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MÚSICA .FILME .HQ .SHOW 
Ano 3 nº 15 
João Pessoa, agosto 2013 
Você se recorda de quando fez o seu primeiro desenho? 
É difícil. Lembro de coisas de muito tempo atrás, mas o primeiro desenho, não. Lembro do desenho que senti que era cartunista, que eu nem sabia o que era isso! Aqui tinha uns candidatos a políticos chatos, que não vou citar os nomes, barrigudos, mais do que eu, e, por falta de sorte deles ou sorte minha, houve uma cheia muito grande no Ceará, no açude de Orós, e foi sapo pra todo lado na cheia. Na época, não tínhamos televisão para ver o acontecido, mas sabíamos através do rádio e dos jornais. Fiz um desenho, sem maldade nenhuma, do corpo de um sapo e, na cabeça do sapo, a caricatura do candidato a governador e denominei de sapo de Orós. Nessa época, eu trabalhava no jornal A União, mas não era desenhista, eu era encadernador, isso foi final da década de 40... e mostrei o desenho ao chefe de redação, e ele disse: “rapaz, isso vai sair amanhã!”. O jornal recebeu mensagens do exterior por conta desse desenho! Não sei como foi cair lá fora, naquele tempo! E foi aí que eu senti que eu tinha uma vocação para isso (risos). 
Quando você começou a desenhar charges, o jornal incorporou seus trabalhos? 
Não, incorporou não, porque, naquele tempo, não existia esse segmento de trabalho, mas, quando precisava que eu fizesse alguma gozação, me chamavam, eu era um humorista gráfico! 
Como Assis Chateaubriand descobriu seu tra- balho? 
Meus irmãos tinham um trio que tocava na rádio Tabajara, formado por Livardo Alves (o que tem uma estátua no ponto de Cem Réis), Agápio Vieira e Leo- nardo Alves O nome do trio era Mensageiro Melódico e faziam sucesso aqui em João Pessoa, todo mundo gostava deles. Então, a TV Jornal do Commercio de Recife os convidou para fazer uma apresentação no programa Você Faz o Show – que era um programa que eu ia assistir na casa do vizinho, porque eu não podia comprar um televisor. Quando eu vi meus irmãos cantando na televisão, fiquei maravilhado, aquilo era um fenômeno! Era uma coisa diferente, diferente mesmo! Hoje, pra gente, televisão não é nada! Então, comecei a achar que eu tinha possibilidade de ir para lá também e passei a estudar o que eu poderia fazer. Daí tive a ideia de um auditório, onde alguém fazia um risco qualquer num quadro negro, e eu transformava aquele risco num desenho. Ganhava 50 conto quem fizesse um risco e eu não determinasse uma figura. O meu seguimento se chamava Arrisque-se no Risco, era semanal e ficou no ar um ano. Quando eu levei o projeto para o diretor Fernando Castelão do programa Você Faz o Show, ele perguntou: você pode fazer pra gente ver? Respondi que sim e foram logo buscar um quadro negro e fiz uma demonstração. No dia seguinte, eles já queriam uma apresentação dentro do programa. Então, fui atrás de um terno para a minha apresentação, lembro que era um terno tropical inglês preto que brilhava mais que catarro em parede! (risos) Eu tenho a foto aqui, veja só (mostrando a foto): essa gravatinha de laço parecia o Amigo da Onça (risos). Naquele tempo, o Amigo da Onça é que imitava a gente... 
Amigo da Onça era desenhado por Jaguar... não era Péricles! 
Era Péricles, mas eu fiz o Amigo da Onça também! 
O Amigo da Onça?! 
Você não sabia, não?! Só não tinha meu nome na assinatura do desenho, foi depois que o Péricles morreu. Não era só eu, não, era a equipe toda de desenhistas. A ideia do desenhista que fosse aprovada virava dese- nho. Isso foi em 1967/68... o nome do desenhista não aparecia, e sim o dizer: criação imortal de Péricles. Depois, o Carlos Estevam, o desenhista mais antigo da revista O Cruzeiro, tomou posse do trabalho e ficou com o nome dele. O resto da equipe ficou de fora, e criamos, dentro da Revista O Cruzeiro, O Centavo. Respondendo à pergunta anterior... Chateaubriand, por doença, veio se consultar com um médico em Recife e, quando estava no apartamento da filha, assistiu ao meu quadro na TV Jornal do Commercio e mandou um dos seguranças dele me buscar. Quando nos encontramos, ele me perguntou: “Você conhece o Amigo da Onça?” E eu respondi: “Dr. Assis, quem não conhece o Amigo da Onça?” Alguém que não conhecesse era um tapado! (risos). Daí ele disse: “Eu queria que você fizesse um quadro do Amigo da Onça.” Ele já tinha tudo preparado para eu fazer o desenho, prancheta, lápis para colorir, tudo! Chateaubriand era fora de série! O presidente Getúlio Vargas, quando queria fazer algum projeto, pedia ajuda a Chateaubriand. Pra você ter uma ideia, quando ele via uma atriz bonita no ci- nema, ele mandava buscar! Bem, depois que terminei o desenho, ele disse: “Quer ir embora amanhã para o Rio de Janeiro?” Eu disse: “Não, Dr. Assis, não pode ser assim, eu sou casado, tenho quatro filhos, moro em João Pessoa.” Ele voltou para o Rio e deixou alguém encarregado de cuidar de tudo da minha mudança. 
Qual foi o impacto que lhe causou a ida para o Rio de Janeiro? 
Meu irmão Leonardo já morava no Rio e estava me esperando. Quando cheguei lá, fui logo conhecer todo mundo que ia trabalhar comigo, menos Péricles! 
Quem era que trabalhava na revista O Cruzeiro, nessa época? 
Ziraldo, Jaguar, por sinal, ele não gostava de mim porque eu era “Paraíba”, mas ele tinha raiva dos nordestinos, e não só da Paraíba. Tinha também Api, Juarez, Henfil. Lá no Rio, trabalhei no Correio da Manhã, um dos grandes jornais da época, onde fiz charges. Trabalhei também na Revista do Rádio, que era a campeã de vendas do país, nem a televisão hoje é como o rádio era naquele tempo! Lá fui diretor de arte, eu nunca pensei em dirigir nem minha casa, mas eles acharam que eu podia dar conta da arte e dei conta mesmo. 
A ditadura militar lhe trouxe alguns problemas, não foi? 
Distribuição gratuita 
LUZARDO ALVES - Gravador de risos 
Desde muito Luzardo Alves imprime seus traços em objetos. Das joias para o papel foi o caminho desenhado pelo destino – traçado na rota entre João Pessoa/Recife e depois para o Rio de Janeiro em plena ditadura militar. Atualmente, os dois traços, aparentemente distintos, convivem lado a lado sem nenhum conflito, pois Luzardo, depois de exercer sua profissão de gravador de objetos, vai curtir sua cervejinha no Bar do Paulista, onde expõe suas charges semanalmente, para a alegria dos frequentadores e fãs. A seguir, saiba mais sobre esse paraibano, criado no bairro de Jaguaribe. 
Foto: Olga Costa
MICROFONIA 
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EXPEDIENTE 
Editor Responsável: 
Adriano Stevenson (DRT - 3401) 
Colaboradores: Josival Fonseca/Beto L./ Erivan Silva/Fred-Não Conformismo/Joelson Nascimento/Igor Nicotina 
Fotos/Editoração:Olga Costa 
Ilustração:Josival Fonseca 
Revisão: Juliene Paiva Osias 
E-mail:jornalmicrofonia@gmail.com 
Facebook.com/jornalmicrofonia 
Twitter:@jmicrofonia 
Tiragem:5.000 exemplares 
Todos os textos dos nossos colaboradores são assinados e não necessariamente refletem a opinião da redação 
Eu trabalhava no jornal O Dia, que era o jornal mais vendido do Brasil. Criei um personagem e ofereci pra eles, e, como eu já era conhecido na imprensa, me aceitaram logo. A personagem era Dona Inocência e era publicada todos os dias. Um dia, quando viajava no trem, aí eu vi umas pessoas lendo o jornal e sem saberem quem eu era, me aproximei e ouvi o seguinte comentário: “Esse Luzardo é um filho da %@#!” (risos). E eu praticamente de cara com eles ouvindo aquilo! Eu fiquei na minha, não disse nada! Foi um tempo chafurdento, mas foi gostoso! Então, um dia, eu fiz uma charge com Dona Inocência, e o exército tomou pra eles. O jornal saiu à meia-noite com a charge, e, às 7 horas da manhã, eu já estava dispensado. Eles pediram a Chagas Freitas para me expulsar do jornal. Até hoje eu não sei por que eles cismaram com aquela charge. 
Você lembra da charge? 
Lembro nada! Eu não fazia por maldade, hoje eu faço! (risos) Eles me ensinaram... hoje muitos nem compreendem, nem dão valor, porque não entenderam, mas eu sei o que eu quis dizer. 
Qual a figura pública que mais o inspirou em charges? 
Aqui mesmo em João Pessoa, ali no Ponto de Cem Réis, Régis. Ele é jornaleiro e uma figura muito conhecida. Eu inventei o personagem Zé Boné inspirado no Régis porque ele não tira aquele boné! 
Qual foi a charge que você viu de outro artista e gostaria de ter feito? Já aconteceu isso? 
Não me lembro da charge, mas isso já aconteceu e acontece comigo e com os outros. 
Ziraldo é um cara legal de se trabalhar? 
Ele é meu compadre! Ele é padrinho da minha filha mais nova que nasceu no Rio. É um cara bacana como artista e como amigo! Ziraldo tem minha idade, 81 anos. 
O politicamente correto atrapalha o seu trabalho? 
Não, chegando a ideia eu estou fazendo, não quero saber se Dilma é homem, se é mulher, faço sem medo, não tenho mais nada a perder. 
Teve alguém que já se magoou com alguma charge? 
Sim! Eu já passei por cada uma! De ligarem pra mim dizendo que eu tivesse cuidado porque, “se eu continuasse a fazer essas porcarias, você vai acabar morrendo pelo meio da rua!” 
Quais nomes você citaria como sucessor de seu trabalho? 
Tem o Régis da Torre, tem o Cristovam Tadeu e Henrique Magalhães, esses dois dizem que fui eu que ensinei a eles (risos). Henrique, uma vez, derramou um tinteiro de nanquim em cima de um desenho que eu ia levar para o jornal O Norte – na época, eu traba- lhava lá. Eu tinha um fiteiro na Praça Aristides Lobo e preparava as charges lá, Henrique era menino, assim como Cristovam, que eu fiz um desenho pra ele a pedido de seu pai porque ele me falou que seu filho gostava do que eu fazia. Daí eu fiz um desenho do Sargento Tainha. Cristovam só faltou enlouquecer de alegria quando recebeu esse desenho! 
Qual charge de sua autoria foi publicada nos Estados Unidos? 
Eu ia passando na Central do Brasil, no Rio de Janeiro, num calor de 40 graus. Antigamente, se vendia gelo para os bares em formato de pedra. Então, eu vi o cara tirando a pedra do caminhão e botou na cabeça para levar pro bar. Quando ele saiu com a água pingando, veio na minha mente a charge. A revista A- tlas publicou a charge, me pagaram 150 dólares, e eu nem sabia que eles tinham publicado por lá! E ainda me mandaram um convite para trabalhar na revista! 
Em 1988, foi lançado pela BMG/Plug o disco “Eu sou o Rio”, único registro da banda, trabalho elogiado pela crítica, porém sem êxito com o público, mas que garantiu as participações de gente como Edgar Scandurra (Ira!), Edu K (Defalla), Paulo Miklos (Titãs) e Alex Antunes (Akira S e As Garotas que Erraram), além da produção de Thomas Pappon, que era integrante do Fellini. Um disco influente, mas que não conseguiu vender bem, mesmo em um período em que o rock tinha boa visibilidade nas paradas. A julgar pelas participações e pelas críticas favoráveis, e o que dizer de gente como Rogério Skylab e Zumbi do Mato, seu único disco se firmou como clássico – e posso reforçar o coro, afirmando que sempre o escutei. Apesar da distância, os anos 80 apresentavam uma tensão política propícia para propostas como a do Black Future, mas, ouvindo hoje, em 2013, me perguntei se a banda ainda tem sua relevância em tempos em que se compartilha apatia e intolerância, numa rotina fast food, e a resposta foi ‘sim’. A sonoridade ainda é revisitada por grupos que resgatam a influência do que era chamado de pós-punk, e isso levou a banda a ser lançada, em 2005, pelo selo Soul Jazz, numa coletânea inglesa chamada “The Sexual Life of the Savages” e que retrata o underground brasileiro, os sons mais obscuros produzidos pelo rock nacional. Mas, voltando ao tal disco, ainda me impressionam as letras e a forma como elas são “cantadas”, num misto de desespero e sarcasmo. Na verdade, Satanésio praticamente declama letras sobre o submundo do Rio, enquanto faz algumas programações eletrônicas que completam a atmosfera claustrofóbica, como se o universo das músicas do Bezerra da Silva fosse transferido para um inferno beatnik barulhento e sombrio. O baixo de Olmar, soturno e constante, segue a tradição do Joy Division e sons do tipo, mas, se encaixa bem nas intervenções onde Edinho, com as guitarras, e Tantão, nas batidas eletrônicas, se mesclam e criam um disco frio, porém, em nenhum momento artificial ou que não soe rock. “Eu sou Rio” é um disco que pega aquela ideia “no future” que o punk nacional explorou e o intensifica, ilustrando um cenário pós-apocalipse, um Rio onde a menina que vem e que passa procura clientes para se sustentar. Conheci a banda em 2004, na finada loja de discos Dimensão Sensorial, do meu chapa Jailson de Assis, e, dia desses, eu o usei como referência pra mix de uma banda que integro, porque o tal futuro chegou, e ele ainda não pagou a conta de luz. Altamente recomendado pra quem tiver interesse em buscar algo além de Blitz ou Legião Urbana e conhecer outro lado da música brasileira da década de 80. I.N. 
EDITORIAL 
Teríamos que viver duas vezes, para conhecer tantas histórias que Luzardo Alves tem para contar, e o Microfonia se identifica com esse senhor de 81 anos que continua a fazer o que gosta - dese- nhar e tirar sarro de tudo, como ele mesmo disse: “Não tenho mais nada a perder!”. Quem também não tem a perder é Juan e os Mortos, que, numa Cuba caindo aos pedaços, encontra jeito para se dar bem; Fred (Não Conformismo), ao invés de perder, descolou uns discos raros em sua viagem europeia e nos conta sobre alguns no El Mariachi; no Adeus do Porto de Wagner Miranda, os versos são inspirados no que se perde nas idas e vindas; Val Fonseca perde um pouco de lágrima ao comentar sobre a turma da Mônica no Amor à Queima-Roupa; Joe Nascimento ganha passe para falar do Rock Independente de Tibiri no Matou a família e foi ao cinema. Em E o Vento Levou, Igor Nicotina resgata o som perdido do Black Future. É isso. Sabemos que, às vezes, perdemos aqui para ganhar ali, e, nesse ganha e perde, quem ganha é o leitor. Termino aqui parafraseando o desastrado gaguinho do Looney tunes: Por por por en en enquanto é só, pe pe pessoal!! 
E o Vento Levou...
MICROFONIA 
3 
Enquanto isso na redação... 
Atrás da Porta Verde 
PERMANENT RUIN – HELL IS REAL VINIL 7” EP 2012 (U.S.) Contando com uma mina (Mariam) berrando muito nos vocais, o P.R. aterroriza com seu HC barulhento como o inferno! São seis faixas muito barulhentas e velozes. Se tivesse que compará-los a alguma outra banda, eu arriscaria dizer que soam como o Call The Police (de Portland/OR) no álbum “1984 in 2003”, só que muito mais bruto. Bom demais esse grupo norte americano! Mais um grande trabalho do selo Adelante Discos, com vinil laranja, limitado e que foi inicialmente vendido apenas na apresentação que a banda fez em 1º de dezembro de 2012 em Gilman Street, SF. Hoje está bem difícil achar essa prensagem com o vinil colorido, mas há uma versão com vinil preto na qual houve um número maior na prensagem. Corra atrás, pois vale a pena. Um recado da própria banda: Permanent Ruin endorses a lifestyle free of bullshit posers! (Permanent Ruin é por um estilo de vida livre de posers!) Dado o recado! F.N.C. 
El Mariachi 
SUPERMAN XXX PORNO PARODY – POR AXEL BRAUN (2011) Mais uma grande produção. Baseada no filme Superman II, essa paródia do Homem de Aço ficou muito bem montada e tem início com o pai do Superman, Jor-El, mandando três condenados para a zona fantasma. Em outra cena, Clark Kent, numa viagem de avião (!), é forçado a salvar a aeronave, pois o piloto e o copiloto ficam tão animados com a presença da aeromoça, a atriz Lexi Belle, que, depois de muito sexo e dupla penetração, eles conseguem, num descuido, avariar a aeronave. No Planeta Diário, até o fotógrafo Jimmy Olsen se dá bem, ao se atracar com a secretária, interpretada pela atriz Kristina Rose, que está muito gata nesse filme, mas quem dá o tom total é a atriz Alexi Texas como a namorada de Lex Luthor, fazendo ele até esquecer, um pouco, a vingança contra o Superman. Alexi tem um corpo escultural, vale a pena conferir. O filme termina com os três inimigos do homem de aço chegando ao Planeta Diário e, com muito sexo, forçando Lois Lane, a atriz Andy San Dimas, a dizer onde está o super-homem, mas, na hora do ato, o super-herói a salva. Já no apartamento de Lois, aquela velha cena que ele não consegue ver através do chumbo e aí o superman mostra para ela por que é chamado de “o verdadeiro homem de aço”. (B.L.) 
DESGRAÇA SONORA V/A (SP) 2013 Podemos dizer que lançar uma coletânea é como se esfregar num pé de urtiga e depois tomar banho, mas existem pessoas que, por amor à música, e toda uma gama de boa vontade, conseguem executar esse trabalho árduo, pois essa coletânea é realmente uma desgraça! No bom sentido, é claro! Aqui você vai escutar crossover, hardcore, crustcore, grindcore, satanáscore e até bexiga taboca core! Lembrando que cada banda teve direito a cinco minutos. Com 20 bandas, o que totaliza umas 43 músicas, sendo quinze bandas de São Paulo, duas do Paraná, duas do Rio Grande do Sul e uma da Paraíba. A coletânea abre com Armagedon (SP), clássica banda dos anos 80, Slag (SP) com seu crustcore, e segue com Pode Pá (SP) grindcore, Tijolo Seis Furos (RS) hardcore, Porcria (SP) - que tem uma vinheta muito engraçada de um pastor pregando, Entendeu? (SP) - com muita velocidade técnica, Trash Hungry Punes (SP), que, cantando em inglês, toca um hardcore bem clássico e a E.R.R.O. (PB), tocando hardover, que conta atualmente com um baixista de peso, Klaton. (B.L.) 
TOTAL TERROR – AMANHÃ VAI TER TROCO CD-R (SP) 2011 Enquanto os governantes do nosso país não tomarem vergonha na cara e deixarem de roubar, sempre vai haver uma banda indignada como esta imprimindo toda a sua revolta. Formado por Nenêaltro (vocal), Tyello (guitarra), Verardi (baixo) e Levi (bateria), eles fazem um hardcore mesclando a velha escola com a atual. Imprimindo levadas rápidas e até de punk rock, o CD está bem gravado, com destaque para as guitarras que ficaram sujas e pesadas. A produção é muito legal: capa e encarte com todas as letras! Simples e eficiente! Tem até a participação de João Gordo, do Ratos de Porão, que canta com o vocalista na música Amanhã Vai Ter Troco. As outras músicas são todas na mesma linha, pura paulada! Esta é uma banda que meu amigo Punkito, com certeza, irá gostar! B.L. 
HOSTAGES OF AYATOLLAH - ANTHOALOGY LP (2010) Eu me lembro bem da primeira vez que vi o nome dessa banda na minha vida. Foi em meados dos anos 80, num zine inglês, cujo nome eu não me recordo. Como tape-trader, consegui co- nhecer o som deles através das músicas Hallo Nachbar e In Meinem Neuen Zimmer. Nossa! Eu pirava nesses sons. Então, passei a caçar material oficial do H.O.A. e, devido a ser tudo raro e, principalmente, caro, nunca foi uma tarefa fácil. Graças à X-Mist Records, pude realizar o desejo de pegar todo o material deles. AntHOAlogy consiste em um impecável álbum duplo, capa gatefold, booklet com fotos e informações, cupom pra baixar em MP3, arte gráfica mais que impecável e, de quebra, um DVD – que nunca saiu – com um show e clipes gravados para um documentário sobre o Punk alemão. Com influências assumidamente americanas, tipo Black Flag, Circle Jerks, M.I.A., o H.O.A. nos brinda com seu um som cheio de melodias, muita energia, velocidade. O fato de cantarem em alemão só deixa as coisas ainda mais especiais. Destaques? TUDO! Recomendo com louvor esta obra-prima. Corra atrás agora! Há uma versão em CD disponível. Pelo que sei, essa em vinil já está esgotada. F.N.C. 
Matou a Família e Foi ao Cinema 
ROCK INDEPENDENTE EM TIBIRI (PB) - O documentário Rock Independente em Tibiri, produzido por Dayse Plácido e Roberto Meneses, para a conclusão do curso de rádio e TV da Universidade Federal da Paraíba, conta a trajetória das bandas e do cenário alternativo que existem na cidade de Santa Rita e, mais especificamente, no bairro Tibiri. Retrata também a divisão histórico-cultural entre o bairro e a cidade, uma vez que as pessoas que moram em Tibiri parecem não morar em Santa Rita, ou seja, naturalmente, as bandas já surgem com esse conceito natural e ideológico de independência. O documentário mostra como surgiram os primeiros movimentos de rock e como se deu o surgimento de tantas bandas num bairro tão pequeno. Fazem parte desse cenário bandas como Delfos, Jardim Crônico, Território, Hom Dai, Anemone, Verso Marginal, Master Harpyah e parceiros como o MOCA – Movimento de Cultura Alternativa –, Robson Fioly e também Sandro das Estrelas – que tinha um espaço no bairro chamado de “a caixa de resistência”, o primeiro espaço aberto para apresentações das bandas. Aborda também a falta de apoio que essas bandas têm para manter esse cenário vivo. O documentário retrata, inclusive, o assassinato de um jovem durante um dos eventos e o quanto esse fato mexeu com as bandas e com a imagem do cenário alternativo local. Com apenas 25 minutos, o curta é muito bem produzido e editado. Sem dúvidas, trata-se de um documento e que serve de lição para quem pratica a mais pura e original cultura do do it yourself, típica do puro e velho rock ‘n’ roll. J.N.
MICROFONIA 
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Amor à Queima Roupa 
Fahrenheit 451 
Juan dos Mortos 
(Juan de Los Muertos) 
Direção: 
Alejandro Brugués 
Duração: 92 min. 
Ano: 2011 
O que foi corroído permanece. Do navio, o casco é a imagem externa, que, por vezes, aparece, por vezes, se esconde. Quantas vezes essa travessia foi feita? Todas as vezes que precisaram dele. Atravessar mares nunca foi um problema. Quantas vezes abandonaria o céu que nos protege/abdicaria do poder e da glória/ transformaria em pranto/ a última prece – What do You Want me to Do? Uma prece em forma de canção, melodicamente declamada por Mike Scott, que aqui, por sincronicidade, assemelham-se: Mike Scott saiu da Irlanda e foi para Manhattan, Wagner Miranda saiu de São Paulo para a Irlanda. Quantas coisas em comum possuem esses criadores de versos, que pouco, ou por pouco, (não) se cruzaram em suas travessias? Cruzaram-se nos versos: Por um momento esqueço/o navegar/e me deixo naufragar/sem me queixar... I can see the landing strip/but I need you to steer my ship. As poesias do primeiro livro de Wagner Miranda são inspiradas nesse rito de passagem. As transferências e observações de um novo mundo vieram e, em uma espécie de pós-niilismo, transpuseram um olhar diferente sobre todas as coisas, a ponto de externar que aportaria em território desconhecido/munido de sentido/ em barco inimigo... para traçar um novo ponto de partida. A vida de antes não existia mais. De agora em diante, é viver cada dia e se sentir bem. E, mais uma vez, os versos, dos distantes aventureiros, se asseme- lham: I’ve got a lot of things to change/a whole man to rearrange/and if you show me how/I’ll Begin right now. Adeus do Porto não trata de simples despedida, em que ficamos acenando até perdermos de vista. Adeus do Porto é a solidão do que corroe por dentro. É o que precisa ser jogado da proa ao mar. É, também, a reabsorção de tudo, depois do caos. Pois, em meio aos escombros, é preciso amadurecer/aprender e apreender/ eu só quero/arborescer. Oxidamos todos os dias. O que foi corroído permanece, até que a imensidão do oceano traga o abrigo, tanto desejado, da alma. O.C. 
Quando se fala em Turma da Mônica, vem logo à cabeça o desenho clássico da menininha dentuça de vestido vermelho e seu coelho de pelúcia, junto com Cebolinha, Cascão, Magali etc. Anos atrás, ganhou sua versão adolescente com a Turma da Mônica Jovem, já com 60 edições em banca. Eis agora que surge uma nova versão, agora pelo selo “Graphic MSP”, cujo mais novo filhote é “Turma da Mônica – Laços”, segundo álbum deste selo. O Floquinho desapareceu, e, para encontrar seu cachorro de estimação, Cebolinha conta com os amigos Cascão, Mônica e Magali e, claro, um plano “infalível”. A história ficou a cargo dos irmãos mineiros Vítor e Luciana Cafaggi. Os dois têm estilos de traços bem diferentes, mas que se mesclam bem em uma história muito bem contada em torno de amizades, respeito e união. Não se trata de um gibi para criança, mas sim um gibi para a família inteira. Confesso que me emociono com certos filmes, mas, em termos de quadri- nhos, este foi o primeiro que fez realmente meus olhos lacrimejarem diante de determinada cena. É uma história muito bem contada e que não deixa a dever em nada com o quadrinho europeu, americano ou qualquer um outro. O selo MSP surgiu a partir da coleção de álbuns comemorativos de 50 anos da carreira de Maurício de Souza. Foram o “MSP 50”, “MSP+50” e “MSP Novos 50”, todos com releituras dos personagens do Maurício por vários artistas Brasil afora. Em seguida, veio o “Ouro da Casa”, agora produzido por artistas do próprio estúdio do autor e empresário. Antes de Laços, a estreia se deu com “Astronauta – Magnetar”, de Danilo Beiruth. Após o Laços, vem o de Chico Bento, por Gustavo Duarte e, depois, o Piteco, com a espetacular arte pintada do paraibano Shiko. Recomendo a todos, principalmente àqueles que só leram a Turma da Mônica na infância: aqui está uma boa oportunidade de retomar esta leitura. Leiam e talvez vocês vejam e revejam suas amizades sob uma nova óptica, percebendo que gibi não é coisa só de criança. J.F. 
Adeus do Porto 
Autor: 
Wagner 
Miranda 
Editora: 
Dobra 
83 pgs 
Ano: 2013 
Preço : 
R$ 20,00 
O que aconteceria se George Romero estivesse fazendo turismo em Cuba e encontrasse Bruce Lee e Renato Aragão? Certamente, faria algo no nível de Juan dos Mortos. Claro, em se tratando de Cuba, ele teria problemas nas locações, coisa que o diretor argentino Alejandro Brugués não teve. Cuba, um dos países mais falados das Américas – e o menos visitado – é um dos personagens, com seus carros russos e americanos antigos, propaganda anti- imperialista e arquitetura colonial. O filme, longe de ser “trasheira”, abusa de piadas de cunho social e frases de efeito: “Juan,você é igual a esse país, acontecem muitas coisas, mas não muda.” Juan, o protagonista do filme, é, como ele mesmo se intitula, um sobrevivente, e, na ilha caribenha, isso não é uma escolha, é uma regra. Da forma como é mostrada a cenografia, fica difícil de identificar o período, seria anos 60, 70 ou 80? Quando os falecidos voltam à vida, enlouquecidos e comendo carne humana, o governo cubano e os meios de comunicação informam que são dissidentes revoltados contra o sistema Castrista. Juan (Alexis Díaz de Villegas), que não é besta, cria, juntamente com seu amigo Lázaro (Jorge Molina), uma firma de exterminação de zumbis, tentando se reaproximar de sua filha (a linda atriz espanhola Andrea Duro) e ga- nhando um troco em cima do socialismo. Cheio de reviravoltas, a película é o que chamo de uma grata surpresa, tanto na história, como nos engenhos para aniquilação de zumbis, como a cena da Praça da Revolução, única locação do filme que foi proibida. Você sendo – ou não – um fã de filmes de zumbi, verá que este é para se guardar na estante. A.S. 
Editora 
Panini 
Formato 17x26 cm; 82 pgs. 
Capa cartonada: 
R$ 19,90 
Capa dura: 
R$ 29,90 
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  • 1. MÚSICA .FILME .HQ .SHOW Ano 3 nº 15 João Pessoa, agosto 2013 Você se recorda de quando fez o seu primeiro desenho? É difícil. Lembro de coisas de muito tempo atrás, mas o primeiro desenho, não. Lembro do desenho que senti que era cartunista, que eu nem sabia o que era isso! Aqui tinha uns candidatos a políticos chatos, que não vou citar os nomes, barrigudos, mais do que eu, e, por falta de sorte deles ou sorte minha, houve uma cheia muito grande no Ceará, no açude de Orós, e foi sapo pra todo lado na cheia. Na época, não tínhamos televisão para ver o acontecido, mas sabíamos através do rádio e dos jornais. Fiz um desenho, sem maldade nenhuma, do corpo de um sapo e, na cabeça do sapo, a caricatura do candidato a governador e denominei de sapo de Orós. Nessa época, eu trabalhava no jornal A União, mas não era desenhista, eu era encadernador, isso foi final da década de 40... e mostrei o desenho ao chefe de redação, e ele disse: “rapaz, isso vai sair amanhã!”. O jornal recebeu mensagens do exterior por conta desse desenho! Não sei como foi cair lá fora, naquele tempo! E foi aí que eu senti que eu tinha uma vocação para isso (risos). Quando você começou a desenhar charges, o jornal incorporou seus trabalhos? Não, incorporou não, porque, naquele tempo, não existia esse segmento de trabalho, mas, quando precisava que eu fizesse alguma gozação, me chamavam, eu era um humorista gráfico! Como Assis Chateaubriand descobriu seu tra- balho? Meus irmãos tinham um trio que tocava na rádio Tabajara, formado por Livardo Alves (o que tem uma estátua no ponto de Cem Réis), Agápio Vieira e Leo- nardo Alves O nome do trio era Mensageiro Melódico e faziam sucesso aqui em João Pessoa, todo mundo gostava deles. Então, a TV Jornal do Commercio de Recife os convidou para fazer uma apresentação no programa Você Faz o Show – que era um programa que eu ia assistir na casa do vizinho, porque eu não podia comprar um televisor. Quando eu vi meus irmãos cantando na televisão, fiquei maravilhado, aquilo era um fenômeno! Era uma coisa diferente, diferente mesmo! Hoje, pra gente, televisão não é nada! Então, comecei a achar que eu tinha possibilidade de ir para lá também e passei a estudar o que eu poderia fazer. Daí tive a ideia de um auditório, onde alguém fazia um risco qualquer num quadro negro, e eu transformava aquele risco num desenho. Ganhava 50 conto quem fizesse um risco e eu não determinasse uma figura. O meu seguimento se chamava Arrisque-se no Risco, era semanal e ficou no ar um ano. Quando eu levei o projeto para o diretor Fernando Castelão do programa Você Faz o Show, ele perguntou: você pode fazer pra gente ver? Respondi que sim e foram logo buscar um quadro negro e fiz uma demonstração. No dia seguinte, eles já queriam uma apresentação dentro do programa. Então, fui atrás de um terno para a minha apresentação, lembro que era um terno tropical inglês preto que brilhava mais que catarro em parede! (risos) Eu tenho a foto aqui, veja só (mostrando a foto): essa gravatinha de laço parecia o Amigo da Onça (risos). Naquele tempo, o Amigo da Onça é que imitava a gente... Amigo da Onça era desenhado por Jaguar... não era Péricles! Era Péricles, mas eu fiz o Amigo da Onça também! O Amigo da Onça?! Você não sabia, não?! Só não tinha meu nome na assinatura do desenho, foi depois que o Péricles morreu. Não era só eu, não, era a equipe toda de desenhistas. A ideia do desenhista que fosse aprovada virava dese- nho. Isso foi em 1967/68... o nome do desenhista não aparecia, e sim o dizer: criação imortal de Péricles. Depois, o Carlos Estevam, o desenhista mais antigo da revista O Cruzeiro, tomou posse do trabalho e ficou com o nome dele. O resto da equipe ficou de fora, e criamos, dentro da Revista O Cruzeiro, O Centavo. Respondendo à pergunta anterior... Chateaubriand, por doença, veio se consultar com um médico em Recife e, quando estava no apartamento da filha, assistiu ao meu quadro na TV Jornal do Commercio e mandou um dos seguranças dele me buscar. Quando nos encontramos, ele me perguntou: “Você conhece o Amigo da Onça?” E eu respondi: “Dr. Assis, quem não conhece o Amigo da Onça?” Alguém que não conhecesse era um tapado! (risos). Daí ele disse: “Eu queria que você fizesse um quadro do Amigo da Onça.” Ele já tinha tudo preparado para eu fazer o desenho, prancheta, lápis para colorir, tudo! Chateaubriand era fora de série! O presidente Getúlio Vargas, quando queria fazer algum projeto, pedia ajuda a Chateaubriand. Pra você ter uma ideia, quando ele via uma atriz bonita no ci- nema, ele mandava buscar! Bem, depois que terminei o desenho, ele disse: “Quer ir embora amanhã para o Rio de Janeiro?” Eu disse: “Não, Dr. Assis, não pode ser assim, eu sou casado, tenho quatro filhos, moro em João Pessoa.” Ele voltou para o Rio e deixou alguém encarregado de cuidar de tudo da minha mudança. Qual foi o impacto que lhe causou a ida para o Rio de Janeiro? Meu irmão Leonardo já morava no Rio e estava me esperando. Quando cheguei lá, fui logo conhecer todo mundo que ia trabalhar comigo, menos Péricles! Quem era que trabalhava na revista O Cruzeiro, nessa época? Ziraldo, Jaguar, por sinal, ele não gostava de mim porque eu era “Paraíba”, mas ele tinha raiva dos nordestinos, e não só da Paraíba. Tinha também Api, Juarez, Henfil. Lá no Rio, trabalhei no Correio da Manhã, um dos grandes jornais da época, onde fiz charges. Trabalhei também na Revista do Rádio, que era a campeã de vendas do país, nem a televisão hoje é como o rádio era naquele tempo! Lá fui diretor de arte, eu nunca pensei em dirigir nem minha casa, mas eles acharam que eu podia dar conta da arte e dei conta mesmo. A ditadura militar lhe trouxe alguns problemas, não foi? Distribuição gratuita LUZARDO ALVES - Gravador de risos Desde muito Luzardo Alves imprime seus traços em objetos. Das joias para o papel foi o caminho desenhado pelo destino – traçado na rota entre João Pessoa/Recife e depois para o Rio de Janeiro em plena ditadura militar. Atualmente, os dois traços, aparentemente distintos, convivem lado a lado sem nenhum conflito, pois Luzardo, depois de exercer sua profissão de gravador de objetos, vai curtir sua cervejinha no Bar do Paulista, onde expõe suas charges semanalmente, para a alegria dos frequentadores e fãs. A seguir, saiba mais sobre esse paraibano, criado no bairro de Jaguaribe. Foto: Olga Costa
  • 2. MICROFONIA 2 EXPEDIENTE Editor Responsável: Adriano Stevenson (DRT - 3401) Colaboradores: Josival Fonseca/Beto L./ Erivan Silva/Fred-Não Conformismo/Joelson Nascimento/Igor Nicotina Fotos/Editoração:Olga Costa Ilustração:Josival Fonseca Revisão: Juliene Paiva Osias E-mail:jornalmicrofonia@gmail.com Facebook.com/jornalmicrofonia Twitter:@jmicrofonia Tiragem:5.000 exemplares Todos os textos dos nossos colaboradores são assinados e não necessariamente refletem a opinião da redação Eu trabalhava no jornal O Dia, que era o jornal mais vendido do Brasil. Criei um personagem e ofereci pra eles, e, como eu já era conhecido na imprensa, me aceitaram logo. A personagem era Dona Inocência e era publicada todos os dias. Um dia, quando viajava no trem, aí eu vi umas pessoas lendo o jornal e sem saberem quem eu era, me aproximei e ouvi o seguinte comentário: “Esse Luzardo é um filho da %@#!” (risos). E eu praticamente de cara com eles ouvindo aquilo! Eu fiquei na minha, não disse nada! Foi um tempo chafurdento, mas foi gostoso! Então, um dia, eu fiz uma charge com Dona Inocência, e o exército tomou pra eles. O jornal saiu à meia-noite com a charge, e, às 7 horas da manhã, eu já estava dispensado. Eles pediram a Chagas Freitas para me expulsar do jornal. Até hoje eu não sei por que eles cismaram com aquela charge. Você lembra da charge? Lembro nada! Eu não fazia por maldade, hoje eu faço! (risos) Eles me ensinaram... hoje muitos nem compreendem, nem dão valor, porque não entenderam, mas eu sei o que eu quis dizer. Qual a figura pública que mais o inspirou em charges? Aqui mesmo em João Pessoa, ali no Ponto de Cem Réis, Régis. Ele é jornaleiro e uma figura muito conhecida. Eu inventei o personagem Zé Boné inspirado no Régis porque ele não tira aquele boné! Qual foi a charge que você viu de outro artista e gostaria de ter feito? Já aconteceu isso? Não me lembro da charge, mas isso já aconteceu e acontece comigo e com os outros. Ziraldo é um cara legal de se trabalhar? Ele é meu compadre! Ele é padrinho da minha filha mais nova que nasceu no Rio. É um cara bacana como artista e como amigo! Ziraldo tem minha idade, 81 anos. O politicamente correto atrapalha o seu trabalho? Não, chegando a ideia eu estou fazendo, não quero saber se Dilma é homem, se é mulher, faço sem medo, não tenho mais nada a perder. Teve alguém que já se magoou com alguma charge? Sim! Eu já passei por cada uma! De ligarem pra mim dizendo que eu tivesse cuidado porque, “se eu continuasse a fazer essas porcarias, você vai acabar morrendo pelo meio da rua!” Quais nomes você citaria como sucessor de seu trabalho? Tem o Régis da Torre, tem o Cristovam Tadeu e Henrique Magalhães, esses dois dizem que fui eu que ensinei a eles (risos). Henrique, uma vez, derramou um tinteiro de nanquim em cima de um desenho que eu ia levar para o jornal O Norte – na época, eu traba- lhava lá. Eu tinha um fiteiro na Praça Aristides Lobo e preparava as charges lá, Henrique era menino, assim como Cristovam, que eu fiz um desenho pra ele a pedido de seu pai porque ele me falou que seu filho gostava do que eu fazia. Daí eu fiz um desenho do Sargento Tainha. Cristovam só faltou enlouquecer de alegria quando recebeu esse desenho! Qual charge de sua autoria foi publicada nos Estados Unidos? Eu ia passando na Central do Brasil, no Rio de Janeiro, num calor de 40 graus. Antigamente, se vendia gelo para os bares em formato de pedra. Então, eu vi o cara tirando a pedra do caminhão e botou na cabeça para levar pro bar. Quando ele saiu com a água pingando, veio na minha mente a charge. A revista A- tlas publicou a charge, me pagaram 150 dólares, e eu nem sabia que eles tinham publicado por lá! E ainda me mandaram um convite para trabalhar na revista! Em 1988, foi lançado pela BMG/Plug o disco “Eu sou o Rio”, único registro da banda, trabalho elogiado pela crítica, porém sem êxito com o público, mas que garantiu as participações de gente como Edgar Scandurra (Ira!), Edu K (Defalla), Paulo Miklos (Titãs) e Alex Antunes (Akira S e As Garotas que Erraram), além da produção de Thomas Pappon, que era integrante do Fellini. Um disco influente, mas que não conseguiu vender bem, mesmo em um período em que o rock tinha boa visibilidade nas paradas. A julgar pelas participações e pelas críticas favoráveis, e o que dizer de gente como Rogério Skylab e Zumbi do Mato, seu único disco se firmou como clássico – e posso reforçar o coro, afirmando que sempre o escutei. Apesar da distância, os anos 80 apresentavam uma tensão política propícia para propostas como a do Black Future, mas, ouvindo hoje, em 2013, me perguntei se a banda ainda tem sua relevância em tempos em que se compartilha apatia e intolerância, numa rotina fast food, e a resposta foi ‘sim’. A sonoridade ainda é revisitada por grupos que resgatam a influência do que era chamado de pós-punk, e isso levou a banda a ser lançada, em 2005, pelo selo Soul Jazz, numa coletânea inglesa chamada “The Sexual Life of the Savages” e que retrata o underground brasileiro, os sons mais obscuros produzidos pelo rock nacional. Mas, voltando ao tal disco, ainda me impressionam as letras e a forma como elas são “cantadas”, num misto de desespero e sarcasmo. Na verdade, Satanésio praticamente declama letras sobre o submundo do Rio, enquanto faz algumas programações eletrônicas que completam a atmosfera claustrofóbica, como se o universo das músicas do Bezerra da Silva fosse transferido para um inferno beatnik barulhento e sombrio. O baixo de Olmar, soturno e constante, segue a tradição do Joy Division e sons do tipo, mas, se encaixa bem nas intervenções onde Edinho, com as guitarras, e Tantão, nas batidas eletrônicas, se mesclam e criam um disco frio, porém, em nenhum momento artificial ou que não soe rock. “Eu sou Rio” é um disco que pega aquela ideia “no future” que o punk nacional explorou e o intensifica, ilustrando um cenário pós-apocalipse, um Rio onde a menina que vem e que passa procura clientes para se sustentar. Conheci a banda em 2004, na finada loja de discos Dimensão Sensorial, do meu chapa Jailson de Assis, e, dia desses, eu o usei como referência pra mix de uma banda que integro, porque o tal futuro chegou, e ele ainda não pagou a conta de luz. Altamente recomendado pra quem tiver interesse em buscar algo além de Blitz ou Legião Urbana e conhecer outro lado da música brasileira da década de 80. I.N. EDITORIAL Teríamos que viver duas vezes, para conhecer tantas histórias que Luzardo Alves tem para contar, e o Microfonia se identifica com esse senhor de 81 anos que continua a fazer o que gosta - dese- nhar e tirar sarro de tudo, como ele mesmo disse: “Não tenho mais nada a perder!”. Quem também não tem a perder é Juan e os Mortos, que, numa Cuba caindo aos pedaços, encontra jeito para se dar bem; Fred (Não Conformismo), ao invés de perder, descolou uns discos raros em sua viagem europeia e nos conta sobre alguns no El Mariachi; no Adeus do Porto de Wagner Miranda, os versos são inspirados no que se perde nas idas e vindas; Val Fonseca perde um pouco de lágrima ao comentar sobre a turma da Mônica no Amor à Queima-Roupa; Joe Nascimento ganha passe para falar do Rock Independente de Tibiri no Matou a família e foi ao cinema. Em E o Vento Levou, Igor Nicotina resgata o som perdido do Black Future. É isso. Sabemos que, às vezes, perdemos aqui para ganhar ali, e, nesse ganha e perde, quem ganha é o leitor. Termino aqui parafraseando o desastrado gaguinho do Looney tunes: Por por por en en enquanto é só, pe pe pessoal!! E o Vento Levou...
  • 3. MICROFONIA 3 Enquanto isso na redação... Atrás da Porta Verde PERMANENT RUIN – HELL IS REAL VINIL 7” EP 2012 (U.S.) Contando com uma mina (Mariam) berrando muito nos vocais, o P.R. aterroriza com seu HC barulhento como o inferno! São seis faixas muito barulhentas e velozes. Se tivesse que compará-los a alguma outra banda, eu arriscaria dizer que soam como o Call The Police (de Portland/OR) no álbum “1984 in 2003”, só que muito mais bruto. Bom demais esse grupo norte americano! Mais um grande trabalho do selo Adelante Discos, com vinil laranja, limitado e que foi inicialmente vendido apenas na apresentação que a banda fez em 1º de dezembro de 2012 em Gilman Street, SF. Hoje está bem difícil achar essa prensagem com o vinil colorido, mas há uma versão com vinil preto na qual houve um número maior na prensagem. Corra atrás, pois vale a pena. Um recado da própria banda: Permanent Ruin endorses a lifestyle free of bullshit posers! (Permanent Ruin é por um estilo de vida livre de posers!) Dado o recado! F.N.C. El Mariachi SUPERMAN XXX PORNO PARODY – POR AXEL BRAUN (2011) Mais uma grande produção. Baseada no filme Superman II, essa paródia do Homem de Aço ficou muito bem montada e tem início com o pai do Superman, Jor-El, mandando três condenados para a zona fantasma. Em outra cena, Clark Kent, numa viagem de avião (!), é forçado a salvar a aeronave, pois o piloto e o copiloto ficam tão animados com a presença da aeromoça, a atriz Lexi Belle, que, depois de muito sexo e dupla penetração, eles conseguem, num descuido, avariar a aeronave. No Planeta Diário, até o fotógrafo Jimmy Olsen se dá bem, ao se atracar com a secretária, interpretada pela atriz Kristina Rose, que está muito gata nesse filme, mas quem dá o tom total é a atriz Alexi Texas como a namorada de Lex Luthor, fazendo ele até esquecer, um pouco, a vingança contra o Superman. Alexi tem um corpo escultural, vale a pena conferir. O filme termina com os três inimigos do homem de aço chegando ao Planeta Diário e, com muito sexo, forçando Lois Lane, a atriz Andy San Dimas, a dizer onde está o super-homem, mas, na hora do ato, o super-herói a salva. Já no apartamento de Lois, aquela velha cena que ele não consegue ver através do chumbo e aí o superman mostra para ela por que é chamado de “o verdadeiro homem de aço”. (B.L.) DESGRAÇA SONORA V/A (SP) 2013 Podemos dizer que lançar uma coletânea é como se esfregar num pé de urtiga e depois tomar banho, mas existem pessoas que, por amor à música, e toda uma gama de boa vontade, conseguem executar esse trabalho árduo, pois essa coletânea é realmente uma desgraça! No bom sentido, é claro! Aqui você vai escutar crossover, hardcore, crustcore, grindcore, satanáscore e até bexiga taboca core! Lembrando que cada banda teve direito a cinco minutos. Com 20 bandas, o que totaliza umas 43 músicas, sendo quinze bandas de São Paulo, duas do Paraná, duas do Rio Grande do Sul e uma da Paraíba. A coletânea abre com Armagedon (SP), clássica banda dos anos 80, Slag (SP) com seu crustcore, e segue com Pode Pá (SP) grindcore, Tijolo Seis Furos (RS) hardcore, Porcria (SP) - que tem uma vinheta muito engraçada de um pastor pregando, Entendeu? (SP) - com muita velocidade técnica, Trash Hungry Punes (SP), que, cantando em inglês, toca um hardcore bem clássico e a E.R.R.O. (PB), tocando hardover, que conta atualmente com um baixista de peso, Klaton. (B.L.) TOTAL TERROR – AMANHÃ VAI TER TROCO CD-R (SP) 2011 Enquanto os governantes do nosso país não tomarem vergonha na cara e deixarem de roubar, sempre vai haver uma banda indignada como esta imprimindo toda a sua revolta. Formado por Nenêaltro (vocal), Tyello (guitarra), Verardi (baixo) e Levi (bateria), eles fazem um hardcore mesclando a velha escola com a atual. Imprimindo levadas rápidas e até de punk rock, o CD está bem gravado, com destaque para as guitarras que ficaram sujas e pesadas. A produção é muito legal: capa e encarte com todas as letras! Simples e eficiente! Tem até a participação de João Gordo, do Ratos de Porão, que canta com o vocalista na música Amanhã Vai Ter Troco. As outras músicas são todas na mesma linha, pura paulada! Esta é uma banda que meu amigo Punkito, com certeza, irá gostar! B.L. HOSTAGES OF AYATOLLAH - ANTHOALOGY LP (2010) Eu me lembro bem da primeira vez que vi o nome dessa banda na minha vida. Foi em meados dos anos 80, num zine inglês, cujo nome eu não me recordo. Como tape-trader, consegui co- nhecer o som deles através das músicas Hallo Nachbar e In Meinem Neuen Zimmer. Nossa! Eu pirava nesses sons. Então, passei a caçar material oficial do H.O.A. e, devido a ser tudo raro e, principalmente, caro, nunca foi uma tarefa fácil. Graças à X-Mist Records, pude realizar o desejo de pegar todo o material deles. AntHOAlogy consiste em um impecável álbum duplo, capa gatefold, booklet com fotos e informações, cupom pra baixar em MP3, arte gráfica mais que impecável e, de quebra, um DVD – que nunca saiu – com um show e clipes gravados para um documentário sobre o Punk alemão. Com influências assumidamente americanas, tipo Black Flag, Circle Jerks, M.I.A., o H.O.A. nos brinda com seu um som cheio de melodias, muita energia, velocidade. O fato de cantarem em alemão só deixa as coisas ainda mais especiais. Destaques? TUDO! Recomendo com louvor esta obra-prima. Corra atrás agora! Há uma versão em CD disponível. Pelo que sei, essa em vinil já está esgotada. F.N.C. Matou a Família e Foi ao Cinema ROCK INDEPENDENTE EM TIBIRI (PB) - O documentário Rock Independente em Tibiri, produzido por Dayse Plácido e Roberto Meneses, para a conclusão do curso de rádio e TV da Universidade Federal da Paraíba, conta a trajetória das bandas e do cenário alternativo que existem na cidade de Santa Rita e, mais especificamente, no bairro Tibiri. Retrata também a divisão histórico-cultural entre o bairro e a cidade, uma vez que as pessoas que moram em Tibiri parecem não morar em Santa Rita, ou seja, naturalmente, as bandas já surgem com esse conceito natural e ideológico de independência. O documentário mostra como surgiram os primeiros movimentos de rock e como se deu o surgimento de tantas bandas num bairro tão pequeno. Fazem parte desse cenário bandas como Delfos, Jardim Crônico, Território, Hom Dai, Anemone, Verso Marginal, Master Harpyah e parceiros como o MOCA – Movimento de Cultura Alternativa –, Robson Fioly e também Sandro das Estrelas – que tinha um espaço no bairro chamado de “a caixa de resistência”, o primeiro espaço aberto para apresentações das bandas. Aborda também a falta de apoio que essas bandas têm para manter esse cenário vivo. O documentário retrata, inclusive, o assassinato de um jovem durante um dos eventos e o quanto esse fato mexeu com as bandas e com a imagem do cenário alternativo local. Com apenas 25 minutos, o curta é muito bem produzido e editado. Sem dúvidas, trata-se de um documento e que serve de lição para quem pratica a mais pura e original cultura do do it yourself, típica do puro e velho rock ‘n’ roll. J.N.
  • 4. MICROFONIA 4 Amor à Queima Roupa Fahrenheit 451 Juan dos Mortos (Juan de Los Muertos) Direção: Alejandro Brugués Duração: 92 min. Ano: 2011 O que foi corroído permanece. Do navio, o casco é a imagem externa, que, por vezes, aparece, por vezes, se esconde. Quantas vezes essa travessia foi feita? Todas as vezes que precisaram dele. Atravessar mares nunca foi um problema. Quantas vezes abandonaria o céu que nos protege/abdicaria do poder e da glória/ transformaria em pranto/ a última prece – What do You Want me to Do? Uma prece em forma de canção, melodicamente declamada por Mike Scott, que aqui, por sincronicidade, assemelham-se: Mike Scott saiu da Irlanda e foi para Manhattan, Wagner Miranda saiu de São Paulo para a Irlanda. Quantas coisas em comum possuem esses criadores de versos, que pouco, ou por pouco, (não) se cruzaram em suas travessias? Cruzaram-se nos versos: Por um momento esqueço/o navegar/e me deixo naufragar/sem me queixar... I can see the landing strip/but I need you to steer my ship. As poesias do primeiro livro de Wagner Miranda são inspiradas nesse rito de passagem. As transferências e observações de um novo mundo vieram e, em uma espécie de pós-niilismo, transpuseram um olhar diferente sobre todas as coisas, a ponto de externar que aportaria em território desconhecido/munido de sentido/ em barco inimigo... para traçar um novo ponto de partida. A vida de antes não existia mais. De agora em diante, é viver cada dia e se sentir bem. E, mais uma vez, os versos, dos distantes aventureiros, se asseme- lham: I’ve got a lot of things to change/a whole man to rearrange/and if you show me how/I’ll Begin right now. Adeus do Porto não trata de simples despedida, em que ficamos acenando até perdermos de vista. Adeus do Porto é a solidão do que corroe por dentro. É o que precisa ser jogado da proa ao mar. É, também, a reabsorção de tudo, depois do caos. Pois, em meio aos escombros, é preciso amadurecer/aprender e apreender/ eu só quero/arborescer. Oxidamos todos os dias. O que foi corroído permanece, até que a imensidão do oceano traga o abrigo, tanto desejado, da alma. O.C. Quando se fala em Turma da Mônica, vem logo à cabeça o desenho clássico da menininha dentuça de vestido vermelho e seu coelho de pelúcia, junto com Cebolinha, Cascão, Magali etc. Anos atrás, ganhou sua versão adolescente com a Turma da Mônica Jovem, já com 60 edições em banca. Eis agora que surge uma nova versão, agora pelo selo “Graphic MSP”, cujo mais novo filhote é “Turma da Mônica – Laços”, segundo álbum deste selo. O Floquinho desapareceu, e, para encontrar seu cachorro de estimação, Cebolinha conta com os amigos Cascão, Mônica e Magali e, claro, um plano “infalível”. A história ficou a cargo dos irmãos mineiros Vítor e Luciana Cafaggi. Os dois têm estilos de traços bem diferentes, mas que se mesclam bem em uma história muito bem contada em torno de amizades, respeito e união. Não se trata de um gibi para criança, mas sim um gibi para a família inteira. Confesso que me emociono com certos filmes, mas, em termos de quadri- nhos, este foi o primeiro que fez realmente meus olhos lacrimejarem diante de determinada cena. É uma história muito bem contada e que não deixa a dever em nada com o quadrinho europeu, americano ou qualquer um outro. O selo MSP surgiu a partir da coleção de álbuns comemorativos de 50 anos da carreira de Maurício de Souza. Foram o “MSP 50”, “MSP+50” e “MSP Novos 50”, todos com releituras dos personagens do Maurício por vários artistas Brasil afora. Em seguida, veio o “Ouro da Casa”, agora produzido por artistas do próprio estúdio do autor e empresário. Antes de Laços, a estreia se deu com “Astronauta – Magnetar”, de Danilo Beiruth. Após o Laços, vem o de Chico Bento, por Gustavo Duarte e, depois, o Piteco, com a espetacular arte pintada do paraibano Shiko. Recomendo a todos, principalmente àqueles que só leram a Turma da Mônica na infância: aqui está uma boa oportunidade de retomar esta leitura. Leiam e talvez vocês vejam e revejam suas amizades sob uma nova óptica, percebendo que gibi não é coisa só de criança. J.F. Adeus do Porto Autor: Wagner Miranda Editora: Dobra 83 pgs Ano: 2013 Preço : R$ 20,00 O que aconteceria se George Romero estivesse fazendo turismo em Cuba e encontrasse Bruce Lee e Renato Aragão? Certamente, faria algo no nível de Juan dos Mortos. Claro, em se tratando de Cuba, ele teria problemas nas locações, coisa que o diretor argentino Alejandro Brugués não teve. Cuba, um dos países mais falados das Américas – e o menos visitado – é um dos personagens, com seus carros russos e americanos antigos, propaganda anti- imperialista e arquitetura colonial. O filme, longe de ser “trasheira”, abusa de piadas de cunho social e frases de efeito: “Juan,você é igual a esse país, acontecem muitas coisas, mas não muda.” Juan, o protagonista do filme, é, como ele mesmo se intitula, um sobrevivente, e, na ilha caribenha, isso não é uma escolha, é uma regra. Da forma como é mostrada a cenografia, fica difícil de identificar o período, seria anos 60, 70 ou 80? Quando os falecidos voltam à vida, enlouquecidos e comendo carne humana, o governo cubano e os meios de comunicação informam que são dissidentes revoltados contra o sistema Castrista. Juan (Alexis Díaz de Villegas), que não é besta, cria, juntamente com seu amigo Lázaro (Jorge Molina), uma firma de exterminação de zumbis, tentando se reaproximar de sua filha (a linda atriz espanhola Andrea Duro) e ga- nhando um troco em cima do socialismo. Cheio de reviravoltas, a película é o que chamo de uma grata surpresa, tanto na história, como nos engenhos para aniquilação de zumbis, como a cena da Praça da Revolução, única locação do filme que foi proibida. Você sendo – ou não – um fã de filmes de zumbi, verá que este é para se guardar na estante. A.S. Editora Panini Formato 17x26 cm; 82 pgs. Capa cartonada: R$ 19,90 Capa dura: R$ 29,90 Zumbilândia PATROCÍNIO