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OS LUGARES DE MEMÓRIA: PARA ALÉM DAS POLÍTICAS PÚBLICAS DE

              PRESERVAÇÃO DO PATRIMÔNIO HISTÓRICO E CULTURAL


                                                           Ivanilda Aparecida Andrade Junqueira 1


Resumo: O projeto, “Os Lugares de Memória: para além das políticas públicas de
preservação do patrimônio histórico e cultural”, teve como ponto de partida nosso
interesse em compreender que significados possuem os remanescentes do passado e as
“referências da memória” quanto aos bens “consagrados” e “não-consagrados” da
cidade de Uberlândia/MG. Aborda o processo de “tombamento” realizado pelas
instituições de proteção do patrimônio histórico e as estratégias utilizadas pelos órgãos
específicos para a seleção desses “lugares”. Buscamos ainda investigar seus significados
no imaginário dos estudantes de 5ª a 8ª série da Escola Estadual Tubal Vilela da Silva,
em Uberlândia.
Palavras-chave: Educação Patrimonial, memória, cidadania.




           Em 2006 desenvolvi um projeto na Escola Estadual Tubal Vilela da Silva em
Uberlândia denominado “Os Lugares de Memória: para além das políticas públicas de
preservação do patrimônio histórico e cultural” , o qual teve como ponto de partida o
interesse em compreender que significados possuem os remanescentes do passado e as
“referências da memória” quanto aos bens “consagrados” e “não-consagrados” da
cidade de Uberlândia/MG. Procuramos abordar o processo de “tombamento” realizado
pelas instituições de proteção do patrimônio histórico e as estratégias utilizadas pelos
órgãos específicos para a seleção desses “lugares” investigando seus significados no
imaginário dos estudantes de 5ª a 8ª série do ensino fundamental da referida escola. A
educação patrimonial é um tema ausente ou pouco comum na atual agenda do ensino
básico e médio brasileiro. Percebemos que o problema não é apenas o desconhecimento
das políticas públicas de preservação, mas, trata-se também da desvalorização da
consciência histórica, a qual permite valorizar e preservar a cultura material e a
memória de nossa sociedade.

           As atividades de extensão desenvolvidas pelo Centro de Documentação e
Pesquisa/CDHIS, da Universidade Federal de Uberlândia viabilizaram a realização do
referido projeto ao promover a integração dos graduandos em História com a
comunidade escolar.
1
    Doutoranda pela Universidade Federal de Uberlândia e Professora da Faculdade Católica de Uberlândia.
Procuramos promover a compreensão e a valorização dos aspectos ligados ao
patrimônio material e imaterial brasileiro, pois pensamos que, além de ampliar o
conhecimento sobre o patrimônio do sítio histórico, as atividades pedagógicas se
voltaram para a conscientização por meio de ações educativas e informativas; palestras
abertas sobre patrimônio cultural.

       Acreditamos que, além do enriquecimento da grade curricular dos graduandos
em História que estagiam no Centro de Documentação e Pesquisa em História -
CDHIS/UFU, também a comunidade escolar se beneficiou quanto aos aspectos
culturais, sociais e econômicos, pois com as oficinas de Educação Patrimonial cujas
atividades enfocam a aplicação do método através da experiência direta; entrevistas
com pessoas da comunidade escolar; elaboração de projetos transdisciplinares na escola;
elaboração de materiais didáticos, nossa tarefa pôde ser vista como um “resgate
histórico”.

       Criado em 1985, o Centro de Documentação e Pesquisa em História partiu da
iniciativa de um grupo de professores do Departamento de Ciências Sociais, o qual
englobava os cursos de História e Geografia. Constituiu-se inicialmente como Núcleo
de Pesquisa em História e Ciências Sociais (NUHCIS), abrigando documentos
recolhidos na comunidade (fotos, coleções de jornais, documentos acumulados e
guardados por memorialistas amantes da cidade, e, devido a essa diversidade temática
de suas coleções e acervo, se adéqua às necessidades dos alunos do Programa de Pós
Graduação em História, principalmente quando seus projetos são voltados para a
pesquisa contemporânea e buscam a compreensão da cidade e seu cotidiano.

       Desde a sua criação desenvolveu um grande volume de projetos de pesquisa e de
extensão junto à comunidade local e regional, sendo transferido, em 1992, para
instalações próprias, no Bloco 1Q do Campus Santa Mônica, em prédio especialmente
adaptado para acolhimento dos acervos históricos e do laboratório de restauro de
documentos. A partir de maio de 2003, sofreu novas alterações, passando a incorporar
outro órgão de extensão do Instituto de História, o Laboratório de Ensino e
Aprendizagem em História-LEAH, ampliando seus acervos com produções acadêmicas
e documentos relativos ao ensino de História e expandindo as atividades de extensão.

       Por meio da coleta, organização e preservação de arquivos de instituições ou
pessoais, o CDHIS tem por missão contribuir para o ensino, pesquisa e extensão na
área de História oferecendo suporte à pesquisa não somente para o Instituto de História,
mas para todos os setores, das ciências humanas ou não, voltados para uma perspectiva
histórica dos fatos, no contexto brasileiro, regional e local.

       Cabe lembrar, que os centros de documentação são “lugares” em que os
processos históricos são retomados e reconstruídos, frutos de uma multiplicidade de
documentos produzidos em distintas épocas. Longe de serem simples depositários de
documentos, os centros “oferecem o passado trazendo a história em narrativas que
reencontram o indivíduo nos ambientes intersubjetivos nos quais experimentou, não
sem contradições, a si mesmo e ao mundo”.2 A documentação guardada nestes espaços
traz à tona fatos, versões, acontecimentos, memórias que sobrevivem ao tempo,
possibilitando olhares e abordagens diferenciadas. Nesse sentido, ao mencionar a(s)
memória(s) não estamos falando, pura e simplesmente, de “nostalgia”, mas do “amor
pelo passado. (...) A nostalgia nasce no espírito indefeso que não suporta a visão do
presente e então se evade: foge para o passado, um passado de ouro, meio falsificado e
que distrai nossas dores. A memória, pelo contrário, é ir ao encontro do presente depois
de ter se banhado nas visões de um outro tempo.3

       Preservar a memória é, sem dúvida alguma, uma das formas de garantir o direito
à história dos vencedores e dos vencidos. “A memória regula posições existenciais e
políticas, fazendo buscar no passado seiva e inspiração para as apostas ativas de
futuro”4. Não podemos esquecer que a questão da memória “é de tal modo central na
reflexão sobre o ofício do historiador que reponta também nos estudos sobre o ensino da
História. Pois é por intermédio do ensino que se transmite mais diretamente o cânon
factual que o discurso historiográfico vai gestando nos seus vários estratos, desde a
pesquisa de ponta até as obras de divulgação e os livros didáticos.5

        Desse modo, instituições culturais, como centros de documentação, arquivos,
bibliotecas, museus foram “freqüentemente apontados como castelos, repletos de
tesouros de valor inestimável, comparáveis, todavia, a templos sagrados intocáveis e
inatingíveis. Hoje, felizmente, aquelas instituições ressurgem da inanição, reagem,
buscam atualizar-se tentando compensar o tempo perdido. Assistimos à revisão de
conceitos e à valorização e alargamento dos serviços que desenvolvem. Esses serviços

2
  GONÇALVES FILHO, José Moura. Memória e sociedade. Revista do Arquivo Nacional, n. 200, São
Paulo, Departamento do Patrimônio Histórico Municipal, 1992, p. 61.
3
  Idem, ibidem, p. 49 e 61.
4
  Idem, ibidem, p. 62.
5
  NOVAIS, Fernando Antônio. Aproximações: estudos de história e historiografia. São Paulo: Cosac
Naify, 2005, p. 308.
poderiam ser representados através da figura simbólica de pontes levadiças, que põem
em comunicação os interessados com os conjuntos documentais, valiosos acervos
zelosamente conservados naqueles castelos. Considerando que os acervos custodiados
nos castelos não sejam conjuntos fechados, estáticos, mas ao contrário sejam
enriquecidos continuamente, os serviços têm que se atualizar em ritmo dinâmico, para
não envelhecer antes de completar-se, isto é, antes de atender o usuário”.6

        Por isso, o CDHIS tem como uma de suas principais responsabilidades
instrumentalizar a relação pesquisa - ensino - extensão, não se esquecendo do papel
social e cultural que desempenha na universidade e na região7. Como assinala Yara Aun
Khoury, “tudo isso se desenvolve na medida em que a cultura universitária passa a
melhor compreender a natureza dos centros de documentação e seu significado para a
pesquisa, para o ensino e a extensão, em vários níveis, e na medida em que se estreitam
as relações entre os pesquisadores e esses organismos, dentro de um entendimento de
que seus respectivos trabalhos se desenvolvem em áreas de conhecimentos
específicas”. 8

        Os centros de documentação organizados e tornados disponíveis à consulta
servem principalmente de apoio às pesquisas realizadas por docentes e alunos da
comunidade acadêmica. Como desdobramento natural desse trabalho, eles atuam com a
finalidade de ampliar o alcance de seus serviços aos demais segmentos sociais,
procurando atingir aqueles que se configuram como usuários interessados em
informações. Assim, desdobram-se em atividades de extensão universitária, buscando
atingir não apenas novos pesquisadores:

                           Mas, sobretudo unir-se a outras instituições cuja tarefa básica seja a de
                           preservar o patrimônio documental do país. Engajam-se, dessa
                           maneira, nos esforços gerais de preservação do patrimônio histórico
                           nacional e dos seus bens culturais. Como se vê, é uma proposta de
                           trabalho muito importante, absolutamente necessária e que
                           desempenha um papel fundamental, ampliando as possibilidades do
                           exercício da cidadania. É base para a construção do conhecimento

6
  OLIVEIRA, Daise Aparecida. Arquivo e documento. Revista do Arquivo Nacional, n. 200, São Paulo,
Departamento do Patrimônio Histórico Municipal, 1992, p. 113.
7
  O CDHIS, como órgão do serviço público, tem a missão de “receber, preservar, organizar e servir”. Ver
MANUAL DE ORIENTAÇÃO PARA ARQUIVOS. Porto Alegre: Comissão Executiva do
Sesquicentenário da Revolução Farroupilha/Subcomissão de Publicações e Concursos/ Arquivo histórico
do Rio Grande do Sul, 1985, p. 18.
8
 KHOURY, Yara Aun. Centros de documentação universitários: significado e implantação.
Texto digitado, 2001, p. 22.
científico e, de outro modo, opera como uma das possibilidades de
                            interferir na sua transformação em conhecimento público, por meio do
                            acesso democratizado à informação especializada.9
        De caráter multidisciplinar; destacamos a realização de exposições, a
participação e organização de projetos de extensão, como o Encontro de Professores do
Triangulo Mineiro, a organização e apresentação de seminários, oficinas e mini-cursos
voltados à comunidade acadêmica, a professores e alunos do ensino fundamental e
médio, estudos e cursos sobre arquivos.

        Quanto aos documentos arquivados e sua relação com as práticas de arquivo e de
ensino podemos dizer que a diversidade dos testemunhos do passado é muito grande.
Tudo quanto se diz ou se escreve, tudo quanto se produz e se fabrica pode ser um
documento histórico. As fontes “são infinitamente variadas, incluindo tanto achados
arqueológicos como restos literários, cultura material, manuscritos e arquivos, dialetos e
fala ou a palavra impressa” 10. Antigamente a idéia de um documento histórico era a de
“papéis velhos”, referentes a “pessoas importantes”, as quais eram vistas como os
condutores da história. Atualmente tem-se consciência de que, entre outros exemplos,
uma caderneta de despesas de uma dona de casa, um programa de teatro, um cardápio
de restaurante, um folheto de propaganda, são verdadeiros documentos históricos,
significativos e reveladores de seu momento.

        O trabalho com os documentos, quais quer sejam, exigem cuidados e critérios
rigorosos, pois estes não estão isolados do contexto social. Mais, “não é inteiramente
explicativo em si, ao lado das significações explícitas tem as implícitas e as não
manifestas, tendo o historiador a necessidade de trabalhar (...) dentro dele (o que diz) e
fora dele (o que representa); (...) Não é espelho da realidade, mas essencialmente
representação do real, de momentos particulares da realidade; sua existência é dada no
âmbito de uma prática determinada”. 11

         Vale realçar, então, que uma particularidade dos centros de documentação das
universidades brasileiras é “tornar a fonte próxima ao pesquisador, mas também trazer
as fontes documentais que estão sendo perdidas, produzidas, muitas vezes, pelo próprio

9
  CAMARGO, Célia Reis. Os centros de documentação das universidades: tendências e perspectivas. In:
SILVA, Zélia Lopes. (org.). Arquivos, patrimônio e memória: trajetórias e perspectivas. São Paulo:
Unesp/FAPESP, 1999, p. 50 e 51.
10
   SAMUEL, Raphael. História local e história oral. Revista Brasileira de História, v. 9, n. 19, São Paulo,
ANPUH, 1989/1990, p. 220.
11
   MARSON, Adalberto. Reflexões sobre o procedimento histórico. In: SILVA, Marcos A. (org.).
Repensando a história. Rio de Janeiro/São Paulo: Marco Zero/ANPUH/SP, 1984, p. 53.
poder público, a quem caberia, por dever, preservá-las e torná-las disponíveis à consulta
pública. (...) É preciso dizer que a ênfase para a preservação dos documentos que estão
em torno da universidade, a preocupação com a documentação (...) é uma prática de
grande importância. Não apenas do ponto de vista da preservação dos registros (...), mas
como forma de viabilizar as pesquisas de pós-graduação e, especialmente, as de
iniciação científica, uma vez que os alunos, nesse processo de aprendizagem no manejo
das fontes primárias, ao mesmo tempo em que realizam o seu curso, podem fazê-lo de
forma mais fácil e completa. Afinal, as ciências humanas necessitam de laboratórios de
pesquisa tanto quanto as outras áreas do conhecimento. (...) Os centros (...) trazem
grandes possibilidades de avanço, em particular no exercício da pesquisa, acessível a
um número maior de alunos. É preciso reconhecer que ainda somos muito carentes de
espaços e de oportunidades para sua realização, ao menos no âmbito do ensino da
graduação”.12

        A preservação dos documentos se impõe como uma necessidade no mundo
contemporâneo. Cresce a demanda pela constituição de centros de memória e
concomitantemente as atividades relativas à rememoração de acontecimentos
significativos para os grupos sociais. A “guarda” desses vestígios tem o mérito de
evidenciar o fazer dos grupos sociais. À medida que este fazer se refaz no ato de
lembrar e refletir, cimenta o sentimento de pertencimento e a consciência da cidadania
dos sujeitos envolvidos.

        O CDHIS – local de guarda e de preservação da memória social – tem se
esmerado na busca da interdisciplinaridade entre teoria e prática uma vez que os cursos
de História (diurno e noturno) oferecidos pela Universidade Federal de Uberlândia/UFU
não disponibilizam na sua grade curricular, disciplinas que permitam aos alunos saber
como “tratar” o documento embora este seja considerado ferramenta imprescindível ao
historiador.

        Portanto, os projetos desenvolvidos pelo CDHIS, tem como finalidade básica
contribuir para a preparação dos licenciados em história com vista ao trabalho
pedagógico de organização e preservação da mémoria social. Tal experiência leva em
consideração a superação do conceito de currículo apenas como o elenco rígido


12
   CAMARGO, Célia Reis. Os centros de documentação das universidades: tendências e perspectivas, op.
cit., p. 60.
disciplinar que compõe um curso. Reflexões sobre o tema tem levado à percepção de
que a formação do estudante como sujeito do seu tempo se dá por meio de todas as
ações realizadas para esse fim. Em vista disso, o currículo escolar, atualmente é
concebido como o conjunto das atividades que contribuem para a formação intelectual e
a preparação profissional do estudante inseridas em uma perspectiva interacionista.

       Os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) ao proporem os temas
transversais, dão abertura para o enriquecimento dos currículos nos níveis fundamental
e médio. Possibilitam ao professor caminhar por conteúdos diversos das disciplinas
tradicionais capaz de imprimir nelas um caráter dinâmico envolvendo os estudantes com
as questões do seu próprio tempo.

       Entre os conhecimentos que hoje se fazem necessários, destacam-se os
procedimentos técnicos para organização da memória das experiências sociais, não só
nas instituições específicas (museus, centros de documentação, arquivos históricos etc.)
e nas escolas, mas em múltiplos espaços, inclusive em empresas. Desta feita,
considerando que o CDHIS é um lugar em que tem se acumulado um saber específico
sobre o trato com a memória social, propomos que se constitua como um espaço para
enriquecimento da formação dos futuros professores de história nesta área do
conhecimento.

              Outro aspecto que destacamos refere-se às políticas públicas de
preservação do patrimônio histórico no Brasil e as discussões relativas ao assunto. As
opiniões são diferenciadas e existe uma complexidade de políticas e normas que regem
as práticas de preservação. Heloísa Buarque de Hollanda salienta a dificuldade que
enfrentou para responder “adequadamente ao desafio de enfrentar os paradigmas
correntes da reflexão sobre o patrimônio e, sobretudo de tentar superar a dicotomia entre
o saber especializado dos técnicos e a compreensão de um processo cultural em
evolução”. Nesse sentido, quando nos deparamos com as políticas de preservação e as
práticas voltadas para a conservação de determinados elementos arquitetônicos,
percebemos que apenas uma elite seleta define as regras a serem seguidas. Desse modo,
grande parte das pessoas, que possuem relação íntima com eles é excluída do processo.
Então, algumas vezes, o ato da preservação acaba por se caracterizar como elitista,
estratificante ou mesmo, excludente. Concordamos que o saber especializado é
fundamental para o desenvolvimento de nossas políticas de patrimônio, mas
acreditamos também ser necessário levar em conta a opinião das pessoas cuja
experiência de vida se relaciona com o bem ou a prática cultural a ser preservada.
       Holanda ressalta ainda que “pode-se mesmo observar que, conjugado ao direito
ao saneamento, habitação e transporte, as políticas públicas em relação ao espaço
urbano expressam agora a preocupação com uma novíssima reivindicação, o „direito à
cidade‟. Este direito seria, mais ou menos, o direito de todos os cidadãos ao gozo do
espaço urbano como duplo exercício da história e da estética”.

       Porém, apesar de a reivindicação existir, não se constata que as práticas do poder
público estejam plenamente voltadas para o seu atendimento. Os órgãos administrativos
das cidades estão relegando a planos secundários quaisquer ações que objetivem a
preservação das tradições e da história daqueles que as habitam. Várias mudanças
relativas à ação preservacionista são ressaltadas no referido artigo, mas, percebemos
que, ao contrário do que diz Hollanda, não compõem um universo mais amplo. Estão
restritas principalmente às cidades maiores porque nessas, existe uma parcela de
intelectuais que investe numa tentativa de evitar o desgaste das “memórias nacionais”.

       Reportamo-nos também a Jerôme Monnet, cujas idéias nos ajudaram a
compreender que, para preservar não basta uma vontade isolada, mas que existe uma
grande complexidade relativa às políticas de preservação adotadas no país. Segundo o
autor, a questão do patrimônio é problemática, pois, ao admitirmos que tudo é
patrimônio, conseqüentemente, admitimos que tudo deve ser conservado. No entanto,
quando se trata da cidade e do país, sabemos que isso é impossível. Então, é necessário
fazer antes uma crítica radical e interrogar-se sobre o uso do conceito de patrimônio,
sobre os supostos da palavra. Segundo essa lógica, não há dúvida de que tudo pode ser
considerado patrimônio. Mas ele só existe porque protegemos algo que nomeamos
assim. Designação e proteção vão juntas. Segundo Monnet, quando postulamos um
objeto como sagrado, deduzimos que ele deve ser preservado e, “do fato mesmo de
protegê-lo, o sacralizamos, isolando-o do destino habitual das coisas; por ser
sacralizado, ele deve ser protegido”.

       Neste ponto cabe uma pergunta: quem são os responsáveis, atualmente, pelas
decisões quanto ao que deve ser preservado? Certa elite cultural? Será, então, que essa
elite se preocupará com os interesses e anseios da maioria na hora de decidir? Então,
uma participação mais efetiva por parte da população quanto à preservação de sua
história, suas tradições e seus monumentos, apenas contribui para a elaboração de
políticas cujo objetivo seja voltado para essa preservação. Quem sabe, se persistirmos
com nossos sonhos e lutas, as pessoas no mundo e, principalmente no Brasil, não serão
mais conscientes e participativas em relação às práticas de cidadania?

       Tendo em mente esses ideais, iniciei a atividade educativa com os estudantes
que foram divididos em grupos e se encarregaram de pesquisar a história de um bem
tombado específico e apresentar o resultado para os colegas em sala de aula. Isso foi
positivo, uma vez que possibilitou a troca de informações acerca da história da cidade.
A metodologia utilizada envolveu o trabalho com imagens, relatos orais e análise de
documentos impressos. Como suporte teórico, além dos historiadores que se dedicam à
memória como Alessandro Portelli e Pierre Nora, seguimos a orientação proposta por
Ecléa Bosi em “O Tempo Vivo da Memória”. Em seu livro, a autora faz uma crítica à
História ensinada nas escolas por deixar de lado os aspectos relativos ao cotidiano, aos
micro-comportamentos, cuja abordagem na Idade Média era denominada de crônicas.

        Com a concentração da burguesia nos centros urbanos, a história das cidades se
torna uma história política compacta e vai registrar o poder das grandes famílias, dos
reinos, da guerra entre os estados. A crônica será relegada com um gênero literário
menor que só ressurgirá nos anos setenta com a crise das grandes teorias da História.
Segundo Bosi, a importância da memória oral é muito grande para se constituir a
crônica do cotidiano e a história a que se refere a autora é a história de cada um,
construída ao longo da vida, a partir do cotidiano que ela considera sempre relevante,
pois, a toda hora somos capazes de recuperar aspectos do nosso passado, mas o relato
primordial é o que pode ser feito a outras pessoas porque, desse modo, o que vivemos
ganha uma dimensão social.

        Ao falar da cidade, trás aspectos que não são apenas visuais. Para ela, os sons, os
cheiros também despertam a memória e a memória oral é fecunda quando exerce a
função de intermediário cultural entre gerações.13 Dentre as sugestões feitas pela autora
sobre como trabalhar com História Oral destacamos, em primeiro lugar, a necessidade
de se obter informações objetivas a respeito do assunto que irá falar o depoente, assim
não estaremos “metendo os pés pelas mãos” a respeito da história e da geografia das
coisas que serão relatadas. Em seguida, devemos buscar uma aproximação pessoal aos
contextos dos quais ele pertence, indo, se possível, à sua casa, e “sair com ele, caminhar



13
  BOSI, Ecléa. O Tempo Vivo da Memória: ensaios da psicologia social. São Paulo: Ateliê Editorial,
2003, p. 72-73.
ao seu lado nos lugares em que os episódios lembrados ocorreram”. 14 É interessante
também entabular uma conversa prévia que possa nos informar a respeito das
preocupações do depoente, formando com ele laços de amizade porque assim nos
colocamos na posição da pessoa que se interessa por ele e quer partilhar sua
experiência.

           Tudo tem que ser anotado e transcrito, o que é possível por meio da gravação
que permite observar o que está por trás dos silêncios, das reticências. É importante
lembrar que o relato não tem que ter precisão histórica, pois ele tem sua própria
verdade, que é a da crença e da atitude. O dever do historiador é interpretá-lo, notar suas
contradições, seus limites.

           Tais orientações nortearam a pesquisa realizada pelos estudantes de sétima e
oitava série e isso ficou evidente ao apresentarem documentários sobre a Casa da
Cultura, a Oficina Cultural e a Praça Tubal Vilela. Ao comentarem a experiência
percebemos que é gratificante quando estendemos nosso trabalho para além da
academia. Meninos e meninas vislumbraram aspectos da sua cidade natal que até então
não valorizavam. Aspectos que vão sendo esquecidos à medida que a intervenção
urbana modifica a paisagem por meio de demolições e da construção de novos prédios
por aqueles que almejam uma cidade moderna.

           Neste sentido, pretendo continuar investigando que políticas de educação
patrimonial são desenvolvidas pela Secretaria Municipal de Cultura e o impacto que têm
produzido na comunidade escolar quando são implementadas.



BIBLIOGRAFIA:

BARBERO, Jesus Martin. Dos meios às mediações. Rio de Janeiro: UFRJ, 1997.

BECK, Ingrid et al. Manual de preservação de documentos, Rio de Janeiro, Arquivo
Nacional, 1996 (Publicações Técnicas, 46).

CHAUÍ, Marilena de Souza. Os trabalhos da memória. In: BOSI, Ecléa. Memória e
sociedade: lembranças de velhos. São Paulo: T. A. Queiroz, 1983.

ESTUDOS HISTÓRICOS(Arquivos pessoais), v. 11, n. 21, Rio de Janeiro, FGV, 1998.

14
     BOSI, Ecléa. Op. Cit. p. 72-73.
FAUSTO, Boris. A revolução de 30. São Paulo: Brasiliense, 1982

FENELON, Déa Ribeiro. Cultura e história social. Projeto História, n. 10, São Paulo,
PUC/Educ, 1993, p. 73-90.

GONÇALVES FILHO, José Moura. Memória e sociedade. Revista do Arquivo
Nacional, n. 200, São Paulo, Departamento do Patrimônio Histórico Municipal, 1992, p.
55-75.

HOLLANDA, Heloísa Buarque de. Cidade ou Cidades. In: Revista do Patrimônio
Histórico Artístico Nacional, (23), 1994, p. 11.

LOPES, Aline Moreira e PIMENTA, Cristina (orgs.). Como montar um centro de
documentação: democratização, organização e acesso ao conhecimento. Rio de Janeiro:
ABIA, 2003.

MACHADO, Maria Beatriz Pinheiro. Educação patrimonial: orientações para
professores do ensino fundamental e médio. Caxias do Sul, Maneco Livraria & Editora,
2004.

MARSON, Adalberto. Reflexões sobre o procedimento histórico. In: SILVA, Marcos
A. (org.). Repensando a história. Rio de Janeiro/São Paulo: Marco Zero/ANPUH/SP,
1984.

MENEZES, Ulpiano T. Bezerra de. A crise da memória, história e documento: reflexões
para um tempo de transformações. In: SILVA, Zélia Lopes. (org.). Arquivos, patrimônio
e memória: trajetórias e perspectivas. São Paulo: Unesp/FAPESP,1999.

MONNET, Jerôme. O Álibi do Patrimônio: Crise, Gestão Urbana e Nostalgia. In:
Revista do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, 2002.

NOVAIS, Fernando Antônio. Aproximações: estudos de história e historiografia. São
Paulo: Cosac Naify, 2005.

PAOLI, Maria Célia. Memória, história e cidadania: o direito ao passado. In: Direito à
memória: patrimônio histórico e cidadania. São Paulo: Departamento do Patrimônio
Histórico, 1992.

PROJETO HISTÓRIA(Trabalhos da memória), n.17. São Paulo, Educ, 1998.

REVISTA DO ARQUIVO MUNICIPAL, n. 200, São Paulo, Departamento do
Patrimônio Histórico Municipal, 1992.
SAMUEL, Raphael. História local e história oral. Revista Brasileira de História, v. 9, n.
19, São Paulo, ANPUH, 1989/1990, p. 219-243.

________. Teatros da Memória. In: Projeto História, São Paulo, (14), fev. 1997.

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Lugares de memória e patrimônio histórico

  • 1. OS LUGARES DE MEMÓRIA: PARA ALÉM DAS POLÍTICAS PÚBLICAS DE PRESERVAÇÃO DO PATRIMÔNIO HISTÓRICO E CULTURAL Ivanilda Aparecida Andrade Junqueira 1 Resumo: O projeto, “Os Lugares de Memória: para além das políticas públicas de preservação do patrimônio histórico e cultural”, teve como ponto de partida nosso interesse em compreender que significados possuem os remanescentes do passado e as “referências da memória” quanto aos bens “consagrados” e “não-consagrados” da cidade de Uberlândia/MG. Aborda o processo de “tombamento” realizado pelas instituições de proteção do patrimônio histórico e as estratégias utilizadas pelos órgãos específicos para a seleção desses “lugares”. Buscamos ainda investigar seus significados no imaginário dos estudantes de 5ª a 8ª série da Escola Estadual Tubal Vilela da Silva, em Uberlândia. Palavras-chave: Educação Patrimonial, memória, cidadania. Em 2006 desenvolvi um projeto na Escola Estadual Tubal Vilela da Silva em Uberlândia denominado “Os Lugares de Memória: para além das políticas públicas de preservação do patrimônio histórico e cultural” , o qual teve como ponto de partida o interesse em compreender que significados possuem os remanescentes do passado e as “referências da memória” quanto aos bens “consagrados” e “não-consagrados” da cidade de Uberlândia/MG. Procuramos abordar o processo de “tombamento” realizado pelas instituições de proteção do patrimônio histórico e as estratégias utilizadas pelos órgãos específicos para a seleção desses “lugares” investigando seus significados no imaginário dos estudantes de 5ª a 8ª série do ensino fundamental da referida escola. A educação patrimonial é um tema ausente ou pouco comum na atual agenda do ensino básico e médio brasileiro. Percebemos que o problema não é apenas o desconhecimento das políticas públicas de preservação, mas, trata-se também da desvalorização da consciência histórica, a qual permite valorizar e preservar a cultura material e a memória de nossa sociedade. As atividades de extensão desenvolvidas pelo Centro de Documentação e Pesquisa/CDHIS, da Universidade Federal de Uberlândia viabilizaram a realização do referido projeto ao promover a integração dos graduandos em História com a comunidade escolar. 1 Doutoranda pela Universidade Federal de Uberlândia e Professora da Faculdade Católica de Uberlândia.
  • 2. Procuramos promover a compreensão e a valorização dos aspectos ligados ao patrimônio material e imaterial brasileiro, pois pensamos que, além de ampliar o conhecimento sobre o patrimônio do sítio histórico, as atividades pedagógicas se voltaram para a conscientização por meio de ações educativas e informativas; palestras abertas sobre patrimônio cultural. Acreditamos que, além do enriquecimento da grade curricular dos graduandos em História que estagiam no Centro de Documentação e Pesquisa em História - CDHIS/UFU, também a comunidade escolar se beneficiou quanto aos aspectos culturais, sociais e econômicos, pois com as oficinas de Educação Patrimonial cujas atividades enfocam a aplicação do método através da experiência direta; entrevistas com pessoas da comunidade escolar; elaboração de projetos transdisciplinares na escola; elaboração de materiais didáticos, nossa tarefa pôde ser vista como um “resgate histórico”. Criado em 1985, o Centro de Documentação e Pesquisa em História partiu da iniciativa de um grupo de professores do Departamento de Ciências Sociais, o qual englobava os cursos de História e Geografia. Constituiu-se inicialmente como Núcleo de Pesquisa em História e Ciências Sociais (NUHCIS), abrigando documentos recolhidos na comunidade (fotos, coleções de jornais, documentos acumulados e guardados por memorialistas amantes da cidade, e, devido a essa diversidade temática de suas coleções e acervo, se adéqua às necessidades dos alunos do Programa de Pós Graduação em História, principalmente quando seus projetos são voltados para a pesquisa contemporânea e buscam a compreensão da cidade e seu cotidiano. Desde a sua criação desenvolveu um grande volume de projetos de pesquisa e de extensão junto à comunidade local e regional, sendo transferido, em 1992, para instalações próprias, no Bloco 1Q do Campus Santa Mônica, em prédio especialmente adaptado para acolhimento dos acervos históricos e do laboratório de restauro de documentos. A partir de maio de 2003, sofreu novas alterações, passando a incorporar outro órgão de extensão do Instituto de História, o Laboratório de Ensino e Aprendizagem em História-LEAH, ampliando seus acervos com produções acadêmicas e documentos relativos ao ensino de História e expandindo as atividades de extensão. Por meio da coleta, organização e preservação de arquivos de instituições ou pessoais, o CDHIS tem por missão contribuir para o ensino, pesquisa e extensão na área de História oferecendo suporte à pesquisa não somente para o Instituto de História,
  • 3. mas para todos os setores, das ciências humanas ou não, voltados para uma perspectiva histórica dos fatos, no contexto brasileiro, regional e local. Cabe lembrar, que os centros de documentação são “lugares” em que os processos históricos são retomados e reconstruídos, frutos de uma multiplicidade de documentos produzidos em distintas épocas. Longe de serem simples depositários de documentos, os centros “oferecem o passado trazendo a história em narrativas que reencontram o indivíduo nos ambientes intersubjetivos nos quais experimentou, não sem contradições, a si mesmo e ao mundo”.2 A documentação guardada nestes espaços traz à tona fatos, versões, acontecimentos, memórias que sobrevivem ao tempo, possibilitando olhares e abordagens diferenciadas. Nesse sentido, ao mencionar a(s) memória(s) não estamos falando, pura e simplesmente, de “nostalgia”, mas do “amor pelo passado. (...) A nostalgia nasce no espírito indefeso que não suporta a visão do presente e então se evade: foge para o passado, um passado de ouro, meio falsificado e que distrai nossas dores. A memória, pelo contrário, é ir ao encontro do presente depois de ter se banhado nas visões de um outro tempo.3 Preservar a memória é, sem dúvida alguma, uma das formas de garantir o direito à história dos vencedores e dos vencidos. “A memória regula posições existenciais e políticas, fazendo buscar no passado seiva e inspiração para as apostas ativas de futuro”4. Não podemos esquecer que a questão da memória “é de tal modo central na reflexão sobre o ofício do historiador que reponta também nos estudos sobre o ensino da História. Pois é por intermédio do ensino que se transmite mais diretamente o cânon factual que o discurso historiográfico vai gestando nos seus vários estratos, desde a pesquisa de ponta até as obras de divulgação e os livros didáticos.5 Desse modo, instituições culturais, como centros de documentação, arquivos, bibliotecas, museus foram “freqüentemente apontados como castelos, repletos de tesouros de valor inestimável, comparáveis, todavia, a templos sagrados intocáveis e inatingíveis. Hoje, felizmente, aquelas instituições ressurgem da inanição, reagem, buscam atualizar-se tentando compensar o tempo perdido. Assistimos à revisão de conceitos e à valorização e alargamento dos serviços que desenvolvem. Esses serviços 2 GONÇALVES FILHO, José Moura. Memória e sociedade. Revista do Arquivo Nacional, n. 200, São Paulo, Departamento do Patrimônio Histórico Municipal, 1992, p. 61. 3 Idem, ibidem, p. 49 e 61. 4 Idem, ibidem, p. 62. 5 NOVAIS, Fernando Antônio. Aproximações: estudos de história e historiografia. São Paulo: Cosac Naify, 2005, p. 308.
  • 4. poderiam ser representados através da figura simbólica de pontes levadiças, que põem em comunicação os interessados com os conjuntos documentais, valiosos acervos zelosamente conservados naqueles castelos. Considerando que os acervos custodiados nos castelos não sejam conjuntos fechados, estáticos, mas ao contrário sejam enriquecidos continuamente, os serviços têm que se atualizar em ritmo dinâmico, para não envelhecer antes de completar-se, isto é, antes de atender o usuário”.6 Por isso, o CDHIS tem como uma de suas principais responsabilidades instrumentalizar a relação pesquisa - ensino - extensão, não se esquecendo do papel social e cultural que desempenha na universidade e na região7. Como assinala Yara Aun Khoury, “tudo isso se desenvolve na medida em que a cultura universitária passa a melhor compreender a natureza dos centros de documentação e seu significado para a pesquisa, para o ensino e a extensão, em vários níveis, e na medida em que se estreitam as relações entre os pesquisadores e esses organismos, dentro de um entendimento de que seus respectivos trabalhos se desenvolvem em áreas de conhecimentos específicas”. 8 Os centros de documentação organizados e tornados disponíveis à consulta servem principalmente de apoio às pesquisas realizadas por docentes e alunos da comunidade acadêmica. Como desdobramento natural desse trabalho, eles atuam com a finalidade de ampliar o alcance de seus serviços aos demais segmentos sociais, procurando atingir aqueles que se configuram como usuários interessados em informações. Assim, desdobram-se em atividades de extensão universitária, buscando atingir não apenas novos pesquisadores: Mas, sobretudo unir-se a outras instituições cuja tarefa básica seja a de preservar o patrimônio documental do país. Engajam-se, dessa maneira, nos esforços gerais de preservação do patrimônio histórico nacional e dos seus bens culturais. Como se vê, é uma proposta de trabalho muito importante, absolutamente necessária e que desempenha um papel fundamental, ampliando as possibilidades do exercício da cidadania. É base para a construção do conhecimento 6 OLIVEIRA, Daise Aparecida. Arquivo e documento. Revista do Arquivo Nacional, n. 200, São Paulo, Departamento do Patrimônio Histórico Municipal, 1992, p. 113. 7 O CDHIS, como órgão do serviço público, tem a missão de “receber, preservar, organizar e servir”. Ver MANUAL DE ORIENTAÇÃO PARA ARQUIVOS. Porto Alegre: Comissão Executiva do Sesquicentenário da Revolução Farroupilha/Subcomissão de Publicações e Concursos/ Arquivo histórico do Rio Grande do Sul, 1985, p. 18. 8 KHOURY, Yara Aun. Centros de documentação universitários: significado e implantação. Texto digitado, 2001, p. 22.
  • 5. científico e, de outro modo, opera como uma das possibilidades de interferir na sua transformação em conhecimento público, por meio do acesso democratizado à informação especializada.9 De caráter multidisciplinar; destacamos a realização de exposições, a participação e organização de projetos de extensão, como o Encontro de Professores do Triangulo Mineiro, a organização e apresentação de seminários, oficinas e mini-cursos voltados à comunidade acadêmica, a professores e alunos do ensino fundamental e médio, estudos e cursos sobre arquivos. Quanto aos documentos arquivados e sua relação com as práticas de arquivo e de ensino podemos dizer que a diversidade dos testemunhos do passado é muito grande. Tudo quanto se diz ou se escreve, tudo quanto se produz e se fabrica pode ser um documento histórico. As fontes “são infinitamente variadas, incluindo tanto achados arqueológicos como restos literários, cultura material, manuscritos e arquivos, dialetos e fala ou a palavra impressa” 10. Antigamente a idéia de um documento histórico era a de “papéis velhos”, referentes a “pessoas importantes”, as quais eram vistas como os condutores da história. Atualmente tem-se consciência de que, entre outros exemplos, uma caderneta de despesas de uma dona de casa, um programa de teatro, um cardápio de restaurante, um folheto de propaganda, são verdadeiros documentos históricos, significativos e reveladores de seu momento. O trabalho com os documentos, quais quer sejam, exigem cuidados e critérios rigorosos, pois estes não estão isolados do contexto social. Mais, “não é inteiramente explicativo em si, ao lado das significações explícitas tem as implícitas e as não manifestas, tendo o historiador a necessidade de trabalhar (...) dentro dele (o que diz) e fora dele (o que representa); (...) Não é espelho da realidade, mas essencialmente representação do real, de momentos particulares da realidade; sua existência é dada no âmbito de uma prática determinada”. 11 Vale realçar, então, que uma particularidade dos centros de documentação das universidades brasileiras é “tornar a fonte próxima ao pesquisador, mas também trazer as fontes documentais que estão sendo perdidas, produzidas, muitas vezes, pelo próprio 9 CAMARGO, Célia Reis. Os centros de documentação das universidades: tendências e perspectivas. In: SILVA, Zélia Lopes. (org.). Arquivos, patrimônio e memória: trajetórias e perspectivas. São Paulo: Unesp/FAPESP, 1999, p. 50 e 51. 10 SAMUEL, Raphael. História local e história oral. Revista Brasileira de História, v. 9, n. 19, São Paulo, ANPUH, 1989/1990, p. 220. 11 MARSON, Adalberto. Reflexões sobre o procedimento histórico. In: SILVA, Marcos A. (org.). Repensando a história. Rio de Janeiro/São Paulo: Marco Zero/ANPUH/SP, 1984, p. 53.
  • 6. poder público, a quem caberia, por dever, preservá-las e torná-las disponíveis à consulta pública. (...) É preciso dizer que a ênfase para a preservação dos documentos que estão em torno da universidade, a preocupação com a documentação (...) é uma prática de grande importância. Não apenas do ponto de vista da preservação dos registros (...), mas como forma de viabilizar as pesquisas de pós-graduação e, especialmente, as de iniciação científica, uma vez que os alunos, nesse processo de aprendizagem no manejo das fontes primárias, ao mesmo tempo em que realizam o seu curso, podem fazê-lo de forma mais fácil e completa. Afinal, as ciências humanas necessitam de laboratórios de pesquisa tanto quanto as outras áreas do conhecimento. (...) Os centros (...) trazem grandes possibilidades de avanço, em particular no exercício da pesquisa, acessível a um número maior de alunos. É preciso reconhecer que ainda somos muito carentes de espaços e de oportunidades para sua realização, ao menos no âmbito do ensino da graduação”.12 A preservação dos documentos se impõe como uma necessidade no mundo contemporâneo. Cresce a demanda pela constituição de centros de memória e concomitantemente as atividades relativas à rememoração de acontecimentos significativos para os grupos sociais. A “guarda” desses vestígios tem o mérito de evidenciar o fazer dos grupos sociais. À medida que este fazer se refaz no ato de lembrar e refletir, cimenta o sentimento de pertencimento e a consciência da cidadania dos sujeitos envolvidos. O CDHIS – local de guarda e de preservação da memória social – tem se esmerado na busca da interdisciplinaridade entre teoria e prática uma vez que os cursos de História (diurno e noturno) oferecidos pela Universidade Federal de Uberlândia/UFU não disponibilizam na sua grade curricular, disciplinas que permitam aos alunos saber como “tratar” o documento embora este seja considerado ferramenta imprescindível ao historiador. Portanto, os projetos desenvolvidos pelo CDHIS, tem como finalidade básica contribuir para a preparação dos licenciados em história com vista ao trabalho pedagógico de organização e preservação da mémoria social. Tal experiência leva em consideração a superação do conceito de currículo apenas como o elenco rígido 12 CAMARGO, Célia Reis. Os centros de documentação das universidades: tendências e perspectivas, op. cit., p. 60.
  • 7. disciplinar que compõe um curso. Reflexões sobre o tema tem levado à percepção de que a formação do estudante como sujeito do seu tempo se dá por meio de todas as ações realizadas para esse fim. Em vista disso, o currículo escolar, atualmente é concebido como o conjunto das atividades que contribuem para a formação intelectual e a preparação profissional do estudante inseridas em uma perspectiva interacionista. Os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) ao proporem os temas transversais, dão abertura para o enriquecimento dos currículos nos níveis fundamental e médio. Possibilitam ao professor caminhar por conteúdos diversos das disciplinas tradicionais capaz de imprimir nelas um caráter dinâmico envolvendo os estudantes com as questões do seu próprio tempo. Entre os conhecimentos que hoje se fazem necessários, destacam-se os procedimentos técnicos para organização da memória das experiências sociais, não só nas instituições específicas (museus, centros de documentação, arquivos históricos etc.) e nas escolas, mas em múltiplos espaços, inclusive em empresas. Desta feita, considerando que o CDHIS é um lugar em que tem se acumulado um saber específico sobre o trato com a memória social, propomos que se constitua como um espaço para enriquecimento da formação dos futuros professores de história nesta área do conhecimento. Outro aspecto que destacamos refere-se às políticas públicas de preservação do patrimônio histórico no Brasil e as discussões relativas ao assunto. As opiniões são diferenciadas e existe uma complexidade de políticas e normas que regem as práticas de preservação. Heloísa Buarque de Hollanda salienta a dificuldade que enfrentou para responder “adequadamente ao desafio de enfrentar os paradigmas correntes da reflexão sobre o patrimônio e, sobretudo de tentar superar a dicotomia entre o saber especializado dos técnicos e a compreensão de um processo cultural em evolução”. Nesse sentido, quando nos deparamos com as políticas de preservação e as práticas voltadas para a conservação de determinados elementos arquitetônicos, percebemos que apenas uma elite seleta define as regras a serem seguidas. Desse modo, grande parte das pessoas, que possuem relação íntima com eles é excluída do processo. Então, algumas vezes, o ato da preservação acaba por se caracterizar como elitista, estratificante ou mesmo, excludente. Concordamos que o saber especializado é fundamental para o desenvolvimento de nossas políticas de patrimônio, mas acreditamos também ser necessário levar em conta a opinião das pessoas cuja
  • 8. experiência de vida se relaciona com o bem ou a prática cultural a ser preservada. Holanda ressalta ainda que “pode-se mesmo observar que, conjugado ao direito ao saneamento, habitação e transporte, as políticas públicas em relação ao espaço urbano expressam agora a preocupação com uma novíssima reivindicação, o „direito à cidade‟. Este direito seria, mais ou menos, o direito de todos os cidadãos ao gozo do espaço urbano como duplo exercício da história e da estética”. Porém, apesar de a reivindicação existir, não se constata que as práticas do poder público estejam plenamente voltadas para o seu atendimento. Os órgãos administrativos das cidades estão relegando a planos secundários quaisquer ações que objetivem a preservação das tradições e da história daqueles que as habitam. Várias mudanças relativas à ação preservacionista são ressaltadas no referido artigo, mas, percebemos que, ao contrário do que diz Hollanda, não compõem um universo mais amplo. Estão restritas principalmente às cidades maiores porque nessas, existe uma parcela de intelectuais que investe numa tentativa de evitar o desgaste das “memórias nacionais”. Reportamo-nos também a Jerôme Monnet, cujas idéias nos ajudaram a compreender que, para preservar não basta uma vontade isolada, mas que existe uma grande complexidade relativa às políticas de preservação adotadas no país. Segundo o autor, a questão do patrimônio é problemática, pois, ao admitirmos que tudo é patrimônio, conseqüentemente, admitimos que tudo deve ser conservado. No entanto, quando se trata da cidade e do país, sabemos que isso é impossível. Então, é necessário fazer antes uma crítica radical e interrogar-se sobre o uso do conceito de patrimônio, sobre os supostos da palavra. Segundo essa lógica, não há dúvida de que tudo pode ser considerado patrimônio. Mas ele só existe porque protegemos algo que nomeamos assim. Designação e proteção vão juntas. Segundo Monnet, quando postulamos um objeto como sagrado, deduzimos que ele deve ser preservado e, “do fato mesmo de protegê-lo, o sacralizamos, isolando-o do destino habitual das coisas; por ser sacralizado, ele deve ser protegido”. Neste ponto cabe uma pergunta: quem são os responsáveis, atualmente, pelas decisões quanto ao que deve ser preservado? Certa elite cultural? Será, então, que essa elite se preocupará com os interesses e anseios da maioria na hora de decidir? Então, uma participação mais efetiva por parte da população quanto à preservação de sua história, suas tradições e seus monumentos, apenas contribui para a elaboração de políticas cujo objetivo seja voltado para essa preservação. Quem sabe, se persistirmos
  • 9. com nossos sonhos e lutas, as pessoas no mundo e, principalmente no Brasil, não serão mais conscientes e participativas em relação às práticas de cidadania? Tendo em mente esses ideais, iniciei a atividade educativa com os estudantes que foram divididos em grupos e se encarregaram de pesquisar a história de um bem tombado específico e apresentar o resultado para os colegas em sala de aula. Isso foi positivo, uma vez que possibilitou a troca de informações acerca da história da cidade. A metodologia utilizada envolveu o trabalho com imagens, relatos orais e análise de documentos impressos. Como suporte teórico, além dos historiadores que se dedicam à memória como Alessandro Portelli e Pierre Nora, seguimos a orientação proposta por Ecléa Bosi em “O Tempo Vivo da Memória”. Em seu livro, a autora faz uma crítica à História ensinada nas escolas por deixar de lado os aspectos relativos ao cotidiano, aos micro-comportamentos, cuja abordagem na Idade Média era denominada de crônicas. Com a concentração da burguesia nos centros urbanos, a história das cidades se torna uma história política compacta e vai registrar o poder das grandes famílias, dos reinos, da guerra entre os estados. A crônica será relegada com um gênero literário menor que só ressurgirá nos anos setenta com a crise das grandes teorias da História. Segundo Bosi, a importância da memória oral é muito grande para se constituir a crônica do cotidiano e a história a que se refere a autora é a história de cada um, construída ao longo da vida, a partir do cotidiano que ela considera sempre relevante, pois, a toda hora somos capazes de recuperar aspectos do nosso passado, mas o relato primordial é o que pode ser feito a outras pessoas porque, desse modo, o que vivemos ganha uma dimensão social. Ao falar da cidade, trás aspectos que não são apenas visuais. Para ela, os sons, os cheiros também despertam a memória e a memória oral é fecunda quando exerce a função de intermediário cultural entre gerações.13 Dentre as sugestões feitas pela autora sobre como trabalhar com História Oral destacamos, em primeiro lugar, a necessidade de se obter informações objetivas a respeito do assunto que irá falar o depoente, assim não estaremos “metendo os pés pelas mãos” a respeito da história e da geografia das coisas que serão relatadas. Em seguida, devemos buscar uma aproximação pessoal aos contextos dos quais ele pertence, indo, se possível, à sua casa, e “sair com ele, caminhar 13 BOSI, Ecléa. O Tempo Vivo da Memória: ensaios da psicologia social. São Paulo: Ateliê Editorial, 2003, p. 72-73.
  • 10. ao seu lado nos lugares em que os episódios lembrados ocorreram”. 14 É interessante também entabular uma conversa prévia que possa nos informar a respeito das preocupações do depoente, formando com ele laços de amizade porque assim nos colocamos na posição da pessoa que se interessa por ele e quer partilhar sua experiência. Tudo tem que ser anotado e transcrito, o que é possível por meio da gravação que permite observar o que está por trás dos silêncios, das reticências. É importante lembrar que o relato não tem que ter precisão histórica, pois ele tem sua própria verdade, que é a da crença e da atitude. O dever do historiador é interpretá-lo, notar suas contradições, seus limites. Tais orientações nortearam a pesquisa realizada pelos estudantes de sétima e oitava série e isso ficou evidente ao apresentarem documentários sobre a Casa da Cultura, a Oficina Cultural e a Praça Tubal Vilela. Ao comentarem a experiência percebemos que é gratificante quando estendemos nosso trabalho para além da academia. Meninos e meninas vislumbraram aspectos da sua cidade natal que até então não valorizavam. Aspectos que vão sendo esquecidos à medida que a intervenção urbana modifica a paisagem por meio de demolições e da construção de novos prédios por aqueles que almejam uma cidade moderna. Neste sentido, pretendo continuar investigando que políticas de educação patrimonial são desenvolvidas pela Secretaria Municipal de Cultura e o impacto que têm produzido na comunidade escolar quando são implementadas. BIBLIOGRAFIA: BARBERO, Jesus Martin. Dos meios às mediações. Rio de Janeiro: UFRJ, 1997. BECK, Ingrid et al. Manual de preservação de documentos, Rio de Janeiro, Arquivo Nacional, 1996 (Publicações Técnicas, 46). CHAUÍ, Marilena de Souza. Os trabalhos da memória. In: BOSI, Ecléa. Memória e sociedade: lembranças de velhos. São Paulo: T. A. Queiroz, 1983. ESTUDOS HISTÓRICOS(Arquivos pessoais), v. 11, n. 21, Rio de Janeiro, FGV, 1998. 14 BOSI, Ecléa. Op. Cit. p. 72-73.
  • 11. FAUSTO, Boris. A revolução de 30. São Paulo: Brasiliense, 1982 FENELON, Déa Ribeiro. Cultura e história social. Projeto História, n. 10, São Paulo, PUC/Educ, 1993, p. 73-90. GONÇALVES FILHO, José Moura. Memória e sociedade. Revista do Arquivo Nacional, n. 200, São Paulo, Departamento do Patrimônio Histórico Municipal, 1992, p. 55-75. HOLLANDA, Heloísa Buarque de. Cidade ou Cidades. In: Revista do Patrimônio Histórico Artístico Nacional, (23), 1994, p. 11. LOPES, Aline Moreira e PIMENTA, Cristina (orgs.). Como montar um centro de documentação: democratização, organização e acesso ao conhecimento. Rio de Janeiro: ABIA, 2003. MACHADO, Maria Beatriz Pinheiro. Educação patrimonial: orientações para professores do ensino fundamental e médio. Caxias do Sul, Maneco Livraria & Editora, 2004. MARSON, Adalberto. Reflexões sobre o procedimento histórico. In: SILVA, Marcos A. (org.). Repensando a história. Rio de Janeiro/São Paulo: Marco Zero/ANPUH/SP, 1984. MENEZES, Ulpiano T. Bezerra de. A crise da memória, história e documento: reflexões para um tempo de transformações. In: SILVA, Zélia Lopes. (org.). Arquivos, patrimônio e memória: trajetórias e perspectivas. São Paulo: Unesp/FAPESP,1999. MONNET, Jerôme. O Álibi do Patrimônio: Crise, Gestão Urbana e Nostalgia. In: Revista do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, 2002. NOVAIS, Fernando Antônio. Aproximações: estudos de história e historiografia. São Paulo: Cosac Naify, 2005. PAOLI, Maria Célia. Memória, história e cidadania: o direito ao passado. In: Direito à memória: patrimônio histórico e cidadania. São Paulo: Departamento do Patrimônio Histórico, 1992. PROJETO HISTÓRIA(Trabalhos da memória), n.17. São Paulo, Educ, 1998. REVISTA DO ARQUIVO MUNICIPAL, n. 200, São Paulo, Departamento do Patrimônio Histórico Municipal, 1992.
  • 12. SAMUEL, Raphael. História local e história oral. Revista Brasileira de História, v. 9, n. 19, São Paulo, ANPUH, 1989/1990, p. 219-243. ________. Teatros da Memória. In: Projeto História, São Paulo, (14), fev. 1997.