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Mediação em Ação
ANTUNES, Cláudia Rejane D. Modos de Ler In: Letras de Hoje,
Porto Alegre, v.37. n.2. p. 11-23, junho 2002.
Laelson José dos Santos
Esta resenha é produzida baseada no ensaio da Doutora em Letras pela PUCRS,
Cláudia R. D. Antunes em seu livro Letras de Hoje e descrita no capítulo Modos de Ler. O
mesmo está distribuído em cinco tópicos nos quais a autora aponta suas reflexões sobre as
formas modernas de leitura e escrita e compara com estudos de teóricos como Roger Chartier,
Regina Ziberman e Marisa Lajolo.
Dando início a sua produção, a autora apresenta aspectos históricos da oralidade,
informando a ascendência da transmissão escrita até chegar à era tecnológica, ligando o
pensamento do desenvolvimento ao objeto em estudo: o interesse individual pelos meios
disponíveis de leitura.
No tópico sobre a “Materialização da leitura”, Antunes começa apresentando o
abandono de um objeto de leitura tradicional usado até o início do século XVIII para a
aquisição do novo, o impresso. A autora, também, aproxima-nos mais das novas formas de
leitura que surgiram a partir do século XIX.
É importante notar a maneira que ela trata o tema da leitura através de expressões
como “... o ato de ler não se aplica apenas aos livros e a escrita tradicional, lemos o mundo, o
tempo inteiro.” (p.13) em que se entende a visão de leitura como “atribuição de sentidos”
(Orlandi, p. 7). Essas atribuições são adquiridas em todas as nossas experiências de mundo e
transmitidas através de termos catalogados por convenção que indicam o nome, ou signo,
dessas percepções. A autora usa expressões de Chartier e diz: “... para o teórico, o mundo
aparece sob a forma de texto (…) o leitor não é mero espectador passivo, pois interage numa
relação dialética, com o discurso da sociedade, que o faz falar." (p.13).
Não se pode deixar de concordar com a autora quando avaliamos seu pensamento
sobre a maneira das novas tecnologias abrirem as oportunidades de encontrarmos objetos de
leitura. Sobre isso ela diz: "Cada vez mais os espaços de leitura deixam os locais privados e
passam a nos acompanhar nas vias públicas." Ela cita a expressão de Lajolo e diz: "... o
transeunte da cidade passeia entre signos e símbolos que o advertem: ou me decifras ou te
devoro!".
Não há como passar despercebido dessas impressões; o indivíduo da cidade realiza
todo tipo de processo mental pelo qual se incorporam os dados das experiências aos esquemas
de ação e aos esquemas existentes. Vemos isso, por exemplo, quando alguém pede parada a
um motorista de ônibus, ao identificá-lo pela cor e às vezes, sem dominar o conhecimento da
escrita ou da leitura de signos lingüísticos, os recursos atuais organizam todos os tipos de
informações de forma padronizada para facilitar o acesso a eles.
Continuando, a autora também apresenta os instrumentos complementares surgidos
para facilitar o hábito da leitura, ela cita Marshal McLuhan quando diz: “... cada tecnologia é
uma extensão dos sentidos do homem; assim, a roda seria a extensão dos pés; os óculos, dos
olhos;” (p.14), mas o mais interessante é a expressão sobre a mente: “... a última extensão
seria a simulação tecnológica da consciência, proporcionada hoje pela realidade virtual.”
(p.14) Hoje sentiríamos muitas dificuldades se não houvesse essas extensões descritas por
McLuhan, principalmente com o ritmo de vida moderno.
No tópico sobre a “Virtualização do texto”, Antunes inicia esclarecendo o termo
virtual e atual mostra a semelhança deles e destaca suas diferenças, A autora apresenta Lévy
para dizer que o texto sempre foi virtual, “O virtual existe em potência e não em ato; ele é
possível só lhe falta a existência (...) o texto sempre foi virtual, desde as suas origens, pois
tanto o autor quanto o leitor passam por processos de atualização de sentidos e significados."
(p.15,16) Desta forma, entende-se que o indivíduo busca as percepções cotidianas para
codificar e comparar tudo a sua volta, assim recebendo muitas mensagens e realizando
leituras intrínsecas, ou virtuais, tornando-se mais proficiente que o leitor atual, ele precisa em
um determinado momento se materializar, mostrando a necessidade de atualização. A autora
chama este processo de "hipertexto informático", este sendo um processo de leitura, através
de tecnologias, como o computador, complementa a leitura de mais signos. Neste ponto a
ensaísta reconhece a virtualização como uma nova forma de leitura que precisa ser mais
disseminada entre a comunidade e a sociedade.
No tópico seguinte, Antunes discorre sobre as "Práticas leitoras" informando que as
novas formas de leitura já começam a apresentar diferentes comportamentos nos jovens, visto
que estes passam a ter uma nova forma de percepção de sentidos através da tela do
computador.
A autora ressalta que pesquisas recentes realizadas pela instituição de sua formação
PUCRS, indicam alteração de comportamento dos jovens quando apresentado pela primeira
vez ao uso do computador e afirma: “O processo cognitivo de leitura se constrói a partir das
seguintes variáveis: objeto de leitura, conhecimento prévio do conteúdo e das condições de
produção de texto, tipo de texto e estilo cognitivo do leitor." (p.17), mas, continua dizendo,
são as metacognitivas que fazem parte do processo de domínio: "..pela consciência e pela
intenção de monitoramento sobre o processo por parte do leitor." (p.17). Sobre esta forma de
leitura, passamos ao que diz a autora Magda Soares em entrevista a TV Escola:
... o hipertexto começa onde o leitor decide, com um clic, começa a ler, e
termina quando o leitor decide parar, por dar-se por satisfeito, ou por se
sentir cansado... e é uma leitura multi-linear ou multi-seqüencial. o livro faz
da escrita algo estável e controlado pelas instâncias produtoras: autor, editor,
diagramador etc. No texto eletrônico, de certa forma volta-se a época dos
manuscritos, quando os escribas (indivíduo que tinha por profissão copiar
manuscritos; copistas) freqüentemente alteravam o que copiavam e leitores
acrescentavam texto nas margens... (p.38)
Reconhecidamente a importância do computador precisa ser apresentada, todavia a
orientação para a mediação deste objeto de leitura não pode ser excluída do sistema, pois se
trata de mais uma estratégia metacognitiva, e conseqüentemente precisa ser conduzida.
Todavia é necessária uma qualificação profissional dos condutores para intensificar a
potencialidade dessa tecnologia nos alunos, pelo fato de eles estarem de frente a um mundo de
possibilidades e, por vezes, deixadas no desuso já que não são dominadas pelos próprios
mediadores do conhecimento.
No ultimo tópico do seu ensaio, “Leituras para o imaginário”, Antunes procura
apresentar alguns teóricos que discutem o pragmatismo da escola tradicional. Informa o que
Gardner faz ao expor o poeta como o exemplo do domínio mais perfeito da linguagem e
mostra que esta, embora tenha uma clareza especial do seu funcionamento, não é a única
forma de percepção da linguagem, as novas percepções podem com certeza individualizar o
potencial e revolucionar o sistema educacional no Brasil.
A autora conclui enfatizando a necessidade de capacitação do educador e diz que é
primordial para o processo, o preparo destes: "Para tanto, é preciso que os educadores se
atualizem também nesse domínio." (p.21).
Reconhecidamente a sociedade apresenta melhorias na aquisição de novas tecnologias
e é importante ver as nossas escolas usufruindo delas. Entretanto, em meio a tantos recursos
postos nas mãos dos educadores, observamos o despreparo destes para apresentá-los. O
mesmo processo vem de muito tempo, em que os responsáveis pela mediação do saber
negligenciam o compromisso com a sociedade. Entendemos que a diversificação de modos de
informação está deixando os indivíduos cada vez com o interesse mais profundo em conhecer
os segredos que envolvem o sistema atual. A juventude, principalmente, está descobrindo
novas formas de comunicação e é nesse momento que o educador precisa intermediar o
processo de aprendizagem entrando e entendendo essas novas formas de leitura para ter um
mínimo de domínio dos códigos que os envolvem, só assim estará começando a participar do
ensino na nova era, a era tecnológica.
Referências
ORLANDI, Eni Pulcinelli. Discurso e literatura. São Paulo; Cortez, 1998.
TV ESCOLA-nº 24-Agosto/setembro 2001 (Ministério da Educação-secretaria de
Educação a Distância).
http://www.recantodasletras.com.br/resenhasdelivros/1825635
http://estudandonarede.blogspot.com.br/2010/01/modos-de-ler-e-seus-suportes.html

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  • 1. Mediação em Ação ANTUNES, Cláudia Rejane D. Modos de Ler In: Letras de Hoje, Porto Alegre, v.37. n.2. p. 11-23, junho 2002. Laelson José dos Santos Esta resenha é produzida baseada no ensaio da Doutora em Letras pela PUCRS, Cláudia R. D. Antunes em seu livro Letras de Hoje e descrita no capítulo Modos de Ler. O mesmo está distribuído em cinco tópicos nos quais a autora aponta suas reflexões sobre as formas modernas de leitura e escrita e compara com estudos de teóricos como Roger Chartier, Regina Ziberman e Marisa Lajolo. Dando início a sua produção, a autora apresenta aspectos históricos da oralidade, informando a ascendência da transmissão escrita até chegar à era tecnológica, ligando o pensamento do desenvolvimento ao objeto em estudo: o interesse individual pelos meios disponíveis de leitura. No tópico sobre a “Materialização da leitura”, Antunes começa apresentando o abandono de um objeto de leitura tradicional usado até o início do século XVIII para a aquisição do novo, o impresso. A autora, também, aproxima-nos mais das novas formas de leitura que surgiram a partir do século XIX. É importante notar a maneira que ela trata o tema da leitura através de expressões como “... o ato de ler não se aplica apenas aos livros e a escrita tradicional, lemos o mundo, o tempo inteiro.” (p.13) em que se entende a visão de leitura como “atribuição de sentidos” (Orlandi, p. 7). Essas atribuições são adquiridas em todas as nossas experiências de mundo e transmitidas através de termos catalogados por convenção que indicam o nome, ou signo, dessas percepções. A autora usa expressões de Chartier e diz: “... para o teórico, o mundo aparece sob a forma de texto (…) o leitor não é mero espectador passivo, pois interage numa relação dialética, com o discurso da sociedade, que o faz falar." (p.13). Não se pode deixar de concordar com a autora quando avaliamos seu pensamento sobre a maneira das novas tecnologias abrirem as oportunidades de encontrarmos objetos de leitura. Sobre isso ela diz: "Cada vez mais os espaços de leitura deixam os locais privados e passam a nos acompanhar nas vias públicas." Ela cita a expressão de Lajolo e diz: "... o transeunte da cidade passeia entre signos e símbolos que o advertem: ou me decifras ou te devoro!". Não há como passar despercebido dessas impressões; o indivíduo da cidade realiza todo tipo de processo mental pelo qual se incorporam os dados das experiências aos esquemas de ação e aos esquemas existentes. Vemos isso, por exemplo, quando alguém pede parada a um motorista de ônibus, ao identificá-lo pela cor e às vezes, sem dominar o conhecimento da escrita ou da leitura de signos lingüísticos, os recursos atuais organizam todos os tipos de informações de forma padronizada para facilitar o acesso a eles. Continuando, a autora também apresenta os instrumentos complementares surgidos para facilitar o hábito da leitura, ela cita Marshal McLuhan quando diz: “... cada tecnologia é uma extensão dos sentidos do homem; assim, a roda seria a extensão dos pés; os óculos, dos olhos;” (p.14), mas o mais interessante é a expressão sobre a mente: “... a última extensão seria a simulação tecnológica da consciência, proporcionada hoje pela realidade virtual.” (p.14) Hoje sentiríamos muitas dificuldades se não houvesse essas extensões descritas por McLuhan, principalmente com o ritmo de vida moderno. No tópico sobre a “Virtualização do texto”, Antunes inicia esclarecendo o termo virtual e atual mostra a semelhança deles e destaca suas diferenças, A autora apresenta Lévy para dizer que o texto sempre foi virtual, “O virtual existe em potência e não em ato; ele é
  • 2. possível só lhe falta a existência (...) o texto sempre foi virtual, desde as suas origens, pois tanto o autor quanto o leitor passam por processos de atualização de sentidos e significados." (p.15,16) Desta forma, entende-se que o indivíduo busca as percepções cotidianas para codificar e comparar tudo a sua volta, assim recebendo muitas mensagens e realizando leituras intrínsecas, ou virtuais, tornando-se mais proficiente que o leitor atual, ele precisa em um determinado momento se materializar, mostrando a necessidade de atualização. A autora chama este processo de "hipertexto informático", este sendo um processo de leitura, através de tecnologias, como o computador, complementa a leitura de mais signos. Neste ponto a ensaísta reconhece a virtualização como uma nova forma de leitura que precisa ser mais disseminada entre a comunidade e a sociedade. No tópico seguinte, Antunes discorre sobre as "Práticas leitoras" informando que as novas formas de leitura já começam a apresentar diferentes comportamentos nos jovens, visto que estes passam a ter uma nova forma de percepção de sentidos através da tela do computador. A autora ressalta que pesquisas recentes realizadas pela instituição de sua formação PUCRS, indicam alteração de comportamento dos jovens quando apresentado pela primeira vez ao uso do computador e afirma: “O processo cognitivo de leitura se constrói a partir das seguintes variáveis: objeto de leitura, conhecimento prévio do conteúdo e das condições de produção de texto, tipo de texto e estilo cognitivo do leitor." (p.17), mas, continua dizendo, são as metacognitivas que fazem parte do processo de domínio: "..pela consciência e pela intenção de monitoramento sobre o processo por parte do leitor." (p.17). Sobre esta forma de leitura, passamos ao que diz a autora Magda Soares em entrevista a TV Escola: ... o hipertexto começa onde o leitor decide, com um clic, começa a ler, e termina quando o leitor decide parar, por dar-se por satisfeito, ou por se sentir cansado... e é uma leitura multi-linear ou multi-seqüencial. o livro faz da escrita algo estável e controlado pelas instâncias produtoras: autor, editor, diagramador etc. No texto eletrônico, de certa forma volta-se a época dos manuscritos, quando os escribas (indivíduo que tinha por profissão copiar manuscritos; copistas) freqüentemente alteravam o que copiavam e leitores acrescentavam texto nas margens... (p.38) Reconhecidamente a importância do computador precisa ser apresentada, todavia a orientação para a mediação deste objeto de leitura não pode ser excluída do sistema, pois se trata de mais uma estratégia metacognitiva, e conseqüentemente precisa ser conduzida. Todavia é necessária uma qualificação profissional dos condutores para intensificar a potencialidade dessa tecnologia nos alunos, pelo fato de eles estarem de frente a um mundo de possibilidades e, por vezes, deixadas no desuso já que não são dominadas pelos próprios mediadores do conhecimento. No ultimo tópico do seu ensaio, “Leituras para o imaginário”, Antunes procura apresentar alguns teóricos que discutem o pragmatismo da escola tradicional. Informa o que Gardner faz ao expor o poeta como o exemplo do domínio mais perfeito da linguagem e mostra que esta, embora tenha uma clareza especial do seu funcionamento, não é a única forma de percepção da linguagem, as novas percepções podem com certeza individualizar o potencial e revolucionar o sistema educacional no Brasil. A autora conclui enfatizando a necessidade de capacitação do educador e diz que é primordial para o processo, o preparo destes: "Para tanto, é preciso que os educadores se atualizem também nesse domínio." (p.21). Reconhecidamente a sociedade apresenta melhorias na aquisição de novas tecnologias e é importante ver as nossas escolas usufruindo delas. Entretanto, em meio a tantos recursos postos nas mãos dos educadores, observamos o despreparo destes para apresentá-los. O
  • 3. mesmo processo vem de muito tempo, em que os responsáveis pela mediação do saber negligenciam o compromisso com a sociedade. Entendemos que a diversificação de modos de informação está deixando os indivíduos cada vez com o interesse mais profundo em conhecer os segredos que envolvem o sistema atual. A juventude, principalmente, está descobrindo novas formas de comunicação e é nesse momento que o educador precisa intermediar o processo de aprendizagem entrando e entendendo essas novas formas de leitura para ter um mínimo de domínio dos códigos que os envolvem, só assim estará começando a participar do ensino na nova era, a era tecnológica. Referências ORLANDI, Eni Pulcinelli. Discurso e literatura. São Paulo; Cortez, 1998. TV ESCOLA-nº 24-Agosto/setembro 2001 (Ministério da Educação-secretaria de Educação a Distância). http://www.recantodasletras.com.br/resenhasdelivros/1825635 http://estudandonarede.blogspot.com.br/2010/01/modos-de-ler-e-seus-suportes.html