Este documento resume a apresentação de Joaquim Vinhas sobre a igreja e o convento de Vilar de Frades na rota do património peninsular. Em três frases:
O documento descreve a história do mosteiro de Vilar de Frades desde a sua fundação lendária em 566 até ao século XXI, realçando as intervenções de classificação e restauro que permitiram a sua integração na rede do turismo cultural. Apresenta também as principais fontes sobre a história religiosa, socioeconómica e artística do local
Teoria heterotrófica e autotrófica dos primeiros seres vivos..pptx
V. f. na rota do património peninsular
1. Jornadas Ibéricas PDL
Património e Desenvolvimento Local
31-05 e 01-06-2013
Barcelos, Portugal
A igreja e o convento de Vilar de Frades na
rota do património peninsular
Joaquim Vinhas
2. Breve prólogo de reconhecimento e homenagem
• Uma palavra de agradecimento à Câmara Municipal de Barcelos (CMB)
e à Associação do Desenvolvimento das Terras Altas do Homem, Cávado
e Ave (ATAHCA) pelo convite feito; quero dizer-vos que muito me honra
estar aqui, hoje, neste lugar (re)sacralizado.
• Agradecimento que é extensivo à Direção Regional da Cultura do Norte (DRCN), sem esquecer o
extinto IPAAR, a quem dirijo desde já os meus parabéns pela notável intervenção em Vilar de Frades,
que permitiu a sua integração na rede do turismo cultural.
A todos os presentes, por marcarem presença nestas Jornadas, o meu MUITO OBRIGADO!
• Reconheço que aprendi muito do pouco que sei com o Rev.º Padre Aurélio Soares e o Sacristão Sr.
Manuel Pinheiro Ferreira, ambos falecidos – a quem desejo prestar a minha homenagem. Pudessem
eles ouvir as nossas palavras…
• Agradeço ao Sr. Domingos Lopes, ex-presidente da Junta de Freguesia de S. João de Areias de Vilar, que
foi decisivo na publicação do trabalho que apresentei à FLUP em 1996, dado à estampa em 1998, com as
limitações próprias de uma investigação incompleta e imperfeita. Sem essa publicação, hoje eu não
estaria aqui!
• O meu tributo público vai, finalmente, para três pessoas a quem devo o meu perfil de aprendiz de
investigador: o saudoso Professor Doutor C. A. Ferreira de Almeida e os Professores Doutores Joaquim
Jaime Ferreira-Alves e Natália Marinho Ferreira-Alves, todos da FLUP.
3. 1. Reconhecimento institucional /
legal do conjunto patrimonial de
Vilar de Frades: as questões
da classificação e da intervenção
1910 – A «Igreja de Vilar de Frades», incluindo a chamada residência paroquial e o claustro, recebem a
classificação de Monumento Nacional, pelo Dec. de 16-06-1910, DG n.º 136 de 23 de junho
1949 – O «Chafariz monumental existente no pátio do
extinto convento anexo à igreja de Vilar de Frades»,
é elevado a Monumento Nacional pelo Dec. n.º 32 973,
DG, I Série, n.º 175, de 18 de agosto
• 2013 – O «Conjunto constituído pela Igreja e Convento de Vilar de Frades, cerca e outros elementos
construídos na sua envolvente, nas freguesias de Areias de vilar e Manhente, concelho de Barcelos,
distrito de Braga», recebe a categoria de Monumento Nacional – Dec. n.º 7/2013 de 7 de maio, DR,
1.ª Série – n.º 87, de 7 de maio
4. Não basta legislar.
• São necessárias medidas
políticas que garantam a
proteção mas também a
(re)dinamização do sítio
que permita a fruição
cultural aos turistas e aos
“estrangeiros” e, antes de
todos, às gentes da
comunidade local…
• Alois Riegl - O
Culto Moderno dos
Monumentos, 1903
• Pelo que vamos vendo,
nos últimos tempos,
parece que estamos no
caminho adequado: os
bons homens e as gentes
de Vilar sentirão orgulho
do seu lugar?!
• Carlos Alberto
Ferreira de Almeida
– Riegl e Hoje, 1994
•Mas há ainda caminhos a
percorrer!
Anexo do Decreto n.º 7/2013 de 7 de maio, DR,
1.ª Série – n.º 87 – 7 de maio de 2013
5. Valores patrimoniais: intervenção e classificação
Em breve súmula, o conjunto monumental de Vilar de Frades recebeu do poder central a classificação
de monumento nacional e zona de proteção:
• Em 1910 – a igreja, o claustro e o edifício conventual dos finais de Quinhentos (no qual se inclui a
sacristia dos finais de Setecentos);
• Em 1949 – o chafariz do «terreiro dos cabedais», de finais do séc. XVIII;
• Em 2013 – «a cerca e outros elementos construídos na sua envolvente», multiseculares.
Pode entender-se que o Santuário de Nossa Senhora do Socorro faz parte da referida área envolvente?
Se dúvidas existirem sobre isto, seria bom que fossem esclarecidas.
Seja como for, a intervenção dos últimos 20 anos (grosso modo) – incidente na recuperação das
infraestruturas classificadas em 1910 e 1949 e em intervenções de conservação no património móvel
ainda existente (muito foi, de facto e institucionalmente delapidado, ou retirado do seu contexto),
sobretudo na imaginária/estatuária, nos altares e seus retábulos… – foi decisiva para colocar Vilar de
Frades na rede do turismo cultural, pela elevada qualidade arquitectónica e artística que lhe conferimos.
Mas
os
valores
patrimoniais
que
lhes
vamos
acrescentando,
quais
penates
que
nos
perseguem/convocamos rumo ao futuro, fazem do conjunto inteiro agora classificado e protegido um
sítio muito especial, sacralizado… Os «Bons Homens de Vilar de Frades» gozam de felicidade no além…
6. 2. O sítio de Vilar de Frades: um genius loci com 1547 anos de
história religiosa, socioeconómica, cultural e artística?
566 a 1425: o sítio de Vilar de
Frades está envolvido por um
manto de “trevas”.
• A designação de «S.
Salvador» antes e depois de
1425 (data da entrega do
arruinado mosteiro ao
Mestre João Vicente) deverse-á a S. Salvador ou a D.
Pedro Salvadores (neto de D.
Godinho Viegas e detentor do
padroado), como principal
«reedificador» do cenóbio
beneditino do pós
Reconquista Cristã?
• Sabemos que os cónegos
tinham especial apreço pela
antiguidade/ herança/ legado
do Mosteiro de S. Bento.
Congregação dos Cónegos
Seculares de S. Salvador de
Vilar de Frades: 1425-1461
• Em 1172, o rei D. Sancho I
decidiu «coutar ao convento
de Villar por fazer merce a D.
Pedro Salvadores e a sua
mulher D. Sancha Martins
pello muito serviço que fizera
a el rei D. Afonso Henriques
seu pai“, diz o cronista em
1658.
7. 2.1 Da lendária data de 566 a 1425: um vazio imenso entre S. Martinho de Dume
e D. Fernando da Guerra
Imagem de S.
Martinho de Dume:
miniatura do códice
Albeldensis (c. 976)
da Biblioteca de S.
Lourenço do Escorial.
S. Martinho de Dume,
considerado Apóstolo dos
Suevos, bispo de Braga em 562579.
Segundo Jorge de S. Paulo, terá
edificado o Mosteiro de Vilar de
Frades em 566.
8. 2.2 Da Congregação dos Cónegos Seculares de S. Salvador de Vilar de Frades (1425/31-1461) à
Congregação dos Cónegos Seculares de S. João Evangelista (1461-1834)
O novo patrono, S. João
Evangelista, e a mudança da
designação, foram autorizados
por Pio II, como resultado da
«particular» devoção de D.
Isabel (mulher de Afonso V),
transferindo-se a sede para
Lisboa, Santo Elói, a quem se
deve o nome «corrompido» de
loios, , enquanto a expressão
«azúis» está associada à cor do
hábito.
Heráldica da casa de Avis, presente em
Vilar de Frades, também associada à
família Pereira
Congregação dos Cónegos
Seculares de S. João
Evangelista, 1461-1834
9. Fontes documentais de maior relevo
• Os edifícios e as obras que neles
sobreviveram.
• Epilogo e Compendio…, Manuscrito de Jorge
de S. Paulo, 1658 (com acrescentos
posteriores).
• O Ceo Aberto na Terra…, Obra impressa de
Francisco de Santa Maria, 1697.
Alguns contratos de obras de pedraria, de talha
dourada, do cadeiral do coro…;
• O inventário de 1834 do AHMF/ ANTT e
outros manuscritos.
. Mas Vilar de Frades apresenta lacunas
documentais graves.
. A Arqueologia veio trazer alguma luz, ainda
que ténue, face ao quase lendário mosteiro
medieval (566 a 1425).
• Por conseguinte, temos ainda muitas
perguntas a formular.
10. 2.3 Entre a Idade Média e a Modernidade: expansão do novo instituto
• Mestre João Vicente, fundador da Congregação dos
Cónegos Seculares de S. Salvador de Vilar de Frades,
1425.
• Trata-se de um conceituado lente de medicina na
Universidade de Lisboa e médico da corte, um
homem preocupado com as sequelas religiosas e
morais herdadas da grave crise do século XIV.
• A sua aposta passava pela abertura de um instituto
religioso de novo tipo, que retomasse a pureza do
Evangelho… uma reforma exemplar para um clero
cuja «devassidão» e «soltura de vida» lhe pareciam
preocupantes. Um clero que não era exemplo para a
sociedade civil.
• Mal sucedido nos Olivais/Lisboa, segue para
Campanhã/Porto… mas é em Braga/ Barcelos/ Vilar
de Frades que funda a nova congregação, vindo a
inspirar-se na de S. Jorge de Alga, Veneza, que fora
dotada de «Constituições» por S. Lourenço
Justiniano.
João Vicente, que será bispo de Lamego
e de Viseu, era um homem influente
junto do poder régio e da hierarquia
eclesiástica.
11. EXPANSÃO DA NOVA ORDEM RELIGIOSA
FUNDAÇÃO
LOCALIZAÇÃO
INVOCAÇÃO INICIAL
1425
Vilar de Frades
São Salvador
1455
Xabregas
São Bento
1484
Lisboa
Santo Elói
1485
Évora
S. João Evangelista
1491
Porto
N. Sr.ª da Consolação
1527
Arraiolos
N. Sr.ª da Assunção
1560
Vila da Feira
Espírito Santo
1596
Lamego
St.ª Cruz de Vale de Rei
1631
Coimbra
S. João Evangelista
12. DISTRIBUIÇÃO DOS CÓNEGOS PELAS NOVE CASAS DOS LÓIOS – EM 1658
INSTITUTO RELIGIOSO
CÓNEGOS
S. João Evangelista – Xabregas
S. João Evangelista - Vilar de Frades (Barcelos) – conta
com 13 igrejas anexas (ainda no séc. XV) e em 1792
recebe foros, censos «e mais miudezas» oriundos de 126
freguesias.
35
Santa Cruz de Vale de Rei – Lamego
17
Santo Elói – Lisboa
53
S. João Evangelista – Évora
26
Santo Elói – Porto
35
Nossa Senhora da Assunção – Arraiolos
13
S. João Evangelista – Vila da Feira
10
Colégio de Coimbra
16
TOTAL
55
260
13. A torre grande (1540-1600) a noroeste, simboliza o poder
espiritual e temporal dos padres de Vilar de Frades.
Os poderosos cónegos azúis gozam da proteção da Santa
Sé e da casa real, do conde de Barcelos e duque de
Bragança…, participam na evangelização africana e na
reforma do clero, fazem visitações na arquidiocese…
Embora confirmado pelo arcebispo de Braga (que ganhara
a longa batalha jurídica na cúria pontifícia de 1461), o
reitor tutelava as 13 igrejas anexas ao seu convento, era
capitão-mor e senhor donatário do couto de Manhente,
recebia foros e pensões de 126 freguesias… Suscitava
amores e rancores. Rivalizava com a Sé de Braga!
14. 2.4 De 1510 a 1810: 300 anos de memórias inscritas em manuscritos e em várias tipologias artísticas
A Igreja na História e na Arte
A igreja, umbilicalmente ligada ao convento, é
testemunha dos inúmeros atos litúrgicos, gestos e
cerimónias, serviço do coro e da biblioteca,
pregações, missas, enterramentos, procissões no
claustro ou nos caminhos de Vilar, enfim nos rituais
regulados ao pormenor para conferiram aos ofícios
divinos dignidade e prestígio… uma verdadeira casa
de Deus com o seu convento habitado pelos cónegos
seculares – casa mãe (até 1461) que se expandiu de
norte a sul do país, até ao século XVII.
Uma mescla de estilos que representa
menos a incongruência que vemos com
o nosso olhar, que o gosto e a vontade
de manter e alargar a importância de
um património que os sucessivos
reitores e capítulos gerais dos loios
quiseram legar ao futuro… que hoje é
nosso. Dito de outro modo, os padres
de Vilar construíram ontem o que hoje
queremos seja presente amanhã.
15.
16.
17. 2.4.1 Entre o biscainho João de Castilho e os Lopes
de Guimarães: o século de Quinhentos
Corte transversal da igreja, junto ao arco cruzeiro
(cerca de 1510), a ala nascente do convento (finais
de Quinhentos) e ala nascente do claustro (inícios de
Oitocentos) – desenho da DGEMN, 1975.
Área classificada em 1910: igreja,
sacristia, claustro e ala nascente
do convento (planta do nível
térreo – DGEMN, 1973).
18. D. Diogo de Sousa manda edificar a Capela
de Nossa Senhora da Piedade, na Sé de
Braga, para o seu sepultamento.
Capela-mor da Sé de Braga – abóbada de combados, c.
1509 – uma obra de João de Castilho.
Para além da cobertura da capela-mor, Castilho terá
ainda edificado a galilé da mesma catedral.
É conhecida a sua presença na Matriz de Vila do Conde,
a partir de 1511.
Pormenor da abóbada da capela-mor de Vilar de
Frades, c. de 1510. D. Diogo de Sousa (arcebispo de
Braga entre 1505-1532), encomendou a planta a
João de Castilho?
19. • A que se deveu a provável omissão do nome do mestre e
arquiteto biscainho João de Castilho, na crónica de 1658?
• Portugal debatia-se com a Guerra Peninsular, 16401668...
Juan del Castillo – conhecido como um
homem construtor do mundo:
- de Burgos a Sevilha, a Itália,
Portugal: Braga (1509) e Vilar de Frades (?)
Vila do Conde (1511), Viseu (?)
Jerónimos (1517) e Tomar, Batalha
e Alcobaça, Arzila e Mazagão…
•João Lopes-o-Velho, de Guimarães, foi celebrado como o
autor da traça, o «homem insigne na architectura e de
maior cabedal no reino».
• D. Diogo de Sousa (arcebispo em 1505-1532) patrocinou
o projeto de arquitetura em Vilar de Frades, onde
esperava vir a ser sepultado na capela-mor. Esperaria
também que lhe esculpissem as armas no arco cruzeiro.
• Porém, no decurso das obras, e baseados numa decisão
do Capítulo Geral, os loios mandaram esculpir as «armas
da congregação», facto que pôs termo ao mecenato do
prelado bracarense.
• Então, os padres de Vilar optaram por uma nave
modesta e com cobertura de madeira… Mas no pórtico da
fachada quiseram dar corpo ao projeto inicial, numa clara
afirmação de poder e competição face à Sé de Braga.
20.
21. 1
Janela
Entrada da capela-mor
1
Janela
2
3
2
3
4
5
4
5
6
7
6
A abóbada da capela-mor,
após a introdução do
retábulo de 1696, de
António Gomes e Domingos
Nunes, do Porto… e das
sanefas de meados do
século XVIII.
7
Janela
Janela
8
8
10
9
11
10
Janela
9
11
Janela
Possível distribuição dos 22 painéis
Em 1698 devem ter sido
entalhados/emoldurados os
22 painéis de pintura
referidos no contrato para os
retábulos colaterais,
encomendados aos mesmos
mestres entalhadores.
Colocados, talvez, entre as
janelas das paredes laterais,
os painéis contribuíram para
o triunfo do barroco …
completado com o
revestimento azulejar
executado por Dionísio
António, em 1706-1707.
22. Exterior da capela-mor manuelina, com o acrescento de 1697 (pelos mestres Pascoal
Fernandes e João Moreira, do Porto) para receber o retábulo-mor.
23.
24. Abóbada do transepto (área do cruzeiro) e arco da capela-mor, c. 1510-1520 – D. Diogo esperava ver
reconhecido o seu mecenato através da colocação das armas dos Sousas no arco cruzeiro .
25. Abóbada da capela colateral (lado
da Epístola), privativa de D. Teresa
de Mendonça, c. 1510-1520
Abóbada da capela colateral (lado
do Evangelho), privativa de D.
Leonor de Lemos, c. 1510-1520
27. Embora datada de 1694, o
contrato para a feitura da porta
de madeira de carvalho,
almofadada, é assinado a 21 de
Abril de 1695, entre o reitor
Luís da Anunciação e o mestre
carpinteiro Simão António, da
Maia, devendo a obra estar
concluída até ao dia de Todos
os Santos do mesmo ano.
28. Os Lopes de Guimarães: uma “dinastia de artistas”
João Coelho Lopes, descendente de João Lopes-o-Velho, assina em 18 de Fevereiro de 1593, um
contrato para a realização de obras de arquitectura na área conventual: o «cabido novo», a enfermaria,
a escadaria, os portais «ao romano», a cozinha e «as secretas», no corpo a nascente.
Em 1597 Gonçalo Lopes é chamado para instalar um chafariz de mármore vindo de Lisboa.
João Lopes de Amorim, executa o chafariz do
Campo da Feira (Barcelos) na década de 1630.
Marques da Silva realiza o novo enquadramento
no séc. XX.
29. O corpo conventual foi edificado no século XV, vindo a
beneficiar de importantes remodelações entre
fevereiro de 1593 e maio de 1594, por João Coelho
Lopes e nos finais do século XVIII, esta última nas
áreas do claustro e da sacristia.
A sacristia transforma-se num importante volume
paralelepipédico (como veremos), ocupando parte de
dois pisos da ala nascente.
O sítio do convento, do claustro e sua
varanda do piso superior, lado nascente.
Atente-se no estado deplorável a que os
poderes públicos deixaram cair a área
classificada, onde, transformado em
residência paroquial, aí viveu o sacristão e
sua família durante décadas…
Um cartaz digno do Estado Novo?!
30. Aspetos do exterior intervencionado: as obras de
conservação e restauro empreendidas nos últimos 20
anos devolveram dignidade aos espaços da igreja e da
sacristia, ao claustro e a uma parte considerável do
corpo conventual a nascente . Completando-se as obras
que faltam (e não serão poucas), V. Frades pode reforçar
a componente sociocultural e económica, contribuindo,
assim, para o desenvolvimento local e regional.
31. 2.4.2 A «tormenta de S. Sebastião» de 1616 e as intervenções de Seiscentos: da ala conventual
do poente ao Santuário de N. Sr.ª do Socorro e à nave única de Vilar de Frades
Portal e escada nobre, de acesso ao convento (16191620), ala poente, a partir do «Terreiro da Igreja».
33. Pórtico do «Terreiro dos Cabedais», com a
escultura de S. João Evangelista, 1619-1620
Ala norte do poente, vista do «Terreiro dos
Cabedais» e o chafariz de 1790-1792.
34. Para além das obras na área conventual, a partir de 1619 edifica-se a capela de Nossa
Senhora do Socorro e iniciam-se, em 1621, as obras de reconstrução da nave quinhentista,
dotando-a da robustez necessária pois estava em risco a segurança dos «fregueses»
porque as paredes eram frágeis e a cobertura de madeira ameaçava ruir.
35. Nave e cobertura (1621-1641),
uma obra executada de harmonia
com a obra manuelina..
A intervenção recente
acrescentou dignidade ao
«monumento nacional», que
ainda permanece desconhecido
da maioria dos barcelenses.
36. Nave e abóbada, 1621-1641… as capelas
laterais serão concluídas em 1658.
Fronteiro à capela-mor, o Senhor Crucificado
fixou-se numa estrutura entalhada, de fino
recorte rocaille, sobre a grade do coro, obras
de meados do séc. XVIII.
37.
38. Esta é a Casa do Senhor – pode
ler-se no remate do arco
cruzeiro seiscentista
39.
40. 2.4.3 Da obra da «emenda» na ala poente ao triunfo do barroco e à emergência do
neoclássico na igreja: arquitetura, talha dourada e policromada, pintura, azulejaria,
estatuária, metais preciosos, paramentaria de luxo…
O edifício conventual, a poente: uma obra dos sécs. XVII e XVIII.
Segundo os cronistas, as obras do edifício a poente tiveram início em 1619, mas apenas a ala voltada ao
«Terreiro da igreja» e todo o muro da frontaria, incluindo o «pórtico de São João Evangelista» ficaram
concluídos... Estamos em crer que a «tormenta de S. Sebastião» de 1616 e a insuficiência de recursos
levaram à reorientação dos projetos.
41. Chafariz do claustro do edifício do lado poente. Embora já tenha sido datado do séc. XVII, sem base
documental, estamos em crer que se trata da obra feita a mando de Joaquim Lopes da Costa, entre 17901792, reitor que «mandou fazer o chafariz do terreiro».
42.
43. O triunfo do barroco
O retábulo-mor, uma obra feito ao
gosto barroco/nacional pelos
entalhadores do Porto António
Gomes e Domingos Nunes, em
1696.
«Um vulgar retábulo», que
implicou a substituição da parede
fundeira, colocando em risco a
segurança da abóbada - opinou um
técnico da DGEMN em 1930, antes
10 anos do início da intervenção
em Vilar de Frades.
Porém, antes do início das obras
em 1941, um relatório refere que:
«A capela-mor, cuja abóbada está
abalada e com largas fendas na sua
estrutura, resultantes do
apeamento da parede fundeira
quando lhe aplicaram o atual altar
de talha dourada que no meu
entender se deve conservar por ser
peça rica embora contrastando
com o estilo da abside»
44.
45. Nossa Senhora, S. Salvador e S. João Evangelista – três esculturas nos seu nichos rococó, reforçam a
magnificência do retábulo maior.
46.
47. Dois anjos tocheiros foram talhados e dourados, cerca de meados do séc. XVIII, para
servirem junto ao arco triunfal.
Hoje, devidamente intervencionados, encontram-se junto ao altar-mor.
48.
49.
50. Aspeto do «coreto» da capela-mor, edificado em 1752-1754, a mando do reitor Francisco de
Santa Maria. Para esse efeito, tiveram de remover-se os painéis de azulejo, que foram
transferidos para capelas laterias do lado do Evangelho, agora patentes na sala de exposições.
51.
52. Pormenor de um retábulo do século XVIII,
foto de 1995.
Capela Nossa Senhora da Conceição
(c. meados do séc. XVIII) antes e
depois de intervencionada.
53. Capela de N. Sr.ª da Conceição, meados
séc. XVIII.
54. S. Pedro de Alcântara, no retábulo de N. Senhora da
Conceição, séc. XVIII.
59. Capela do transepto, lado do
Evangelho: S. Lourenço
Justiniano (em 1697),
Santíssimo Sacramento (a
partir de meados do século
XVIII)….
60.
61. Capela de N. Senhora do Rosário e capela do Senhor do Desterro, lado do Evangelho (1758). A do Senhor do Desterro, em
1834, estava dedicada a «um Santo Arcebispo» - provável S. Geraldo, arcebispo de Braga
62. Retábulo da capela de N. Sr.ª
da Piedade (em 1758), que
em 1834 estava dedicada a N.
Sr.ª das Dores
63. Oratório da Senhora da
Piedade/Dores
Cristo morto, Santa
Madalena e S. João
Evangelista
64. Capela de S. Caetano (em 1758), em 1834
aparece com o retábulo da Sagrada Família,
ladeada pelas estátuas de S. Pedro e Santo
Amaro. Trata-se de um retábulo de estilo
barroco/joanino (terá vindo de outro lugar?).
65.
66. Em 1560, o mestre organeiro Heitor Lobo é responsável pelo órgão de tipo ibérico. O atual gradeamento
(do órgão e do coro) é obra do séc. XVIII, que veio substituir as grades feitas no séc. XVII pelo mestre do
Porto António João Padilha, que pelo mesmo contrato realiza o cadeiral (idêntico ao da Serra do Pilar,
Gaia) e a estante do coro-alto, idêntica à do convento de Tibães. A caixa do órgão pertence ao séc. XVIII.
67.
68. 1682 –
António João
Padilha realiza
o cadeiral, «na
forma das
cadeiras do
convento da
Serra» do Pilar.
1682 – Pelo mesmo
contrato, o mestre
ensamblador do
Porto executou a
estante «como as
do coro do
convento de Tibães
como o dito mestre
ajustou a fazer».
69. Painéis azulejares pintados a azul e branco, que terão revestido as paredes laterais da capelamor, de provável assentamento em 1706-1707 por Dionísio António. Representam figuras que
colaboraram ativamente com o Mestre João Vicente na fundação da Congregação Evangelista,
incluindo S. Lourenço Justiniano e o Papa Gregório II.
70.
71.
72.
73.
74.
75.
76. 2.4.4 Da serena contenção clássica na sacristía e na área conventual – finais do século XVIII
77. A sacristia – iniciada em 1796-97 pelo reitor Manuel de São Tiago e Silva (que encomendou o risco) e concluída
em 1798-1800 por Joaquim Lopes da Costa –, exibe a serena majestade do neoclássico: a sobriedade do
mobiliário, o retábulo marmoreado com a imagem da Senhora, as 4 telas dos Evangelistas e suas molduras
douradas, as molduras das janelas, as sanefas das portas, um tremós de um conjunto de seis (5 levaram
descaminho) emoldurado, tudo de fino recorte; a mesa de brecha oitavada sobre o pavimento de mármore…
enfim, tudo abrigado por um tecto estucado com uma rica iconografia – de alcance bíblico, festivo, místico.
78.
79.
80.
81.
82.
83.
84.
85.
86. S. Lourenço Justiniano(1381-1456) entra na
Congregação dos Cónegos de São Jorge de Alga
– Veneza (1400), que transforma em mosteiro
secular; em 1406 é prior da comunidade e
pouco depois líder da congregação, dando-lhe
uma Constituição: os cânones.
Eugénio IV nomeia-o bispo de Castelo cujo
episcopado foi marcado por importante
atividade reformista.
Em 1451, Nicolau V integra a diocese de Castelo
no patriarcado de Grado e a nova Sé passa para
Veneza – sendo Lourenço Justiniano o seu
primeiro patriarca.
87. Santa Lúcia ou
Luzia (séc. XVIII),
mártir italiana de
Siracusa,
supliciada em 304
e sepultada em
catacumba de
Roma
88. Santa Vitória (séc. XVIII), mártir
espanhola de Córdoba
supliciada no anfiteatro romano
c. 204
89. 2.4.5 Projeto da frontaria da igreja dos finais do século XVIII: manter o manuelino,
fazer reviver o românico e o gótico – incongruência ou a obra no finita … projeto que a
conjuntura política e militar inviabilizou?
Entre 1796 e 1797, o
reitor Manuel de São Tiago
e Silva «mandou fazer o
risco para toda a obra nova
da sacristia, claustros e
fronteira da igreja».
90. 1 - O alçado
em 1808:
fase da
reconstrução
da torre sul;
reutilização de
pedras dos
pórticos
românicos.
Hipótese
interpretativa
do possível
projeto
idealizado nos
finais do
século XVIII
2 - Completase a torre sul,
ao gosto
revivalista
medieval.
3 – A torre norte (feita
em 1540-1600) seria
derrubada para se
conformar com o
conjunto medievalmanuelino.
4 – O projeto poderia
apresentar, grosso
modo, uma frontaria
“românica”, neogótica
e neomanuelina
91. Imaginário medieval: entre o sagrado e o profano, o erudito e o popular.
Revivalismo românico na torre
sul: adaptação de elementos
dos portais românicos, nos
inícios do séc. XIX
92. A sociedade trinitária da Baixa Idade Média: clero, nobreza, povo – um defende/combate, o outro ora e o
terceiro labora: religiosidade, trabalho e bestialidade – seu carater intemporal…
Encontro entre o Filho Pródigo e o Pai – Aguiar Barreiros
Luta entre Jacob e o Anjo – Oliveira Ramos
Jesus abraça João Evangelista – C. A. Ferreira de Almeida
93. 3. As intervenções nos séculos XX e XXI: do Estado Novo à Democracia Representativa – ou
dos «Monumentos Nacionais» à necessidade de colocar a “Igreja e o Convento de Vilar de
Frades na rota do património peninsular” na senda do progresso e do desenvolvimento
numa desejável globalização de rosto humano
Na primeira metade do século XVIII foi renovada a igreja –
altares, seus retábulos e sanefas em talha dourada e
policromada, estatuária e painéis azulejares, enriquecidos
com novas alfaias litúrgicas, metais preciosos, paramentaria
de luxo, sedas e brocados, cortinados de damasco e alcatifas
coloridas… Um espectáculo digno de se ver que levou à
abertura de novas e mais amplas janelas, em 1752-1754.
94. As sucessivas intervenções do século XX nem sempre se pautaram pelos “melhores” critérios, talvez por
fragilidades no domínio técnico-científico, sobretudo devido à mentalidade/sensibilidade que orientou a
ação interventiva e restauracionista. A última intervenção parece-nos ajustada e sintoniza com os
propósitos do tema destas jornadas: Património e Desenvolvimento Local.
95. Aspeto da nave e da capela-mor, antes da
intervenção na década de 1940
Como já referi, os retábulos colaterais foram
realizados pelos entalhadores do Porto António
Gomes e Domingos Nunes, contratados em 1698.
Pelo mesmo contrato, os mestres deveriam realizar
22 painéis para as paredes laterais da capela-mor,
completadas com painéis azulejares em 1707-08,
que em 1752-54 serão transferidos para a capela
do Santíssimo Sacramento e capelas laterais, lado
do Evangelho.
96.
97.
98. O chafariz de Vilar de Frades ganhou pouco com a saída para outro contexto, tão diverso do
original. Agora, uma boa parte do conjunto está recuperado, classificado e na rota do
património peninsular, valerá a pena devolver o emblemático chafariz aos herdeiros dos «bons
homens de Vilar de Frades»?
100. A igreja e o convento de Vilar de Frades na rota do património peninsular
Breve prólogo de reconhecimento e homenagem
1. Reconhecimento institucional/legal do conjunto patrimonial de Vilar de Frades: as questões da classificação e da intervenção
2. O sítio de Vilar de Frades: um genius loci com 1.547 anos de história religiosa, socioeconómica, cultural e artística?
2.1 Da lendária data de 566 a 1425 – um vazio imenso entre S. Martinho de Dume e D. Fernando da Guerra
2.2 Da Congregação dos Cónegos Seculares de S. Salvador de Vilar de Frades (1425-1461) à Congregação dos Cónegos Seculares de S.
João Evangelista (1461-1834)
2.3 Entre a Idade Média e a Modernidade: expansão do novo instituto
2.4 De 1510 a 1810: 300 anos de memórias inscritas em manuscritos e nas várias tipologias artísticas
2.4.1 Entre o biscainho João de Castilho e os Lopes de Guimarães: o século de Quinhentos
2.4.2 A «tormenta de S. Sebastião» de 1616 e as intervenções de Seiscentos: da ala conventual do poente ao Santuário de N. Sr.ª do
Socorro e à nave única de Vilar de Frades
2.4.3 Da obra da «emenda» na ala poente ao triunfo do barroco e à emergência do neoclássico na igreja: arquitetura, talha dourada e
policromada, pintura, azulejaria, estatuária, metais preciosos, paramentaria de luxo…
2.4.4 Da serena contenção clássica na sacristía e na área conventual – finais do século XVIII
2.4.5 Projeto da frontaria da igreja dos finais do século XVIII: manter o manuelino, fazer reviver o românico e o gótico – incongruência ou
a obra no finita… projeto que a conjuntura política e militar inviabilizou?
3. As intervenções nos séculos XX e XXI : do Estado Novo à Democracia Representativa – ou dos Monumentos Nacionais» à necessidade
de colocar a “Igreja e o Convento de Vilar de Frades na rota do património peninsular” na senda do progresso e do desenvolvimento
numa desejável globalização de rosto humano