé. Se cada um se
basta para ler a Bíblia e interpretá-la, não seria mais necessário que se tivesse o
sacramento da ordem e um sacerdote com poder de perdoar os pecados. Todos eram
iguais em matéria religiosa.
Além de retirar do Clero as suas funções, Lutero afirmou que cada Príncipe deveria
ser o chefe da Igreja em seu território. Assim contribuiu para fortalecer o poder
temporal e o absolutismo.
Os renascentistas, adeptos de princípios do Direito Romano que dava grandes
poderes ao Imperador ou ao Rei, também contribuíram para que o Clero passasse a
ser a segunda camada da sociedade.
2. O Jansenismo.
Foi um movimento religioso surgido na França. Apesar de suas idéias serem
consideradas heréticas seus seguidores não abandonaram o seio da Igreja. Seu
nome deriva do bispo Jansenio, cujas idéias misturavam catolicismo e puritanismo
(presbiterianismo radical), Eram fatalistas, como Calvino e defendiam a igualdade na
sociedade civil e na Igreja. Só admitiam a República como forma de governo. Atuavam
como sociedade secreta e aliaram-se aos iluministas e à maçonaria. Foram os
criadores da Constituição Civil do Clero e da Igreja Constitucional Francesa que foi
excomungada pelo Papa.
3. O Galicanismo.
Outro movimento religioso francês com tendências semelhantes ao anglicanismo.
Pretendiam que os católicos franceses não obedecessem ao Papa e a Igreja Católica
da França fosse independente de Roma. Foi por favorecer o absolutismo real que
preparou o caminho para a Revolução Francesa e diminuiu a resistência dos católicos
aos assaltos que a Revolução fez contra a Igreja.)
4. As idéias iluministas.
No Antigo Regime se afirmava que o poder vem de Deus (entendido aí de modo
diferente da Idade Média). Só que este poder se afirmava especialmente no Rei.
Também se dizia que a Igreja deve estar unida ao Estado. Este, sendo uma “criatura”,
também tinha o dever de louvar a Deus e de respeitar os princípios e ensinamentos do
Evangelho.
Os iluministas, pelo contrário, almejavam uma nova ordem social. Pregavam a
liberdade religiosa, a separação da Igreja do Estado e queriam estabelecer a
igualdade de direitos. No caso, direitos políticos.
O iluminismo defendia o contratualismo, isto é, a teoria segundo a qual a sociedade
humana teria surgido de um contrato feito entre os homens. Nessa lógica a autoridade
fora estabelecida para fazer a vontade do povo e, caso não mantivesse a liberdade e a
igualdade originárias, o povo tinha o direito de se rebelar e derrubar o governante. Era
o direito de revolução.
5. A anglomania.
No século XVII tivemos duas revoluções na Inglaterra. A primeira foi feita por
Cromwell, defensor do Parlamento que lutou contra o absolutismo de Carlos I. Após 10
anos de guerra o rei foi preso e executado. Cromwell iniciou um governo republicano.
Esteve no poder por 10 anos, mas fechou o Parlamente e transformou-se num ditador.
Após sua morte os ingleses afastaram seu filho e restabeleceram a monarquia.
Como os confrontos entre o rei e o Parlamento continuaram houve uma segunda
Revolução: a famosa Revolução Gloriosa de 1688. Os Stuarts foram afastados e
Guilherme de Orange, da Holanda, foi convidado para governar a Inglaterra. Ele
aceitou a Coroa e as exigências do Parlamento limitando o poder real.
Esse tipo de governo que, gradualmente foi se tornando cada vez mais democrático,
era considerado um modelo por muitas pessoas na França. Desejavam copiar o
modelo inglês. Daí a expressão anglomania.
6. O exemplo dos EUA.
A França, para se vingar da derrota na Guerra dos Sete Anos, apoiou os rebeldes
americanos contra a Inglaterra. A criação dos Estados Unidos, com seu governo
federativo e suas idéias liberais foi um alento para os iluministas e revolucionários
franceses. Pela primeira vez uma grande nação, num grande território, adotava a
república como forma de governo. Antes se julgava que a república só era conveniente
para territórios menores.
7. O absolutismo.
O desequilíbrio criado pelas idéias modernas a partir do final da Idade Média
aumentou desmedidamente o poder real que passou a invadir a esfera dos grupos
menores. A atrofia do poder contribuiu para o desenvolvimento das idéias iluministas
que falavam em limitar o poder do soberano. Um exemplo disso foi a exigência de uma
constituição escrita na qual estariam delimitados os direitos e deveres de governantes
e governados.
8. A má situação financeira da França.
Os gastos feitos eram enormes. Na época da revolução a dívida a externa e
alcançava a 5 bilhões de libras, enquanto o dinheiro em circulação não passava de 2,5
bilhões de libras. Os filósofos iluministas falaram sobre a situação, ao ponto de até
formar clubes para ler livros, a burguesia se dava conta dos problemas e buscava
conscientizar a população para obter seu apoio. Mas a indústria francesa sofreu sérias
crises a partir de 1786 , quando os produtos industrializados ingleses, vendidos a
baixo preso chegou a inundar o mercado do país, a indústria francesa não aquentou,
mas a concorrência.
Em 1787 uma seca veio a diminuir a produção de alimento e os preços aumentaram
enquanto os camponeses sofriam com a fome, havia miséria nas cidades, o que
aconteceu depois que o tesouro piorou e a França apoiou a independência dos
Estados Unidos, aventura esta que lhe custou 2 bilhões de libras O descontentamento
foi geral.
9. O mau funcionamento da sociedade estamental e seus abusos.
A França ainda era um país agrário, no século XVIII dos 23 milhões de habitantes,
cerca de 20 milhões viviam no campo, embora o capitalismo já estivesse iniciado e
provocado mudanças na sociedade francesa. Em sua estrutura a organização social
ainda estava baseada em camadas sociais, em que dificilmente uma pessoa poderia
mudar de situação social, ou seja, se nascesse pobre morreria pobre ,não chegaria a
um cargo de nobreza, isto se assemelhava à da idade média. Mas com o efeito do
capitalismo já começava a surgir certa mobilidade social. O clero, com 120 mil
pessoas religiosas, fazia parte do primeiro estado .O segundo estado constituía-se de
cerca de 350 mil pessoas, divididos em três subgrupos:
» a nobreza palaciana, estes viviam de pensões reais e usufruíam de cargos
públicos.
» Nobreza provicional, estes viviam dos lucros provenientes dos campos, além
de morarem em suas próprias terras no campos.
» A nobreza de toga, constituída de pessoas de origens burguesas, que
compravam cargos e títulos de nobreza.
O terceiro estado compreendia 98%da população, era dividido em diversos subgrupos
que começavam nas classes sociais do topo, como a alta burguesia, constituída de
banqueiros, financistas e grandes empresários. A média burguesia, formada de
profissionais liberais, médicos, dentistas, professores, advogados e outros.
Na pequena burguesia estavam os artesãos mais ricos, lojistas e pequenos
comerciantes. Claro que nesta parte do terceiro estado, há ainda outros grupos
sociais, como os artesões aprendizes e proletários, que incluía o setor da população
rural , onde ainda se encontravam os servos na condição feudal, (uns 4 milhões )e os
camponeses livres e semi-livres. Com isso, no interior do estado apareciam grupos
sociais que lutavam entre si. Como exemplo, os operários contra os capitalistas. Com
o terceiro estado estava o peso dos impostos e das contribuições para o rei, para o
clero e para a nobreza. Mas os dois primeiros estados não pagavam impostos e ainda
viviam a custo do dinheiro público.
10.As sociedades secretas.
Normalmente de origem protestante calvinista combatiam fortemente a Igreja e a
monarquia. Elas propagaram as novas idéias revolucionárias, criaram o clima para a
Revolução Francesa, e muitos de seus membros foram destacados ativistas com
papel de destaque no processo revolucionário.
11.A fraqueza de Luís XVI.
Luis XVI não estava preparado para o governo e menos ainda para enfrentar a
Revolução. Não tinha visão política e tinha horror à violência o que impediu que agisse
com vigor quando isso era necessário. Sua fraqueza e indecisões fortaleceram a
ousadia adversária. Não era mau nem corrupto e amava seu povo. Não bastou para
evitar a guilhotina para ele e sua esposa Maria Antonieta.
banqueiros, financistas e grandes empresários. A média burguesia, formada de
profissionais liberais, médicos, dentistas, professores, advogados e outros.
Na pequena burguesia estavam os artesãos mais ricos, lojistas e pequenos
comerciantes. Claro que nesta parte do terceiro estado, há ainda outros grupos
sociais, como os artesões aprendizes e proletários, que incluía o setor da população
rural , onde ainda se encontravam os servos na condição feudal, (uns 4 milhões )e os
camponeses livres e semi-livres. Com isso, no interior do estado apareciam grupos
sociais que lutavam entre si. Como exemplo, os operários contra os capitalistas. Com
o terceiro estado estava o peso dos impostos e das contribuições para o rei, para o
clero e para a nobreza. Mas os dois primeiros estados não pagavam impostos e ainda
viviam a custo do dinheiro público.
10.As sociedades secretas.
Normalmente de origem protestante calvinista combatiam fortemente a Igreja e a
monarquia. Elas propagaram as novas idéias revolucionárias, criaram o clima para a
Revolução Francesa, e muitos de seus membros foram destacados ativistas com
papel de destaque no processo revolucionário.
11.A fraqueza de Luís XVI.
Luis XVI não estava preparado para o governo e menos ainda para enfrentar a
Revolução. Não tinha visão política e tinha horror à violência o que impediu que agisse
com vigor quando isso era necessário. Sua fraqueza e indecisões fortaleceram a
ousadia adversária. Não era mau nem corrupto e amava seu povo. Não bastou para
evitar a guilhotina para ele e sua esposa Maria Antonieta.

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  • 1. A REVOLUÇÃO FRANCESA Valter de Oliveira I - INTRODUÇÃO No século XVIII a França era uma das mais importantes nações da Europa. Sua língua era internacional, falada em todas as cortes. Era o centro das modas literárias e artísticas e sua arquitetura cujo protótipo era o palácio de Versalhes era imitada em todo o continente europeu. Contudo, conforme o historiador Pierre Gaxotte, era uma nação rica num Estado pobre. Este passava por uma série de dificuldades financeiras. Como é freqüente ver na história dos povos o governo arrecadava mal e gastava pior ainda. A anarquia financeira era um mal constante. Não há balanços, não há equilíbrio orçamentário. O terceiro Estado - o Povo - que mais pagava impostos revoltava-se com a situação. Parte deste caos tinha sua origem na mentalidade absolutista. O rei, a partir do final da Idade Média, lutava para ampliar seu poder e desenvolver o que passou a ser chamado de Estado Nacional Moderno. Foi apoiado e financiado pela burguesia. Assim pode ter fiscais, juízes, funcionários em geral e um exército permanente que lhe permitiram atingir seus objetivos. A nobreza foi perdendo poder. Contudo, ela não saiu de cena. Os reis chamaram os filhos dos nobres para a Corte, para os exércitos reais. Passaram a receber dotações, rendimentos, sem ter as obrigações que tinham outrora em seus feudos. Muitos tinham uma vida parasitária. A resistência da nobreza diminuiu. Não perceberam, porém, que ao submeter-se deste modo ao rei passavam a perder a razão de sua própria existência. Foi o que os defensores dos ideais burgueses souberam mostrar muito bem já antes do início da Revolução Francesa. Por outro lado, como já o dissemos, o sistema de impostos era criticado. Por quê? Por três razões. 1. Normalmente o rei incumbia funcionários de cobrar impostos. Na realidade o rei arrendava este serviço. Um grupo financeiro adiantava ao rei - que estava sempre precisando de dinheiro - o valor estimado dos impostos. O rei o autorizava, depois, a cobrar um percentual a mais do povo para compensar o adiantamento e o trabalho de coleta. Na prática, os coletores queriam cobrar mais do que o devido. O povo passou a chamá-los de "tratantes" palavra pejorativa, como ficou até hoje, pois designava que não eram fiéis ao que era estabelecido com o rei. Acrescente-se a este abuso a forma como o imposto era calculado em vários lugares: era proporcionado aos sinais de riqueza apresentado pelo contribuinte. Como resultado as pessoas evitavam ostentar riqueza. Assim pagariam menos impostos. 2. Os nobres que ainda tinham direito de cobrar impostos queriam aumentar os chamados "impostos pessoais" já que estavam empobrecendo com a alta dos preços. Sofreram a resistência dos contribuintes. 3. A burguesia que cada vez mais foi ficando consciente de sua importância passa a advogar maior poder político. Ora, o orgulho dos nobres que dificultava a ascensão social, os irrita. Não podendo se nobilitar ficava impossível aos burgueses ter determinadas funções no Estado.
  • 2. I - CAUSAS 1. A Reforma A sociedade medieval era hierárquica e, como diz Sérgio Buarque de Holanda em Raízes do Brasil, os homens da época a consideravam uma imagem da sociedade celeste. A desigualdade social era considerada desejada por Deus, mas deveria ser justa e proporcionada. Também não era formada por castas, mas por ordens ou estamentos. Assim, havia a possibilidade de uma certa ascensão social. Difícil do povo para a nobreza; normal, aberta para quem quer que julgasse que tinha vocação para o Clero. Essa sociedade era baseada em relações pessoais, entre senhores e vassalos e entre senhores e o povo. Para existir tinha que ser alicerçada em determinadas virtudes como lealdade, amor à palavra dada, respeito, admiração, justiça, proteção. E humildade: que exige uma reta noção de si mesmo e do outro e não tem inveja das qualidades de quem está acima. O medieval também tinha verdadeira obsessão pelo privilégio, no sentido real do termo, ou seja, leis particulares. Cada grupo social desejava se governar por suas próprias leis e desejava que os superiores as respeitassem. A decadência religiosa e moral no fim da Idade Média – de certo modo estimulada por modificações econômicas, políticas e sociais – vai propiciar o surgimento de heresias que vão colocar em risco a sociedade medieval. Nos séculos XIV e XV o edifício social sofreu sérios abalos, mas permaneceu de pé. No século XVI surge a Reforma e parte dele vai ruir. Por quê? Simplesmente porque a Reforma não foi só um fenômeno religioso. Suas idéias irão afetar também a política, a economia e, naturalmente, a sociedade. Com efeito, Lutero proclamou o princípio do Livre Exame da Sagrada Escritura. Com isto o Clero perdia uma de suas principais funções: propagar a Fé. Se cada um se basta para ler a Bíblia e interpretá-la, não seria mais necessário que se tivesse o sacramento da ordem e um sacerdote com poder de perdoar os pecados. Todos eram iguais em matéria religiosa. Além de retirar do Clero as suas funções, Lutero afirmou que cada Príncipe deveria ser o chefe da Igreja em seu território. Assim contribuiu para fortalecer o poder temporal e o absolutismo. Os renascentistas, adeptos de princípios do Direito Romano que dava grandes poderes ao Imperador ou ao Rei, também contribuíram para que o Clero passasse a ser a segunda camada da sociedade. 2. O Jansenismo. Foi um movimento religioso surgido na França. Apesar de suas idéias serem consideradas heréticas seus seguidores não abandonaram o seio da Igreja. Seu nome deriva do bispo Jansenio, cujas idéias misturavam catolicismo e puritanismo (presbiterianismo radical), Eram fatalistas, como Calvino e defendiam a igualdade na sociedade civil e na Igreja. Só admitiam a República como forma de governo. Atuavam como sociedade secreta e aliaram-se aos iluministas e à maçonaria. Foram os
  • 3. criadores da Constituição Civil do Clero e da Igreja Constitucional Francesa que foi excomungada pelo Papa. 3. O Galicanismo. Outro movimento religioso francês com tendências semelhantes ao anglicanismo. Pretendiam que os católicos franceses não obedecessem ao Papa e a Igreja Católica da França fosse independente de Roma. Foi por favorecer o absolutismo real que preparou o caminho para a Revolução Francesa e diminuiu a resistência dos católicos aos assaltos que a Revolução fez contra a Igreja.) 4. As idéias iluministas. No Antigo Regime se afirmava que o poder vem de Deus (entendido aí de modo diferente da Idade Média). Só que este poder se afirmava especialmente no Rei. Também se dizia que a Igreja deve estar unida ao Estado. Este, sendo uma “criatura”, também tinha o dever de louvar a Deus e de respeitar os princípios e ensinamentos do Evangelho. Os iluministas, pelo contrário, almejavam uma nova ordem social. Pregavam a liberdade religiosa, a separação da Igreja do Estado e queriam estabelecer a igualdade de direitos. No caso, direitos políticos. O iluminismo defendia o contratualismo, isto é, a teoria segundo a qual a sociedade humana teria surgido de um contrato feito entre os homens. Nessa lógica a autoridade fora estabelecida para fazer a vontade do povo e, caso não mantivesse a liberdade e a igualdade originárias, o povo tinha o direito de se rebelar e derrubar o governante. Era o direito de revolução. 5. A anglomania. No século XVII tivemos duas revoluções na Inglaterra. A primeira foi feita por Cromwell, defensor do Parlamento que lutou contra o absolutismo de Carlos I. Após 10 anos de guerra o rei foi preso e executado. Cromwell iniciou um governo republicano. Esteve no poder por 10 anos, mas fechou o Parlamente e transformou-se num ditador. Após sua morte os ingleses afastaram seu filho e restabeleceram a monarquia. Como os confrontos entre o rei e o Parlamento continuaram houve uma segunda Revolução: a famosa Revolução Gloriosa de 1688. Os Stuarts foram afastados e Guilherme de Orange, da Holanda, foi convidado para governar a Inglaterra. Ele aceitou a Coroa e as exigências do Parlamento limitando o poder real. Esse tipo de governo que, gradualmente foi se tornando cada vez mais democrático, era considerado um modelo por muitas pessoas na França. Desejavam copiar o modelo inglês. Daí a expressão anglomania. 6. O exemplo dos EUA. A França, para se vingar da derrota na Guerra dos Sete Anos, apoiou os rebeldes americanos contra a Inglaterra. A criação dos Estados Unidos, com seu governo federativo e suas idéias liberais foi um alento para os iluministas e revolucionários
  • 4. franceses. Pela primeira vez uma grande nação, num grande território, adotava a república como forma de governo. Antes se julgava que a república só era conveniente para territórios menores. 7. O absolutismo. O desequilíbrio criado pelas idéias modernas a partir do final da Idade Média aumentou desmedidamente o poder real que passou a invadir a esfera dos grupos menores. A atrofia do poder contribuiu para o desenvolvimento das idéias iluministas que falavam em limitar o poder do soberano. Um exemplo disso foi a exigência de uma constituição escrita na qual estariam delimitados os direitos e deveres de governantes e governados. 8. A má situação financeira da França. Os gastos feitos eram enormes. Na época da revolução a dívida a externa e alcançava a 5 bilhões de libras, enquanto o dinheiro em circulação não passava de 2,5 bilhões de libras. Os filósofos iluministas falaram sobre a situação, ao ponto de até formar clubes para ler livros, a burguesia se dava conta dos problemas e buscava conscientizar a população para obter seu apoio. Mas a indústria francesa sofreu sérias crises a partir de 1786 , quando os produtos industrializados ingleses, vendidos a baixo preso chegou a inundar o mercado do país, a indústria francesa não aquentou, mas a concorrência. Em 1787 uma seca veio a diminuir a produção de alimento e os preços aumentaram enquanto os camponeses sofriam com a fome, havia miséria nas cidades, o que aconteceu depois que o tesouro piorou e a França apoiou a independência dos Estados Unidos, aventura esta que lhe custou 2 bilhões de libras O descontentamento foi geral. 9. O mau funcionamento da sociedade estamental e seus abusos. A França ainda era um país agrário, no século XVIII dos 23 milhões de habitantes, cerca de 20 milhões viviam no campo, embora o capitalismo já estivesse iniciado e provocado mudanças na sociedade francesa. Em sua estrutura a organização social ainda estava baseada em camadas sociais, em que dificilmente uma pessoa poderia mudar de situação social, ou seja, se nascesse pobre morreria pobre ,não chegaria a um cargo de nobreza, isto se assemelhava à da idade média. Mas com o efeito do capitalismo já começava a surgir certa mobilidade social. O clero, com 120 mil pessoas religiosas, fazia parte do primeiro estado .O segundo estado constituía-se de cerca de 350 mil pessoas, divididos em três subgrupos: » a nobreza palaciana, estes viviam de pensões reais e usufruíam de cargos públicos. » Nobreza provicional, estes viviam dos lucros provenientes dos campos, além de morarem em suas próprias terras no campos. » A nobreza de toga, constituída de pessoas de origens burguesas, que compravam cargos e títulos de nobreza. O terceiro estado compreendia 98%da população, era dividido em diversos subgrupos que começavam nas classes sociais do topo, como a alta burguesia, constituída de
  • 5. banqueiros, financistas e grandes empresários. A média burguesia, formada de profissionais liberais, médicos, dentistas, professores, advogados e outros. Na pequena burguesia estavam os artesãos mais ricos, lojistas e pequenos comerciantes. Claro que nesta parte do terceiro estado, há ainda outros grupos sociais, como os artesões aprendizes e proletários, que incluía o setor da população rural , onde ainda se encontravam os servos na condição feudal, (uns 4 milhões )e os camponeses livres e semi-livres. Com isso, no interior do estado apareciam grupos sociais que lutavam entre si. Como exemplo, os operários contra os capitalistas. Com o terceiro estado estava o peso dos impostos e das contribuições para o rei, para o clero e para a nobreza. Mas os dois primeiros estados não pagavam impostos e ainda viviam a custo do dinheiro público. 10.As sociedades secretas. Normalmente de origem protestante calvinista combatiam fortemente a Igreja e a monarquia. Elas propagaram as novas idéias revolucionárias, criaram o clima para a Revolução Francesa, e muitos de seus membros foram destacados ativistas com papel de destaque no processo revolucionário. 11.A fraqueza de Luís XVI. Luis XVI não estava preparado para o governo e menos ainda para enfrentar a Revolução. Não tinha visão política e tinha horror à violência o que impediu que agisse com vigor quando isso era necessário. Sua fraqueza e indecisões fortaleceram a ousadia adversária. Não era mau nem corrupto e amava seu povo. Não bastou para evitar a guilhotina para ele e sua esposa Maria Antonieta.
  • 6. banqueiros, financistas e grandes empresários. A média burguesia, formada de profissionais liberais, médicos, dentistas, professores, advogados e outros. Na pequena burguesia estavam os artesãos mais ricos, lojistas e pequenos comerciantes. Claro que nesta parte do terceiro estado, há ainda outros grupos sociais, como os artesões aprendizes e proletários, que incluía o setor da população rural , onde ainda se encontravam os servos na condição feudal, (uns 4 milhões )e os camponeses livres e semi-livres. Com isso, no interior do estado apareciam grupos sociais que lutavam entre si. Como exemplo, os operários contra os capitalistas. Com o terceiro estado estava o peso dos impostos e das contribuições para o rei, para o clero e para a nobreza. Mas os dois primeiros estados não pagavam impostos e ainda viviam a custo do dinheiro público. 10.As sociedades secretas. Normalmente de origem protestante calvinista combatiam fortemente a Igreja e a monarquia. Elas propagaram as novas idéias revolucionárias, criaram o clima para a Revolução Francesa, e muitos de seus membros foram destacados ativistas com papel de destaque no processo revolucionário. 11.A fraqueza de Luís XVI. Luis XVI não estava preparado para o governo e menos ainda para enfrentar a Revolução. Não tinha visão política e tinha horror à violência o que impediu que agisse com vigor quando isso era necessário. Sua fraqueza e indecisões fortaleceram a ousadia adversária. Não era mau nem corrupto e amava seu povo. Não bastou para evitar a guilhotina para ele e sua esposa Maria Antonieta.