1. A Voz do Coração
Muitos filmes falam aos ouvidos, mas são raríssimos os que falam ao
coração. O filme Les Choristes, França 2004, com título em português
de A Voz do Coração, dirigido por Christophe Barratier é uma dessas
raras produções cinematográfica que deixam o espectador com um
nó na garganta, mas com a certeza de que um pouco de amor e de
dedicação podem transformar vidas.
A obra relata a vida de um grupo de crianças num internato. A
instituição tem métodos rígidos e adota o lema: toda ação requer
uma reação, ou seja, todos os atos que se desviassem das normas
seriam combatidos com as mais rígidas punições. As práticas
medievais ficaram evidentes em diversas partes do filme,
principalmente na fala do diretor François Berléand (Rachin), que
consegue ser temido pelas crianças, mas não respeitado.
Mas as regras da instituição começam a ruir com a chegada do novo
professor, Clément Mathieu (Gérard Jugnot). Ele encontra crianças
hostis e indisciplinadas, que procuram de todas as formas burlas e se
insurgir contra a instituição. Mas o novo professor acredita que
através da música é possível despertá-las para um momento de
descobertas e novas aprendizagens. Mathieu vê em cada uma delas
um talento especial, até o mais desafinado consegue fazer parte do
novo coral. O coral de Mathieu chega a encantar o telespectador com
suas belas canções e, principalmente, pela maneira como vão
surgindo os novos talentos.
O método de Mathieu não revolucionou apenas a vida das crianças,
mas também a dos funcionários – que tiveram a possibilidade de
descobrir uma forma mais humana e mais eficiente de lidar com os
internos. O ciclo de transformações é tão significativo que o próprio
Mathieu se vê envolvido, voltando a compor novas músicas.
O personagem de Mathieu traz à memória a figura daquele
inesquecível professor. Que procurava extrair de cada um de nós o
“algo mais”, o nosso melhor. Uma pessoa com metodologia diferente,
grande dedicação e, principalmente, jeito especial de ensinar. Mas,
infelizmente, um belo dia partiu, levando consigo um pedacinho de
nós, mas deixando muito de si.
Jorge Cristiano