O documento discute a inserção das Tecnologias Digitais na educação por meio de Projetos de Aprendizagem de forma a evitar erros conceituais e de implementação. Projetos de Aprendizagem permitem o uso efetivo das Tecnologias Digitais como ferramentas de apoio ao processo de ensino-aprendizagem de forma colaborativa. É necessário planejamento cuidadoso e compartilhamento de experiências para um uso proveitoso das tecnologias nos projetos.
Implementação de Tecnologias Digitais em Projetos de Aprendizagem
1. Projetos de Aprendizagem e
Tecnologias Digitais
Trata da inserção das Tecnologias Digitais na educação por meio de Projetos
de Aprendizagem.
Erros conceituais: Tecnologias Digitais (TDs) X Tecnologias
Educacionais (TEs)
Para entendermos as razões que justificam a inserção das Tecnologias Digitais
por meio dos Projetos de Aprendizagem é interessante que primeiro façamos
uma pequena reflexão sobre as formas como as TDs têm sido inseridas na
educação e as razões pelas quais essa inserção tem fracassado em muitos
casos.
Os erros de implantação do uso pedagógico das TDs começa com os erros
conceituais sobre o que é tecnologia e qual sua relação com a educação. O
mapa conceitual mostrado a seguir tenta aclarar os conceitos de tecnologia,
Tecnologia Digital (TD), Tecnologia Educacional (TE), bem como as relações e
inter-relações entre eles
Como podemos ver nesse mapa conceitual, tecnologia é um conjunto de
técnicas, processos e métodos específicos de um dado ofício ou negócio.
Tecnologia Digital é qualquer tecnologia baseada na linguagem binária dos
computadores. Assim, quando pensamos no uso de tecnologias nas escolas
não estamos falando simplesmente no uso de “aparelhos tecnológicos
digitais”, mas sim no conjunto de técnicas, processos e métodos específicos
para o ofício de ensinar!
Onde as TDs se inserem na educação nesse contexto? Elas se inserem da
mesma forma que todos as demais tecnologias não-digitais, como a lousa, o
mimeógrafo e o toca-fitas, como ferramentas auxiliares que potencializam as
Tecnologias Educacionais (TEs).
2. Veja também que nesse mapa conceitual a relação entre as TDs e a Educação
não é uma relação de mão dupla e que seus laços são frágeis. A escola que
hoje convive com as TDs já viveu séculos sem elas e viverá muitos outros
séculos com tecnologias que ainda serão inventadas. As tecnologias mudam, a
escola se adequa a seu tempo e usa essas tecnologias, mas a escola não é
uma aplicação da tecnologia em si.
É fundamental compreender que as tecnologias próprias da Educação, como a
pedagogia, a didática, a prática de ensino e as diversas metodologias próprias
de cada área do saber, não são substituíveis pela Tecnologia Digital ou por
qualquer outra tecnologia. E embora isso nos pareça óbvio, não tem sido tão
óbvio a ponto de que se evitassem diversos erros ao longo do processo de
inserção das TDs na Educação.
Para efeito puramente didáticos podemos dividir esses erros de concepção,
implementação e uso em três categorias básicas:
1. Ideológicos: Foco na tecnologia e não na pedagogia. A escola se
preocupa excessivamente em explorar o potencial das TDs e subestima
sua Tecnologia Educacional (TE) própria.
• O foco correto deve ser no processo de ensino e aprendizagem
(currículo, metodologias, estratégias, etc.) e as TDs precisam ser
inseridas como ferramentas de apoio às TEs onde for cabível fazê-
lo.
2. Esse erro de concepção levou a investimentos gigantescos em
equipamentos que não foram utilizados (laboratórios de informática
inteiros), ou foram subutilizados e hoje se encontram obsoletos em
muitas escolas, sem manutenção ou uso.
3. Estratégicos: Busca de atividades e projetos que possam ser
desenvolvidas com as TDs. Pressuposto de que é preciso estabelecer
projetos específicos para o uso das TDs.
• O foco correto deveria ser a busca de TDs que facilitam o processo
de ensino e aprendizagem e o uso da tecnologia para o ensino e
não do ensino para a tecnologia.
4. Esse erro levou ao desenvolvimento de projetos e currículos que
fracassaram ao ser implementados porque não se inseriram
verdadeiramente no processo de ensino e aprendizagem.
5. Práticos: Capacitações de professores para o uso de softwares e TDs.
Compartimentação do conhecimento (TDs X TEs). Planejamento de aulas
voltado para o uso de TDs.
• O foco correto deveria ser a inclusão digital dos professores e
alunos (uso efetivo das TDs nas atividades do cotidiano).
Disponibilização de recursos e oportunidades e valorização da
inovação que leva à melhoria da qualidade do ensino.
6. Esse erro levou milhares de professores a fazerem cursos e capacitações
que se mostraram inúteis porque não resultaram em um uso efetivo das
TDs nas práticas escolares e nem representaram um ganho significativo
para professores e alunos.
Porque Projetos de Aprendizagem com Tecnologias Digitais?
Uma forma segura de evitar os erros discutidos acima consiste em procurar
inserir as TDs em um contexto em que se disponha de
3. 1. Tecnologia Educacional comprovadamente eficaz;
2. Estratégias conhecidas e vencedoras;
3. Práticas eficazes e sustentáveis.
Tudo isso pode ser verificado no uso de Projetos de Aprendizagem (não
confundir com Projetos de Ensino, onde preferencialmente se cometeram
muitos dos erros estratégicos apontados acima). Os Projetos de Aprendizagem:
• São Projetos Educacionais que possuem uma tecnologia educacional bem
estabelecida.
• Sabemos como e porque utilizá-los. Sabemos planejá-los e executá-
los. Temos objetivos para utilizá-los e estratégias para conduzi-los.
Tudo isso nos dá segurança para desenvolvê-los.
• Permitem a ação de múltiplos agentes (interdiscilinaridade,
transdiciplinaridade).
• Isso nos permite atingir um número maior de atores potenciais para
o uso das TDs e facilitam a aprendizagem colaborativa de alunos e
professores.
• Permitem o uso natural de diferentes TDs.
• Projetos possuem várias etapas, várias atores e muitas ações
simultâneas ou não. Tudo isso permite que diferentes recursos
tecnológicos compareçam em diferentes momentos e situações.
Projetos geram oportunidades de uso para as TDs.
• São focados no processo e não nos resultados finais.
• Aqui as TDs têm a característica natural delas: apoio ao
desenvolvimento, à aprendizagem, ao “fazer”; são “instrumentos
para potencializar as ações” e não objetivos em si mesmas. As TDs
enriquecem o processo e não são objetivos finais.
• Promovem a aprendizagem colaborativa.
• É no “aprender a aprender” e no “aprender a fazer” que as TDs são
aprendidas, e a aprendizagem colaborativa é fundamental para
esses processos. Os projetos têm naturalmente a característica de
aprendizagem colaborativa e permitem que não apenas os alunos
aprendam colaborativamente, mas também os seus professores.
Todas as condições acima são favoráveis tanto para a inserção das TDs quanto
para o sucesso do processo de ensino e aprendizagem que, ao fim e ao cabo, é
o que se deseja em uma escola.
Como implementar as TDs nos Projetos de Aprendizagem?
Antes de se lançar à aventura de implementar as TDs nos Projetos de
Aprendizagem, ou em qualquer outro projeto, é necessário ter em mente que
precisamos:
• Dispor de recursos tecnológicos (TDs) e facilitar o acesso a eles.
• Não dá para levar classes inteiras para atividades em Salas de
Informática com três computadores capengas. Não dá para
implementar o uso das TDs com Salas de Informática trancadas
com cadeado a maior parte do tempo, computadores quebrados e
obsoletos e a necessidade de uma burocracia gigantesca para seu
uso. É preciso ter bons equipamentos e acesso facilitado a eles.
• Planejar a inserção das TDs nas diferentes atividades do projeto em
função de sua utilidade e disponibilidade, visando sempre a melhoria da
4. qualidade dos produtos ou processos.
• Primeiro planejamos o projeto, montamos as seqüências didáticas,
listamos as atividades, etc., somente depois nos perguntamos “o
que eu posso fazer melhor se usar as TDs de que disponho?”.
Propor a construção de um blog em uma escola onde a imensa
maioria dos alunos não tem acesso à Internet tem algum propósito?
Propor que os gráficos estatísticos sejam feitos usando-se uma
planilha de cálculo quando nem o professor nem os alunos sabem
como fazê-lo, têm algum ganho? Esse ganho compensa o custo-
benefício da ação?
• Documentar, relatar, analisar e registrar o uso das TDs e seu impacto nos
Projetos de Aprendizagem.
• Usar TDs é algo ainda novo e muito pouco documentado. Muitas
ações envolvendo as TDs não surtem efeitos positivos. É preciso
documentar e avaliar o impacto desse uso para a tomada de
decisões para os próximos projetos. A própria documentação e
análise do impacto do uso das TDs implica, muitas vezes, no uso
dessas TDs (documentos digitados, planilhas, apresentações, etc.).
• Compartilhar experiências e aprendizagens (reuniões pedagógicas,
formações, dia-a-dia, etc.).
• A forma mais rápida e eficaz de aprender a usar as TDs em uma
escola é compartilhar o conhecimento que se tem delas e de seu
uso. Não dispomos de tempo para “aprender tudo sobre um dado
recurso antes de usá-lo”, o aprendizado se dá por etapas
somativas, de forma colaborativa e geralmente por tentativa e
erro.
• Promover uma política de inovação constante, dar continuidade aos
projetos e procurar envolver cada vez mais os diferentes agentes.
• Equipamentos e softwares obsoletos e a falta de atualização sobre
os novos recursos tecnológicos à disposição torna o uso das TDs
desinteressante para alunos e professores. Que graça tem usar um
computador velho e lento, rodando sobre um sistema operacional
ultrapassado e que vive travando?
• Que novas idéias surgiram nos projetos anteriores e que podem ser
implementadas agora? Quais são os novos agentes, alunos e professores,
que podem se interessar pelo uso das TDs? Como podemos seduzi-los?
• Incentivar, valorizar, expor, divulgar e premiar as inovações que
produzem bons resultados.
• De que adianta um projeto ter feito uso produtivo das TDs se isso
não for capitalizado como marketing para os próximos projetos e
nem for divulgado para além dos muros da escola?
• Porque um professor deveria usar novamente as TDs se isso não é
reconhecido nem valorizado, nem mesmo quando tudo dá certo? Que
valor tem um projeto esquecido, um esforço não reconhecido ou mesmo
um fracasso não compreendido?
• Repensar o modelo de professor para incorporar um novo perfil
profissional: o perfil do “Professor Digital“.
• O professor digital é o profissional que toda escola deseja ter, mas
nenhuma deseja pagar. O novo perfil do professor demanda uma
dedicação muito maior “fora da sala de aula” do que dentro dela. O
professor digital tem o direito de errar, o compromisso de aprender
sempre e a certeza de que nunca saberá o suficiente. Esse novo
5. professor não é uma solução para os problemas da educação ou
mesmo de sua escola e, além disso, traz consigo novas demandas
que são muitas vezes compreendidas como problemas e não como
soluções.
• É preciso que a gestão da escola (e os gestores das políticas públicas)
compreenda as necessidades desse novo profissional e viabilizem a sua
ação.
A experiência que eu mesmo acumulei sobre esse tema, acompanhando os
projetos de milhares de escolas que participaram do projeto Coisas Boas
(Educarede/SEE-SP) nos anos de 2004, 2005, 2006 e 2007, me leva a crer que
os Projetos de Aprendizagem reunem todas as condições para permitirem a
inserção das TDs nas escolas de forma natural e produtiva, retirando delas o
estigma que vem sendo alimentado em muitas escolas de serem
“complicações extras e inúteis” ao processo de ensino e aprendizagem.