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BRAZILIAN JOURNAL OF RHEUMATOLOGY
REVISTA BRASILEIRA DE REUMATOLOGIA
Official Organ of Brazilian Society of Rheumatology
Órgão Oficial da Sociedade Brasileira de Reumatologia
SEPTEMBER/OCTOBER 2011 • VOLUME 51 • NUMBER 5
SETEMBRO/OUTUBRO 2011 • VOLUME 51 • NÚMERO 5

ISSN: 0482-5004




           EDITORIAL | EDITORIAL

408        Lupus clinical trials: medication failure or failure in study design
410        Estudo clínico em lúpus: falha na medicação ou falha no desenho do estudo
             Morton Aaron Scheinberg



           ORIGINAL ARTICLE | ARTIGO ORIGINAL

412        IgA nephropathy in patients with spondyloarthritis followed-up at
           the Rheumatology Service of Hospital das Clínicas/UFMG
417        Nefropatia por IgA em portadores de espondiloartrites acompanhados
           no Serviço de Reumatologia do Hospital das Clínicas da UFMG
             Daniela Castelo Azevedo, Gilda Aparecida Ferreira, Marco Antônio P. Carvalho


423        Prevalence of clinical and laboratory manifestations and
           comorbidities in polymyositis according to gender
428        Prevalência de manifestações clínico-laboratoriais e
           comorbidades na polimiosite segundo o gênero
             Fernando Henrique Carlos de Souza, Maurício Levy-Neto, Samuel Katsuyuki Shinjo


434        Immediate effect of the elastic knee sleeve use on individuals with osteoarthritis
440        Efeito imediato da utilização da joelheira elástica em indivíduos com osteoartrite
             Flavio Fernandes Bryk, Julio Fernandes de Jesus, Thiago Yukio Fukuda,
             Esdras Gonçalves Moreira, Freddy Beretta Marcondes, Marcio Guimarães dos Santos


447        Correlation of fatigue with pain and disability in rheumatoid
           arthritis and osteoarthritis, respectively
451        Correlação de fadiga com dor e incapacidade na artrite
           reumatoide e na osteoartrite, respectivamente
             Gilberto Santos Novaes, Mariana Ortega Perez, Maria Beatriz Bray Beraldo,
             Camila Rodrigues Costa Pinto, Reinaldo José Gianini
456   Prolactin, estradiol and anticardiolipin antibodies in premenopausal
      women with systemic lupus erythematosus: a pilot study
460   Prolactina, estradiol e anticorpos anticardiolipina em amostra de mulheres
      pré-menopáusicas com lúpus eritematoso sistêmico: estudo-piloto
        Fabiane Tiskievicz, Elaine S. Mallmann, João C. T. Brenol, Ricardo M. Xavier, Poli Mara Spritzer


465   Study of the frequency of HLA-DRB1 alleles in Brazilian
      patients with rheumatoid arthritis
474   Estudo da frequência dos alelos de HLA-DRB1 em
      pacientes brasileiros com artrite reumatoide
        Magali Justina Gómez Usnayo, Luis Eduardo Coelho Andrade, Renata Triguenho Alarcon, Juliana Cardoso Oliveira,
        Gustavo Milson Fabrício Silva, Izidro Bendet, Rufus Burlingame, Luis Cristóvão Porto, Geraldo da Rocha Castelar Pinheiro



      REVIEW ARTICLE | ARTIGO DE REVISÃO

484   Therapeutic effects of exercise training in patients
      with pediatric rheumatic diseases
490   Efeitos terapêuticos do treinamento físico em pacientes
      com doenças reumatológicas pediátricas
        Bruno Gualano, Ana Lúcia de Sá Pinto, Maria Beatriz Perondi, Hamilton Roschel,
        Adriana Maluf Elias Sallum, Ana Paula Tanaka Hayashi, Marina Yazigi Solis, Clóvis Artur Silva


497   Expression of complement regulatory proteins CD55,
      CD59, CD35, and CD46 in rheumatoid arthritis
503   Expressão de proteínas reguladoras do complemento CD55,
      CD59, CD35 e CD46 na artrite reumatoide
        Amanda Kirchner Piccoli, Ana Paula Alegretti, Laiana Schneider, Priscila Schmidt Lora, Ricardo Machado Xavier



      CASE REPORT | RELATO DE CASO

511   Phlegmasia cerulea dolens in patient with systemic lupus
      erythematosus in the remote postpartum period
514   Flegmasia cerúlea dolens em paciente com lúpus
      eritematoso sistêmico no puerpério remoto
        José Marques Filho


517   Septic arthritis due to Streptococcus bovis in a patient with liver cirrhosis
      due to hepatitis C virus – case report and literature review
520   Artrite séptica por Streptococcus bovis em paciente com cirrose hepática
      devido ao vírus da hepatite C – relato de caso e revisão de literatura
        Ernesto Dallaverde Neto


524   Takayasu's arteritis in children and adolescents: report of three cases
527   Arterite de Takayasu na infância e na adolescência: relato de três casos
        Ana Karina Soares Nascif, Marcelo Delboni Lemos, Norma Suely Oliveira,
        Paula Campos Perim, Ana Costa Cordeiro, Mariana Quintino



      LETTER TO THE EDITORS | CARTA AOS EDITORES

531   The presence of the Brazilian rheumatology in the GRAPPA
533   A presença da reumatologia brasileira no GRAPPA (Group for
      Research and Assessment of Psoriasis and Psoriatic Arthritis)
        Cláudia Goldenstein-Schainberg, Roberto Ranza, Rubens Bonfiglioli, Sueli Carneiro,
        Valderilio F. Azevedo, José Goldenberg, Morton Scheinberg
EDITORIAL




             Estudo clínico em lúpus: falha na medicação
                    ou falha no desenho do estudo
© 2011 Elsevier Editora Ltda. Todos os direitos reservados.



        heterogeneidade das manifestações do lúpus representa      mostrou diferença nas taxas de exacerbação para as categorias

a       importante desafio para o desenho de estudos clínicos.
          O pleomorfismo das manifestações clínicas, a gravi-
dade da doença, a influência da etnia na sua atividade e os
                                                                   BILAG A e B.1
                                                                       Belimumabe é um anticorpo monoclonal humano que
                                                                   inibe o fator estimulante de linfócitos B (B-lymphocyte sti-
obstáculos para a realização de estudos com amostras maiores       mulator – BLyS), e mostrou-se mais eficiente que placebo
dificultam a obtenção de significância estatística nos ensaios       no tratamento de indivíduos com lúpus eritematoso sistêmico
clínicos para novas terapias. Muitos desses estudos excluem        (LES) sorologicamente ativo. Análises de eficácia incluíram
pacientes com manifestações renais e do sistema nervoso cen-       os índices de atividade da doença SELENA-SLEDAI, BILAG
tral, na tentativa de detectar eficácia em estágios menos graves    e SELENA-SLEDAI Flare Index (SFI). O desfecho primário
da doença. Neste editorial tecemos alguns comentários gerais       ocorreu na semana 52, com melhora em várias aferições
sobre estudos recentes.                                            empregadas, inclusive a avaliação global pelo médico. O
    O estudo EXPLORER arrolou 257 pacientes com lúpus              sucesso de belimumabe em 52 semanas (BLISS-52) pode
extrarrenal e atividade variando de moderada a grave. Os           ter resultado de uma nova subanálise em subpopulação de
pacientes foram randomizados para receber rituximabe e             pacientes que melhorou com o tratamento. A maioria dos
prednisona ou placebo e prednisona, tendo sido acompanha-          pacientes mostrou estar na categoria “B” quanto à atividade
dos por 78 semanas. Os desfechos primários e secundários           da doença, o que significa que tinham mais autoanticorpos,
do estudo não foram atingidos. O estudo LUNAR arrolou              inclusive títulos mais elevados de anti-DNA e níveis mais
pacientes com nefrite lúpica comprovada por biópsia. O             altos de imunoglobulinas séricas.
desenho geral foi semelhante ao do EXPLORER, e o su-
cesso foi definido como resposta renal em um ano. O uso             Considerações gerais importantes
do medicamento não teve impacto nos desfechos primários            Estudos futuros poderiam analisar se existe um racional
e secundários.                                                     científico para que a avaliação de eficácia de tratamento
    O estudo The efficacy and safety of abatacept in patients       enfoque a redução do número de exacerbações versus a
with non-life-threatening manifestations of systemic lupus         diminuição persistente da atividade da doença. Pacientes
erythematosus: results of a twelve-month, multicenter, explora-    com LES e exacerbações periódicas podem diferir daque-
tory, phase IIb, randomized, double-blind, placebo-controlled      les com lúpus cronicamente ativo. Pacientes com LES de
trial (Eficácia e segurança do abatacepte em pacientes com          grupos raciais diferentes podem apresentar patologias e
lúpus eritematoso sistêmico e manifestações que não oferecem       condições diferentes, com um único paciente apresentando
risco de morte: resultados de um estudo randomizado, multi-        diferentes variações ao longo do tempo. Os estudos futu-
cêntrico, exploratório, fase IIb, duplo-cego, controlado com       ros devem dar especial atenção à etnia como um fator que
placebo, de 12 meses) avaliou o efeito de abatacepte na exa-       pode afetar o desfecho. O tamanho do estudo também é
cerbação da doença em um contexto de uso de glicocorticoides       um importante desafio. Em geral, quanto maior o estudo,
orais. Para serem incluídos na pesquisa os pacientes deveriam      maior a probabilidade de se perder um efeito terapêutico
apresentar exacerbação de lúpus nos 14 dias anteriores à sua       nas análises. Por fim, um pequeno estudo pode obter êxito
entrada no estudo e utilizar dose estável de prednisona inferior   e resultados estatisticamente significativos. Outros pontos
a 30 mg/dia. Foram tratados 175 pacientes: 118 randomizados        a se considerar são tempo de doença, atual envolvimento
para receber abatacepte e 57 para receber placebo. O estudo não    de órgãos específicos e tratamentos anteriores. Por fim, a



410                                                                                                   Rev Bras Reumatol 2011;51(5):408-411
EDITORIAL




definição de melhora dos desfechos usada em estudos de-         auxiliar na discriminação entre falha medicamentosa e falha
veria ser aceita universalmente como a melhor disponível.      no desenho do estudo.
Controvérsias em torno do uso do índice BILAG baseiam-se
                                                                                                   Morton Aaron Scheinberg, PhD
em uma abordagem de intenção de tratar de acordo com
uma extensa série de critérios para classificar pacientes com                   Clínico e Reumatologista do Hospital Israelita Albert Einstein
                                                                                    Diretor científico e Coordenador de Pesquisa Clínica do
manifestações de LES surgindo em diferentes sistemas de                                                      Hospital Abreu Sodré – AACD
órgãos. Há limitações com o uso do índice BILAG isolado;        Professor Llivre-Docente em Imunologia pela Universidade de São Paulo – USP
                                                                                          PhD em Imunologia pela Universidade de Boston
por exemplo, o uso de BILAG B como medida de desfecho
de atividade lúpica deveria ser considerado simultaneamente
                                                               REFERENCES
ao uso de outros índices.2                                     REFERÊNCIAS
                                                               1.   Merrill JT, Burgos-Vargas R, Westhovens R, Chalmers A, D’Cruz D,
                                                                    Wallace DJ et al. The efficacy and safety of abatacept in patients with
CONCLUSÕES                                                          non-life-threatening manifestations of systemic lupus erythematosus:
                                                                    results of a twelve-month, multicenter, exploratory, phase IIb,
Considerando-se o sucesso dos estudos sobre artrite reuma-
                                                                    randomized, double-blind, placebo-controlled trial. Arthritis Rheum
toide (AR), seria de se esperar que o mesmo acontecesse com         2010; 62(10):3077-87.
o LES, mas isso não se mostrou verdadeiro. Espera-se que       2.   Peirce A, Lipsky P, Schwartz BD. Mitigate Risk and Increase Success
possamos aprender com os nossos erros atuais e criar novos          of Lupus Clinical Trials - Design strategies from a Lupus Research
e diferentes elementos de desenho clínico, assim como que           Institute conference. The Rheumatologist, August 2010. Available
                                                                    from: www.the-rheumatologist.org/details/article/863303/Mitigate_
as considerações aqui esboçadas para estudos futuros possam         Risk_and_Increase_Success_of_Lupus_Clinical_Trials.html.




Rev Bras Reumatol 2011;51(5):408-411                                                                                                    411
ARTIGO ORIGINAL




         Nefropatia por IgA em portadores de
     espondiloartrites acompanhados no Serviço de
   Reumatologia do Hospital das Clínicas da UFMG
                             Daniela Castelo Azevedo1, Gilda Aparecida Ferreira2, Marco Antônio P. Carvalho2



            RESUMO
            Objetivo: Determinar a frequência das glomerulonefrites nos pacientes espondiloartríticos acompanhados em Serviço
            de Reumatologia Brasileiro e avaliar variáveis clínicas correlacionadas. Pacientes e métodos: Os pacientes foram
            avaliados quanto às características sociodemográficas, tipo de espondiloartrite, tempo e atividade da doença, uso de
            anti-inflamatórios não esteroides, presença do HLA-B27, níveis de creatinina e ureia séricas, presença de comorbidades
            e presença de hematúria e/ou proteinúria. Os pacientes com hematúria foram submetidos à pesquisa de dismorfismo
            eritrocitário, e aqueles com proteinúria submeteram-se à quantificação da proteína na urina de 24 horas. Biópsia renal
            foi indicada para aqueles com hematúria de origem glomerular e/ou proteinúria maior que 3,5 g. Resultados: Foram
            avaliados 76 pacientes. A alteração mais frequente no exame de urina de rotina foi a hematúria microscópica (44,7%),
            geralmente intermitente e em amostra isolada de urina durante o seguimento do paciente. Em oito (10,5%) dos pacien-
            tes a hematúria sugeriu origem glomerular. A biópsia renal foi realizada em cinco deles, e mostrou nefropatia por IgA
            em quatro (5,3%) e doença da membrana fina em um paciente. Conclusões: Notou-se alta frequência de alterações no
            exame de urina desse subgrupo de pacientes, assim como alta prevalência de nefropatia por IgA. Apesar de mais estudos
            sobre o assunto serem necessários para melhor esclarecimento desses resultados, a realização periódica de exames de
            urina deveria ser recomendável.

            Palavras-chave: glomerulonefrite, espondiloartropatias, glomerulonefrite por IgA, hematúria.
            © 2011 Elsevier Editora Ltda. Todos os direitos reservados.




INTRODUÇÃO                                                                    tumoral (anti-TNF), GNF membranosa e GNF com depósitos
                                                                              mesangiais predominantes de IgA.3-15 Há ainda uma hipótese de
A pesquisa de glomerulonefrites (GNF) nos pacientes aco-                      que a nefropatia por IgA e a espondilite anquilosante poderiam
metidos por espondiloartrite (EPA) não é uma recomenda-                       compartilhar mecanismos etiopatogenéticos.16
ção rotineira.1,2 Apesar disso, tem sido mencionada maior                        As GNF englobam grande variedade de alterações imu-
frequência de acometimento renal nas EPA.3,4 Os tipos de                      nomediadas que causam inflamação predominantemente no
acometimento citados são amiloidose renal, nefropatia                         glomérulo renal. São a segunda causa de insuficiência renal
relacionada aos anti-inflamatórios não esteroidais (AINEs),                    terminal no mundo.17 Sua apresentação clínica tem como
GNF extracapilar relacionada aos agentes antifator de necrose                 constante a presença de proteinúria e/ou hematúria, que


Recebido em 10/6/2010. Aprovado, após revisão, em 01/7/2011. Os autores declaram a inexistência de conflitos de interesse. Comitê de Ética: ETIC 086/07.
Serviço de Reumatologia do Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG; Departamento do Aparelho Locomotor e Departamento de
Cirurgia, Faculdade de Medicina da UFMG; Pós-graduação em Ciências Aplicadas à Saúde do Adulto da Faculdade de Medicina da UFMG; áreas de concentração
em Reumatologia.
1. Mestre em Ciências Aplicadas à Saúde do Adulto pela Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG; Médica Especialista em
Reumatologia
2. Professor Adjunto Doutor da Faculdade de Medicina da UFMG
Correspondência para: Daniela Castelo Azevedo. Hospital das Clínicas da UFMG. Serviço de Reumatologia, Ambulatório Bias Fortes. Alameda Álvaro Celso,
175, 2° andar – Santa Efigênia. CEP: 20130-100. Belo Horizonte, MG, Brasil. E-mail: az.dani@gmail.com


Rev Bras Reumatol 2011;51(5):412-422                                                                                                              417
Azevedo et al.




pode ser ou não acompanhada de outros sintomas ou sinais          of High Blood Pressure – JNC VII,24 e insuficiência renal
clínicos.18                                                       crônica (IRC), definida como a fração de filtração glomerular
    Diante dessas constatações, pretende-se estudar a prevalên-   menor que 60 mL/min/1,73 m² por três meses ou mais. Outras
cia das GNF nos pacientes acometidos por EPA acompanha-           comorbidades relevantes descritas em prontuário médico
dos no Serviço de Reumatologia do Hospital das Clínicas da        também foram consideradas.
Universidade Federal de Minas Gerais (HC/UFMG), além de                Biópsia renal guiada por ultrassom foi indicada para os
tentar correlacionar a presença da mesma com o tempo de do-       pacientes em que a hematúria foi confirmada pelo exame do
ença, com as características e com o grau de atividade das EPA.   sedimento urinário e sugeriu origem glomerular (cilindros
                                                                  hemáticos e/ou 80% ou mais das hemácias dismórficas) e/ou
                                                                  encontrou-se proteinúria isolada maior que 3,5 g na urina de
PACIENTES E MÉTODOS
                                                                  24 horas, já que essa é definida como proteinúria nefrótica e
Foram avaliados pacientes com EPA segundo os critérios            indica fortemente a presença de glomerulopatia.18
do Grupo Europeu para o Estudo das Espondiloartropatias,1              A biópsia renal foi contraindicada nos pacientes com
maiores de 18 anos de idade, acompanhados no Ambulatório          diátese hemorrágica incorrigível, rins menores que 9 cm ao
de Espondiloartrites do Serviço de Reumatologia do HC/            ultrassom de vias urinárias, HAS grave a despeito do uso de
UFMG há pelo menos um ano, durante o período de setem-            anti-hipertensivos, cistos renais bilaterais e múltiplos, neopla-
bro de 2007 a fevereiro de 2009. Nesse ambulatório é praxe        sia renal, hidronefrose, infecção renal ou perirrenal não tratada,
pedir exame de urina de rotina a cada consulta. A presença        pacientes pouco cooperativos, pacientes que se recusaram a se
de hematúria e/ou proteinúria foi levantada inclusive em          submeter ao procedimento.
exames de urina de rotina pregressos. Foi considerada he-              Os critérios de exclusão foram pacientes que não concor-
matúria a presença de mais de duas hemácias por campo de          dassem participar do estudo e menores de 18 anos.
maior aumento no exame de microscopia óptica do sedimento              O teste do qui-quadrado ou o teste exato de Fisher foram
urinário ou uma fita reagente positiva,19-21 e proteinúria o       usados para avaliar as variáveis categóricas. Já para as contí-
exame de urina de rotina com os testes semiquantitativos          nuas, aplicou-se o teste t de Student, se apresentassem caracte-
positivos para proteína ou proteinúria maior que 150 mg/dL        rísticas de normalidade, e, caso contrário, empregou-se o teste
na urina de 24 horas.22                                           não paramétrico de Mann-Whitney. Para todas as análises foi
    Os pacientes com exame de urina alterado, no caso de          considerado nível de significância de 5% (P < 0,05). A análise
hematúria, foram submetidos à sedimentoscopia e pesquisa de       estatística foi realizada com o auxílio do software Statistical
dismorfismo eritrocitário em laboratório de referência (possível   Package for Social Sciences (SPSS®) versão 16.0 (SPSS Inc.,
tecnicamente nos pacientes com pelo menos nove hemácias por       Chicago, IL, EUA).
campo de maior aumento no exame de microscopia óptica).                O projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa
No caso de proteinúria, foram submetidos à quantificação da        da UFMG (parecer nº ETIC 086/07) e pela Diretoria de
mesma na urina de 24 horas.                                       Ensino, Pesquisa e Extensão do HC/UFMG (processo
    Além da avaliação quanto às alterações no seu exame de        nº 142/2006).
urina, os pacientes foram avaliados quanto a características
sociodemográficas e econômicas; características da EPA
                                                                  RESULTADOS
(tempo de doença a partir do diagnóstico, atividade da doença
naqueles pacientes com predomínio do acometimento axial           Foram avaliados 76 pacientes com EPA. As principais caracte-
pelo índice BASDAI – Bath Ankylosing Spondylitis Disease          rísticas desses indivíduos podem ser vistas na Tabela 1. Dentre
Activity Index);23 medicamentos usados para o tratamento,         os pacientes estudados, foi possível pesquisar o HLA-B27 em
e, no caso do uso de AINEs, tempo do uso do mesmo; posi-          51, sendo positivo em 33 deles (43,4%).
tividade para o HLA-B27 (por qualquer método de investi-               A média do BASDAI encontrada, que varia de zero a
gação laboratorial); avaliação da função renal (creatinina e      dez, foi de 3,86 ± 2,06, com mínimo de zero e máximo de
ureia séricas); atividade inflamatória (dosagem de proteína        7,64. A proteína C-reativa também foi medida, com o intuito
C-reativa), e diagnóstico de comorbidades clínicas, sobretudo     de contribuir para a avaliação da atividade da doença; sua
hipertensão arterial sistêmica (HAS), definida pelos critérios     mediana foi 6, sendo os percentis 25 e 75, respectivamente,
do Joint Committee on Detection, Evaluation and Treatment         3 e 19,6.



418                                                                                                     Rev Bras Reumatol 2011;51(5):412-422
Nefropatia por IgA em portadores de espondiloartrites acompanhados no Serviço de Reumatologia do Hospital das Clínicas da UFMG




                                                                                                         Com relação ao tratamento medicamentoso, a maioria dos
Tabela 1
                                                                                                     pacientes estudados (82,9%) estava em uso de AINEs, em média
Características da população estudada
                                                                                                     6,5 ± 6,2 anos, havendo uma variação no uso de zero a 29 anos.
                                                         N (%)
                                                                                                         A hematúria microscópica foi detectada nessa amostra em
Gênero
Masculino                                                49 (64,5)                                   pelo menos um exame de urina de rotina em 34 indivíduos
Idade                                                                                                (44,7% da amostra), e em mais de uma ocasião em 22 indi-
Média = 42,7 anos; mínima 22, máxima 75                                                              víduos (28,9% dos casos). Nos pacientes com hematúria em
Brancos                                                  53 (69,7)                                   mais de uma ocasião, essa mostrou-se intermitente na maioria
Remuneração mensal                                       68 (89,5)                                   dos casos (22,4%), ou seja, não era detectada em todos os
< 3 salários mínimos                                                                                 exames de urina. A hematúria contínua ocorreu em apenas
Anos de estudo                                                                                       cinco pacientes (6,5%). A hematúria macroscópica foi menos
Mediana = 8
                                                                                                     frequente que a micro, ocorrendo em 13 pacientes (17,1%).
Comorbidades
HAS                                                      29 (38,2)                                       Dos 24 pacientes analisados quanto à presença de dismorfis-
IRC                                                      2 (2,6)                                     mo eritrocitário, oito (10,5%) apresentaram mais de 80% das
Diabetes mellitus                                        2 (2,6)
Sorologia positiva para HIV                              Zero                                        hemácias com alterações dismórficas. Desses oito pacientes,
Hepatopatia                                              1 (1,3)                                     conseguiu-se realizar a biópsia renal em cinco, já que três se
Medicamentos usados para                                                                             recusaram a realizar o exame. Os resultados histopatológicos
o tratamento da EPA
AINEs                                                    63 (82,9)                                   foram: quatro (5,2%) com nefropatia por IgA e um com a
Corticoide oral                                          34 (44,7)                                   doença da membrana fina (hematúria familiar benigna). As
Metrotrexato                                             26 (34,2)
Sulfassalazina                                           1 (1,3)                                     características dos pacientes portadores de nefropatia por IgA
Inibidor de anti-TNFα                                    1 (1,3)                                     estão expostas na Tabela 2.
Prevalência dos tipos de EPA                                                                             Outras causas de hematúria encontradas, que não GNF, fo-
Espondilite anquilosante                                 47 (61,8)
Espondiloartrite indiferenciada                          11 (14,5)                                   ram nefrolitíase (cinco pacientes (6,5%), dos quais um também
Artrite psoriásica                                       11 (14,5)                                   tinha nefropatia por IgA); um paciente com rim policístico e
Artrite reativa                                          4 (5,3)
Artrite das doenças                                      3 (3,9)                                     outro paciente com hematúria de origem ginecológica, cada um
  inflamatórias intestinais                                                                           desses representando 1,3% do total. Em 20 pacientes (26%) a
Manifestações clínicas articulares                                                                   etiologia da hematúria permaneceu indeterminada.
e extra-articulares associadas
Entesite calcaneana                                      38 (50)
                                                                                                         A proteinúria foi incomum na amostra estudada, sendo
Uveíte anterior                                          29 (38,2)                                   detectada em apenas três pacientes (3,9%), dos quais dois com
Coxartrose                                               21 (27,6)
Dactilite                                                9 (11,8)                                    proteinúria superior a 3,5 g em 24 horas. Esses três pacientes
Fibrose pulmonar                                         1 (1,3)                                     também apresentavam hematúria. Não houve pessoas com
Piúria estéril                                           1 (1,3)
                                                                                                     proteinúria isolada.
EPA: espondiloartrite; HAS: hipertensão arterial sistêmica; IRC: insuficiência renal crônica;
AINEs: anti-inflamatórios não esteroidais.



Tabela 2
Características dos pacientes submetidos à biópsia renal com diagnóstico de nefropatia por IgA
Pacientes                                 1                                         2                          3                          4
Gênero                                    Masculino                                 Masculino                  Masculino                  Masculino
Idade                                     36                                        43                         33                         44
Tipo de EPA                               Artrite reativa                           Espondilite anquilosante   Espondilite anquilosante   Espondilite anquilosante
Duração da EPA (anos)                     16                                        27                         9                          19
HLA-B27                                   Positivo                                  Positivo                   Positivo                   Positivo
Creatinina (mg/dL)                        1,01                                      2,85                       0,6                        0,8
Proteinúria 24 horas (mg/dL) 300                                                    2.350                      173                        1.900
HAS                                       Não                                       Não                        Não                        Sim

EPA: espondiloartrite; HAS: hipertensão arterial sistêmica.




Rev Bras Reumatol 2011;51(5):412-422                                                                                                                                 419
Azevedo et al.




    A presença de hematúria não esteve associada ao tipo de       na metodologia (de duas ou mais hemácias por campo), que
EPA (P > 0,20), bem como à atividade de doença, seja aferida      privilegiou a sensibilidade do exame, pois o objetivo inicial
pelo PCR (P = 0,954), seja pelo BASDAI (P = 0,251). Não           era triar os pacientes para a realização da sedimentoscopia
houve também associação entre a positividade do antígeno          e dismorfismo eritrocitário em laboratório de referência. Na
HLA-B27 e a presença de hematúria (P = 0,251). Não se             população geral, a prevalência de qualquer hematúria (única,
encontrou associação estatisticamente significativa entre          intermitente ou contínua) varia de 0,18% a 16,1%; é relativa-
hematúria microscópica e IRC (P = 1), HAS (P = 0,81), pro-        mente comum no adulto e geralmente não indica a presença de
teinúria (P = 0,85) e aumento dos níveis séricos de creatinina    doença, sendo com frequência um achado incidental.19,36-39 Pode
(P = 0,40).                                                       ocorrer, por exemplo, como consequência de exercício físico,
    O uso de AINEs nessa amostra não se associou posi-            de ato sexual nos dois dias precedentes à coleta da amostra e de
tivamente com o aumento dos níveis séricos de creatinina          uso de anticoagulantes. As causas patológicas mais comuns são
(P = 0,318), nem mesmo quando se levou em consideração            anormalidades do trato urinário baixo (especialmente as que
seu tempo de uso (P = 0,582). Também não houve associação         afetam a uretra, a próstata e a bexiga). Em menos de 10% dos
estatisticamente significativa entre o uso de AINEs e a presença   casos a hematúria é de origem glomerular,19 e suas principais
de IRC (P = 0,31), hematúria (P = 1), proteinúria (P = 0,74)      etiologias são a nefropatia por IgA e a doença da membrana
e HAS (P = 1).                                                    fina, ou hematúria familiar benigna.40
                                                                      É importante distinguir a origem da hematúria, se glome-
                                                                  rular ou não. Na população estudada, oito (10,5%) apresen-
DISCUSSÃO
                                                                  taram hematúria glomerular. Já o encontro de proteinúria foi
O presente trabalho avaliou a frequência das GNF nos              infrequente (3,9%) e sempre ocorreu associado à hematúria,
pacientes acometidos por EPA acompanhados no Serviço              o que reforçou sua provável origem glomerular.
de Reumatologia do HC/UFMG, em Belo Horizonte,                        No presente trabalho a presença de hematúria não se
Minas Gerais.                                                     relacionou com o tipo de EPA, com a presença do antígeno
    As características clínicas dos pacientes avaliados não       HLA-B27, nem com a atividade da doença. Também não houve
diferem, em geral, do que é relatado na literatura.1,25-33 O      associação entre hematúria e presença de HAS, proteinúria e
gênero masculino foi o mais prevalente. Houve predomi-            aumento dos níveis séricos de creatinina.
nância da espondilite anquilosante entre o grupo, seguida             A indicação da biópsia renal em pacientes com hematúria
da EPA indiferenciada e artrite psoriásica. Estudos mais          microscópica isolada é controversa. Nos casos em que a he-
recentes mostram uma inversão dessa relação, com maior            matúria sugere fortemente ser de origem glomerular, uma vez
prevalência da EPA indiferenciada com relação à espondilite       pesados os riscos e benefícios individuais, somente a biópsia
anquilosante.28 Houve maior frequência de entesite calcane-       renal pode levar ao diagnóstico definitivo de uma GNF.41,42
ana entre as manifestações associadas, e de uveíte anterior       Assim, nos pacientes acometidos por EPA, em geral usuários
entre as manifestações extra-articulares. A positividade para o   de AINEs e com hematúria de origem glomerular, considerou-se
HLA-B27 foi de 43,4% na população estudada. Infelizmente,         justificável a realização da biópsia.
a comparação desse dado com outras populações é difícil               Dessa maneira, dos 76 pacientes avaliados, quatro (5,2%)
porque a maioria dos trabalhos avalia a frequência desse          apresentaram GNF com características de glomerulopatia
antígeno em pacientes com espondilite anquilosante, e não         proliferativa mesangial com imunodepósitos de IgA, o que
no grupo de EPA.34,35                                             caracteriza a GNF por IgA ou doença de Berger. Entretanto,
    Este estudo mostrou alta frequência de alterações no exame    a prevalência da GNF por IgA nos pacientes do estudo pode
de urina dos pacientes com EPA. A alteração mais comumen-         ter sido subestimada, uma vez que a hematúria microscó-
te encontrada foi a hematúria microscópica em uma única           pica intermitente dificulta a pesquisa do dismorfismo e a
ocasião, que ocorreu em 34 pacientes (44,7%). Em 22 desses        confirmação de origem glomerular, além de três pacientes
pacientes (28,9%) a hematúria foi evidenciada em duas ou          com suspeita de GNF terem se recusado a realizar a biópsia
mais amostras de urina, dos quais 17 (22,4%) apresentavam         renal. Esse achado contrasta com a prevalência da nefropatia
hematúria intermitente, não ocorrendo em todos os exames          por IgA na população geral, estimada em 25 a 50 casos por
de urina. Hematúria contínua foi encontrada em apenas cinco       100 mil indivíduos.43,44
pacientes (6,5%). A alta prevalência de hematúria nessa popu-         Há escassa literatura sobre as alterações renais em
lação pode ter sido consequente à definição de hematúria usada     pacientes com EPA, a maioria baseada em série de casos.

420                                                                                                   Rev Bras Reumatol 2011;51(5):412-422
Nefropatia por IgA em portadores de espondiloartrites acompanhados no Serviço de Reumatologia do Hospital das Clínicas da UFMG




Apesar de controversa, a maior ocorrência de GNF por IgA                      insuficiência renal.45 Outro motivo para esse achado seria
nos pacientes com EPA tem sido aventada com frequên-                          a prática corrente no Ambulatório de Reumatologia de se
cia.5-7 Em 1987, Jones et al.7 avaliaram a função renal de                    evitar o uso de AINEs nos pacientes com presença de alguma
51 pacientes com espondilite anquilosante randomicamente                      dessas comorbidades.
selecionados em clínicas reumatológicas. Desses, cinco pa-                        Este estudo sinaliza para a alta frequência de alterações
cientes (10%) tinham anormalidades persistentes (em mais                      encontradas no exame de urina desse subgrupo de pacientes,
de uma ocasião) nos exames feitos para avaliar a função                       bem como para a alta prevalência de nefropatia por IgA.
renal (hematúria microscópica em todos os cinco pacientes,                    Assim, apesar de serem necessários mais estudos sobre o
diminuição da função renal e aumento da proteinúria em 24                     assunto para melhor esclarecimento das alterações renais
horas em quatro destes). Nos três que foram submetidos à                      nos pacientes espondiloartríticos, a realização periódica de
biópsia renal, um tinha glomeruloesclerose segmental focal,                   exames de urina deveria ser recomendável. O diagnóstico
com imunofluorescência negativa, outro tinha nefropatia por                    definitivo de GNF nesse grupo é extremamente relevante,
IgA e, por último, um tinha infiltrado celular intersticial com                tendo em vista as implicações no tratamento da EPA e no
fibrose e atrofia tubular e imunofluorescência e microscopia                     prognóstico desses pacientes.
eletrônica negativas.
    No Brasil, tentou-se avaliar a frequência e a gravidade                   REFERENCES
do acometimento renal em 40 pacientes com espondilite                         REFERÊNCIAS
anquilosante acompanhados em uma clínica especializada                        1.  Dougados M, van der Linden S, Juhlin R, Huitfeldt B, Amor B, Calin A
                                                                                  et al. The European Spondylarthropathy Study Group preliminary
em reumatologia. Nessa amostra, 14 (35%) apresentaram                             criteria for the classification of spondylarthropathy. Arthritis Rheum
um ou mais sinais de envolvimento renal; nove pacientes                           1991; 34(10):1218-27.
apresentaram hematúria, seis desses com hemácias dismór-                      2. Sieper J, Rudwaleit M, Baraliakos X, Brandt J, Braun J, Burgos-
ficas; quatro apresentaram microalbuminúria; dois tiveram                         Vargas R et al. The Assessment of SpondyloArthritis international
                                                                                  Society (ASAS) handbook: a guide to assess spondyloarthritis. Ann
aumento dos níveis séricos de creatinina e quatro tiveram o                       Rheum Dis 2009; 68(Supl.2):ii1-44.
clareamento de creatinina reduzido. Não houve associação                      3. Strobel ES, Fritschka E. Renal diseases in ankylosing spondylitis:
estatística significativa entre a hematúria microscópica e                        review of literature illustrated by case reports. Clin Rheumatol
a atividade ou duração da doença, nem associação entre                            1998; 17(6):524-30.
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                                                                                  in ankylosing spondylitis. Scand J Rheumatol 1997; 26(1):19-23.
entanto, houve associação significativa entre a hematúria
                                                                              5. Mittal VK, Malhotra KK, Bhuyan UN, Malaviya AN. Kidney
microscópica e a diminuição do clareamento da creatinina.4                        involvement in seronegative spondarthritides. Indian J Med Res
Esses pacientes não foram submetidos à biópsia renal.                             1983; 78:670-5.
    Outro tipo de acometimento renal nos pacientes espon-                     6. Wendling D, Hory B, Saint Hillier Y, Perol C. Reine et spondiloarthrite
diloartríticos que tem sido mencionado é aquele advindo                           ankylosante. Rev Rhum Mal Osteoartic 1985; 52(4):271-5.
do uso regular dos AINEs.3-7 Na população geral, 1% a 5%                      7. Jones DW, Mansell MA, Samuell CT, Isenberg DA. Renal
                                                                                  abnormalities in ankylosing spondylitis. Br J Rheumatol 1987;
dos pacientes desenvolvem efeitos adversos renais pas-                            26(5):341-5.
síveis de intervenção médica relacionada aos AINEs. Os                        8. Gupta R, Sharma A, Arora R, Dinda AK, Gupta A, Tiwari SC.
problemas renais atribuídos ao uso dessas medicações são                          Membranous glomerulonephritis in a patient with ankylosing
insuficiência renal aguda, síndrome nefrótica com nefrite                          spondylitis: a rare association. Clin Exp Nephrol 2009; 13(6):667-
                                                                                  70.
intersticial, necrose papilar aguda e crônica.45 No presente
                                                                              9. Jacquet A, Francois H, Frangie C, Yahiaoui Y, Ferlicot S, Micelli C
estudo, quase todos os pacientes faziam uso regular dessas                        et al. IgA nephropathy associated with ankylosing spondylitis is not
medicações (82,9%) e por tempo prolongado (média de 6,5                           controlled by infliximab therapy. Nephrol Dial Transplant 2009;
anos). Entretanto, não foi detectado nenhum efeito adverso                        24(11):3540-2.
renal ao uso de AINEs nesses pacientes. Observou-se ainda                     10. Agarwal S, Das SK, Kumar P, Tripathi P, Mehrotra B. Amyloidosis
                                                                                  in ankylosing spondylitis. J Clin Rheumatol 2009; 15(4):211.
que o uso de AINEs não se associou positivamente com o
                                                                              11. Wasilewska A, Zoch-Zwierz WM, Tenderenda E, Szynaka B. IgA
aumento dos níveis séricos de creatinina e com a presença                         nephropathy in a girl with psoriasis and seronegative arthritis. Pediatr
de hematúria, proteinúria, IRC e HAS. Isso pode ter ocorrido                      Dermatol 2008; 25(3):408-9.
devido à baixa frequência de comorbidades que predispõem                      12. Menè P, Franeta AJ, Conti G, Stoppacciaro A, Chimenz R, Fede A
aos efeitos adversos dos AINEs nessa população, tais como                         et al. Extracapillary glomerulonephritis during etanercept treatment
                                                                                  for juvenile psoriatic arthritis. Clin Exp Rheumatol 2010; 28(1):91-3.
idade avançada, doença hepática, insuficiência cardíaca e

Rev Bras Reumatol 2011;51(5):412-422                                                                                                                 421
Azevedo et al.




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422                                                                                                                    Rev Bras Reumatol 2011;51(5):412-422
ARTIGO ORIGINAL




    Prevalência de manifestações clínico-laboratoriais
     e comorbidades na polimiosite segundo o gênero
                      Fernando Henrique Carlos de Souza1, Maurício Levy-Neto2, Samuel Katsuyuki Shinjo3



          RESUMO
          Objetivo: Analisar a distribuição e a influência do gênero na polimiosite (PM), quanto às manifestações clínico-labo-
          ratoriais, evolução e comorbidades. Métodos: Estudo de coorte retrospectivo, unicêntrico, em que foram avaliados 75
          pacientes consecutivos com PM (Bohan e Peter, 1975) entre 1990 e 2010. Os exames complementares referem-se ao
          início do diagnóstico da PM. Resultados: Este estudo avaliou 52 mulheres e 23 homens (razão 2,3:1), a maioria de cor
          branca (84,0%), com média de idade de 42,7 ± 13,7 anos (16 a 67 anos), e duração média de doença de 6,9 ± 5,5 anos (0
          a 20 anos). Aproximadamente 50% apresentaram recidiva da doença durante o acompanhamento, com 4,0% de óbitos.
          Apesar disso, dois terços encontravam-se em remissão no desfecho do estudo. Não houve diferença entre os gêneros
          quanto à distribuição das características demográficas, clínico-laboratoriais, evolução clínica e terapia medicamentosa
          instituída. Com relação às comorbidades, houve alta prevalência de hipertensão arterial sistêmica (38,7%) e diabetes
          mellitus (17,3%), igualmente distribuídas entre os gêneros. Verificou-se alta prevalência de depressão e fibromialgia,
          porém apenas no gênero feminino. Conclusões: A prevalência de PM entre mulheres foi maior (razão 2,3:1). A preva-
          lência de comorbidades foi alta na casuística estudada, cabendo-nos priorizar seus controles e, assim, oferecer melhor
          qualidade de vida aos pacientes.

          Palavras-chave: polimiosite, comorbidade, depressão, gênero e saúde, miosite.
          © 2011 Elsevier Editora Ltda. Todos os direitos reservados.




                                                                                  A polimiosite (PM) é uma miopatia inflamatória sistêmica
INTRODUÇÃO                                                                    crônica de causa desconhecida, que costuma afetar mais fre-
As doenças autoimunes sistêmicas costumam predominar em                       quentemente mulheres6-8 e indivíduos entre 30 e 50 anos.8 Até
mulheres, com incidência variando entre 2:1 a 10:1. O lúpus                   o presente momento não há estudos comparando o perfil das
eritematoso sistêmico (LES) e a síndrome de Sjögren, por                      manifestações da PM entre os gêneros, exceto por uma impres-
exemplo, apresentam razão 7-10:1, enquanto a artrite reuma-                   são geral e indireta obtida em trabalhos epidemiológicos.9,10 Por
toide (AR) e a esclerose sistêmica têm razão 2-3:1.1                          exemplo, a doença pulmonar intersticial na PM/dermatomiosite
    O gênero masculino é considerado fator de bom prognós-                    (DM) está associada a artrite e/ou artralgia, ao anticorpo anti-Jo-1
tico em termos de remissão em pacientes com AR em uso de                      e ao gênero masculino.9 Chen et al.10 analisaram primariamente
anti-TNF,2 com melhores índices nas medidas de atividade                      os fatores preditivos de neoplasias na PM/DM, e observaram que
de doença.3 Na doença de Behçet e na síndrome de Sjögren                      o gênero masculino foi fator de risco independente.
primária, o gênero masculino encontra-se relacionado, respec-                     Portanto, o objetivo do presente estudo foi avaliar a distri-
tivamente, a maior frequência de manifestações neurológicas4                  buição e a influência do gênero na PM quanto às manifestações
e envolvimento pulmonar.5                                                     clínico-laboratoriais, evolução clínica e comorbidades.


Recebido em 14/10/2010. Aprovado, após revisão, em 01/07/2011. Os autores declaram a inexistência de conflitos de interesse. Comitê de Ética: HC 0039/10.
Disciplina de Reumatologia da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo – FMUSP.
1. Médico-Assistente do Serviço de Reumatologia do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo – HC/FMUSP
2. Doutor em Medicina; Médico-Assistente do Serviço de Reumatologia do HC/FMUSP; Professor-Colaborador da Disciplina de Reumatologia da FMUSP
3. Doutor em Ciências; Médico-Assistente do Serviço de Reumatologia do HC/FMUSP; Professor-Colaborador da Disciplina de Reumatologia da FMUSP
Correspondência para: Samuel Katsuyuki Shinjo. Disciplina de Reumatologia da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. Av. Dr. Arnaldo, 455,
3° andar, Sala 3190 – Cerqueira César. CEP: 01246-903. São Paulo, SP, Brasil. E-mail: samuel.shinjo@gmail.com


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Prevalência de manifestações clínico-laboratoriais e comorbidades na polimiosite segundo o gênero




                                                                                        método de Westergren; a determinação quantitativa da proteína
PACIENTES E MÉTODOS
                                                                                        C-reativa foi realizada no soro através de turbidimetria. Exames
Foram avaliados 75 pacientes consecutivos com PM prove-                                 complementares (eletroneuromiografia, biópsia muscular do
nientes da Unidade de Miopatias de nosso serviço terciário,                             bíceps – membro superior – e tomografia computadorizada do
entre o período de 1990 e 2010. Todos os pacientes preen-                               tórax) foram solicitados de rotina nas primeiras consultas médi-
chiam o critério classificatório de Bohan e Peter.11,12 O estudo                         cas. Uma vez excluídas as possibilidades de infecção e neoplasia,
foi aprovado pelo Comitê de Ética local (HC nº 0039/10), e                              a recidiva da atividade da doença foi definida como recorrência
as informações demográficas e referentes às manifestações                                da atividade clínico-laboratorial consequente à redução da dose
clínico-laboratoriais foram obtidas dos prontuários médicos.                            de corticosteroide e/ou suspensão de imunossupressores entre
    Os dados laboratoriais foram os solicitados de rotina, no                           as consultas médicas, devido à estabilidade clínica.
início do diagnóstico da PM. Creatina quinase (variação normal:                             As comorbidades analisadas foram hipertensão arterial
24-173 U/L), aldolase (variação normal: 1,0-7,5 U/L), aspartato                         sistêmica (HAS), diabetes mellitus, depressão, fibromialgia
aminotransferase (até 37 U/L) e alanina aminotransferase (até                           (FM), neoplasias, infarto agudo do miocárdio (IAM) e acidente
41 U/L) foram obtidas por método cinético automatizado. A                               vascular cerebral (AVC). FM foi baseada nos critérios classifi-
pesquisa de autoanticorpos contra componentes celulares foi                             catórios do American College of Rheumatology,13 e depressão
determinada por imunofluorescência indireta, utilizando células                          foi definida segundo Zimmerman et al.14 HAS foi baseada na V
Hep-2 como substrato; o anticorpo anti-Jo-1 foi determinado                             Diretriz Brasileira de Hipertensão Arterial,15 e diabetes mellitus
por immunoblotting; a velocidade de hemossedimentação, por                              na American Diabetes Association.


Tabela 1
Perfil demográfico, clínico e laboratorial dos pacientes com polimiosite
                                            Todos (N = 75)                 Homens (N = 23)               Mulheres (N = 52)            P
Média de idade* ± DP (anos)                 42,7 ± 13,7 (16-67)            42,3 ± 14,7 (16-66)           42,9 ± 13,2 (19-67)          0,874
Tempo de doença ± DP (anos)                 6,9 ± 5,1 (0-20)               6,8 ± 5,5 (1-20)              6,9 ± 4,9 (0-20)             0,993
Duração dos sintomas ao                     2,3 ± 4,4 (0-24)               1,9 ± 2,9 (0-12)              2,4 ± 5,0 (0-24)             0,580
diagnóstico (meses)
Cor: branca (%)                             63 (84,0)                      21 (91,7)                     42 (80,8)                    0,323
Manifestação clínica
Sintomas constitucionais (%)                35 (46,7)                      12 (52,2)                     23 (44,2)                    0,618
Acamado (%)                                 21 (28,0)                       6 (26,1)                     15 (28,9)                    1,000
Envolvimento articular (%)                  39 (52,0)                      13 (56,5)                     26 (50,0)                    0,626
Envolvimento pulmonar
  Dispneia (%)                              20 (27,4)                       6 (26,1)                     14 (26,9)                    1,000
Disfonia (%)                                 5 (6,7)                        0                             5 (9,6)                     0,315
Envolvimento gastrintestinal
  Disfagia (%)                              22 (29,3)                       6 (26,1)                     16 (30,8)                    0,787
  Dispepsia (%)                             21 (28,0)                       7 (30,4)                     14 (26,9)                    0,785
Doença em remissão (%)                      49 (65,3)                      15 (65,2)                     34 (65,4)                    1,000
Recidiva da doença (%)                      33 (44,0)                       9 (39,1)                     24 (46,2)                    0,622
Em seguimento (%)                           59 (78,7)                      17 (73,9)                     42 (80,8)                    0,549
Óbito (%)                                    3 (4,0)                        1 (4,4)                       2 (3,9)                     1,000

Autoanticorpos
  Fator antinuclear (%)                     38 (50,7)                      12 (52,2)                     26 (50,0)                    0,804
  Anti-Jo-1 (%)                             12 (16,0)                      3 (13,0)                      9 (17,3)                     0,745
Enzimas musculares
(início da doença)
  Creatina quinase ± DP (U/L)               4167,6 ± 4736,6                5023,0 ± 5481,3               3793,4 ± 4318,2              0,379
  Aldolase ± DP (U/L)                       62,6 ± 61,5                    89,9 ± 89,7                   52,3 ± 42,2                  0,167
  Aspartato aminotransferase (U/L)          186,6 ± 233,4                  187,2 ± 255,6                 186,5 ± 224,8                0,994
  Alanina aminotransferase (U/L)            152,7 ± 180,5                  160,1 ± 224,7                 150,0 ± 160,8                0,893
Proteína C-reativa (mg/L)                   19,7 ± 33,0                    38,8 ± 49,8                   10,1 ± 11,1                  0,120
VHS (mm/1ª hora)                            24,7 ± 20,9                    22,0 ± 20,9                   25,5 ± 20,9                  0,680
Tomografia computadorizada
  Fibrose pulmonar basal (%)                7 (9,3)                        2 (8,8)                       5 (9,6)                      1,000
  Lesão em vidro-fosco (%)                  13 (17,3)                      6 (26,1)                      7 (13,5)                     0,201
*Idade quando foi realizado o diagnóstico de polimiosite.
DP: desvio-padrão; VHS: velocidade de hemossedimentação.
O valor de P refere-se a homens vs. mulheres.



Rev Bras Reumatol 2011;51(5):423-433                                                                                                                       429
Souza et al.




    Os resultados foram expressos em média ± desvio-padrão                    67 anos) e duração média da doença de 6,9 ± 5,5 anos (0 a 20
(DP) ou porcentagem, sendo utilizado teste t de Student para                  anos). O tempo entre o início dos sintomas e o diagnóstico da
dados paramétricos, e de Fisher para os não paramétricos. Estes               PM na amostragem geral foi de 2,3 ± 4,4 meses (0 a 24 meses).
cálculos foram realizados com o programa de computador                        As características clínico-laboratoriais dos pacientes estão apre-
STATA versão 7.0 (Stata, College Station, TX, EUA), e valores                 sentadas na Tabela 1. Aproximadamente metade dos pacientes
P < 0,05 foram considerados estatisticamente significativos.                   apresentou recidiva da doença durante o acompanhamento.
                                                                              Apesar disso, dois terços deles encontravam-se em remissão
                                                                              da doença no desfecho do presente estudo, com 4,0% de óbitos.
 RESULTADOS
                                                                                  Como tratamento medicamentoso inicial foi usado corticos-
Foram analisados 75 pacientes consecutivos com PM entre o                     teroide (prednisona 1 mg/kg/dia, via oral, com redução gradual
período de 1990 e 2010, com tempo de seguimento em nosso                      em 1-2 meses após estabilidade clínica e laboratorial). Em caso
serviço de 6,9 ± 5,5 anos, dos quais 52 eram mulheres e 23 ho-                de gravidade da doença, realizou-se pulsoterapia com metil-
mens, com respectiva razão 2,3:1. A maioria era branca (84,0%),               prednisolona (1 g/dia, parenteral, três dias consecutivos). Como
com média de idade ao diagnóstico de 42,7 ± 13,7 anos (16 a                   poupadores de corticosteroide foram utilizados azatioprina



Tabela 2
Terapia medicamentosa instituída em pacientes com polimiosite
Tratamento medicamentoso                        Todos (N = 75)   Homens (N = 23)             Mulheres (N = 52)            P
Corticosteroide
  Prednisona (1 mg/kg/dia) (%)                  73 (100,0)       23 (100,0)                  52 (100,0)                   1,000
  Metilprednisolona (%)                         35 (46,7)        13 (56,5)                   22 (42,3)                    0,323
Metotrexato (%)                                 49 (65,3)        13 (56,5)                   36 (69,2)                    0,305
Azatioprina (%)                                 40 (53,3)        12 (52,2)                   29 (53,9)                    1,000
Ciclofosfamida (%)                              15 (20,0)        4 (17,4)                    11 (21,2)                    1,000
Ciclosporina (%)                                15 (20,0)        4 (17,4)                    10 (19,2)                    1,000
Micofenolato mofetil (%)                        3 (4,0)          1 (4,4)                     2 (3,9)                      1,000
O valor de P refere-se a homens vs. mulheres.




Tabela 3
Comorbidades diagnosticadas após a instituição da polimiosite
Comorbidades                                    Todos (N = 75)   Homens (N = 23)             Mulheres (N = 52)            P
Hipertensão arterial sistêmica (%)              29 (38,7)        10 (43,5)                   19 (37,3)                    0,618
  Pré-polimiosite (%)                           18 (24,0)        5 (21,7)                    13 (25,0)                    1,000
  Pós-polimiosite (%)                           11 (14,7)        5 (21,7)                    6 (11,5)                     0,306
Diabetes mellitus (%)                           13 (17,3)        6 (26,1)                    7 (13,5)                     0,201
  Pré-polimiosite (%)                           7 (9,3)          3 (13,0)                    4 (7,7)                      0,669
  Pós-polimiosite (%)                           6 (8,0)          3 (13,0)                    3 (5,8)                      0,363
Depressão major (%)                             11 (14,7)        0                           11 (21,2)                    0,028
Fibromialgia (%)                                6 (8,0)          0                           6 (11,5)                     0,169
Neoplasia (%)                                   4 (5,3)          1 (4,4)                     3 (5,8)                      1,000
Infarto agudo do miocárdio (%)                  3 (4,0)          1 (4,4)                     2 (3,9)                      1,000
Acidente vascular cerebral (%)                  0                0                           0                            1,000

O valor de P refere-se a homens vs. mulheres.


430                                                                                                                 Rev Bras Reumatol 2011;51(5):423-433
Prevalência de manifestações clínico-laboratoriais e comorbidades na polimiosite segundo o gênero




(2-3 mg/kg/dia), metotrexato (20-25 mg/semana), ciclosporina            presente estudo. O LES e a síndrome de Sjögren, por exemplo,
(3-5 mg/kg/dia), micofenolato mofetil (2-3 g/dia), leflunomide           apresentam razões 7-10:1, enquanto AR, esclerose sistêmica e
(20 mg/dia), ciclofosfamida (0,5-1,0 g/m2 de superfície corpó-          miopatias inflamatórias idiopáticas têm razão 2,3:1.1,16,18-25 Essa
rea), em monoterapia ou em associação, dependendo da tolerância,        desigualdade na distribuição pode ser reflexo da influência de
efeitos colaterais e refratariedade da doença (Tabela 2). De modo       hormônios sexuais endógenos e de fatores genéticos.17-24
geral, todos os indivíduos receberam prednisona (1 mg/kg/dia)               Os dados apresentados mostram que a evolução e as ca-
e aproximadamente metade dos pacientes recebeu terapia                  racterísticas demográficas e clínico-laboratoriais da PM foram
adicional com pulso de metilprednisolona (1 g/dia, três dias            similares em ambos os gêneros, diferente do que ocorre em
consecutivos). O uso de ciclofosfamida parenteral foi indicado          outras doenças autoimunes sistêmicas, em que o gênero pode
para o acometimento pulmonar, caracterizado por progressão              influenciar no curso da doença. O LES, por exemplo, tende
da dispneia e achados de imagens compatíveis à tomografia                a apresentar prognóstico pior em homens, embora isto seja
computadorizada. Não houve diferença entre mulheres e ho-               controverso na literatura.26-29
mens quanto à distribuição das características demográficas,                 Aproximadamente metade dos pacientes apresentava
clínico-laboratoriais, evolução clínica e terapia medicamentosa         sintomas constitucionais ou acometimento articular no
instituída (Tabelas 1 e 2).                                             início da doença. Todos os pacientes apresentavam fraque-
    Com relação às comorbidades (Tabela 3), depressão e FM              za muscular proximal dos quatro membros, e um quarto
ocorreram apenas no gênero feminino, e apenas depressão                 estava acamado apesar do pouco tempo da instalação da
teve prevalência estatisticamente significativa em mulheres              doença (cerca de dois meses). Observamos também envol-
(P = 0,028), com nenhuma das pacientes apresentando trans-              vimento pulmonar (dispneia) e gastrintestinal (disfagia ou
torno bipolar. Houve alta prevalência de HAS (38,7%), mesmo             dispepsia) em aproximadamente um terço dos pacientes,
antes dos sintomas e do diagnóstico da PM (24,0%); após esta-           reforçando a necessidade de avaliar os portadores de PM
belecida a miopatia, houve aumento de aproximadamente 50%               não só do ponto de vista do acometimento exclusivamente
de HAS. Apresentaram diabetes mellitus 9,3% dos pacientes,              musculoesquelético.
e, com o estabelecimento da PM, a ocorrência foi de 17,3%,                  Depressão é frequentemente presente em doenças sis-
com a mesma distribuição em ambos os gêneros. Neoplasia                 têmicas crônicas como AR, por exemplo, ocorrendo em
e IAM ocorreram em 5,3% e 4%, respectivamente. Dentre as                13%-20%,30-33 enquanto em FM 33 e LES 29 está presente,
neoplasias, foram diagnosticados um caso em homem e três                respectivamente, em 39% e 34% dos casos. Na comunidade
em mulheres, a saber: um osteoma osteoide femoral (um ano               em geral e no antedimento primário, a depressão ocorre, res-
após o diagnóstico da PM), um carcinoma folicular tireoidiano           pectivamente, em 2%-4% e 5%-10% dos pacientes do gênero
(um ano após a PM), um carcinoma epidermoide metastático                feminino,34 contrastando-se ao apresentado neste estudo, em
(três anos após a PM) e uma neoplasia renal (15 anos após a             que a depressão foi vista em aproximadamente 21,2% das
PM), respectivamente. Não foram identificados casos de AVC.              mulheres. A depressão, particularmente em AR, está associada
                                                                        a maior frequência de hospitalização, maior número de visitas
                                                                        médicas, pior qualidade de vida, menor aderência à terapia
DISCUSSÃO
                                                                        medicamentosa e risco aumentado de mortalidade.34-37 Ela é
O presente estudo envolveu grande casuística e avaliou                  duas vezes mais frequente em mulheres em comparação aos
tanto a distribuição quanto a influência do gênero na PM.                homens,38 enquanto FM é aproximadamente dez vezes mais
Observamos predomínio do gênero feminino (2,3:1), carac-                prevalente.39 Nossos pacientes com depressão não tiveram
terísticas clínico-laboratoriais e comorbidades similares em            maior recidiva de doença ou de óbito. Apesar de a associação
ambos os grupos, alta prevalência de HAS e diabetes mellitus,           entre depressão e FM ser relativamente comum, no presente
com destaque à depressão major, presente apenas em mulheres.            estudo essas duas comorbidades coexistiram apenas em
    A média de idade no início da doença, no presente trabalho,         mulheres, tendo sido simultâneas em apenas uma paciente.
foi de 40 anos, similar a outros trabalhos da literatura,16-33 con-         Houve alta prevalência de HAS e diabetes mellitus,
trastando apenas aos de Senegal e Singapura, que mostraram              quando comparada com a população brasileira: 20% e
médias de idade de 50 anos.24,25                                        9%, respectivamente.40,41 Após o diagnóstico de PM, os
    De um modo geral, as doenças autoimunes tendem a                    achados de HAS e de diabetes mellitus aumentaram em
predominar no gênero feminino, inclusive nas miopatias in-              50% e 100%, respectivamente, podendo refletir o uso de
flamatórias idiopáticas,1,15,18-25 fato reforçado pelos dados do         corticosteroide. Recentemente, com base em banco de dados

Rev Bras Reumatol 2011;51(5):423-433                                                                                                        431
Souza et al.




epidemiológicos, Limaye et al.42 demonstraram alto índice                            8.    Drake LA, Dinehart SM, Farmer ER, Goltz RW, Graham GF,
                                                                                           Hordinsky MK et al. Guidelines of care for dermatomyositis. American
de eventos cardiovasculares após o diagnóstico de todas
                                                                                           Academy of Dermatology. J Am Acad Dermatol 1996; 34(5 pt 1):824-9.
as miopatias inflamatórias idiopáticas (DM, PM e miosite                              9.    Chen YJ, Jan Wu YJ, Lin CW, Fan KW, Luo SF, Ho HH et al.
por corpúsculo de inclusão). No presente estudo ocorreram                                  Interstitial lung disease in polymyositis and dermatomyositis. Clin
neoplasias ao redor de 5%, sem distinção entre os gêneros,                                 Rheumatol 2009; 28(6):639-46.
índices semelhantes aos descritos na literatura, quais sejam,                        10.   Chen YJ, Wu CY, Shen JL. Predicting factors of malignancy in
                                                                                           dermatomyositis and polymyositis: a case-control study. Br J
3,3% e 7,7%.43-45
                                                                                           Dermatol 2001; 144(4):825-31.
    Tivemos baixa prevalência de eventos cardiovasculares                            11.   Bohan A, Peter JB. Polymyositis and dermatomyositis. Pt I. N Engl
(IAM e AVC), sem distinção entre os gêneros, sendo em parte                                J Med 1975; 292(7):344-7.
justificada pelo curto período de tempo de acompanhamento                             12.   Bohan A, Peter JB. Polymyositis and dermatomyositis. Pt II. N Engl
(aproximadamente oito anos), contrastando-se aos índices de                                J Med 1975; 292(8):403-7.
6%-75% descritos na literatura.46,47                                                 13.   Wolfe F, Clauw DJ, Fitzcharles MA, Goldenberg DL, Katz RS,
                                                                                           Mease P et al. The American College of Rheumatology preliminary
    Em termos evolutivos, dois terços dos pacientes encontra-                              diagnostic criteria for fibromyalgia and measurement of symptom
vam-se em remissão sob corticoterapia e/ou imunossupresso-                                 severity. Arthritis Care Res 2010; 62(5):600-10.
res. Houve recidivas em metade dos indivíduos, sem distinção                         14.   Zimmerman M, Galione JN, Chelminski I, McGlinchey JB, Young D,
entre os gêneros, reforçando a necessidade de acompanhamento                               Dalrymple K et al. A simpler definition of major depressive disorder.
                                                                                           Psychol Med 2010; 40(3):451-7.
médico regular desses pacientes. Óbito ocorreu em 4,0% dos
                                                                                     15.   Sociedade Brasileira de Cardiologia – SBC; Sociedade Brasileira
casos, sem distinção entre os gêneros.
                                                                                           de Hipertensão – SBH; Sociedade Brasileira de Nefrologia – SBN.
    Em resumo, a PM acometeu mulheres em razão 2,3:1, com                                  V Brazilian Guidelines in Arterial Hypertension. Arq Bras Cardiol
alta prevalência de comorbidades, tanto em homens como                                     2007; 89(3):e24-79.
em mulheres, com destaque à depressão major que afetou                               16.   Toumi S, Ghnaya H, Braham A, Harrabi I, Laouani-Kechrid C,
exclusivamente o gênero feminino. Ao avaliar pacientes com                                 Groupe tunisien d’étude des myosites inflammatoires. Polymyositis
                                                                                           and dermatomyositis in adults. Tunisian multicentre study. Rev Med
PM devemos estar atentos às comorbidades, visando ao seu                                   Interne 2009; 30(9):747-53.
rápido controle, oferecendo, assim, melhor qualidade de vida                         17.   Weitoft T. Occurrence of polymyositis in the county of Gävleborg,
aos pacientes.                                                                             Sweden. Scand J Rheumatol 1997; 26(2):104-6.
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REFERÊNCIAS
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432                                                                                                                             Rev Bras Reumatol 2011;51(5):423-433
Prevalência de manifestações clínico-laboratoriais e comorbidades na polimiosite segundo o gênero




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Rev Bras Reumatol 2011;51(5):423-433                                                                                                            433
ARTIGO ORIGINAL




               Efeito imediato da utilização da joelheira
                elástica em indivíduos com osteoartrite
                            Flavio Fernandes Bryk1, Julio Fernandes de Jesus2, Thiago Yukio Fukuda3,
                      Esdras Gonçalves Moreira4, Freddy Beretta Marcondes5, Marcio Guimarães dos Santos6



          RESUMO
          Introdução: A osteoartrite (OA) de joelho normalmente ocasiona dificuldades na realização de diversas atividades
          rotineiras, sendo um dos principais motivos de procura por serviços médicos e fisioterapêuticos. Existem diversas
          modalidades de tratamento, com resultados variados. A utilização da joelheira como recurso adjunto tem-se mostrado
          controversa na literatura. Objetivo: Analisar a eficácia imediata da joelheira elástica na dor e na capacidade funcional
          em indivíduos com OA de joelho. Métodos: Foram analisados 74 sujeitos sintomáticos (132 joelhos) com OA de jo-
          elho por meio dos testes Stair Climb Power Test (SCPT), Timed Up and Go (TUG) e Caminhada de 8 Metros (C8M),
          além da escala visual analógica (EVA) para dor. Os testes foram realizados com e sem joelheira; a ordem e a presença
          ou ausência das joelheiras durante os testes foram randomizadas e com avaliador cego. Resultados: Foi encontrada
          diferença estatisticamente significante entre as duas situações comparadas (com e sem joelheira) para EVA (P < 0,001),
          mostrando redução da dor com a joelheira. Análises com os três testes funcionais em ambas as condições foram rea-
          lizadas, resultando diferenças estatisticamente significantes para os testes C8M e TUG (P < 0,05), mas não no SCPT
          (P > 0,1339). Conclusão: A joelheira elástica foi eficiente na melhora imediata da capacidade funcional e da dor em
          indivíduos com OA de joelho, pois melhorou o desempenho durante os testes propostos. Sendo assim, entende-se que
          se trata de um recurso coadjuvante para o tratamento da OAJ por ser prático, útil, de fácil emprego clínico e que pode
          auxiliar e/ou facilitar a realização de exercícios terapêuticos.

          Palavras-chave: osteoartrite, articulação do joelho, reabilitação, instabilidade articular.
          © 2011 Elsevier Editora Ltda. Todos os direitos reservados.




                                                                               funcionais como levantar de cadeiras, subir escadas, ajoelhar-se,
INTRODUÇÃO
                                                                               ficar em pé e andar, além de aumentar a suscetibilidade de
A osteoartrite (OA) do joelho é um dos principais motivos de                   quedas.2
procura por serviços médicos e fisioterapêuticos, e sua preva-                     Diversas formas de tratamento para OA são encontradas
lência vem aumentando com o envelhecimento populacional.1                      na literatura, porém as não farmacológicas e não cirúrgicas
    Os sinais e sintomas clínicos, em geral, são semelhantes e                 empregadas na fisioterapia são consideradas e recomendadas
apresentam-se como dor, rigidez, instabilidade articular, edema                como primeira linha de tratamento para a tentativa de solu-
e fraqueza muscular, que acarretam diminuição de habilidades                   cionar esse problema.3


Recebido em 30/11/2010. Aprovado, após revisão, em 01/07/2011. Os autores declaram a inexistência de conflitos de interesse. Comitê de Ética: 281/09.
Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo e Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de Diadema – Quarteirão da Saúde.
1. Fisioterapeuta; Mestrando em Ciências do Movimento Humano pela Universidade Cruzeiro do Sul – UNICSUL; Professor Titular do Curso de Especialização
em Fisioterapia Músculo Esquelética (FME) da Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo – ISCMSP
2. Fisioterapeuta; Mestrando em Ciências pela Universidade Federal de São Paulo – UNIFESP
3. Fisioterapeuta; Doutor em Ciências pela UNIFESP; Professor Titular do Curso de FME da ISCMSP e do Curso de Graduação em Fisioterapia do Centro
Universitário São Camilo – CUSC
4. Fisioterapeuta pela Universidade Bandeirante de São Paulo – UNIBAN
5. Fisioterapeuta; Mestrando em Ciências pela Universidade Federal de Campinas – UNICAMP; Fisioterapeuta do Instituto Wilson Mello, Campinas/SP
6. Fisioterapeuta; Especialista em FME pela ISCMSP; Fisioterapeuta da Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de Diadema – Quarteirão da Saúde (ISCMD-QS)
Correspondência para: Marcio Guimarães dos Santos. Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de Diadema – Quarteirão da Saúde – Setor de Fisioterapia.
Av. Antônio Piranga, 578 – Centro. CEP: 09911-160. Diadema, SP, Brasil. Telefone: +55 11 4043-8000. E-mail: marcio_guimaraes@superig.com.br


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Efeito imediato da utilização da joelheira elástica em indivíduos com osteoartrite




    Dentre esses recursos destacam-se os exercícios aeróbicos e os          após consulta com ortopedista. Para inclusão na pesquisa era
de fortalecimento muscular, por estarem relacionados com melhora            necessário que os pacientes apresentassem no mínimo quatro
da dor e da função nos indivíduos portadores de OA nos joelhos.4            itens dos critérios clínicos da classificação de OA de joelho,
    Entretanto, devido às limitações funcionais causadas                    segundo o American College of Rheumatology.9 Outro crité-
pelo quadro de fraqueza muscular e dor, a prescrição desses                 rio de inclusão foi dor acima de três pontos na escala visual
exercícios é limitada por dificuldades técnicas, e muitas vezes              analógica (EVA) durante a atividade de subir e descer escadas.
esses recursos tornam-se desinteressantes, dolorosos e conse-                   Indivíduos com comprometimento neurológico, fibromial-
quentemente ineficazes.4                                                     gia, artrite reumatoide, prótese total e/ou parcial de joelhos ou
    Na tentativa de minimizar o quadro álgico, outras modali-               quadris, cardiopatas descompensados, deficientes auditivos e
dades terapêuticas, tais como eletroestimulação neuromuscular               visuais e pacientes que não conseguissem realizar os testes
(EENM),5 algumas formas de terapia manual,3 protocolos de                   propostos foram excluídos.
aplicação de termoterapia e crioterapia, além da utilização de joe-
lheiras e taping,6,7 são associadas ao tratamento da OA nos joelhos.        Sujeitos
    Porém, com exceção da joelheira, todos esses recursos
dependem da perícia técnica do fisioterapeuta para sua apli-                 Foram selecionados 80 indivíduos de ambos os gêneros para
cação. Dessa forma, a joelheira poderia ser um recurso prático              coleta de dados. Dentre estes, apenas os dados de 74 indivíduos
e de autoutilização para o controle do quadro álgico durante a              foram incluídos, totalizando 132 joelhos, pois conseguiram
realização dos exercícios, tornando-os mais eficazes. Existem                completar a execução dos testes propostos. Os seguintes itens
relatos na literatura que evidenciam a melhora do senso de                  foram avaliados: idade, peso, altura, índice de massa corporal
posição articular, dor, rigidez e função com a aplicação da                 (IMC), tempo de dor nos joelhos (em anos), tamanho da joe-
joelheira em indivíduos com OA nos joelhos.6,8                              lheira e se o acometimento era unilateral ou bilateral.
    Sendo assim, este estudo teve como objetivo investigar a
eficácia imediata da joelheira elástica na dor e na capacidade               Joelheiras
funcional em indivíduos portadores de OA nos joelhos, vi-                   Foram utilizadas joelheiras elásticas sem orifícios (Tensor® –
sando à sua importância clínica como coadjuvante durante a                  Registro ANVISA/MS – 80017170005), por gerarem compressão
realização do tratamento baseado em exercícios. A hipótese é                aos tecidos aumentando a área de contato, promovendo, assim,
que a joelheira poderia diminuir a dor e melhorar a capacidade              menor pressão e diminuindo a dor na articulação do joelho.10
funcional durante os testes propostos.                                          De acordo com o fabricante, as joelheiras eram de três
                                                                            tamanhos diferentes: pequeno (P), médio (M) e grande (G). A
                                                                            escolha do tamanho foi definida pela circunferência do joelho:
MÉTODOS
                                                                            tamanho P de 32 a 35 cm, M de 35 a 39 cm e G de 39 a 44 cm.
Este foi um estudo randomizado e com avaliador cego, rea-                   Portanto, antes da escolha do tamanho da joelheira realizou-se
lizado no Setor de Reabilitação da Irmandade da Santa Casa                  a perimetria no joelho do indivíduo, tomando como parâmetro
de Misericórdia de São Paulo (ISCMSP), em parceria com                      anatômico o ápice da patela; caso a circunferência do joelho
a Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de Diadema –                      fosse uma medida entre dois tamanhos, optou-se pelo menor.
Quarteirão da Saúde (ISCMD-QS).                                                 A colocação da joelheira foi realizada de acordo com as
    Antes da coleta dos dados todos os pacientes foram in-                  instruções do fabricante, que determina o posicionamento
formados sobre os procedimentos que seriam realizados, e                    centralizado no joelho acometido permitindo movimentação
assinaram um termo de consentimento livre e esclarecido,                    de maneira confortável.
de acordo com a resolução 196/96 do Conselho Nacional de
Saúde, declarando participação voluntária neste estudo. Foi                 Testes funcionais e escala de dor
obtida também a aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa
                                                                            Foi utilizada a EVA para quantificar a dor dos indivíduos du-
da ISCMSP (Projeto n° 281/09).
                                                                            rante as avaliações do Stair Climb Power Test (SCPT),11 uma
                                                                            vez que esta escala é considerada instrumento válido para tal
Critérios de inclusão e exclusão
                                                                            finalidade.12,13 A mesma era composta de um número inicial (0)
Todos os participantes do estudo foram encaminhados ao                      posicionado no extremo esquerdo da linha, indicando ausência
Setor de Fisioterapia com diagnóstico de OA nos joelhos                     de qualquer sintoma de dor. Este, por sua vez, estava unido


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  • 1. BRAZILIAN JOURNAL OF RHEUMATOLOGY REVISTA BRASILEIRA DE REUMATOLOGIA Official Organ of Brazilian Society of Rheumatology Órgão Oficial da Sociedade Brasileira de Reumatologia SEPTEMBER/OCTOBER 2011 • VOLUME 51 • NUMBER 5 SETEMBRO/OUTUBRO 2011 • VOLUME 51 • NÚMERO 5 ISSN: 0482-5004 EDITORIAL | EDITORIAL 408 Lupus clinical trials: medication failure or failure in study design 410 Estudo clínico em lúpus: falha na medicação ou falha no desenho do estudo Morton Aaron Scheinberg ORIGINAL ARTICLE | ARTIGO ORIGINAL 412 IgA nephropathy in patients with spondyloarthritis followed-up at the Rheumatology Service of Hospital das Clínicas/UFMG 417 Nefropatia por IgA em portadores de espondiloartrites acompanhados no Serviço de Reumatologia do Hospital das Clínicas da UFMG Daniela Castelo Azevedo, Gilda Aparecida Ferreira, Marco Antônio P. Carvalho 423 Prevalence of clinical and laboratory manifestations and comorbidities in polymyositis according to gender 428 Prevalência de manifestações clínico-laboratoriais e comorbidades na polimiosite segundo o gênero Fernando Henrique Carlos de Souza, Maurício Levy-Neto, Samuel Katsuyuki Shinjo 434 Immediate effect of the elastic knee sleeve use on individuals with osteoarthritis 440 Efeito imediato da utilização da joelheira elástica em indivíduos com osteoartrite Flavio Fernandes Bryk, Julio Fernandes de Jesus, Thiago Yukio Fukuda, Esdras Gonçalves Moreira, Freddy Beretta Marcondes, Marcio Guimarães dos Santos 447 Correlation of fatigue with pain and disability in rheumatoid arthritis and osteoarthritis, respectively 451 Correlação de fadiga com dor e incapacidade na artrite reumatoide e na osteoartrite, respectivamente Gilberto Santos Novaes, Mariana Ortega Perez, Maria Beatriz Bray Beraldo, Camila Rodrigues Costa Pinto, Reinaldo José Gianini
  • 2. 456 Prolactin, estradiol and anticardiolipin antibodies in premenopausal women with systemic lupus erythematosus: a pilot study 460 Prolactina, estradiol e anticorpos anticardiolipina em amostra de mulheres pré-menopáusicas com lúpus eritematoso sistêmico: estudo-piloto Fabiane Tiskievicz, Elaine S. Mallmann, João C. T. Brenol, Ricardo M. Xavier, Poli Mara Spritzer 465 Study of the frequency of HLA-DRB1 alleles in Brazilian patients with rheumatoid arthritis 474 Estudo da frequência dos alelos de HLA-DRB1 em pacientes brasileiros com artrite reumatoide Magali Justina Gómez Usnayo, Luis Eduardo Coelho Andrade, Renata Triguenho Alarcon, Juliana Cardoso Oliveira, Gustavo Milson Fabrício Silva, Izidro Bendet, Rufus Burlingame, Luis Cristóvão Porto, Geraldo da Rocha Castelar Pinheiro REVIEW ARTICLE | ARTIGO DE REVISÃO 484 Therapeutic effects of exercise training in patients with pediatric rheumatic diseases 490 Efeitos terapêuticos do treinamento físico em pacientes com doenças reumatológicas pediátricas Bruno Gualano, Ana Lúcia de Sá Pinto, Maria Beatriz Perondi, Hamilton Roschel, Adriana Maluf Elias Sallum, Ana Paula Tanaka Hayashi, Marina Yazigi Solis, Clóvis Artur Silva 497 Expression of complement regulatory proteins CD55, CD59, CD35, and CD46 in rheumatoid arthritis 503 Expressão de proteínas reguladoras do complemento CD55, CD59, CD35 e CD46 na artrite reumatoide Amanda Kirchner Piccoli, Ana Paula Alegretti, Laiana Schneider, Priscila Schmidt Lora, Ricardo Machado Xavier CASE REPORT | RELATO DE CASO 511 Phlegmasia cerulea dolens in patient with systemic lupus erythematosus in the remote postpartum period 514 Flegmasia cerúlea dolens em paciente com lúpus eritematoso sistêmico no puerpério remoto José Marques Filho 517 Septic arthritis due to Streptococcus bovis in a patient with liver cirrhosis due to hepatitis C virus – case report and literature review 520 Artrite séptica por Streptococcus bovis em paciente com cirrose hepática devido ao vírus da hepatite C – relato de caso e revisão de literatura Ernesto Dallaverde Neto 524 Takayasu's arteritis in children and adolescents: report of three cases 527 Arterite de Takayasu na infância e na adolescência: relato de três casos Ana Karina Soares Nascif, Marcelo Delboni Lemos, Norma Suely Oliveira, Paula Campos Perim, Ana Costa Cordeiro, Mariana Quintino LETTER TO THE EDITORS | CARTA AOS EDITORES 531 The presence of the Brazilian rheumatology in the GRAPPA 533 A presença da reumatologia brasileira no GRAPPA (Group for Research and Assessment of Psoriasis and Psoriatic Arthritis) Cláudia Goldenstein-Schainberg, Roberto Ranza, Rubens Bonfiglioli, Sueli Carneiro, Valderilio F. Azevedo, José Goldenberg, Morton Scheinberg
  • 3. EDITORIAL Estudo clínico em lúpus: falha na medicação ou falha no desenho do estudo © 2011 Elsevier Editora Ltda. Todos os direitos reservados. heterogeneidade das manifestações do lúpus representa mostrou diferença nas taxas de exacerbação para as categorias a importante desafio para o desenho de estudos clínicos. O pleomorfismo das manifestações clínicas, a gravi- dade da doença, a influência da etnia na sua atividade e os BILAG A e B.1 Belimumabe é um anticorpo monoclonal humano que inibe o fator estimulante de linfócitos B (B-lymphocyte sti- obstáculos para a realização de estudos com amostras maiores mulator – BLyS), e mostrou-se mais eficiente que placebo dificultam a obtenção de significância estatística nos ensaios no tratamento de indivíduos com lúpus eritematoso sistêmico clínicos para novas terapias. Muitos desses estudos excluem (LES) sorologicamente ativo. Análises de eficácia incluíram pacientes com manifestações renais e do sistema nervoso cen- os índices de atividade da doença SELENA-SLEDAI, BILAG tral, na tentativa de detectar eficácia em estágios menos graves e SELENA-SLEDAI Flare Index (SFI). O desfecho primário da doença. Neste editorial tecemos alguns comentários gerais ocorreu na semana 52, com melhora em várias aferições sobre estudos recentes. empregadas, inclusive a avaliação global pelo médico. O O estudo EXPLORER arrolou 257 pacientes com lúpus sucesso de belimumabe em 52 semanas (BLISS-52) pode extrarrenal e atividade variando de moderada a grave. Os ter resultado de uma nova subanálise em subpopulação de pacientes foram randomizados para receber rituximabe e pacientes que melhorou com o tratamento. A maioria dos prednisona ou placebo e prednisona, tendo sido acompanha- pacientes mostrou estar na categoria “B” quanto à atividade dos por 78 semanas. Os desfechos primários e secundários da doença, o que significa que tinham mais autoanticorpos, do estudo não foram atingidos. O estudo LUNAR arrolou inclusive títulos mais elevados de anti-DNA e níveis mais pacientes com nefrite lúpica comprovada por biópsia. O altos de imunoglobulinas séricas. desenho geral foi semelhante ao do EXPLORER, e o su- cesso foi definido como resposta renal em um ano. O uso Considerações gerais importantes do medicamento não teve impacto nos desfechos primários Estudos futuros poderiam analisar se existe um racional e secundários. científico para que a avaliação de eficácia de tratamento O estudo The efficacy and safety of abatacept in patients enfoque a redução do número de exacerbações versus a with non-life-threatening manifestations of systemic lupus diminuição persistente da atividade da doença. Pacientes erythematosus: results of a twelve-month, multicenter, explora- com LES e exacerbações periódicas podem diferir daque- tory, phase IIb, randomized, double-blind, placebo-controlled les com lúpus cronicamente ativo. Pacientes com LES de trial (Eficácia e segurança do abatacepte em pacientes com grupos raciais diferentes podem apresentar patologias e lúpus eritematoso sistêmico e manifestações que não oferecem condições diferentes, com um único paciente apresentando risco de morte: resultados de um estudo randomizado, multi- diferentes variações ao longo do tempo. Os estudos futu- cêntrico, exploratório, fase IIb, duplo-cego, controlado com ros devem dar especial atenção à etnia como um fator que placebo, de 12 meses) avaliou o efeito de abatacepte na exa- pode afetar o desfecho. O tamanho do estudo também é cerbação da doença em um contexto de uso de glicocorticoides um importante desafio. Em geral, quanto maior o estudo, orais. Para serem incluídos na pesquisa os pacientes deveriam maior a probabilidade de se perder um efeito terapêutico apresentar exacerbação de lúpus nos 14 dias anteriores à sua nas análises. Por fim, um pequeno estudo pode obter êxito entrada no estudo e utilizar dose estável de prednisona inferior e resultados estatisticamente significativos. Outros pontos a 30 mg/dia. Foram tratados 175 pacientes: 118 randomizados a se considerar são tempo de doença, atual envolvimento para receber abatacepte e 57 para receber placebo. O estudo não de órgãos específicos e tratamentos anteriores. Por fim, a 410 Rev Bras Reumatol 2011;51(5):408-411
  • 4. EDITORIAL definição de melhora dos desfechos usada em estudos de- auxiliar na discriminação entre falha medicamentosa e falha veria ser aceita universalmente como a melhor disponível. no desenho do estudo. Controvérsias em torno do uso do índice BILAG baseiam-se Morton Aaron Scheinberg, PhD em uma abordagem de intenção de tratar de acordo com uma extensa série de critérios para classificar pacientes com Clínico e Reumatologista do Hospital Israelita Albert Einstein Diretor científico e Coordenador de Pesquisa Clínica do manifestações de LES surgindo em diferentes sistemas de Hospital Abreu Sodré – AACD órgãos. Há limitações com o uso do índice BILAG isolado; Professor Llivre-Docente em Imunologia pela Universidade de São Paulo – USP PhD em Imunologia pela Universidade de Boston por exemplo, o uso de BILAG B como medida de desfecho de atividade lúpica deveria ser considerado simultaneamente REFERENCES ao uso de outros índices.2 REFERÊNCIAS 1. Merrill JT, Burgos-Vargas R, Westhovens R, Chalmers A, D’Cruz D, Wallace DJ et al. The efficacy and safety of abatacept in patients with CONCLUSÕES non-life-threatening manifestations of systemic lupus erythematosus: results of a twelve-month, multicenter, exploratory, phase IIb, Considerando-se o sucesso dos estudos sobre artrite reuma- randomized, double-blind, placebo-controlled trial. Arthritis Rheum toide (AR), seria de se esperar que o mesmo acontecesse com 2010; 62(10):3077-87. o LES, mas isso não se mostrou verdadeiro. Espera-se que 2. Peirce A, Lipsky P, Schwartz BD. Mitigate Risk and Increase Success possamos aprender com os nossos erros atuais e criar novos of Lupus Clinical Trials - Design strategies from a Lupus Research e diferentes elementos de desenho clínico, assim como que Institute conference. The Rheumatologist, August 2010. Available from: www.the-rheumatologist.org/details/article/863303/Mitigate_ as considerações aqui esboçadas para estudos futuros possam Risk_and_Increase_Success_of_Lupus_Clinical_Trials.html. Rev Bras Reumatol 2011;51(5):408-411 411
  • 5. ARTIGO ORIGINAL Nefropatia por IgA em portadores de espondiloartrites acompanhados no Serviço de Reumatologia do Hospital das Clínicas da UFMG Daniela Castelo Azevedo1, Gilda Aparecida Ferreira2, Marco Antônio P. Carvalho2 RESUMO Objetivo: Determinar a frequência das glomerulonefrites nos pacientes espondiloartríticos acompanhados em Serviço de Reumatologia Brasileiro e avaliar variáveis clínicas correlacionadas. Pacientes e métodos: Os pacientes foram avaliados quanto às características sociodemográficas, tipo de espondiloartrite, tempo e atividade da doença, uso de anti-inflamatórios não esteroides, presença do HLA-B27, níveis de creatinina e ureia séricas, presença de comorbidades e presença de hematúria e/ou proteinúria. Os pacientes com hematúria foram submetidos à pesquisa de dismorfismo eritrocitário, e aqueles com proteinúria submeteram-se à quantificação da proteína na urina de 24 horas. Biópsia renal foi indicada para aqueles com hematúria de origem glomerular e/ou proteinúria maior que 3,5 g. Resultados: Foram avaliados 76 pacientes. A alteração mais frequente no exame de urina de rotina foi a hematúria microscópica (44,7%), geralmente intermitente e em amostra isolada de urina durante o seguimento do paciente. Em oito (10,5%) dos pacien- tes a hematúria sugeriu origem glomerular. A biópsia renal foi realizada em cinco deles, e mostrou nefropatia por IgA em quatro (5,3%) e doença da membrana fina em um paciente. Conclusões: Notou-se alta frequência de alterações no exame de urina desse subgrupo de pacientes, assim como alta prevalência de nefropatia por IgA. Apesar de mais estudos sobre o assunto serem necessários para melhor esclarecimento desses resultados, a realização periódica de exames de urina deveria ser recomendável. Palavras-chave: glomerulonefrite, espondiloartropatias, glomerulonefrite por IgA, hematúria. © 2011 Elsevier Editora Ltda. Todos os direitos reservados. INTRODUÇÃO tumoral (anti-TNF), GNF membranosa e GNF com depósitos mesangiais predominantes de IgA.3-15 Há ainda uma hipótese de A pesquisa de glomerulonefrites (GNF) nos pacientes aco- que a nefropatia por IgA e a espondilite anquilosante poderiam metidos por espondiloartrite (EPA) não é uma recomenda- compartilhar mecanismos etiopatogenéticos.16 ção rotineira.1,2 Apesar disso, tem sido mencionada maior As GNF englobam grande variedade de alterações imu- frequência de acometimento renal nas EPA.3,4 Os tipos de nomediadas que causam inflamação predominantemente no acometimento citados são amiloidose renal, nefropatia glomérulo renal. São a segunda causa de insuficiência renal relacionada aos anti-inflamatórios não esteroidais (AINEs), terminal no mundo.17 Sua apresentação clínica tem como GNF extracapilar relacionada aos agentes antifator de necrose constante a presença de proteinúria e/ou hematúria, que Recebido em 10/6/2010. Aprovado, após revisão, em 01/7/2011. Os autores declaram a inexistência de conflitos de interesse. Comitê de Ética: ETIC 086/07. Serviço de Reumatologia do Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG; Departamento do Aparelho Locomotor e Departamento de Cirurgia, Faculdade de Medicina da UFMG; Pós-graduação em Ciências Aplicadas à Saúde do Adulto da Faculdade de Medicina da UFMG; áreas de concentração em Reumatologia. 1. Mestre em Ciências Aplicadas à Saúde do Adulto pela Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG; Médica Especialista em Reumatologia 2. Professor Adjunto Doutor da Faculdade de Medicina da UFMG Correspondência para: Daniela Castelo Azevedo. Hospital das Clínicas da UFMG. Serviço de Reumatologia, Ambulatório Bias Fortes. Alameda Álvaro Celso, 175, 2° andar – Santa Efigênia. CEP: 20130-100. Belo Horizonte, MG, Brasil. E-mail: az.dani@gmail.com Rev Bras Reumatol 2011;51(5):412-422 417
  • 6. Azevedo et al. pode ser ou não acompanhada de outros sintomas ou sinais of High Blood Pressure – JNC VII,24 e insuficiência renal clínicos.18 crônica (IRC), definida como a fração de filtração glomerular Diante dessas constatações, pretende-se estudar a prevalên- menor que 60 mL/min/1,73 m² por três meses ou mais. Outras cia das GNF nos pacientes acometidos por EPA acompanha- comorbidades relevantes descritas em prontuário médico dos no Serviço de Reumatologia do Hospital das Clínicas da também foram consideradas. Universidade Federal de Minas Gerais (HC/UFMG), além de Biópsia renal guiada por ultrassom foi indicada para os tentar correlacionar a presença da mesma com o tempo de do- pacientes em que a hematúria foi confirmada pelo exame do ença, com as características e com o grau de atividade das EPA. sedimento urinário e sugeriu origem glomerular (cilindros hemáticos e/ou 80% ou mais das hemácias dismórficas) e/ou encontrou-se proteinúria isolada maior que 3,5 g na urina de PACIENTES E MÉTODOS 24 horas, já que essa é definida como proteinúria nefrótica e Foram avaliados pacientes com EPA segundo os critérios indica fortemente a presença de glomerulopatia.18 do Grupo Europeu para o Estudo das Espondiloartropatias,1 A biópsia renal foi contraindicada nos pacientes com maiores de 18 anos de idade, acompanhados no Ambulatório diátese hemorrágica incorrigível, rins menores que 9 cm ao de Espondiloartrites do Serviço de Reumatologia do HC/ ultrassom de vias urinárias, HAS grave a despeito do uso de UFMG há pelo menos um ano, durante o período de setem- anti-hipertensivos, cistos renais bilaterais e múltiplos, neopla- bro de 2007 a fevereiro de 2009. Nesse ambulatório é praxe sia renal, hidronefrose, infecção renal ou perirrenal não tratada, pedir exame de urina de rotina a cada consulta. A presença pacientes pouco cooperativos, pacientes que se recusaram a se de hematúria e/ou proteinúria foi levantada inclusive em submeter ao procedimento. exames de urina de rotina pregressos. Foi considerada he- Os critérios de exclusão foram pacientes que não concor- matúria a presença de mais de duas hemácias por campo de dassem participar do estudo e menores de 18 anos. maior aumento no exame de microscopia óptica do sedimento O teste do qui-quadrado ou o teste exato de Fisher foram urinário ou uma fita reagente positiva,19-21 e proteinúria o usados para avaliar as variáveis categóricas. Já para as contí- exame de urina de rotina com os testes semiquantitativos nuas, aplicou-se o teste t de Student, se apresentassem caracte- positivos para proteína ou proteinúria maior que 150 mg/dL rísticas de normalidade, e, caso contrário, empregou-se o teste na urina de 24 horas.22 não paramétrico de Mann-Whitney. Para todas as análises foi Os pacientes com exame de urina alterado, no caso de considerado nível de significância de 5% (P < 0,05). A análise hematúria, foram submetidos à sedimentoscopia e pesquisa de estatística foi realizada com o auxílio do software Statistical dismorfismo eritrocitário em laboratório de referência (possível Package for Social Sciences (SPSS®) versão 16.0 (SPSS Inc., tecnicamente nos pacientes com pelo menos nove hemácias por Chicago, IL, EUA). campo de maior aumento no exame de microscopia óptica). O projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa No caso de proteinúria, foram submetidos à quantificação da da UFMG (parecer nº ETIC 086/07) e pela Diretoria de mesma na urina de 24 horas. Ensino, Pesquisa e Extensão do HC/UFMG (processo Além da avaliação quanto às alterações no seu exame de nº 142/2006). urina, os pacientes foram avaliados quanto a características sociodemográficas e econômicas; características da EPA RESULTADOS (tempo de doença a partir do diagnóstico, atividade da doença naqueles pacientes com predomínio do acometimento axial Foram avaliados 76 pacientes com EPA. As principais caracte- pelo índice BASDAI – Bath Ankylosing Spondylitis Disease rísticas desses indivíduos podem ser vistas na Tabela 1. Dentre Activity Index);23 medicamentos usados para o tratamento, os pacientes estudados, foi possível pesquisar o HLA-B27 em e, no caso do uso de AINEs, tempo do uso do mesmo; posi- 51, sendo positivo em 33 deles (43,4%). tividade para o HLA-B27 (por qualquer método de investi- A média do BASDAI encontrada, que varia de zero a gação laboratorial); avaliação da função renal (creatinina e dez, foi de 3,86 ± 2,06, com mínimo de zero e máximo de ureia séricas); atividade inflamatória (dosagem de proteína 7,64. A proteína C-reativa também foi medida, com o intuito C-reativa), e diagnóstico de comorbidades clínicas, sobretudo de contribuir para a avaliação da atividade da doença; sua hipertensão arterial sistêmica (HAS), definida pelos critérios mediana foi 6, sendo os percentis 25 e 75, respectivamente, do Joint Committee on Detection, Evaluation and Treatment 3 e 19,6. 418 Rev Bras Reumatol 2011;51(5):412-422
  • 7. Nefropatia por IgA em portadores de espondiloartrites acompanhados no Serviço de Reumatologia do Hospital das Clínicas da UFMG Com relação ao tratamento medicamentoso, a maioria dos Tabela 1 pacientes estudados (82,9%) estava em uso de AINEs, em média Características da população estudada 6,5 ± 6,2 anos, havendo uma variação no uso de zero a 29 anos. N (%) A hematúria microscópica foi detectada nessa amostra em Gênero Masculino 49 (64,5) pelo menos um exame de urina de rotina em 34 indivíduos Idade (44,7% da amostra), e em mais de uma ocasião em 22 indi- Média = 42,7 anos; mínima 22, máxima 75 víduos (28,9% dos casos). Nos pacientes com hematúria em Brancos 53 (69,7) mais de uma ocasião, essa mostrou-se intermitente na maioria Remuneração mensal 68 (89,5) dos casos (22,4%), ou seja, não era detectada em todos os < 3 salários mínimos exames de urina. A hematúria contínua ocorreu em apenas Anos de estudo cinco pacientes (6,5%). A hematúria macroscópica foi menos Mediana = 8 frequente que a micro, ocorrendo em 13 pacientes (17,1%). Comorbidades HAS 29 (38,2) Dos 24 pacientes analisados quanto à presença de dismorfis- IRC 2 (2,6) mo eritrocitário, oito (10,5%) apresentaram mais de 80% das Diabetes mellitus 2 (2,6) Sorologia positiva para HIV Zero hemácias com alterações dismórficas. Desses oito pacientes, Hepatopatia 1 (1,3) conseguiu-se realizar a biópsia renal em cinco, já que três se Medicamentos usados para recusaram a realizar o exame. Os resultados histopatológicos o tratamento da EPA AINEs 63 (82,9) foram: quatro (5,2%) com nefropatia por IgA e um com a Corticoide oral 34 (44,7) doença da membrana fina (hematúria familiar benigna). As Metrotrexato 26 (34,2) Sulfassalazina 1 (1,3) características dos pacientes portadores de nefropatia por IgA Inibidor de anti-TNFα 1 (1,3) estão expostas na Tabela 2. Prevalência dos tipos de EPA Outras causas de hematúria encontradas, que não GNF, fo- Espondilite anquilosante 47 (61,8) Espondiloartrite indiferenciada 11 (14,5) ram nefrolitíase (cinco pacientes (6,5%), dos quais um também Artrite psoriásica 11 (14,5) tinha nefropatia por IgA); um paciente com rim policístico e Artrite reativa 4 (5,3) Artrite das doenças 3 (3,9) outro paciente com hematúria de origem ginecológica, cada um inflamatórias intestinais desses representando 1,3% do total. Em 20 pacientes (26%) a Manifestações clínicas articulares etiologia da hematúria permaneceu indeterminada. e extra-articulares associadas Entesite calcaneana 38 (50) A proteinúria foi incomum na amostra estudada, sendo Uveíte anterior 29 (38,2) detectada em apenas três pacientes (3,9%), dos quais dois com Coxartrose 21 (27,6) Dactilite 9 (11,8) proteinúria superior a 3,5 g em 24 horas. Esses três pacientes Fibrose pulmonar 1 (1,3) também apresentavam hematúria. Não houve pessoas com Piúria estéril 1 (1,3) proteinúria isolada. EPA: espondiloartrite; HAS: hipertensão arterial sistêmica; IRC: insuficiência renal crônica; AINEs: anti-inflamatórios não esteroidais. Tabela 2 Características dos pacientes submetidos à biópsia renal com diagnóstico de nefropatia por IgA Pacientes 1 2 3 4 Gênero Masculino Masculino Masculino Masculino Idade 36 43 33 44 Tipo de EPA Artrite reativa Espondilite anquilosante Espondilite anquilosante Espondilite anquilosante Duração da EPA (anos) 16 27 9 19 HLA-B27 Positivo Positivo Positivo Positivo Creatinina (mg/dL) 1,01 2,85 0,6 0,8 Proteinúria 24 horas (mg/dL) 300 2.350 173 1.900 HAS Não Não Não Sim EPA: espondiloartrite; HAS: hipertensão arterial sistêmica. Rev Bras Reumatol 2011;51(5):412-422 419
  • 8. Azevedo et al. A presença de hematúria não esteve associada ao tipo de na metodologia (de duas ou mais hemácias por campo), que EPA (P > 0,20), bem como à atividade de doença, seja aferida privilegiou a sensibilidade do exame, pois o objetivo inicial pelo PCR (P = 0,954), seja pelo BASDAI (P = 0,251). Não era triar os pacientes para a realização da sedimentoscopia houve também associação entre a positividade do antígeno e dismorfismo eritrocitário em laboratório de referência. Na HLA-B27 e a presença de hematúria (P = 0,251). Não se população geral, a prevalência de qualquer hematúria (única, encontrou associação estatisticamente significativa entre intermitente ou contínua) varia de 0,18% a 16,1%; é relativa- hematúria microscópica e IRC (P = 1), HAS (P = 0,81), pro- mente comum no adulto e geralmente não indica a presença de teinúria (P = 0,85) e aumento dos níveis séricos de creatinina doença, sendo com frequência um achado incidental.19,36-39 Pode (P = 0,40). ocorrer, por exemplo, como consequência de exercício físico, O uso de AINEs nessa amostra não se associou posi- de ato sexual nos dois dias precedentes à coleta da amostra e de tivamente com o aumento dos níveis séricos de creatinina uso de anticoagulantes. As causas patológicas mais comuns são (P = 0,318), nem mesmo quando se levou em consideração anormalidades do trato urinário baixo (especialmente as que seu tempo de uso (P = 0,582). Também não houve associação afetam a uretra, a próstata e a bexiga). Em menos de 10% dos estatisticamente significativa entre o uso de AINEs e a presença casos a hematúria é de origem glomerular,19 e suas principais de IRC (P = 0,31), hematúria (P = 1), proteinúria (P = 0,74) etiologias são a nefropatia por IgA e a doença da membrana e HAS (P = 1). fina, ou hematúria familiar benigna.40 É importante distinguir a origem da hematúria, se glome- rular ou não. Na população estudada, oito (10,5%) apresen- DISCUSSÃO taram hematúria glomerular. Já o encontro de proteinúria foi O presente trabalho avaliou a frequência das GNF nos infrequente (3,9%) e sempre ocorreu associado à hematúria, pacientes acometidos por EPA acompanhados no Serviço o que reforçou sua provável origem glomerular. de Reumatologia do HC/UFMG, em Belo Horizonte, No presente trabalho a presença de hematúria não se Minas Gerais. relacionou com o tipo de EPA, com a presença do antígeno As características clínicas dos pacientes avaliados não HLA-B27, nem com a atividade da doença. Também não houve diferem, em geral, do que é relatado na literatura.1,25-33 O associação entre hematúria e presença de HAS, proteinúria e gênero masculino foi o mais prevalente. Houve predomi- aumento dos níveis séricos de creatinina. nância da espondilite anquilosante entre o grupo, seguida A indicação da biópsia renal em pacientes com hematúria da EPA indiferenciada e artrite psoriásica. Estudos mais microscópica isolada é controversa. Nos casos em que a he- recentes mostram uma inversão dessa relação, com maior matúria sugere fortemente ser de origem glomerular, uma vez prevalência da EPA indiferenciada com relação à espondilite pesados os riscos e benefícios individuais, somente a biópsia anquilosante.28 Houve maior frequência de entesite calcane- renal pode levar ao diagnóstico definitivo de uma GNF.41,42 ana entre as manifestações associadas, e de uveíte anterior Assim, nos pacientes acometidos por EPA, em geral usuários entre as manifestações extra-articulares. A positividade para o de AINEs e com hematúria de origem glomerular, considerou-se HLA-B27 foi de 43,4% na população estudada. Infelizmente, justificável a realização da biópsia. a comparação desse dado com outras populações é difícil Dessa maneira, dos 76 pacientes avaliados, quatro (5,2%) porque a maioria dos trabalhos avalia a frequência desse apresentaram GNF com características de glomerulopatia antígeno em pacientes com espondilite anquilosante, e não proliferativa mesangial com imunodepósitos de IgA, o que no grupo de EPA.34,35 caracteriza a GNF por IgA ou doença de Berger. Entretanto, Este estudo mostrou alta frequência de alterações no exame a prevalência da GNF por IgA nos pacientes do estudo pode de urina dos pacientes com EPA. A alteração mais comumen- ter sido subestimada, uma vez que a hematúria microscó- te encontrada foi a hematúria microscópica em uma única pica intermitente dificulta a pesquisa do dismorfismo e a ocasião, que ocorreu em 34 pacientes (44,7%). Em 22 desses confirmação de origem glomerular, além de três pacientes pacientes (28,9%) a hematúria foi evidenciada em duas ou com suspeita de GNF terem se recusado a realizar a biópsia mais amostras de urina, dos quais 17 (22,4%) apresentavam renal. Esse achado contrasta com a prevalência da nefropatia hematúria intermitente, não ocorrendo em todos os exames por IgA na população geral, estimada em 25 a 50 casos por de urina. Hematúria contínua foi encontrada em apenas cinco 100 mil indivíduos.43,44 pacientes (6,5%). A alta prevalência de hematúria nessa popu- Há escassa literatura sobre as alterações renais em lação pode ter sido consequente à definição de hematúria usada pacientes com EPA, a maioria baseada em série de casos. 420 Rev Bras Reumatol 2011;51(5):412-422
  • 9. Nefropatia por IgA em portadores de espondiloartrites acompanhados no Serviço de Reumatologia do Hospital das Clínicas da UFMG Apesar de controversa, a maior ocorrência de GNF por IgA insuficiência renal.45 Outro motivo para esse achado seria nos pacientes com EPA tem sido aventada com frequên- a prática corrente no Ambulatório de Reumatologia de se cia.5-7 Em 1987, Jones et al.7 avaliaram a função renal de evitar o uso de AINEs nos pacientes com presença de alguma 51 pacientes com espondilite anquilosante randomicamente dessas comorbidades. selecionados em clínicas reumatológicas. Desses, cinco pa- Este estudo sinaliza para a alta frequência de alterações cientes (10%) tinham anormalidades persistentes (em mais encontradas no exame de urina desse subgrupo de pacientes, de uma ocasião) nos exames feitos para avaliar a função bem como para a alta prevalência de nefropatia por IgA. renal (hematúria microscópica em todos os cinco pacientes, Assim, apesar de serem necessários mais estudos sobre o diminuição da função renal e aumento da proteinúria em 24 assunto para melhor esclarecimento das alterações renais horas em quatro destes). Nos três que foram submetidos à nos pacientes espondiloartríticos, a realização periódica de biópsia renal, um tinha glomeruloesclerose segmental focal, exames de urina deveria ser recomendável. O diagnóstico com imunofluorescência negativa, outro tinha nefropatia por definitivo de GNF nesse grupo é extremamente relevante, IgA e, por último, um tinha infiltrado celular intersticial com tendo em vista as implicações no tratamento da EPA e no fibrose e atrofia tubular e imunofluorescência e microscopia prognóstico desses pacientes. eletrônica negativas. No Brasil, tentou-se avaliar a frequência e a gravidade REFERENCES do acometimento renal em 40 pacientes com espondilite REFERÊNCIAS anquilosante acompanhados em uma clínica especializada 1. Dougados M, van der Linden S, Juhlin R, Huitfeldt B, Amor B, Calin A et al. The European Spondylarthropathy Study Group preliminary em reumatologia. Nessa amostra, 14 (35%) apresentaram criteria for the classification of spondylarthropathy. Arthritis Rheum um ou mais sinais de envolvimento renal; nove pacientes 1991; 34(10):1218-27. apresentaram hematúria, seis desses com hemácias dismór- 2. Sieper J, Rudwaleit M, Baraliakos X, Brandt J, Braun J, Burgos- ficas; quatro apresentaram microalbuminúria; dois tiveram Vargas R et al. The Assessment of SpondyloArthritis international Society (ASAS) handbook: a guide to assess spondyloarthritis. Ann aumento dos níveis séricos de creatinina e quatro tiveram o Rheum Dis 2009; 68(Supl.2):ii1-44. clareamento de creatinina reduzido. Não houve associação 3. Strobel ES, Fritschka E. Renal diseases in ankylosing spondylitis: estatística significativa entre a hematúria microscópica e review of literature illustrated by case reports. Clin Rheumatol a atividade ou duração da doença, nem associação entre 1998; 17(6):524-30. a hematúria microscópica e o nível de IgA sérica. No 4. Vilar MJ, Curry SE, Ferraz MB, Sesso R, Atra E. Renal abnormalities in ankylosing spondylitis. Scand J Rheumatol 1997; 26(1):19-23. entanto, houve associação significativa entre a hematúria 5. Mittal VK, Malhotra KK, Bhuyan UN, Malaviya AN. Kidney microscópica e a diminuição do clareamento da creatinina.4 involvement in seronegative spondarthritides. Indian J Med Res Esses pacientes não foram submetidos à biópsia renal. 1983; 78:670-5. Outro tipo de acometimento renal nos pacientes espon- 6. Wendling D, Hory B, Saint Hillier Y, Perol C. Reine et spondiloarthrite diloartríticos que tem sido mencionado é aquele advindo ankylosante. Rev Rhum Mal Osteoartic 1985; 52(4):271-5. do uso regular dos AINEs.3-7 Na população geral, 1% a 5% 7. Jones DW, Mansell MA, Samuell CT, Isenberg DA. Renal abnormalities in ankylosing spondylitis. Br J Rheumatol 1987; dos pacientes desenvolvem efeitos adversos renais pas- 26(5):341-5. síveis de intervenção médica relacionada aos AINEs. Os 8. Gupta R, Sharma A, Arora R, Dinda AK, Gupta A, Tiwari SC. problemas renais atribuídos ao uso dessas medicações são Membranous glomerulonephritis in a patient with ankylosing insuficiência renal aguda, síndrome nefrótica com nefrite spondylitis: a rare association. Clin Exp Nephrol 2009; 13(6):667- 70. intersticial, necrose papilar aguda e crônica.45 No presente 9. Jacquet A, Francois H, Frangie C, Yahiaoui Y, Ferlicot S, Micelli C estudo, quase todos os pacientes faziam uso regular dessas et al. IgA nephropathy associated with ankylosing spondylitis is not medicações (82,9%) e por tempo prolongado (média de 6,5 controlled by infliximab therapy. Nephrol Dial Transplant 2009; anos). Entretanto, não foi detectado nenhum efeito adverso 24(11):3540-2. renal ao uso de AINEs nesses pacientes. Observou-se ainda 10. Agarwal S, Das SK, Kumar P, Tripathi P, Mehrotra B. Amyloidosis in ankylosing spondylitis. J Clin Rheumatol 2009; 15(4):211. que o uso de AINEs não se associou positivamente com o 11. Wasilewska A, Zoch-Zwierz WM, Tenderenda E, Szynaka B. IgA aumento dos níveis séricos de creatinina e com a presença nephropathy in a girl with psoriasis and seronegative arthritis. Pediatr de hematúria, proteinúria, IRC e HAS. Isso pode ter ocorrido Dermatol 2008; 25(3):408-9. devido à baixa frequência de comorbidades que predispõem 12. Menè P, Franeta AJ, Conti G, Stoppacciaro A, Chimenz R, Fede A aos efeitos adversos dos AINEs nessa população, tais como et al. Extracapillary glomerulonephritis during etanercept treatment for juvenile psoriatic arthritis. Clin Exp Rheumatol 2010; 28(1):91-3. idade avançada, doença hepática, insuficiência cardíaca e Rev Bras Reumatol 2011;51(5):412-422 421
  • 10. Azevedo et al. 13. Sakellariou GT, Vounotrypidis P, Berberidis C. Infliximab 29. Carvalho MAP, Lage RC. Espondiloartropatias. In: Carvalho MAP, treatment in two patients with psoriatic arthritis and secondary IgA Lanna CCD, Bertolo MB (eds.). Reumatologia – diagnóstico e nephropathy. Clin Rheumatol 2007; 26(7):1132-3. tratamento. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2008. p. 335-63. 14. Efstratiadis G, Tsiaousis G, Leontsini M, Gionanlis L, Papagianni A, 30. Reveille JD. HLA-B27 and seronegative spondyloarthopathies. Am Memmos D. Membranous glomerulonephritis complicating J Med Sci 1998; 316(4):239-49. ankylosing spondylitis. Clin Nephrol 2006; 66(1):75-6. 31. Hamideh F, Prete PE. Ophthalmologic manifestations of rheumatic 15. Matsuda M, Suzuki A, Miyagawa H, Shimizu S, Ikeda S. Coexistence diseases. Semin Arthritis Rheum 2001; 30(4):217-41. of IgA nephropathy and undifferentiated spondyloarthropathy in a 32. 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  • 11. ARTIGO ORIGINAL Prevalência de manifestações clínico-laboratoriais e comorbidades na polimiosite segundo o gênero Fernando Henrique Carlos de Souza1, Maurício Levy-Neto2, Samuel Katsuyuki Shinjo3 RESUMO Objetivo: Analisar a distribuição e a influência do gênero na polimiosite (PM), quanto às manifestações clínico-labo- ratoriais, evolução e comorbidades. Métodos: Estudo de coorte retrospectivo, unicêntrico, em que foram avaliados 75 pacientes consecutivos com PM (Bohan e Peter, 1975) entre 1990 e 2010. Os exames complementares referem-se ao início do diagnóstico da PM. Resultados: Este estudo avaliou 52 mulheres e 23 homens (razão 2,3:1), a maioria de cor branca (84,0%), com média de idade de 42,7 ± 13,7 anos (16 a 67 anos), e duração média de doença de 6,9 ± 5,5 anos (0 a 20 anos). Aproximadamente 50% apresentaram recidiva da doença durante o acompanhamento, com 4,0% de óbitos. Apesar disso, dois terços encontravam-se em remissão no desfecho do estudo. Não houve diferença entre os gêneros quanto à distribuição das características demográficas, clínico-laboratoriais, evolução clínica e terapia medicamentosa instituída. Com relação às comorbidades, houve alta prevalência de hipertensão arterial sistêmica (38,7%) e diabetes mellitus (17,3%), igualmente distribuídas entre os gêneros. Verificou-se alta prevalência de depressão e fibromialgia, porém apenas no gênero feminino. Conclusões: A prevalência de PM entre mulheres foi maior (razão 2,3:1). A preva- lência de comorbidades foi alta na casuística estudada, cabendo-nos priorizar seus controles e, assim, oferecer melhor qualidade de vida aos pacientes. Palavras-chave: polimiosite, comorbidade, depressão, gênero e saúde, miosite. © 2011 Elsevier Editora Ltda. Todos os direitos reservados. A polimiosite (PM) é uma miopatia inflamatória sistêmica INTRODUÇÃO crônica de causa desconhecida, que costuma afetar mais fre- As doenças autoimunes sistêmicas costumam predominar em quentemente mulheres6-8 e indivíduos entre 30 e 50 anos.8 Até mulheres, com incidência variando entre 2:1 a 10:1. O lúpus o presente momento não há estudos comparando o perfil das eritematoso sistêmico (LES) e a síndrome de Sjögren, por manifestações da PM entre os gêneros, exceto por uma impres- exemplo, apresentam razão 7-10:1, enquanto a artrite reuma- são geral e indireta obtida em trabalhos epidemiológicos.9,10 Por toide (AR) e a esclerose sistêmica têm razão 2-3:1.1 exemplo, a doença pulmonar intersticial na PM/dermatomiosite O gênero masculino é considerado fator de bom prognós- (DM) está associada a artrite e/ou artralgia, ao anticorpo anti-Jo-1 tico em termos de remissão em pacientes com AR em uso de e ao gênero masculino.9 Chen et al.10 analisaram primariamente anti-TNF,2 com melhores índices nas medidas de atividade os fatores preditivos de neoplasias na PM/DM, e observaram que de doença.3 Na doença de Behçet e na síndrome de Sjögren o gênero masculino foi fator de risco independente. primária, o gênero masculino encontra-se relacionado, respec- Portanto, o objetivo do presente estudo foi avaliar a distri- tivamente, a maior frequência de manifestações neurológicas4 buição e a influência do gênero na PM quanto às manifestações e envolvimento pulmonar.5 clínico-laboratoriais, evolução clínica e comorbidades. Recebido em 14/10/2010. Aprovado, após revisão, em 01/07/2011. Os autores declaram a inexistência de conflitos de interesse. Comitê de Ética: HC 0039/10. Disciplina de Reumatologia da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo – FMUSP. 1. Médico-Assistente do Serviço de Reumatologia do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo – HC/FMUSP 2. Doutor em Medicina; Médico-Assistente do Serviço de Reumatologia do HC/FMUSP; Professor-Colaborador da Disciplina de Reumatologia da FMUSP 3. Doutor em Ciências; Médico-Assistente do Serviço de Reumatologia do HC/FMUSP; Professor-Colaborador da Disciplina de Reumatologia da FMUSP Correspondência para: Samuel Katsuyuki Shinjo. Disciplina de Reumatologia da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. Av. Dr. Arnaldo, 455, 3° andar, Sala 3190 – Cerqueira César. CEP: 01246-903. São Paulo, SP, Brasil. E-mail: samuel.shinjo@gmail.com 428 Rev Bras Reumatol 2011;51(5):423-433
  • 12. Prevalência de manifestações clínico-laboratoriais e comorbidades na polimiosite segundo o gênero método de Westergren; a determinação quantitativa da proteína PACIENTES E MÉTODOS C-reativa foi realizada no soro através de turbidimetria. Exames Foram avaliados 75 pacientes consecutivos com PM prove- complementares (eletroneuromiografia, biópsia muscular do nientes da Unidade de Miopatias de nosso serviço terciário, bíceps – membro superior – e tomografia computadorizada do entre o período de 1990 e 2010. Todos os pacientes preen- tórax) foram solicitados de rotina nas primeiras consultas médi- chiam o critério classificatório de Bohan e Peter.11,12 O estudo cas. Uma vez excluídas as possibilidades de infecção e neoplasia, foi aprovado pelo Comitê de Ética local (HC nº 0039/10), e a recidiva da atividade da doença foi definida como recorrência as informações demográficas e referentes às manifestações da atividade clínico-laboratorial consequente à redução da dose clínico-laboratoriais foram obtidas dos prontuários médicos. de corticosteroide e/ou suspensão de imunossupressores entre Os dados laboratoriais foram os solicitados de rotina, no as consultas médicas, devido à estabilidade clínica. início do diagnóstico da PM. Creatina quinase (variação normal: As comorbidades analisadas foram hipertensão arterial 24-173 U/L), aldolase (variação normal: 1,0-7,5 U/L), aspartato sistêmica (HAS), diabetes mellitus, depressão, fibromialgia aminotransferase (até 37 U/L) e alanina aminotransferase (até (FM), neoplasias, infarto agudo do miocárdio (IAM) e acidente 41 U/L) foram obtidas por método cinético automatizado. A vascular cerebral (AVC). FM foi baseada nos critérios classifi- pesquisa de autoanticorpos contra componentes celulares foi catórios do American College of Rheumatology,13 e depressão determinada por imunofluorescência indireta, utilizando células foi definida segundo Zimmerman et al.14 HAS foi baseada na V Hep-2 como substrato; o anticorpo anti-Jo-1 foi determinado Diretriz Brasileira de Hipertensão Arterial,15 e diabetes mellitus por immunoblotting; a velocidade de hemossedimentação, por na American Diabetes Association. Tabela 1 Perfil demográfico, clínico e laboratorial dos pacientes com polimiosite Todos (N = 75) Homens (N = 23) Mulheres (N = 52) P Média de idade* ± DP (anos) 42,7 ± 13,7 (16-67) 42,3 ± 14,7 (16-66) 42,9 ± 13,2 (19-67) 0,874 Tempo de doença ± DP (anos) 6,9 ± 5,1 (0-20) 6,8 ± 5,5 (1-20) 6,9 ± 4,9 (0-20) 0,993 Duração dos sintomas ao 2,3 ± 4,4 (0-24) 1,9 ± 2,9 (0-12) 2,4 ± 5,0 (0-24) 0,580 diagnóstico (meses) Cor: branca (%) 63 (84,0) 21 (91,7) 42 (80,8) 0,323 Manifestação clínica Sintomas constitucionais (%) 35 (46,7) 12 (52,2) 23 (44,2) 0,618 Acamado (%) 21 (28,0) 6 (26,1) 15 (28,9) 1,000 Envolvimento articular (%) 39 (52,0) 13 (56,5) 26 (50,0) 0,626 Envolvimento pulmonar Dispneia (%) 20 (27,4) 6 (26,1) 14 (26,9) 1,000 Disfonia (%) 5 (6,7) 0 5 (9,6) 0,315 Envolvimento gastrintestinal Disfagia (%) 22 (29,3) 6 (26,1) 16 (30,8) 0,787 Dispepsia (%) 21 (28,0) 7 (30,4) 14 (26,9) 0,785 Doença em remissão (%) 49 (65,3) 15 (65,2) 34 (65,4) 1,000 Recidiva da doença (%) 33 (44,0) 9 (39,1) 24 (46,2) 0,622 Em seguimento (%) 59 (78,7) 17 (73,9) 42 (80,8) 0,549 Óbito (%) 3 (4,0) 1 (4,4) 2 (3,9) 1,000 Autoanticorpos Fator antinuclear (%) 38 (50,7) 12 (52,2) 26 (50,0) 0,804 Anti-Jo-1 (%) 12 (16,0) 3 (13,0) 9 (17,3) 0,745 Enzimas musculares (início da doença) Creatina quinase ± DP (U/L) 4167,6 ± 4736,6 5023,0 ± 5481,3 3793,4 ± 4318,2 0,379 Aldolase ± DP (U/L) 62,6 ± 61,5 89,9 ± 89,7 52,3 ± 42,2 0,167 Aspartato aminotransferase (U/L) 186,6 ± 233,4 187,2 ± 255,6 186,5 ± 224,8 0,994 Alanina aminotransferase (U/L) 152,7 ± 180,5 160,1 ± 224,7 150,0 ± 160,8 0,893 Proteína C-reativa (mg/L) 19,7 ± 33,0 38,8 ± 49,8 10,1 ± 11,1 0,120 VHS (mm/1ª hora) 24,7 ± 20,9 22,0 ± 20,9 25,5 ± 20,9 0,680 Tomografia computadorizada Fibrose pulmonar basal (%) 7 (9,3) 2 (8,8) 5 (9,6) 1,000 Lesão em vidro-fosco (%) 13 (17,3) 6 (26,1) 7 (13,5) 0,201 *Idade quando foi realizado o diagnóstico de polimiosite. DP: desvio-padrão; VHS: velocidade de hemossedimentação. O valor de P refere-se a homens vs. mulheres. Rev Bras Reumatol 2011;51(5):423-433 429
  • 13. Souza et al. Os resultados foram expressos em média ± desvio-padrão 67 anos) e duração média da doença de 6,9 ± 5,5 anos (0 a 20 (DP) ou porcentagem, sendo utilizado teste t de Student para anos). O tempo entre o início dos sintomas e o diagnóstico da dados paramétricos, e de Fisher para os não paramétricos. Estes PM na amostragem geral foi de 2,3 ± 4,4 meses (0 a 24 meses). cálculos foram realizados com o programa de computador As características clínico-laboratoriais dos pacientes estão apre- STATA versão 7.0 (Stata, College Station, TX, EUA), e valores sentadas na Tabela 1. Aproximadamente metade dos pacientes P < 0,05 foram considerados estatisticamente significativos. apresentou recidiva da doença durante o acompanhamento. Apesar disso, dois terços deles encontravam-se em remissão da doença no desfecho do presente estudo, com 4,0% de óbitos. RESULTADOS Como tratamento medicamentoso inicial foi usado corticos- Foram analisados 75 pacientes consecutivos com PM entre o teroide (prednisona 1 mg/kg/dia, via oral, com redução gradual período de 1990 e 2010, com tempo de seguimento em nosso em 1-2 meses após estabilidade clínica e laboratorial). Em caso serviço de 6,9 ± 5,5 anos, dos quais 52 eram mulheres e 23 ho- de gravidade da doença, realizou-se pulsoterapia com metil- mens, com respectiva razão 2,3:1. A maioria era branca (84,0%), prednisolona (1 g/dia, parenteral, três dias consecutivos). Como com média de idade ao diagnóstico de 42,7 ± 13,7 anos (16 a poupadores de corticosteroide foram utilizados azatioprina Tabela 2 Terapia medicamentosa instituída em pacientes com polimiosite Tratamento medicamentoso Todos (N = 75) Homens (N = 23) Mulheres (N = 52) P Corticosteroide Prednisona (1 mg/kg/dia) (%) 73 (100,0) 23 (100,0) 52 (100,0) 1,000 Metilprednisolona (%) 35 (46,7) 13 (56,5) 22 (42,3) 0,323 Metotrexato (%) 49 (65,3) 13 (56,5) 36 (69,2) 0,305 Azatioprina (%) 40 (53,3) 12 (52,2) 29 (53,9) 1,000 Ciclofosfamida (%) 15 (20,0) 4 (17,4) 11 (21,2) 1,000 Ciclosporina (%) 15 (20,0) 4 (17,4) 10 (19,2) 1,000 Micofenolato mofetil (%) 3 (4,0) 1 (4,4) 2 (3,9) 1,000 O valor de P refere-se a homens vs. mulheres. Tabela 3 Comorbidades diagnosticadas após a instituição da polimiosite Comorbidades Todos (N = 75) Homens (N = 23) Mulheres (N = 52) P Hipertensão arterial sistêmica (%) 29 (38,7) 10 (43,5) 19 (37,3) 0,618 Pré-polimiosite (%) 18 (24,0) 5 (21,7) 13 (25,0) 1,000 Pós-polimiosite (%) 11 (14,7) 5 (21,7) 6 (11,5) 0,306 Diabetes mellitus (%) 13 (17,3) 6 (26,1) 7 (13,5) 0,201 Pré-polimiosite (%) 7 (9,3) 3 (13,0) 4 (7,7) 0,669 Pós-polimiosite (%) 6 (8,0) 3 (13,0) 3 (5,8) 0,363 Depressão major (%) 11 (14,7) 0 11 (21,2) 0,028 Fibromialgia (%) 6 (8,0) 0 6 (11,5) 0,169 Neoplasia (%) 4 (5,3) 1 (4,4) 3 (5,8) 1,000 Infarto agudo do miocárdio (%) 3 (4,0) 1 (4,4) 2 (3,9) 1,000 Acidente vascular cerebral (%) 0 0 0 1,000 O valor de P refere-se a homens vs. mulheres. 430 Rev Bras Reumatol 2011;51(5):423-433
  • 14. Prevalência de manifestações clínico-laboratoriais e comorbidades na polimiosite segundo o gênero (2-3 mg/kg/dia), metotrexato (20-25 mg/semana), ciclosporina presente estudo. O LES e a síndrome de Sjögren, por exemplo, (3-5 mg/kg/dia), micofenolato mofetil (2-3 g/dia), leflunomide apresentam razões 7-10:1, enquanto AR, esclerose sistêmica e (20 mg/dia), ciclofosfamida (0,5-1,0 g/m2 de superfície corpó- miopatias inflamatórias idiopáticas têm razão 2,3:1.1,16,18-25 Essa rea), em monoterapia ou em associação, dependendo da tolerância, desigualdade na distribuição pode ser reflexo da influência de efeitos colaterais e refratariedade da doença (Tabela 2). De modo hormônios sexuais endógenos e de fatores genéticos.17-24 geral, todos os indivíduos receberam prednisona (1 mg/kg/dia) Os dados apresentados mostram que a evolução e as ca- e aproximadamente metade dos pacientes recebeu terapia racterísticas demográficas e clínico-laboratoriais da PM foram adicional com pulso de metilprednisolona (1 g/dia, três dias similares em ambos os gêneros, diferente do que ocorre em consecutivos). O uso de ciclofosfamida parenteral foi indicado outras doenças autoimunes sistêmicas, em que o gênero pode para o acometimento pulmonar, caracterizado por progressão influenciar no curso da doença. O LES, por exemplo, tende da dispneia e achados de imagens compatíveis à tomografia a apresentar prognóstico pior em homens, embora isto seja computadorizada. Não houve diferença entre mulheres e ho- controverso na literatura.26-29 mens quanto à distribuição das características demográficas, Aproximadamente metade dos pacientes apresentava clínico-laboratoriais, evolução clínica e terapia medicamentosa sintomas constitucionais ou acometimento articular no instituída (Tabelas 1 e 2). início da doença. Todos os pacientes apresentavam fraque- Com relação às comorbidades (Tabela 3), depressão e FM za muscular proximal dos quatro membros, e um quarto ocorreram apenas no gênero feminino, e apenas depressão estava acamado apesar do pouco tempo da instalação da teve prevalência estatisticamente significativa em mulheres doença (cerca de dois meses). Observamos também envol- (P = 0,028), com nenhuma das pacientes apresentando trans- vimento pulmonar (dispneia) e gastrintestinal (disfagia ou torno bipolar. Houve alta prevalência de HAS (38,7%), mesmo dispepsia) em aproximadamente um terço dos pacientes, antes dos sintomas e do diagnóstico da PM (24,0%); após esta- reforçando a necessidade de avaliar os portadores de PM belecida a miopatia, houve aumento de aproximadamente 50% não só do ponto de vista do acometimento exclusivamente de HAS. Apresentaram diabetes mellitus 9,3% dos pacientes, musculoesquelético. e, com o estabelecimento da PM, a ocorrência foi de 17,3%, Depressão é frequentemente presente em doenças sis- com a mesma distribuição em ambos os gêneros. Neoplasia têmicas crônicas como AR, por exemplo, ocorrendo em e IAM ocorreram em 5,3% e 4%, respectivamente. Dentre as 13%-20%,30-33 enquanto em FM 33 e LES 29 está presente, neoplasias, foram diagnosticados um caso em homem e três respectivamente, em 39% e 34% dos casos. Na comunidade em mulheres, a saber: um osteoma osteoide femoral (um ano em geral e no antedimento primário, a depressão ocorre, res- após o diagnóstico da PM), um carcinoma folicular tireoidiano pectivamente, em 2%-4% e 5%-10% dos pacientes do gênero (um ano após a PM), um carcinoma epidermoide metastático feminino,34 contrastando-se ao apresentado neste estudo, em (três anos após a PM) e uma neoplasia renal (15 anos após a que a depressão foi vista em aproximadamente 21,2% das PM), respectivamente. Não foram identificados casos de AVC. mulheres. A depressão, particularmente em AR, está associada a maior frequência de hospitalização, maior número de visitas médicas, pior qualidade de vida, menor aderência à terapia DISCUSSÃO medicamentosa e risco aumentado de mortalidade.34-37 Ela é O presente estudo envolveu grande casuística e avaliou duas vezes mais frequente em mulheres em comparação aos tanto a distribuição quanto a influência do gênero na PM. homens,38 enquanto FM é aproximadamente dez vezes mais Observamos predomínio do gênero feminino (2,3:1), carac- prevalente.39 Nossos pacientes com depressão não tiveram terísticas clínico-laboratoriais e comorbidades similares em maior recidiva de doença ou de óbito. Apesar de a associação ambos os grupos, alta prevalência de HAS e diabetes mellitus, entre depressão e FM ser relativamente comum, no presente com destaque à depressão major, presente apenas em mulheres. estudo essas duas comorbidades coexistiram apenas em A média de idade no início da doença, no presente trabalho, mulheres, tendo sido simultâneas em apenas uma paciente. foi de 40 anos, similar a outros trabalhos da literatura,16-33 con- Houve alta prevalência de HAS e diabetes mellitus, trastando apenas aos de Senegal e Singapura, que mostraram quando comparada com a população brasileira: 20% e médias de idade de 50 anos.24,25 9%, respectivamente.40,41 Após o diagnóstico de PM, os De um modo geral, as doenças autoimunes tendem a achados de HAS e de diabetes mellitus aumentaram em predominar no gênero feminino, inclusive nas miopatias in- 50% e 100%, respectivamente, podendo refletir o uso de flamatórias idiopáticas,1,15,18-25 fato reforçado pelos dados do corticosteroide. Recentemente, com base em banco de dados Rev Bras Reumatol 2011;51(5):423-433 431
  • 15. Souza et al. epidemiológicos, Limaye et al.42 demonstraram alto índice 8. Drake LA, Dinehart SM, Farmer ER, Goltz RW, Graham GF, Hordinsky MK et al. Guidelines of care for dermatomyositis. American de eventos cardiovasculares após o diagnóstico de todas Academy of Dermatology. J Am Acad Dermatol 1996; 34(5 pt 1):824-9. as miopatias inflamatórias idiopáticas (DM, PM e miosite 9. Chen YJ, Jan Wu YJ, Lin CW, Fan KW, Luo SF, Ho HH et al. por corpúsculo de inclusão). No presente estudo ocorreram Interstitial lung disease in polymyositis and dermatomyositis. Clin neoplasias ao redor de 5%, sem distinção entre os gêneros, Rheumatol 2009; 28(6):639-46. índices semelhantes aos descritos na literatura, quais sejam, 10. Chen YJ, Wu CY, Shen JL. Predicting factors of malignancy in dermatomyositis and polymyositis: a case-control study. Br J 3,3% e 7,7%.43-45 Dermatol 2001; 144(4):825-31. Tivemos baixa prevalência de eventos cardiovasculares 11. Bohan A, Peter JB. Polymyositis and dermatomyositis. Pt I. N Engl (IAM e AVC), sem distinção entre os gêneros, sendo em parte J Med 1975; 292(7):344-7. justificada pelo curto período de tempo de acompanhamento 12. Bohan A, Peter JB. Polymyositis and dermatomyositis. Pt II. N Engl (aproximadamente oito anos), contrastando-se aos índices de J Med 1975; 292(8):403-7. 6%-75% descritos na literatura.46,47 13. Wolfe F, Clauw DJ, Fitzcharles MA, Goldenberg DL, Katz RS, Mease P et al. The American College of Rheumatology preliminary Em termos evolutivos, dois terços dos pacientes encontra- diagnostic criteria for fibromyalgia and measurement of symptom vam-se em remissão sob corticoterapia e/ou imunossupresso- severity. Arthritis Care Res 2010; 62(5):600-10. res. Houve recidivas em metade dos indivíduos, sem distinção 14. Zimmerman M, Galione JN, Chelminski I, McGlinchey JB, Young D, entre os gêneros, reforçando a necessidade de acompanhamento Dalrymple K et al. A simpler definition of major depressive disorder. Psychol Med 2010; 40(3):451-7. médico regular desses pacientes. Óbito ocorreu em 4,0% dos 15. Sociedade Brasileira de Cardiologia – SBC; Sociedade Brasileira casos, sem distinção entre os gêneros. de Hipertensão – SBH; Sociedade Brasileira de Nefrologia – SBN. Em resumo, a PM acometeu mulheres em razão 2,3:1, com V Brazilian Guidelines in Arterial Hypertension. Arq Bras Cardiol alta prevalência de comorbidades, tanto em homens como 2007; 89(3):e24-79. em mulheres, com destaque à depressão major que afetou 16. Toumi S, Ghnaya H, Braham A, Harrabi I, Laouani-Kechrid C, exclusivamente o gênero feminino. Ao avaliar pacientes com Groupe tunisien d’étude des myosites inflammatoires. Polymyositis and dermatomyositis in adults. Tunisian multicentre study. Rev Med PM devemos estar atentos às comorbidades, visando ao seu Interne 2009; 30(9):747-53. rápido controle, oferecendo, assim, melhor qualidade de vida 17. Weitoft T. Occurrence of polymyositis in the county of Gävleborg, aos pacientes. Sweden. Scand J Rheumatol 1997; 26(2):104-6. 18. Kaipiainen-Seppänen O, Aho K. Incidence of rare systemic rheumatic and connective tissue diseases in Finland. J Intern Med REFERENCES 1996; 240(2):81-4. REFERÊNCIAS 19. Araki S, Uchino M, Yoshida O. Epidemiologic study of multiple 1. Lockshin MD. Sex differences in autoimmune disease. Lupus 2006; sclerosis, myasthenia gravis and polymyositis in the city of 15(11):753-6. Kumamoto, Japan. Rinsho Shinkeigaku 1983; 23(10):838-411983; 2. Atzeni F, Antivalle M, Pallavicini FB, Caporali R, Bazzani C, Gorla R et al. 23:838-41. Predicting response to anti-TNF treatment in rheumatoid arthritis 20. Darin M, Tulinius M. Neuromuscular disorders in childhood: patients. Autoimmun Rev 2009; 8(5):431-7. a descriptive epidemiological study from western Sweden. 3. Sokka T, Toloza S, Cutolo M, Kautiainen H, Makinen H, Gogus F Neuromuscul Disord 2000; 10(1):1-9. et al., and the QUEST-RA Group. Women, men, and rheumatoid 21. Hanissian AS, Masi AT, Pitner SE, Cape CC, Medsger TA Jr. arthritis: analyses of disease activity, disease characteristics, and Polymyositis and dermatomyositis in children: an epidemiologic treatments in the QUEST-RA study. Arthritis Res Ther 2009; and clinical comparative analysis. J Rheumatol 1982; 9(3):390-4. 11(1):R7. 22. Mastaglia FL, Phillips BA. Idiopathic inflammatory myopathies: 4. Ideguchi H, Suda A, Takeno M, Kirino Y, Ihata A, Ueda A et al. epidemiology, classification, and diagnostic criteria. Rheum Dis Neurological manifestations of Behçet’s disease in Japan: a study Clin North Am 2002; 28(4):723-41. of 54 patients. J Neurol 2010; 257(6):1012-20. 23. Flachenecker P. Epidemiology of neuroimmunological diseases. J 5. Yazisiz V, Arslan G, Ozbudak IH, Turker S, Erbasan F, Avci AB et al. Neurol 2006; 253(Suppl 5):V2-8. Lung involvement in patients with primary Sjögren’s syndrome: what are the predictors? Rheumatol Int 2010; 30(10):1317-24. 24. Koh ET, Seow A, Ong B, Ratnagopal P, Tjia H, Chng HH. Adult onset polymyositis/dermatomyositis: clinical and laboratory features 6. Callen JP. Dermatomyositis. In: Callen JP (ed.). 2 nd ed. and treatment response in 75 patients. Ann Rheum Dis 1993; Dermatological signs of internal disease. Philadelphia: W.B. 52(12):857-61. Saunders; 1995. p. 13-20. 25. Diallo M, Fall AK, Diallo I, Diédhiou I, Ba PS, Diagne M et al. 7. Fathi M, Lundberg IE. Interstitial lung disease in polymyositis and Dermatomyositis and polymyositis: 21 cases in Senegal. Med Trop dermatomyositis. Curr Opin Rheumatol 2005; 17(6):701-6. (Mars) 2010; 70(2):166-8. 432 Rev Bras Reumatol 2011;51(5):423-433
  • 16. Prevalência de manifestações clínico-laboratoriais e comorbidades na polimiosite segundo o gênero 26. Specker C, Becker A, Lakomek HJ, Bach D, Grabensee B. Systemic 37. Ang DC, Choi H, Kroenke K, Wolfe F. Comorbid depression is an lupus erythematosus in men – a different prognosis? J Rheumatol independent risk factor for mortality in patients with rheumatoid 1994; 53(6):339-45. arthritis. J Rheumatol 2005; 32(6):1013-9. 27. Miller MH, Urowitz MB, Gladman DD, Killinger DW. Systemic 38. Marcus SM, Young EA, Kerber KB, Kornstein S, Farabaugh AH, lupus erythematosus in males. Medicine (Baltimore) 1983; Mitchell J et al. Gender differences in depression: findings from the 62(5):327-34. STAR*D study. J Affect Disord 2005; 87(2-3):141-50. 28. Molina JF, Drenkard C, Molina J, Cardiel MH, Uribe O, Anaya JM 39. White KP, Harth M. Classification, epidemiology, and natural history et al. Systemic lupus erythematosus in males. A study of 107 Latin of fibromyalgia. Curr Pain Headache Rep 2001; 5(4):320-9. American patients. Medicine (Baltimore) 1996; 75(3):124-30. 40. Passos VMA, Assis TD, Barreto SM. Hypertension in Brazil: 29. Garcia MA, Marcos JC, Marcos AI, Pons-Estel BA, Wojdyla D, estimates from population-based prevalence studies. Epidemiol Arturi A et al. Male systemic lupus erythematosus in a Latin- Serviços Saúde 2006; 15:35-45. American inception cohort of 1214 patients. Lupus 2005; 14(12):938- 41. Goldenberg P, Schenkman S, Franco LJ. Prevalência de diabetes 46. mellitus: diferenças de gênero e igualdade entre os sexos. Rev Bras 30. Hyrich K, Symmons D, Watson K, Silman A, BSRBR Control Centre Epidemiol 2003; 6(1):18-28. Consortium, British Society for Rheumatology Biologics Register. 42. Limaye VS, Lester S, Blumbergs P, Roberts-Thomson PJ. Idiopathic Baseline comorbidity levels in biologic and standard DMARD inflammatory myositis is associated with a high incidence of treated patients with rheumatoid arthritis: results from a national hypertension and diabetes mellitus. Int J Rheum Dis 2010; 13(2):132-7. patient register. Ann Rheum Dis 2006; 65(7):895-8. 43. Sigurgeirsson B, Lindelöf B, Edhag O, Allander E. Risk of cancer in 31. Kellner H. Rheumatoid arthritis and depression. MMW Fortschr patients with dermatomyositis or polymyositis. A population-based Med 2009; 151(51-52):49. study. N Engl J Med 1992; 326(6):363-7. 32. Katz PP, Yelin EH. Prevalence and correlates of depressive 44. Maoz CR, Langevitz P, Livneh A, Blumstein Z, Sadeh M, Bank I et symptoms among persons with rheumatoid arthritis. J Rheumatol al. High incidence of malignancies in patients with dermatomyositis 1993; 20(5):790-6. and polymyositis: an 11-year analysis. Semin Arthritis Rheum 1998; 33. Wolfe F, Michaud K, Li T, Katz RS. Chronic conditions and health 27(5):319-24. problems in rheumatic diseases: comparisons with rheumatoid 45. Chen YJ, Wu CY, Shen JL. Predicting factors of malignancy in arthritis, noninflammatory rheumatic disorders, systemic lupus dermatomyositis and polymyositis: a case-control study. Br J erythematosus, and fibromyalgia. J Rheumatol 2010; 37(2):305-15. Dermatol 2001; 144(4):825-31. 34. Katon W, Schulberg H. Epidemiology of depression in primary care. 46. Gonzales-Lopes L, Gamez-Nava JI, Sanchez L, Rosas E, Gen Hosp Psychiatry 1992; 14(4):237-42. Suarez-Almazor M, Cardona-Muñoz C et al. Cardiac manifestations 35. Julian LJ, Yelin E, Yazdany J, Panopalis P, Trupin L, Criswell LA in dermato-polymyositis. Clin Exp Rheumatol 1996; 14(4):373-9. et al. Depression, medication adherence, and service utilization in 47. Lundberg IE. The heart in dermatomyositis and polymyositis. systemic lupus erythematosus. Arthritis Rheum 2009; 61(2):240-6. Rheumatol (Oxford) 2006; 45(Suppl 4):iv18-21. 36. McNamara D. Depression interferes with anti-TNF therapy. Rheumatol News 2007; 6:1. Rev Bras Reumatol 2011;51(5):423-433 433
  • 17. ARTIGO ORIGINAL Efeito imediato da utilização da joelheira elástica em indivíduos com osteoartrite Flavio Fernandes Bryk1, Julio Fernandes de Jesus2, Thiago Yukio Fukuda3, Esdras Gonçalves Moreira4, Freddy Beretta Marcondes5, Marcio Guimarães dos Santos6 RESUMO Introdução: A osteoartrite (OA) de joelho normalmente ocasiona dificuldades na realização de diversas atividades rotineiras, sendo um dos principais motivos de procura por serviços médicos e fisioterapêuticos. Existem diversas modalidades de tratamento, com resultados variados. A utilização da joelheira como recurso adjunto tem-se mostrado controversa na literatura. Objetivo: Analisar a eficácia imediata da joelheira elástica na dor e na capacidade funcional em indivíduos com OA de joelho. Métodos: Foram analisados 74 sujeitos sintomáticos (132 joelhos) com OA de jo- elho por meio dos testes Stair Climb Power Test (SCPT), Timed Up and Go (TUG) e Caminhada de 8 Metros (C8M), além da escala visual analógica (EVA) para dor. Os testes foram realizados com e sem joelheira; a ordem e a presença ou ausência das joelheiras durante os testes foram randomizadas e com avaliador cego. Resultados: Foi encontrada diferença estatisticamente significante entre as duas situações comparadas (com e sem joelheira) para EVA (P < 0,001), mostrando redução da dor com a joelheira. Análises com os três testes funcionais em ambas as condições foram rea- lizadas, resultando diferenças estatisticamente significantes para os testes C8M e TUG (P < 0,05), mas não no SCPT (P > 0,1339). Conclusão: A joelheira elástica foi eficiente na melhora imediata da capacidade funcional e da dor em indivíduos com OA de joelho, pois melhorou o desempenho durante os testes propostos. Sendo assim, entende-se que se trata de um recurso coadjuvante para o tratamento da OAJ por ser prático, útil, de fácil emprego clínico e que pode auxiliar e/ou facilitar a realização de exercícios terapêuticos. Palavras-chave: osteoartrite, articulação do joelho, reabilitação, instabilidade articular. © 2011 Elsevier Editora Ltda. Todos os direitos reservados. funcionais como levantar de cadeiras, subir escadas, ajoelhar-se, INTRODUÇÃO ficar em pé e andar, além de aumentar a suscetibilidade de A osteoartrite (OA) do joelho é um dos principais motivos de quedas.2 procura por serviços médicos e fisioterapêuticos, e sua preva- Diversas formas de tratamento para OA são encontradas lência vem aumentando com o envelhecimento populacional.1 na literatura, porém as não farmacológicas e não cirúrgicas Os sinais e sintomas clínicos, em geral, são semelhantes e empregadas na fisioterapia são consideradas e recomendadas apresentam-se como dor, rigidez, instabilidade articular, edema como primeira linha de tratamento para a tentativa de solu- e fraqueza muscular, que acarretam diminuição de habilidades cionar esse problema.3 Recebido em 30/11/2010. Aprovado, após revisão, em 01/07/2011. Os autores declaram a inexistência de conflitos de interesse. Comitê de Ética: 281/09. Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo e Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de Diadema – Quarteirão da Saúde. 1. Fisioterapeuta; Mestrando em Ciências do Movimento Humano pela Universidade Cruzeiro do Sul – UNICSUL; Professor Titular do Curso de Especialização em Fisioterapia Músculo Esquelética (FME) da Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo – ISCMSP 2. Fisioterapeuta; Mestrando em Ciências pela Universidade Federal de São Paulo – UNIFESP 3. Fisioterapeuta; Doutor em Ciências pela UNIFESP; Professor Titular do Curso de FME da ISCMSP e do Curso de Graduação em Fisioterapia do Centro Universitário São Camilo – CUSC 4. Fisioterapeuta pela Universidade Bandeirante de São Paulo – UNIBAN 5. Fisioterapeuta; Mestrando em Ciências pela Universidade Federal de Campinas – UNICAMP; Fisioterapeuta do Instituto Wilson Mello, Campinas/SP 6. Fisioterapeuta; Especialista em FME pela ISCMSP; Fisioterapeuta da Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de Diadema – Quarteirão da Saúde (ISCMD-QS) Correspondência para: Marcio Guimarães dos Santos. Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de Diadema – Quarteirão da Saúde – Setor de Fisioterapia. Av. Antônio Piranga, 578 – Centro. CEP: 09911-160. Diadema, SP, Brasil. Telefone: +55 11 4043-8000. E-mail: marcio_guimaraes@superig.com.br 440 Rev Bras Reumatol 2011;51(5):434-446
  • 18. Efeito imediato da utilização da joelheira elástica em indivíduos com osteoartrite Dentre esses recursos destacam-se os exercícios aeróbicos e os após consulta com ortopedista. Para inclusão na pesquisa era de fortalecimento muscular, por estarem relacionados com melhora necessário que os pacientes apresentassem no mínimo quatro da dor e da função nos indivíduos portadores de OA nos joelhos.4 itens dos critérios clínicos da classificação de OA de joelho, Entretanto, devido às limitações funcionais causadas segundo o American College of Rheumatology.9 Outro crité- pelo quadro de fraqueza muscular e dor, a prescrição desses rio de inclusão foi dor acima de três pontos na escala visual exercícios é limitada por dificuldades técnicas, e muitas vezes analógica (EVA) durante a atividade de subir e descer escadas. esses recursos tornam-se desinteressantes, dolorosos e conse- Indivíduos com comprometimento neurológico, fibromial- quentemente ineficazes.4 gia, artrite reumatoide, prótese total e/ou parcial de joelhos ou Na tentativa de minimizar o quadro álgico, outras modali- quadris, cardiopatas descompensados, deficientes auditivos e dades terapêuticas, tais como eletroestimulação neuromuscular visuais e pacientes que não conseguissem realizar os testes (EENM),5 algumas formas de terapia manual,3 protocolos de propostos foram excluídos. aplicação de termoterapia e crioterapia, além da utilização de joe- lheiras e taping,6,7 são associadas ao tratamento da OA nos joelhos. Sujeitos Porém, com exceção da joelheira, todos esses recursos dependem da perícia técnica do fisioterapeuta para sua apli- Foram selecionados 80 indivíduos de ambos os gêneros para cação. Dessa forma, a joelheira poderia ser um recurso prático coleta de dados. Dentre estes, apenas os dados de 74 indivíduos e de autoutilização para o controle do quadro álgico durante a foram incluídos, totalizando 132 joelhos, pois conseguiram realização dos exercícios, tornando-os mais eficazes. Existem completar a execução dos testes propostos. Os seguintes itens relatos na literatura que evidenciam a melhora do senso de foram avaliados: idade, peso, altura, índice de massa corporal posição articular, dor, rigidez e função com a aplicação da (IMC), tempo de dor nos joelhos (em anos), tamanho da joe- joelheira em indivíduos com OA nos joelhos.6,8 lheira e se o acometimento era unilateral ou bilateral. Sendo assim, este estudo teve como objetivo investigar a eficácia imediata da joelheira elástica na dor e na capacidade Joelheiras funcional em indivíduos portadores de OA nos joelhos, vi- Foram utilizadas joelheiras elásticas sem orifícios (Tensor® – sando à sua importância clínica como coadjuvante durante a Registro ANVISA/MS – 80017170005), por gerarem compressão realização do tratamento baseado em exercícios. A hipótese é aos tecidos aumentando a área de contato, promovendo, assim, que a joelheira poderia diminuir a dor e melhorar a capacidade menor pressão e diminuindo a dor na articulação do joelho.10 funcional durante os testes propostos. De acordo com o fabricante, as joelheiras eram de três tamanhos diferentes: pequeno (P), médio (M) e grande (G). A escolha do tamanho foi definida pela circunferência do joelho: MÉTODOS tamanho P de 32 a 35 cm, M de 35 a 39 cm e G de 39 a 44 cm. Este foi um estudo randomizado e com avaliador cego, rea- Portanto, antes da escolha do tamanho da joelheira realizou-se lizado no Setor de Reabilitação da Irmandade da Santa Casa a perimetria no joelho do indivíduo, tomando como parâmetro de Misericórdia de São Paulo (ISCMSP), em parceria com anatômico o ápice da patela; caso a circunferência do joelho a Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de Diadema – fosse uma medida entre dois tamanhos, optou-se pelo menor. Quarteirão da Saúde (ISCMD-QS). A colocação da joelheira foi realizada de acordo com as Antes da coleta dos dados todos os pacientes foram in- instruções do fabricante, que determina o posicionamento formados sobre os procedimentos que seriam realizados, e centralizado no joelho acometido permitindo movimentação assinaram um termo de consentimento livre e esclarecido, de maneira confortável. de acordo com a resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde, declarando participação voluntária neste estudo. Foi Testes funcionais e escala de dor obtida também a aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa Foi utilizada a EVA para quantificar a dor dos indivíduos du- da ISCMSP (Projeto n° 281/09). rante as avaliações do Stair Climb Power Test (SCPT),11 uma vez que esta escala é considerada instrumento válido para tal Critérios de inclusão e exclusão finalidade.12,13 A mesma era composta de um número inicial (0) Todos os participantes do estudo foram encaminhados ao posicionado no extremo esquerdo da linha, indicando ausência Setor de Fisioterapia com diagnóstico de OA nos joelhos de qualquer sintoma de dor. Este, por sua vez, estava unido Rev Bras Reumatol 2011;51(5):434-446 441