PROJETO DE EXTENSÃO I - SERVIÇOS JURÍDICOS, CARTORÁRIOS E NOTARIAIS.pdf
Livro, Leitura e Edição Digital: Contornos e Questões
1. História do Livro
Sessão de 13 de Março de 2013
Livro, Leitura e Edição Digital:
Contornos e Questões
Mestrado em Edição de Texto (2012/2013)
1
2. Do que falamos quando falamos
em livro, texto ou edição digital?
Definição canónica de livro: “conjunto de
cadernos, manuscritos ou
impressos, cosidos ordenadamente e
formando um bloco. (…) Segundo a
agência portuguesa para o ISBN é toda
a publicação não periódica com um
mínimo de 48 páginas. Segundo a ISO é
uma publicação impressa não
periódica, com mais de 48 páginas, sem
incluir as da capa, que constitui uma
unidade bibliográfica”. In FARIA e
PERICÃO – Dicionário do livro, 2008, p.
763. 2
3. Esta definição pode contribuir para o
apagamento de dois factos:
Primeiro, do livro electrónico, entendido pelas
autoras citadas como “livro em forma
electrónica. Usa-se por oposição a livro
impresso” (p. 778).
Segundo, da diversidade do próprio
livro, impresso ou manuscrito. Um livro
impresso poucas semelhanças tem com um
livro manuscrito (excepto na fase dos
incunábulos), e é igualmente abusivo pensar
que todos os livros impressos são
semelhantes:
Quer enquanto objecto (“que um livro não é
hoje, para as pessoas, o mesmo objecto de
há trezentos, cem, ou mesmo trinta
anos, ninguém tem dúvidas”. In LISBOA – Ao
leytor, 1997, p. 19), quer quanto ao modo
como são ou podem ser lidos3
4. Cosmographia, Pomponius Mela Bíblia de 42 linhas, Gutenberg
Fonte: FONTAINE - L’aventure du Fonte: Fontaine – idem.
livre, 1999.
Fonte: FOUCHÉ (dir) -L’édition française depuis 1945, 1998. 4
5. No digital, essa variância talvez seja mais
evidente.
Furtado alerta para a dificuldade em definir o
livro e a edição electrónicas, embora seja
imperioso fazê-lo. Vagamente, edição electrónica
é aquela que, não tendo o papel como
suporte, apresenta um texto na sua forma
electrónica, a qual pode ser bastante diversa –
e-mail, páginas Web, processadores de texto...
In Furtado – O papel e o pixel, 2007, p. 23-24.
Livro electrónico/digital ou e-book designa o
texto que é convertido para o suporte digital, e
também o texto que é originalmente criado neste
ambiente.
Mais estritamente, um e-book é a integração de
um texto electrónico (e-text) num e-
reader, precisamente um aparelho leitor. Mas
além de texto, imagens, vídeo e áudio podem
ser incluídos.
5
6. Edição electrónica: “expressão usada para
designar a aplicação das tecnologias da
informação às artes gráficas. Baseia-se na
utilização de um software capaz de controlar o
tratamento de texto, de modo a poder
formatar, corrigir gralhas, melhorar e alterar esse
texto, bem como fazer o seu armazenamento em
memória magnética e ainda a sua impressão.
(…) Engloba dois tipos de textos, que vão desde
as representações derivadas ou secundárias de
livros impressos publicados ou de textos que
foram pensados primeiro que tudo para serem
publicação impressa e a publicação de textos
electrónicos, que à partida foram pensados e
concebidos para serem apresentados em
suportes digitais”. In FARIA e PERICÃO – op.
cit., p. 430.
Esta definição reúne as ideias de desktop
publishing, de digitalização (transferência de
suporte) de textos e de textos nados digitais. 6
7. Vários ramos da leitura e do
texto digitais
Páginas Web
E-mail, chat, fóruns.
Ebook “tradicional” – se as primeiras versões se
apresentavam em Cd-Rom ou DVD-Rom, hoje em
dia são software/ficheiros que podem surgir numa
multiplicidade de formatos (PDF, DOC, e-
PUB, AZW, TXT, CBR, MOBI…) e ser lidos em
diferentes plataformas: PCs, portáteis, e-
readers, tablets, telemóveis.
Enhanced ebook – trata-se de um ebook que é
“enriquecido” com elementos multimédia ou realidade
aumentada, podendo mesmo ser interactivos.
Destes ramos, uns aproximam-se mais do livro
impresso, outros afastam-se consideravelmente – o
que nos remeterá para as questões da leitura.
7
8. Le Petit Robert em Cd-Rom E-reader Kindle 3.
Fonte: BLASSELLE – Histoire Fonte: Wikipedia.
du livre, v. II, 1998.
8
9. Leitura e leituras
Muitos investigadores assumem que, como coloca
McKenzie, “forms effect meaning” (in MCKENZIE –
Bibliography and the sociology of texts, p. 13), ou
seja, as formas produzem sentido. O modo com
que os textos se apresentam, seja o seu suporte, o
seu formato, a sua organização, a
tipografia, etc., influem na leitura.
Evidentemente, isto não significa desvalorizar
outros elementos determinantes para a recepção
do leitor. A sua condição histórica, a sua
psicologia, entre outros, são importantes. Quer-se
apenas frisar que, do lado do texto, a sua
materialidade é fundamental.
Refere Darnton: “a experiência de leitura de um
pequeno in-12º, desenhado para caber facilmente
numa das mãos, é consideravelmente diferente da
de ler um fólio pesado sustentado por um suporte”.
In DARNTON – The case for books, 2009, p. 39.
9
10. Tal linha de raciocínio ajuda a compreender
a evolução da leitura ao longo dos séculos.
O códice permitia uma experiência de
leitura distinta quando comparado com o
rolo. Possibilitava ler e escrever em
simultâneo, por exemplo. Tornava mais fácil
comparar passagens e avançar/recuar no
texto. Era portátil e manuseável.
Posteriormente, novas experiências de
leitura foram abertas com a separação de
palavras, pontuação, paginação, índices, m
inúsculas, entre outros elementos.
Terá a imprensa de caracteres móveis
significado uma revolução da leitura?
“Ao longo da história, a leitura tem
significado coisas bem diferentes para
vários povos”. In Fischer – A history of
reading, 2004, p. 12.
10
11. Continuando a seguir esta linha
argumentativa, e reconhecendo o digital
como um novo suporte da
escrita, compreende-se que este seja
capaz de introduzir novas experiências de
leitura e de modificar a relação do texto
com o leitor.
Esta é a posição de um Roger
Chartier, para quem o digital significa uma
nova técnica de reprodução dos
textos, uma radical transformação do
suporte e uma nova organização da escrita.
(In CHARTIER – “Lecture. Histoire de la
lecture”. In FOUCHÉ et al – Dictionnaire
encyclopedique du livre, 2005).
A leitura digital, a experiência de leitura que
é executada sobre textos digitais, terá as
suas particularidades, que devêm
precisamente das formas que o texto aí
assume. 11
12. Há porém que entender as diferenças de práticas
de leitura entre os vários “ramos” das publicações
digitais.. A experiência de leitura que proporciona
nem sempre é radicalmente distinta da do
impresso.
A Web, regra geral, traduz uma leitura mais
próxima da que se fazia no rolo da Antiguidade (o
texto no ecrã “desenrola-se” de cima para
baixo), do que da leitura página a página
habitualmente presente no impresso.
Ao mesmo tempo, a Web caracteriza-se pela
presença do hipertexto, que potencia uma leitura
menos sequencial e mais radial. Privilegia-se a
navegação rápida e a identificação imediata do
conteúdo; tais aspectos, documentam estudos na
área das neurociências, se beneficiam o
multitasking, podem conduzir à distracção e à falta
de concentração. Estes efeitos têm sido 12
13. O e-book típico, nesse sentido, assemelha-se ao
que um livro impresso oferece. O design é
similar ao de um códice, incluindo a paginação e
a tipografia. Certos ebooks – mesmo aqueles
que são produzidos de raiz em ambiente digital –
são como que fac-símiles de livros impressos (e-
cunábulos).
O ebook é menos revolucionário, na experiência
de leitura, do que o enhanced ebook ou a Web.
Na verdade, cruzam-se duas filosofias:
Uma, a de que o ebook deve mimetizar o
impresso, sendo uma das razões o hábito dos
leitores, que transitarão mais facilmente para o
digital caso este imite aquilo a que estão
acostumados;
Outra, a de que o ebook se deve afastar do
impresso e tirar partido das capacidades do
digital: integrando links internos e
externos, multimédia e
interactividade, facultando uma experiência nova13
14. Entre tablets e e-readers…
São dois dispositivos (aos quais poderíamos juntar
PCs, notebooks, telemóveis…) com propósitos distintos. Um
e-reader é um aparelho desenhado essencialmente para ler
e-books. Um tablet é um aparelho multifunções.
A experiência de leitura em ambos os aparelhos é distinta.
E-readers funcionam a e-ink (p/b que preenche micro-
esferas). Tablets (assim como PCs) valem-se de pixéis com
brilho. Isto influencia a legibilidade e o cansaço da vista.
Ademais, a duração da bateria é superior num e-reader.
O conforto é diferente quando se comparam os dois
aparelhos. E-readers são mais eficazes para uma leitura
prolongada e imersiva (deep reading); os tablets são mais
eficazes para o zapping, leituras “activas” onde é necessário
comparar passagens de fontes diversas.
14
15. Refira-se que os consumidores estão a preferir os tablets aos e-
readers. Estes últimos sofrem um decréscimo acentuado das
vendas em 2012, prevendo-se a continuação dessa queda
(números relativos aos EUA).
A recolha executada pelo PEW sustenta esta tendência. A nov.
de 2012, 19% dos adultos norte-americanos possuía e-
reader, 25% tablet.
Fonte: YAROW – Chart of the day: the death of the e-book reader, Dec.
13 2012. [Em linha].
15
16. O Crescimento do mercado
digital (oferta e procura)
Há poucas estatísticas, nem sempre fiáveis, quer porque os
critérios não são explicitados, quer porque a pirataria
constitui um obstáculo sério, quer ainda porque as grandes
empresas nem sempre apresentam valores, mas os números
disponíveis apontam para um sólido crescimento, pelo
menos em alguns países.
Em 2011, o mercado ebook registou vendas próximas dos
2.4 mil milhões de euros e foi dominado pela América do
Norte, com quase 2 mil milhões de euros de
vendas, seguindo-se a Ásia (cerca de 250 milhões de
euros), com a Coreia do Sul, o Japão e a China como
principais mercados (45%, 25% e 25%, respectivamente) e a
União Europeia, terceira região a nível mundial, com vendas
próximas dos 180 milhões de euros. Reino Unido
(52%), Alemanha (28%) e França (7%) são os países com
maior volume de vendas.
Fontes: BONFANTI, BOTTAI, FERRARIO – Do readers dream of electronic
Presentation for the IfBookThen Conference,February 2012. [Em linha].16
17. A taxa de penetração do ebook no
mercado editorial era assim
estimada, em 2011:
América do Norte = 17-18%
Ásia = 2.2-2.4%
Europa = 1-1.1%
América do Sul = inferior a 0.1%
Fontes: COLPISA/AFP – Los expertos consideram que el e-book no matará
el libro, 2012. [Em linha]
FLOOD – Huge rise in ebook sales offsets…, 2012 [Em linha]. 17
18. Recentemente, foi publicado um estudo fiável relativo a
Espanha, que mostra uma ascensão da edição electrónica
no país vizinho.
2008 2009 2010 2011 2012*
Nº 2.519 5.077 12.948 18.538 20.079
% do 2.4% 4.6% 11.3% 15.9% 22%
total
Contudo, a facturação não acompanha os valores da oferta.
Em 2011, representava apenas 2,6% do total (equivalente a
72,58 milhões de Euros). Os indicadores mais recentes
mostram, no entanto, que os valores para os produtos digitais
estão a subir, ao passo que a facturação do impresso cai
(números da Federación de Gremios de Editores de España
relativos ao 1º sem. 2012 indicam uma queda de 10% face
Fontes: OBSERVATORIO DE LA LECTURA Y DEL LIBRO – El sector del libro
ao mesmo período de 2011).
en España, 2010-2012, Septiembre 2012. [Em linha].
EUROPA PRESS – La venta de livros en España cae un 10%, 2012. [E
VAINAIMOINEN – Aumentan las ventas de ereaders…, 2012. [Em linh
*FGEE – El sector editorial español publicó…, 2013. [Em linha]. 18
19. Números para os Estados Unidos confirmam a tendência,
com a agravante de o mercado digital, aqui, estar mais
avançado. O projecto Pew Internet & American Life fez um
levantamento a norte-americanos acima dos 16 anos, e
confirmou:
- 78% dos indivíduos declarava ter lido um livro
(independentemente do suporte) em 2011.
- Essa percentagem baixou para 75% em 2012 (até nov.).
- Em 2011, 16% dos norte-americanos liam e-books.
- Esse número passou a 23% em 2012.
- A % de pessoas que lia livros impressos em 2011 era de
72%.
- Esse valor caiu para 67% em 2012.
- A % de pessoas que tinham pelo menos um tablet ou um e-
reader era, até dez. de 2011, de 18%. A novembro de 2012,
cifrava-se nos 33%.
- Do universo de indívidos leitores (75% da população maior
de 16 anos, recorde-se), a percentagem que declarou ler
ebooks é de 30% (números até nov. 2012), com destaque
para o segmento da população entre os 30 e os 49 anos
(41% declara ler livros digitais).
Fonte: PEW INTERNET & AMERICAN LIFE PROJECT – E-book reading ju
print book reading declines, December 2012. [Em linha]. 19
20. Os números disponíveis relativamente a 2012:
Espanha: 3%.
EUA: 23% (total pop.), 30% (pop. leitora)
Reino Unido: sabe-se que, durante o primeiro
semestre, as vendas de ebooks cresceram face a
2011: 188% na ficção, 128% na não-ficção, 171%
nos livros infantis.
E em Portugal? Escasseiam as informações.
Dados não oficiais apontam que uma penetração
do ebook, em 2011, de 1-2%. A preferência pelo
livro impresso e o preço dos e-readers são
apontadas como as razões mais significativas da
resistência aos ebooks, isto segundo dados
divulgados pela Renascença.
Fontes: COSTA (editado por) – Estudo desvenda hábitos de leitura em livro
electrónicos, 2012. [Em linha]
CELLAN-JONES – Digital fiction book sales roar…, 2012. [Em linha].
20
21. No Brasil, o mercado da oferta está a avançar a passos
lentos, mas consistentes (o gráfico não mostra o total).
Quanto à procura, os resultados são contraditórios. Em
2011, as vendas de ebooks corresponderam a apenas
862 mil reais, quando foram lançados 5235 títulos.
Claro que estes números não reflectem os leitores que
leram gratuitamente nem os que lêem sobretudo em
língua inglesa.
Fontes: MELO – Em 6 meses, catálogo de ebooks…, 2012. [Em linha]
MELO – Faturamento com ebooks em 2011…, 2012 [Em linha]. 21
22. Parece ser essa discrepância entre ebooks comprados
na língua nativa (relativamente poucos) e entre ebooks
comprados em língua inglesa (aparentemente muitos)
que tem deixado editores e livreiros brasileiros
espantados. Um estudo da Bowker divulgado a mar.
2012 aponta mesmo o Brasil como o terceiro mercado
mundial do livro digital, indicando que 7% dos
brasileiros já havia adquirido ebooks. Estes números
não convencem os especialistas.
Fontes: GREENFIELD – E-book adoption in the US…, 2012. [Em linha]
22
23. Algumas especificidades do
ecossistema digital
Embora o mercado do livro impresso
e o do livro digital sejam ambos
mercados editoriais, existem
diferenças marcantes:
Teoria da cauda longa
Os modelos de negócio de big players
como a Apple e a Amazon
O problema do lock in
Auto-publicação
23
24. A teoria da Cauda Longa
O mercado tradicional e a regra de Pareto: 20% dos produtos
geram 80% das receitas (mercado de massa). Deste modo, a
grande maioria dos comerciantes – por exemplo, livreiros –
, como não pode (por razões de armazenamento) oferecer
todos os títulos disponíveis, aposta mais nos livros que
garantem retorno.
A Cauda Longa (Long Tail) fundamenta-se nas capacidades
permitidas pela Internet, que torna rentável um mercado de
nicho: disponibiliza-se uma oferta praticamente ilimitada, em
lugar de privilegiar apenas o que é mais vendável.
A regra dos 98%: 98% dos produtos vendem pelo menos um
exemplar, consistindo numa procura de cauda longa –
aposta-se num grande número de produtos que vendem
pouco, produtos de nicho, algo economicamente atractivo
visto os custos de manutenção serem iguais para um produto
que vende muito e para um que vende pouco. Os grandes
retalhistas, como a Amazon, têm aqui o grosso das suas
24
receitas, o que explica o seu vasto catálogo.
26. Os modelos de negócio dos
big players
Apple e Amazon são os dois grandes
revendedores do mercado norte-americano e
mundial. As duas empresas têm apresentado
modelos de sucesso.
A Amazon compra ebooks a editoras e coloca-os
à venda na sua loja, ao preço que bem entende
– muitas das vezes, abaixo do preço de
custo, quando não gratuitamente. Isto porque o
grande propósito da Amazon é criar mercado
para o Kindle.
Já a Apple desenvolve um revenue sharing. É
feito um acordo com as editoras, a quem cabe
definir o preço de venda ao público. Os lucros
são partilhados, tendo a Apple uma margem de
30%.
Fonte: FAVA – Ebook, qualcosa è cambiato, 2011, p. 142.
26
27. O Problema do lock in
Embora esteja a ser sucessivamente
mitigado, graças à proliferação e crescente
adopção de formatos abertos, o lock in constitui
ainda uma barreira a uma maior penetração do
livro electrónico.
Em que consiste o lock in? Na
vinculação, provocada pelos fabricantes, entre e-
readers e textos, de tal forma que um mesmo texto
não possa ser lido por dois e-readers diferentes.
Actualmente, há uma cada vez maior aposta em
formatos abertos, que possam ser lidos pela maior
parte dos aparelhos (PDF, e-PUB…), mas os
formatos proprietários continuam a
aparecer, obrigando, no melhor dos casos, a
constantes actualizações de software e, no pior, a
não se poder ler. Exemplos: Sony Reader = BBeB;
Kindle = AZW. 27
28. Auto-publicação
A auto-publicação, “a decisão de um autor publicar uma
obra por si escrita, em nome próprio, assumindo o
grosso das responsabilidades inerentes à sua opção:
financia, produz, cormercializa e vende o seu próprio
livro” (in FURTADO – Chegámos ao mundo…, 2011.
[Em linha]), não sendo exclusiva do digital, tem
encontrado aqui terreno fértil.
Plataformas como iBooks Author (Apple), Kindle Direct
Publishing (Amazon), Simplíssimo (Brasil), Bubok
(Espanha e Portugal) e a recém-criada Escrytos (LeYa)
permitem a qualquer pessoa publicar um ebook, sem
passar pelos aspectos formais da edição tradicional.
Porém, é uma via não isenta de problemas, como
plágios, ausência de qualidade, pornografia
disfarçada, falta de registo de ISBN. E ainda o
fenómeno dos “fantoches”, que beneficia de 1) a
Internet ser um meio onde a identidade nem sempre é
28
real e 2) haver uma lógica demagógica…
29. Há livros e “livros”…
Falou-se, no início, da tendência para
esquecer o livro digital.
O ebook continua a padecer de uma
subalternidade de estatuto
relativamente ao impresso. O
paradigma dessa menoridade
encontra-se estabelecida na muito
criticada taxa de IVA, que trata o
ebook como se fosse um produto
informático e não como um livro.
29
30. IVA praticado no livro e no ebook
NO LIVRO
DE ES FR IT UK EUA BR PT
7% 4%/21% 5,5%/19,6 4%/21 0% 0% 0% 6%
% %
NO EBOOK
DE ES FR IT UK EUA BR PT
19% 21% 7% 21% 20% 0% 0% 23%
Nota: à excepção da França (19,6%), estes são os valores taxados
aos Cds e
Cd-Roms na União Europeia (o que, de resto, valeu protestos da UE).
Fonte:
EUROPEAN COMISSION – VAT rates applied in the member states of the
European Union. Situation at 14th January 2013. [Em linha].
30
31. Em resposta às críticas (de indivíduos e de alguns
Estados-membros) que visam estas discrepâncias, bem
reveladoras da diferença de estatuto entre o livro
impresso e o livro electrónico, e ao crescimento do
mercado do ebook na Europa, a União Europeia fez
sair, a 26 de Junho de 2012, uma Declaration on
ebooks, na qual se compromete a rever a questão do
IVA, revisão essa assente em duas premissas:
a) o novo regime deve ser neutral relativamente aos
ebooks
b) não deve prejudicar as vendas dos livros impressos.
Contudo, estima-se que uma proposta legislativa só
venha a conhecer a luz do dia em finais de 2013.
Em Portugal, a proposta de OE para 2013 reconhecia
ser “urgente preparar a indústria do livro para o fim da
discriminação fiscal do livro electrónico”, mas tal requer
precisamente a União Europeia: tentativas de Estados-
membros em aplicar, por iniciativa própria, taxas
reduzidas de IVA aos ebooks
(França, Luxemburgo, Espanha) sofreram oposição da 31
32. O “Papel” do editor
A validade do editor tem sido questionada no domínio
da publicação digital, seja porque o mercado é
dinamizado por big players como a Amazon ou a Apple
(que não são editores no sentido estrito do termo), seja
porque as plataformas de auto-publicação aparentam
dispensar a função de filtro que tradicionalmente o
editor tem desempenhado.
Não oferece discussão que o digital introduz uma
fractura e obriga as profissões ligadas à edição a lidar
com a mudança. Mas os rumores sobre o fim do editor
são manifestamente exagerados. Há mesmo vozes
(Fava, Mollet) que indicam o editor poder tornar-se
mais importante à medida que o mercado digital
evolui, mantendo as suas competências core –
mediação, escolha, gestão e promoção de
autores, marketing e distribuição – e adquirindo outras
novas.
Exige-se, sobretudo, que o editor esteja
tecnologicamente actualizado (união das “duas 32
33. E as bibliotecas?
A ascensão da leitura electrónica traz desafios
às bibliotecas, ainda muito ligadas ao paradigma
do livro impresso. Instalações, organização,
serviços e pessoal têm de readaptar-se: as
bibliotecas são obrigadas a “deslocar-se” aos
utilizadores, e não estes àquelas.
Um grande obstáculo reside na guerra entre
editoras e bibliotecas acerca do empréstimo de
ebooks, muito mal visto por aquelas (das big six
do mercado norte-americano, apenas duas –
Random House e Harper Collins, vendem
ebooks a bibliotecas, em dois modelos distintos;
preços altos vs. licenciamento limitado.
Penguin*, Macmillan, Simon & Schuster e
Hachette não têm negócios com bibliotecas.
As bibliotecas não poderão servir o público leitor
com tais entraves. 33
34. ANÁLISE SWOT
STRENGTHS WEAKNESSES OPPORTUNITIES THREATS
Contínua Lock in Mercado mais Resistência dos
inovação disponível luditas
Leitura social Obsolescência Novos modelos de Pirataria
(de formatos e negócio (cauda
de dispositivos) longa)
Multimédia Dificuldades de Nativos digitais Transparência
interoperabilidad invasiva
e
Elevada Menor Crescimento IVA diferenciado
capacidade de legibilidade sucessivo da oferta
armazenamen e da procura
to/portabilidad
e
Muita da DRM restritivo Efeito rede Direitos de autor
leitura já é pouco
34
digital adequados
35. Incógnita final: que leituras?
Crescendo o mercado digital (embora só os EUA e
alguns países asiáticos atinjam números relevantes), é
provável, mas não definitivo, haver uma redefinição do
mercado do impresso para uma situação de
nicho, valorizando o livro-objecto, evitando canibalizar
as vendas. Menos provável? A “morte do livro”. Muito
menos a morte da leitura.
O digital pode, até, apoiar o livro impresso. Basta citar o
desktop publishing, as vendas pela Web e o POD, e há
casos de lançamentos de ebooks feitos com o
propósito de publicitar as versões impressas.
O livro e a leitura tradicionais, feitas sobre documentos
impressos, não parecem estar em risco, pelo menos a
curto-médio prazo. Pacífico é perderem o monopólio
que detinham antes da chegada do digital. 35
36. Uma sondagem levada a cabo pela Random House dentro do
universo composto pelos leitores adultos de ebooks nos EUA
permite tecer comparações com os leitores de livros impressos.
ebook impress l. ebook l.
o impresso
Importância 73% 60%
homens 37% 41% da leitura
mulhere 63% 59% Falar de livros 51% 37%
c/amigos
s
A par das
34% 23%
<45 Esta 60% 53%
e outras sondagens novidades
revelam que
os leitores de ebooks são
anos mais activos e mais entusiastas, quer com textos digitais, quer
com textos impressos. E também que o leitor normal de ebooks
lê e compra mais livros impressos do que os restantes. Há uma
maior probabilidade de os leitores de ebooks serem grandes
leitores, isto é, de lerem mais de x (os valores variam de país
para país: mais de 11 em Portugal, pelo menos 20 na
Alemanha, mais de 25 em França…) livros por ano. (In
SIGNORINI, Les images…, 2003).
Fonte: PARK – Who reads ebooks?, 2013 [Em linha]
DAUER – Infográfico – a tendência do e-reading, 2012 [Em linha].
36
37. Alguma bibliografia
aconselhada
CHARTIER, Roger – A ordem dos livros, 1997.
FARIA, Maria Isabel e PERICÃO, Maria Graça –
Dicionário do livro: da escrita ao livro electrónico, 2008.
FAVA, Andrea – Ebook, qualcosa è cambiato, 2011.
FURTADO, José Afonso – O papel e o pixel, 2007.
LUDOVICO, Alessandro – The mutation of publishing
since 1894, 2012.
PEW INTERNET & AMERICAN LIFE PROJECT – E-
book reading jumps; print book reading declines,
December 2012.
PINHEIRO, Carlos – Dicionário do e-book, 2011.
E o programa exibido na RTP2, Nativos Digitais:
http://www.rtp.pt/play/p682/e101096/nativos-digitais
37