2. O Documento de Aparecida
e o texto de estudo da CNBB,
“Comunidade de Comunidades:
Uma nova Paróquia,”
enfrenta os desafios que derivam
da recepção e da herança do Concílio
Vaticano II num contexto sociocultural
e religioso profundamente mudado,
“UMA MUDANÇA DE ÉPOCA”.
3. 1,2 bilhão de seguidores em todo o mundo.
586 milhões vivem no continente americano,
incluindo 483 milhões (41,3%) na América Latina.
O Brasil, com 123 milhões de fiéis, de acordo com
dados do último censo, é o país com o maior número
de católicos do mundo.
Em seguida aparece o México, com quase 93 milhões,
também de acordo com o censo local.
O Anuário de Estatística da Igreja revela que o
número de fiéis cresceu em todos os continentes,
em relação ao ano anterior.
Houve um incremento de mais de 15 milhões de
católicos.
4. Uma Igreja a serviço do Reino de Deus,
com o anúncio da Palavra da libertação,
com uma opção clara pelos pobres,
com uma vida litúrgica e sacramental que é seu
sinal antecipador e realizador,
com uma vida de comunidade pensada e vivida
como sinal na história das lógicas do Reino da
justiça, comunhão, reconciliação.
Sinal legível e compreensível para a sociedade
atual, sinal não contraditório em relação à
mensagem transmitida.
É neste horizonte que conduz a uma
transformação necessária e urgente do rosto da
Igreja que faremos o estudo deste documento.
5.
6. “Toda a renovação da Igreja consiste
essencialmente numa maior fidelidade à própria
vocação [...] A Igreja peregrina é chamada por
Cristo a essa reforma perene. Como instituição
humana e terrena, a Igreja necessita
perpetuamente desta reforma. Assim, se em
vista das circunstâncias das coisas e dos tempos
houve deficiências, quer na moral, quer na
disciplina eclesiástica, quer também no modo
de enunciar a doutrina – modo que deve
cuidadosamente distinguir-se do próprio
depósito da fé –, tudo seja reta e devidamente
restaurado no momento oportuno.”
(Lumen Gentium 8 e Unitatis Redintegratio 2)
7. A sociedade moderna é uma sociedade que se sabe
histórica, que não põe no centro a ideia do ser imutável,
mas a ideia de um ser-no-devir e a ideia da história; é
uma cultura que pensa a identidade não como um
permanecer num elemento adquirido uma vez por todas,
mas como construção progressiva de uma identidade
jamais concluída, o “espírito da eterna revisão”.
Também a Igreja é inspirada nesse pensamento: a
identidade eclesial é uma identidade sempre em mudança;
a Igreja não é uma instituição sempre igual a si mesma,
mas é uma realidade que se estende no tempo, uma
comunidade que vive na história.
Como toda outra instituição humana, ela vive do tempo,
teve uma origem, um processo de institucionalização
progressivo e uma trajetória histórica, uma evolução.
8. 50 anos depois do Concilio Vaticano II assistimos
a passagem de uma eclesiologia universalística,
centrada na ideia e na forma de uma Igreja
(societas) e fundada no princípio de autoridade,
fortemente centralizada, que tende a exaltar uma
concepção de unidade pensada e atuada a partir
de uma procurada uniformidade disciplinar e
litúrgica, a uma nova ideia de Igreja, que
considera de novo os indivíduos (o povo de
Deus, a relação leigos-ministros ordenados), a
essência e as dinâmicas constitutivas da Igreja
(comunhão pelo anúncio), o fim (servir ao Reino
de Deus na história humana).
9.
10. Cresceu a consciência de que a Igreja está
perdendo influência e visibilidade na nova
sociedade.
A juventude afasta-se dela, cresceram as igrejas
pentecostais no mundo popular.
Houve várias experiências missionárias, muitas
nem sairam do papel e outras tiveram pouca
repercussão, sobretudo no mundo urbano
popular.
O clero não estava preparado, não apoiou a
iniciativa. “A Igreja caminha com os pés dos
presbíteros. Quando eles param, a Igreja tem
dificuldade de avançar; quando eles se movem, a
Igreja se move... Na verdade, exercem um
ministério estratégico e essencial para a vida
concreta e quotidiana da Igreja.” (D. Claudio Hummes)
11. A consciência e a inquietação aumentaram os cursos
para formação mas, passar do curso para a prática é
muito difícil!
Durante uma geração a Igreja de João Paulo II,
entregou a tarefa missionária aos chamados
“movimentos”. Os movimentos passam a ocupar uma
posição dominante: Principais protagonistas da
evangelização.
Os movimentos não conseguiram penetrar no mundo
popular. Gastaram muita energia para defender os
direitos da Igreja e sua doutrina moral, sem
conseguir influir na sociedade e com relação às
implicações da doutrina social ficaram mudos. Com
isso a Igreja perdeu relevância na sociedade. A
intenção era o contrário.
Houve também a experiência das CEBs. O projeto
respondia às aspirações dos cristãos do mundo
moderno, sobretudo os de mentalidade urbana
12. Não podemos relativizar o problema do
pentecostalismo.
Nos últimos anos apareceram movimentos que
adotaram os métodos neo-pentecostais: o show
substitui a liturgia e a emoção ficou confundida
com a fé, além de um forte investimento no
retorno à prática devocional.
Depois vieram as novas comunidades e ainda os
movimentos ultra-conservadores, revelando
certa oposição ao Vaticano II.
Neste século XXI a missão será a prioridade e
deixará em segundo plano a administração da
pequena minoria que frequenta nossas
paróquias.
Como passar de uma Igreja conservadora do
passado a uma Igreja toda missionária?
13.
14. PROVOCAR UMA COMOÇÃO na Igreja que seja
capaz de realizar a mudança - Conversão ou
transformação da Igreja através de uma comoção –
sair da instalação da comunidade, da indiferença.
Ir além de uma pastoral de mera conservação para
uma PASTORAL MISSIONÁRIA
Ratificar – potencializar a OPÇÃO PREFERENCIAL
PELOS POBRES
ABANDONAR AS ULTRAPASSADAS ESTRUTURAS
que já não favoreçam a transmissão da fé
15. “Assumimos o compromisso de uma grande missão
em todo o Continente, que nos exigirá aprofundar e
enriquecer todas as razões e motivações que
permitam converter a cada cristão em um discípulo
missionário.
A Igreja necessita de uma forte comoção que a
impeça de se instalar na comodidade, no
estancamento e na indiferença, à margem do
sofrimento dos pobres do Continente. Necessitamos
que cada comunidade cristã se transforme num
poderoso centro de irradiação da vida em Cristo.
Esperamos um novo Pentecostes que nos livre do
cansaço, da desilusão, da acomodação ao ambiente;
esperamos uma vinda do Espírito que renove nossa
alegria e nossa esperança”.
(DAp 362)
16. “A conversão pastoral de nossas comunidades exige
que se vá além de uma pastoral de mera
conservação para uma pastoral decididamente
missionária. Assim, será possível que “o único
programa do Evangelho siga introduzindo-se na
história de cada comunidade eclesial” com novo
ardor missionário, fazendo com que a Igreja se
manifeste como uma mãe que nos sai ao encontro,
uma casa acolhedora, uma escola permanente de
comunhão missionária.”
(DAp 370)
17. “Comprometemo-nos a trabalhar para que a
nossa Igreja Latino-americana e Caribenha
continue sendo, com maior afinco, companheira
de caminho de nossos irmãos mais pobres,
inclusive até o martírio.
Hoje queremos ratificar e potencializar a opção
preferencial pelos pobres feita nas Conferências
anteriores. Que sendo preferencial implique que
deva atravessar todas nossas estruturas e
prioridades pastorais. A Igreja Latino-americana
é chamada a ser sacramento de amor, de
solidariedade e de justiça entre nossos povos.”
(DAp 396)
18. “Esta firme decisão missionária deve impregnar
todas as estruturas eclesiais e todos os planos
pastorais de dioceses, paróquias, comunidades
religiosas, movimentos e de qualquer instituição
da Igreja.
Nenhuma comunidade deve se isentar de entrar
decididamente, com todas suas forças, nos
processos constantes de renovação missionária e
de abandonar as ultrapassadas estruturas que já
não favoreçam a transmissão da fé.” (DAp 365)
19.
20. A transformação da Igreja e da paróquia quem
vai fazer? Se forem os mesmo que estão dentro
do atual quadro que terão agora que entrar no
dinamismo de uma Igreja missionária, por que
não o fizeram até agora?
Podemos esperar que as mesmas pessoas vão
mudar e realizar essa transformação?
Os que estão dentro da Igreja não querem
conversão pastoral, continuarão nas mesmas
atividades de sempre. Vai ser necessário apelar
para os católicos que não frequentam unidos aos
pequenos grupos de convertidos.
21.
22. Como imaginar que o clero, preparado para
administrar paróquias vai agora dedicar-se a
atividades missionárias? Ou renovar as
paróquias?
23. Já São Tomás de Aquino na
idade media, tinha dito: na
cidade, a paróquia não
evangeliza, nem o clero
paroquial.
Depois de 800 anos foi aqui
na America que se iniciou
uma mudança desejada por
São Tomás, ele pensava que
os mendicantes
dominicanos e
franciscanos, poderiam
suprir, mas já não são
suficientes, precisa-se de
uma mudança radical.
24. “Não entendo as comunidades
cristãs que estão fechadas, na
paróquia. Quero dizer-lhes
algo.
No Evangelho é bonita a
passagem que nos fala do
pastor que, quando volta ao
curral, se dá conta de que falta
uma ovelha: deixa as 99 e vai
buscá-la, vai buscar uma
ovelha. Mas, irmãos e irmãs,
nós temos uma ovelha; faltam
as 99! Devemos sair, devemos
ir até as outras! Nesta cultura
—digamos a verdade— temos
só uma, somos minoria! E
sentimos o fervor, o zelo
apostólico de ir e sair a buscar
as outras 99?
25. Esta é uma grande responsabilidade
e devemos pedir ao Senhor a graça
da generosidade e o valor e a
paciência para sair, para sair
anunciando o Evangelho. Ah isto é
difícil! É mais fácil ficar em casa,
com essa única ovelha. É mais fácil
com essa ovelha balançá-la,
acariciá-la... mas, nossos
sacerdotes, também vocês cristãos,
todos: o Senhor nos quer pastores,
não balançadores de ovelhas;
pastores! E quando uma comunidade
está fechada, sempre com as
mesmas pessoas que falam, esta
comunidade não é uma comunidade
que dá vida. É uma comunidade
estéril, não é fecunda. A fecundidade
do Evangelho vem pela graça de
Jesus Cristo, mas através de nós, de
nossa pregação, de nossa valentia,
de nossa paciência.”
◦ (S.S. Francisco, 17 de junho de 2013)
26. A população é mais urbanizada que há 10 anos:
em 2000, 81% dos brasileiros viviam em áreas
urbanas, agora são 84%.
Em 2010, apenas 15,65% da população
(29.852.986 pessoas) viviam em situação rural,
contra 84,35% em situação urbana (160.879.708
pessoas).
No BRIC, o Brasil é o que possui maior grau de
urbanização, pois a Rússia tem 73%, a China,
47% e a Índia, apenas 30%. Os EUA possui grau
de urbanização pouco menor do que o do Brasil:
82%.
Censo 2010
27. Dados de 2010 (Censo do IBGE):
- Igreja Católica Apostólica Romana: 64,6%
- Igrejas Evangélicas: 22,2%
- Espírita: 2%
- Umbanda e Candomblé: 0,3%
- Sem religião 8%
- Outras religiosidades: 2,7%
- Não sabe / não declarou: 0,1%
28. Em dez anos, o candomblé foi a religião que,
estatisticamente, mais cresceu na Paraíba.
Em 2000, apenas 417 paraibanos se autodeclararam
praticantes da doutrina. Uma década depois, esse número
subiu para 1.311, representando um aumento de 214%.
Em segundo lugar no ranking de expansão, apareceram os
evangélicos, que aumentaram 88,3%. Em 2000, a Paraíba
possuía 303.151 praticantes dessa religião. Mas a
quantidade saltou para 571.015, uma década depois.
Houve crescimento também entre os espíritas, que eram
12.499, em 2000; e somaram 23.175, em 2010. A variação
foi de 85,4%.
A população católica diminuiu em 0,9%, no mesmo período.
O somatório dos religiosos saiu dos 2.924.154 em 2000
para 2.898.656, em 2010. Em números absolutos, a
redução foi de 25.498 pessoas.
Aumentou a quantidade de pessoas que não seguem a
nenhuma religião. Em 2000, os chamados “sem religião”
eram 177.303 na Paraíba. Em 2010, a quantidade chegou a
213.214.
29. “A Igreja de Deus na América latina é casa dos pobres de Deus.”
(DAp 524)
30. “A opção pelos pobres
está implícita
na fé cristológica
naquele Deus
que se fez pobre por
nós, para nos
enriquecer
com sua pobreza.”
(Bento XVI em Aparecida)
31. A opção pelos pobres deve ser vivida de acordo
com o contexto e as exigências de cada lugar e
de cada momento histórico.
Aparecida chama a atenção para o fato de que a
globalização faz emergir novos rostos de pobres
e faz um grande elenco de rostos concretos dos
novos excluídos, a quem a pastoral da Igreja
deve dar particular atenção.
Os aspectos da pobreza e os rostos dos pobres
podem variar de acordo com os tempos e os
lugares, mas a opção pelos pobres está implícita
na fé cristológica, portanto não é uma opção
estratégica, mas cristológica. Constitui uma
característica peculiar da Igreja Latino-
americana.
32. “Nossa opção pelos pobres corre o risco de ficar
em um plano teórico ou meramente emotivo,
sem verdadeira incidência em nossos
comportamentos e em nossas decisões.
É necessária uma atitude permanente que se
manifeste em opções e gestos concretos, e evite
toda atitude paternalista. É solicitado que
dediquemos tempo aos pobres, prestar a eles
uma amável atenção, escutá-los com interesse,
acompanhá-los nos momentos difíceis, escolhê-
los...”
(DAp 397)
33.
34. “A globalização faz emergir em nossos povos, novos
rostos pobres, novos excluídos: Os migrantes, as
vítimas da violência, os deslocados e refugiados, as
vítimas do tráfico de pessoas e sequestros, os
desaparecidos, os enfermos de HIV e de
enfermidades endêmicas, os toxico-dependentes,
idosos, meninos e meninas vítimas da prostituição,
pornografia e violência ou do trabalho infantil,
mulheres maltratadas, vítimas da violência, da
exclusão e do tráfico para a exploração sexual,
pessoas com capacidades diferentes, grandes grupos
de desempregados (as), os excluídos pelo
analfabetismo tecnológico, as pessoas que vivem na
rua das grandes cidades, os indígenas e afro-
americanos, agricultores sem terra e os mineiros. A
Igreja, com sua Pastoral Social, deve dar acolhida e
acompanhar esta pessoas excluídas nas esferas a que
correspondam.”
(DAp 402)
35. “Não podemos nos esquecer que a maior
pobreza é a de não reconhecer a presença do
mistério de Deus e de seu amor na vida do
homem e seu amor, que é o único que
verdadeiramente salva e liberta. Na verdade,
“quem exclui a Deus de seu horizonte
falsifica o conceito de realidade e,
consequentemente, só pode terminar em
caminhos equivocados e com receitas
destrutivas. A verdade desta afirmação parece
evidente diante do fracasso de todos os
sistemas que colocam Deus entre parêntesis.”
(DAp 405)
36. Fazer a opção preferencial pelos pobres
significa ajudar nossas paróquias a mudar a
perspectiva de vida pastoral: a não limitar-se
a fazer algo pelos outros, mas a mudar de
rota, a começar a pensar e a projetar as ações
pastorais junto com os últimos e a partir de
suas exigências e visões de vida. Superando a
perspectiva da Igreja do assistencialismo, ou
seja, aquela que, mantendo o status quo,
inclusive as alianças e os privilégios, faz algo
a mais pelos outros; chegando finalmente a
uma Igreja companheira de viagem,
sobretudo de quem mal consegue viver
porque é continuamente marginalizado e
excluído.
37.
38. Os pobres lutam para sobreviver com muita coragem.
Eles não dispõem de meios para entrar e participar da
sociedade dominante, formalmente organizada.
A democracia não lhes fornece nenhuma possibilidade de
ação, e o acesso a nova economia não lhes é permitido.
O que fazem os pobres? Procuram recolher as migalhas
para arrumar e melhorar o mundo paralelo em que vivem,
como excluídos e refugiados.
As periferias das cidades transformam-se em campos de
refugiados. Esses trabalham muito para poder ajeitar as
suas precárias moradias e para conseguir alimento. Mas
sabem que nunca, nem eles nem os seus filhos, poderão
transferir-se para outro mundo (da sociedade dominante).
Eles constroem para si uma sociedade e um mundo
paralelo, usando que os ricos lhes deixam para melhorar
o seu modo de viver.
39. Os pobres têm sua vida cultural, feita do que há de
pior na cultura dominante, e às vezes de alguns
restos da antiga cultura popular.
Adotam as drogas, organizam as festas – que são
muitas vezes dirigidas pelas cervejarias em conjunto
com as prefeituras. Acolhem os benefícios, as
esmolas, as doações feitas pelas autoridades ou pelas
ONGs. Procuram “projetos”, todos parciais, espécies
de miniaturas que trazem algum alivio.
Aprendem a arte de mendigar junto ás entidades de
beneficência. É uma práxis que não vai longe, e tende
a separá-los mais ainda do mundo privilegiado,
tornando-os cada vez menos aptos a sair da situação
em que se encontram. Mas essa é a forma de praticar
um amor heroico de fraternidade – sobretudo as
mulheres que se encarregam da sobrevivência
quando todos os horizontes estão fechados e quando
os homens cederam aos vícios.
40.
41. Uma primeira opção é a inculturação.
Já que os pobres estão numa subcultura própria,
não devemos tirá-los da sua cultura, mas ajudá-
los a melhorar a vida na sua cultura.
Há diversas maneiras de ajudar para que,
permanecendo na mesma cultura, os pobres
possam melhorar as suas condições de vida.
Por exemplo, todas as formas de economia
paralela, artesanatos, serviços de saúde e
educação alternativas, recuperação de drogados,
ex-presidiários, deficientes, alcoólatras,
alfabetização de adultos etc. Tudo isso permanece
no âmbito da cultura popular e ajuda a viver
melhor.
42. Essa opção pode ser defendida com dois
argumentos:
Primeiro, há o respeito pela cultura dos pobres.
Não se lhes pede para sair da sua cultura.
Não se exige deles o imenso esforço para cortar
as raízes e para entrar em outra sociedade pouco
acolhedora, e na qual seriam como estrangeiros.
Seriam emigrantes cortados das suas raízes.
Em segundo lugar, pode-se invocar o argumento
de que não há alternativa porque não se pode
mudar a estrutura social atual que a sociedade
dominante quer manter. A única saída consiste
em melhorar esse mundo paralelo em que vivem.
43. A outra opção consistiria em ajudar os excluídos
a forças a entrada no mundo global, na
sociedade dominante para serem incluídos.
Isso não é impossível há alguns exemplos
históricos: As lutas das mulheres que
conseguiram entrar no mundo dos homens...
Para os pobres, esse caminho significaria
abandonar a sua subcultura – que também traz
os seus benefícios, todos sabemos que há mais
felicidade entre os excluídos do que entre os
ricos. Se se escolhe a conquista da sociedade
dominante, será preciso concentrar todos os
esforços nos jovens. A chave seria a educação.
44.
45. Um padre visitando uma favela na periferia encontrou uma
menina que o conduziu a seu barraco e ficou curioso ao ver um
livro aberto sobre a mesa. Era o Evangelho, ao lado de uma pilha
de pratos e talheres.
“Tive um sobressalto de comoção. Parecia que tinha entrado na
casa de meus parentes e experimentei dizer à mulher: “Muito me
alegra saber que vocês leem o Evangelho”.
Foi então que ela, até então calada, abriu a boca e murmurou
com um fio de voz que me emocionou e nunca mais esqueci:
“Única esperança para nossa pobreza”.
A única esperança para a nossa pobreza!
Portanto, aquele barraco não era um refúgio de desesperados!
Ali, no centro daquele barraco, junto à chama do fogão,
crepitava um fogo ainda mais forte: a esperança dos pobres.
Portanto, naquele miserável lugar não morava a resignação. Ali,
nas fibras da mais dura pobreza, vibravam as esperas de um
mundo novo, liberto das injustiças.
Assim, naquela espelunca de gente sem nome não se procurava
apenas sobreviver. Ali, na fadiga das tribulações cotidianas,
tomavam corpo e ardorosas utopias da revolução cristã e se
alimentavam os sonhos dos céus novos e terra nova.
46.
47. O projeto respondia às aspirações dos cristãos do
mundo moderno, sobretudo os de mentalidade urbana.
Deviam ser pequenos grupos de cristãos com a
finalidade determinada e intensa vida comunitária.
As CEBs foram combatidas sem cessar porque elas
colocavam em as paróquias e, com as paróquias,a
monopolização do poder religioso nas mãos do clero.
Eram um perigo ao clericalismo e, por isso, não podiam
continuar. Com apoios locais, as CEBs sobrevivem.
As criticas radicais que se fizeram e ainda são feitas as
CEBs para justificar o ostracismo de que são vitimas são
justamente as razões positivas que exigem a sua
existência. As CEBs valem justamente pelas razoes com
quye são combatidas. Não há duvida de que as CEBs
têm a fórmula adaptada à cidade e à cultura dos pobres
quando viabilizadas de modo autêntico.
48. “Na experiência eclesial de algumas igrejas, as CEBs tem
sido escolas que tem ajudado a formar cristãos
comprometidos com sua fé, discípulos e missionários do
Senhor, como testemunhas de uma entrega generosa,
até mesmo com o derramar do sangue de muitos de
seus membros. Elas abraçam a experiência das primeiras
comunidades, como estão descritas nos Atos dos
Apóstolos (At 2,42-47). Medellín reconheceu nelas uma
célula inicial de estruturação eclesial e foco de fé e
evangelização. Puebla constatou que as pequenas
comunidades, sobretudo as CEBs, permitiram ao povo
chegar a um conhecimento maior da Palavra de Deus, ao
compromisso social em nome do Evangelho, ao
surgimento de novos serviços leigos e à educação da fé
dos adultos, no entanto, também constatou “que não
tem faltado membros de comunidade ou comunidades
inteiras que, atraídas por instituições puramente leigas
ou radicalizadas ideologicamente, foram perdendo o
sentido eclesial”.
49. “As CEBs, no seguimento missionário de Jesus, têm a
Palavra de Deus como fonte de sua espiritualidade e a
orientação de seus pastores como guia que assegura a
comunhão eclesial. Demonstram seu compromisso
evangelizador e missionário entre os mais simples e
afastados e são expressão visível da opção
preferencial pelos pobres. São fonte e semente de
vários serviços e ministérios a favor da vida na
sociedade e na Igreja. Mantendo-se em comunhão
com seu Bispo e inserindo-se no projeto pastoral
diocesano, as CEBs se convertem em um sinal de
vitalidade na Igreja particular. Atuando, dessa forma,
juntamente com os grupos paroquiais, associações e
movimentos eclesiais, podem contribuir para
revitalizar as paróquias fazendo das mesmas uma
comunidade de comunidades. Em seu esforço de
corresponder aos desafios dos tempos atuais, as
comunidades eclesiais de base terão cuidado para não
alterar o tesouro precioso da Tradição e do Magistério
da Igreja.” (DAp 178, 179, 180)
50.
51. Junto com as comunidades eclesiais de base, existem
outras formas válidas de pequenas comunidades, e
inclusive redes de comunidades, de movimentos, grupos
de vida, de oração e de reflexão da palavra de Deus.
Todas as comunidades e grupos eclesiais darão fruto na
medida em que a Eucaristia seja o centro de sua vida e a
Palavra de Deus seja o farol de seu caminho e sua atuação
na única Igreja de Cristo.”
(DAp 178, 179, 180)