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Universidade do Sul de Santa Catarina

História da Arte
Disciplina na modalidade a distância

Palhoça
UnisulVirtual
2011
Créditos
Universidade do Sul de Santa Catarina | Campus UnisulVirtual | Educação Superior a Distância

Avenida dos Lagos, 41 – Cidade Universitária Pedra Branca | Palhoça – SC | 88137-900 | Fone/fax: (48) 3279-1242 e 3279-1271 | E-mail: cursovirtual@unisul.br | Site: www.unisul.br/unisulvirtual

Reitor
Ailton Nazareno Soares
Vice-Reitor
Sebastião Salésio Heerdt
Chefe de Gabinete da Reitoria
Willian Corrêa Máximo
Pró-Reitor de Ensino e
Pró-Reitor de Pesquisa,
Pós-Graduação e Inovação
Mauri Luiz Heerdt
Pró-Reitora de Administração
Acadêmica
Miriam de Fátima Bora Rosa
Pró-Reitor de Desenvolvimento
e Inovação Institucional
Valter Alves Schmitz Neto
Diretora do Campus
Universitário de Tubarão
Milene Pacheco Kindermann
Diretor do Campus Universitário
da Grande Florianópolis
Hércules Nunes de Araújo
Secretária-Geral de Ensino
Solange Antunes de Souza
Diretora do Campus
Universitário UnisulVirtual
Jucimara Roesler
Equipe UnisulVirtual
Diretor Adjunto
Moacir Heerdt

Secretaria Executiva e Cerimonial
Jackson Schuelter Wiggers (Coord.)
Marcelo Fraiberg Machado
Tenille Catarina

Assessoria de Assuntos
Internacionais
Murilo Matos Mendonça

Assessoria de Relação com Poder
Público e Forças Armadas
Adenir Siqueira Viana
Walter Félix Cardoso Junior

Assessoria DAD - Disciplinas a
Distância

Patrícia da Silva Meneghel (Coord.)
Carlos Alberto Areias
Cláudia Berh V. da Silva
Conceição Aparecida Kindermann
Luiz Fernando Meneghel
Renata Souza de A. Subtil

Assessoria de Inovação e
Qualidade de EAD

Denia Falcão de Bittencourt (Coord.)
Andrea Ouriques Balbinot
Carmen Maria Cipriani Pandini

Assessoria de Tecnologia

Osmar de Oliveira Braz Júnior (Coord.)
Felipe Fernandes
Felipe Jacson de Freitas
Jefferson Amorin Oliveira
Phelipe Luiz Winter da Silva
Priscila da Silva
Rodrigo Battistotti Pimpão
Tamara Bruna Ferreira da Silva

Coordenação Cursos
Coordenadores de UNA

Diva Marília Flemming
Marciel Evangelista Catâneo
Roberto Iunskovski

Auxiliares de Coordenação

Ana Denise Goularte de Souza
Camile Martinelli Silveira
Fabiana Lange Patricio
Tânia Regina Goularte Waltemann

Coordenadores Graduação

Aloísio José Rodrigues
Ana Luísa Mülbert
Ana Paula R.Pacheco
Artur Beck Neto
Bernardino José da Silva
Charles Odair Cesconetto da Silva
Dilsa Mondardo
Diva Marília Flemming
Horácio Dutra Mello
Itamar Pedro Bevilaqua
Jairo Afonso Henkes
Janaína Baeta Neves
Jorge Alexandre Nogared Cardoso
José Carlos da Silva Junior
José Gabriel da Silva
José Humberto Dias de Toledo
Joseane Borges de Miranda
Luiz G. Buchmann Figueiredo
Marciel Evangelista Catâneo
Maria Cristina Schweitzer Veit
Maria da Graça Poyer
Mauro Faccioni Filho
Moacir Fogaça
Nélio Herzmann
Onei Tadeu Dutra
Patrícia Fontanella
Roberto Iunskovski
Rose Clér Estivalete Beche

Vice-Coordenadores Graduação
Adriana Santos Rammê
Bernardino José da Silva
Catia Melissa Silveira Rodrigues
Horácio Dutra Mello
Jardel Mendes Vieira
Joel Irineu Lohn
José Carlos Noronha de Oliveira
José Gabriel da Silva
José Humberto Dias de Toledo
Luciana Manfroi
Rogério Santos da Costa
Rosa Beatriz Madruga Pinheiro
Sergio Sell
Tatiana Lee Marques
Valnei Carlos Denardin
Sâmia Mônica Fortunato (Adjunta)

Coordenadores Pós-Graduação

Aloísio José Rodrigues
Anelise Leal Vieira Cubas
Bernardino José da Silva
Carmen Maria Cipriani Pandini
Daniela Ernani Monteiro Will
Giovani de Paula
Karla Leonora Dayse Nunes
Letícia Cristina Bizarro Barbosa
Luiz Otávio Botelho Lento
Roberto Iunskovski
Rodrigo Nunes Lunardelli
Rogério Santos da Costa
Thiago Coelho Soares
Vera Rejane Niedersberg Schuhmacher

Gerência Administração

Acadêmica
Angelita Marçal Flores (Gerente)
Fernanda Farias

Secretaria de Ensino a Distância
Samara Josten Flores (Secretária de Ensino)
Giane dos Passos (Secretária Acadêmica)
Adenir Soares Júnior
Alessandro Alves da Silva
Andréa Luci Mandira
Cristina Mara Schauffert
Djeime Sammer Bortolotti
Douglas Silveira
Evilym Melo Livramento
Fabiano Silva Michels
Fabricio Botelho Espíndola
Felipe Wronski Henrique
Gisele Terezinha Cardoso Ferreira
Indyanara Ramos
Janaina Conceição
Jorge Luiz Vilhar Malaquias
Juliana Broering Martins
Luana Borges da Silva
Luana Tarsila Hellmann
Luíza Koing  Zumblick
Maria José Rossetti

Marilene de Fátima Capeleto
Patricia A. Pereira de Carvalho
Paulo Lisboa Cordeiro
Paulo Mauricio Silveira Bubalo
Rosângela Mara Siegel
Simone Torres de Oliveira
Vanessa Pereira Santos Metzker
Vanilda Liordina Heerdt

Gestão Documental

Patrícia de Souza Amorim
Poliana Simao
Schenon Souza Preto

Karine Augusta Zanoni
Marcia Luz de Oliveira
Mayara Pereira Rosa
Luciana Tomadão Borguetti

Gerência de Desenho e
Desenvolvimento de Materiais
Didáticos

Assuntos Jurídicos

Márcia Loch (Gerente)

Bruno Lucion Roso
Sheila Cristina Martins

Desenho Educacional

Marketing Estratégico

Rafael Bavaresco Bongiolo

Carolina Hoeller da Silva Boing
Vanderlei Brasil
Francielle Arruda Rampelotte

Cristina Klipp de Oliveira (Coord. Grad./DAD)
Roseli A. Rocha Moterle (Coord. Pós/Ext.)
Aline Cassol Daga
Aline Pimentel
Carmelita Schulze
Daniela Siqueira de Menezes
Delma Cristiane Morari
Eliete de Oliveira Costa
Eloísa Machado Seemann
Flavia Lumi Matuzawa
Geovania Japiassu Martins
Isabel Zoldan da Veiga Rambo
João Marcos de Souza Alves
Leandro Romanó Bamberg
Lygia Pereira
Lis Airê Fogolari
Luiz Henrique Milani Queriquelli
Marcelo Tavares de Souza Campos
Mariana Aparecida dos Santos
Marina Melhado Gomes da Silva
Marina Cabeda Egger Moellwald
Mirian Elizabet Hahmeyer Collares Elpo
Pâmella Rocha Flores da Silva
Rafael da Cunha Lara
Roberta de Fátima Martins
Roseli Aparecida Rocha Moterle
Sabrina Bleicher
Verônica Ribas Cúrcio

Reconhecimento de Curso

Acessibilidade

Multimídia

Lamuniê Souza (Coord.)
Clair Maria Cardoso
Daniel Lucas de Medeiros
Jaliza Thizon de Bona
Guilherme Henrique Koerich
Josiane Leal
Marília Locks Fernandes

Gerência Administrativa e
Financeira
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Ana Luise Wehrle
Anderson Zandré Prudêncio
Daniel Contessa Lisboa
Naiara Jeremias da Rocha
Rafael Bourdot Back
Thais Helena Bonetti
Valmir Venício Inácio

Gerência de Ensino, Pesquisa e
Extensão
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Elaboração de Projeto

Maria de Fátima Martins

Extensão

Maria Cristina Veit (Coord.)

Pesquisa

Daniela E. M. Will (Coord. PUIP, PUIC, PIBIC)
Mauro Faccioni Filho (Coord. Nuvem)

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Biblioteca

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Paula Sanhudo da Silva
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Gestão Docente e Discente

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Capacitação e Assessoria ao
Docente

Alessandra de Oliveira (Assessoria)
Adriana Silveira
Alexandre Wagner da Rocha
Elaine Cristiane Surian (Capacitação)
Elizete De Marco
Fabiana Pereira
Iris de Souza Barros
Juliana Cardoso Esmeraldino
Maria Lina Moratelli Prado
Simone Zigunovas

Tutoria e Suporte

Anderson da Silveira (Núcleo Comunicação)
Claudia N. Nascimento (Núcleo Norte-

Nordeste)

Maria Eugênia F. Celeghin (Núcleo Pólos)
Andreza Talles Cascais
Daniela Cassol Peres
Débora Cristina Silveira
Ednéia Araujo Alberto (Núcleo Sudeste)
Francine Cardoso da Silva
Janaina Conceição (Núcleo Sul)
Joice de Castro Peres
Karla F. Wisniewski Desengrini
Kelin Buss
Liana Ferreira
Luiz Antônio Pires
Maria Aparecida Teixeira
Mayara de Oliveira Bastos
Michael Mattar

Vanessa de Andrade Manoel (Coord.)
Letícia Regiane Da Silva Tobal
Mariella Gloria Rodrigues
Vanesa Montagna

Avaliação da aprendizagem

Portal e Comunicação

Catia Melissa Silveira Rodrigues
Andreia Drewes
Luiz Felipe Buchmann Figueiredo
Rafael Pessi

Gerência de Produção

Arthur Emmanuel F. Silveira (Gerente)
Francini Ferreira Dias

Design Visual

Pedro Paulo Alves Teixeira (Coord.)
Alberto Regis Elias
Alex Sandro Xavier
Anne Cristyne Pereira
Cristiano Neri Gonçalves Ribeiro
Daiana Ferreira Cassanego
Davi Pieper
Diogo Rafael da Silva
Edison Rodrigo Valim
Fernanda Fernandes
Frederico Trilha
Jordana Paula Schulka
Marcelo Neri da Silva
Nelson Rosa
Noemia Souza Mesquita
Oberdan Porto Leal Piantino
Sérgio Giron (Coord.)
Dandara Lemos Reynaldo
Cleber Magri
Fernando Gustav Soares Lima
Josué Lange

Claudia Gabriela Dreher
Jaqueline Cardozo Polla
Nágila Cristina Hinckel
Sabrina Paula Soares Scaranto
Thayanny Aparecida B. da Conceição

Conferência (e-OLA)

Gerência de Logística

Marcelo Bittencourt (Coord.)

Jeferson Cassiano A. da Costa (Gerente)

Logísitca de Materiais

Carlos Eduardo D. da Silva (Coord.)
Abraao do Nascimento Germano
Bruna Maciel
Fernando Sardão da Silva
Fylippy Margino dos Santos
Guilherme Lentz
Marlon Eliseu Pereira
Pablo Varela da Silveira
Rubens Amorim
Yslann David Melo Cordeiro

Avaliações Presenciais

Graciele M. Lindenmayr (Coord.)
Ana Paula de Andrade
Angelica Cristina Gollo
Cristilaine Medeiros
Daiana Cristina Bortolotti
Delano Pinheiro Gomes
Edson Martins Rosa Junior
Fernando Steimbach
Fernando Oliveira Santos
Lisdeise Nunes Felipe
Marcelo Ramos
Marcio Ventura
Osni Jose Seidler Junior
Thais Bortolotti

Gerência de Marketing

Eliza B. Dallanhol Locks (Gerente)

Relacionamento com o Mercado
Alvaro José Souto
Relacionamento com Polos
Presenciais
Alex Fabiano Wehrle (Coord.)
Jeferson Pandolfo

Carla Fabiana Feltrin Raimundo (Coord.)
Bruno Augusto Zunino
Gabriel Barbosa

Produção Industrial

Gerência Serviço de Atenção
Integral ao Acadêmico
Maria Isabel Aragon (Gerente)
Ana Paula Batista Detóni
André Luiz Portes
Carolina Dias Damasceno
Cleide Inácio Goulart Seeman
Denise Fernandes
Francielle Fernandes
Holdrin Milet Brandão
Jenniffer Camargo
Jessica da Silva Bruchado
Jonatas Collaço de Souza
Juliana Cardoso da Silva
Juliana Elen Tizian
Kamilla Rosa
Mariana Souza
Marilene Fátima Capeleto
Maurício dos Santos Augusto
Maycon de Sousa Candido
Monique Napoli Ribeiro
Priscilla Geovana Pagani
Sabrina Mari Kawano Gonçalves
Scheila Cristina Martins
Taize Muller
Tatiane Crestani Trentin
Lucésia Pereira

História da Arte
Livro didático
Design instrucional
Gabriele Greggersen
1ª edição revista

Palhoça
UnisulVirtual
2011
Copyright © UnisulVirtual 2011
Nenhuma parte desta publicação pode ser reproduzida por qualquer meio sem a prévia autorização desta instituição.

Edição – Livro Didático
Professor Conteudista
Lucésia Pereira
Design Instrucional
Gabriele Greggersen
Projeto Gráfico e Capa
Equipe UnisulVirtual
Diagramação
Anne Cristyne Pereira
Noemia Mesquita (1ª Ed. Revista)
Revisão
B2B
Foco (1ª Ed. Revista)
ISBN
978-85-7817-341-8

709
P49	

Pereira, Lucésia
História da arte : livro didático / Lucésia Pereira ; design instrucional
Gabriele Greggersen. – 1. ed. rev. – Palhoça: UnisulVirtual, 2011.
166 p. : il. ; 28 cm.
Inclui bibliografia.
ISBN 978-85-7817-341-8
1. História da Arte. 2. Arte moderna. I. Greggersen, Gabriele. II. Título.

Ficha catalográfica elaborada pela Biblioteca Universitária da Unisul
Sumário
Apresentação. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7
Palavras da professora. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9
Plano de estudo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11
UNIDADE 1 - Arte e estética. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15
UNIDADE 2 - A arte nas sociedades tradicionais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37
UNIDADE 3 - A arte nas sociedades modernas. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 79
UNIDADE 4 - Arte moderna e contemporânea. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 111
Para concluir o estudo. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 149
Referências. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 151
Sobre o professor conteudista. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 159
Respostas e comentários das atividades de autoavaliação. . . . . . . . . . . . . . 161
Biblioteca Virtual. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 165
Apresentação
Este livro didático corresponde à disciplina História da Arte.
O material foi elaborado visando a uma aprendizagem autônoma
e aborda conteúdos especialmente selecionados e relacionados
à sua área de formação. Ao adotar uma linguagem didática
e dialógica, objetivamos facilitar seu estudo a distância,
proporcionando condições favoráveis às múltiplas interações e a
um aprendizado contextualizado e eficaz.
Lembre-se que sua caminhada, nesta disciplina, será
acompanhada e monitorada constantemente pelo Sistema
Tutorial da UnisulVirtual, por isso a “distância” fica caracterizada
somente na modalidade de ensino que você optou para sua
formação, pois na relação de aprendizagem professores e
instituição estarão sempre conectados com você.
Então, sempre que sentir necessidade entre em contato; você tem
à disposição diversas ferramentas e canais de acesso tais como:
telefone, e-mail e o Espaço Unisul Virtual de Aprendizagem,
que é o canal mais recomendado, pois tudo o que for enviado e
recebido fica registrado para seu maior controle e comodidade.
Nossa equipe técnica e pedagógica terá o maior prazer em lhe
atender, pois sua aprendizagem é o nosso principal objetivo.
Bom estudo e sucesso!
Equipe UnisulVirtual.

7
Palavras da professora
Caro(a) aluno(a),
Seja bem-vindo(a) à disciplina História da Arte!
Apesar de vivermos rodeados por manifestações artísticas, a
discussão sobre a arte é sempre um assunto inquietante. Desde
a antiguidade, os juízos sobre a arte oscilam, ora vista como
coisa fútil, ora como algo sublime e intangível. Falar sobre arte
é sempre andar num terreno movediço.
Neste livro, focalizaremos especialmente as artes visuais,
como a pintura, buscando contribuir com uma reflexão mais
crítica sobre o seu sistema de significados. Entendemos que,
atualmente, no embalo dos novos meios de comunicação, como
a internet, a circulação de imagens (sejam ou não artísticas)
nunca esteve tão acessível a tão grande número de pessoas.
Paradoxalmente, é fato que boa parte dos indivíduos não está
preparada para efetuar uma recepção crítica destes artefatos
culturais. Mesmo ouvindo repetidamente que “uma imagem
vale mais do que mil palavras”, elas são vistas como algo
complementar ou meramente ilustrativo dos textos escritos.
Nos tópicos, você poderá conhecer e analisar obras artísticas
de diversos tempos históricos. Com isto, objetivamos propiciar
a você uma maior familiaridade com os objetos artísticos que
marcaram nossa cultura.
As imagens incluídas neste estudo são apenas uma pequena
amostra de um “universo” que você poderá continuar
explorando. Além da satisfação que isto pode proporcionar,
você descobrirá nele um caminho de conhecimento, uma vez
que acreditamos que, tanto no passado quanto no presente, a
arte auxilia o homem a compreender o seu lugar no mundo.
Universidade do Sul de Santa Catarina

Lembramos que, neste material impresso, as imagens estão
em preto e branco. Para não perder esta importante parte da
criação artística, que reside justamente no uso da cor, consulte
simultaneamente a versão on-line do material, em que as imagens
estão disponibilizadas em cores.
Por fim, alertamos que você não vai encontrar aqui afirmações
derradeiras ou juízos consolidados sobre a arte e seus problemas.
O que você vai ler é apenas uma proposta de abordagem entre
muitas possíveis.
Desejamos a você um bom percurso de estudos.
Professora Lucésia Pereira.

10
Plano de estudo
O plano de estudos visa a orientá-lo no desenvolvimento da
disciplina. Ele possui elementos que o ajudarão a conhecer o
contexto da disciplina e a organizar o seu tempo de estudos.
O processo de ensino e aprendizagem na UnisulVirtual leva
em conta instrumentos que se articulam e se complementam,
portanto, a construção de competências se dá sobre a
articulação de metodologias e por meio das diversas formas de
ação/mediação.
São elementos desse processo:
„„

o livro didático;

„„

o Espaço UnisulVirtual de Aprendizagem (EVA);

„„

„„

as atividades de avaliação (a distância, presenciais e de
autoavaliação);
o Sistema Tutorial.

Ementa
Estética: etimologia e transformações históricas do conceito.
Funções da arte em diferentes contextos sócio-históricos.
Natureza e cultura nas concepções artísticas. Arte na
antiguidade e na modernidade: diferenças essenciais na
produção e na recepção. Manifestações de vanguarda e as
influências exercidas nas artes brasileiras contemporâneas.
Arte e tecnologia. Projeto de Prática da disciplina.
Universidade do Sul de Santa Catarina

Objetivos
Geral:
Fomentar a reflexão crítica sobre o papel da arte em diferentes
contextos históricos.

Específicos:
„„
„„

„„

Estimular a visão da arte como expressão da cultura.
Conhecer e identificar as diversas manifestações
artísticas.
Relacionar os principais movimentos artísticos ao
contexto histórico de sua produção.

Carga Horária
A carga horária total da disciplina é 60 horas-aula.

Conteúdo programático/objetivos
Veja, a seguir, as unidades que compõem o livro didático desta
disciplina e os seus respectivos objetivos. Estes se referem aos
resultados que você deverá alcançar ao final de uma etapa de
estudo. Os objetivos de cada unidade definem o conjunto de
conhecimentos que você deverá possuir para o desenvolvimento
de habilidades e competências necessárias à sua formação.
Unidades de estudo: 4

12
História da Arte

Unidade 1 – Arte e estética
Nesta unidade, vamos tratar da arte e seus problemas, abordando
conceitos, significados e a institucionalização dos objetos
artísticos na cultura.

Unidade 2 – A arte nas sociedades tradicionais
Nesta unidade, abordaremos a arte desde a Pré-história até a
Idade Média. O intuito é que você perceba que ela teve diferentes
significados ao longo do tempo: como arte mágica para os povos
caçadores e coletores no período Paleolítico; como instrumento
de manutenção das instituições sociais no Egito antigo ou ainda a
serviço dos interesses da igreja na Idade Média.

Unidade 3 – A arte nas sociedades modernas
Esta etapa compreende o estudo da arte do Renascimento
até o início do século XIX, quando, então, descobriram-se as
profundas inovações trazidas pelos pintores renascentistas, entre
elas a retomada dos ideais clássicos de beleza e a introdução da
noção de perspectiva.

Unidade 4 – Arte moderna e contemporânea
Nesta unidade, abordaremos a mudança que ocorre no papel social
da arte e do artista a partir da arte moderna e contemporânea.
Discutiremos como o capitalismo, a Revolução Industrial e a
cultura pós-moderna estarão relacionados a estas mudanças.

13
Universidade do Sul de Santa Catarina

Agenda de atividades/Cronograma
„„

„„

„„

Verifique com atenção o EVA, organize-se para acessar
periodicamente a sala da disciplina. O sucesso nos seus
estudos depende da priorização do tempo para a leitura,
da realização de análises e sínteses do conteúdo e da
interação com os seus colegas e professor.
Não perca os prazos das atividades. Registre no espaço
a seguir as datas com base no cronograma da disciplina
disponibilizado no EVA.
Use o quadro para agendar e programar as atividades
relativas ao desenvolvimento da disciplina.

Atividades obrigatórias

Demais atividades (registro pessoal)

14
unidade 1

Arte e estética
Objetivos de aprendizagem
„„

Estudar os diferentes conceitos de estética.

„„

Identificar e refletir criticamente sobre o significado
da arte nos diferentes contextos históricos.

„„

Conhecer e discutir as principais propostas
metodológicas para o estudo da história da arte.

Seções de estudo
Seção 1

A estética

Seção 2

O que é arte?

Seção 3

A história da arte

1
Universidade do Sul de Santa Catarina

Para início de estudo
De acordo com os objetivos dessa unidade, o desafio principal
é fazer um apanhado de três campos de estudo relacionados: à
estética, à arte e à história da arte. Como se trata de um livro
para um curso de Filosofia, achamos importante introduzir o
assunto com a apresentação de algumas ideias filosóficas sobre
a estética. Você notará que pensadores como Kant e Nietzsche
extrapolaram a dimensão dos próprios objetos artísticos e em
suas reflexões, encarando a estética como fundamento do
conhecimento e da condição humana.
Estudará ainda que o objeto desta reflexão, a estética, tem suas
raízes no pensamento de Platão (aprox. 427 a.C. / 347 a.C.),
vindo a assumir o sentido moderno apenas no século XVIII.
E que, de Platão aos dias atuais, a sua discussão resiste à mera
apreciação e se constitui num assunto inquietante e desafiador.
Seja numa abordagem ancorada no sentimento estético, no belo
como perfeição, na arte como expressão da subjetividade do
artista ou como pulsão primitiva, não é possível fazer qualquer
forma de generalização a este respeito.
Você verá também que, em nosso meio, não se tem um conceito
seguro sobre o que é arte e tampouco sobre os temas a ela
relacionados. Por fim, discutiremos alguns princípios e limites
que regem a história da arte.
Bom estudo!

16
História da Arte

Seção 1 – A estética
Em Platão, o fundamento da arte repousava sobre a ideia de mimese.
Como sugere Lacoste (1986), para se compreender o significado
de arte como mimese faz-se necessário entender a concepção grega
de ser e verdade. Segundo esta concepção, toda arte cria apenas
simulacros das coisas, ou seja, mostra as coisas como elas aparentam
ser e não como elas são na verdade. Assim, quando afirmamos que
uma pedra que está diante de nós é uma pedra, reconhecemos nela
a sua essência, ou a ideia da pedra, que, por sua vez, é permanente e
não sujeita às transformações do tempo.
A apresentação do mundo físico, elaborada pelos pintores (Platão
inclui também os poetas e sofistas), cria apenas uma imitação
distante em relação a esta essência, o ser. Esta imitação da imitação
era considerada pelo filósosfo inferior àquela realizada pelos
artesãos que produzem objetos concretos a partir da própria Ideia.
Platão entendia que toda a criação era uma imitação, inclusive
a criação do mundo era imitação do mundo das ideias. Ao
contextualizar a posição de Platão, Lacoste (1986) mostra que
ela não deixava de ser uma atitude crítica diante das mudanças
artísticas que se operavam na Grécia naquele momento. Ela
se dirigia tanto para o naturalismo crescente alcançado na
estatuaria grega, quanto para a skiagraphia (modernamente
chamada de trompe- l´oeil). Essa técnica era usada pelos
pintores para criar no expectador a ilusão de profundidade.

Figura 1.1 – Pintura mural da Casa dos Vettii em Pompeia, cerca de 30 a.C.
Fonte: Marshall (1999).

Unidade 1

17
Universidade do Sul de Santa Catarina

Observe, na figura, os falsos veios do mármore e os
elementos arquitetônicos ilusórios.

Ao reconhecer o fascínio que este mundo de ilusão despertava,
Platão afirmava que a missão da filosofia era dissipar este poder
exercido sobre a sensibilidade humana, pois a verdadeira beleza
estava na apreensão intelectual das essências. A arte de
imitação se constituía num obstáculo para isto, já que permanecia
no mundo sensível.
Durante a Idade Média e início da modernidade, não houve
grandes abalos sobre o pensamento elaborado sobre a estética
na antiguidade. A contribuição mais inovadora surge no século
XVIII, quando a estética assume sua acepção moderna. Foi
também nesta época que o termo aparece pela primeira vez na
obra do alemão Alexandre Baumgarten (1714-1762).
Tomada do grego, no qual o sentido original se relacionava à
sensação, a estética é definida em Baumgarten como uma ciência
do sensível. Do ponto de vista da filosofia, a contribuição de
Baumgarten reside na forma como ele encara o conhecimento
perceptivo, ou seja, como um caminho para se alcançar a verdade,
elevando, desta forma, o sensível ao status de um saber elevado.
Mas, em que consiste esta mudança fundamental no
entendimento da estética antiga e moderna?

De acordo com Luc Ferry (1994), a significação desta mudança
está no fato de que, na antiguidade, a obra era pensada como um
microcosmo e que, portanto, fora dela (no macrocosmo) há um
critério objetivo do Belo. Já para os modernos, destacadamente
a partir de Kant, o sentido da obra está atrelado à subjetividade,
o Belo é visto como um estado da mente e não mais um objeto
ideal ou um conceito puro.
Ao contrário de Platão, a beleza, para Kant, não estava no mundo
ideal ou tampouco internamente nas coisas. Ela é vista como algo
interno dos seres humanos, um espaço de conciliação harmônica
entre o espírito e a natureza. Em Crítica da faculdade do juízo
18
História da Arte

de 1790, Kant define a estética como a capacidade de fruição
relacionada a outras capacidades humanas. Para exercê-la, o
sujeito não necessitaria de nenhuma faculdade excepcional, todos os
indivíduos teriam a priori condições de captar e experimentar o belo.
Para Kant, a estética é um estado de vida de direito
próprio, uma capacidade de fruição intimamente
relacionada a outras capacidades cognitivas do ser
humano, sem depender, necessariamente, da aquisição
de conhecimento, ou seja: para contemplar o belo, o
sujeito não se vale das determinações das capacidades
cognitivas das faculdades do conhecimento. (VALE, 2005).

Diferentemente da subjetividade de Kant, as formulações de
Georg Wilhelm Friedrich Hegel (1770-1831) sobre a estética
vincularão o belo artístico à manifestação do espírito. O
conceito de espírito foi desenvolvido por Hegel como “a
comunidade de homens que toma consciência de si mesma na
História” (LACOSTE 1986, p. 43).
Desta forma, em Hegel a arte toma o Belo como algo
que existe na realidade em obras reais e históricas.

Para este filósofo, as obras artísticas não são intemporais, ou
mera imitação da natureza, como em Platão, pois representam
um momento do espírito na História. Diz Lacoste (1986, p. 44),
a respeito de Hegel, que: “A arte nesse sentido, é uma das vias
pelas quais o homem enquanto espírito se separa da natureza”.
Uma vez que o espírito é superior à natureza, o Belo artístico
seria também superior ao belo natural.
Como produto do espírito, a arte não tem objetivo de dar prazer,
ela é um conteúdo em busca da forma, um interior que procura
exteriorizar-se, o belo é a ideia concretizada no âmbito sensível.
Já na França, por volta desta mesma época, escritores, músicos e
pintores formavam pequenos grupos, na maioria informais, para
discutir questões relativas à arte e ao gosto. Cabe salientar que
a Europa (e o mundo em geral) experimentam, neste período,
uma intensa transformação, tanto das estruturas políticas, quanto
econômicas e sociais.
Unidade 1

19
Universidade do Sul de Santa Catarina

Os artistas presenciaram o surgimento de inovações técnicas, entre
elas o advento da fotografia, que, na sua rápida penetração no
meio social, especialmente a partir da segunda metade do século
XIX, retira da arte a exclusividade de reproduzir a realidade.
O relevante nestas associações de interesses é que, além de revelar
o sentimento dos artistas ante este contexto de mudanças, elas
abriam espaço para a afirmação de posições contrárias àquelas
estabelecidas pelos grupos dominantes, também no que se refere
à arte e seus saberes. Nesse sentido, são ilustrativos os textos do
pintor francês Eugene Delacroix (1798-1863).

Figura 1.2 - Delacroix, 1832
Fonte: Salavisa [2011?].

Consta que, no espaço de alguns meses, Delacroix realiza vários
milhares de aquarelas, soltas ou às vezes reunidas em cadernos
(de sete só se conservam quatro). Registrados em grafite - de
maneira a precisar aqui uma indicação de cor, ali uma impressão
que deseja recordar -, estes desenhos são executados em aquarela
a partir de um esboço preparatório a lápis negro.
Seja na forma de diários íntimos, carta ou textos publicados em
jornais, seus registros não se restringiam aos aspectos técnicos
da pintura, como era usual, mas mostravam seu posicionamento
diante de questões estéticas fundamentais, as quais até então
eram discutidas apenas por filósofos e críticos.

20
História da Arte

E qual é o fundamento da arte para Delacroix?

Em Delacroix, a pintura não é mais algo que sinaliza um objeto
do mundo exterior e sim a expressão da emoção individual do
artista, da sua imaginação criadora. No gênio artístico estaria
todo o fundamento da beleza, pois a natureza representa apenas
a base do trabalho da criação. Os novos arranjos criados pelas
necessidades interiores do artista vão superá-la pela originalidade.
Assim como a descoberta da fotografia tirou da arte a função de
documentar a realidade, os estudos sobre a cor e o seu potencial
de provocar emoções foram também fatores decisivos nesta nova
estética, cujos princípios substituirão a imitação da natureza pela
expressão do artista.
Outra contribuição fundamental à teoria da estética veio do
filósofo alemão Friedrich Nietzsche (1844-1900). Em Nietzsche,
a estética se manifesta em dois princípios básicos, ou duas pulsões
artísticas que são equivalentes a dois estados psicológicos, o
apolíneo e o dionisíaco.
Teremos ganho muito para a ciência estética ao
chegarmos, não só à compreensão lógica, mas também à
imediata segurança da opinião de que o progresso da arte
está ligado à duplicidade do Apolínico e do Dionisíaco [...].
(NIETZCHE, 2006, p. 34).

Baseado nas figuras
míticas dos deuses Apolo e
Dionísio.

O apolíneo está relacionado à medida, à individualidade e à
consciência e o dionisíaco à embriaguez, ao descomedimento e à
reconciliação do homem com a natureza. A arte não seria então
uma imitação (Platão), tampouco expressão da individualidade
ou emoção como propôs Delacroix, mas a identificação primária
com a natureza feita pelo artista (LACOSTE, 1986) e significa:
A identificação primária com a Natureza, que nos é
conduzida através do transe dionisíaco, é a aproximação
do homem da sua acepção mais pura, às suas
potencialidades diversas, a seu querer que é um borbulhar
incessante – no eterno dilema, na eterna ambigüidade
que é o homem ante o seu querer, o ser e o não-ser, o
nascimento e a morte, o homem frente a seu destino, o
homem diante de si mesmo. (DOREA JUNIOR, [200-]).
Unidade 1

21
Universidade do Sul de Santa Catarina

Figura 1.3 - Dionísio e os sátiros (Interior de um vaso), 480 a.C.
Fonte: Dionísio...[2011?].

De acordo com Nietzsche, a tragédia grega era a arte por
excelência desta comunhão, pois fazia a reconciliação entre as
duas forças. Encenada na Grécia pré-socrática, a tragédia grega
era uma apresentação teatral que fundia os diálogos com os
cantos corais, de modo que estes seriam o veículo pelo qual a
emoção dionisíaca se descarregava.

Figura 1.4 - Máscara do teatro grego antigo
Fonte: Retalhos...(2011).

Na época de Sócrates, a tragédia deixa de ser encenada neste
formato, quando a música é substituída pelo diálogo. Segundo
Nietzsche, a rejeição do mito pela aniquilação do espírito da
música levou à atrofia dos instintos vitais e tornou o homem
moderno incapaz de viver a energia desta pulsão.
22
História da Arte

O problema levantado por Nietzsche traz em seu bojo uma
questão mais ampla do que apenas a discussão da estética em si
e é apontado por muitos estudiosos de sua obra. Ele questiona
a supremacia da filosofia racionalista e do espírito crítico que
se desenvolvem na cultura grega a partir de Sócrates, e a sua
influência na cultura ocidental, que impregna de desconfiança
as formas de conhecimento que provêm do irracional ou do
inconsciente do homem.
Nesta breve explanação sobre o pensamento estético, esperamos
que tenha sido possível perceber que o conceito de estética não é
conclusivo e sim um fenômeno histórico, e, como tal, não é uma
verdade acabada, mas sempre em elaboração.

Seção 2 – O que é arte?
Certamente, você já deve ter se deparado com esta pergunta ou,
no mínimo, presenciado algum debate cuja questão central era
esta. É presumível que, neste momento, não tenha surgido uma
resposta clara e objetiva, pois o tema não é simples. Como na
estética, não existe um consenso relativo ao que venha a ser a arte.
De acordo com Jorge Coli (1981, p.11),
[...] se buscarmos uma resposta clara e definitiva,
decepcionamo-nos: elas são divergentes, contraditórias,
além de freqüentemente se pretenderem exclusivas,
propondo-se como solução única.

Veja alguns exemplos, dentro das inúmeras concepções disponíveis:

Unidade 1

23
Universidade do Sul de Santa Catarina

Arte é uma interpretação da vida (realidade). Vincula-se
a fatores religiosos (pirâmides egípcias ou esculturas
da Grécia clássica), políticos (autoritarismo de Stálin
na URSS), sociais (predomínio da burguesia no
Romantismo) e simbólicos (evangelistas associados
a animais na decoração das igrejas medievais)
(D’AMBROSIO, 2000).
Arte 1  [Do lat. arte.]S. f. 1. Capacidade que tem o ser
humano de pôr em prática uma idéia, valendo-se da
faculdade de dominar a matéria: A arte de usar o fogo
surgiu nos primórdios da civilização. 2. A utilização de
tal capacidade, com vistas a um resultado que pode
ser obtido por meios diferentes: a arte da medicina;
a arte da caça; a arte militar; a arte de cozinhar; Liceu
de Artes e Ofícios. 3. Atividade que supõe a criação de
sensações ou de estados de espírito de caráter estético,
carregados de vivência pessoal e profunda, podendo
suscitar em outrem o desejo de prolongamento ou
renovação: uma obra de arte; as artes visuais; arte
religiosa; arte popular; a arte da poesia; a arte musica
(DICIONÁRIO AURÉLIO, 2010).
A palavra arte é uma derivação da palavra latina “ars”
ou “artis”, correspondente ao verbete grego “tékne”.
O filósofo Aristóteles se referia a palavra arte como
“póiesis”, cujo significado era semelhante a tékne.
A arte, no sentido amplo, significa o meio de fazer
ou produzir alguma coisa, sabendo que os termos
tékne e póiesis se traduzem em criação, fabricação ou
produção de algo. (LINDOMAR, 2007).

Alguns estudiosos vão além e afirmam que a arte sequer pode ser
compreendida pelo discurso racional, pois as palavras reduzem
seu significado, que somente pode ser apreendido pelos sentidos.
O problema que esta visão nos coloca é que normalmente não
exercitamos nossa compreensão das coisas pelos sentidos e
necessariamente temos de falar da arte por meio da palavra.
Se por um lado é difícil conceituar a arte, por outro não se
pode negar que vivemos num mundo rodeado por ela. Olhe
atentamente ao seu redor e você perceberá que ela está presente
cotidianamente na música, teatro, dança, arquitetura, literatura,
artes plásticas...

24
História da Arte

Às vezes vista como terreno das coisas fúteis, outras como algo
sublime e intangível, a arte comporta todos os objetos aos quais
se atribui um conteúdo estético. Sabemos também que ela
provoca o sentimento de admiração por estar relacionada ao belo.
É por meio da arte que o homem, desde os tempos mais remotos,
procura dar forma e função à matéria. Segundo Ernst Fischer
(2002, p. 57), “A arte, capacita o homem para compreender a
realidade e o ajuda não só a suportá-la como a transformá-la”.
Desta maneira, todo trabalho do artista e, por consequência, toda
imagem artística representa a apreensão da realidade partindo
da criação de formas sensíveis.

O termo “imagem
artística” se refere a todo
material visual feito para
funcionar esteticamente.

Figura 1.5 – Vaso neolítico
Fonte: Gomez (2011).

A vivência pessoal do artista é transmitida pelo modo
como ele organiza os dados sensíveis. No caso das
artes visuais, são eles: espaço, peso, volume, textura,
cor e luz. Os valores estéticos são percebidos pela
emoção e pela intuição e estão condicionados ao
sujeito receptivo. Para alguns estudiosos, isto se dá por
meio dos elementos simbólicos que realizam o contato
do indivíduo com seu mundo social.

Lemos estes significados por meio do contexto, da forma e da nossa
bagagem cognitiva que adquirimos pela nossa experiência social
de mundo (FREITAS, 2004). Portanto, o ato de olhar a arte é
individual e está imbricado da cultura e das experiências de cada um.

Unidade 1

25
Universidade do Sul de Santa Catarina

Ao olharmos uma pintura, escultura ou outro objeto artístico
qualquer, logo sentimos algo que nos leva a gostar ou não do
que vemos. Há ainda que considerar a tendência de que, em
geral, gostamos daquilo que conhecemos e estranhamos o que
desconhecemos. Esse fato que explicaria em parte a rejeição que
habitualmente recai sobre as vanguardas artísticas, assunto que
retomaremos mais adiante.
Porém, é importante distinguir as questões relativas ao gosto
pessoal e à linguagem artística. Ou seja, o gosto pessoal é definido
pelas afinidades pessoais, mas podemos definir outros critérios de
avaliação para não reduzir tudo a uma preferência subjetiva.
Estes critérios dizem respeito ao conteúdo expressivo, ao modo
como o artista ordenou formalmente a obra e, por meio desta
ordenação, expôs seus pensamentos e emoções. Fayga Ostrower
(1983, p.62), ao abordar a questão, definiu os limites destes dois
modos de ver a arte:
[...] se o gosto condiciona o convívio de cada um com as
obras de arte, não constitui, em si, critério de avaliação da
obra. Necessariamente, o gosto é uma reação individual e
subjetiva. Já os critérios de avaliação devem ser objetivos,
abrangendo qualidades válidas para todos.

Os critérios desta valoração são definidos dentro de cada grupo
social. Isto significa dizer que não existe um objeto artístico,
se não for reconhecido como tal, pelos sujeitos e grupos sociais
de uma determinada cultura. É dentro do espaço da cultura,
portanto, que se articulam os discursos e instrumentos de
legitimação, tanto da arte, quanto dos objetos artísticos.
Mas em nossa cultura, quem determina o que é uma
obra de arte?

No mundo ocidental, os discursos e modelos hierárquicos provêm
de três instituições básicas. De acordo com Ivan Gaskell (1992),
primeiramente, temos negociantes, leiloeiros e colecionadores; em
segundo, os diretores de museus e galerias públicas; e, por último,
historiadores da arte, acadêmicos, editores e críticos. Além de
26
História da Arte

determinarem o status de um objeto artístico, a história e a crítica
da arte criaram a ideia de estilo ou correntes. A recorrência
de constantes em uma obra definiria o estilo, tanto nas artes
plásticas, como na literatura, na música, na arquitetura etc.
O estilo envolve a concepção e execução da obra e pode ser
adotado na esfera individual ou coletiva. Às vezes, o estilo pode
ser visto como cenário de toda uma época. O estilo nem sempre se
define por uma ruptura brusca, e o desenvolvimento de aspectos
novos, em geral, ocorre sobre o que já foi feito no passado.
Veja a seguir uma imagem representativa do estilo Art Noveau,
que se desenvolve entre 1890 e a Primeira Guerra Mundial (19141918) na Europa e nos Estados Unidos, e de lá se disseminando
para o resto do mundo. Sua influência foi marcante no design, nas
artes gráficas e arquitetura.

Figura 1.6 – Alphonse Mucha, Salomé, 1897. Obra representativa do estilo Art Noveau
Fonte: My Clothing (2009).

É também nos meios oficiais que se formaram os juízos de
valor que determinam o limite oficial entre os objetos artísticos
e não artísticos. Para alguns, um objeto pode ser considerado
artístico a partir da análise dos aspectos técnicos de sua execução:
composição, forma, equilíbrio etc. Para outros, o estatuto de um
objeto artístico não se resume a questões técnicas.

Unidade 1

27
Universidade do Sul de Santa Catarina

Para você compreender melhor o alcance destas
colocações, tome como exemplo a situação da arte
indígena brasileira que, mesmo tendo reconhecido
seu conteúdo estético, permanece numa condição
subalterna no cenário da produção artística. Isto ocorre
porque o nosso modo de ver a arte foi construído com
base na colonização portuguesa, tendo sido marcado,
sobretudo, pelos valores europeus, cujos critérios estão
associados à beleza e à criatividade.

No caso da arte indígena, não há separação entre a questão
utilitária e a artística. Desta forma, defendem alguns
autores (PROENÇA, 2003, p. 191) que “a arte indígena é
mais representativa das tradições da comunidade do que da
personalidade do indivíduo que a faz”.
Na arte indígena, a representação sociocultural do grupo é
priorizada e aparece nos artefatos produzidos. Da pintura
corporal até a cestaria e as panelas, esta arte está mesclada no
universo da vida tribal, sendo o ornamento parte essencial de
tudo o que é fabricado, contudo, não existe (ou até então não se
tem notícia de) nenhuma palavra nas línguas indígenas com o
significado que tem em nossa sociedade.
Ao olharmos o percurso da arte em diferentes
momentos históricos, veremos que há fatores que
levam tanto ao apreço quanto ao esquecimento
de um estilo ou gosto. Ao sabor destas mudanças,
recuperam-se obras, artistas e estilos do passado.
Estas oscilações do gosto são também decorrentes de
fatores diversos como os “socioculturais” e até mesmo
fatos como as descobertas arqueológicas.

A arte medieval foi
reabilitada no século XIX.

28

Este fluxo pode recair sobre um artista específico, um
movimento ou, até mesmo, o conjunto de obras de uma época.
Um exemplo, entre tantos outros, ocorreu no Renascimento
com relação à arte medieval. Grosso modo, podemos dizer que
a arte medieval foi desqualificada porque estava associada às
estruturas da Idade Média.
História da Arte

Figura 1.7 - Retábulo Medieval, de Ambrogio Lorenzetti
Fonte: Fletcher (2011).

No Renascimento, o ambiente cultural e artístico experimentava
uma intensa fermentação. Os artistas eram valorizados pelas suas
realizações e alcançaram uma notoriedade até então inédita no
meio social, diferentemente da Idade Média, quando as obras
eram executadas por artistas anônimos.

Isto explica, em parte, o desinteresse que os
renascentistas nutririam pela arte medieval. Entre os
fatores, destacam-se: a falta de liberdade do artista, a
ideia de que a arte era coisa de artesãos, a negação dos
princípios clássicos, como harmonia e proporção...

Unidade 1

Um retábulo é composto de uma
tábua central, onde aparece o santo
a quem se dedica a obra. As tábuas
laterais narram os episódios mais
marcantes da sua vida, em geral
distribuídos em compartimentos,
na parte inferior. Muitas
vezes, também se encontram
representados aqueles que
fizeram a encomenda e emblemas
heráldicos.

29
Universidade do Sul de Santa Catarina

Leon Battista Alberti (Gênova,
18 de fevereiro de 1404 —
Roma, 20 de abril de 1472) foi
um arquiteto e teórico de arte:
um humanista italiano, ao estilo
do ideal renascentista e filósofo
da arquitetura e do urbanismo,
pintor, músico e escultor. Uma
célebre frase sua foi “Uma obra
está completa quando nada
pode ser acrescentado, retirado
ou alterado, a não ser para pior”.

30

Figura 1.8 – São Jerônimo em seu estúdio (1475-76). Antonello da Messina
Fonte: Andrade (2010).

Muitos conhecimentos sobre os princípios clássicos (da Grécia e
Roma antigas) reaparecem no Renascimento europeu, graças ao
trabalho de tradução de humanistas, como Leon Batista Alberti.
O desenvolvimento do pensamento científico esteve a par e
passo com o movimento artístico do Renascimento, o qual pode,
inclusive, ser visto como uma das esferas nas quais as descobertas
científicas se expressaram.
História da Arte

Analise o retábulo medieval e o quadro renascentista
de Antonello da Messina, mostrados nesta seção,
buscando diferenças e semelhanças entre ambos e
registre suas observações nas linhas disponíveis

Você deve ter observado que existem variações iconográficas que
podem ser facilmente notadas entre as imagens, especialmente
o uso da perspectiva na imagem renascentista, o que dá a ela
um aspecto mais natural. Diferente da proposta do retábulo
medieval, cujas figuras são organizadas hierarquicamente, sem
causar ao expectador a sensação de profundidade.
Isto ocorre por causa da (e também) diferentes preocupações
artísticas que marcaram os tempos históricos. A seguir, leia uma
análise sobre obra mostrada de Antonello da Messina e veja
como ela ilustra o intercâmbio de ideias e influências, entre os
artistas da época.

Unidade 1

31
Universidade do Sul de Santa Catarina

Foi São Jerônimo quem, no século IV d.C., traduziu a
bíblia do hebreu e do grego para o latim, sendo este
o idioma vigente na Roma de sua época. Messina o
representou em meio a livros, como um pensador
intelectual humanista. [...] Messina concilia a dimensão
reduzida da obra de arte, freqüente na Escola
Flamenga, com a concepção de amplitude espacial
das composições italianas. Desta forma, ele consegue
nos apresentar, em uma obra de tamanho reduzido, a
idéia de monumentalidade recorrente no classicismo
renascentista. Esta é apenas uma das formas que este
artista encontrou de mesclar tendências provindas do
norte e do sul europeu do século XV e, com isso, traçar
uma linguagem artística muito particular. [...] Por outro
lado, a exatidão no uso da perspectiva linear, que fica
evidente no chão ladrilhado com motivos geométricos,
denuncia o olhar cientificista deste artista italiano.
A luminosidade difusa é outro elemento que nos
remete à arte dos Países Baixos. Através do contraste de
luz e sombra, combinado com a tonalidade quente de
suas cores, Messina nos mostra um ambiente mágico
e acolhedor. Desta mesma forma, o artista dissimula
sua organização simétrica do espaço compositivo,
quebrando em parte a rigidez que uma composição
com tão forte presença de motivos arquitetônicos
deveria ter. (CASTHALIA DIGITAL ART STUDIO, 2006).

Pelas considerações feitas até aqui, você já deve ter notado que
a arte é um assunto complexo, quando tratada no âmbito do
discurso formal. Entretanto, esta condição não deve ser obstáculo
para que nos aproximemos dela. Este é desafio da história da
arte, assunto da próxima seção.

32
História da Arte

Seção 3 – A história da arte
Toda a obra de arte é um sistema de formas, um
organismo. A sua característica essencial é constituída
pelo carácter da necessidade, no sentido de que nada pode
ser alterado ou deslocado, mas tudo deve permanecer
como é. (Heinrich Wolfflin, 1984).

Como tão bem expressa Paul Klee (1971), o termo “História
da Arte”, em geral, designa o estudo das artes visuais como a
pintura e a escultura. O estudo de outras expressões da arte,
como a música, a literatura, a arquitetura ou o teatro, é definido
por uma terminologia mais específica, como a história do teatro,
da música, da literatura...
Qualquer proposta de estudo sobre história da arte é sempre
limitada. A presença da arte e, por conseguinte, dos objetos
artísticos na história, são de tamanha recorrência e diversidade
que é impossível abarcá-los por inteiro. Por isto, dificilmente
alguma proposta de historiar a arte pode pretender a totalidade.
As metodologias para delimitar a especificidade disciplinar da
história da arte começaram a ser esboçadas nos últimos cem anos.
Dentre elas, destacamos duas. A primeira delas privilegia o
formalismo, entendido como o resultado plástico da atividade
produtiva do artista, que é possível pela análise da experiência
formal: linhas, texturas, cores, luzes e volumes.
A segunda, que pode ser designada de social, procura estudar a
arte ou o aparecimento dos objetos artísticos, atrelados ao
contexto histórico de sua produção. Artur Freitas (2004) afirma
que esta perspectiva implica que se faça a releitura de suas
condições de produção e a genealogia de suas recepções: é a
história, enfim, de sua circularidade institucional, bem como da
cadeia de informações e valores gerados a partir da imagem. A
história da arte ajudaria, assim, a identificar as variações dos
estilos, relacionando-os com os aspectos históricos mais gerais de
uma sociedade.

Unidade 1

Dois grandes teóricos
da proposta formalista
são Henrich Wolfflin
1864/1945 e Henri Focillon
1881-1943.

Esta perspectiva tem
como expoentes um dos
autores mais renomados,
Arnold Hauser,
especialmente com a
obra “História social da
arte e da literatura”.
Esta obra teve bastante
destaque nos anos 60/70
do século XX, por causa
da tendência de esquerda
do autor. Veja a referência
completa no saiba mais.

33
Universidade do Sul de Santa Catarina

Portanto, o estudo das obras artísticas pode ser feito
inserindo-as no âmbito da cultura em que foram produzidas,
desde que se admita de antemão que nenhuma elaboração
poderá esgotar o seu significado, pois a linguagem não
esgota o sentido da arte. Reconhecemos, desta forma, que a
sociedade tem influência sobre as sensibilidades artísticas e
que isto afeta o trabalho dos artistas.
Procuramos, nesta unidade, contemplar estas duas instâncias,
porque entendemos que isoladamente ambas as perspectivas
têm limitações: na primeira, temos a primazia das formas
e, na segunda, a negação dos fatos visuais da imagem.
Procurou-se explicitar isto na discussão do tempo histórico,
mas também (dentro dos limites interpretativos) optamos pela
análise do aspecto formal da obra, feita muitas vezes pelo
recurso da comparação.

Síntese
Nesta unidade, foram discutidos alguns princípios gerais que
nortearam o debate sobre a estética, cujo início se deu com
Platão. Procuramos mostrar que, além dos filósofos, os artistas
também manifestaram suas opiniões com relação à estética, à
arte e quanto ao sentido do seu próprio trabalho. Para ilustrar
esta importante etapa da discussão sobre a estética, apresentamos
algumas ideias do pintor francês Eugene Delacroix.
Na continuidade, abordamos a arte como conceito irredutível à
linguagem. Discutimos brevemente o funcionamento do sistema
de arte em nossa cultura, mostrando que ele não comporta todas
as expressões da arte produzida pelo homem, a exemplo do que
ocorre com a arte indígena brasileira.
Por fim, analisamos duas metodologias propostas para a história
da arte e como se instituem os movimentos artísticos, levando em
consideração que a cultura é o espaço no qual eles se desenvolvem.
34
História da Arte

Atividades de autoavaliação
1) No livro A Origem da Tragédia, o filósofo alemão Friedrich Nietzsche
esboça algumas ideias que se tornaram centrais na sua filosofia. Nesta
obra, os deuses gregos Apolo e Dionísio são considerados forças
artísticas que emergem da própria natureza. Faça uma pesquisa em
enciclopédias ou em sites seguros da internet para descrever três traços
do espírito dionisíaco e três do espírito apolíneo.

2) Com base nos dos estudos realizados, explique como se fundamentam
os objetos artísticos em nossa cultura.

Unidade 1

35
Universidade do Sul de Santa Catarina

Saiba mais
Para essa unidade, recomendamos:
HAUSER, Arnold. História Social da Arte e da Literatura.
São Paulo: Martins Fontes, 2000 (mencionada do texto).
Sobre a questão do gosto, leia: FERRY, Luc. Homo aestheticus:
a invenção do gosto na era democrática. São Paulo: Ensaio, 1994.
Sobre a relação do artista com seu meio social, assista ao filme
Modigliani.

Sinopse
Na Paris de 1919, um grupo de artistas plásticos se reúne, com
frequência, num dos cafés do alegre bairro de Montparnasse.
Entre eles, encontram-se nomes como
os de Pablo Picasso, Maurice Utrillo,
Claude Monet, Diego Rivera, Chaim
Soutine, Moise Kisling e Amedeo
Modigliani. Muito brincalhão,
Modigliani chega dançando, sobe
nas mesas, senta-se no colo do
sisudo Picasso, sendo bastante
aplaudido. Embora excelente pintor e
brincalhão, seu temperamento, às vezes
explosivo, faz com que perca grandes
oportunidades, o que o leva a não ter
uma vida financeiramente confortável.
Figura 1.9 - Modigliani
Fonte: MB (2011).

36
unidade 2

A arte nas sociedades
tradicionais
Objetivos de aprendizagem
„„

Desenvolver a habilidade de identificar estilos artísticos
através dos tempos.

„„

Propiciar a discussão e reflexão crítica acerca do
objeto artístico inserido no contexto histórico de sua
produção.

„„

Conhecer obras representativas da arte, produzidas nas
sociedades tradicionais, e desenvolver a capacidade de
apreciação destas obras.

Seções de estudo
Seção 1

Arte pré-histórica

Seção 2

Arte egípcia

Seção 3

Grécia e Roma (antiguidade clássica)

Seção 4

A época medieval

2
Universidade do Sul de Santa Catarina

Para início de estudo
Nesta unidade, você vai estudar a arte e seu papel nas sociedades
tradicionais. Iniciamos com a arte pré-histórica, examinando as
primeiras civilizações como a egípcia e cretense e a antiguidade
clássica. Por fim, analisaremos a arte medieval e seu trajeto até o
advento da modernidade no século XVI.
O fundamento da sobrevivência nas sociedades tradicionais era a
agricultura e em volta dela se organizava a vida social. Elas têm
como característica uma maior proximidade com a natureza e,
em virtude disto, apresentam uma concepção de tempo, baseada
nas estações do ano, no tempo cíclico. Um outro fator que as
diferencia das sociedades modernas é a imobilidade social. Via
de regra, os indivíduos se mantinham por toda a vida dentro da
mesma camada social em que nasciam.
Nestas sociedades em que o senso geográfico era
restrito às comunidades locais, o status da arte esteve
relacionado ao trabalho artesanal. Todos aqueles que
detinham o domínio técnico da fabricação das coisas
eram considerados artesãos. Com algumas exceções, a
despeito da fama de escultores gregos, como Fídias e
Praxíteles na Grécia antiga, não fazia muita diferença,
em termos de prestígio social, fabricar um utensílio de
uso cotidiano ou uma escultura, pois não havia a noção
de artista como conhecemos hoje.

Este cenário só vai mudar com o Renascimento. Entretanto, a
despeito disto, um vasto conjunto artístico foi legado desde a
pré-história até o florescimento e desenvolvimento das primeiras
civilizações, como a egípcia e cretense.
Cabe lembrar que, apesar da organização cronológica dos
conteúdos, a arte não pode ser analisada em termos de evolução.
Os estilos artísticos, apesar das aparentes diferenças, representam
a busca dos artistas em conquistar novas relações a exemplo do
que fizeram os artistas que os antecederam, não significando que
estas soluções sejam melhores ou piores que aquelas.

38
História da Arte

Seção 1 – Arte pré-histórica
As manifestações artísticas são muito antigas. Sua importância
extrapola a mera apreciação estética, como a arte pré-histórica, que
fornece detalhes importantes do modo de vida dos primeiros grupos
humanos. Do ponto de vista da pesquisa histórica, a existência
destes registros ajuda a compensar a imensa lacuna documental que
recai sobre as épocas anteriores à invenção da escrita.
As imagens artísticas mais conhecidas remontam ao período em
que o homem possuía um reduzido domínio do mundo natural,
conhecido como Paleolítico Superior. Estes povos viviam da
caça e da coleta. Um dos exemplos mais destacados da sua arte
são as pinturas encontradas nas cavernas, também chamadas
de “arte rupestre”, em praticamente todas as regiões do planeta.
Dois sítios bem conhecidos são os de Altamira na Espanha e
Lascaux na França.

O termo “pré-história”
traz consigo a noção
preconceituosa de que os
povos que desconheciam
a escrita não tinham
história. Esta noção não
tem mais sustentação
na historiografia
recente. O termo é
utilizado, contudo,
para organizar a longa
duração temporal em três
períodos, Paleolítico
Inferior (500.000 a.C.),
Paleolítico Superior
(30.000 a.C.) e Neolítico
(10.000 a.C.).

Figura 2.1 - Caverna de Lascaux, França. Cerca de 15 mil anos
Fonte: Schmitz (2009).

Descoberta por 4 adolescentes em 1940, a gruta de Lascaux
constitui uma referência incontornável no domínio da arte
rupestre. Situada perto de Montignac, na Dordonha, na França.
A disposição da gruta, cujas paredes estão pintadas com bovídeos
(sic), cavalos, cervos cabras selvagens, felinos etc., permite pensar
tratar-se de um santuário. As investigações levadas a cabo
durante os últimos decênios permitem situar a cronologia das
pinturas no final do Solutrense e princípio do Madalenense, ou
seja 17 000 anos BP (antes da atualidade). (SILVA, 2007).

Unidade 2

39
Universidade do Sul de Santa Catarina

Estas pinturas são, em geral, de tamanho monumental e
representam animais de caça. Apesar da sua antiguidade, as
imagens, sob nenhum aspecto, podem ser taxadas de primárias.
Os traços seguros e vigorosos e a integridade das formas
mostram um alto grau de elaboração estética. Estas imagens não
foram criadas para serem apreciadas no sentido em que isto é
feito em nosso meio.
Era uma arte a serviço da magia.

Esta é a explicação mais aceita sobre o significado da arte
pré-histórica. Todavia, é importante não confundir magia e
religião, pois são distintas. As práticas mágicas dos homens e
mulheres pré-históricos não preenchem os requisitos que definem
aquilo que entendemos por religião: não há potências sagradas
e também não há fé que estabeleça uma conexão com seres
espirituais de outro mundo.
Observe novamente as figuras representadas na caverna de
Lascaux. Note que os animais aparecem pintados de modo
mais natural possível. Por isto, atribui-se à pintura do período
Paleolítico um caráter naturalista, ou seja, a busca por
representar as coisas mais próximas de sua aparência no natural.
O domínio da representação anatômica é outro fator indicativo de
que o artista foi um observador atento, uma vez que as pinturas
mostram uma incrível semelhança com os seres retratados.
Este é um aspecto fundamental para a compreensão da questão
mágica, pois, ao pintar um animal sendo alvejado, o pintor
deveria fazê-lo o mais fielmente possível. Isto porque não havia
uma separação reconhecida entre o objeto representado e aquilo
que efetivamente ele representava.
Imagem e realidade eram inseparáveis para homens e mulheres
pré-históricos. Tudo parece indicar que havia a crença de que
aprisionar o animal na pintura garantia que o mesmo fosse
feito na caçada.

40
História da Arte

Figura 2.2 - Caverna de Lascaux, França. Cerca de 15 mil anos
Fonte: Guimarães (2009).
Mas, como as pinturas eram realizadas?

O artista pré-histórico trabalhava em cavernas escuras, com
iluminação reduzida, fator que acabou sendo decisivo para a
preservação das imagens que hoje conhecemos. Em alguns
casos, ele fazia sulcos na parede e posteriormente os pintava
com tintas feitas do carvão, óxidos minerais, substâncias
vegetais e sangue animal.
O sentido desta arte somente pode ser compreendido pela árdua
luta pela sobrevivência que os homens da pré-história tinham de
empreender para driblar as dificuldades que a sobrevivência lhes
impunha. O que se pode apurar do seu legado artístico é que já
nestes primórdios, a arte foi de fundamental importância para
que pudessem expressar suas crenças, medos e desejos.
Numa época em que a expectativa de vida era muito baixa,
a capacidade da mulher em gerar e alimentar uma vida era
vista com admiração. Feitas de osso, chifre ou pedra, as
estatuetas femininas conhecidas como vênus são as mais antigas
representações femininas ilustrativas desta visão.

Unidade 2

41
Universidade do Sul de Santa Catarina

Esta denominação vem do fato dos estudiosos julgarem que
estes pequenos amuletos correspondiam ao ideal de beleza da
pré-história. Para Camille Paglia (1994, p. 61), “A gordura da
imagem é um símbolo de abundância numa era de fome. Ela é
a demasia da natureza, que o homem anseia por dirigir para sua
salvação”. Acreditando no seu poder mágico, o artista retinha
em sua criação os atributos que mais o interessavam, os quadris e
seios, simbolizando a fertilidade feminina.

Figura 2.3 - Vênus de Willendorf
Fonte: Schmitz (2009).

Na escultura “Vênus de Willendorf ”, mostrada na figura 2.3,
é possível identificar essas características. A estatueta tem 11,1
cm de altura e representa estilisticamente uma mulher. Esta
estatueta foi descoberta pelo arqueólogo Josef Szombathy em um
sítio arqueológico situado perto de Willendorf, na Áustria, em
1908. É uma estatueta esculpida em calcário e colorido com ocre
vermelho. (PORTAL DA ARTE, [200-]).
Mesmo sendo de extrema importância dentro da dinâmica
cultural das sociedades pré-históricas, as suas realizações artísticas
não possuíam o sentido atual que damos às obras de arte. Naquele
momento, inexistia uma ideia para designar o que é arte.
O processo de abstração, ou a capacidade de destacar um ou mais
elementos de uma realidade complexa, era ainda um fator em
desenvolvimento no período pré-histórico.

O período Neolítico
corresponde a última fase
da Pré-História. Iniciou-se
por volta de 10.000 a.C. e
vai até 4.000 a. C. Todavia,
esta é uma periodização
criada para facilitar o
estudo, pois aspectos do
modo de vida do Neolítico
persistiram em muitos
grupos humanos até
recentemente.

42

À medida que o controle da natureza foi aumentando, a arte
também se transformou. Foi isto que ocorreu no período
Neolítico, quando houve a domesticação de plantas e animais. É
no Neolítico que o nomadismo dá lugar à sedentarização, fator
decisivo para a “prosperidade” das comunidades pré-históricas.
A arte vai se modificar ao mesmo tempo em que as organizações
sociais se tornam mais complexas, com o surgimento da divisão
do trabalho e a formação das células familiares. Graças à
domesticação dos animais, o camponês neolítico já não precisava
caçar para conseguir o seu sustento. Com mais tempo para outras
atividades, a produção de bens materiais sofreu um incremento
com o desenvolvimento da cerâmica, da tecelagem e do trabalho
com metais.
História da Arte

Figura 2.4 - Vasos neolíticos encontrados na região da atual Bulgária
Fonte: Arquivo pessoal da autora (2010).

Novas técnicas de execução e novos temas darão à arte do
Neolítico um aspecto menos naturalista e mais geométrico.
Para muitos estudiosos, os povos do Neolítico têm uma menor
preocupação com a aparência natural das coisas, pois eram menos
dependentes dos seus sentidos que seus antecessores.
A observação que caracterizou o Paleolítico cedera lugar a uma
maior racionalização. Por conseguinte, os objetos passaram a ser
criados buscando a função utilitária e também a beleza. Outra
mudança fundamental do Neolítico foi a separação da realidade
e da magia, que, por sua vez, é substituída lentamente pelos
rituais religiosos.
Mas por que as organizações simplesmente não se
transformam em “instituições que aprendem”, como
nos dias de hoje?

Unidade 2

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Universidade do Sul de Santa Catarina

Seção 2 – Arte egípcia
Desde a antiguidade, as realizações artísticas dos egípcios nunca
pararam de influenciar as sociedades ocidentais, tendo marcado,
sobretudo, a cultura grega e romana. Nos últimos dois séculos,
arqueólogos, historiadores e aventureiros se lançaram numa busca
sem precedentes pelo legado artístico dos antigos egípcios. O
resultado desta “caça ao tesouro” foi a dispersão do conjunto de
obras nas mãos de colecionadores e de museus pelo mundo inteiro.
Pirâmides, esfinges, templos magníficos, esculturas, pinturas,
objetos ritualísticos e cotidianos são testemunhos de uma das
mais complexas e duradouras organizações sociais da história. É a
apreciação deste fabuloso legado artístico que desperta e mantém
a curiosidade sobre este povo antigo, cuja principal motivação
para a produção artística, como você vai estudar adiante, residia
na ideia de imortalidade.
A civilização egípcia sucedeu às comunidades neolíticas que se
estabeleceram às margens do rio Nilo na África. A partir do
momento em que os egípcios dominaram a regularidade das cheias
do Nilo, a fertilidade da terra garantiu colheitas abundantes.
Por volta de 3.200 a.C., ocorre a formação de um estado
centralizado, dando início ao período conhecido como
Dinástico. A partir daí, a sociedade do Egito antigo teve certa
estabilidade, mantida por uma monarquia teocrática, cuja figura
central era o faraó.
Supremo governante, visto como Deus vivo, o faraó tinha
controle sobre as instituições burocráticas, militares, culturais
e religiosas. A firmeza e solidez de seu poder são expressas em
muitas obras artísticas. Por patentear a ordem e a estabilidade,
ele era usualmente representado em atitudes nobres, com gestos
de eternidade (BAKOS e BARRIOS, 1999). Na escultura do
faraó Miquerinos e sua esposa (figura 2.5), mostrada a seguir, é
possível identificar estas características.

44
História da Arte

Figura 2.5 - O Faraó Miquerinos e a Rainha, V dinastia, c. 2470 a.C.
Fonte: Pontes (2009).

Perceba que os braços colados ao corpo e os punhos cerrados dão
ao conjunto uma sensação de imobilidade típica da arte egípcia,
em que os seres eram representados em sua idealidade e não em
sua naturalidade. Os escultores deviam dar às imagens dos seus
governantes a impressão de força e juventude.
O ápice do poder faraônico ocorreu no Antigo
Império. Neste período originaram-se conhecidas
manifestações da arquitetura egípcia, como as
pirâmides, construídas para abrigar em seu centro o
corpo mumificado do faraó. Sendo considerado um ser
divino, o faraó deveria ir para junto de seus iguais, daí a
altura das pirâmides

Unidade 2

O império egípcio é
dividido nos seguintes
períodos: Antigo Império
(3200 a.C. até 2300 a.C.),
Médio império (2000
a.C.), Novo Império (1500
a.C. até 525 a.C.).

45
Universidade do Sul de Santa Catarina

Durante muito tempo,
acreditou-se que a sua
construção tenha sido
realizada unicamente por
mão de obra escrava, mas
a historiografia recente, à
luz de novos documentos,
ampara também a hipótese
do trabalho remunerado.

Figura 2.6 - As Grandes Pirâmides de Gizé, IV e V dinastias: Miquerinos (c. 2470 a.C.), Quefren (c.
2500 a.C.) e Quéops (c. 2530 a.C.), respectivamente
Fonte: Pontes (2009).
As pirâmides foram construídas numa época em que
os faraós exerciam máximo poder político, social e
econômico no Egito Antigo. Quanto maior a pirâmide,
maior seu poder e glória.

A vida cultural e social dos egípcios foi caracterizada intensamente
pela religião politeísta, que penetrava em todos os aspectos da vida
pública e privada. A crença na vida após a morte, tanto do corpo
quanto da alma, foi um dos seus mais fundamentais preceitos.
Buscando isto, os egípcios desenvolveram técnicas apuradas de
preservação, como o processo de mumificação.
Não é de se estranhar que boa parte do seu legado
artístico seja composta de objetos voltados aos cultos
mortuários.

46
História da Arte

Os tesouros encontrados
na tumba deste faraó
deram ao mundo uma
visão totalmente nova do
tipo dos artefatos egípcios
que haviam sido roubados
há muito tempo de todas
as tumbas faraônicas e
dispersos ou desprovidos
de seu ouro ou pedras.
(THE METROPOLITAN
OPERA GUILD, 2008).

Figura 2.7 - Sarcófago de Tutancamon, descoberto numa tumba intocada, em 1922
Fonte: El País.com : La Comunidad (2010).

Coube à arte a missão de perpetuar as crenças religiosas e, muito
embora as mudanças fossem ocasionais, o fato é que, em centenas
de anos, suas convenções pouco mudaram. A arte egípcia
manteve aspectos regulares que definem seu estilo e a torna
reconhecível, como você verá a seguir.

Unidade 2

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A pintura egípcia
As pinturas egípcias datam da pré-história até a última fase do
império (conhecida como fase greco-romana). Encontradas em
geral no interior de túmulos e templos, elas não tinham, como
ocorreu com as pinturas nas cavernas, o objetivo de ser expostas
para apreciação pública, mas sim, de levar para a vida após a
morte o que fosse necessário para garantir o conforto e o lugar
social do morto. Os temas abordados são muito amplos e narram
desde cenas modestas da vida de camponeses e operários até o
cerimonial que cercava a vida da nobreza.

Figura 2.8 - Cena do Livro dos Mortos, XVIII dinastia
Fonte: Gombrich (1999).

Nos muitos exemplos da pintura egípcia, cujo tema é a figura
humana, notamos uma das suas principais convenções estilísticas,
a lei da frontalidade. Ela perdurou por mais de dois mil
anos e é, sem dúvida, um dos aspectos que mais definem a
sua singularidade. Esta regra de representação, seguida pelos
artistas egípcios, determinava como o corpo humano deveria ser
retratado. Arnold Hauser (2000) definiu a lei da frontalidade da
seguinte maneira:
48
História da Arte

[...] seja qual for à (sic) posição em que o corpo é
representado, toda a superfície do tórax está voltada
para o expectador, de tal forma que a parte superior do
corpo é divisível por uma linha vertical em duas metades
iguais. Essa abordagem axial, oferecendo a mais ampla
visão possível do corpo, tenta obviamente apresentar a
impressão mais nítida e menos complicada a fim de evitar
qualquer mal entendido, confusão ou encobrimento dos
elementos da pintura.

Figura 2.9 - Fragmento de um Livro dos Mortos, XVIII dinastia
Fonte: Gombrich (1999).

Unidade 2

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Universidade do Sul de Santa Catarina

Como você pode observar, o artista egípcio trabalhava em função
do que via e do que não via. A impressão que temos, ao olhar
atentamente para estas obras, é de que seu autor queria reter na
imagem o máximo de elementos possíveis. O que importava não
era a beleza, mas a clareza e permanência, pois, para atravessar
a eternidade, o corpo (assim como todas as outras coisas
representadas) deveria estar o mais completo possível. Para tanto,
havia algumas regras a serem rigorosamente obedecidas:
„„
„„

„„

Homens representados mais escuros do que as mulheres.
A perspectiva hierárquica determinando que o faraó fosse
mostrado em tamanho maior do que as outras pessoas.
Os deuses aparecem representados sempre da mesma forma.

Contudo, em alguns momentos, a arte egípcia oscilou entre
conservadorismo e inovação, como no Novo Império, quando as
reformas religiosas implantadas pelo faraó Akhenaton resultaram
em uma maior liberdade criativa para os artistas. Algumas
obras deste período são menos geometrizadas e mais fluidas,
abrandando a tradicional sensação de imobilidade.
Amenhotep IV, mudou
seu nome para Akhenaton
e tentou implantar um
culto monoteísta, cujo
único deus Aton era
representado pelo disco
solar. As mudanças não
sobreviveram ao seu
reinado (1372 – 1358 a.C.).

Figura 2.10 - Faraó Amenófis IV. Relevo em pedra calcárea. Aprox. 1370 a.C.
Fonte: Gombrich (1999).

50
História da Arte

Neste relevo, você pode identificar o que se chamou estilo
Akhenaton. Observe que, quase caricatural, a imagem do Faraó
revela formas mais suaves e fluidas.

Aprofunde seus conhecimentos estudando as
características históricas do Novo Império em
enciclopédias ou sites recomendados da internet.

Seção 3 – Grécia e Roma (antiguidade clássica)
A Grécia antiga era constituída por três partes: Grécia Continental,
o Peloponeso e a Grécia insular. Diferentemente da arte egípcia
voltada para a religião, a arte grega foi concebida para ser vista. Seja
ornamentando ambientes, adornando templos ou como oferenda
para agradar aos deuses, seu objetivo era a vida presente.
Na arte grega predominam o ritmo, a harmonia e o equilíbrio
embalados por características marcantes como a busca pela beleza
e o interesse pelo homem.
É fato que os padrões estéticos de nossa cultura foram
profundamente influenciados ou até mesmo herdados
da Grécia antiga. Na arquitetura, teatro, literatura,
escultura, seu legado continuou vivo no Ocidente,
onde foi continuamente reabilitado

Unidade 2

51
Universidade do Sul de Santa Catarina

As origens da civilização grega
A região que constituiu a antiga Grécia recebeu a vinda de
povos indo-europeus a partir de 2.000 a.C. Suas origens estão
ligadas à história da ilha de Creta, cujo apogeu ocorreu entre
2.000 a.C e 1400 a.C. Graças à sua posição privilegiada na
região do Mediterrâneo, Creta manteve hegemonia comercial
efetuando contatos culturais com importantes povos da
antiguidade, como os egípcios.

Inicialmente construído
a partir de cerca de 1900
A.C., tendo sido destruído
cerca de 1700 A.C.; e
reconstruído cerca de 1600
A.C. – 1500 A.C., fase a que
pertencem a maior parte
das ruínas hoje visíveis, o
“Palácio de Cnossos” é a
principal atração da ilha
de Creta. O palácio teria
sido novamente destruído
cerca de 1450 A.C., na
sequência da erupção
do vulcão de Santorini.
(VICENTE, 2004).

Os aqueus eram grupos
guerreiros originários da
região dos Bálcãs.

52

Por meio das descobertas arqueológicas feitas no século XIX,
algumas realizações artísticas dos cretenses se tornaram
conhecidas, como as pinturas do palácio de Cnossos.

Figura 2.11 - Golfinhos, Palácio de Cnossos em Creta
Fonte: Pontes (2008).

Em sua maior parte, a pintura minóica ou cretense tem
inspiração na natureza, característica que acabou sendo exportada
de Creta para outras culturas mediterrânicas. A pintura cretense
é identificada também pela capacidade de apreensão das formas e
pelo intenso colorido e movimento.
Por volta de 1.400 a.C., os aqueus invadiram Creta, dando
origem à civilização creto-micênica. Este período ficou
denominado como pré-homérico. Cidades importantes como
Micenas e Tirinto foram erguidas, cujas grandes muralhas
sobreviveram aos tempos. Do ponto de vista estilístico, a arte
destes povos vai ser mais pesada e formal do que a cretense. Um
dos mais conhecidos exemplos desta arte é a Porta dos Leões
encontrada na cidade de Micenas.
História da Arte

Figura 2.12 - Porta dos Leões em Micenas, aproximadamente 1.500 a.C.
Fonte: ALBV (2008).

Após a queda da civilização creto-micênica, a Grécia vai
mergulhar numa época rural, com o enfraquecimento da vida
política e econômica. Surgem as comunidades gentílicas, forma
de organização social caracterizada pelo poder das grandes
famílias. Sobre estes tempos, os registros são escassos, sendo os
principais deles a Ilíada e a Odisseia, ambos supostamente de
autoria do poeta Homero. Neste período, também conhecido
como tempos homéricos (séc. XII a VIII), vai ser constituída a
base da civilização grega,
com o surgimento da
Cidade-Estado grega (polis),
centro político, social e
religioso autônomo.

De acordo com a lenda, o
poeta cego Homero teria
registrado os poemas
que eram conhecidos
apenas na tradição oral.

A pólis surge como
consequência da crise
política e econômica que
levou à desintegração das
comunidades gentílicas no
fim dos tempos homéricos.

Figura 2.13 – Homero, busto de mármore, cópia romana de original grego
Fonte: Martins (2008).

Unidade 2

53
Universidade do Sul de Santa Catarina

Cada uma das cidades gregas tinha sua classe dominante, seus
deuses próprios e seu sistema de vida diferenciado. O princípio
desta autonomia foi fundamental para o desenvolvimento
econômico, cultural e artístico.

A arte grega
A arte grega foi complexa e diversa. Nossa abordagem vai seguir
a organização recorrente na maior parte dos livros de história
da arte, situando-a entre o surgimento das Cidades-Estado
até a tomada da Grécia pelos romanos, fixando o estudo das
suas regularidades estilísticas mais constantes em três momentos
respectivamente: período arcaico, clássico e helenístico.

O estilo arcaico (séc. VII a.C ao séc. V a.C)
Mesmo que seja difícil circunscrever os limites da influência,
sabemos que os gregos foram influenciados artisticamente por
outros povos e também pelas civilizações que os precederam,
como a cretense e a creto-micênica, estudadas anteriormente.
Mas é fato também que estas civilizações souberam
ir muito além do que aprenderam, desenvolvendo
um estilo artístico inconfundível e sem parâmetros
anteriores. Como disse Hauser (2000, p. 77), “antes
deles não existia o livre inquérito, nem a investigação
teórica, nem o conhecimento racional, nem arte como
conhecemos hoje – isto é, uma atividade cujas criações
podem ser sempre apreciadas como formas puras.”

Kouros e Koiré são nomes
dados às esculturas de
homens e mulheres jovens
respectivamente.

54

No período arcaico, os artistas começaram a esculpir, em
mármore, figuras em rigorosa posição frontal, com o peso do
corpo distribuído sobre as duas pernas.
Mas, já é por volta desta época que, por meio do aprimoramento
das esculturas humanas, notamos mudanças feitas com técnicas
egípcias. Observe estes exemplos de Kouros e Koiré e compare com
a imagem do faraó Miquerinos, mostrada nas páginas anteriores.
História da Arte

Você deve ter notado que as semelhanças com a estátua egípcia
são indiscutíveis: posição frontal, punhos cerrados, o peso do
corpo apoiado nas duas pernas. Estas esculturas transmitem a
mesma sensação de imobilidade que encontramos na estatuaria
egípcia. Isto porque, inicialmente, a forma de esculpir em
grandes blocos foi copiada dos egípcios, mas observe que a
imagem do Kouros a seguir, já apresenta uma variação, que foi a
introdução de vãos entre braços e pernas.

Figura 2.14 - Koiré, 530 a.C.
Fonte: Arquivo pessoal da
autora (2010).

Figuras 2.15 - Irmãos Cleobs e Biton, 580 a.C.
Fonte: Gombrich (1999).

Isto acaba transmitindo uma sensação mais leve e dinâmica,
artifício que atingirá culminância nas obras do período clássico,
que você estudará a seguir.

Unidade 2

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Universidade do Sul de Santa Catarina

O período clássico (séc. V a.C. ao séc. IV a.C)
À medida que os artistas gregos vão aprimorando as técnicas de
execução, o mármore, material usado desde o século VII, passa a
ser substituído pelo bronze. A questão que os escultores buscavam
resolver com esta substituição era conseguir fazer partes do corpo
sem necessariamente ter de apoiá-las, coisa que o mármore não
favorecia, já que tinha propensão de quebrar com o próprio peso.
A esta altura, você deve estar se perguntando, então,
por que a maioria das estatuas gregas que conhecemos
parece ser de mármore? O fato é que muitos
exemplares originais feitos em bronze foram perdidos,
destruídos ou transformados em materiais bélicos ao
longo do tempo.

Míron foi um escultor
grego (século V a.C.),
nascido em Elêutras. Foi
o mais velho dos três
grandes escultores do
século de Péricles: Míron,
Fídias e Policleto. Duas de
suas obras chegaram até
nós, em cópias romanas:
Atena e Mársias, e mais
O Discóbolo uma das
esculturas mais famosas
da história da arte.”
(NUNES, 2008).

O que sobrou foram cópias em mármore feitas pelos romanos
a partir dos originais gregos. Graças a isto, podemos conhecer
obras importantes, como a cópia feita de um original de Míron,
conhecida como discóbulo.

Figura 2.16 - Discóbulo. Cópia romana, de um original em bronze de Míron. Aproximadamente 450. a.C.
Fonte: Gombrich (1999).

56
História da Arte

Como você pode notar nas esculturas aqui mostradas, os gregos
buscavam representar um ser humano perfeito. Isto somente
foi conseguido por meio de processos racionais que levaram ao
conhecimento das proporções anatômicas e da simetria.
Escultores como Policleto codificaram medidas perfeitas, por
exemplo, determinando que o corpo deveria medir sete vezes e
meia o tamanho da cabeça.
Os principais mestres da escultura clássica
grega são: Praxíteles, celebrado pela
graça das suas esculturas, pela lânguida
pose em “S” (Hermes com Dionísio
menino). Ele foi o primeiro artista que
esculpiu o nu feminino; Policleto, autor
de Doríforo - condutor da lança, criou
padrões de beleza e equilíbrio usando o
tamanho das estátuas, que deveriam ter
sete vezes e meia o tamanho da cabeça;
Fídias, talvez o mais famoso de todos,
autor de Zeus Olímpico, sua obra-prima,
e Atenéia. Realizou toda a decoração em
baixos-relevos do templo Partenon: as
esculturas dos frontões, métopas e frisos;
Lisipo, representava os homens “tal como
se veem” e “não como são” (verdadeiros
retratos). Foi Lisipo que introduziu
a proporção ideal do corpo humano,
com a medida de oito vezes a cabeça.
(MARTINS; IMBROISI [200-]).
Estas convenções, criadas há tanto tempo,
mostrando homens e mulheres sempre
jovens, belos e de expressão ausente,
foram admiradas e amplamente usadas
Figura 2.17 - Praxíteles Hermes com o jovem Dionísio, 350 a.C.
pelos grandes mestres do Renascimento e Fonte: Gombrich (1999).
ainda regem padrões de beleza atuais.

Unidade 2

57
Universidade do Sul de Santa Catarina

A escultura deste período tem como característica o naturalismo
idealista, entendido como a tentativa do artista de melhorar a
natureza. Marilena Chauí (2001, p. 362) definiu este padrão
nos seguintes termos: “Na verdade mostra o mundo como
desejaríamos que fosse, melhorando e aperfeiçoando o real”.
Para sua pesquisa e reflexão
Tendo por base os dados aqui apresentados e
pesquisas nos materiais de sua preferência, analise a
escultura de Hermes com o jovem Dionísio e anote
suas impressões acerca da composição, procurando
avaliar questões formais, como equilíbrio, proporção,
movimento e a atmosfera que dela emana. Após
registrar suas impressões nas linhas seguintes, compare
suas conclusões com aquelas apresentadas no saiba
mais desta unidade.

Ainda na época clássica, temos a “era de ouro” de Atenas, quando
as artes ganharam um impulso, resultando em obras célebres da
escultura e da arquitetura, entre elas, o Partenon. Construído
na parte alta da cidade chamada de Acrópole, este templo foi
consagrado à deusa Atenas, protetora da cidade.

58
História da Arte

Figura 2.18 – O Partenon, Acrópole, Atenas, 447-432 a.C
Fonte: Gombrich (1999).

A época helenística (séc. III ao séc. II a.C).
Durante o período conhecido como helenístico, as
transformações históricas vão interferir profundamente no fazer
artístico. Esta época foi marcada pelo domínio macedônico sobre
as Cidades-Estado, iniciado por Felipe II e continuado por seu
filho Alexandre (356-323 a.C.), que estendeu seu império até
a Índia. Após a sua morte, este foi transformado em uma série
de Estados independentes. Entretanto, a consequente mescla
de culturas, do Ocidente e o Oriente, que resultou do processo
expansionista, gerou uma nova cultura definida como helenística.

O Partenon é
provavelmente o mais
conhecido de todos
os templos gregos da
antiguidade. Construído
entre 480 e 323 a.C.,
ele representa todo o
refinamento e estilo da
arquitetura de Atenas
nesse período. (STUART,
2006).

Como resultado da nova condição social e política
da Grécia, vamos perceber um naturalismo mais
acentuado nas esculturas. O idealismo dos tempos
clássicos vai desaparecer e, em seu lugar, teremos mais
realismo com a tentativa de atribuir características
psicológicas às esculturas.

Unidade 2

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Universidade do Sul de Santa Catarina

Figura 2.19 - O gaulês moribundo, 230 a.C. Autor desconhecido
Fonte: Portal São Francisco [200-].

Sentimentos, como a dor e o sofrimento, passam a ser
incorporados às imagens, resultando em obras de teor dramático,
como é o caso da escultura acima.
O grupo mostrado a seguir, conhecido como Laocoonte e seus
filhos, narra um episódio mítico da Guerra de Troia. Produzido no
século I a.C., ele sintetiza a filosofia artística da fase helenística.

60
História da Arte

Figura 2.20 - Laocoonte e seus filhos. Ca. 175 - 50 a.C.
Fonte: Gombrich (1999).

Paulatinamente abandonada, a atitude contemplativa do período
clássico é suplantada pela realidade destes novos tempos. Uma vez
invadida e fragmentada a civilização grega, o artista se distancia
do idealismo de outrora, a arte fica mais próxima da condição
humana, como o envelhecimento, o sofrimento e a morte.

Unidade 2

A estátua representa
Laocoonte e seus dois
filhos, Antiphantes e
Thymbraeus, a serem
estrangulados por duas
serpentes marinhas em
um episódio dramático
da Guerra de Tróia.
Laocoonte, um sacerdote
de Apolo, foi o único
que pressentiu o perigo
que o cavalo de Tróia
representava para a cidade
e que protestou contra
a ideia de o levar para
dentro das muralhas.
Segundo a lenda,
Poseidon, um deus que
favorecia os gregos, enviou
então duas serpentes para
calar a voz da oposição.
Apesar de provavelmente
datar do período posterior
ao século I a.c, esta
escultura é considerada
uma escultura helenística.
(RAMALHETE, 2009).

61
Universidade do Sul de Santa Catarina

A arte romana
Por arte romana definimos o conjunto das manifestações que
surgiram na península itálica do início do século VIII a.C. até o
século IV d.C. Neste período, ocorreram a ascensão e o declínio
do Império Romano, cuja história normalmente é divida em
três períodos:
„„

„„
„„

Monarquia, que vai da fundação (cuja data é imprecisa,
sendo a mais usual 753 a.C.) até 509 a.C;
República, que vai de 509 a.C. até 27 a.C.
Império, que vai de 27 a.C. até a tomada de Roma por
povos germânicos em 476 d.C.

Os romanos foram conquistadores e agregaram longas vastidões
da Europa e do Oriente aos seus domínios. Para manter este
império, foi necessário criar uma eficiente estrutura militar e
administrativa, o que influenciou no desenvolvimento de uma
arte pragmática e utilitária.
Quanto às influências que absorveram de outras culturas,
devemos considerar, sobretudo, a etrusca e a grega. Dos gregos,
os romanos tomaram o alfabeto, conceitos religiosos e muito da
sua arte. De acordo com Proença (2000), a influência dos etruscos
pode ser notada pelo aspecto realista que a arte romana assumirá.
Dos etruscos, os romanos aprenderam também conhecimentos
de engenharia, como o uso do arco. Este elemento acabou
se tornando uma especialidade da arquitetura romana, que o
utilizou na construção de obras públicas, como pontes, aquedutos
e monumentos. A ele, os romanos misturaram o frontão e
colunas, típicos da arquitetura grega.
Parte destas construções, espalhadas pela Europa e Oriente,
ainda permanecem de pé, atestando a excelência construtiva
alcançada pelos romanos. Alguns dos monumentos mais
característicos eram os arcos comemorativos presentes em todas
as províncias do império.

62
História da Arte

Figura 2.21 - Arco triunfal de Tibério. Reinou entre 14 a 37 d.C. Orange, sul da França
Fonte: Gombrich (1999).

Outro tipo de monumento comemorativo apreciado
pelos romanos eram as colunas. Uma das mais
representativas é a de Trajano, erigida em 113 d.C., e
narra a vitória deste imperador em uma campanha
realizada na Dácia (atual Romênia). A altura da coluna é
equivalente a um prédio de dez andares e tem toda a
sua superfície em mármore talhado. A partir de baixo,
ela vai se desenrolando em espiral, levando ao “leitor”
uma narrativa contínua e clara por 150 episódios
sucessivos.

Unidade 2

63
Universidade do Sul de Santa Catarina

Figuras 2.22 e 2.23 - Respectivamente Coluna de Trajano, 113 d.C. Roma Coluna de Trajano,
pormenor, 113 d.C. Roma.
Fonte: Flauzino (2008).

A cidade de Pompeia foi
soterrada juntamente com
Herculano e Estábias. Elas
ficavam situadas aos pés do
vulcão Vesúvio. Este entrou
em erupção em 24 de agosto
do ano 70 d.C. e despejou uma
chuva de cinzas e depois lava.

O desenvolvimento da narrativa se dá num pergaminho que
tem por volta de 180 metros de comprimento e 2500 figuras
humanas. Os relevos são rasos e seu objetivo parece ter sido
impressionar o observador, pela minúcia dos detalhes. A figura
do imperador Trajano dá unidade à composição, aparecendo
diversas vezes ao longo da narrativa repleta de cenas violentas.
A pintura de murais foi muito comum nas casas dos romanos
mais abastados. Muitas destas pinturas foram encontradas em
bom estado de conservação nas cidades de Pompeia, Herculano
e Estábias. Em virtude disto, os estudiosos puderam conhecer os
estilos e os temas dos quais se ocuparam os pintores.
Em alguns exemplos, percebemos como os artistas procuraram
atribuir características individuais e realistas. Na imagem
mostrada a seguir, você concorda que há o interesse em mostrar
as personalidades dos dois jovens retratados?

64
História da Arte

Figura 2.24 -Afrescos de Pompeia
Fonte: Pontes (2009).

Pedro Paulo Funari (2001, p. 98), ao comentar as características
da sociedade romana, adverte:
Pode-se dizer que Roma contava então com dois grupos
sociais bem distintos: uma minoria muito rica, que
constituía o grupo político dirigente no exército e as
instituições, e uma grande massa de pobres, que vivia
“do pão e circo”, ou seja, recebia alimentos a preços
baixos e espetáculos públicos gratuitos para sua diversão.
Enfim, a vida econômica desenvolveu-se muito, mas a
prosperidade foi desigual.

Unidade 2

65
Universidade do Sul de Santa Catarina

Este contexto influenciou a produção de uma arte fugidia,
desconectada dos problemas que cresceram na mesma medida do
Império. Ela tinha como objetivo proporcionar deleite estético
por meio do aspecto naturalista e descontraído. Perceba como o
artista conseguiu criar uma atmosfera idílica, pelo modo suave
com que organizou a composição, desde a seleção do tema, do
modo delicado com que a jovem se afasta, até a escolha das cores.

Figura 2.25 - Donzela colhendo flores. Pintura mural proveniente de Estábias, século I d.C.
Fonte: Gombrich (1999).

A arte romana desenvolveu um profundo senso de realismo. A
preocupação em fixar traços da personalidade é notada quando
esculpiam bustos de figuras célebres da sociedade. Esta prática foi
copiada dos etruscos, que costumavam conservar retratos feitos
de cera de seus antepassados.

66
História da Arte

Logo foi aprimorado pelos romanos que, pelo fato de a cera ser
perecível, substituíram-na pelo uso de materiais mais duráveis,
como o metal e o mármore.

Figura 2.26 - Cipião, o africano. General romano que destruiu as tropas cartaginesas entre 211 a 206 a.C.
Fonte: UOL Educação [200-].

O escultor estudava atentamente a fisionomia do modelo,
procurando captar traços físicos e de expressão. Ao contrário dos
artistas gregos, os romanos não vão buscar a beleza, mas sim, o
caráter. Como escreveu Gombrich (1999, p.83):
O fato curioso é que, apesar da significação solene dos
retratos, os romanos permitiram que seus artistas os
compusessem mais realistas e menos lisonjeiros do que os
gregos jamais tentaram fazer.

Unidade 2

67
Universidade do Sul de Santa Catarina

Seção 4 – A época medieval

O feudalismo é um sistema
econômico e político, típico da Idade
Média. O feudalismo delimitava
também as relações sociais,
definindo uma rígida estrutura
social entre os que oravam (o clero),
os que guerreavam (os nobres) e os
que trabalhavam (os servos).

Grosso modo, podemos afirmar que a Idade Média se inicia com
a queda de Roma no século V d.C. quando, juntamente com a
desintegração do Império Romano, vai ocorrer um movimento
de ruralização e descentralização política, que culminará no
feudalismo. A vida das cidades antigas foi substituída pela
vida organizada em torno de grandes propriedades agrícolas, os
feudos, cujo centro era o castelo.
Esta fase da história europeia estende-se até o século
XIV, quando a civilização do Renascimento começa a
suplantar algumas de suas estruturas.

A arte medieval compreende um período de aproximadamente
mil anos. Para analisarmos as características da arte produzida
nesta época, é necessário reconhecer três grandes influências, que
foram marcantes no seu desenvolvimento:
„„

a igreja católica;

„„

a cultura dos povos bárbaros;

„„

a influência da antiguidade clássica.
Mas, como se processaram estas influências?

Para a igreja católica, uma vez sobrevivida como instituição, a
queda de Roma se tornou rica e poderosa. Tinha agora interesse
em diluir os vestígios pagãos da antiguidade clássica e expandir
a fé cristã por toda a Europa. Uma consequência deste fato nas
pinturas e esculturas foi o abandono dos temas mitológicos e
naturalistas na arte.

68
História da Arte

Surgiu, com isto, uma representação mais estilizada das coisas,
assumindo algumas regularidades que são percebidas na pintura
de afrescos, que consistia numa técnica em que a pintura era
aplicada sobre a parede ainda úmida. As iluminuras – pinturas
coloridas, que eram realizadas nos livros e manuscritos medievais
– também mostram as estilizações da arte medieval.
Entre as estilizações, destacam-se: a imagem de Cristo maior
que as outras figuras; os olhos são grandes e abertos; ausência da
ilusão de perspectiva (figura/fundo); corpo sempre coberto; cores
chapadas, sem a preocupação com meios tons.

Figura 2.27 - São Lucas.
Miniatura do Evangelho de
Lindsfarne, séc. VIII
Fonte: Arquivo pessoal da
autora (2010)

Entretanto, o fato de a arte medieval não procurar
abordar a aparência natural das coisas, não significa
que os artistas não tivessem a capacidade de realizar
tal representação. A questão é que sendo a igreja
praticamente a única fonte de encomenda dos artistas,
ela determinava quais os temas que deveriam ser
tratados pelos artistas.

Os intensos movimentos migratórios, que ocorreram no início
da Idade Média, resultaram na convergência de várias culturas.
O historiador George Duby sintetizou a importância destas
influências para a formação da cultura medieval ao afirmar que:
“A Europa então terra juvenil, em plena expansão, estendeu-se
aos quatro pontos cardeais, alimentando-se com voracidade, das
culturas exteriores” (DUBY, 1998, p. 50-51). Estes grupos não
tardaram a assimilar os valores cristãos e também transmitiram os
próprios traços culturais, formando uma arte com feição própria.
Já desde os primeiros séculos da Idade Média, missionários da
igreja foram enviados para toda a Europa, a fim de trabalhar na
cristianização destes povos considerados bárbaros. Nesta tarefa,
as imagens artísticas foram vitais na divulgação dos rituais e
ensinamentos religiosos a uma população praticamente analfabeta.

Unidade 2

O termo “bárbaro” era
usado pelos romanos
e define, em geral, os
povos mongóis, alanos,
francos, suecos e
germânicos.

69
Universidade do Sul de Santa Catarina

Para a igreja, a arte tinha uma função assumidamente
pedagógica: ensinar aos leigos as sagradas escrituras. É por
esta razão que, quase em sua totalidade, a arte medieval vai ter
como tema os assuntos religiosos. Mas, como foi dito, apesar
dos esforços da igreja em suplantá-la, a cultura dos bárbaros foi
reelaborada com os novos valores e penetrou na arte medieval.

Figura 2.28 - Arte visigótica,
cálice em ouro
Fonte: Arquivo pessoal da
autora (2010).

Originariamente nômades, os grupos bárbaros se especializaram
em uma arte decorativa, voltada à fabricação de peças pequenas
de metal e madeira, que podiam ser mais facilmente carregadas.
Na iluminura mostrada a seguir, você vai notar o tenso conteúdo
emocional conseguido usando as linhas curvas e nervuras que
eram elementos típicos da arte bárbara.

Figura 2.29 - São Mateus, evangelho manuscrito, 830 d.C.
Fonte: Gombrich (1999).

Na próxima imagem, cujo tema é idêntico ao anterior (São
Mateus) sinta que há uma atmosfera de serena tranquilidade.
Estas sensações conseguiram ser expressas pelos artistas gregos
nas esculturas do período clássico (estudado na seção 3 desta
unidade). É muito provável que os executores destas iluminuras
fossem monges, que conheciam o legado cultural da antiguidade,
por meio do que foi preservado pela igreja.

70
História da Arte

Figura 2.30 - Evangelho manuscrito: São Mateus, cerca de 800 d.C.
Fonte: Gombrich (1999).

A arte medieval assimilou valores do mundo antigo para além
da pintura. Muitas catedrais foram construídas no período,
destacando-se nas cidades e aldeias pelo seu volume e altura
e denunciando o poder e a riqueza da igreja. Desta forma,
surgiram, na Idade Média, dois estilos artísticos que se
expressaram também na arquitetura: o românico e o gótico.
O estilo românico apareceu principalmente na construção
de igrejas entre os séculos X ao XII. Ele utilizou elementos
construtivos usados pelos romanos, como os arcos.

Figura 2.31 - Mosteiro de São Pedro de Ferreira em Portugal
Fonte: Arquivo pessoal da autora (2010).

Unidade 2

71
Universidade do Sul de Santa Catarina

As igrejas e catedrais românicas são construções maciças e pesadas,
transmitindo um aspecto de fortaleza. Isto porque suas paredes
são autoportantes, não permitindo a introdução de janelas
muito grandes. Gradativamente, a arquitetura sólida das igrejas
românicas foi substituída pelo estilo gótico, mais leve e fluido.
O gótico surgiu no fim da Idade Média, quando os arquitetos
encontraram uma solução arquitetônica inovadora, que foi o
emprego do arco ogival. Em vez de colunas maciças, a igreja
gótica apresentava várias colunas finas e agrupadas, que davam à
construção maior força e elasticidade.

Figura 2.32 – Interior da Catedral de Saint-Chapelle, Paris (1243-1246)
Fonte: Arquivo pessoal da autora (2010).

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História da Arte Livro

  • 1. Universidade do Sul de Santa Catarina História da Arte Disciplina na modalidade a distância Palhoça UnisulVirtual 2011
  • 2. Créditos Universidade do Sul de Santa Catarina | Campus UnisulVirtual | Educação Superior a Distância Avenida dos Lagos, 41 – Cidade Universitária Pedra Branca | Palhoça – SC | 88137-900 | Fone/fax: (48) 3279-1242 e 3279-1271 | E-mail: cursovirtual@unisul.br | Site: www.unisul.br/unisulvirtual Reitor Ailton Nazareno Soares Vice-Reitor Sebastião Salésio Heerdt Chefe de Gabinete da Reitoria Willian Corrêa Máximo Pró-Reitor de Ensino e Pró-Reitor de Pesquisa, Pós-Graduação e Inovação Mauri Luiz Heerdt Pró-Reitora de Administração Acadêmica Miriam de Fátima Bora Rosa Pró-Reitor de Desenvolvimento e Inovação Institucional Valter Alves Schmitz Neto Diretora do Campus Universitário de Tubarão Milene Pacheco Kindermann Diretor do Campus Universitário da Grande Florianópolis Hércules Nunes de Araújo Secretária-Geral de Ensino Solange Antunes de Souza Diretora do Campus Universitário UnisulVirtual Jucimara Roesler Equipe UnisulVirtual Diretor Adjunto Moacir Heerdt Secretaria Executiva e Cerimonial Jackson Schuelter Wiggers (Coord.) Marcelo Fraiberg Machado Tenille Catarina Assessoria de Assuntos Internacionais Murilo Matos Mendonça Assessoria de Relação com Poder Público e Forças Armadas Adenir Siqueira Viana Walter Félix Cardoso Junior Assessoria DAD - Disciplinas a Distância Patrícia da Silva Meneghel (Coord.) Carlos Alberto Areias Cláudia Berh V. da Silva Conceição Aparecida Kindermann Luiz Fernando Meneghel Renata Souza de A. Subtil Assessoria de Inovação e Qualidade de EAD Denia Falcão de Bittencourt (Coord.) Andrea Ouriques Balbinot Carmen Maria Cipriani Pandini Assessoria de Tecnologia Osmar de Oliveira Braz Júnior (Coord.) Felipe Fernandes Felipe Jacson de Freitas Jefferson Amorin Oliveira Phelipe Luiz Winter da Silva Priscila da Silva Rodrigo Battistotti Pimpão Tamara Bruna Ferreira da Silva Coordenação Cursos Coordenadores de UNA Diva Marília Flemming Marciel Evangelista Catâneo Roberto Iunskovski Auxiliares de Coordenação Ana Denise Goularte de Souza Camile Martinelli Silveira Fabiana Lange Patricio Tânia Regina Goularte Waltemann Coordenadores Graduação Aloísio José Rodrigues Ana Luísa Mülbert Ana Paula R.Pacheco Artur Beck Neto Bernardino José da Silva Charles Odair Cesconetto da Silva Dilsa Mondardo Diva Marília Flemming Horácio Dutra Mello Itamar Pedro Bevilaqua Jairo Afonso Henkes Janaína Baeta Neves Jorge Alexandre Nogared Cardoso José Carlos da Silva Junior José Gabriel da Silva José Humberto Dias de Toledo Joseane Borges de Miranda Luiz G. Buchmann Figueiredo Marciel Evangelista Catâneo Maria Cristina Schweitzer Veit Maria da Graça Poyer Mauro Faccioni Filho Moacir Fogaça Nélio Herzmann Onei Tadeu Dutra Patrícia Fontanella Roberto Iunskovski Rose Clér Estivalete Beche Vice-Coordenadores Graduação Adriana Santos Rammê Bernardino José da Silva Catia Melissa Silveira Rodrigues Horácio Dutra Mello Jardel Mendes Vieira Joel Irineu Lohn José Carlos Noronha de Oliveira José Gabriel da Silva José Humberto Dias de Toledo Luciana Manfroi Rogério Santos da Costa Rosa Beatriz Madruga Pinheiro Sergio Sell Tatiana Lee Marques Valnei Carlos Denardin Sâmia Mônica Fortunato (Adjunta) Coordenadores Pós-Graduação Aloísio José Rodrigues Anelise Leal Vieira Cubas Bernardino José da Silva Carmen Maria Cipriani Pandini Daniela Ernani Monteiro Will Giovani de Paula Karla Leonora Dayse Nunes Letícia Cristina Bizarro Barbosa Luiz Otávio Botelho Lento Roberto Iunskovski Rodrigo Nunes Lunardelli Rogério Santos da Costa Thiago Coelho Soares Vera Rejane Niedersberg Schuhmacher Gerência Administração Acadêmica Angelita Marçal Flores (Gerente) Fernanda Farias Secretaria de Ensino a Distância Samara Josten Flores (Secretária de Ensino) Giane dos Passos (Secretária Acadêmica) Adenir Soares Júnior Alessandro Alves da Silva Andréa Luci Mandira Cristina Mara Schauffert Djeime Sammer Bortolotti Douglas Silveira Evilym Melo Livramento Fabiano Silva Michels Fabricio Botelho Espíndola Felipe Wronski Henrique Gisele Terezinha Cardoso Ferreira Indyanara Ramos Janaina Conceição Jorge Luiz Vilhar Malaquias Juliana Broering Martins Luana Borges da Silva Luana Tarsila Hellmann Luíza Koing  Zumblick Maria José Rossetti Marilene de Fátima Capeleto Patricia A. Pereira de Carvalho Paulo Lisboa Cordeiro Paulo Mauricio Silveira Bubalo Rosângela Mara Siegel Simone Torres de Oliveira Vanessa Pereira Santos Metzker Vanilda Liordina Heerdt Gestão Documental Patrícia de Souza Amorim Poliana Simao Schenon Souza Preto Karine Augusta Zanoni Marcia Luz de Oliveira Mayara Pereira Rosa Luciana Tomadão Borguetti Gerência de Desenho e Desenvolvimento de Materiais Didáticos Assuntos Jurídicos Márcia Loch (Gerente) Bruno Lucion Roso Sheila Cristina Martins Desenho Educacional Marketing Estratégico Rafael Bavaresco Bongiolo Carolina Hoeller da Silva Boing Vanderlei Brasil Francielle Arruda Rampelotte Cristina Klipp de Oliveira (Coord. Grad./DAD) Roseli A. Rocha Moterle (Coord. Pós/Ext.) Aline Cassol Daga Aline Pimentel Carmelita Schulze Daniela Siqueira de Menezes Delma Cristiane Morari Eliete de Oliveira Costa Eloísa Machado Seemann Flavia Lumi Matuzawa Geovania Japiassu Martins Isabel Zoldan da Veiga Rambo João Marcos de Souza Alves Leandro Romanó Bamberg Lygia Pereira Lis Airê Fogolari Luiz Henrique Milani Queriquelli Marcelo Tavares de Souza Campos Mariana Aparecida dos Santos Marina Melhado Gomes da Silva Marina Cabeda Egger Moellwald Mirian Elizabet Hahmeyer Collares Elpo Pâmella Rocha Flores da Silva Rafael da Cunha Lara Roberta de Fátima Martins Roseli Aparecida Rocha Moterle Sabrina Bleicher Verônica Ribas Cúrcio Reconhecimento de Curso Acessibilidade Multimídia Lamuniê Souza (Coord.) Clair Maria Cardoso Daniel Lucas de Medeiros Jaliza Thizon de Bona Guilherme Henrique Koerich Josiane Leal Marília Locks Fernandes Gerência Administrativa e Financeira Renato André Luz (Gerente) Ana Luise Wehrle Anderson Zandré Prudêncio Daniel Contessa Lisboa Naiara Jeremias da Rocha Rafael Bourdot Back Thais Helena Bonetti Valmir Venício Inácio Gerência de Ensino, Pesquisa e Extensão Janaína Baeta Neves (Gerente) Aracelli Araldi Elaboração de Projeto Maria de Fátima Martins Extensão Maria Cristina Veit (Coord.) Pesquisa Daniela E. M. Will (Coord. PUIP, PUIC, PIBIC) Mauro Faccioni Filho (Coord. Nuvem) Pós-Graduação Anelise Leal Vieira Cubas (Coord.) Biblioteca Salete Cecília e Souza (Coord.) Paula Sanhudo da Silva Marília Ignacio de Espíndola Renan Felipe Cascaes Gestão Docente e Discente Enzo de Oliveira Moreira (Coord.) Capacitação e Assessoria ao Docente Alessandra de Oliveira (Assessoria) Adriana Silveira Alexandre Wagner da Rocha Elaine Cristiane Surian (Capacitação) Elizete De Marco Fabiana Pereira Iris de Souza Barros Juliana Cardoso Esmeraldino Maria Lina Moratelli Prado Simone Zigunovas Tutoria e Suporte Anderson da Silveira (Núcleo Comunicação) Claudia N. Nascimento (Núcleo Norte- Nordeste) Maria Eugênia F. Celeghin (Núcleo Pólos) Andreza Talles Cascais Daniela Cassol Peres Débora Cristina Silveira Ednéia Araujo Alberto (Núcleo Sudeste) Francine Cardoso da Silva Janaina Conceição (Núcleo Sul) Joice de Castro Peres Karla F. Wisniewski Desengrini Kelin Buss Liana Ferreira Luiz Antônio Pires Maria Aparecida Teixeira Mayara de Oliveira Bastos Michael Mattar Vanessa de Andrade Manoel (Coord.) Letícia Regiane Da Silva Tobal Mariella Gloria Rodrigues Vanesa Montagna Avaliação da aprendizagem Portal e Comunicação Catia Melissa Silveira Rodrigues Andreia Drewes Luiz Felipe Buchmann Figueiredo Rafael Pessi Gerência de Produção Arthur Emmanuel F. Silveira (Gerente) Francini Ferreira Dias Design Visual Pedro Paulo Alves Teixeira (Coord.) Alberto Regis Elias Alex Sandro Xavier Anne Cristyne Pereira Cristiano Neri Gonçalves Ribeiro Daiana Ferreira Cassanego Davi Pieper Diogo Rafael da Silva Edison Rodrigo Valim Fernanda Fernandes Frederico Trilha Jordana Paula Schulka Marcelo Neri da Silva Nelson Rosa Noemia Souza Mesquita Oberdan Porto Leal Piantino Sérgio Giron (Coord.) Dandara Lemos Reynaldo Cleber Magri Fernando Gustav Soares Lima Josué Lange Claudia Gabriela Dreher Jaqueline Cardozo Polla Nágila Cristina Hinckel Sabrina Paula Soares Scaranto Thayanny Aparecida B. da Conceição Conferência (e-OLA) Gerência de Logística Marcelo Bittencourt (Coord.) Jeferson Cassiano A. da Costa (Gerente) Logísitca de Materiais Carlos Eduardo D. da Silva (Coord.) Abraao do Nascimento Germano Bruna Maciel Fernando Sardão da Silva Fylippy Margino dos Santos Guilherme Lentz Marlon Eliseu Pereira Pablo Varela da Silveira Rubens Amorim Yslann David Melo Cordeiro Avaliações Presenciais Graciele M. Lindenmayr (Coord.) Ana Paula de Andrade Angelica Cristina Gollo Cristilaine Medeiros Daiana Cristina Bortolotti Delano Pinheiro Gomes Edson Martins Rosa Junior Fernando Steimbach Fernando Oliveira Santos Lisdeise Nunes Felipe Marcelo Ramos Marcio Ventura Osni Jose Seidler Junior Thais Bortolotti Gerência de Marketing Eliza B. Dallanhol Locks (Gerente) Relacionamento com o Mercado Alvaro José Souto Relacionamento com Polos Presenciais Alex Fabiano Wehrle (Coord.) Jeferson Pandolfo Carla Fabiana Feltrin Raimundo (Coord.) Bruno Augusto Zunino Gabriel Barbosa Produção Industrial Gerência Serviço de Atenção Integral ao Acadêmico Maria Isabel Aragon (Gerente) Ana Paula Batista Detóni André Luiz Portes Carolina Dias Damasceno Cleide Inácio Goulart Seeman Denise Fernandes Francielle Fernandes Holdrin Milet Brandão Jenniffer Camargo Jessica da Silva Bruchado Jonatas Collaço de Souza Juliana Cardoso da Silva Juliana Elen Tizian Kamilla Rosa Mariana Souza Marilene Fátima Capeleto Maurício dos Santos Augusto Maycon de Sousa Candido Monique Napoli Ribeiro Priscilla Geovana Pagani Sabrina Mari Kawano Gonçalves Scheila Cristina Martins Taize Muller Tatiane Crestani Trentin
  • 3. Lucésia Pereira História da Arte Livro didático Design instrucional Gabriele Greggersen 1ª edição revista Palhoça UnisulVirtual 2011
  • 4. Copyright © UnisulVirtual 2011 Nenhuma parte desta publicação pode ser reproduzida por qualquer meio sem a prévia autorização desta instituição. Edição – Livro Didático Professor Conteudista Lucésia Pereira Design Instrucional Gabriele Greggersen Projeto Gráfico e Capa Equipe UnisulVirtual Diagramação Anne Cristyne Pereira Noemia Mesquita (1ª Ed. Revista) Revisão B2B Foco (1ª Ed. Revista) ISBN 978-85-7817-341-8 709 P49 Pereira, Lucésia História da arte : livro didático / Lucésia Pereira ; design instrucional Gabriele Greggersen. – 1. ed. rev. – Palhoça: UnisulVirtual, 2011. 166 p. : il. ; 28 cm. Inclui bibliografia. ISBN 978-85-7817-341-8 1. História da Arte. 2. Arte moderna. I. Greggersen, Gabriele. II. Título. Ficha catalográfica elaborada pela Biblioteca Universitária da Unisul
  • 5. Sumário Apresentação. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7 Palavras da professora. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9 Plano de estudo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11 UNIDADE 1 - Arte e estética. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15 UNIDADE 2 - A arte nas sociedades tradicionais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37 UNIDADE 3 - A arte nas sociedades modernas. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 79 UNIDADE 4 - Arte moderna e contemporânea. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 111 Para concluir o estudo. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 149 Referências. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 151 Sobre o professor conteudista. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 159 Respostas e comentários das atividades de autoavaliação. . . . . . . . . . . . . . 161 Biblioteca Virtual. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 165
  • 6.
  • 7. Apresentação Este livro didático corresponde à disciplina História da Arte. O material foi elaborado visando a uma aprendizagem autônoma e aborda conteúdos especialmente selecionados e relacionados à sua área de formação. Ao adotar uma linguagem didática e dialógica, objetivamos facilitar seu estudo a distância, proporcionando condições favoráveis às múltiplas interações e a um aprendizado contextualizado e eficaz. Lembre-se que sua caminhada, nesta disciplina, será acompanhada e monitorada constantemente pelo Sistema Tutorial da UnisulVirtual, por isso a “distância” fica caracterizada somente na modalidade de ensino que você optou para sua formação, pois na relação de aprendizagem professores e instituição estarão sempre conectados com você. Então, sempre que sentir necessidade entre em contato; você tem à disposição diversas ferramentas e canais de acesso tais como: telefone, e-mail e o Espaço Unisul Virtual de Aprendizagem, que é o canal mais recomendado, pois tudo o que for enviado e recebido fica registrado para seu maior controle e comodidade. Nossa equipe técnica e pedagógica terá o maior prazer em lhe atender, pois sua aprendizagem é o nosso principal objetivo. Bom estudo e sucesso! Equipe UnisulVirtual. 7
  • 8.
  • 9. Palavras da professora Caro(a) aluno(a), Seja bem-vindo(a) à disciplina História da Arte! Apesar de vivermos rodeados por manifestações artísticas, a discussão sobre a arte é sempre um assunto inquietante. Desde a antiguidade, os juízos sobre a arte oscilam, ora vista como coisa fútil, ora como algo sublime e intangível. Falar sobre arte é sempre andar num terreno movediço. Neste livro, focalizaremos especialmente as artes visuais, como a pintura, buscando contribuir com uma reflexão mais crítica sobre o seu sistema de significados. Entendemos que, atualmente, no embalo dos novos meios de comunicação, como a internet, a circulação de imagens (sejam ou não artísticas) nunca esteve tão acessível a tão grande número de pessoas. Paradoxalmente, é fato que boa parte dos indivíduos não está preparada para efetuar uma recepção crítica destes artefatos culturais. Mesmo ouvindo repetidamente que “uma imagem vale mais do que mil palavras”, elas são vistas como algo complementar ou meramente ilustrativo dos textos escritos. Nos tópicos, você poderá conhecer e analisar obras artísticas de diversos tempos históricos. Com isto, objetivamos propiciar a você uma maior familiaridade com os objetos artísticos que marcaram nossa cultura. As imagens incluídas neste estudo são apenas uma pequena amostra de um “universo” que você poderá continuar explorando. Além da satisfação que isto pode proporcionar, você descobrirá nele um caminho de conhecimento, uma vez que acreditamos que, tanto no passado quanto no presente, a arte auxilia o homem a compreender o seu lugar no mundo.
  • 10. Universidade do Sul de Santa Catarina Lembramos que, neste material impresso, as imagens estão em preto e branco. Para não perder esta importante parte da criação artística, que reside justamente no uso da cor, consulte simultaneamente a versão on-line do material, em que as imagens estão disponibilizadas em cores. Por fim, alertamos que você não vai encontrar aqui afirmações derradeiras ou juízos consolidados sobre a arte e seus problemas. O que você vai ler é apenas uma proposta de abordagem entre muitas possíveis. Desejamos a você um bom percurso de estudos. Professora Lucésia Pereira. 10
  • 11. Plano de estudo O plano de estudos visa a orientá-lo no desenvolvimento da disciplina. Ele possui elementos que o ajudarão a conhecer o contexto da disciplina e a organizar o seu tempo de estudos. O processo de ensino e aprendizagem na UnisulVirtual leva em conta instrumentos que se articulam e se complementam, portanto, a construção de competências se dá sobre a articulação de metodologias e por meio das diversas formas de ação/mediação. São elementos desse processo: „„ o livro didático; „„ o Espaço UnisulVirtual de Aprendizagem (EVA); „„ „„ as atividades de avaliação (a distância, presenciais e de autoavaliação); o Sistema Tutorial. Ementa Estética: etimologia e transformações históricas do conceito. Funções da arte em diferentes contextos sócio-históricos. Natureza e cultura nas concepções artísticas. Arte na antiguidade e na modernidade: diferenças essenciais na produção e na recepção. Manifestações de vanguarda e as influências exercidas nas artes brasileiras contemporâneas. Arte e tecnologia. Projeto de Prática da disciplina.
  • 12. Universidade do Sul de Santa Catarina Objetivos Geral: Fomentar a reflexão crítica sobre o papel da arte em diferentes contextos históricos. Específicos: „„ „„ „„ Estimular a visão da arte como expressão da cultura. Conhecer e identificar as diversas manifestações artísticas. Relacionar os principais movimentos artísticos ao contexto histórico de sua produção. Carga Horária A carga horária total da disciplina é 60 horas-aula. Conteúdo programático/objetivos Veja, a seguir, as unidades que compõem o livro didático desta disciplina e os seus respectivos objetivos. Estes se referem aos resultados que você deverá alcançar ao final de uma etapa de estudo. Os objetivos de cada unidade definem o conjunto de conhecimentos que você deverá possuir para o desenvolvimento de habilidades e competências necessárias à sua formação. Unidades de estudo: 4 12
  • 13. História da Arte Unidade 1 – Arte e estética Nesta unidade, vamos tratar da arte e seus problemas, abordando conceitos, significados e a institucionalização dos objetos artísticos na cultura. Unidade 2 – A arte nas sociedades tradicionais Nesta unidade, abordaremos a arte desde a Pré-história até a Idade Média. O intuito é que você perceba que ela teve diferentes significados ao longo do tempo: como arte mágica para os povos caçadores e coletores no período Paleolítico; como instrumento de manutenção das instituições sociais no Egito antigo ou ainda a serviço dos interesses da igreja na Idade Média. Unidade 3 – A arte nas sociedades modernas Esta etapa compreende o estudo da arte do Renascimento até o início do século XIX, quando, então, descobriram-se as profundas inovações trazidas pelos pintores renascentistas, entre elas a retomada dos ideais clássicos de beleza e a introdução da noção de perspectiva. Unidade 4 – Arte moderna e contemporânea Nesta unidade, abordaremos a mudança que ocorre no papel social da arte e do artista a partir da arte moderna e contemporânea. Discutiremos como o capitalismo, a Revolução Industrial e a cultura pós-moderna estarão relacionados a estas mudanças. 13
  • 14. Universidade do Sul de Santa Catarina Agenda de atividades/Cronograma „„ „„ „„ Verifique com atenção o EVA, organize-se para acessar periodicamente a sala da disciplina. O sucesso nos seus estudos depende da priorização do tempo para a leitura, da realização de análises e sínteses do conteúdo e da interação com os seus colegas e professor. Não perca os prazos das atividades. Registre no espaço a seguir as datas com base no cronograma da disciplina disponibilizado no EVA. Use o quadro para agendar e programar as atividades relativas ao desenvolvimento da disciplina. Atividades obrigatórias Demais atividades (registro pessoal) 14
  • 15. unidade 1 Arte e estética Objetivos de aprendizagem „„ Estudar os diferentes conceitos de estética. „„ Identificar e refletir criticamente sobre o significado da arte nos diferentes contextos históricos. „„ Conhecer e discutir as principais propostas metodológicas para o estudo da história da arte. Seções de estudo Seção 1 A estética Seção 2 O que é arte? Seção 3 A história da arte 1
  • 16. Universidade do Sul de Santa Catarina Para início de estudo De acordo com os objetivos dessa unidade, o desafio principal é fazer um apanhado de três campos de estudo relacionados: à estética, à arte e à história da arte. Como se trata de um livro para um curso de Filosofia, achamos importante introduzir o assunto com a apresentação de algumas ideias filosóficas sobre a estética. Você notará que pensadores como Kant e Nietzsche extrapolaram a dimensão dos próprios objetos artísticos e em suas reflexões, encarando a estética como fundamento do conhecimento e da condição humana. Estudará ainda que o objeto desta reflexão, a estética, tem suas raízes no pensamento de Platão (aprox. 427 a.C. / 347 a.C.), vindo a assumir o sentido moderno apenas no século XVIII. E que, de Platão aos dias atuais, a sua discussão resiste à mera apreciação e se constitui num assunto inquietante e desafiador. Seja numa abordagem ancorada no sentimento estético, no belo como perfeição, na arte como expressão da subjetividade do artista ou como pulsão primitiva, não é possível fazer qualquer forma de generalização a este respeito. Você verá também que, em nosso meio, não se tem um conceito seguro sobre o que é arte e tampouco sobre os temas a ela relacionados. Por fim, discutiremos alguns princípios e limites que regem a história da arte. Bom estudo! 16
  • 17. História da Arte Seção 1 – A estética Em Platão, o fundamento da arte repousava sobre a ideia de mimese. Como sugere Lacoste (1986), para se compreender o significado de arte como mimese faz-se necessário entender a concepção grega de ser e verdade. Segundo esta concepção, toda arte cria apenas simulacros das coisas, ou seja, mostra as coisas como elas aparentam ser e não como elas são na verdade. Assim, quando afirmamos que uma pedra que está diante de nós é uma pedra, reconhecemos nela a sua essência, ou a ideia da pedra, que, por sua vez, é permanente e não sujeita às transformações do tempo. A apresentação do mundo físico, elaborada pelos pintores (Platão inclui também os poetas e sofistas), cria apenas uma imitação distante em relação a esta essência, o ser. Esta imitação da imitação era considerada pelo filósosfo inferior àquela realizada pelos artesãos que produzem objetos concretos a partir da própria Ideia. Platão entendia que toda a criação era uma imitação, inclusive a criação do mundo era imitação do mundo das ideias. Ao contextualizar a posição de Platão, Lacoste (1986) mostra que ela não deixava de ser uma atitude crítica diante das mudanças artísticas que se operavam na Grécia naquele momento. Ela se dirigia tanto para o naturalismo crescente alcançado na estatuaria grega, quanto para a skiagraphia (modernamente chamada de trompe- l´oeil). Essa técnica era usada pelos pintores para criar no expectador a ilusão de profundidade. Figura 1.1 – Pintura mural da Casa dos Vettii em Pompeia, cerca de 30 a.C. Fonte: Marshall (1999). Unidade 1 17
  • 18. Universidade do Sul de Santa Catarina Observe, na figura, os falsos veios do mármore e os elementos arquitetônicos ilusórios. Ao reconhecer o fascínio que este mundo de ilusão despertava, Platão afirmava que a missão da filosofia era dissipar este poder exercido sobre a sensibilidade humana, pois a verdadeira beleza estava na apreensão intelectual das essências. A arte de imitação se constituía num obstáculo para isto, já que permanecia no mundo sensível. Durante a Idade Média e início da modernidade, não houve grandes abalos sobre o pensamento elaborado sobre a estética na antiguidade. A contribuição mais inovadora surge no século XVIII, quando a estética assume sua acepção moderna. Foi também nesta época que o termo aparece pela primeira vez na obra do alemão Alexandre Baumgarten (1714-1762). Tomada do grego, no qual o sentido original se relacionava à sensação, a estética é definida em Baumgarten como uma ciência do sensível. Do ponto de vista da filosofia, a contribuição de Baumgarten reside na forma como ele encara o conhecimento perceptivo, ou seja, como um caminho para se alcançar a verdade, elevando, desta forma, o sensível ao status de um saber elevado. Mas, em que consiste esta mudança fundamental no entendimento da estética antiga e moderna? De acordo com Luc Ferry (1994), a significação desta mudança está no fato de que, na antiguidade, a obra era pensada como um microcosmo e que, portanto, fora dela (no macrocosmo) há um critério objetivo do Belo. Já para os modernos, destacadamente a partir de Kant, o sentido da obra está atrelado à subjetividade, o Belo é visto como um estado da mente e não mais um objeto ideal ou um conceito puro. Ao contrário de Platão, a beleza, para Kant, não estava no mundo ideal ou tampouco internamente nas coisas. Ela é vista como algo interno dos seres humanos, um espaço de conciliação harmônica entre o espírito e a natureza. Em Crítica da faculdade do juízo 18
  • 19. História da Arte de 1790, Kant define a estética como a capacidade de fruição relacionada a outras capacidades humanas. Para exercê-la, o sujeito não necessitaria de nenhuma faculdade excepcional, todos os indivíduos teriam a priori condições de captar e experimentar o belo. Para Kant, a estética é um estado de vida de direito próprio, uma capacidade de fruição intimamente relacionada a outras capacidades cognitivas do ser humano, sem depender, necessariamente, da aquisição de conhecimento, ou seja: para contemplar o belo, o sujeito não se vale das determinações das capacidades cognitivas das faculdades do conhecimento. (VALE, 2005). Diferentemente da subjetividade de Kant, as formulações de Georg Wilhelm Friedrich Hegel (1770-1831) sobre a estética vincularão o belo artístico à manifestação do espírito. O conceito de espírito foi desenvolvido por Hegel como “a comunidade de homens que toma consciência de si mesma na História” (LACOSTE 1986, p. 43). Desta forma, em Hegel a arte toma o Belo como algo que existe na realidade em obras reais e históricas. Para este filósofo, as obras artísticas não são intemporais, ou mera imitação da natureza, como em Platão, pois representam um momento do espírito na História. Diz Lacoste (1986, p. 44), a respeito de Hegel, que: “A arte nesse sentido, é uma das vias pelas quais o homem enquanto espírito se separa da natureza”. Uma vez que o espírito é superior à natureza, o Belo artístico seria também superior ao belo natural. Como produto do espírito, a arte não tem objetivo de dar prazer, ela é um conteúdo em busca da forma, um interior que procura exteriorizar-se, o belo é a ideia concretizada no âmbito sensível. Já na França, por volta desta mesma época, escritores, músicos e pintores formavam pequenos grupos, na maioria informais, para discutir questões relativas à arte e ao gosto. Cabe salientar que a Europa (e o mundo em geral) experimentam, neste período, uma intensa transformação, tanto das estruturas políticas, quanto econômicas e sociais. Unidade 1 19
  • 20. Universidade do Sul de Santa Catarina Os artistas presenciaram o surgimento de inovações técnicas, entre elas o advento da fotografia, que, na sua rápida penetração no meio social, especialmente a partir da segunda metade do século XIX, retira da arte a exclusividade de reproduzir a realidade. O relevante nestas associações de interesses é que, além de revelar o sentimento dos artistas ante este contexto de mudanças, elas abriam espaço para a afirmação de posições contrárias àquelas estabelecidas pelos grupos dominantes, também no que se refere à arte e seus saberes. Nesse sentido, são ilustrativos os textos do pintor francês Eugene Delacroix (1798-1863). Figura 1.2 - Delacroix, 1832 Fonte: Salavisa [2011?]. Consta que, no espaço de alguns meses, Delacroix realiza vários milhares de aquarelas, soltas ou às vezes reunidas em cadernos (de sete só se conservam quatro). Registrados em grafite - de maneira a precisar aqui uma indicação de cor, ali uma impressão que deseja recordar -, estes desenhos são executados em aquarela a partir de um esboço preparatório a lápis negro. Seja na forma de diários íntimos, carta ou textos publicados em jornais, seus registros não se restringiam aos aspectos técnicos da pintura, como era usual, mas mostravam seu posicionamento diante de questões estéticas fundamentais, as quais até então eram discutidas apenas por filósofos e críticos. 20
  • 21. História da Arte E qual é o fundamento da arte para Delacroix? Em Delacroix, a pintura não é mais algo que sinaliza um objeto do mundo exterior e sim a expressão da emoção individual do artista, da sua imaginação criadora. No gênio artístico estaria todo o fundamento da beleza, pois a natureza representa apenas a base do trabalho da criação. Os novos arranjos criados pelas necessidades interiores do artista vão superá-la pela originalidade. Assim como a descoberta da fotografia tirou da arte a função de documentar a realidade, os estudos sobre a cor e o seu potencial de provocar emoções foram também fatores decisivos nesta nova estética, cujos princípios substituirão a imitação da natureza pela expressão do artista. Outra contribuição fundamental à teoria da estética veio do filósofo alemão Friedrich Nietzsche (1844-1900). Em Nietzsche, a estética se manifesta em dois princípios básicos, ou duas pulsões artísticas que são equivalentes a dois estados psicológicos, o apolíneo e o dionisíaco. Teremos ganho muito para a ciência estética ao chegarmos, não só à compreensão lógica, mas também à imediata segurança da opinião de que o progresso da arte está ligado à duplicidade do Apolínico e do Dionisíaco [...]. (NIETZCHE, 2006, p. 34). Baseado nas figuras míticas dos deuses Apolo e Dionísio. O apolíneo está relacionado à medida, à individualidade e à consciência e o dionisíaco à embriaguez, ao descomedimento e à reconciliação do homem com a natureza. A arte não seria então uma imitação (Platão), tampouco expressão da individualidade ou emoção como propôs Delacroix, mas a identificação primária com a natureza feita pelo artista (LACOSTE, 1986) e significa: A identificação primária com a Natureza, que nos é conduzida através do transe dionisíaco, é a aproximação do homem da sua acepção mais pura, às suas potencialidades diversas, a seu querer que é um borbulhar incessante – no eterno dilema, na eterna ambigüidade que é o homem ante o seu querer, o ser e o não-ser, o nascimento e a morte, o homem frente a seu destino, o homem diante de si mesmo. (DOREA JUNIOR, [200-]). Unidade 1 21
  • 22. Universidade do Sul de Santa Catarina Figura 1.3 - Dionísio e os sátiros (Interior de um vaso), 480 a.C. Fonte: Dionísio...[2011?]. De acordo com Nietzsche, a tragédia grega era a arte por excelência desta comunhão, pois fazia a reconciliação entre as duas forças. Encenada na Grécia pré-socrática, a tragédia grega era uma apresentação teatral que fundia os diálogos com os cantos corais, de modo que estes seriam o veículo pelo qual a emoção dionisíaca se descarregava. Figura 1.4 - Máscara do teatro grego antigo Fonte: Retalhos...(2011). Na época de Sócrates, a tragédia deixa de ser encenada neste formato, quando a música é substituída pelo diálogo. Segundo Nietzsche, a rejeição do mito pela aniquilação do espírito da música levou à atrofia dos instintos vitais e tornou o homem moderno incapaz de viver a energia desta pulsão. 22
  • 23. História da Arte O problema levantado por Nietzsche traz em seu bojo uma questão mais ampla do que apenas a discussão da estética em si e é apontado por muitos estudiosos de sua obra. Ele questiona a supremacia da filosofia racionalista e do espírito crítico que se desenvolvem na cultura grega a partir de Sócrates, e a sua influência na cultura ocidental, que impregna de desconfiança as formas de conhecimento que provêm do irracional ou do inconsciente do homem. Nesta breve explanação sobre o pensamento estético, esperamos que tenha sido possível perceber que o conceito de estética não é conclusivo e sim um fenômeno histórico, e, como tal, não é uma verdade acabada, mas sempre em elaboração. Seção 2 – O que é arte? Certamente, você já deve ter se deparado com esta pergunta ou, no mínimo, presenciado algum debate cuja questão central era esta. É presumível que, neste momento, não tenha surgido uma resposta clara e objetiva, pois o tema não é simples. Como na estética, não existe um consenso relativo ao que venha a ser a arte. De acordo com Jorge Coli (1981, p.11), [...] se buscarmos uma resposta clara e definitiva, decepcionamo-nos: elas são divergentes, contraditórias, além de freqüentemente se pretenderem exclusivas, propondo-se como solução única. Veja alguns exemplos, dentro das inúmeras concepções disponíveis: Unidade 1 23
  • 24. Universidade do Sul de Santa Catarina Arte é uma interpretação da vida (realidade). Vincula-se a fatores religiosos (pirâmides egípcias ou esculturas da Grécia clássica), políticos (autoritarismo de Stálin na URSS), sociais (predomínio da burguesia no Romantismo) e simbólicos (evangelistas associados a animais na decoração das igrejas medievais) (D’AMBROSIO, 2000). Arte 1  [Do lat. arte.]S. f. 1. Capacidade que tem o ser humano de pôr em prática uma idéia, valendo-se da faculdade de dominar a matéria: A arte de usar o fogo surgiu nos primórdios da civilização. 2. A utilização de tal capacidade, com vistas a um resultado que pode ser obtido por meios diferentes: a arte da medicina; a arte da caça; a arte militar; a arte de cozinhar; Liceu de Artes e Ofícios. 3. Atividade que supõe a criação de sensações ou de estados de espírito de caráter estético, carregados de vivência pessoal e profunda, podendo suscitar em outrem o desejo de prolongamento ou renovação: uma obra de arte; as artes visuais; arte religiosa; arte popular; a arte da poesia; a arte musica (DICIONÁRIO AURÉLIO, 2010). A palavra arte é uma derivação da palavra latina “ars” ou “artis”, correspondente ao verbete grego “tékne”. O filósofo Aristóteles se referia a palavra arte como “póiesis”, cujo significado era semelhante a tékne. A arte, no sentido amplo, significa o meio de fazer ou produzir alguma coisa, sabendo que os termos tékne e póiesis se traduzem em criação, fabricação ou produção de algo. (LINDOMAR, 2007). Alguns estudiosos vão além e afirmam que a arte sequer pode ser compreendida pelo discurso racional, pois as palavras reduzem seu significado, que somente pode ser apreendido pelos sentidos. O problema que esta visão nos coloca é que normalmente não exercitamos nossa compreensão das coisas pelos sentidos e necessariamente temos de falar da arte por meio da palavra. Se por um lado é difícil conceituar a arte, por outro não se pode negar que vivemos num mundo rodeado por ela. Olhe atentamente ao seu redor e você perceberá que ela está presente cotidianamente na música, teatro, dança, arquitetura, literatura, artes plásticas... 24
  • 25. História da Arte Às vezes vista como terreno das coisas fúteis, outras como algo sublime e intangível, a arte comporta todos os objetos aos quais se atribui um conteúdo estético. Sabemos também que ela provoca o sentimento de admiração por estar relacionada ao belo. É por meio da arte que o homem, desde os tempos mais remotos, procura dar forma e função à matéria. Segundo Ernst Fischer (2002, p. 57), “A arte, capacita o homem para compreender a realidade e o ajuda não só a suportá-la como a transformá-la”. Desta maneira, todo trabalho do artista e, por consequência, toda imagem artística representa a apreensão da realidade partindo da criação de formas sensíveis. O termo “imagem artística” se refere a todo material visual feito para funcionar esteticamente. Figura 1.5 – Vaso neolítico Fonte: Gomez (2011). A vivência pessoal do artista é transmitida pelo modo como ele organiza os dados sensíveis. No caso das artes visuais, são eles: espaço, peso, volume, textura, cor e luz. Os valores estéticos são percebidos pela emoção e pela intuição e estão condicionados ao sujeito receptivo. Para alguns estudiosos, isto se dá por meio dos elementos simbólicos que realizam o contato do indivíduo com seu mundo social. Lemos estes significados por meio do contexto, da forma e da nossa bagagem cognitiva que adquirimos pela nossa experiência social de mundo (FREITAS, 2004). Portanto, o ato de olhar a arte é individual e está imbricado da cultura e das experiências de cada um. Unidade 1 25
  • 26. Universidade do Sul de Santa Catarina Ao olharmos uma pintura, escultura ou outro objeto artístico qualquer, logo sentimos algo que nos leva a gostar ou não do que vemos. Há ainda que considerar a tendência de que, em geral, gostamos daquilo que conhecemos e estranhamos o que desconhecemos. Esse fato que explicaria em parte a rejeição que habitualmente recai sobre as vanguardas artísticas, assunto que retomaremos mais adiante. Porém, é importante distinguir as questões relativas ao gosto pessoal e à linguagem artística. Ou seja, o gosto pessoal é definido pelas afinidades pessoais, mas podemos definir outros critérios de avaliação para não reduzir tudo a uma preferência subjetiva. Estes critérios dizem respeito ao conteúdo expressivo, ao modo como o artista ordenou formalmente a obra e, por meio desta ordenação, expôs seus pensamentos e emoções. Fayga Ostrower (1983, p.62), ao abordar a questão, definiu os limites destes dois modos de ver a arte: [...] se o gosto condiciona o convívio de cada um com as obras de arte, não constitui, em si, critério de avaliação da obra. Necessariamente, o gosto é uma reação individual e subjetiva. Já os critérios de avaliação devem ser objetivos, abrangendo qualidades válidas para todos. Os critérios desta valoração são definidos dentro de cada grupo social. Isto significa dizer que não existe um objeto artístico, se não for reconhecido como tal, pelos sujeitos e grupos sociais de uma determinada cultura. É dentro do espaço da cultura, portanto, que se articulam os discursos e instrumentos de legitimação, tanto da arte, quanto dos objetos artísticos. Mas em nossa cultura, quem determina o que é uma obra de arte? No mundo ocidental, os discursos e modelos hierárquicos provêm de três instituições básicas. De acordo com Ivan Gaskell (1992), primeiramente, temos negociantes, leiloeiros e colecionadores; em segundo, os diretores de museus e galerias públicas; e, por último, historiadores da arte, acadêmicos, editores e críticos. Além de 26
  • 27. História da Arte determinarem o status de um objeto artístico, a história e a crítica da arte criaram a ideia de estilo ou correntes. A recorrência de constantes em uma obra definiria o estilo, tanto nas artes plásticas, como na literatura, na música, na arquitetura etc. O estilo envolve a concepção e execução da obra e pode ser adotado na esfera individual ou coletiva. Às vezes, o estilo pode ser visto como cenário de toda uma época. O estilo nem sempre se define por uma ruptura brusca, e o desenvolvimento de aspectos novos, em geral, ocorre sobre o que já foi feito no passado. Veja a seguir uma imagem representativa do estilo Art Noveau, que se desenvolve entre 1890 e a Primeira Guerra Mundial (19141918) na Europa e nos Estados Unidos, e de lá se disseminando para o resto do mundo. Sua influência foi marcante no design, nas artes gráficas e arquitetura. Figura 1.6 – Alphonse Mucha, Salomé, 1897. Obra representativa do estilo Art Noveau Fonte: My Clothing (2009). É também nos meios oficiais que se formaram os juízos de valor que determinam o limite oficial entre os objetos artísticos e não artísticos. Para alguns, um objeto pode ser considerado artístico a partir da análise dos aspectos técnicos de sua execução: composição, forma, equilíbrio etc. Para outros, o estatuto de um objeto artístico não se resume a questões técnicas. Unidade 1 27
  • 28. Universidade do Sul de Santa Catarina Para você compreender melhor o alcance destas colocações, tome como exemplo a situação da arte indígena brasileira que, mesmo tendo reconhecido seu conteúdo estético, permanece numa condição subalterna no cenário da produção artística. Isto ocorre porque o nosso modo de ver a arte foi construído com base na colonização portuguesa, tendo sido marcado, sobretudo, pelos valores europeus, cujos critérios estão associados à beleza e à criatividade. No caso da arte indígena, não há separação entre a questão utilitária e a artística. Desta forma, defendem alguns autores (PROENÇA, 2003, p. 191) que “a arte indígena é mais representativa das tradições da comunidade do que da personalidade do indivíduo que a faz”. Na arte indígena, a representação sociocultural do grupo é priorizada e aparece nos artefatos produzidos. Da pintura corporal até a cestaria e as panelas, esta arte está mesclada no universo da vida tribal, sendo o ornamento parte essencial de tudo o que é fabricado, contudo, não existe (ou até então não se tem notícia de) nenhuma palavra nas línguas indígenas com o significado que tem em nossa sociedade. Ao olharmos o percurso da arte em diferentes momentos históricos, veremos que há fatores que levam tanto ao apreço quanto ao esquecimento de um estilo ou gosto. Ao sabor destas mudanças, recuperam-se obras, artistas e estilos do passado. Estas oscilações do gosto são também decorrentes de fatores diversos como os “socioculturais” e até mesmo fatos como as descobertas arqueológicas. A arte medieval foi reabilitada no século XIX. 28 Este fluxo pode recair sobre um artista específico, um movimento ou, até mesmo, o conjunto de obras de uma época. Um exemplo, entre tantos outros, ocorreu no Renascimento com relação à arte medieval. Grosso modo, podemos dizer que a arte medieval foi desqualificada porque estava associada às estruturas da Idade Média.
  • 29. História da Arte Figura 1.7 - Retábulo Medieval, de Ambrogio Lorenzetti Fonte: Fletcher (2011). No Renascimento, o ambiente cultural e artístico experimentava uma intensa fermentação. Os artistas eram valorizados pelas suas realizações e alcançaram uma notoriedade até então inédita no meio social, diferentemente da Idade Média, quando as obras eram executadas por artistas anônimos. Isto explica, em parte, o desinteresse que os renascentistas nutririam pela arte medieval. Entre os fatores, destacam-se: a falta de liberdade do artista, a ideia de que a arte era coisa de artesãos, a negação dos princípios clássicos, como harmonia e proporção... Unidade 1 Um retábulo é composto de uma tábua central, onde aparece o santo a quem se dedica a obra. As tábuas laterais narram os episódios mais marcantes da sua vida, em geral distribuídos em compartimentos, na parte inferior. Muitas vezes, também se encontram representados aqueles que fizeram a encomenda e emblemas heráldicos. 29
  • 30. Universidade do Sul de Santa Catarina Leon Battista Alberti (Gênova, 18 de fevereiro de 1404 — Roma, 20 de abril de 1472) foi um arquiteto e teórico de arte: um humanista italiano, ao estilo do ideal renascentista e filósofo da arquitetura e do urbanismo, pintor, músico e escultor. Uma célebre frase sua foi “Uma obra está completa quando nada pode ser acrescentado, retirado ou alterado, a não ser para pior”. 30 Figura 1.8 – São Jerônimo em seu estúdio (1475-76). Antonello da Messina Fonte: Andrade (2010). Muitos conhecimentos sobre os princípios clássicos (da Grécia e Roma antigas) reaparecem no Renascimento europeu, graças ao trabalho de tradução de humanistas, como Leon Batista Alberti. O desenvolvimento do pensamento científico esteve a par e passo com o movimento artístico do Renascimento, o qual pode, inclusive, ser visto como uma das esferas nas quais as descobertas científicas se expressaram.
  • 31. História da Arte Analise o retábulo medieval e o quadro renascentista de Antonello da Messina, mostrados nesta seção, buscando diferenças e semelhanças entre ambos e registre suas observações nas linhas disponíveis Você deve ter observado que existem variações iconográficas que podem ser facilmente notadas entre as imagens, especialmente o uso da perspectiva na imagem renascentista, o que dá a ela um aspecto mais natural. Diferente da proposta do retábulo medieval, cujas figuras são organizadas hierarquicamente, sem causar ao expectador a sensação de profundidade. Isto ocorre por causa da (e também) diferentes preocupações artísticas que marcaram os tempos históricos. A seguir, leia uma análise sobre obra mostrada de Antonello da Messina e veja como ela ilustra o intercâmbio de ideias e influências, entre os artistas da época. Unidade 1 31
  • 32. Universidade do Sul de Santa Catarina Foi São Jerônimo quem, no século IV d.C., traduziu a bíblia do hebreu e do grego para o latim, sendo este o idioma vigente na Roma de sua época. Messina o representou em meio a livros, como um pensador intelectual humanista. [...] Messina concilia a dimensão reduzida da obra de arte, freqüente na Escola Flamenga, com a concepção de amplitude espacial das composições italianas. Desta forma, ele consegue nos apresentar, em uma obra de tamanho reduzido, a idéia de monumentalidade recorrente no classicismo renascentista. Esta é apenas uma das formas que este artista encontrou de mesclar tendências provindas do norte e do sul europeu do século XV e, com isso, traçar uma linguagem artística muito particular. [...] Por outro lado, a exatidão no uso da perspectiva linear, que fica evidente no chão ladrilhado com motivos geométricos, denuncia o olhar cientificista deste artista italiano. A luminosidade difusa é outro elemento que nos remete à arte dos Países Baixos. Através do contraste de luz e sombra, combinado com a tonalidade quente de suas cores, Messina nos mostra um ambiente mágico e acolhedor. Desta mesma forma, o artista dissimula sua organização simétrica do espaço compositivo, quebrando em parte a rigidez que uma composição com tão forte presença de motivos arquitetônicos deveria ter. (CASTHALIA DIGITAL ART STUDIO, 2006). Pelas considerações feitas até aqui, você já deve ter notado que a arte é um assunto complexo, quando tratada no âmbito do discurso formal. Entretanto, esta condição não deve ser obstáculo para que nos aproximemos dela. Este é desafio da história da arte, assunto da próxima seção. 32
  • 33. História da Arte Seção 3 – A história da arte Toda a obra de arte é um sistema de formas, um organismo. A sua característica essencial é constituída pelo carácter da necessidade, no sentido de que nada pode ser alterado ou deslocado, mas tudo deve permanecer como é. (Heinrich Wolfflin, 1984). Como tão bem expressa Paul Klee (1971), o termo “História da Arte”, em geral, designa o estudo das artes visuais como a pintura e a escultura. O estudo de outras expressões da arte, como a música, a literatura, a arquitetura ou o teatro, é definido por uma terminologia mais específica, como a história do teatro, da música, da literatura... Qualquer proposta de estudo sobre história da arte é sempre limitada. A presença da arte e, por conseguinte, dos objetos artísticos na história, são de tamanha recorrência e diversidade que é impossível abarcá-los por inteiro. Por isto, dificilmente alguma proposta de historiar a arte pode pretender a totalidade. As metodologias para delimitar a especificidade disciplinar da história da arte começaram a ser esboçadas nos últimos cem anos. Dentre elas, destacamos duas. A primeira delas privilegia o formalismo, entendido como o resultado plástico da atividade produtiva do artista, que é possível pela análise da experiência formal: linhas, texturas, cores, luzes e volumes. A segunda, que pode ser designada de social, procura estudar a arte ou o aparecimento dos objetos artísticos, atrelados ao contexto histórico de sua produção. Artur Freitas (2004) afirma que esta perspectiva implica que se faça a releitura de suas condições de produção e a genealogia de suas recepções: é a história, enfim, de sua circularidade institucional, bem como da cadeia de informações e valores gerados a partir da imagem. A história da arte ajudaria, assim, a identificar as variações dos estilos, relacionando-os com os aspectos históricos mais gerais de uma sociedade. Unidade 1 Dois grandes teóricos da proposta formalista são Henrich Wolfflin 1864/1945 e Henri Focillon 1881-1943. Esta perspectiva tem como expoentes um dos autores mais renomados, Arnold Hauser, especialmente com a obra “História social da arte e da literatura”. Esta obra teve bastante destaque nos anos 60/70 do século XX, por causa da tendência de esquerda do autor. Veja a referência completa no saiba mais. 33
  • 34. Universidade do Sul de Santa Catarina Portanto, o estudo das obras artísticas pode ser feito inserindo-as no âmbito da cultura em que foram produzidas, desde que se admita de antemão que nenhuma elaboração poderá esgotar o seu significado, pois a linguagem não esgota o sentido da arte. Reconhecemos, desta forma, que a sociedade tem influência sobre as sensibilidades artísticas e que isto afeta o trabalho dos artistas. Procuramos, nesta unidade, contemplar estas duas instâncias, porque entendemos que isoladamente ambas as perspectivas têm limitações: na primeira, temos a primazia das formas e, na segunda, a negação dos fatos visuais da imagem. Procurou-se explicitar isto na discussão do tempo histórico, mas também (dentro dos limites interpretativos) optamos pela análise do aspecto formal da obra, feita muitas vezes pelo recurso da comparação. Síntese Nesta unidade, foram discutidos alguns princípios gerais que nortearam o debate sobre a estética, cujo início se deu com Platão. Procuramos mostrar que, além dos filósofos, os artistas também manifestaram suas opiniões com relação à estética, à arte e quanto ao sentido do seu próprio trabalho. Para ilustrar esta importante etapa da discussão sobre a estética, apresentamos algumas ideias do pintor francês Eugene Delacroix. Na continuidade, abordamos a arte como conceito irredutível à linguagem. Discutimos brevemente o funcionamento do sistema de arte em nossa cultura, mostrando que ele não comporta todas as expressões da arte produzida pelo homem, a exemplo do que ocorre com a arte indígena brasileira. Por fim, analisamos duas metodologias propostas para a história da arte e como se instituem os movimentos artísticos, levando em consideração que a cultura é o espaço no qual eles se desenvolvem. 34
  • 35. História da Arte Atividades de autoavaliação 1) No livro A Origem da Tragédia, o filósofo alemão Friedrich Nietzsche esboça algumas ideias que se tornaram centrais na sua filosofia. Nesta obra, os deuses gregos Apolo e Dionísio são considerados forças artísticas que emergem da própria natureza. Faça uma pesquisa em enciclopédias ou em sites seguros da internet para descrever três traços do espírito dionisíaco e três do espírito apolíneo. 2) Com base nos dos estudos realizados, explique como se fundamentam os objetos artísticos em nossa cultura. Unidade 1 35
  • 36. Universidade do Sul de Santa Catarina Saiba mais Para essa unidade, recomendamos: HAUSER, Arnold. História Social da Arte e da Literatura. São Paulo: Martins Fontes, 2000 (mencionada do texto). Sobre a questão do gosto, leia: FERRY, Luc. Homo aestheticus: a invenção do gosto na era democrática. São Paulo: Ensaio, 1994. Sobre a relação do artista com seu meio social, assista ao filme Modigliani. Sinopse Na Paris de 1919, um grupo de artistas plásticos se reúne, com frequência, num dos cafés do alegre bairro de Montparnasse. Entre eles, encontram-se nomes como os de Pablo Picasso, Maurice Utrillo, Claude Monet, Diego Rivera, Chaim Soutine, Moise Kisling e Amedeo Modigliani. Muito brincalhão, Modigliani chega dançando, sobe nas mesas, senta-se no colo do sisudo Picasso, sendo bastante aplaudido. Embora excelente pintor e brincalhão, seu temperamento, às vezes explosivo, faz com que perca grandes oportunidades, o que o leva a não ter uma vida financeiramente confortável. Figura 1.9 - Modigliani Fonte: MB (2011). 36
  • 37. unidade 2 A arte nas sociedades tradicionais Objetivos de aprendizagem „„ Desenvolver a habilidade de identificar estilos artísticos através dos tempos. „„ Propiciar a discussão e reflexão crítica acerca do objeto artístico inserido no contexto histórico de sua produção. „„ Conhecer obras representativas da arte, produzidas nas sociedades tradicionais, e desenvolver a capacidade de apreciação destas obras. Seções de estudo Seção 1 Arte pré-histórica Seção 2 Arte egípcia Seção 3 Grécia e Roma (antiguidade clássica) Seção 4 A época medieval 2
  • 38. Universidade do Sul de Santa Catarina Para início de estudo Nesta unidade, você vai estudar a arte e seu papel nas sociedades tradicionais. Iniciamos com a arte pré-histórica, examinando as primeiras civilizações como a egípcia e cretense e a antiguidade clássica. Por fim, analisaremos a arte medieval e seu trajeto até o advento da modernidade no século XVI. O fundamento da sobrevivência nas sociedades tradicionais era a agricultura e em volta dela se organizava a vida social. Elas têm como característica uma maior proximidade com a natureza e, em virtude disto, apresentam uma concepção de tempo, baseada nas estações do ano, no tempo cíclico. Um outro fator que as diferencia das sociedades modernas é a imobilidade social. Via de regra, os indivíduos se mantinham por toda a vida dentro da mesma camada social em que nasciam. Nestas sociedades em que o senso geográfico era restrito às comunidades locais, o status da arte esteve relacionado ao trabalho artesanal. Todos aqueles que detinham o domínio técnico da fabricação das coisas eram considerados artesãos. Com algumas exceções, a despeito da fama de escultores gregos, como Fídias e Praxíteles na Grécia antiga, não fazia muita diferença, em termos de prestígio social, fabricar um utensílio de uso cotidiano ou uma escultura, pois não havia a noção de artista como conhecemos hoje. Este cenário só vai mudar com o Renascimento. Entretanto, a despeito disto, um vasto conjunto artístico foi legado desde a pré-história até o florescimento e desenvolvimento das primeiras civilizações, como a egípcia e cretense. Cabe lembrar que, apesar da organização cronológica dos conteúdos, a arte não pode ser analisada em termos de evolução. Os estilos artísticos, apesar das aparentes diferenças, representam a busca dos artistas em conquistar novas relações a exemplo do que fizeram os artistas que os antecederam, não significando que estas soluções sejam melhores ou piores que aquelas. 38
  • 39. História da Arte Seção 1 – Arte pré-histórica As manifestações artísticas são muito antigas. Sua importância extrapola a mera apreciação estética, como a arte pré-histórica, que fornece detalhes importantes do modo de vida dos primeiros grupos humanos. Do ponto de vista da pesquisa histórica, a existência destes registros ajuda a compensar a imensa lacuna documental que recai sobre as épocas anteriores à invenção da escrita. As imagens artísticas mais conhecidas remontam ao período em que o homem possuía um reduzido domínio do mundo natural, conhecido como Paleolítico Superior. Estes povos viviam da caça e da coleta. Um dos exemplos mais destacados da sua arte são as pinturas encontradas nas cavernas, também chamadas de “arte rupestre”, em praticamente todas as regiões do planeta. Dois sítios bem conhecidos são os de Altamira na Espanha e Lascaux na França. O termo “pré-história” traz consigo a noção preconceituosa de que os povos que desconheciam a escrita não tinham história. Esta noção não tem mais sustentação na historiografia recente. O termo é utilizado, contudo, para organizar a longa duração temporal em três períodos, Paleolítico Inferior (500.000 a.C.), Paleolítico Superior (30.000 a.C.) e Neolítico (10.000 a.C.). Figura 2.1 - Caverna de Lascaux, França. Cerca de 15 mil anos Fonte: Schmitz (2009). Descoberta por 4 adolescentes em 1940, a gruta de Lascaux constitui uma referência incontornável no domínio da arte rupestre. Situada perto de Montignac, na Dordonha, na França. A disposição da gruta, cujas paredes estão pintadas com bovídeos (sic), cavalos, cervos cabras selvagens, felinos etc., permite pensar tratar-se de um santuário. As investigações levadas a cabo durante os últimos decênios permitem situar a cronologia das pinturas no final do Solutrense e princípio do Madalenense, ou seja 17 000 anos BP (antes da atualidade). (SILVA, 2007). Unidade 2 39
  • 40. Universidade do Sul de Santa Catarina Estas pinturas são, em geral, de tamanho monumental e representam animais de caça. Apesar da sua antiguidade, as imagens, sob nenhum aspecto, podem ser taxadas de primárias. Os traços seguros e vigorosos e a integridade das formas mostram um alto grau de elaboração estética. Estas imagens não foram criadas para serem apreciadas no sentido em que isto é feito em nosso meio. Era uma arte a serviço da magia. Esta é a explicação mais aceita sobre o significado da arte pré-histórica. Todavia, é importante não confundir magia e religião, pois são distintas. As práticas mágicas dos homens e mulheres pré-históricos não preenchem os requisitos que definem aquilo que entendemos por religião: não há potências sagradas e também não há fé que estabeleça uma conexão com seres espirituais de outro mundo. Observe novamente as figuras representadas na caverna de Lascaux. Note que os animais aparecem pintados de modo mais natural possível. Por isto, atribui-se à pintura do período Paleolítico um caráter naturalista, ou seja, a busca por representar as coisas mais próximas de sua aparência no natural. O domínio da representação anatômica é outro fator indicativo de que o artista foi um observador atento, uma vez que as pinturas mostram uma incrível semelhança com os seres retratados. Este é um aspecto fundamental para a compreensão da questão mágica, pois, ao pintar um animal sendo alvejado, o pintor deveria fazê-lo o mais fielmente possível. Isto porque não havia uma separação reconhecida entre o objeto representado e aquilo que efetivamente ele representava. Imagem e realidade eram inseparáveis para homens e mulheres pré-históricos. Tudo parece indicar que havia a crença de que aprisionar o animal na pintura garantia que o mesmo fosse feito na caçada. 40
  • 41. História da Arte Figura 2.2 - Caverna de Lascaux, França. Cerca de 15 mil anos Fonte: Guimarães (2009). Mas, como as pinturas eram realizadas? O artista pré-histórico trabalhava em cavernas escuras, com iluminação reduzida, fator que acabou sendo decisivo para a preservação das imagens que hoje conhecemos. Em alguns casos, ele fazia sulcos na parede e posteriormente os pintava com tintas feitas do carvão, óxidos minerais, substâncias vegetais e sangue animal. O sentido desta arte somente pode ser compreendido pela árdua luta pela sobrevivência que os homens da pré-história tinham de empreender para driblar as dificuldades que a sobrevivência lhes impunha. O que se pode apurar do seu legado artístico é que já nestes primórdios, a arte foi de fundamental importância para que pudessem expressar suas crenças, medos e desejos. Numa época em que a expectativa de vida era muito baixa, a capacidade da mulher em gerar e alimentar uma vida era vista com admiração. Feitas de osso, chifre ou pedra, as estatuetas femininas conhecidas como vênus são as mais antigas representações femininas ilustrativas desta visão. Unidade 2 41
  • 42. Universidade do Sul de Santa Catarina Esta denominação vem do fato dos estudiosos julgarem que estes pequenos amuletos correspondiam ao ideal de beleza da pré-história. Para Camille Paglia (1994, p. 61), “A gordura da imagem é um símbolo de abundância numa era de fome. Ela é a demasia da natureza, que o homem anseia por dirigir para sua salvação”. Acreditando no seu poder mágico, o artista retinha em sua criação os atributos que mais o interessavam, os quadris e seios, simbolizando a fertilidade feminina. Figura 2.3 - Vênus de Willendorf Fonte: Schmitz (2009). Na escultura “Vênus de Willendorf ”, mostrada na figura 2.3, é possível identificar essas características. A estatueta tem 11,1 cm de altura e representa estilisticamente uma mulher. Esta estatueta foi descoberta pelo arqueólogo Josef Szombathy em um sítio arqueológico situado perto de Willendorf, na Áustria, em 1908. É uma estatueta esculpida em calcário e colorido com ocre vermelho. (PORTAL DA ARTE, [200-]). Mesmo sendo de extrema importância dentro da dinâmica cultural das sociedades pré-históricas, as suas realizações artísticas não possuíam o sentido atual que damos às obras de arte. Naquele momento, inexistia uma ideia para designar o que é arte. O processo de abstração, ou a capacidade de destacar um ou mais elementos de uma realidade complexa, era ainda um fator em desenvolvimento no período pré-histórico. O período Neolítico corresponde a última fase da Pré-História. Iniciou-se por volta de 10.000 a.C. e vai até 4.000 a. C. Todavia, esta é uma periodização criada para facilitar o estudo, pois aspectos do modo de vida do Neolítico persistiram em muitos grupos humanos até recentemente. 42 À medida que o controle da natureza foi aumentando, a arte também se transformou. Foi isto que ocorreu no período Neolítico, quando houve a domesticação de plantas e animais. É no Neolítico que o nomadismo dá lugar à sedentarização, fator decisivo para a “prosperidade” das comunidades pré-históricas. A arte vai se modificar ao mesmo tempo em que as organizações sociais se tornam mais complexas, com o surgimento da divisão do trabalho e a formação das células familiares. Graças à domesticação dos animais, o camponês neolítico já não precisava caçar para conseguir o seu sustento. Com mais tempo para outras atividades, a produção de bens materiais sofreu um incremento com o desenvolvimento da cerâmica, da tecelagem e do trabalho com metais.
  • 43. História da Arte Figura 2.4 - Vasos neolíticos encontrados na região da atual Bulgária Fonte: Arquivo pessoal da autora (2010). Novas técnicas de execução e novos temas darão à arte do Neolítico um aspecto menos naturalista e mais geométrico. Para muitos estudiosos, os povos do Neolítico têm uma menor preocupação com a aparência natural das coisas, pois eram menos dependentes dos seus sentidos que seus antecessores. A observação que caracterizou o Paleolítico cedera lugar a uma maior racionalização. Por conseguinte, os objetos passaram a ser criados buscando a função utilitária e também a beleza. Outra mudança fundamental do Neolítico foi a separação da realidade e da magia, que, por sua vez, é substituída lentamente pelos rituais religiosos. Mas por que as organizações simplesmente não se transformam em “instituições que aprendem”, como nos dias de hoje? Unidade 2 43
  • 44. Universidade do Sul de Santa Catarina Seção 2 – Arte egípcia Desde a antiguidade, as realizações artísticas dos egípcios nunca pararam de influenciar as sociedades ocidentais, tendo marcado, sobretudo, a cultura grega e romana. Nos últimos dois séculos, arqueólogos, historiadores e aventureiros se lançaram numa busca sem precedentes pelo legado artístico dos antigos egípcios. O resultado desta “caça ao tesouro” foi a dispersão do conjunto de obras nas mãos de colecionadores e de museus pelo mundo inteiro. Pirâmides, esfinges, templos magníficos, esculturas, pinturas, objetos ritualísticos e cotidianos são testemunhos de uma das mais complexas e duradouras organizações sociais da história. É a apreciação deste fabuloso legado artístico que desperta e mantém a curiosidade sobre este povo antigo, cuja principal motivação para a produção artística, como você vai estudar adiante, residia na ideia de imortalidade. A civilização egípcia sucedeu às comunidades neolíticas que se estabeleceram às margens do rio Nilo na África. A partir do momento em que os egípcios dominaram a regularidade das cheias do Nilo, a fertilidade da terra garantiu colheitas abundantes. Por volta de 3.200 a.C., ocorre a formação de um estado centralizado, dando início ao período conhecido como Dinástico. A partir daí, a sociedade do Egito antigo teve certa estabilidade, mantida por uma monarquia teocrática, cuja figura central era o faraó. Supremo governante, visto como Deus vivo, o faraó tinha controle sobre as instituições burocráticas, militares, culturais e religiosas. A firmeza e solidez de seu poder são expressas em muitas obras artísticas. Por patentear a ordem e a estabilidade, ele era usualmente representado em atitudes nobres, com gestos de eternidade (BAKOS e BARRIOS, 1999). Na escultura do faraó Miquerinos e sua esposa (figura 2.5), mostrada a seguir, é possível identificar estas características. 44
  • 45. História da Arte Figura 2.5 - O Faraó Miquerinos e a Rainha, V dinastia, c. 2470 a.C. Fonte: Pontes (2009). Perceba que os braços colados ao corpo e os punhos cerrados dão ao conjunto uma sensação de imobilidade típica da arte egípcia, em que os seres eram representados em sua idealidade e não em sua naturalidade. Os escultores deviam dar às imagens dos seus governantes a impressão de força e juventude. O ápice do poder faraônico ocorreu no Antigo Império. Neste período originaram-se conhecidas manifestações da arquitetura egípcia, como as pirâmides, construídas para abrigar em seu centro o corpo mumificado do faraó. Sendo considerado um ser divino, o faraó deveria ir para junto de seus iguais, daí a altura das pirâmides Unidade 2 O império egípcio é dividido nos seguintes períodos: Antigo Império (3200 a.C. até 2300 a.C.), Médio império (2000 a.C.), Novo Império (1500 a.C. até 525 a.C.). 45
  • 46. Universidade do Sul de Santa Catarina Durante muito tempo, acreditou-se que a sua construção tenha sido realizada unicamente por mão de obra escrava, mas a historiografia recente, à luz de novos documentos, ampara também a hipótese do trabalho remunerado. Figura 2.6 - As Grandes Pirâmides de Gizé, IV e V dinastias: Miquerinos (c. 2470 a.C.), Quefren (c. 2500 a.C.) e Quéops (c. 2530 a.C.), respectivamente Fonte: Pontes (2009). As pirâmides foram construídas numa época em que os faraós exerciam máximo poder político, social e econômico no Egito Antigo. Quanto maior a pirâmide, maior seu poder e glória. A vida cultural e social dos egípcios foi caracterizada intensamente pela religião politeísta, que penetrava em todos os aspectos da vida pública e privada. A crença na vida após a morte, tanto do corpo quanto da alma, foi um dos seus mais fundamentais preceitos. Buscando isto, os egípcios desenvolveram técnicas apuradas de preservação, como o processo de mumificação. Não é de se estranhar que boa parte do seu legado artístico seja composta de objetos voltados aos cultos mortuários. 46
  • 47. História da Arte Os tesouros encontrados na tumba deste faraó deram ao mundo uma visão totalmente nova do tipo dos artefatos egípcios que haviam sido roubados há muito tempo de todas as tumbas faraônicas e dispersos ou desprovidos de seu ouro ou pedras. (THE METROPOLITAN OPERA GUILD, 2008). Figura 2.7 - Sarcófago de Tutancamon, descoberto numa tumba intocada, em 1922 Fonte: El País.com : La Comunidad (2010). Coube à arte a missão de perpetuar as crenças religiosas e, muito embora as mudanças fossem ocasionais, o fato é que, em centenas de anos, suas convenções pouco mudaram. A arte egípcia manteve aspectos regulares que definem seu estilo e a torna reconhecível, como você verá a seguir. Unidade 2 47
  • 48. Universidade do Sul de Santa Catarina A pintura egípcia As pinturas egípcias datam da pré-história até a última fase do império (conhecida como fase greco-romana). Encontradas em geral no interior de túmulos e templos, elas não tinham, como ocorreu com as pinturas nas cavernas, o objetivo de ser expostas para apreciação pública, mas sim, de levar para a vida após a morte o que fosse necessário para garantir o conforto e o lugar social do morto. Os temas abordados são muito amplos e narram desde cenas modestas da vida de camponeses e operários até o cerimonial que cercava a vida da nobreza. Figura 2.8 - Cena do Livro dos Mortos, XVIII dinastia Fonte: Gombrich (1999). Nos muitos exemplos da pintura egípcia, cujo tema é a figura humana, notamos uma das suas principais convenções estilísticas, a lei da frontalidade. Ela perdurou por mais de dois mil anos e é, sem dúvida, um dos aspectos que mais definem a sua singularidade. Esta regra de representação, seguida pelos artistas egípcios, determinava como o corpo humano deveria ser retratado. Arnold Hauser (2000) definiu a lei da frontalidade da seguinte maneira: 48
  • 49. História da Arte [...] seja qual for à (sic) posição em que o corpo é representado, toda a superfície do tórax está voltada para o expectador, de tal forma que a parte superior do corpo é divisível por uma linha vertical em duas metades iguais. Essa abordagem axial, oferecendo a mais ampla visão possível do corpo, tenta obviamente apresentar a impressão mais nítida e menos complicada a fim de evitar qualquer mal entendido, confusão ou encobrimento dos elementos da pintura. Figura 2.9 - Fragmento de um Livro dos Mortos, XVIII dinastia Fonte: Gombrich (1999). Unidade 2 49
  • 50. Universidade do Sul de Santa Catarina Como você pode observar, o artista egípcio trabalhava em função do que via e do que não via. A impressão que temos, ao olhar atentamente para estas obras, é de que seu autor queria reter na imagem o máximo de elementos possíveis. O que importava não era a beleza, mas a clareza e permanência, pois, para atravessar a eternidade, o corpo (assim como todas as outras coisas representadas) deveria estar o mais completo possível. Para tanto, havia algumas regras a serem rigorosamente obedecidas: „„ „„ „„ Homens representados mais escuros do que as mulheres. A perspectiva hierárquica determinando que o faraó fosse mostrado em tamanho maior do que as outras pessoas. Os deuses aparecem representados sempre da mesma forma. Contudo, em alguns momentos, a arte egípcia oscilou entre conservadorismo e inovação, como no Novo Império, quando as reformas religiosas implantadas pelo faraó Akhenaton resultaram em uma maior liberdade criativa para os artistas. Algumas obras deste período são menos geometrizadas e mais fluidas, abrandando a tradicional sensação de imobilidade. Amenhotep IV, mudou seu nome para Akhenaton e tentou implantar um culto monoteísta, cujo único deus Aton era representado pelo disco solar. As mudanças não sobreviveram ao seu reinado (1372 – 1358 a.C.). Figura 2.10 - Faraó Amenófis IV. Relevo em pedra calcárea. Aprox. 1370 a.C. Fonte: Gombrich (1999). 50
  • 51. História da Arte Neste relevo, você pode identificar o que se chamou estilo Akhenaton. Observe que, quase caricatural, a imagem do Faraó revela formas mais suaves e fluidas. Aprofunde seus conhecimentos estudando as características históricas do Novo Império em enciclopédias ou sites recomendados da internet. Seção 3 – Grécia e Roma (antiguidade clássica) A Grécia antiga era constituída por três partes: Grécia Continental, o Peloponeso e a Grécia insular. Diferentemente da arte egípcia voltada para a religião, a arte grega foi concebida para ser vista. Seja ornamentando ambientes, adornando templos ou como oferenda para agradar aos deuses, seu objetivo era a vida presente. Na arte grega predominam o ritmo, a harmonia e o equilíbrio embalados por características marcantes como a busca pela beleza e o interesse pelo homem. É fato que os padrões estéticos de nossa cultura foram profundamente influenciados ou até mesmo herdados da Grécia antiga. Na arquitetura, teatro, literatura, escultura, seu legado continuou vivo no Ocidente, onde foi continuamente reabilitado Unidade 2 51
  • 52. Universidade do Sul de Santa Catarina As origens da civilização grega A região que constituiu a antiga Grécia recebeu a vinda de povos indo-europeus a partir de 2.000 a.C. Suas origens estão ligadas à história da ilha de Creta, cujo apogeu ocorreu entre 2.000 a.C e 1400 a.C. Graças à sua posição privilegiada na região do Mediterrâneo, Creta manteve hegemonia comercial efetuando contatos culturais com importantes povos da antiguidade, como os egípcios. Inicialmente construído a partir de cerca de 1900 A.C., tendo sido destruído cerca de 1700 A.C.; e reconstruído cerca de 1600 A.C. – 1500 A.C., fase a que pertencem a maior parte das ruínas hoje visíveis, o “Palácio de Cnossos” é a principal atração da ilha de Creta. O palácio teria sido novamente destruído cerca de 1450 A.C., na sequência da erupção do vulcão de Santorini. (VICENTE, 2004). Os aqueus eram grupos guerreiros originários da região dos Bálcãs. 52 Por meio das descobertas arqueológicas feitas no século XIX, algumas realizações artísticas dos cretenses se tornaram conhecidas, como as pinturas do palácio de Cnossos. Figura 2.11 - Golfinhos, Palácio de Cnossos em Creta Fonte: Pontes (2008). Em sua maior parte, a pintura minóica ou cretense tem inspiração na natureza, característica que acabou sendo exportada de Creta para outras culturas mediterrânicas. A pintura cretense é identificada também pela capacidade de apreensão das formas e pelo intenso colorido e movimento. Por volta de 1.400 a.C., os aqueus invadiram Creta, dando origem à civilização creto-micênica. Este período ficou denominado como pré-homérico. Cidades importantes como Micenas e Tirinto foram erguidas, cujas grandes muralhas sobreviveram aos tempos. Do ponto de vista estilístico, a arte destes povos vai ser mais pesada e formal do que a cretense. Um dos mais conhecidos exemplos desta arte é a Porta dos Leões encontrada na cidade de Micenas.
  • 53. História da Arte Figura 2.12 - Porta dos Leões em Micenas, aproximadamente 1.500 a.C. Fonte: ALBV (2008). Após a queda da civilização creto-micênica, a Grécia vai mergulhar numa época rural, com o enfraquecimento da vida política e econômica. Surgem as comunidades gentílicas, forma de organização social caracterizada pelo poder das grandes famílias. Sobre estes tempos, os registros são escassos, sendo os principais deles a Ilíada e a Odisseia, ambos supostamente de autoria do poeta Homero. Neste período, também conhecido como tempos homéricos (séc. XII a VIII), vai ser constituída a base da civilização grega, com o surgimento da Cidade-Estado grega (polis), centro político, social e religioso autônomo. De acordo com a lenda, o poeta cego Homero teria registrado os poemas que eram conhecidos apenas na tradição oral. A pólis surge como consequência da crise política e econômica que levou à desintegração das comunidades gentílicas no fim dos tempos homéricos. Figura 2.13 – Homero, busto de mármore, cópia romana de original grego Fonte: Martins (2008). Unidade 2 53
  • 54. Universidade do Sul de Santa Catarina Cada uma das cidades gregas tinha sua classe dominante, seus deuses próprios e seu sistema de vida diferenciado. O princípio desta autonomia foi fundamental para o desenvolvimento econômico, cultural e artístico. A arte grega A arte grega foi complexa e diversa. Nossa abordagem vai seguir a organização recorrente na maior parte dos livros de história da arte, situando-a entre o surgimento das Cidades-Estado até a tomada da Grécia pelos romanos, fixando o estudo das suas regularidades estilísticas mais constantes em três momentos respectivamente: período arcaico, clássico e helenístico. O estilo arcaico (séc. VII a.C ao séc. V a.C) Mesmo que seja difícil circunscrever os limites da influência, sabemos que os gregos foram influenciados artisticamente por outros povos e também pelas civilizações que os precederam, como a cretense e a creto-micênica, estudadas anteriormente. Mas é fato também que estas civilizações souberam ir muito além do que aprenderam, desenvolvendo um estilo artístico inconfundível e sem parâmetros anteriores. Como disse Hauser (2000, p. 77), “antes deles não existia o livre inquérito, nem a investigação teórica, nem o conhecimento racional, nem arte como conhecemos hoje – isto é, uma atividade cujas criações podem ser sempre apreciadas como formas puras.” Kouros e Koiré são nomes dados às esculturas de homens e mulheres jovens respectivamente. 54 No período arcaico, os artistas começaram a esculpir, em mármore, figuras em rigorosa posição frontal, com o peso do corpo distribuído sobre as duas pernas. Mas, já é por volta desta época que, por meio do aprimoramento das esculturas humanas, notamos mudanças feitas com técnicas egípcias. Observe estes exemplos de Kouros e Koiré e compare com a imagem do faraó Miquerinos, mostrada nas páginas anteriores.
  • 55. História da Arte Você deve ter notado que as semelhanças com a estátua egípcia são indiscutíveis: posição frontal, punhos cerrados, o peso do corpo apoiado nas duas pernas. Estas esculturas transmitem a mesma sensação de imobilidade que encontramos na estatuaria egípcia. Isto porque, inicialmente, a forma de esculpir em grandes blocos foi copiada dos egípcios, mas observe que a imagem do Kouros a seguir, já apresenta uma variação, que foi a introdução de vãos entre braços e pernas. Figura 2.14 - Koiré, 530 a.C. Fonte: Arquivo pessoal da autora (2010). Figuras 2.15 - Irmãos Cleobs e Biton, 580 a.C. Fonte: Gombrich (1999). Isto acaba transmitindo uma sensação mais leve e dinâmica, artifício que atingirá culminância nas obras do período clássico, que você estudará a seguir. Unidade 2 55
  • 56. Universidade do Sul de Santa Catarina O período clássico (séc. V a.C. ao séc. IV a.C) À medida que os artistas gregos vão aprimorando as técnicas de execução, o mármore, material usado desde o século VII, passa a ser substituído pelo bronze. A questão que os escultores buscavam resolver com esta substituição era conseguir fazer partes do corpo sem necessariamente ter de apoiá-las, coisa que o mármore não favorecia, já que tinha propensão de quebrar com o próprio peso. A esta altura, você deve estar se perguntando, então, por que a maioria das estatuas gregas que conhecemos parece ser de mármore? O fato é que muitos exemplares originais feitos em bronze foram perdidos, destruídos ou transformados em materiais bélicos ao longo do tempo. Míron foi um escultor grego (século V a.C.), nascido em Elêutras. Foi o mais velho dos três grandes escultores do século de Péricles: Míron, Fídias e Policleto. Duas de suas obras chegaram até nós, em cópias romanas: Atena e Mársias, e mais O Discóbolo uma das esculturas mais famosas da história da arte.” (NUNES, 2008). O que sobrou foram cópias em mármore feitas pelos romanos a partir dos originais gregos. Graças a isto, podemos conhecer obras importantes, como a cópia feita de um original de Míron, conhecida como discóbulo. Figura 2.16 - Discóbulo. Cópia romana, de um original em bronze de Míron. Aproximadamente 450. a.C. Fonte: Gombrich (1999). 56
  • 57. História da Arte Como você pode notar nas esculturas aqui mostradas, os gregos buscavam representar um ser humano perfeito. Isto somente foi conseguido por meio de processos racionais que levaram ao conhecimento das proporções anatômicas e da simetria. Escultores como Policleto codificaram medidas perfeitas, por exemplo, determinando que o corpo deveria medir sete vezes e meia o tamanho da cabeça. Os principais mestres da escultura clássica grega são: Praxíteles, celebrado pela graça das suas esculturas, pela lânguida pose em “S” (Hermes com Dionísio menino). Ele foi o primeiro artista que esculpiu o nu feminino; Policleto, autor de Doríforo - condutor da lança, criou padrões de beleza e equilíbrio usando o tamanho das estátuas, que deveriam ter sete vezes e meia o tamanho da cabeça; Fídias, talvez o mais famoso de todos, autor de Zeus Olímpico, sua obra-prima, e Atenéia. Realizou toda a decoração em baixos-relevos do templo Partenon: as esculturas dos frontões, métopas e frisos; Lisipo, representava os homens “tal como se veem” e “não como são” (verdadeiros retratos). Foi Lisipo que introduziu a proporção ideal do corpo humano, com a medida de oito vezes a cabeça. (MARTINS; IMBROISI [200-]). Estas convenções, criadas há tanto tempo, mostrando homens e mulheres sempre jovens, belos e de expressão ausente, foram admiradas e amplamente usadas Figura 2.17 - Praxíteles Hermes com o jovem Dionísio, 350 a.C. pelos grandes mestres do Renascimento e Fonte: Gombrich (1999). ainda regem padrões de beleza atuais. Unidade 2 57
  • 58. Universidade do Sul de Santa Catarina A escultura deste período tem como característica o naturalismo idealista, entendido como a tentativa do artista de melhorar a natureza. Marilena Chauí (2001, p. 362) definiu este padrão nos seguintes termos: “Na verdade mostra o mundo como desejaríamos que fosse, melhorando e aperfeiçoando o real”. Para sua pesquisa e reflexão Tendo por base os dados aqui apresentados e pesquisas nos materiais de sua preferência, analise a escultura de Hermes com o jovem Dionísio e anote suas impressões acerca da composição, procurando avaliar questões formais, como equilíbrio, proporção, movimento e a atmosfera que dela emana. Após registrar suas impressões nas linhas seguintes, compare suas conclusões com aquelas apresentadas no saiba mais desta unidade. Ainda na época clássica, temos a “era de ouro” de Atenas, quando as artes ganharam um impulso, resultando em obras célebres da escultura e da arquitetura, entre elas, o Partenon. Construído na parte alta da cidade chamada de Acrópole, este templo foi consagrado à deusa Atenas, protetora da cidade. 58
  • 59. História da Arte Figura 2.18 – O Partenon, Acrópole, Atenas, 447-432 a.C Fonte: Gombrich (1999). A época helenística (séc. III ao séc. II a.C). Durante o período conhecido como helenístico, as transformações históricas vão interferir profundamente no fazer artístico. Esta época foi marcada pelo domínio macedônico sobre as Cidades-Estado, iniciado por Felipe II e continuado por seu filho Alexandre (356-323 a.C.), que estendeu seu império até a Índia. Após a sua morte, este foi transformado em uma série de Estados independentes. Entretanto, a consequente mescla de culturas, do Ocidente e o Oriente, que resultou do processo expansionista, gerou uma nova cultura definida como helenística. O Partenon é provavelmente o mais conhecido de todos os templos gregos da antiguidade. Construído entre 480 e 323 a.C., ele representa todo o refinamento e estilo da arquitetura de Atenas nesse período. (STUART, 2006). Como resultado da nova condição social e política da Grécia, vamos perceber um naturalismo mais acentuado nas esculturas. O idealismo dos tempos clássicos vai desaparecer e, em seu lugar, teremos mais realismo com a tentativa de atribuir características psicológicas às esculturas. Unidade 2 59
  • 60. Universidade do Sul de Santa Catarina Figura 2.19 - O gaulês moribundo, 230 a.C. Autor desconhecido Fonte: Portal São Francisco [200-]. Sentimentos, como a dor e o sofrimento, passam a ser incorporados às imagens, resultando em obras de teor dramático, como é o caso da escultura acima. O grupo mostrado a seguir, conhecido como Laocoonte e seus filhos, narra um episódio mítico da Guerra de Troia. Produzido no século I a.C., ele sintetiza a filosofia artística da fase helenística. 60
  • 61. História da Arte Figura 2.20 - Laocoonte e seus filhos. Ca. 175 - 50 a.C. Fonte: Gombrich (1999). Paulatinamente abandonada, a atitude contemplativa do período clássico é suplantada pela realidade destes novos tempos. Uma vez invadida e fragmentada a civilização grega, o artista se distancia do idealismo de outrora, a arte fica mais próxima da condição humana, como o envelhecimento, o sofrimento e a morte. Unidade 2 A estátua representa Laocoonte e seus dois filhos, Antiphantes e Thymbraeus, a serem estrangulados por duas serpentes marinhas em um episódio dramático da Guerra de Tróia. Laocoonte, um sacerdote de Apolo, foi o único que pressentiu o perigo que o cavalo de Tróia representava para a cidade e que protestou contra a ideia de o levar para dentro das muralhas. Segundo a lenda, Poseidon, um deus que favorecia os gregos, enviou então duas serpentes para calar a voz da oposição. Apesar de provavelmente datar do período posterior ao século I a.c, esta escultura é considerada uma escultura helenística. (RAMALHETE, 2009). 61
  • 62. Universidade do Sul de Santa Catarina A arte romana Por arte romana definimos o conjunto das manifestações que surgiram na península itálica do início do século VIII a.C. até o século IV d.C. Neste período, ocorreram a ascensão e o declínio do Império Romano, cuja história normalmente é divida em três períodos: „„ „„ „„ Monarquia, que vai da fundação (cuja data é imprecisa, sendo a mais usual 753 a.C.) até 509 a.C; República, que vai de 509 a.C. até 27 a.C. Império, que vai de 27 a.C. até a tomada de Roma por povos germânicos em 476 d.C. Os romanos foram conquistadores e agregaram longas vastidões da Europa e do Oriente aos seus domínios. Para manter este império, foi necessário criar uma eficiente estrutura militar e administrativa, o que influenciou no desenvolvimento de uma arte pragmática e utilitária. Quanto às influências que absorveram de outras culturas, devemos considerar, sobretudo, a etrusca e a grega. Dos gregos, os romanos tomaram o alfabeto, conceitos religiosos e muito da sua arte. De acordo com Proença (2000), a influência dos etruscos pode ser notada pelo aspecto realista que a arte romana assumirá. Dos etruscos, os romanos aprenderam também conhecimentos de engenharia, como o uso do arco. Este elemento acabou se tornando uma especialidade da arquitetura romana, que o utilizou na construção de obras públicas, como pontes, aquedutos e monumentos. A ele, os romanos misturaram o frontão e colunas, típicos da arquitetura grega. Parte destas construções, espalhadas pela Europa e Oriente, ainda permanecem de pé, atestando a excelência construtiva alcançada pelos romanos. Alguns dos monumentos mais característicos eram os arcos comemorativos presentes em todas as províncias do império. 62
  • 63. História da Arte Figura 2.21 - Arco triunfal de Tibério. Reinou entre 14 a 37 d.C. Orange, sul da França Fonte: Gombrich (1999). Outro tipo de monumento comemorativo apreciado pelos romanos eram as colunas. Uma das mais representativas é a de Trajano, erigida em 113 d.C., e narra a vitória deste imperador em uma campanha realizada na Dácia (atual Romênia). A altura da coluna é equivalente a um prédio de dez andares e tem toda a sua superfície em mármore talhado. A partir de baixo, ela vai se desenrolando em espiral, levando ao “leitor” uma narrativa contínua e clara por 150 episódios sucessivos. Unidade 2 63
  • 64. Universidade do Sul de Santa Catarina Figuras 2.22 e 2.23 - Respectivamente Coluna de Trajano, 113 d.C. Roma Coluna de Trajano, pormenor, 113 d.C. Roma. Fonte: Flauzino (2008). A cidade de Pompeia foi soterrada juntamente com Herculano e Estábias. Elas ficavam situadas aos pés do vulcão Vesúvio. Este entrou em erupção em 24 de agosto do ano 70 d.C. e despejou uma chuva de cinzas e depois lava. O desenvolvimento da narrativa se dá num pergaminho que tem por volta de 180 metros de comprimento e 2500 figuras humanas. Os relevos são rasos e seu objetivo parece ter sido impressionar o observador, pela minúcia dos detalhes. A figura do imperador Trajano dá unidade à composição, aparecendo diversas vezes ao longo da narrativa repleta de cenas violentas. A pintura de murais foi muito comum nas casas dos romanos mais abastados. Muitas destas pinturas foram encontradas em bom estado de conservação nas cidades de Pompeia, Herculano e Estábias. Em virtude disto, os estudiosos puderam conhecer os estilos e os temas dos quais se ocuparam os pintores. Em alguns exemplos, percebemos como os artistas procuraram atribuir características individuais e realistas. Na imagem mostrada a seguir, você concorda que há o interesse em mostrar as personalidades dos dois jovens retratados? 64
  • 65. História da Arte Figura 2.24 -Afrescos de Pompeia Fonte: Pontes (2009). Pedro Paulo Funari (2001, p. 98), ao comentar as características da sociedade romana, adverte: Pode-se dizer que Roma contava então com dois grupos sociais bem distintos: uma minoria muito rica, que constituía o grupo político dirigente no exército e as instituições, e uma grande massa de pobres, que vivia “do pão e circo”, ou seja, recebia alimentos a preços baixos e espetáculos públicos gratuitos para sua diversão. Enfim, a vida econômica desenvolveu-se muito, mas a prosperidade foi desigual. Unidade 2 65
  • 66. Universidade do Sul de Santa Catarina Este contexto influenciou a produção de uma arte fugidia, desconectada dos problemas que cresceram na mesma medida do Império. Ela tinha como objetivo proporcionar deleite estético por meio do aspecto naturalista e descontraído. Perceba como o artista conseguiu criar uma atmosfera idílica, pelo modo suave com que organizou a composição, desde a seleção do tema, do modo delicado com que a jovem se afasta, até a escolha das cores. Figura 2.25 - Donzela colhendo flores. Pintura mural proveniente de Estábias, século I d.C. Fonte: Gombrich (1999). A arte romana desenvolveu um profundo senso de realismo. A preocupação em fixar traços da personalidade é notada quando esculpiam bustos de figuras célebres da sociedade. Esta prática foi copiada dos etruscos, que costumavam conservar retratos feitos de cera de seus antepassados. 66
  • 67. História da Arte Logo foi aprimorado pelos romanos que, pelo fato de a cera ser perecível, substituíram-na pelo uso de materiais mais duráveis, como o metal e o mármore. Figura 2.26 - Cipião, o africano. General romano que destruiu as tropas cartaginesas entre 211 a 206 a.C. Fonte: UOL Educação [200-]. O escultor estudava atentamente a fisionomia do modelo, procurando captar traços físicos e de expressão. Ao contrário dos artistas gregos, os romanos não vão buscar a beleza, mas sim, o caráter. Como escreveu Gombrich (1999, p.83): O fato curioso é que, apesar da significação solene dos retratos, os romanos permitiram que seus artistas os compusessem mais realistas e menos lisonjeiros do que os gregos jamais tentaram fazer. Unidade 2 67
  • 68. Universidade do Sul de Santa Catarina Seção 4 – A época medieval O feudalismo é um sistema econômico e político, típico da Idade Média. O feudalismo delimitava também as relações sociais, definindo uma rígida estrutura social entre os que oravam (o clero), os que guerreavam (os nobres) e os que trabalhavam (os servos). Grosso modo, podemos afirmar que a Idade Média se inicia com a queda de Roma no século V d.C. quando, juntamente com a desintegração do Império Romano, vai ocorrer um movimento de ruralização e descentralização política, que culminará no feudalismo. A vida das cidades antigas foi substituída pela vida organizada em torno de grandes propriedades agrícolas, os feudos, cujo centro era o castelo. Esta fase da história europeia estende-se até o século XIV, quando a civilização do Renascimento começa a suplantar algumas de suas estruturas. A arte medieval compreende um período de aproximadamente mil anos. Para analisarmos as características da arte produzida nesta época, é necessário reconhecer três grandes influências, que foram marcantes no seu desenvolvimento: „„ a igreja católica; „„ a cultura dos povos bárbaros; „„ a influência da antiguidade clássica. Mas, como se processaram estas influências? Para a igreja católica, uma vez sobrevivida como instituição, a queda de Roma se tornou rica e poderosa. Tinha agora interesse em diluir os vestígios pagãos da antiguidade clássica e expandir a fé cristã por toda a Europa. Uma consequência deste fato nas pinturas e esculturas foi o abandono dos temas mitológicos e naturalistas na arte. 68
  • 69. História da Arte Surgiu, com isto, uma representação mais estilizada das coisas, assumindo algumas regularidades que são percebidas na pintura de afrescos, que consistia numa técnica em que a pintura era aplicada sobre a parede ainda úmida. As iluminuras – pinturas coloridas, que eram realizadas nos livros e manuscritos medievais – também mostram as estilizações da arte medieval. Entre as estilizações, destacam-se: a imagem de Cristo maior que as outras figuras; os olhos são grandes e abertos; ausência da ilusão de perspectiva (figura/fundo); corpo sempre coberto; cores chapadas, sem a preocupação com meios tons. Figura 2.27 - São Lucas. Miniatura do Evangelho de Lindsfarne, séc. VIII Fonte: Arquivo pessoal da autora (2010) Entretanto, o fato de a arte medieval não procurar abordar a aparência natural das coisas, não significa que os artistas não tivessem a capacidade de realizar tal representação. A questão é que sendo a igreja praticamente a única fonte de encomenda dos artistas, ela determinava quais os temas que deveriam ser tratados pelos artistas. Os intensos movimentos migratórios, que ocorreram no início da Idade Média, resultaram na convergência de várias culturas. O historiador George Duby sintetizou a importância destas influências para a formação da cultura medieval ao afirmar que: “A Europa então terra juvenil, em plena expansão, estendeu-se aos quatro pontos cardeais, alimentando-se com voracidade, das culturas exteriores” (DUBY, 1998, p. 50-51). Estes grupos não tardaram a assimilar os valores cristãos e também transmitiram os próprios traços culturais, formando uma arte com feição própria. Já desde os primeiros séculos da Idade Média, missionários da igreja foram enviados para toda a Europa, a fim de trabalhar na cristianização destes povos considerados bárbaros. Nesta tarefa, as imagens artísticas foram vitais na divulgação dos rituais e ensinamentos religiosos a uma população praticamente analfabeta. Unidade 2 O termo “bárbaro” era usado pelos romanos e define, em geral, os povos mongóis, alanos, francos, suecos e germânicos. 69
  • 70. Universidade do Sul de Santa Catarina Para a igreja, a arte tinha uma função assumidamente pedagógica: ensinar aos leigos as sagradas escrituras. É por esta razão que, quase em sua totalidade, a arte medieval vai ter como tema os assuntos religiosos. Mas, como foi dito, apesar dos esforços da igreja em suplantá-la, a cultura dos bárbaros foi reelaborada com os novos valores e penetrou na arte medieval. Figura 2.28 - Arte visigótica, cálice em ouro Fonte: Arquivo pessoal da autora (2010). Originariamente nômades, os grupos bárbaros se especializaram em uma arte decorativa, voltada à fabricação de peças pequenas de metal e madeira, que podiam ser mais facilmente carregadas. Na iluminura mostrada a seguir, você vai notar o tenso conteúdo emocional conseguido usando as linhas curvas e nervuras que eram elementos típicos da arte bárbara. Figura 2.29 - São Mateus, evangelho manuscrito, 830 d.C. Fonte: Gombrich (1999). Na próxima imagem, cujo tema é idêntico ao anterior (São Mateus) sinta que há uma atmosfera de serena tranquilidade. Estas sensações conseguiram ser expressas pelos artistas gregos nas esculturas do período clássico (estudado na seção 3 desta unidade). É muito provável que os executores destas iluminuras fossem monges, que conheciam o legado cultural da antiguidade, por meio do que foi preservado pela igreja. 70
  • 71. História da Arte Figura 2.30 - Evangelho manuscrito: São Mateus, cerca de 800 d.C. Fonte: Gombrich (1999). A arte medieval assimilou valores do mundo antigo para além da pintura. Muitas catedrais foram construídas no período, destacando-se nas cidades e aldeias pelo seu volume e altura e denunciando o poder e a riqueza da igreja. Desta forma, surgiram, na Idade Média, dois estilos artísticos que se expressaram também na arquitetura: o românico e o gótico. O estilo românico apareceu principalmente na construção de igrejas entre os séculos X ao XII. Ele utilizou elementos construtivos usados pelos romanos, como os arcos. Figura 2.31 - Mosteiro de São Pedro de Ferreira em Portugal Fonte: Arquivo pessoal da autora (2010). Unidade 2 71
  • 72. Universidade do Sul de Santa Catarina As igrejas e catedrais românicas são construções maciças e pesadas, transmitindo um aspecto de fortaleza. Isto porque suas paredes são autoportantes, não permitindo a introdução de janelas muito grandes. Gradativamente, a arquitetura sólida das igrejas românicas foi substituída pelo estilo gótico, mais leve e fluido. O gótico surgiu no fim da Idade Média, quando os arquitetos encontraram uma solução arquitetônica inovadora, que foi o emprego do arco ogival. Em vez de colunas maciças, a igreja gótica apresentava várias colunas finas e agrupadas, que davam à construção maior força e elasticidade. Figura 2.32 – Interior da Catedral de Saint-Chapelle, Paris (1243-1246) Fonte: Arquivo pessoal da autora (2010). 72