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Fisioterapia e Pesquisa, São Paulo, v.16, n.1, p.82-8, jan./mar. 2009                                                                  ISSN 1809-2950




                                             O lugar social do fisioterapeuta brasileiro
                                          The social place of Brazilian physical therapists
                                                                                           Ana Lúcia de Jesus Almeida1, Raul Borges Guimarães2



         Estudo desenvolvido na FCT/                         RESUMO: Este estudo visa compreender a produção do lugar social do fisioterapeuta
         Unesp – Faculdade de Ciências                       brasileiro por meio de suas práticas. O material empírico utilizado foram 89
         e Tecnologias da Universidade                       entrevistas, dados do I Censo de Fisioterapeutas do Estado de São Paulo e
         Estadual Paulista, campus de                        informações sobre os cursos de graduação em Fisioterapia no Brasil. A análise dos
         Presidente Prudente, SP, Brasil                     dados mostrou que o lugar social do fisioterapeuta está fortemente ligado ao modelo
     1                                                       curativo, identificado com o ideário liberal-privatista, com instituições formadoras
         Profa. Dra. do Depto. de                            predominantemente privadas e concentradas na região Sudeste. Os resultados
         Fisioterapia da FCT/Unesp                           sustentam evidências de uma prática profissional fragmentada, estimulada pelo
     2
         Prof. Livre-docente do Depto.                       modelo hegemônico, mas também apresenta marcas de superação, mostrando a
         de Geografia da FCT/Unesp                           disputa de dois modelos na atenção à saúde: hegemônico e contra-hegemônico.
                                                             O primeiro toma a parte pelo todo, fragmenta o conhecimento e o corpo, identifica-
     ENDEREÇO PARA                                           se com o liberalismo e tem a saúde como mercadoria; a organização dos serviços
         CORRESPONDÊNCIA                                     é centrada na doença e na especialização. O segundo, sem negar a importância
                                                             do conhecimento técnico, valoriza as dimensões sociais e humanas na prática
         R. Felipe Carnevale 110                             profissional, está centrado na pessoa e busca a integralidade e a
         Jardim das Rosas                                    interdisciplinaridade. Esse modelo permite ampliar a prática do fisioterapeuta para
         19060-220 Presidente                                além da clínica, em direção a um lugar social mais humano e solidário, identificado
         Prudente SP                                         com os princípios do Sistema Único de Saúde. Também permite repensar o atual
         e-mail: analu@fct.unesp.br                          lugar social, oferecendo parâmetros para a reorientação dos caminhos da profissão.
         Artigo extraído da tese de                          DESCRITORES: Fisioterapia (Especialidade); Papel profissional; Sistemas de saúde/
         doutorado defendida pela                                         tendências
         autora 1 no Programa de Pós-
         Graduação em Geografia da                           ABSTRACT: This study aimed at understanding the social role played by Brazilian physical
         FCT em dezembro de 2008.                            therapists by drawing on their practices. Empirical data included the recordings of
                                                             89 interviews with physical therapists, data from the Sao Paulo State First Census of
                                                             Physical Therapists, and information on physical therapy undergraduate courses.
                                                             The analysis showed that mainstream physical therapy is strongly linked to the
                                                             healing model, of liberal ideology; training courses are mostly private and
                                                             concentrated in the country’s Southeast, richest region. Results sustain evidence of
                                                             a fragmented professional practice, encouraged by the hegemonic model, but also
                                                             of signs of conflict between two opposing concepts of health care. The hegemonic
                                                             model takes the part for the whole, fragments body and knowledge, bears on
                                                             liberalism, where health is taken as a commodity; health care services focus on
                                                             illness and value specialization. The counter-hegemonic principles, while not
                                                             denying the relevance of technical knowledge, value social and human dimensions
                                                             of professional practice, focus on the person, aim at integration of services and
                                                             support interdisciplinarity. The counter-hegemonic model tends to widen physical
                                                             therapy practice beyond the clinic toward a humanized social role, in accordance
 APRESENTAÇÃO                                                with the national health system guidelines. It also allows for rethinking therapists
         dez. 2008                                           current social place, offering parameters for reorientating the profession course of
 ACEITO PARA PUBLICAÇÃO                                      action.
         mar. 2009                                           KEY WORDS: Health systems/trends; Physical therapy (Specialty); Professional role




82       Fisioter Pesq. 2009;16(1)
                        2009;16(1):82-8
Almeida & Guimarães                                                                                       O lugar social do fisioterapeuta brasileiro



                      INTRODUÇÃO                  tando o lugar social do fisioterapeuta.       e Terapeutas Ocupacionais do Estado de
                                                                                                São Paulo17 e uma publicação do Minis-
                                                      O lugar social é construído pelos
    O objeto de estudo do presente artigo                                                       tério da Educação sobre o curso de Fisio-
                                                  fisioterapeutas por suas práticas, que car-
é o lugar social dos fisioterapeutas, pro-                                                      terapia no Brasil18.
                                                  regam significados relacionados com a
duzido por suas práticas. Conforme ire-           forma de compreender a sociedade, com
mos argumentar, as práticas tradicionais
dos fisioterapeutas, muitas vezes, resul-
                                                  sua visão de saúde, com as relações de
                                                  poder estabelecidas no seu espaço. O
                                                                                                                    RESULTADOS
tam em ações fragmentadas e distantes             conceito de lugar enquanto espaço                A Fisioterapia teve o auge do seu re-
do conceito de integralidade na saúde1-4.         relacional oferece elementos da repro-        conhecimento em meados da década de
Essa característica é fruto de um mode-           dução da vida social15, portanto, da re-      1990, o que aumentou a procura pelo
lo hegemônico que tende a fazer do                produção da fisioterapia na sociedade.        curso. Na ocasião, muitas instituições de
exercício profissional a reunião de ações         Compreender e refletir sobre esse lugar       ensino superior passaram a oferecer gran-
isoladas, individualizadas, descon-               social é fundamental como parâmetro           des números de vagas em Fisioterapia,
textualizadas4-7. Por outro lado, contra-         de reorientação dos caminhos da pro-          principalmente as instituições privadas,
ditoriamente, os pacientes ao apresen-            fissão.                                       carregando consigo uma prática peda-
tarem suas demandas solicitam do pro-
                                                                                                gógica da Medicina influenciada pelo
fissional uma postura mais global, o que
                                                                                                paradigma newtoniano-cartesiano14. O
exige a superação da condição acima
com ações potencialmente integradoras.
                                                                  METODOLOGIA                   crescimento foi grande e o número total
                                                                                                de fisioterapeutas registrados no Coffito
                                                     Para caracterizar o lugar social do fi-
    Por várias razões o fisioterapeuta4,6,7,                                                    – Conselho Federal de Fisioterapia e Te-
                                                  sioterapeuta, foram analisados dados de
bem como outros profissionais da saú-                                                           rapia Ocupacional – em 1995 era
                                                  89 entrevistas feitas por 45 alunos do 1o
de5,8, caminharam para a definição de                                                           16.068; em 2005, os dados apontam
                                                  ano do Curso de Fisioterapia do campus
uma forma de atuar com uma lógica de                                                            para 79.382 profissionais, mostrando um
                                                  de Presidente Prudente da Unesp, no
valorização excessiva da doença, asso-                                                          crescimento absoluto de 394% em ape-
                                                  primeiro semestre de 2008. As entrevis-
ciando a profissão com a visão curativa,                                                        nas dez anos18.
                                                  tas foram realizadas tendo como refe-
além de desenvolver práticas distantes
                                                  rência um roteiro predefinido (Quadro            Esses números estão desigualmente
da interlocução com outras profissões.
                                                  1). Foram digitadas sínteses de cada uma      distribuídos pelo país. A Figura 1 permite
Na clínica, é comum observar a escassa
                                                  das 89 entrevistas realizadas pelos alu-      melhor visualizar as diferenças de tama-
existência de equipe multiprofissional e
                                                  nos em planilhas, para facilitar a associ-    nho de cada Crefito em 2005. As repre-
a dificuldade de encaminhar o paciente
                                                  ação de informações comuns, fazendo           sentações geométricas são proporcionais
para outras especialidades, porque es-
                                                  o exercício, de acordo com Minayo16,          ao total de fisioterapeutas de cada Con-
tas não se comunicam. Também se ob-
                                                  de partir de uma leitura de primeiro pla-     selho, refletindo as grandes diferenças
servam oportunidades restritas para a
                                                  no para atingir um nível mais aprofun-        existentes: a maioria estão concentrados
pessoa com deficiência, no mercado de
                                                  dado, que ultrapassa os significados          nos estados de São Paulo (Crefito-3), Rio
trabalho, na escola, na sociedade. Estes
                                                  manifestos.                                   de Janeiro e Espírito Santo (Crefito-2), e
são alguns exemplos que limitam a prá-
                                                                                                Minas Gerais (Crefito-4), todos na região
tica profissional e tornam o trabalho da             Uma parte dos temas abordados nas
                                                                                                Sudeste18.
fisioterapia fragmentado e incompleto.            entrevistas foi aqui utilizada, associada
                                                  a dados disponibilizados pelo Crefito-3          O processo de formação tem grande
   Acreditamos que se uma visão multi-
                                                  – Conselho Regional de Fisioterapia e         responsabilidade por essa situação. Em
dimensional da saúde9-11 estivesse mais
                                                  Terapia Ocupacional da 3a Região –            1969, existiam 6 cursos de graduação
presente na prática dos fisioterapeutas e
                                                  oriundos do I Censo dos Fisioterapeutas       em Fisioterapia; em 1981, esse número
de outros profissionais, poderíamos ob-
servar uma maior freqüência de ações
que fossem ao encontro da superação               Quadro 1 Roteiro de entrevista com fisioterapeutas
das dificuldades acima. O debate sobre              1  Tempo de atuação profissional
o conceito de promoção e vigilância à               2  Facilidades e adversidades encontradas assim que se formou
saúde enquanto elementos multidi-                   3  Área de maior atuação
mensionais e interdisciplinares aproxima-           4  Motivo da escolha da área
se desse desafio, levando-nos a pensar o
                                                    5  Principais conquistas alcançadas nessa área pela Fisioterapia
indivíduo e a coletividade de uma ma-               6  Principais dificuldades nessa área
neira social e relacional1,5,9,12-14. Entretan-
                                                    7  Aspectos financeiros: valor aproximado da sessão; número de pacientes
to, verificamos que a maioria dos fisio-               que atende por dia e em quantas horas de trabalho; salário mensal
terapeutas tendem a acreditar que os                   aproximado
problemas de saúde se resolvem apenas                8 Que recomendações daria para alunos que estão no 1o ano do Curso de Ft
por meio do setor saúde, o que diminui               9 Cidade onde o entrevistado reside e trabalha
seu campo de intervenção e participação,            10 Comentários
reforçando a manutenção do modelo
hegemônico em saúde, bem como limi-                Fonte: Brasil, 200618




                                                                                                        Fisioter Pesq. 2009;16(1) :82-8            83
10,0% em instituições filantrópicas17. É
                                                                                                                                                    notável a reduzida proporção de fisio-
                                                                                                                                                    terapeutas no setor público (15%) com-
                                                                                                                                                    parado aos demais, evidenciando uma
                                                                                                                                                    tímida presença do fisioterapeuta no ser-
                                                                                                                                                    viço público, o que contribui para de-
                                                                                                                                                    marcar seu lugar social.
                                                                                                                                                       Uma das questões da entrevista refe-
                                                                                                                                                    riu-se às facilidades encontradas pelos
                                                                                                                                                    entrevistados no início da carreira, ten-
                                                                                                                                                    do dois aspectos sido mais citados. O
                                                                                                                                                    primeiro refere-se à importância dada
                                                                                                                                                    pelos entrevistados à especialização.
                                                                                                                                                    Para eles, ao especializar-se adquirem
                                                                                                                                                    maior segurança profissional, principal-
                                                                                                                                                    mente no momento da conquista de uma
                                                                                                                                                    vaga no mercado de trabalho. Essa ne-
                                                                                                                                                    cessidade de especializar-se também foi
         Fonte: Inep/MEC18,19                                                                                                                       observada entre os fisioterapeutas que
                                                                                                                                                    responderam ao Censo do Crefito-3, em
 Figura 1                    Distribuição dos fisioterapeutas pelos Conselhos Regionais (Crefitos),                                                 que, dos 24.844 fisioterapeutas que res-
                             Brasil, 2005                                                                                                           ponderam essa questão, 18.299 (73.7%)
 cresceu para 20 e, em 1991, havia 48.                                              do atual lugar social do fisioterapeuta.                        relataram ter realizado algum tipo de
 A partir daí o crescimento foi muito rá-                                                                                                           curso de pós-graduação, seja lato sensu
                                                                                       A inserção dos fisioterapeutas no                            (71%), stricto sensu (10%) ou outros17.
 pido, até atingir o total de 457 cursos
                                                                                    mercado de trabalho mostra uma pre-
 em 200718,19 (Figura 2).                                                                                                                              O segundo aspecto tido como um
                                                                                    dominância no setor privado. Dos 89 fi-
    O número de vagas disponíveis au-                                               sioterapeutas entrevistados pelos alunos,                       facilitador para a conquista do primeiro
 mentou rapidamente, bem como o nú-                                                 53 (59,6%) trabalhavam no setor priva-                          emprego pelos fisioterapeutas entrevista-
 mero de formandos a cada ano. Se em                                                do ou dedicavam a maior parte do tem-                           dos foi a realização de estágios extracur-
 1991 formavam-se 1.951 fisioterapeutas,                                            po a esse setor; os demais 36 atuavam                           riculares durante a graduação, ou logo
 em 2004 esse número cresceu para                                                   ou no setor público ou em ambos. Essa                           em seguida, como estágio voluntário. De
 13.63118 e, em 2007, foram 14.162 no-                                              característica também está presente nos                         acordo com os entrevistados, o estágio
 vos fisioterapeutas20. Ao associar o nú-                                           dados do Censo realizado pelo Crefito-                          extracurricular, além de proporcionar
 mero de vagas ao local em que as vagas                                             3, em que dos 13.712 fisioterapeutas que                        experiência prática, pode ser a oportu-
 são oferecidas, reconhecem-se as insti-                                            responderam ao questionário, 70,5% tra-                         nidade de garantir uma vaga no merca-
 tuições privadas de ensino superior                                                balhavam no setor privado, 15,2% em                             do de trabalho pelo vínculo criado, pela
 como importantes agentes na definição                                              instituições públicas, 4,3% em mistas e                         chance de mostrar a capacidade de tra-
                                                                                                                                                    balho.
                                                                                                                                                       Quanto às dificuldades encontradas
                     500                                                                                                                     457    no mercado de trabalho, os aspectos
                     450                                                                                                              420           mais apontados foram o baixo salário,
                     400                                                                                                       379                  seguido por mercado de trabalho satu-
                                                                                                                        339                         rado e com grande concorrência e sen-
                     350
 Número de cursos




                                                                                                                 297                                sação de pouco reconhecimento social.
                     300
                                                                                                          256
                                                                                                                                                    Sobre o salário, dentre os entrevistados
                     250                                                                           211
                                                                                                                                                    observam-se salários variando de 700
                     200                                                                    176
                                                                                    146                                                             reais até 8.000 reais, com valores da ses-
                     150                                                     115                                                                    são que variam de R$ 3,00 a R$ 150,00.
                     100                                       68     80                                                                            Há fisioterapeutas que atendem um pa-
                                   52     52     59     63
                            48
                      50                                                                                                                            ciente em uma hora de sessão até os que
                       0                                                                                                                            atendem a 14 pessoas em uma hora –
                                                                                                                                                    são os que recebem os mais baixos sa-
                            1991

                                   1992

                                          1993

                                                 1994

                                                        1995

                                                               1996

                                                                      1997

                                                                             1998

                                                                                     1999

                                                                                            2000

                                                                                                   2001

                                                                                                          2002

                                                                                                                 2003

                                                                                                                        2004

                                                                                                                               2005

                                                                                                                                      2006

                                                                                                                                             2007




                                                                                                                                                    lários. A análise dos rendimentos de to-
                                                                                    Ano                                                             dos os fisioterapeutas entrevistados mos-
         Fonte: Crefito-3 17                                                                                                                        tra que mais de 40, do total de 89, rela-
                                                                                                                                                    taram ganhar menos que R$ 2.000,00.
 Figura 2                    Evolução do número de cursos de Fisioterapia no Brasil, 1991- 2007
                                                                                                                                                    Os dados do Censo do Crefito-3 confir-




84                  Fisioter Pesq. 2009;16(1)
                                   2009;16(1):82-8
Almeida & Guimarães                                                                                O lugar social do fisioterapeuta brasileiro


                                                                                             Sobre a qualidade do atendimento
     mais de R$ 10.001,00                                2,1%
                                                                                         fisioterapêutico, ao constatar profissio-
R$5.001,00 a R$10.000,00                                  3,4%                           nais atendendo 14 pacientes em uma
                                                                                         hora, pode-se inferir o uso acentuado de
  R$3.001,00 a R$5.000,00                                  3,8%
                                                                                         recursos tecnológicos terapêuticos, o
  R$2.001,00 a R$3.000,00                                         13,4%                  que dificilmente é compatível com a
                                                                                         resolutividade do cuidado. Para Merhy23,
  R$1.001,00 a R$2.000,00                                                    34,8%
                                                                                         a organização do trabalho em saúde
            até R$1.000,00                                                       42,5%   deveria contemplar três tipos de tecno-
 Fonte: Crefito-3 17
                                                                                         logias: tecnologias leves, caracterizadas
                                                                                         como a forma de agir entre sujeitos tra-
Figura 3    Pirâmide de renda dos fisioterapeutas do Estado de São Paulo, 2007
                                                                                         balhadores e usuários, individuais e co-
mam essa tendência, apontando que a          mais complexos e mais distantes da aten-    letivos, implicados com a produção do
maior parte dos fisioterapeutas tem ren-     ção primária à saúde. Essa característi-    cuidado; tecnologias duras, que estão
da inferior a R$ 2.000,00 por mês17,         ca justifica a ânsia pela especialização    inscritas nos instrumentos já estruturados
como mostra a Figura 3.                      presente entre os entrevistados e nos       para elaborar produtos da saúde; e as
                                             dados do Censo, indo na contramão das       tecnologias leves-duras, caracterizadas
    Sobre o reconhecimento social, os                                                    pelos saberes estruturados que operam
                                             novas diretrizes curriculares21, segundo
profissionais entrevistados relataram                                                    esses processos. Portanto, seria possível
                                             as quais o profissional deve ter uma vi-
como um aspecto dificultador o desco-                                                    identificar uma parte dura, estruturada
                                             são generalista.
nhecimento por parte dos profissionais                                                   e outra leve, relacionada com o modo
da saúde, e mesmo por usuários do ser-          Reforçando esse aspecto, a literatura    como cada profissional aplica o conhe-
viço, sobre o fazer do fisioterapeuta.       aponta para a formação no campo da          cimento no momento da produção do
Sobre esse aspecto é preciso também          saúde consistindo em processos de en-       cuidado.
contrapor que, quando os fisioterapeu-       sino-aprendizagem que enfatizam a área
tas foram solicitados a apontar as con-      técnica, a especialidade, a intervenção        Observando o cotidiano de um tra-
quistas da Fisioterapia, o item mais cita-   curativa. Também aponta para um cres-       balhador da saúde, Merhy e Franco24
do foi “o maior reconhecimento soci-         cimento quantitativo de cursos em de-       argumentam que, ao prover o cuidado,
al”, mostrando que, apesar de desafios       trimento da qualidade22. Na Fisioterapia    o trabalhador opera um núcleo tecno-
a serem superados, vários profissionais      esse crescimento se materializa num es-     lógico composto de “trabalho morto”
percebem que muito já foi conquista-         paço concentrado na região Sudeste,         (TM) e “trabalho vivo” (TV). TM são ins-
do. Outros fisioterapeutas apresentaram      principalmente no Estado de São Paulo e     trumentos e é assim definido porque
como conquista “o reconhecimento e a         predominantemente vinculado ao ensi-        sobre eles já se aplicou um trabalho pre-
valorização por parte dos profissionais      no privado, como mostram os resultados.     gresso no momento de sua elaboração;
da saúde, principalmente, pelo médico”,          Ao priorizar quantidade no ensino, há   TV é o trabalho em ato, campo próprio
ou seja, há um sentimento de que a pro-      uma desqualificação do processo de for-     das tecnologias leves. Por fim, a relação
fissão passou por um período de reco-        mação que pode estar estimulando ain-       entre TM e TV no interior do processo
nhecimento e consolidação social, tanto      da mais a necessidade de busca imedia-      de trabalho reflete uma correlação cha-
na relação com os colegas profissionais      ta por especialização. Também, o pro-       mada pelos autores de composição téc-
da saúde quanto por parte da sociedade.      fissional despreparado pode estar visua-    nica do trabalho (CTT). A CTT estando
                                             lizando no estágio não-obrigatório e no     favorável ao TM reflete predominância
                                             trabalho voluntário uma possibilidade de    de tecnologias duras, direcionadas à uti-
                        DISCUSSÃO            melhorar sua qualificação, não se im-       lização de procedimentos; e quando, ao
                                             portando em ser explorado como mão          contrário, predominar TV, o provimento
    A origem da Fisioterapia direcionou                                                  do cuidado está centrado nas tecnologias
                                             de obra não-remunerada.
sua prática para o processo de recupe-                                                   leves. Uma análise qualitativa das
rar as condições de saúde das pessoas           Nota-se que os entrevistados não per-    tecnologias de cuidado presentes no pro-
para níveis anteriores a um episódio de      cebem a contradição aí presente, pois o     cesso de trabalho permite também pensar
doença ou incapacidade. Foi nesse es-        fato de alunos de graduação atenderem       que, no atual modo de produzir saúde –
paço que a profissão se solidificou, de-     em clínicas não-vinculadas a instituições   modelo hegemônico – a razão entre TM
marcando seu reconhecimento social no        de nível superior, ou profissionais for-
                                                                                         e TV faz prevalecer o TM. Portanto, se
campo das ações curativas, tema apon-        mados se submeterem a fazer estágios
                                                                                         queremos alterar o modo de produzir
tado e debatido por Rebelato e Botomé6.      voluntários, significa redução das opor-
                                                                                         saúde, temos de alterar essa correlação,
Por sua vez, os fisioterapeutas Schmidt4     tunidades de trabalho para aqueles que
                                                                                         produzindo mudanças no núcleo tecno-
e Freitas7 mostram que pouco se vê a         já estão no mercado. Não são poucas as
                                                                                         lógico do cuidado, compondo uma
fisioterapia atuando na atenção básica       instituições que se aproveitam dessa con-
                                                                                         hegemonia do TV24.
em saúde. Neste estudo, pôde-se inferir      dição e deixam de contratar profissionais
uma identidade forte do lugar social do      para oferecer estágios e explorar a força     Esse modelo hegemônico na saúde
fisioterapeuta com níveis de atenção         de trabalho de graduandos.                  toma a parte pelo todo e, com isso, frag-




                                                                                                 Fisioter Pesq. 2009;16(1) :82-8            85
menta o conhecimento e também o cor-                                ções e de suas interações, distanciando       humanas por falta de resolutividade, por
 po, supervalorizando as especialidades,                             a prática da realidade, fragmentando o        distanciamento da vida e das necessi-
 o uso indiscriminado de recursos tecno-                             conhecimento e o corpo humano.                dades das pessoas. Isso desmotiva, desi-
 lógicos e se identificando com uma di-                                                                            lude, pois os resultados não promovem
 mensão política favorável ao liberalismo.                              No modelo contra-hegemônico o              satisfação profissional.
 Nesse modelo, os serviços de fisiotera-                             profissional da saúde, ao lidar com o
                                                                     usuário do serviço de saúde, preocupa-se          A resposta do SUS para a superação
 pia estão organizados com base em
                                                                     com o sujeito e não apenas com a en-          do modelo hegemônico está no fortale-
 ações curativas e individualizadas, cen-
                                                                     fermidade. Lida com a singularidade de        cimento da atenção básica, concentra-
 tradas na doença e não na pessoa, valo-
                                                                     cada um, sem abrir mão da ontologia           da atualmente nas Estratégias de Saúde
 rizando a especialização, as tecnologias
                                                                     das doenças e suas possibilidades, mostran-   da Família (ESF), visando edificar um
 e, portanto, o trabalho morto. Em contra-
                                                                     do competência em lidar com pessoas13.        novo modelo de atenção à saúde. A res-
 partida, o modelo contra-hegemônico,
                                                                     Os dois modelos apresentam concep-            posta dos Ministérios da Educação e da
 sem negar a importância do conheci-
                                                                     ções distintas caracterizadas por ações,      Saúde para mudar a formação dos pro-
 mento técnico, valoriza as dimensões
                                                                     muitas vezes, opostas e presentes na prá-     fissionais da saúde está nas novas dire-
 sociais e humanas. É um modelo que tem
                                                                     tica dos profissionais da saúde. São duas     trizes curriculares, construídas a partir
 a dimensão do todo, está centrado no
                                                                     grandes linhas em disputa em torno da         da necessidade de pensar a formação
 usuário do serviço, por isso busca a inte-
                                                                     política de saúde: uma vinculada ao pro-      dos profissionais como uma estratégia
 gralidade, valorizando a interdisciplina-
                                                                     jeto empresarial neoliberal médico-           importante para o fortalecimento do
 ridade, a intersetorialidade e a continui-
                                                                     hegemônico, que vê a saúde como uma           SUS4,21.
 dade da atenção, ficando evidente a pri-
 oridade ao trabalho vivo5,7,14,24.                                  mercadoria, e outro, que defende o for-          Portanto, cabe às instituições forma-
                                                                     talecimento do Sistema Único de Saúde         doras, aos docentes, aos alunos e aos
    A Figura 4 apresenta uma sistemati-                              (SUS), regulado pelo Estado e compro-         profissionais fisioterapeutas observar o
 zação dos dois modelos que represen-                                missado com a saúde como direito de           quanto suas práticas têm se direcionado
 tam a prática profissional do fisiotera-                            todos, não como bem de mercado.               para uma atuação centrada na promo-
 peuta. No modelo contra-hegemônico,
                                                                                                                   ção da saúde, na prevenção, que valori-
 o método dialético permite ao fisiotera-                              O debate até agora desenvolvido
                                                                                                                   ze mais as condições sociais e humanas
 peuta observar o processo pelo qual está                            mostra que o modelo de atuação hege-
                                                                                                                   na manifestação dos desequilíbrios or-
 submetido o objeto de intervenção, pre-                             mônico leva o profissional da saúde a
                                                                                                                   gânicos, uma atenção à saúde centrada
 servando sua totalidade e reconhecen-                               ações parceladas, não dando conta de
                                                                                                                   no sujeito e de forma integral.
 do as contradições inerentes ao objeto.                             mudar a realidade e responder às de-
 Por outro lado, o método metafísico se-                             mandas individuais e sociais de grande
 para o sujeito do objeto e define os se-
 res e as idéias separadas de suas rela-
                                                                     parte da população brasileira. Ele per-
                                                                     cebe que não responde às necessidades
                                                                                                                                      CONCLUSÃO
                                                                                                                       Como exposto, não são poucos os
                                                                                                                   desafios para que a Fisioterapia amplie
      PRÁTICA PROFISSIONAL DO FISIOTERAPEUTA EM DISPUTA                                                            seu papel social. Para avançar nessa di-
              Dimensão                                                                   Dimensão                  reção, é necessário que nas ações dos
            epistemológica            Dimensão técnica                                 epistemológica              fisioterapeutas estejam presentes a aten-
              Metafísica                                                                 Dialética                 ção integral, a resolutividade do cuida-
                                                                                                                   do, o acolhimento, a formação de vín-
                                         Definida no                                  Tem a                        culo, potencializando a capacidade que
                      Toma a
                     parte pelo       processo de tocar o                            visão do                      o fisioterapeuta tem de produzir saúde
                       todo             corpo do outro                                 todo
                                                                                                                   e não apenas recuperar. Nessa direção,
                                                                                                                   o SUS tem se fortalecido e vem sendo
                                                                                                                   construído a cada dia como uma alter-
                                              PROCESSO DE TRABALHO




                                                                                  MODELO                           nativa possível frente ao modelo hege-
       MODELO HEGEMÕNICO                                                     CONTRA-HEGEMÕNICO                     mônico e com muito mais possibilida-
         Dimensão política                                                     Dimensão política                   des para a Fisioterapia ampliar seu lu-
                LIBERALISMO                                               ESTADO DO BEM-ESTAR SOCIAL               gar social.
             • trata da doença                                                    • cuida do sujeito
       • modelo hospitalocêntrico                                             • modelo da promoção                    Para isso, é preciso substituir ações
         • demanda espontânea                                                        • busca ativa                 reprodutoras por ações que busquem a
           • medicina curativa                                                 • vigilância em saúde               produção de um conhecimento tal que
             • especialidades                                                       • integralidade                venha a melhorar a qualidade de vida
                                                                                                                   das pessoas que acorrem aos serviços de
                                                                                                                   saúde. É preciso construir caminhos que
 Figura 4     Modelos de atuação profissional do fisioterapeuta: hegemônico e contra-                              possibilitem a percepção cada vez me-
              hegemônico                                                                                           nos segmentada da realidade e do sa-




86   Fisioter Pesq. 2009;16(1)
                    2009;16(1):82-8
Almeida & Guimarães                                                                              O lugar social do fisioterapeuta brasileiro


ber, mais crítica e mais social. Produzir       A prática centrada na doença provo-    to da população de ser assistida em to-
conhecimentos e ações mais contextua-       ca o obscurecimento de grande parte das    das as suas necessidades. Diante destas,
lizados, portanto mais próximos da vida     possibilidades de atuação, crescimento     a Fisioterapia pode contribuir muito
das pessoas atendidas, e com maior po-      e reconhecimento profissional do fisio-    mais. Para isso, entretanto, é preciso re-
tencial para levá-las a perceber sua co-    terapeuta, alimentando a manutenção de     ver e ampliar seu lugar social. Acreditan-
responsabilidade pela manutenção de         muitas das dificuldades apontadas nes-     do que a gestão do novo se desenvolve
sua saúde, compreendendo-a como um          te estudo. Ao fixar seu lugar social na    no que já está estabelecido25, uma Fisi-
recurso que se conquista no dia-a-dia,      atuação curativa, no modelo privatista,    oterapia crítico-social está se desenvol-
conferindo aos usuários dos serviços        na especialização, entre outras, os pro-   vendo a partir do confronto e da dispu-
mais independência em relação ao mo-        fissionais da saúde ferem o princípio da   ta desses dois modelos, para além da
delo hegemônico.                            integralidade que deve garantir o direi-   clínica e em direção ao social.




                                                       REFERÊNCIAS

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                                                                                               Fisioter Pesq. 2009;16(1) :82-8            87
Referências (cont.)

 20 Brasil. Ministério da Educação. Enade 2007: relatório   23 Merhy EE. Saúde: cartografia do trabalho vivo. São
    síntese – Fisioterapia. Brasília; 2008.                    Paulo: Hucitec; 2002.

 21 Brasil. Conselho Nacional de Educação. Câmera de        24 Merhy EE, Franco TB. Por uma composição técnica do
                                                               trabalho em saúde centrada no campo relacional e nas
    Educação Superior. Brasília: Diário Oficial da União.      tecnologias leves: apontando mudanças para os
    Resolução n.4/2002 CNE/CES, 19 fev. 2002, p.11.            modelos tecno-assistenciais. Saude Debate.
 22 Behrens MA. A prática pedagógica e o desafio do            2003;27(65):316-23.
    paradigma emergente. Rev Bras Est Pedag (Brasília).     25 Massey D. Pelo espaço: uma nova política da
    1999;80(196):383-403.                                      espacialização. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil; 2008.




88   Fisioter Pesq. 2009;16(1)
                    2009;16(1):82-8

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O lugar social do fisioterapeuta brasileiro

  • 1. Fisioterapia e Pesquisa, São Paulo, v.16, n.1, p.82-8, jan./mar. 2009 ISSN 1809-2950 O lugar social do fisioterapeuta brasileiro The social place of Brazilian physical therapists Ana Lúcia de Jesus Almeida1, Raul Borges Guimarães2 Estudo desenvolvido na FCT/ RESUMO: Este estudo visa compreender a produção do lugar social do fisioterapeuta Unesp – Faculdade de Ciências brasileiro por meio de suas práticas. O material empírico utilizado foram 89 e Tecnologias da Universidade entrevistas, dados do I Censo de Fisioterapeutas do Estado de São Paulo e Estadual Paulista, campus de informações sobre os cursos de graduação em Fisioterapia no Brasil. A análise dos Presidente Prudente, SP, Brasil dados mostrou que o lugar social do fisioterapeuta está fortemente ligado ao modelo 1 curativo, identificado com o ideário liberal-privatista, com instituições formadoras Profa. Dra. do Depto. de predominantemente privadas e concentradas na região Sudeste. Os resultados Fisioterapia da FCT/Unesp sustentam evidências de uma prática profissional fragmentada, estimulada pelo 2 Prof. Livre-docente do Depto. modelo hegemônico, mas também apresenta marcas de superação, mostrando a de Geografia da FCT/Unesp disputa de dois modelos na atenção à saúde: hegemônico e contra-hegemônico. O primeiro toma a parte pelo todo, fragmenta o conhecimento e o corpo, identifica- ENDEREÇO PARA se com o liberalismo e tem a saúde como mercadoria; a organização dos serviços CORRESPONDÊNCIA é centrada na doença e na especialização. O segundo, sem negar a importância do conhecimento técnico, valoriza as dimensões sociais e humanas na prática R. Felipe Carnevale 110 profissional, está centrado na pessoa e busca a integralidade e a Jardim das Rosas interdisciplinaridade. Esse modelo permite ampliar a prática do fisioterapeuta para 19060-220 Presidente além da clínica, em direção a um lugar social mais humano e solidário, identificado Prudente SP com os princípios do Sistema Único de Saúde. Também permite repensar o atual e-mail: analu@fct.unesp.br lugar social, oferecendo parâmetros para a reorientação dos caminhos da profissão. Artigo extraído da tese de DESCRITORES: Fisioterapia (Especialidade); Papel profissional; Sistemas de saúde/ doutorado defendida pela tendências autora 1 no Programa de Pós- Graduação em Geografia da ABSTRACT: This study aimed at understanding the social role played by Brazilian physical FCT em dezembro de 2008. therapists by drawing on their practices. Empirical data included the recordings of 89 interviews with physical therapists, data from the Sao Paulo State First Census of Physical Therapists, and information on physical therapy undergraduate courses. The analysis showed that mainstream physical therapy is strongly linked to the healing model, of liberal ideology; training courses are mostly private and concentrated in the country’s Southeast, richest region. Results sustain evidence of a fragmented professional practice, encouraged by the hegemonic model, but also of signs of conflict between two opposing concepts of health care. The hegemonic model takes the part for the whole, fragments body and knowledge, bears on liberalism, where health is taken as a commodity; health care services focus on illness and value specialization. The counter-hegemonic principles, while not denying the relevance of technical knowledge, value social and human dimensions of professional practice, focus on the person, aim at integration of services and support interdisciplinarity. The counter-hegemonic model tends to widen physical therapy practice beyond the clinic toward a humanized social role, in accordance APRESENTAÇÃO with the national health system guidelines. It also allows for rethinking therapists dez. 2008 current social place, offering parameters for reorientating the profession course of ACEITO PARA PUBLICAÇÃO action. mar. 2009 KEY WORDS: Health systems/trends; Physical therapy (Specialty); Professional role 82 Fisioter Pesq. 2009;16(1) 2009;16(1):82-8
  • 2. Almeida & Guimarães O lugar social do fisioterapeuta brasileiro INTRODUÇÃO tando o lugar social do fisioterapeuta. e Terapeutas Ocupacionais do Estado de São Paulo17 e uma publicação do Minis- O lugar social é construído pelos O objeto de estudo do presente artigo tério da Educação sobre o curso de Fisio- fisioterapeutas por suas práticas, que car- é o lugar social dos fisioterapeutas, pro- terapia no Brasil18. regam significados relacionados com a duzido por suas práticas. Conforme ire- forma de compreender a sociedade, com mos argumentar, as práticas tradicionais dos fisioterapeutas, muitas vezes, resul- sua visão de saúde, com as relações de poder estabelecidas no seu espaço. O RESULTADOS tam em ações fragmentadas e distantes conceito de lugar enquanto espaço A Fisioterapia teve o auge do seu re- do conceito de integralidade na saúde1-4. relacional oferece elementos da repro- conhecimento em meados da década de Essa característica é fruto de um mode- dução da vida social15, portanto, da re- 1990, o que aumentou a procura pelo lo hegemônico que tende a fazer do produção da fisioterapia na sociedade. curso. Na ocasião, muitas instituições de exercício profissional a reunião de ações Compreender e refletir sobre esse lugar ensino superior passaram a oferecer gran- isoladas, individualizadas, descon- social é fundamental como parâmetro des números de vagas em Fisioterapia, textualizadas4-7. Por outro lado, contra- de reorientação dos caminhos da pro- principalmente as instituições privadas, ditoriamente, os pacientes ao apresen- fissão. carregando consigo uma prática peda- tarem suas demandas solicitam do pro- gógica da Medicina influenciada pelo fissional uma postura mais global, o que paradigma newtoniano-cartesiano14. O exige a superação da condição acima com ações potencialmente integradoras. METODOLOGIA crescimento foi grande e o número total de fisioterapeutas registrados no Coffito Para caracterizar o lugar social do fi- Por várias razões o fisioterapeuta4,6,7, – Conselho Federal de Fisioterapia e Te- sioterapeuta, foram analisados dados de bem como outros profissionais da saú- rapia Ocupacional – em 1995 era 89 entrevistas feitas por 45 alunos do 1o de5,8, caminharam para a definição de 16.068; em 2005, os dados apontam ano do Curso de Fisioterapia do campus uma forma de atuar com uma lógica de para 79.382 profissionais, mostrando um de Presidente Prudente da Unesp, no valorização excessiva da doença, asso- crescimento absoluto de 394% em ape- primeiro semestre de 2008. As entrevis- ciando a profissão com a visão curativa, nas dez anos18. tas foram realizadas tendo como refe- além de desenvolver práticas distantes rência um roteiro predefinido (Quadro Esses números estão desigualmente da interlocução com outras profissões. 1). Foram digitadas sínteses de cada uma distribuídos pelo país. A Figura 1 permite Na clínica, é comum observar a escassa das 89 entrevistas realizadas pelos alu- melhor visualizar as diferenças de tama- existência de equipe multiprofissional e nos em planilhas, para facilitar a associ- nho de cada Crefito em 2005. As repre- a dificuldade de encaminhar o paciente ação de informações comuns, fazendo sentações geométricas são proporcionais para outras especialidades, porque es- o exercício, de acordo com Minayo16, ao total de fisioterapeutas de cada Con- tas não se comunicam. Também se ob- de partir de uma leitura de primeiro pla- selho, refletindo as grandes diferenças servam oportunidades restritas para a no para atingir um nível mais aprofun- existentes: a maioria estão concentrados pessoa com deficiência, no mercado de dado, que ultrapassa os significados nos estados de São Paulo (Crefito-3), Rio trabalho, na escola, na sociedade. Estes manifestos. de Janeiro e Espírito Santo (Crefito-2), e são alguns exemplos que limitam a prá- Minas Gerais (Crefito-4), todos na região tica profissional e tornam o trabalho da Uma parte dos temas abordados nas Sudeste18. fisioterapia fragmentado e incompleto. entrevistas foi aqui utilizada, associada a dados disponibilizados pelo Crefito-3 O processo de formação tem grande Acreditamos que se uma visão multi- – Conselho Regional de Fisioterapia e responsabilidade por essa situação. Em dimensional da saúde9-11 estivesse mais Terapia Ocupacional da 3a Região – 1969, existiam 6 cursos de graduação presente na prática dos fisioterapeutas e oriundos do I Censo dos Fisioterapeutas em Fisioterapia; em 1981, esse número de outros profissionais, poderíamos ob- servar uma maior freqüência de ações que fossem ao encontro da superação Quadro 1 Roteiro de entrevista com fisioterapeutas das dificuldades acima. O debate sobre 1 Tempo de atuação profissional o conceito de promoção e vigilância à 2 Facilidades e adversidades encontradas assim que se formou saúde enquanto elementos multidi- 3 Área de maior atuação mensionais e interdisciplinares aproxima- 4 Motivo da escolha da área se desse desafio, levando-nos a pensar o 5 Principais conquistas alcançadas nessa área pela Fisioterapia indivíduo e a coletividade de uma ma- 6 Principais dificuldades nessa área neira social e relacional1,5,9,12-14. Entretan- 7 Aspectos financeiros: valor aproximado da sessão; número de pacientes to, verificamos que a maioria dos fisio- que atende por dia e em quantas horas de trabalho; salário mensal terapeutas tendem a acreditar que os aproximado problemas de saúde se resolvem apenas 8 Que recomendações daria para alunos que estão no 1o ano do Curso de Ft por meio do setor saúde, o que diminui 9 Cidade onde o entrevistado reside e trabalha seu campo de intervenção e participação, 10 Comentários reforçando a manutenção do modelo hegemônico em saúde, bem como limi- Fonte: Brasil, 200618 Fisioter Pesq. 2009;16(1) :82-8 83
  • 3. 10,0% em instituições filantrópicas17. É notável a reduzida proporção de fisio- terapeutas no setor público (15%) com- parado aos demais, evidenciando uma tímida presença do fisioterapeuta no ser- viço público, o que contribui para de- marcar seu lugar social. Uma das questões da entrevista refe- riu-se às facilidades encontradas pelos entrevistados no início da carreira, ten- do dois aspectos sido mais citados. O primeiro refere-se à importância dada pelos entrevistados à especialização. Para eles, ao especializar-se adquirem maior segurança profissional, principal- mente no momento da conquista de uma vaga no mercado de trabalho. Essa ne- cessidade de especializar-se também foi Fonte: Inep/MEC18,19 observada entre os fisioterapeutas que responderam ao Censo do Crefito-3, em Figura 1 Distribuição dos fisioterapeutas pelos Conselhos Regionais (Crefitos), que, dos 24.844 fisioterapeutas que res- Brasil, 2005 ponderam essa questão, 18.299 (73.7%) cresceu para 20 e, em 1991, havia 48. do atual lugar social do fisioterapeuta. relataram ter realizado algum tipo de A partir daí o crescimento foi muito rá- curso de pós-graduação, seja lato sensu A inserção dos fisioterapeutas no (71%), stricto sensu (10%) ou outros17. pido, até atingir o total de 457 cursos mercado de trabalho mostra uma pre- em 200718,19 (Figura 2). O segundo aspecto tido como um dominância no setor privado. Dos 89 fi- O número de vagas disponíveis au- sioterapeutas entrevistados pelos alunos, facilitador para a conquista do primeiro mentou rapidamente, bem como o nú- 53 (59,6%) trabalhavam no setor priva- emprego pelos fisioterapeutas entrevista- mero de formandos a cada ano. Se em do ou dedicavam a maior parte do tem- dos foi a realização de estágios extracur- 1991 formavam-se 1.951 fisioterapeutas, po a esse setor; os demais 36 atuavam riculares durante a graduação, ou logo em 2004 esse número cresceu para ou no setor público ou em ambos. Essa em seguida, como estágio voluntário. De 13.63118 e, em 2007, foram 14.162 no- característica também está presente nos acordo com os entrevistados, o estágio vos fisioterapeutas20. Ao associar o nú- dados do Censo realizado pelo Crefito- extracurricular, além de proporcionar mero de vagas ao local em que as vagas 3, em que dos 13.712 fisioterapeutas que experiência prática, pode ser a oportu- são oferecidas, reconhecem-se as insti- responderam ao questionário, 70,5% tra- nidade de garantir uma vaga no merca- tuições privadas de ensino superior balhavam no setor privado, 15,2% em do de trabalho pelo vínculo criado, pela como importantes agentes na definição instituições públicas, 4,3% em mistas e chance de mostrar a capacidade de tra- balho. Quanto às dificuldades encontradas 500 457 no mercado de trabalho, os aspectos 450 420 mais apontados foram o baixo salário, 400 379 seguido por mercado de trabalho satu- 339 rado e com grande concorrência e sen- 350 Número de cursos 297 sação de pouco reconhecimento social. 300 256 Sobre o salário, dentre os entrevistados 250 211 observam-se salários variando de 700 200 176 146 reais até 8.000 reais, com valores da ses- 150 115 são que variam de R$ 3,00 a R$ 150,00. 100 68 80 Há fisioterapeutas que atendem um pa- 52 52 59 63 48 50 ciente em uma hora de sessão até os que 0 atendem a 14 pessoas em uma hora – são os que recebem os mais baixos sa- 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 lários. A análise dos rendimentos de to- Ano dos os fisioterapeutas entrevistados mos- Fonte: Crefito-3 17 tra que mais de 40, do total de 89, rela- taram ganhar menos que R$ 2.000,00. Figura 2 Evolução do número de cursos de Fisioterapia no Brasil, 1991- 2007 Os dados do Censo do Crefito-3 confir- 84 Fisioter Pesq. 2009;16(1) 2009;16(1):82-8
  • 4. Almeida & Guimarães O lugar social do fisioterapeuta brasileiro Sobre a qualidade do atendimento mais de R$ 10.001,00 2,1% fisioterapêutico, ao constatar profissio- R$5.001,00 a R$10.000,00 3,4% nais atendendo 14 pacientes em uma hora, pode-se inferir o uso acentuado de R$3.001,00 a R$5.000,00 3,8% recursos tecnológicos terapêuticos, o R$2.001,00 a R$3.000,00 13,4% que dificilmente é compatível com a resolutividade do cuidado. Para Merhy23, R$1.001,00 a R$2.000,00 34,8% a organização do trabalho em saúde até R$1.000,00 42,5% deveria contemplar três tipos de tecno- Fonte: Crefito-3 17 logias: tecnologias leves, caracterizadas como a forma de agir entre sujeitos tra- Figura 3 Pirâmide de renda dos fisioterapeutas do Estado de São Paulo, 2007 balhadores e usuários, individuais e co- mam essa tendência, apontando que a mais complexos e mais distantes da aten- letivos, implicados com a produção do maior parte dos fisioterapeutas tem ren- ção primária à saúde. Essa característi- cuidado; tecnologias duras, que estão da inferior a R$ 2.000,00 por mês17, ca justifica a ânsia pela especialização inscritas nos instrumentos já estruturados como mostra a Figura 3. presente entre os entrevistados e nos para elaborar produtos da saúde; e as dados do Censo, indo na contramão das tecnologias leves-duras, caracterizadas Sobre o reconhecimento social, os pelos saberes estruturados que operam novas diretrizes curriculares21, segundo profissionais entrevistados relataram esses processos. Portanto, seria possível as quais o profissional deve ter uma vi- como um aspecto dificultador o desco- identificar uma parte dura, estruturada são generalista. nhecimento por parte dos profissionais e outra leve, relacionada com o modo da saúde, e mesmo por usuários do ser- Reforçando esse aspecto, a literatura como cada profissional aplica o conhe- viço, sobre o fazer do fisioterapeuta. aponta para a formação no campo da cimento no momento da produção do Sobre esse aspecto é preciso também saúde consistindo em processos de en- cuidado. contrapor que, quando os fisioterapeu- sino-aprendizagem que enfatizam a área tas foram solicitados a apontar as con- técnica, a especialidade, a intervenção Observando o cotidiano de um tra- quistas da Fisioterapia, o item mais cita- curativa. Também aponta para um cres- balhador da saúde, Merhy e Franco24 do foi “o maior reconhecimento soci- cimento quantitativo de cursos em de- argumentam que, ao prover o cuidado, al”, mostrando que, apesar de desafios trimento da qualidade22. Na Fisioterapia o trabalhador opera um núcleo tecno- a serem superados, vários profissionais esse crescimento se materializa num es- lógico composto de “trabalho morto” percebem que muito já foi conquista- paço concentrado na região Sudeste, (TM) e “trabalho vivo” (TV). TM são ins- do. Outros fisioterapeutas apresentaram principalmente no Estado de São Paulo e trumentos e é assim definido porque como conquista “o reconhecimento e a predominantemente vinculado ao ensi- sobre eles já se aplicou um trabalho pre- valorização por parte dos profissionais no privado, como mostram os resultados. gresso no momento de sua elaboração; da saúde, principalmente, pelo médico”, Ao priorizar quantidade no ensino, há TV é o trabalho em ato, campo próprio ou seja, há um sentimento de que a pro- uma desqualificação do processo de for- das tecnologias leves. Por fim, a relação fissão passou por um período de reco- mação que pode estar estimulando ain- entre TM e TV no interior do processo nhecimento e consolidação social, tanto da mais a necessidade de busca imedia- de trabalho reflete uma correlação cha- na relação com os colegas profissionais ta por especialização. Também, o pro- mada pelos autores de composição téc- da saúde quanto por parte da sociedade. fissional despreparado pode estar visua- nica do trabalho (CTT). A CTT estando lizando no estágio não-obrigatório e no favorável ao TM reflete predominância trabalho voluntário uma possibilidade de de tecnologias duras, direcionadas à uti- DISCUSSÃO melhorar sua qualificação, não se im- lização de procedimentos; e quando, ao portando em ser explorado como mão contrário, predominar TV, o provimento A origem da Fisioterapia direcionou do cuidado está centrado nas tecnologias de obra não-remunerada. sua prática para o processo de recupe- leves. Uma análise qualitativa das rar as condições de saúde das pessoas Nota-se que os entrevistados não per- tecnologias de cuidado presentes no pro- para níveis anteriores a um episódio de cebem a contradição aí presente, pois o cesso de trabalho permite também pensar doença ou incapacidade. Foi nesse es- fato de alunos de graduação atenderem que, no atual modo de produzir saúde – paço que a profissão se solidificou, de- em clínicas não-vinculadas a instituições modelo hegemônico – a razão entre TM marcando seu reconhecimento social no de nível superior, ou profissionais for- e TV faz prevalecer o TM. Portanto, se campo das ações curativas, tema apon- mados se submeterem a fazer estágios queremos alterar o modo de produzir tado e debatido por Rebelato e Botomé6. voluntários, significa redução das opor- saúde, temos de alterar essa correlação, Por sua vez, os fisioterapeutas Schmidt4 tunidades de trabalho para aqueles que produzindo mudanças no núcleo tecno- e Freitas7 mostram que pouco se vê a já estão no mercado. Não são poucas as lógico do cuidado, compondo uma fisioterapia atuando na atenção básica instituições que se aproveitam dessa con- hegemonia do TV24. em saúde. Neste estudo, pôde-se inferir dição e deixam de contratar profissionais uma identidade forte do lugar social do para oferecer estágios e explorar a força Esse modelo hegemônico na saúde fisioterapeuta com níveis de atenção de trabalho de graduandos. toma a parte pelo todo e, com isso, frag- Fisioter Pesq. 2009;16(1) :82-8 85
  • 5. menta o conhecimento e também o cor- ções e de suas interações, distanciando humanas por falta de resolutividade, por po, supervalorizando as especialidades, a prática da realidade, fragmentando o distanciamento da vida e das necessi- o uso indiscriminado de recursos tecno- conhecimento e o corpo humano. dades das pessoas. Isso desmotiva, desi- lógicos e se identificando com uma di- lude, pois os resultados não promovem mensão política favorável ao liberalismo. No modelo contra-hegemônico o satisfação profissional. Nesse modelo, os serviços de fisiotera- profissional da saúde, ao lidar com o usuário do serviço de saúde, preocupa-se A resposta do SUS para a superação pia estão organizados com base em com o sujeito e não apenas com a en- do modelo hegemônico está no fortale- ações curativas e individualizadas, cen- fermidade. Lida com a singularidade de cimento da atenção básica, concentra- tradas na doença e não na pessoa, valo- cada um, sem abrir mão da ontologia da atualmente nas Estratégias de Saúde rizando a especialização, as tecnologias das doenças e suas possibilidades, mostran- da Família (ESF), visando edificar um e, portanto, o trabalho morto. Em contra- do competência em lidar com pessoas13. novo modelo de atenção à saúde. A res- partida, o modelo contra-hegemônico, Os dois modelos apresentam concep- posta dos Ministérios da Educação e da sem negar a importância do conheci- ções distintas caracterizadas por ações, Saúde para mudar a formação dos pro- mento técnico, valoriza as dimensões muitas vezes, opostas e presentes na prá- fissionais da saúde está nas novas dire- sociais e humanas. É um modelo que tem tica dos profissionais da saúde. São duas trizes curriculares, construídas a partir a dimensão do todo, está centrado no grandes linhas em disputa em torno da da necessidade de pensar a formação usuário do serviço, por isso busca a inte- política de saúde: uma vinculada ao pro- dos profissionais como uma estratégia gralidade, valorizando a interdisciplina- jeto empresarial neoliberal médico- importante para o fortalecimento do ridade, a intersetorialidade e a continui- hegemônico, que vê a saúde como uma SUS4,21. dade da atenção, ficando evidente a pri- oridade ao trabalho vivo5,7,14,24. mercadoria, e outro, que defende o for- Portanto, cabe às instituições forma- talecimento do Sistema Único de Saúde doras, aos docentes, aos alunos e aos A Figura 4 apresenta uma sistemati- (SUS), regulado pelo Estado e compro- profissionais fisioterapeutas observar o zação dos dois modelos que represen- missado com a saúde como direito de quanto suas práticas têm se direcionado tam a prática profissional do fisiotera- todos, não como bem de mercado. para uma atuação centrada na promo- peuta. No modelo contra-hegemônico, ção da saúde, na prevenção, que valori- o método dialético permite ao fisiotera- O debate até agora desenvolvido ze mais as condições sociais e humanas peuta observar o processo pelo qual está mostra que o modelo de atuação hege- na manifestação dos desequilíbrios or- submetido o objeto de intervenção, pre- mônico leva o profissional da saúde a gânicos, uma atenção à saúde centrada servando sua totalidade e reconhecen- ações parceladas, não dando conta de no sujeito e de forma integral. do as contradições inerentes ao objeto. mudar a realidade e responder às de- Por outro lado, o método metafísico se- mandas individuais e sociais de grande para o sujeito do objeto e define os se- res e as idéias separadas de suas rela- parte da população brasileira. Ele per- cebe que não responde às necessidades CONCLUSÃO Como exposto, não são poucos os desafios para que a Fisioterapia amplie PRÁTICA PROFISSIONAL DO FISIOTERAPEUTA EM DISPUTA seu papel social. Para avançar nessa di- Dimensão Dimensão reção, é necessário que nas ações dos epistemológica Dimensão técnica epistemológica fisioterapeutas estejam presentes a aten- Metafísica Dialética ção integral, a resolutividade do cuida- do, o acolhimento, a formação de vín- Definida no Tem a culo, potencializando a capacidade que Toma a parte pelo processo de tocar o visão do o fisioterapeuta tem de produzir saúde todo corpo do outro todo e não apenas recuperar. Nessa direção, o SUS tem se fortalecido e vem sendo construído a cada dia como uma alter- PROCESSO DE TRABALHO MODELO nativa possível frente ao modelo hege- MODELO HEGEMÕNICO CONTRA-HEGEMÕNICO mônico e com muito mais possibilida- Dimensão política Dimensão política des para a Fisioterapia ampliar seu lu- LIBERALISMO ESTADO DO BEM-ESTAR SOCIAL gar social. • trata da doença • cuida do sujeito • modelo hospitalocêntrico • modelo da promoção Para isso, é preciso substituir ações • demanda espontânea • busca ativa reprodutoras por ações que busquem a • medicina curativa • vigilância em saúde produção de um conhecimento tal que • especialidades • integralidade venha a melhorar a qualidade de vida das pessoas que acorrem aos serviços de saúde. É preciso construir caminhos que Figura 4 Modelos de atuação profissional do fisioterapeuta: hegemônico e contra- possibilitem a percepção cada vez me- hegemônico nos segmentada da realidade e do sa- 86 Fisioter Pesq. 2009;16(1) 2009;16(1):82-8
  • 6. Almeida & Guimarães O lugar social do fisioterapeuta brasileiro ber, mais crítica e mais social. Produzir A prática centrada na doença provo- to da população de ser assistida em to- conhecimentos e ações mais contextua- ca o obscurecimento de grande parte das das as suas necessidades. Diante destas, lizados, portanto mais próximos da vida possibilidades de atuação, crescimento a Fisioterapia pode contribuir muito das pessoas atendidas, e com maior po- e reconhecimento profissional do fisio- mais. Para isso, entretanto, é preciso re- tencial para levá-las a perceber sua co- terapeuta, alimentando a manutenção de ver e ampliar seu lugar social. Acreditan- responsabilidade pela manutenção de muitas das dificuldades apontadas nes- do que a gestão do novo se desenvolve sua saúde, compreendendo-a como um te estudo. Ao fixar seu lugar social na no que já está estabelecido25, uma Fisi- recurso que se conquista no dia-a-dia, atuação curativa, no modelo privatista, oterapia crítico-social está se desenvol- conferindo aos usuários dos serviços na especialização, entre outras, os pro- vendo a partir do confronto e da dispu- mais independência em relação ao mo- fissionais da saúde ferem o princípio da ta desses dois modelos, para além da delo hegemônico. integralidade que deve garantir o direi- clínica e em direção ao social. REFERÊNCIAS 1 Ceccim RB. Equipe de saúde: a perspectiva entre- 10 Barcellos CC, Monken M. Instrumentos para o disciplinar na produção dos atos terapêuticos. In: diagnóstico sócio-sanitário do Programa de Saúde da Pinheiro R, Mattos RA, organizadores. Cuidado: as Família. In: Fonseca AF, Corbo AD, editores. O território fronteiras da integralidade. Rio de Janeiro: Cepesc/Uerj; e o processo saúde-doença. Rio de Janeiro: EPSJV/ Abrasco; 2006. p.259-78. Fiocruz; 2007. 2 Pinheiro R, Luz MT. Práticas eficazes x modelos ideais: 11 Czeresnia D. Ribeiro AM. O conceito de espaço em ação e pensamento na construção da integralidade. In: epidemiologia: uma interpretação histórica e Pinheiro R, Mattos RA, organizadores. Construção da epistemológica. Cad Saude Publica. 2000;16(3): integralidade: cotidiano, saberes e práticas em saúde. 595-617. Rio de Janeiro: Cepesc/Uerj; Abrasco; 2005. p.7-34. 12 Ceccim RB, Feurwerker LCM. Mudança na graduação 3 Teixeira CF. A mudança do modelo de atenção à saúde das profissões de saúde sob o eixo da integralidade. Cad no SUS: desatando nós, criando laços. Saude Debate. Saude Publica. 2004;20(5):1400-10. 2003;27(65):257-77. 13 Cunha GT. A construção da clínica ampliada na atenção 4 Schmidt LA. Os cursos de Fisioterapia no Paraná frente básica [dissertação]. Campinas: Faculdade de Ciências aos conceitos contemporâneos de saúde [dissertação]. Médicas, Universidade Estadual de Campinas; 2004. Londrina: Centro de Ciências da Saúde, Universidade 14 Gil CRR. Práticas profissionais em saúde da família: Estadual de Londrina; 2002. expressões de um cotidiano em construção [tese]. Rio 5 Breilh J. Epidemiologia crítica: ciência emancipadora e de Janeiro: Escola Nacional de Saúde Pública, Fundação interculturalidade. Rio de Janeiro: Fiocruz; 2006. Oswaldo Cruz; 2006. 6 Rebelato JR, Botomé SP. Fisioterapia no Brasil: 15 Silva AC. Geografia e lugar social. São Paulo: Contexto; fundamentos para uma ação preventiva e perspectivas 1991. profissionais. 2a ed. São Paulo: Manole; 1999. 16 Minayo MCS. O desafio do conhecimento: pesquisa qualitativa em saúde. 6a ed. São Paulo: Hucitec; 1999. 7 Freitas MS. A atenção básica como campo de atuação da fisioterapia no Brasil: as diretrizes curriculares re- 17 Crefito 3 – Conselho Regional de Fisioterapia e Terapia significando a prática profissional [tese]. Rio de Janeiro: Ocupacional. I Censo dos fisioterapeutas e terapeutas Instituto de Medicina Social, Universidade do Estado do ocupacionais do estado de São Paulo. [Malerbi FEK, Rio de Janeiro; 2006. Castro Y, organizadores]. São Paulo; 2008 [citado maio 2008]. Disponível em: http://www.crefito3.com.br. 8 Campos GWS. O SUS entre a tradição dos sistemas nacionais e o modo liberal-privado para organizar o 18 Brasil. Ministério da Educação. A trajetória dos cursos cuidado à saúde. Cienc Saude Coletiva. de graduação na área da saúde: 1991-2004. Brasília: 2007;12(supl):1865-74. Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira; 2006. 9 Barcelos CC, Sabroza PC, Peiter P, Rojas LI. Organização espacial, saúde e qualidade de vida: 19 Brasil. Ministério da Educação. Sinopses estatísticas da análise espacial e uso de indicadores na avaliação de educação superior: graduação. Brasília: Inep; 2008 situações de saúde. Inf Epidemiol SUS. 2002; [citado abr 2009]. Disponível em: http:// 11(3):129-38. www.inep.gov.br/superior/censosuperior/ sinopse. Fisioter Pesq. 2009;16(1) :82-8 87
  • 7. Referências (cont.) 20 Brasil. Ministério da Educação. Enade 2007: relatório 23 Merhy EE. Saúde: cartografia do trabalho vivo. São síntese – Fisioterapia. Brasília; 2008. Paulo: Hucitec; 2002. 21 Brasil. Conselho Nacional de Educação. Câmera de 24 Merhy EE, Franco TB. Por uma composição técnica do trabalho em saúde centrada no campo relacional e nas Educação Superior. Brasília: Diário Oficial da União. tecnologias leves: apontando mudanças para os Resolução n.4/2002 CNE/CES, 19 fev. 2002, p.11. modelos tecno-assistenciais. Saude Debate. 22 Behrens MA. A prática pedagógica e o desafio do 2003;27(65):316-23. paradigma emergente. Rev Bras Est Pedag (Brasília). 25 Massey D. Pelo espaço: uma nova política da 1999;80(196):383-403. espacialização. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil; 2008. 88 Fisioter Pesq. 2009;16(1) 2009;16(1):82-8