O Grupo Corpo comemora 40 anos com a estreia de duas novas obras: "Dança Sinfônica", de Rodrigo Pederneiras, que homenageia a história da companhia, e "Suíte Branca", da ex-bailarina Cassi Abranches, que marca a estreia de uma nova coreógrafa. A temporada celebra a trajetória de excelência do Grupo Corpo e sua capacidade de renovação.
Grupo Corpo comemora 40 anos com estreia de duas obras
1. DOMINGO
Caderno2Edição de
Esportes
ATLETISMO
EM CRISE
É grande o risco de
o Brasil não ganhar
uma só medalha na
Olimpíada do Rio. PÁG. D6
DANIEL TEIXEIRA/ESTADÃO
DANÇA
ÀMINEIRA
GrupoCorpocelebra
40anoscomestreia
deSuíteBranca
eDançaSinfônica
Haddadexecuta6,5%degastosnasaúde
C
alais, na França, é o novo
símbolo da explosão mi-
gratória que desafia a Eu-
ropa,informaAndreiNetto,dire-
tamentedo“newjungle”,campo
derefugiadosnocoraçãodocon-
tinente. INTERNACIONAL / PÁG. A12
23H30
JULIO MESQUITA
(1862 - 1927)
SP irregular. Construções à beira da Represa Billings: faltam obras para preservar e despoluir reservatórios
Tempo em SP
27 Máx. 13° Mín.
OLADOSOMBRA
Migraçãoilegal
FOTOSJOSELUIZPEDERNEIRAS
CasaCasa
PlanaltoapostanoSenado
parabarrarcrisepolítica
Governo põe ministros e líderes petistas para tentar melhorar relação com Renan Calheiros após recesso
Cuidado com o sócio
O empreendedor muitas vezes es-
quece que sócio não pode ser man-
dado embora. Uma briga desse tipo
pode ficar anos na Justiça.
ECONOMIA / PÁG. B11
Ossete compromissos firmados pelo
prefeito Fernando Haddad (PT) no
Plano de Metas para a área da saúde
consumiriam, nos quatro anos de
mandato, cerca de R$ 1,6 bilhão. Até
agora, somente R$ 108,9 milhões, ou
6,5%dototal,foramgastos.Naeduca-
ção seriam 20 Centros Educacionais
Unificados (CEUs) até o fim de 2016.
Mas, por enquanto, foi entregue ape-
nas o de Heliópolis. Já no Programa
Mananciais não há sinal de obras.
METRÓPOLE / PÁGS. A18, A21 e A22
‘ESSEPT
CHEGOUAO
FIMDOCICLO’
José Alexandre Scheinkman. ‘Não
podemos ficar paralisados. Brasil precisa
retomar ambição de longo prazo.’ PÁG. B5
Beatriz Accioly mostra
dubiedade da internet
na violência contra a
mulher. “Ao julgarmos
a mulher, dizemos que
é culpada.”
NOVASELVA
FRANCESA
Alunodeuniversidade
aindapatinano inglês
METRÓPOLE / PÁG. A26
Palmeiras lota arena
contra o Atlético-PR
EDIÇÃO DE ESPORTES / PÁG. D1
Caradolugar. CasasdeRio
e BH mostram diferentes estilos
Empresas nacionais endividadas em
moeda estrangeira estão em alerta.
Alémdoaumentododólaredocustode
captações no exterior, a deterioração
daeconomiadificultaarolagemdedívi-
das.Desde2008,adívidaexternasubiu
75%,paraUS$348bilhões.Aparcelada
iniciativa privada representou 61% do
totale cresceu130%. ECONOMIA / PÁG. B1
Dívida em dólar
de empresas
cresce 130%
l Câmara vai interpelar advogada
Eduardo Cunha (PMDB-RJ) anunciou
que a advogada Beatriz Catta Preta
será interpelada judicialmente para
esclarecer acusação de que foi
ameaçada por integrantes da CPI da
Petrobrás. PÁG. A7
TratadopeloPlanaltocomopeça-chave
paraimpediroagravamentodacrisepo-
lítica, o presidente do Senado, Renan
Calheiros (PMDB-AL), tem sinalizado
quepodevoltaracolaborarcomogover-
no Dilma Rousseff a partir desta sema-
na, na volta do recesso parlamentar.
Mascobrará“faturas”nasáreaspolítica
eeconômicaemtrocadaajuda.Háduas
semanas,logoapósoanúnciodorompi-
mentodopresidentedaCâmara,Eduar-
do Cunha (PMDB-RJ), o governo deci-
diu reforçar operação envolvendo mi-
nistroseliderançaspetistasparacorte-
jarRenan. Oobjetivoérecriararelação
do primeiro mandato, quando ele foi o
principal interlocutor do governo no
Congresso. O afastamento ocorreu na
esteiradaLavaJato.Nosbastidores,Re-
nanacusaoPlanalto deteratuado para
incluí-lo entre os investigados. Dilma
tambémtentaneutralizarefeitosdepro-
vável decisão desfavorável do TCU no
julgamentodascontas.POLÍTICA/PÁG.A4
FUNDADO EM
1875
l Entrevistas
Multimídia. Veja infográficos e assista
aos vídeos em estadao.com.br/e/metasp
A
rticuladorpolíticodeumafren-
tenacionaldeesquerda,Tarso
GenrodisseaVeraRosaqueo
PSDB ou mesmo o PMDB pode ven-
ceraeleiçãopresidencialde2018,seo
governo Dilma Rousseff não mudar
sua política econômica nem fizer as
pazescomsuabasesocialecomaclas-
semédia.POLÍTICA / PÁG. A6
Entrevista
Tarso Genro
EX-GOVERNADOR DO RIO GRANDE DO SUL
Somos todos
É sempre mais fácil dizer que os ou-
trosestão errados e prejudicando o
bom andamento do mundo do que
localizar em nós os pontos negativos.
CADERNO2 / PÁG. C4
ANDREI NETTO/ESTADÃO
Afegãos. Bahadel e Kabil
6
Antônio Delfim Netto. ‘Dilma preci-
sa assumir o protagonismo, tem de en-
frentar o panelaço que lhe cabe.’ PÁG. B4
RENATO CRUZ NOTAS & INFORMAÇÕES
A desconfiança como legado
Aresponsabilidade pelodescrédito
nospolíticosnão podeser debitada
somenteaDilmaRousseff.PÁG. A3
Sol.Dia
seco.
Pág. A26
FERNANDO HENRIQUE
Lobo ou cordeiro?
Será que é tempo de rezar pela sorte
de setores empresariais e políticos?
A horapara agirjá nãoé mais doCon-
gresso e dos partidos, mas da Justiça.
ESPAÇO ABERTO / PÁG. A2
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de manejo florestal responsável, pela S. A. O Estado de S. Paulo
FÁBIO PORCHAT
%HermesFileInfo:A-1:20150802:
2 DE AGOSTO DE 2015 R$ 6,00 ANO 136 Nº 44483 EDIÇÃO DE estadão.com.br
2. %HermesFileInfo:C-1:20150802:
C1 DOMINGO, 2 DE AGOSTO DE 2015 ANO XXIX – Nº 9906 O ESTADO DE S. PAULO
Caderno2
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Dança à
mineira
Sinônimo de excelência, Grupo Corpo comemora
40 anos com a estreia de duas obras, ‘Suíte Branca’
e ‘Dança Sinfônica’. Págs. C6 e C7
A volta do Beco
das Garrafas
Um dos berços da
bossa nova, ponto
carioca renasce
Pág. C12
JOSE LUIZ PEDERNEIRAS/DIVULGAÇÃO
Renovação. Ex-bailarina da
companhia, Cassi Abranches
assina um dos balés
3. %HermesFileInfo:C-6:20150802:
C6 Caderno 2 DOMINGO, 2 DE AGOSTO DE 2015 O ESTADO DE S. PAULO
Dança
Após criar vocabulário único em 4 décadas, Grupo Corpo
abre espaço para nova coreógrafa, de olho na renovação
l Janeiro de 1975
Grupo Corpo é criado em Belo
Horizonte. A sede da companhia
é a casa da família Pederneiras
na Rua Barão de Lucena.
l 1º de abril de 1976
Estreia Maria Maria, com coreo-
grafia do argentino Oscar Araiz,
música de Milton Nascimento e
roteiro de Fernando Brant.
l 11 de maio de 1978
Inauguração da nova sede e
estreia de Rodrigo Pederneiras
como coreógrafo. Foi o ano da
primeira turnê internacional.
DEPOIMENTO
Tradição
e futuro
Juliana Ravelli
BELO HORIZONTE
Tudocomeçounolardeumafa-
míliamineira.Em1975,osirmãos
Paulo,RodrigoeMiriamtransfor-
maram a casaonde nasceram na
sede do Grupo Corpo, que ti-
nham acabado de criar. Os pais
foram morar de aluguel para dar
espaçoaosonhodosfilhos.Qua-
renta anos depois, quem entra
noedifíciodetrêsandares–ergui-
doem1978,emoutroendereço–,
no bairro Mangabeiras, em Belo
Horizonte,aindasenteoclimafa-
miliar.Lá,éfácilacharumaxíca-
radecaféebompapo.Masasin-
gelezaestáaoladodeoutrapecu-
liaridade: a dedicação extrema à
arte.Foiotrabalhosério,doqual
os Pederneiras gostam, que ele-
vou o Corpo ao posto de maior
companhiadedançabrasileira.
Como disse o diretor artístico
Paulo Pederneiras: “Nós todos
somos muito exigentes. Mas es-
se rigor não ofende ninguém”.
Em quatro décadas, o Corpo se
apresentou pelo mundo, multi-
plicou parcerias com profissio-
nais de outras artes, desdobrou-
seemprojetossociaisesetornou
sinônimodeexcelência.Parace-
lebrar tantas conquistas, apre-
senta duas obras inéditas neste
mês em Belo Horizonte e São
Paulo e, em setembro, no Rio:
Dança Sinfônica e Suíte Branca.
Éaprimeiravezem24anosquea
companhia tem duas estreias na
mesma noite. Também é a pri-
meiravez,desde1988,quecoloca
emcenaumbalénãocoreografa-
doporRodrigoPederneiras.
A temporada comemorativa
começa no dia 5 no Palácio das
Artes, na capital mineira. Assim,
o Corpo volta no tempo para a
sua própria estreia naquele pal-
co, em 1.º de abril de 1976. Foi lá
que o público conheceu o balé
que se tornaria um clássico, Ma-
ria Maria. Com coreografia do
argentinoOscarAraiz,músicade
Milton Nascimento e roteiro de
Fernando Brant, a obra virou fe-
nômeno. Lotou plateias e abriu
portasparaogrupo.
“Não sei se (a longevidade do
grupo) tem segredo. Mas nós
temos um convívio muito ho-
nesto.Nãotemespaçoparavai-
dades exacerbadas”, explica
Paulo. “Temos uma maneira
aberta de se comportar. Não
temfrescura.Outraquestãoim-
portante é a excelência artísti-
ca. Não só dos bailarinos, mas
de toda a equipe. Não dá para
deixar mais ou menos.”
Aolongodopercurso,oCorpo
desenvolveu um repertório que
transita com naturalidade entre
oeruditoeopopular,ourbanoe
oregional.Coreógrafo-residente
dacompanhiadesde1978,Rodri-
gocriou movimentosque tradu-
zem a brasilidade para a dança.
EssepercursoéomotedeDança
Sinfônica, de Rodrigo. “Quis fa-
zerumacoisaMinasGerais”,diz
ocoreógrafo.“Agentecaminhou
demais.E,agora,estamosvoltan-
doparaoninho.Sebemquenun-
casaímosdoninho.”
Os 40 anos ganham significa-
doprofundocomamúsicatrans-
cendental de Marco Antônio
Guimarães (criador do grupo
Uakti), interpretada pela Or-
questra Filarmônica de Minas
Gerais, regida pelo maestro Fá-
bioMechetti.Aemotividadees-
tá por toda parte, do cenário
commaisdemilfotosfeitaspor
quem passou pelo Corpo desde
1975atéopasdedeuxcomavete-
rana Silvia Gaspar.
“Eu me lembrei que costumo
guardarcertasideiasali,nagave-
ta.TemumlivrodoCaioFernan-
do Abreu que adorava, que se
chama Ovelhas Negras. Era isso,
ideias antigas que ele não tinha
publicado. Pensei: ‘Vou fazer a
mesma coisa que ele’. Peguei
ideias antigas e tentei misturar
com coisas novas, de hoje, que
gostaria de fazer. E também
com alguma coisa da história
das pessoas. Não vou citar no-
mes,masháhomenagensquefa-
çoadeterminadasfigurasquees-
tão aqui e que passaram por
aqui”,revela Rodrigo.
Nova geração. Seoprimeiroba-
lé é uma ode à memória e tradi-
çãodoCorpo,osegundorevelaa
preocupação da companhia em
sempre se renovar. Suíte Branca
é coreografia da paulista Cassi
Abranches, que foi bailarina do
grupopor12anos.
Ela conta que teve total liber-
dade, recebeu “uma folha em
branco” para criar o que quises-
se. A ideia se materializou tam-
bémnocenárioefigurinos,tudo
branco. “O conceito da noite é
lindo. É contar os 40 anos, com
asfotos,eolharparafrente,com
obranco”,dizCassi.
Para reforçar esse espírito de
juventude, o Corpo convocou
Samuel Rosa e seu grupo Skank
paracriaratrilha,quetempega-
da rock-and-roll. As notas casa-
ramcomaideiadeCassideusar
agravidadecomoreferênciapa-
raosmovimentos.“Quandome
deram o primeiro acorde da tri-
lha, não sei por que, imaginei o
movimento de cair. Então, per-
gunteiparaameninaquecome-
çao balé oquanto ela conseguia
deixar o corpo cair sem se ma-
chucar.Apartirdaí,fuiconstru-
indoosmovimentos,brincando
comessa coisa do risco.”
É para Cassi que Rodrigo
quer passar o bastão de princi-
pal coreógrafa do Corpo. Mas
isso,elegarante, nadatem aver
comofatodeapaulistasercasa-
dacomseufilho,GabrielPeder-
neiras, coordenador técnico da
companhia. “Ela é o máximo.
Tem linguagem própria”, diz
Rodrigo.“Quandoa‘lorinha’es-
tavafazendoapeçadela,nãofa-
lei um ‘a’.” Paulo concorda. “A
gentesentequeelatemmaturi-
dade suficiente. Estamos apos-
tandonisso,renovação”,afirma
o diretor artístico.
Pénochão,Cassiestáhabitua-
daao“modoPederneiras”detra-
balhar e sabe que, para conquis-
tarseuespaço,precisacriarsozi-
nhasuaidentidadeartística.“Evi-
to (pedir ajuda). Independente-
mente de o ‘Digo’ ser meu mes-
tre, ele pensa diferente de mim
em algumas coisas. Tenho um
pouco de receio de perguntar e,
de repente, não ser o caminho
queestouseguindo.Possoatéer-
rar, mas, se recebo uma interfe-
rência, talvez saia do que estou
tentandofazer.”
Inês Bogéa
ESPECIAL PARA O ESTADO
“Fui bailarina do Grupo Cor-
po de 1989 a 2001 e isso mar-
cou profundamente a minha
trajetória na dança. Aprendi
muito com eles, especialmen-
te um rigor e uma entrega a ca-
da detalhe da construção dos
trabalhos. O que se vê na cena
é resultado de uma decanta-
ção de ideias que perpassam
todas as áreas do Grupo, da
produção à criação.
Como bailarina vivenciei
muitos processos de criação
coreográfica e o encadeamen-
to dos elementos da cena. O
Grupo, desde seu início, já
com a direção artística de Pau-
lo Pederneiras, revela um pro-
jeto muito cuidadoso de mos-
trar o Brasil em movimento,
seja nas primeiras obras – Ma-
ria Maria e Último Trem – do ar-
gentino Oscar Araiz ou nas
obras mais emblemáticas (21,
Parabelo, Breu, entre outras) de
Rodrigo Pederneiras, coreógra-
fo que criou uma identidade
de movimento para o Grupo.
Essa identidade, que vai
além dos gestos, apresenta
uma maneira de construir a
cena como um todo, ligando
os diferentes elementos (dan-
ça, música, figurinos, cenários
e luz). Essa identidade é obra
dos irmãos Pederneiras e dos
colaboradores que a cada co-
reografia se juntam e inven-
tam uma maneira singular de
ver o nosso tempo, uma iden-
tidade que revela uma cultura
brasileira forte, autônoma,
confiante em si a ponto de es-
capar das definições. E como
bailarina, não posso deixar de
comentar que o corpo do bai-
larino do Corpo dança em vá-
rios ritmos, pulsa no tempo,
em uma dança atual e arcaica,
malemolente e precisa, dinâ-
mica e fluida, que contagia a
plateia nas mais diferentes
partes do mundo.
E essa dança é afinada nos
ensaios com a presença sem-
pre marcante dos ensaiado-
res. Na minha época, Car-
mem Purri e Miriam Pedernei-
ras eram as duas ensaiadoras,
que conheciam o movimento
no corpo por terem participa-
do desde o início do Grupo,
decantando um aprendizado
vivido nas transformações
das diferentes épocas. Para
mim, foi uma inspiração e um
grande privilégio aprender e
conviver com esses grandes
artistas da dança.”
]
INÊS BOGÉA É DIRETORA ARTÍSTICA
DA SÃO PAULO COMPANHIA DE
DANÇA E FOI BAILARINA DO
GRUPO CORPO DURANTE 12 ANOS
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REPRODUÇÃO
CRONOLOGIA
Lembranças. Inês Bogéa em ‘Parabelo’, de 1997, um dos marcos da companhia mineira
‘Aprendi um rigor e uma
entrega a cada detalhe’
Diretora artística da São
Paulo Companhia de
Dança, Inês Bogéa foi
bailarina do Grupo Corpo
de 1989 a 2001
DIVULGAÇÃO
A REPÓRTER VIAJOU A CONVITE
DA PRODUÇÃO DO GRUPO
4. O ESTADO DE S. PAULO DOMINGO, 2 DE AGOSTO DE 2015 Caderno 2 C7
Corpo já passou por mais
de 200 cidades; extensa
agenda fora do Brasil
obrigou grupo a estrear
uma obra a cada 2 anos
A música é o ponto de partida
para a concepção de todo espe-
táculo do Grupo Corpo. É ela
tambémumadasprincipaisres-
ponsáveisporditarapersonali-
dade de cada balé. É por isso
que, quando o público assiste à
companhia,consegueverasno-
tas musicais ganhando movi-
mentopor meio dosbailarinos.
Apartirde21,coreografadopor
Rodrigo Pederneiras em 1992, o
Corpooptouporusarapenastri-
lhasoriginais(aexceçãofoiLecuo-
na,em2004).Amúsicadessees-
petáculoédeMarcoAntônioGui-
marães, que já havia colaborado
com a companhia em Uakti
(1988),baléhomônimoaogrupo
criadoporeleem1978.Agora,Gui-
marãeséoresponsávelpelacom-
posição de Dança Sinfônica, sua
quintacontribuiçãoparaogrupo.
Em rara entrevista, Guima-
rães conta ao Estado que já co-
nhece a maneira de Rodrigo co-
reografar.Destavez,noentanto,
foi um pouco mais complexo.
“Opessoalresolveufazeralgodi-
ferente. Nunca tinha sido enco-
mendadaumacoisagravadapor
uma sinfônica. Quando Paulo e
Rodrigo me procuraram, já ti-
nham conversado com o maes-
tro (Fabio) Mechetti e a direção
daFilarmônica(deMinasGerais,
queexecutaa composição).”
O fundador do Uakti afirma
queseinspirouemtodaasuaex-
periência para compor a música
deDançaSinfônica.AlunodaEsco-
ladeMúsicadaUniversidadeFe-
deraldaBahianosanos1960,teve
aulas de composição com Ernst
Widmer e, com Walter Smetak,
aprendeu a criar os próprios ins-
trumentos. “Ano que vem faz 50
anosqueentreinaoficinadoSme-
tak. Eu não sabia quem ele era e,
quandoentreilá,nãosabiaqueis-
soiriamudarminhavida.”
Depois da faculdade, Guima-
rães tocou violoncelo em sin-
fônicasdurante15anos,passan-
dopela(Osesp)recémrecriada
por Eleazar de Carvalho. “Para
a trilha desse balé, peguei todo
essematerial.ÉoqueoRodrigo
falou. Fui aos baús antigos, revi
a vivência da sinfônica e peças
queescrevihámaistempo,com
a experiência que tenho hoje.”
O outro balé comemorativo
dos 40 anos, Suíte Branca, tem a
trilha assinada por Samuel Rosa
e o Skank. Embora tenha sido
umaexperiêncianova,Rosacon-
ta que o processo ocorreu sem
muitoesforço.Asreferênciaspa-
ra a composição estão no “DNA
da banda”, segundo o músico.
“Tem, nessa trilha, tudo o que o
Skankfoinessesmaisde20anos,
um pouco de psicodelia, o dub,
que é a psicodelia jamaicana e a
misturacomcoisasmineiras.”
Liberdade, sempre. O único
problemaparaoSkankfoiencon-
traroequilíbrionoexcessodeau-
tonomiaqueosirmãosPedernei-
ras deram, como fazem com to-
dos os compositores. “Falavam
‘vailá,criaàvontade’.Emumse-
gundomomento,apontavam‘is-
so funciona mais, isso menos’”,
diz Rosa. “No começo, fomos
um pouco afoitos demais. Paulo
falou:‘Nãovouterbailarinopara
isso’.Perguntei:‘Porque,oelen-
co é pequeno?’ Ele respondeu:
‘Não, você vai cansar os caras.
Precisatermaisnuances’.”
Lenine, que contribuiu com a
trilha de Breu (2007) e Triz
(2013),tambémsentiuopesoeo
privilégiodaautonomia.“Aliber-
dade opressora, sem briefing, é
uma janela muito poderosa”,
diz. “Para mim, é uma possibili-
dade de exercitar uma musica
instrumentalquerarasvezeste-
nhoaoportunidadedetocar.Foi
incrívelverpelaprimeiravezmi-
nhamúsicaemtrêsdimensões.”
Sobre as experiências, Leni-
ne diz que foi um aprendizado.
“Quando fiz Breu, tudo era no-
vo. Com Triz, já tinha uma di-
mensãorealdoquepoderia es-
timular a expressão daqueles
corpos. O que não mudou foi a
liberdade de fazer a música.”
Por isso, ele é grato. “Nós, da
música,temosumdébitoenor-
me com o Corpo. Durante
anos,elespersistiramemacre-
ditar na composição de trilhas
originais.” / J.R.
Companhia passa a maior parte
do ano em turnê no exterior
l 18 de junho de 1992
A partir de 21 (foto), o grupo deci-
de usar só trilhas originais para
os balés. Marco Antônio Guima-
rães compõe a música da obra.
l 1998
Companhia desenvolve o projeto
Sambalelê, que passa a atender
120 crianças da periferia da
capital mineira.
l 2015
Corpo faz 40 anos, com obras
inéditas: Suíte Branca, de Cassi
Abranches, e Dança Sinfônica
(foto), de Rodrigo Pederneiras.
Maria Maria levou o Grupo
Corpopara aprimeiraturnê in-
ternacional em 1978. Na oca-
sião, passou por sete países da
AméricaLatina,alémdeLisboa
eParis,ondelotouoThéâtrede
la Ville. Desde aquela vez, a
agenda no exterior só cresceu.
Segundo o diretor artístico da
companhia, Paulo Pederneiras,
a maior parte das apresenta-
ções é realizada fora do País, o
que garante certa estabilidade
financeira em tempos de crise.
Nesterastrodeapariçõespor
mais de 200 cidades do mundo
– de Anchorage, no Alasca, a
Zug,naSuíça–,oCorpofezhis-
tória como o primeiro grupo
brasileiro a se apresentar em
teatros e festivais históricos.
“Seutrabalhonopalconãoéna-
da menos do que eletrizante. A
companhiaéumtesouronacio-
nal brasileiro e respeitada glo-
balmente por sua força na dan-
ça”, afirmaJoseph Melillo,pro-
dutor executivo do Brooklyn
AcademyofMusic,onde oCor-
pojáseapresentoucincovezes.
“Eu estava pesquisando tra-
balhos de dança na América do
Sulefuiaumaapresentaçãode-
lesemoutracidadeaquinosEs-
tados Unidos. Fiquei imediata-
mente impressionado com a
qualidadeartísticadacoreogra-
fiaeashabilidadesextraordiná-
riasdosbailarinos”,dizMelillo.
A fama do Corpo também se
espalha pelo boca a boca. Dire-
tora artística da casa de espetá-
culos austríaca Festspielhaus
St. Pölten, Brigitte Fürle soube
das qualidades da companhia
pormeiodeamigosemumavia-
gemaoBrasil.Naocasião,ogru-
po não estava no País. “Tive de
esperar até vê-los em Barcelo-
na,mesesdepois. Trabalhamos
muito para coordenar as datas.
Na primeira temporada que fiz
a programação do Festspie-
lhausSt.Pölten,oCorpoestava
no programa. Fiquei muito or-
gulhosa. Ter a companhia pela
primeiraveznaÁustriafoimui-
to significativo”, diz Brigitte.
Sem parar. A extensa agenda
fora do Brasil foi o que obrigou
oCorpoaestrearumnovobalé
a cada dois anos – e não mais
anualmente –, a partir de 1999.
Agora, os estrangeiros que já
conhecem a companhia tor-
cemparaqueelaconquisteain-
damaisreconhecimentonoce-
nário internacional.
“Não podemos comparar o
Corpoanenhumaoutracompa-
nhia. Diria que é um estilo úni-
co”, elogia Brigitte. “Lecuona,
Onqotô, Benguelê, Breu, Imã e
Sem Mim demonstraram cresci-
mentocoreográficoecuriosida-
demusical.Oquetemsidocon-
sistente é a disciplina artística
excepcional dos bailarinos”,
afirma Melillo. / J.R.
Criadores.
O Skank
e Cassi
Abranches
(acima)
e Marco
Antônio
Guimarães
NA WEB
FOTOS JOSÉ LUIZ PEDERNEIRAS/DIVULGAÇÃO
S
ão40anosconstruindoumpensamen-
todedança.Nãosomenteumjeitode
fazercoreografias–oquejáserialou-
vável–,masalgoamais.Trata-sedeumsa-
bersobreoquecompõeosseusnascimen-
tos.Essepensamentodadançacomeçana
relaçãoentrecriaçãoeelenco,naquala
músicatemumpapelcentral,vital,eque
culminacommodocomoosbailarinoses-
tãovestidos,maquiados,penteados,qual
luzvaitornarvisíveloquefazem,eemque
tipodecenáriovãoapresentartudoisso.
Talveztenhasidoessaamarcamaisforte
queoGrupoCorpoimprimiunacenada
dançanoBrasil.Fazendodorigoroseudia-
pasão,transformouseunomeemumselo
dequalidade.Osresponsáveispelaconfec-
çãodestepadrãoforamaquelesque,aolon-
godessasquatrodécadasdeatuação,fize-
rampartedaequipecomandadaporPaulo
Pederneiras,odiretorartístico,aqueleque
sabeorganizaremodelaramatériapreexis-
tente(odemiurgo,nosentidodePlatão).
Cadaqual,noseufazerespecífico,agre-
gouváriascamadasdeexpertisenessalapi-
daçãopermanente.
Nosúltimosanos,essenúcleoacabouse
concentrandonalongaparceriaentrePaulo
Pederneiras(tambémresponsávelpelace-
nografiaeiluminação),RodrigoPedernei-
ras(coreografia)eFreusaZechmeister(fi-
gurinosevisagismo).
Odesenvolvimentodeumalínguapró-
priaempreendidoporRodrigoPederneiras
ocupaoeixocentralnesseprocesso.
Guiadopelamúsica,seumododecoreo-
grafarsempreesteveporosoàsdançasque
existiamnoscorposdosseusintérpretes.
Àmedidaqueosbailarinosforamtrazen-
doinformaçõesquenãomaisvinhamexclu-
sivamentedotreinamentoparaacena,seu
processodecriaçãoganhousoluços,que-
bras,curvas,espiralamentos,outrostipos
deênfasenoataqueenafinalizaçãodomo-
vimento.
Masfoinospas-de-deux–quetratouco-
mominilaboratóriosdeváriostiposdeou-
sadias–queeleconquistouamaestria.Se
coubessefalaremumlegado,quemsabe
possaestarsendodesenhadoagora,quando
acompanhiacelebraseu40ºaniversário
apresentandoumanovacoreógrafa,Cassi
Abranches.
AssimcomoRodrigoPederneirasfeza
refundaçãodoGrupoCorpoquandocome-
çouariscaroqueotempotransformariana
suaassinaturapessoalnadança,quemsabe
caberáaCassiAbranchesumapróximare-
fundação,nestefluxodevivacidadeque
vemtecendoahistóriadestacompanhia.
Quandoapostanestapossibilidade,asóli-
datrajetóriadoGrupoCorpo,peloBrasile
pelomundo,explicitaquepavimentaráa
continuidadedoseupercursotecendooho-
jecomoagora.Reconhecidonacionalein-
ternacionalmente,oGrupoCorpotransfor-
mou-seemumapotentereferêncianaeda
dançaqueseproduznoBrasil.Emtempos
demesmiceglobalizada,nãoépoucacoisa.
Inspiração. ‘Dança
Sinfônica’ homenageia
pessoas que passaram
pelo Grupo Corpo
Composições são ponto
departidadostrabalhos
Grupo constrói, há 40
anos, um pensamento
específico de dança
l Antes de se tornar a sucessora
anunciada de Rodrigo Pedernei-
ras, Cassi Abranches teve de se
desdobrar para ser aceita como
bailarina do Grupo Corpo. Fez
duas audições da companhia. Foi
preterida em ambas. Só conse-
guiu a vaga após se mudar para
Belo Horizonte e pedir para fazer
aulas na sede do grupo. A insis-
tência resultou na contratação.
No Corpo, dançou de 2001 a
2013. Resolveu deixar o palco
para se dedicar ao trabalho de
coreógrafa, que havia começado
em 2009. “Foi difícil parar”, diz.
“Entendi que precisava me desco-
lar e andar com minhas próprias
pernas, até para que um dia eu
voltasse.” Entre os projetos que
ganharam sua assinatura estão o
balé GEN, da São Paulo Compa-
nhia de Dança, e um segmento
do filme Rio Eu Te Amo. / J.R.
Novos trabalhos têm
trilha de Marco Antônio
Guimarães e Samuel Rosa;
o ponto em comum é a
liberdade para compor
Fotos. Veja
imagens de todos
os espetáculos
estadao.com.br/e/ocorpo
]
ANÁLISE: Helena Katz
Cassisóentrou
nogrupona
terceiratentativa
MIGUEL AUN/DIVULGAÇÃO
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NA WEB
Especial. Conheça
osmomentos
históricos
estadao.com.br/e/40anos
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