2. Ritos
Quando em mim as chamas cessarem
E os rios em fim
Secarem
Partirei com minhas dores
Meus retalhos
Meus ardores
Minha ânsia crua
De soltar meus atritos
Gritos
Ritos
Os meus cantos
Nos meus santos
De palavras
Nuances
E águas.
3. Sagrado
Nada é sagrado
Só tuas faces que leio em exaustão
Profanando teu sorriso de infinito
Decifrando as linhas de tua emoção
Leio-te como em braile
Sentindo a cada toque um perfume novo
Perdendo-me no fluxo desse encanto
Como quem imerge um céu no pensamento
E se descobre decifrada em cada canto
Tenho a certeza que nada é sagrado
Só esse vento que arrebata
Confunde e resume sentimentos a nada
Juntando a poeira do passado
Resgatando o sentir profanado
Que clama o amor tão quieto adormecido
Tudo isso me envolve na suave certeza
Nada é sagrado exceto teu simples sorriso.
4. Tempos
Não se percebe o tempo passar
Corre por entre os sonhos embriagadamente
Como se desfazendo em laços presentes
Passando como um código de conduta de Bertrand
Alheio a certezas imploradas..Exploradas
Aliando e afastando...Com um tic tac de um velho relógio
Que pendurado no tempo sofre oscilações físicas
Sem perder sua contagem do lógico
Não se percebe quando ele chega e te abraça
Trazendo nesse abraço de moinho
Todas as suas certezas em marcas em volta do seu olhar
Como se dentro dos teus olhares
Ele estava ali o tempo todo a te esperar.
5. Orvalhos
Primeiro foi a luz
Que descortinava teus olhos
Depois veio o silêncio
Que ecoava o teu canto
Sem eu perceber chegou o mar
Que tempestuava teus cabelos
Desvendava todos os teus mantos
Vi-me nua dos meus sentidos
Absorta em teus detalhes
Suando minhas mãos
Orvalhando em meus entalhes
Só e imersa nesse torpor
Bebendo meu cio
Ardendo minha poesia
Em flor.
6. Delta picante
O silêncio é abrasador
Fecho meus olhos
Entregue na minha leitura
Perdida entre beijos
Sentindo na pele a luxuria.
As palavras me tocam
Como um punhal em fogo
Imagino tua mão censurada
Ao me ler pouco a pouco.
Remeto-me ao longe
Em ligas e cetins
Castelos e condes
Relendo a Anais Nin.
A madrugada excita
Desvirgina a solidão
Entre livros e sonhos
Queimo de tesão.
7. Metamorfoses
Coloco-me como o vento
Que sopra em rebentos
Como mangue
Que enlameia para criar
Coloco-me em finito
Como a imensidão do mar.
Coloco-me
Feito lama que escorre
Vento que corre
Mar que engole
Corpo que se move.
Sou pedra a despedaçar
Fragmentar
Des-com-pac-tar.
Sou desejos
Remelexos
Sangue, sexo, medos
Sou Hu-ma-na.
8. Infinitos
Quando apagarem as estrelas
A lua sumir no infinito
Deixarei de exaltar o amor
O sentimento e os seus ritos
Suas lágrimas de dor
O corpo elevado ao espírito
Quando o céu sucumbir ao mar
As orações cessarem
Os corações calarem
Deixarei por um tempo de amar
Até que em outro mundo
Dentro do pulsar profundo
Enfim possa recomeçar.
9. Na Pele
É uma coisa de pele
É uma coisa que geme
Sussurra, pede
Me trás oxigênio
É coisa que arrebata
Lambe, come
Mata
Em fecundas estocadas
Só poesia na pele
E mais nada.
10. Guardados
Fecho as cortinas
Meu corpo santo
Minhas presilhas.
Minhas águas cálidas
Meu ventre
As palavras pálidas.
Tranco meu amor
Meu infinito
Guardo a dor.
Minha pele confusa
Meus passos ermos
A febre que pulsa.
O tempo de te ver
A cama perfumada
Meu gosto em você.
11. Fecho, guardo, tranco
Teus nós e elos
Só por enquanto.
Palavreando
Nem sempre as palavras
Naufragam em bocas
Ás vezes se perdem
Entre umas e outras
Unem-se em frases
Polemicas ou doces
Tornam-se fugazes
Ou fingem de loucas
Palavras são tudo
Ou nada certo
Destroem, edificam
Desmistificam o concreto
Escritas ancoram
Faladas decoram
Palavras refletem
O que o mundo devora.