1. ANO IV VOL.20 BIMESTRAL - MARÇO DE 2010 DISTRIBUIÇÃO GRATUITA
• A SEMENTE • MINARETES SUIÇOS • O FIDELÍSSIMO
BASÍLICA DO EMBARÉ
2.
3. Sumário
EDITORIAL Edição 20 - Ano 4 - Março 2010
4 TROVAS
5 PALPITES, ÀS VEZES, DÃO CERTO
Olá, leitores:
Carolina Ramos
Nesta edição, não po- 6 MAITÊ PROENÇA NÃO SOUBE EMPREGAR A
deríamos deixar de MESÓCLISE
prestar homenagem Fernando Jorge
à mulher, no seu dia
internacional. É o 7 A SEMENTE
que fazemos, por in- Sonia Regina Rocha Rodrigues
termédio da pena de 8 FUNDAÇÃO DE SÃO PAULO
uma mulher especial, Nelly Martins Ferreira Candeias
Liane Uechi, esposa e
mãe dedicada, além 9 MINARETES SUIÇOS
de competente pro- Ives Gandra da Silva Martins
fissional, que traça o 10 COMO É DIFÍCIL APRENDER INGLÊS
perfil dessa mulher Wilma Therezinha Fernandes de Andrade
ímpar que foi Zilda
Arns. 11 O FIDELÍSSIMO
A capa é foto de uma Cláudio de Cápua
das construções ar- 12 BICICLETA BERÇO
quitetônicas sacras Maria Zilda da Cruz
mais deslumbrantes
de Santos, a Basílica 13 OS INOCENTES DO EMBARÉ
de Santo Antonio do José Candido F. Júnior
Embaré. 13 BASÍLICA DO EMBARÉ
Nossos colaboradores, Liane Uechi
como não poderia dei-
xar de ser, mantém 14 A PRESENÇA DE ROBERTINA COCKRANE
SIMONSEN NUMA EXPERIÊNCIA DA
seus textos no ápice EDUCAÇÃO FEMININA (1902 - 1920)
do bom gosto e da in- Maria Apparecida Franco Pereira
formação cultural.
15 O PIANO E O BASTIDOR
Valéria Pelosi
Boa leitura 15 ZILDA ARNS NEUMANN
16 T.P.M.
O Editor.
Neide Ramos
17 NOTAS CULTURAIS
18 ESPAÇO DO LIVRO
Expediente LEI ROUANET
Editor - Cláudio de Cápua. MTB 80 A Revista Santos Arte e Cultura é
Jornalista Responsável - Liane Uechi. MTB 18.190.
aprovada pelo Ministério da Cultu-
Editoração Gráfica - Liane Uechi
ra e beneficiada pela Lei Rouanet
Designer Gráfico - Mariana Ramos Gadig
Capa: Liane Uechi de Incentivo à Cultura. Os patroci-
End.: Rua Euclides da Cunha, 11 sala 211. Santos/SP. nadores poderão abater 100% do
E-mail: revistaartecultura@yahoo.com.br valor doado no imposto de renda.
Participaram desta edição: Carolina Ramos; Cláudio de O benefício é válido para pessoas
Cápua; Fernando Jorge; Ives Gandra da Silva Martins, jurídicas tributadas com base no
José Candido F. Junior, Liane Uechi; Maria Apparecida lucro real, sendo o valor limitado a
Franco Pereira; Maria Zilda da Cruz; Neide Ramos; 4% do imposto de renda devido.
Nelly Martins Ferreira Candeias; Sonia Regina Rocha Pessoas físicas que fazem a decla-
Rodrigues; Valéria Pelosi e Wilma Therezinha Fernan-
ração completa do IR também po-
des de Andrade. Os autores têm responsabilidade
dem abater suas doações. O limite
integral pelo conteúdo dos artigos aqui publicados.
neste caso, é de 6% do Imposto de
Distribuição Gratuita. 5000 exemplares.
Renda.
3
4. TROVAS
TROVAS
O átomo a força desata! Tens tanto fascínio, tanto,
Cresce a ambição! E a sofrer, que as flores puras e belas
a humanidade, insensata, se curvam cheias de encanto
se algema ao próprio poder! quando tu passas por elas!
Carolina Ramos P. de Petrus
Que bela seria a vida Tantas ternuras guardadas
se acima de ódios mortais, eu tenho para te dar,
uma ponte fosse erguida que minhas mãos descuidadas,
unindo margens rivais! já traçam carícias no ar...
Dorothy Jasson Moretti Héron Patrício
Teu beijo pela internet, Ao sulcos que, bem juntinhos,
vem sempre com tal calor, na face mostram a idade,
que qualquer dia derrete das lágrimas são caminhos
meu pobre computador! abertos pela saudade!
Antonio Augusto de Assis Angélica Villela Santos
Bendigo a lágrima doce
da chuva que cai lá fora.
Bom seria se assim fosse
o pranto que a gente chora...
José Valdez de Castro Moura
Gosta de Trovas?
A “União Brasileira de Trovadores”, seção de Santos, reúne-se, na
última terça-feira de cada mês, no IHGS, av. Conselheiro Nébias, 689,
às 20h30. Compareça!
Março - Santos Arte e Cultura
4
5. PALPITES, ÀS VEZES, DÃO CERTO
CAROLINA RAMOS
Na verdade, palpites não custam nada e às vezes dão sas pinturas que enriqueciam o interior do prédio. A Cultura e
certo... ou não. Este, certamente deu. À volta de uma viagem a Educação saberiam como usar o novo espaço, transforman-
a Ribeirão Preto, em meio do século passado, tendo oportuni- do-o em Escola de Arte, de modo a proporcionar aos jovens,
dade de conhecer o Museu do Café, apresentado com orgu- que se dedicam ao teatro, feliz oportunidade de ver crescer o
lho aos visitantes daquela cidade, indaguei-me, por que San- rol dos santistas que, lá fora, enfrentam com sucesso os pal-
tos, porto plenamente integrado à vigorosa era cafeeira não cos e cenários de TV. E não foi o que foi feito?! Aliás, foi feito
tinha ainda um Museu igual àquele?! A nossa Bolsa de Café, muito mais! Restaurado e remoçado, o nosso Guarany reas-
desativada, oferecia, de bandeja, sede ideal para tal instala- sumiu suas funções artísticas, transformado, não apenas num
ção! José Carlos Jr, corretor de café, com seu violão, animava teatro de arena ou em escola de teatro a céu aberto, mas ul-
nossas festas de poesia, e foi, por algumas vezes, alvo desse trapassando, em muito, este modesto sonho! Ao vê-lo lotado,
questionamento. Concordava comigo. O tempo passou e o numa noite de gala, em que a nossa Marlene Akel, empolgou
palpite desta inconformada santista, tivesse, ou não, chegado ouvidos e corações, interpretando, com virtuosismo, páginas
aos ouvidos de alguém com poder decisivo, acabou aconte- de Chopin, meu orgulho santista, agradeceu e cumprimentou
cendo, indo além do pretendido! Aí está o nosso Museu do a Prefeitura de Santos e todos aqueles que levaram a cabo
Café situado no mesmo nobilíssimo local e em pleno desem- tão importante projeto! E, no íntimo, somei mais um palpite
penho de suas funções! Claro, que aquele palpite, com tantos que dera certo.
anos de antecedência, nada teve a ver com esta realidade! Contudo, houve um palpite que não pegou, embora,
Mas, deu certo, ninguém negará! bem intencionado, como os demais. Quando a destinação do
Outro palpite feliz foi aquele a envolver o Guarany. casarão branco, meu vizinho na Av. Bartolomeu de Gusmão,
Há alguns anos, usando o espaço reservado ao lei- virou debate público, não me omiti. Sugeri fossem lá instala-
tor, cumprimentei “A Tribuna” pelo oportuno artigo “Ruínas do das entidades culturais carentes de sede, como as duas Aca-
Guarany”. O autor? Por certo, alguém, também preocupado demias de Letras, a Associação dos Artistas Plásticos do Lito-
com o estado precário do imóvel e, com o destino que viesse ral Paulista, e, naturalmente, a Seção de Santos da UBT
a ter aquele arruinado palco de tantas glórias anteriores! San- (União Brasileira.de Trovadores), hoje Internacional, que te-
tista, muito me entristecia a condição, dita irreversível, desse nho a honra de presidir. A proposta até que não era má: uma
patrimônio cultural à mercê de palpites, nem sempre bem in- sala para cada entidade, um salão, comum, para exposições
tencionados. Muitas eram as sugestões. Falava-se em demo- e lançamentos, e, ainda, para que não virasse um saco de
lição, em transformar o local em estacionamento, num restau- gatos, tudo a ser monitorado, oficialmente, pela Secretaria
rante, etc. Lembram-se? Eu mesma cheguei a ser convencida Municipal de Cultura. Intenção aplaudida por muitos, embora
de que, “absolutamente não havia possibilidade de recupera- prevalecesse a idéia, primorosa, da criação da Pinacoteca
ção do prédio” e “o jeito, para livrar a cidade daquele pardiei- Benedicto Calixto, concretizada como Fundação, e que, bas-
ro, era pô-lo abaixo”! Cruzes! tante ativa culturalmente, vai de vento em popa! E, ao final de
Enorme, pois, a satisfação, quando, alguns anos cada ano, ao vê-la deslumbrante, com seus corais e decora-
mais tarde, ao ler o referido artigo, pude sentir ainda vivo o ções natalinas, reconheço, com toda a sinceridade, que, se
interesse público e somado ao das autoridades. Na esperan- daquela vez meu palpite não dera certo, dera muito certo, sim,
ça de que algo pudesse ser feito em prol do arruinado Gua- tudo o quanto lá foi feito e, melhor ainda, o que o futuro há de
rany, atrevi-me a sugerir o que me parecia viável para a sua mostrar!
recuperação e reaproveitamento das antigas funções. Minha Carolina Ramos, poetisa e escritora, é Secretária Ge-
sugestão, acolhida pelo jornal A Tribuna, era de que, após ral do Instituto Histórico e Geográfico de Santos (IHGS)
retorno do imóvel ao poder público e extirpado o matagal in- e Presidente da União Brasileira de Trovadores UBT-
terno, fossem restauradas, pelo menos, a fachada e as pare- Santos. Pertence à Academia Santista de Letras e
des passíveis de restauração. Isto feito, o que fazer do espa- à Academia Feminina de Ciências, Letras e
ço recuperado? - Arrisquei: - Que tal transformar o Artes de Santos (AFCLAS).
Guarany num pólo cultural? Num Teatro de Arena, a
exigir instalações mais simples, menos dispendio-
sas, já que impossível, recuperar as valio-
5 Março - Santos Arte e Cultura
6. MAITÊ PROENÇA NÃO SOUBE EMPREGAR A MESÓCLISE
FERNANDO JORGE
Georgina Magalhães Soares, estudante de jornalis- Desconfio que um presidente sul-americano é viciado
mo, quer saber se está correta a seguinte frase: em cacoepia...
“O doutor Fonseca, estabelecido à rua das Magnó- Francisco Calderón Verbena, de Porto Alegre, per-
lias”... gunta se está correta a seguinte frase de Maitê Proença, publi-
Cara Georgina, há aí um erro de regência, pois os cada na edição do dia 18 de dezembro de 2008 do jornal “O
verbos que indicam fixidez, estabilidade, como morar e ficar, Globo”:
possuem complemento com a preposição em. Portanto, eis o “Se os rapazes empreendessem a caça, faria-lhes
certo! bem ao instinto”
“...estabelecido na rua das Magnólias”... Caro Francisco, a atriz Maitê Proença, embora seja
também escritora, não soube empregar a mesóclise, que é o
Antonio Carlos Frankenthaler, estudante de Direito, processo sintático da colocação do pronome pessoal oblíquo
pergunta numa carta se não é errado dizer isto: átono no meio do verbo. Um exemplo de mesóclise:
“Hoje é 19 de março de 2009, quinta-feira”. “Dar-lhe-iam o troféu”.
Veja, Antonio, nesta frase o verbo ser deve concordar Vamos corrigir a frase da Maitê Proença:
com o número que é indicado. Imagine que a frase fosse as- “Se os rapazes empreendessem a caça, far-lhes-ia
sim: bem ao instinto”.
“ Hoje são 1º de novembro de 2009, domingo”. Três ótimos exemplos de mesóclise pronominal, no
Ela estaria completamente errada, pois o verbo ser texto de um escritor clássico:
está se referindo apenas a um número. Na primeira frase o “...(os hereges) tomarão os cálices e os vasos sagra-
verbo se refere a número superior a um e de acordo com a ló- dos, e aplicá-los-ão às suas nefandas embriaguezes; derruba-
gica, em vez de ir para o singular, vai para o plural: rão dos altares os bustos e estátuas dos santos; deformá-los-
“Hoje são 19 de março de 2009, quinta-feira”. ão a cutiladas, metê-los-ão no fogo”
Luiz Alberto Gomes Natário, economista, pretende (Padre Antonio Vieira, “Sermão pelo
ampliar os seus conhecimentos de português e por este motivo sucesso das armas portuguesas”).
me fez várias perguntas. Ele deseja saber, por exemplo, o que A eloquência arrebatadora do je-
é assibilação. suíta Vieira era incomparável. Não foi à-
Prezado Luiz, o dicionário do Aurélio, em um volume, toa que ele recebeu a alcunha de “O
e o do Caldas Aulete, em cinco, não encerram um verbete para Crisóstomo Português”. No idioma gre-
explicar o significado de tal substantivo feminino. Entretanto, o go a palavra crisóstomo significa “boca
“Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa” o exibe, mas o seu de ouro” e isto nos traz à memória o
verbete é lacunoso, não satisfaz. Revelo, assibilação é nos tex- nome de outro grande orador, São José
tos a repetição de ss e zz: Crisóstomo, um dos maiores bispos do sé-
“Os seus sapatos sujos, quase sem solas, são sete”. culo IV, diamante sem jaça, fulguroso,
Padre António Vieira, por Ar-
A Zezé, bem zonza, zombava da Zulu”. os oradores sacros do Oriente. nold van Westerhout (1651-
1725
O mesmo leitor se assustou com a palavra cacoepia
(pronúncia cacoépia). Ele pergunta: que bicho é este? Cacoe-
pia é a pronúncia contrária às regras da linguagem culta, ou Fernando Jorge é jornalista, membro do Conselho de Ética do
melhor vernácula. Por exemplo, dizer flô, em vez de flor; homi, Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Estado de São Paulo,
em vez de homem; mulhé, em vez de mulher; estrupo, em vez o petropolitano Fernando Jorge é autor do livro “A Academia do
de estupro; mantega, em vez de manteiga; previlégio, em vez Fardão e da Confusão”, lançado pela Geração Editorial, onde
de privilégio; bandeija, em vez de bandeja; professô, em vez de mostra numerosos erros de português cometidos pelos membros
professor; abissuluto, em vez de absoluto; mendingo, em vez da Academia Brasileira de Letras.
de mendigo; pissiculugia, em vez de psicologia.
Março - Santos Arte e Cultura 6
7. A SEMENTE
SONIA REGINA ROCHA RODRIGUES
Cada ladrão que a assaltava um “Nem Só de Caviar Vive o Homem”
ganhava um livro. E como ela acredita- e explicou:
va que os assaltos fazem parte do coti- - No meio de aventuras incrí-
diano de um paulista típico, expunha- veis, tem aí umas receitas deliciosas.
se em horários e ruelas tais, que Em outra noite, tendo ouvido
tornara-se uma vítima compulsiva. o clique revelador e levantado as mãos
Leitora voraz, disseminadora como de praxe, escutou:
de cultura, carregava sempre consigo - Ah, é a doida dos livros!
dezenas de títulos que emprestava, - Doido é quem vive no cri-
presenteava ou trocava com amigos, me.
alunos e parentes. Para seu espanto, o rapaz
Da primeira vez em que um abaixou a arma.
pivete comentou: ‘Não tem mais nada - Sabe, dona, o pessoal daqui
de valor aí’, ela estremecera. Perce- ‘tamo’ juntando seus livros e trocando
bendo em que noite de trevas estava aí umas ideias...
mergulhada aquela alma, ofereceu, ou Madrugada adentro, aquelas
antes, exigiu: duas almas conversaram longamente
- Leve um livro. sobre estórias reais e imaginárias.
E ofereceu O Ladrão de Bag- Ela contaminou o rapaz com
dá, em atraente capa colorida. sua fome incurável, temperada com pó
A partir deste dia, junto com de pirlimpimpim; confrontou-o com
os trocados reservados para os habitu- monstros, dragões e bruxas; virou-o
ais assaltos, escolhia cuidadosamente pelo avesso e transmutou suas angús-
os livros com que brindaria os assal- tias em curiosidade e desejo.
tantes. Havia estórias adequadas para Nossa heroína não foi mais
órfãos abandonados e livros mais assaltada naquele perigoso bairro.
apropriados para desempregados pais E convido o leitor a imaginar o
de família. que seria este país se cada um de nós
Certa noite uma pergunta sur- se pusesse a ‘semear livros, livros à
preendeu-a: mão cheia...’
- Tem aí um livro de culiná-
ria?
Não tinha, pois ela era mulher
Sonia Regina Rocha Rodrigues é médica,
que se alimentava de sonhos, porém, com pós-graduação em PNL - programa-
de um canto do porta-malas, retirou ção neurolinguística.
7
8. FUNDAÇÃO DE SÃO PAULO
NELLY MARTINS FERREIRA CANDEIAS
O encontro de carta dirigida ao
náufragos portugueses capitão - mor Jerô-
com índias da terra deu nimo Leitão,“ Do-
origem à mestiçagem, mingos Luís está
signo sob o qual se for- acabando a igreja.
mou a nação brasileira. Já lhe dissemos mis-
Traço característico do sa com muita festa”.
quinhentismo – foi a Referia-se claramen-
melhor solução encon- te àquela ermida, a
trada pela colonização primeira capela con-
portuguesa para firmar- sagrada a Nossa
se no mundo novo. Fo- Senhora em Pirati-
ram os mamelucos – fi- ninga. Isso aconte-
lhos de europeus com ceu apenas 25 anos
cunhatãs, jovens índias, após a fundação ofi-
que deram origem ao cial da Igreja e do
Fundação de São Paulo, 1913. Óleo sobre tela, 179 x 279,5 cm
povo brasileiro. A mestiçagem (Acervo da Pinacoteca Municipal de São Paulo). Colégio dos padres da Com-
foi um dos principais fatores panhia de Jesus.
que determinaram o povoamento da nação brasileira. Em 1603, a capela foi transferida para o atual bairro
O padre José de Anchieta representa a ação apos- da Luz, onde foi construído um convento que hoje abriga o
tólica elevada ao mais alto expoente da dedicação e do amor Museu de Arte Sacra de São Paulo. Lá se encontra a mais
à raça aborígene nas terras de Santa Cruz. Autor da primeira antiga imagem de Nossa Senhora da Luz, entre outras relí-
gramática em língua tupi e animado pela fé, colocou a inte- quias.
ligência e a vontade na integração de um Brasil sem precon- Termino esta saudação à amada cidade de São
ceitos de raça. Esta nação é o peabiru do padre José de Paulo, feita até de forma pouco convencional, em Inhapuam-
Anchieta. buçu, no mesmo local onde no século XVI ouvia-se a voz de
Na sede do Instituto Histórico e Geográfico de São Anchieta a recitar com os curumins e as cunhatãs seu cân-
Paulo encontra-se belíssimo quadro, fixando um momento tico sagrado. Vou citar:
exponencial de sua vida, o de escrever na areia da praia de
Iperoig, versos do poema “De Beata Virgine Dei Matre Ma- “Ó Virgem Maria”
ria”, homenagem à Virgem Maria. Tupã sy êté,
Mas qual das designações da Virgem Maria, Padre Abapé ara póra
Anchieta invocava ? Oicó ende jabê?’
No museu do Pateo do Collegio encontra-se ima- Xe retama moopira
gem em bronze de Anchieta e réplica da imagem de Nossa
Senhora da Candelária, padroeira das Ilhas Canárias, onde Traduzindo :
ele nasceu. Ó Virgem Maria, Grande Mãe de Deus
Pequeno estudo a respeito das designações da Vir- Que outra criatura há igual a ti.
gem Maria (assim era invocada no período quinhentista), Minha terra venturosa”.
permite supor que ele tivesse dedicado seus versos à Nossa
Senhora da Candelária, também denominada Nossa Senho- Que a fé, a justiça, a tolerância e a solidariedade
ra das Candeias e Nossa Senhora da Luz. estejam sempre nos corações dos brasileiros paulistas.
De acordo com a documentação do Arquivo da Cú- Amém!
ria Metropolitana, a primitiva capela de Nossa Senhora das
Candelárias ou das Candeias foi construída, em 1579, por
Domingos Luís, português, casado com Ana Camacho, ma-
Nelly Martins Ferreira Candeias é professora titular da Uni-
meluca, bisneta de João Ramalho e da índia Bartira – fato
versidade de São Paulo (aposentada) e presidente do Ins-
registrado no traslado da doação, datado de janeiro de
tituto Histórico e Geográfico de São Paulo.
1579.
Nesse mesmo ano, José de Anchieta escreve em
Março - Santos Arte e Cultura 8
9. MINARETES SUIÇOS
IVES GANDRA DA SILVA MARTINS
A Suíça sempre se caracterizou por ser um país casas de prostituição, os motéis para encontros suspeitos,
com cidadãos serenos, respeitadores dos demais, preocu- as boates noturnas e os espetáculos pouco dignificantes,
pados em não se envolver com seus vizinhos, tendo, inclusi- que também existem na Suíça, como em todos os países,
ve, conseguido permanecer neutra em duas guerras mun- não sejam fechados, por uma questão de igualdade?
diais, apesar de estar no centro dos conflitos. Por que o culto ao Criador, conforme cada religião,
Estranhamente, a onda de um falso laicismo, que não é respeitado como se respeita o culto aos denominados
começa a dominar o mundo, pela qual, devido ao extremis- centros turísticos de diversões laicas, em que a droga e o
mo, só quem não acredita em Deus pode falar em um Esta- meretrício de luxo têm curso fácil e quase sem controle ofi-
do Laico, tem levado a geração de ódios e preconceitos que cial?
terminaram por atingir o âmago de povos civilizados, como o Àqueles que não conseguem viver como deveriam
suíço, o francês e até mesmo a comunidade euro- pensar e passam a pensar como vivem, à evidência, inco-
péia. modam os valores que as religiões transmitem e que não
Na França, proibiu-se o uso das “burcas” e conseguem viver, em sua maioria, razão pela qual os bons
“xadors” nas escolas, mas não a pouca roupa costumes devem ser afastados – embora vividos pela maio-
das meninas francesas, que se exibem em re- ria das pessoas- em detrimento de um Estado Laico, sem
vistas de todas as espécies, algumas delas não valores, quase sempre libertino, onde a frustração, os divãs
recomendáveis, pois em um Estado Laico, quem dos psiquiatras, a droga, o adultério, os casamentos desfigu-
é islamita não pode seguir os seus costumes rados e os filhos desorientados povoam como símbolo da
publicamente. Na Itália, uma única mulher ob- modernidade.
tém da “Corte de Direitos Humanos” da União Indiscutivelmente, o preconceito suíço não faz bem
Européia – tenho dúvidas se os juízes deste Tri- à sua história, definitivamente manchada pelo plebiscito, que
bunal não italiano conheçam as tradições e cos- pode estar beirando às raias de um racismo contra o povo
tumes do povo italiano- o direito de eliminar de árabe, revivendo o que de pior o nazismo exibiu, na busca
todas as escolas públicas o crucifixo. Felizmen- de uma raça pura. Estou convencido que este tipo de “pre-
te, a Ministra da Educação italiana já disse conceito aristocrático” suíço e de outros países europeus
que não respeitará a desarrazoada deci- está na essência da reação dos povos menos desenvolvi-
são. Agora, na Suíça, proíbe-se que os dos, que, muitas vezes, até no terrorismo buscam a sua vin-
templos islâmicos ostentem seus minare- gança. Como entendo que devemos buscar a paz e a convi-
tes! vência entre os povos, não posso aprovar a discriminação
É bem verdade, que no Estado Laico Euro- odiosa dos suíços.
peu, que está conformando os “sem Deus” ou
aqueles agnósticos que se julgam “deuses”, Dr. Ives Gandra da Silva Martins é professor emérito
das Universidades Mackenzie, UNIFMU, UNIFIEO, UNIP, da
se comemora o aniversário de Cristo, com fe-
Escola de Comando e Estado-Maior do Exército - ECEME;
riados e presentes, sem que haja um movi- Presidente do Centro de Extensão Universitária.
mento para abolir o Natal, data maior da Cris-
tandade.
Pergunto eu, por que não respeitar os mi-
naretes islâmicos como se respeitam os
sinos católicos e as Igrejas Cristãs na
Suíça? Por que o preconceito? Por
que admitir que as
Março - Santos Arte e Cultura
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10. COMO É DIFÍCIL APRENDER INGLÊS
wILMA ThEREZINhA FERNANDES DE ANDRADE
Era, anos atrás, a escola mais cara da cidade. A De uma feita, estávamos todos sentados frente à
classe tinha 15 alunos: treze adolescentes e dois adultos, frente e ela ordenou:
entre eles eu. A sala era adequada e o livro excelente. Havia - Digam uma palavra em inglês.
uma biblioteca com livros em inglês separados pelos níveis Ninguém se manifestou. Mudos, constrangidos, pa-
de aprendizados, um laboratório com gravações de aulas, recíamos aqueles soldados norte-americanos da Segunda
diálogos e exercícios interativos. Uma vez por semana ocor- Guerra Mundial, prisioneiros dos japoneses, obrigados a
ria uma reunião para se falar em inglês. Entretanto, o princi- cantar em japonês.
pal da aprendizagem ficava por conta da professora em sala - Vamos, falem! Ninguém aprende uma língua, se
de aula. Ela implicava com a classe, por sinal bem compor- não falar!
tada, de adolescentes ajustados. Até que um adolescente mais otimista ou corajoso
- Vocês nunca aprenderão inglês, nem no 4º ano! disse:
Deviam ver a classe que eu tenho em São Paulo. São umas - Píter. Pra quê!
gracinhas, já estão falando inglês. - Só vocês brasileiros é que falam Píter. No mundo
Claro que isto não ajudava em nada para melhorar inteiro se fala “Péchau” “Pétchau”!
o astral da classe. Apesar do equipamento e facilidades, nossa classe
A sua vítima favorita era um rapaz de 15 anos, ma- era o exemplo de como um bom sistema de ensino pode ser
gro, alto, chamado Mário, que sempre chegava atrasado. inutilizado por um mau professor.
- Isto são horas de chegar? Na sua casa não tem Após o término do semestre, encontrei-me com a
relógio? professora na Avenida. Ela veio falando em inglês e eu res-
- Tem sim, até mais de um. É que eu durmo depois pondi em português.
do almoço. - Vamos, fale em inglês. Você sabe inglês.
- Isto é um absurdo! Eu vou falar com a sua mãe! Mas, eu disse:
- Pode falar. Ela está em casa agora. A idéia foi - Não sei não. Não sei falar inglês.
dela. Diz que eu estou magro e em fase de crescimento. A E despedimo-nos. Foi o troco por aquela experiên-
senhora quer o telefone? cia pedagógica mal-fadada.
- Não preciso, posso conseguí-lo na secretaria. Como é difícil aprender inglês!
Mario falava sem provocação, normal como se al- Era, anos atrás, a escola mais cara da cidade.
guém lhe tivesse perguntado as horas. Ele devia ser de uma
Wilma Therezinha Fernandes de Andrade é mestra e
família bem estruturada, era filho de um delegado. Nunca se
doutora em História Social, pela USP; professora da
constrangia. Universidade Católica de Santos; membro da Academia
Era até engraçado. A professora nervosa, o aluno Feminina de Ciências, Letras e Artes de Santos -
tranqüilo. AFCLAS e da Academia Santista de Letras - ASL.
Março - Santos Arte e Cultura 10
10
11. O FIDELÍSSIMO
CLÁUDIO DE CÁPUA
Aclamação de Amador Bueno como rei de São Paulo
Aconteceu, embora pareça invasões holandesas, comandada pelo
lenda. Segundo dois renomados histo- Gen. Spilbergen, contra Santos.
riaadores, Frei Gaspar da Madre de Os paulistas andavam des-
Deus e Afonso de Taunay, a história do contentes com a coroa portuguesa que
paulista que tendo sido aclamado, não proibia o tráfego de índios.
quis ser rei foi real. Fato acontecido Os escravos africanos eram
com Amador Bueno da Ribeira. Após negociados sob a tutela holandesa.
60 anos de convívio, Portugal separou- A companhia de Jesus dava
se da Espanha, com o fim da Anexa- proteção aos indígenas. Em 1640, pau-
ção. Término da União Ibérica. listas inflamados expulsaram os Jesui-
Nessa época, o oitavo Duque tas da Capitania de São Vicente.
de Bragança assume o trono portu- Amador Bueno tinha ocupado
guês. o cargo de ouvidor e capitão-mor da
Nos 60 anos de convivência , Vila de Piratininga, era senhor de terras
espanhóis e portugueses mesclavam- e de índios. Após aclamado rei, Ama-
se em suas colônias, mundo afora. In- dor Bueno recusou a honraria e retirou-
clusive, a presença espanhola na Pro- se para o Mosteiro de São Bento, onde
víncia de São Paulo era numerosa. jurou lealdade ao Rei de Portugal, Dom
Contrariada com a dissolução João IV e continuou na sua lida dedica-
da União Ibérica, a elite composta de da à lavoura de trigo. Duzentos e cin-
fidalgos espanhóis, em Piratininga, re- qüenta anos depois, Dom Pedro, nosso
belou-se, não aceitando ser vassala do primeiro imperador, referindo-se ao
rei de Portugal. Foi então proclamado fato, deu a Amador Bueno a alcunha de
na Paulicéia, um novo rei, filho do fidal- “O Fidelíssimo”.
go espanhol Bartolomeu Bueno da Ri-
beira vindo para o Brasil, em 1571.
Cláudio de Cápua é aviador, jornalista e
O escolhido era figura ímpar,
escritor. Pertence ao Instituto Histórico e
de Amador Bueno, homem influente e
Geográfico de Santos, à Academia
respeitado na época, pois, em 1614,
Paulistana de História. É sócio-fundador da
saíra de Piratininga, comandando seu
União Brasileira de Trovadores - Seção de
exército particular de índios e mamelu-
São Paulo. www.de-capua.com
cos, para aniquilar uma das primeiras
11
12. BICICLETA BERÇO
MARIA ZILDA DA CRUZ
As pernas movimentam milhares de rodas, diaria- Nem sempre é gente carregando gente. Aos domingos, um
mente, pelas ruas e avenidas santistas. Elas são os motorzi- senhor sorridente, de aparência simples, leva seu grande cão
nhos das bicicletas transportando uma legião de trabalhado- a passear... Sentado no selim, com as patas dianteiras sobre
res: homens, mulheres, jovens adultos e até idosos. Se o guidão, um enorme cão pastor alemão vai à frente... fingin-
alguém quer uma lição de democracia, basta observar essa do uma solene vigilância sobre a rua. Tal imponência quebra
gente em linha reta ou zinquezagueando por entre carros e a sua propagada ferocidade. O dono, sentado no bagageiro
motos. Todos se respeitam com o rosto avermelhado pelo ca- de trás, pedala com as pernas bem esticadas, equilibrando o
lor do esforço. Uns se cumprimentam num leve murmúrio; ou- cachorro e o orgulho de o possuir. Um dá prazer ao outro sem
tros em alta voz. Ignorando o vozeiro, pessoas carrancudas importunar e, muito menos, ameaçar os transeuntes.
usam o mutismo para se fecharem no próprio interior indefini- Entre tanta igualdade na forma de transportar-se, e
do. Outras parecem não ter acordado. Alguns são malabaris- maior diversidade nos rostos lavados ou maquiados, uma bi-
tas e aproveitam para provar e demonstrar, com cenas arris- cicleta parece ser especial. Chama a atenção pela maneira
cadas, gestos e contorções de equilíbrio duvidoso. como dois seres ocupam um transporte rotineiro em nossas
No caminho, o verde se oferece para dar repouso ao ruas.
olhar. O sol acaricia as carecas, banha os braços de todos. Dirigindo o veículo, com grande cautela e equilíbrio,
Observando os pés dos ciclistas dá para ler, inferir pedala uma jovem senhora. Desvia-se dos buracos, não faz
sobre os seus donos. Chinelas havaianas simples, umas já manobras arriscadas; procura segurança entre tantos aventu-
surradas pelo gasto do uso, protegem a sola grossa de pés reiros do pedal. À frente, num cestinho ela carrega seu bem
maltratados. Seus donos têm a vida tão dura como seus sola- precioso: um menino com prováveis dois anos de vida. Ele
dos. Mulheres, jovens ou não, levam havaianas enfeitadas viaja sereno, não sabendo o caminho por onde passa. Certo
com dourados, prateados e tantas criativas fantasias, confir- da habilidade materna, deixa-se levar, dormindo sobre fofos e
mando cuidados e vaidades femininas. grandes travesseiros. Nota-se que tudo foi colocado, cuidado-
Uns poucos, homens e mulheres, pensando na pro- samente, dando conforto ao dorminhoco com chupeta na
teção dos pés calçam tênis: coloridos, brancos, de baixo cus- boca, e pequena mochila deitada em suas costas. No futuro
to ou bem caros. Esse artefato torna mais difícil a tarefa de as fraldas e mamadeiras, de agora, serão livros e canetas.
dizer sobre os seus donos. Não é a riqueza do bolso que de- A escola maternal o espera. O trabalho aguarda
termina a sua compra. Há os pobres querendo ser ricos nos aquela mulher zelosa, preocupada em aninhar o filho no cora-
pés; há os ricos querendo pobreza nos pés, com medo dos ção e na bicicleta. A limpeza das fronhas alvas e o carinho se
ladrões! depositam no berço ambulante para proteger o sono de uma
Observemos mais atentos a bicicleta e os ocupan- criaturinha, muito bem defendida por essa mãe, anônima do
tes. Algumas são pedaladas com vigor, pilotadas por heróis asfalto. O quadro de amor que embrulha as pedaladas da bi-
vencedores de grandes corridas, em sua imaginação esporti- cicleta berço, que rola cedo, nas manhãs santistas, aquece de
va. Amigos e conhecidos vão aos pares, esquecendo o exer- ternura o pequeno dorminhoco, e alimenta o respeito para
cício das pernas, para se aterem ao equilíbrio das palavras, com as nossas crianças.
passando notícias alegres ou tristes, em altas ou baixas vo- Rola bicicleta berço, vence a rua, bem suave, de
zes. Existem os ciclistas, preocupados, pensando no traba- mansinho você carrega dois anjos: o protetor e o protegido,
lho, na família em casa, nas contas a serem pagas. Uma infi- dentro de uma bolha de carinho.
nidade de deveres ou de alegria escorregam das bicicletas e
nas ruas acompanham o rolar das rodas, tornando todos os
pensamentos redondos, sobre a vida a correr contínua no as- Maria Zilda da Cruz é Mestra e Doutora em Psicologia pela
falto. Universidade de São Paulo. Presidente da Academia Femi-
Também existem os caronistas. Ganham com o es- nina de Ciências, Letras e Artes de Santos. Membro da Di-
forço do condutor e descansados chegam ao lugar desejado. retoria da Academia Santista de Letras.
Formam a simbiose do hospedeiro e a fraternidade.
Março - Santos Arte e Cultura 12
13. OS INOCENTES DO EMBARÉ
JOSÉ CANDIDO F. JÚNIOR
O que pode fazer um homem num nirvana originado do torpor do sol,
cansado, andando pelo jardim da no paraíso.
praia, além de se sentar num banco, De repente, passa um velhi-
embaixo de uma árvore e olhar a mo- nho, tão frágil, entre a massa bronzea-
cidade? da; a massa abre alas e o velhinho pas-
Ah! A gigantesca energia vital sa. Olho para o lado oposto da praia e
da mocidade sentada ali, a meu lado, vejo a igreja do Embaré, uma verdadei-
a desfrutar o iodo e o ócio marinhos, a ra obra de arte espremida entre prédios
esquadrinhar os biquínis, a trocar pa- ordinários. O velhinho passa lentamen-
lavrões amigáveis uns com os outros! te, a garotada conversa assuntos tri-
Estão em plena felicidade distraída, viais e ninguém o vê.
BASÍLICA DO EMBARÉ
LIANE UEChI
As origens da Basílica do Embaré estão ligadas ao primeiro morador do
bairro de mesmo nome, Antônio
Ferreira da Silva Júnior, o Viscon-
de de Embaré, que também foi o
fundador da Associação Comer-
cial de Santos, em 1870. O Vis-
conde ergueu em sua chácara,
em frente à praia, a Capela de
Santo Antônio do Embaré. Foi
entregue em 1922 aos frades
franciscanos, que iniciaram a
nova edificação, em 1930, dan-
do-lhe a forma como a conhece-
mos hoje. Foi inaugurada em
1945, e em 1952, foi elevada à
categoria de basílica, pelo Papa
Pio XII.
Seu estilo arquitetônico é o
neogótico, marcado pelos seus
arcos ogivais, vitrais e rosáceas.
As duas torres da fachada termi-
nam com pináculos. No tímpano rosa dividem-se em cada lado da nave
sobre a entrada principal, uma e do altar, emoldurando as quatro ca-
composição clássica mostra San- pelas menores, bem como as capelas-
to Antônio recebendo o Menino balcões e as capelas de confissão. Ne-
Jesus das mãos da Virgem. Na las, estão pinturas alusivas à remissão
parte interna, os 18 metros de pé dos pecados, como o perdão ao filho
direito são cobertos por murais à pródigo e a Maria Madalena.
têmpera de Pedro Gentili, que Sem dúvida, um dos tesouros
preenchem todos os espaços do santista.
templo. Os 44 pilares em granilito Informações fonte: site Novo Milênio
13 Março - Santos Arte e Cultura
14. A PRESENÇA DE ROBERTINA COCKRANE SIMONSEN
NUMA EXPERIÊNCIA DA EDUCAÇÃO FEMININA
(1902 - 1920)
MARIA APPARECIDA FRANCO PEREIRA
Nos inícios do século XX, Santos está pas- 20 de dezembro de 1862 e era uma dos seis filhos do
sando por um período de urbanização, onde a casal Ignácio da Gama Cochrane e Maria Luísa
modernização de seu Porto, por causa da eco- Barbosa, filha de comissário de café santista, An-
nomia agro-exportadora do café, traz um nú- tônio Vieira Barbosa. Dr. Ignácio Wallace de
mero grande de trabalhadores nacionais Gama Cochrane (1836-1912), natural de Va-
(livres e ex-escravos) e sobretudo, imigran- lença, RJ, de família ligada a projetos de fer-
tes (tornando-a uma cidade portuguesa), rovias, foi personalidade das mais atuantes,
atuando nos serviços ligados à comerciali- na vida administrativa política e social. Em
zação do café; nos transportes, nos arma- 1860, está em Santos, como engenheiro fis-
zéns, nas docas e na ferrovia. cal da São Paulo Railway e ao contrair matri-
Santos reúne uma elite formada pelo mônio e associando-se à firma de seu sogro,
alto comércio, negociantes locais (diversos aí permanece até 1878, quando se transfere
portugueses), a que se unem geralmente os para a capital paulista.
filhos de fazendeiros paulistas. Completando, Robertina casou-se, aos 21 anos, com Sydney
estão os homens de profissões liberais - médicos Martin Simonsen, inglês que se dedica aos negó-
e engenheiros, muitos vindos da capital federal nos cios do café. Um dos seus filhos foi o eng. Roberto C.
anos próximos à virada do século XIX para o XX, atraídos Simonsen, o grande industrial paulista.
por uma cidade castigada por inúmeras epidemias (febre ama- A atividade de Robertina Simonsen na Associação
rela, varíola, peste bubônica, tuberculose etc.), mas com recur- Feminina Santista é muito grande. Sócia fundadora (1902), é
sos econômicos advindos da economia cafeeira para a supera- vice-presidente da AFS no biênio 1902-1903. A seguir, assume
ção de seus males. a função pedagógica mais importante da escola, com a saída
Um aspecto importante dessa era da modernização é o de Eunice Caldas, que é a de Diretora Geral da Instrução por
filão da educação, patrimônio cultural que deve ser estendido a vários anos, sem ter diploma de normalista. Ao mesmo tempo,
todos os estratos da população, necessitados da regeneração de 1903 a 1907, também ministra Trabalhos Manuais.
social. Em Santos, nesse início, as realizações educacionais se Depois, mantém a sua participação como Presidente
multiplicam, desde as iniciativas do poder do Estado (Grupos da mantenedora ou no atuante Conselho da instituição, arregi-
Escolares Cesário Bastos: 1900; Barnabé: 1902) e do Municí- mentando novos sócios, com seu marido.
pio (G.E. Olavo Bilac) e Academia do Comércio, 1907; das or- Uma das poucas vezes onde se encontram as suas
dens religiosas (Irmãs do Coração de Maria e Irmãos Maristas: palavras: “É sinceramente penalisada que deixo este logar
1904) ou de instituições leigas (Escola Docas: 1907), de grupos onde há perto de 9 annos me tenho esforçado em prol desta
filantrópicos (Auxiliadora da Instrução, 1878) ou de Maçonaria tão útil e benemérita Associação, e a qual eu desejo de coração
(Loja Brás Cubas). a continuação de sua prosperidade” (Rel. AFS de 1911). Em
É em 1902, que surge a primeira grande instituição voltada 1919, é chamada, novamente em situação de crise da Associa-
principalmente para a educação feminina. A professora Eunice ção Feminina Santista, para ser a sua Presidente.
Caldas (1879-1967) consegue reunir um grupo de senhoras da Com pouco mais de 60 anos, em 1921,desliga-se de-
sociedade local e cria o Liceu Feminino Santista e as Escolas finitivamente da direção (continuando como conselheira), mu-
maternais, com o fim de “proporcionar a educação gratuita da dando-se para o Rio, onde falece com a idade de 80 anos
criança e da mulher, principalmente desta”. Na mantenedora, a (1942). Durante esses anos todos batalhou para a manutenção
Associação Feminina Santista (AFS), militam mulheres da so- da instituição e para o seu engrandecimento cultural .
ciedade, assessoradas pelos seus maridos, que são engenhei-
ros, médicos, bacharéis em Direito, comerciantes de café.
Maria Apparecida Franco Pereira é professora titular da
Embora a grande inspiradora inicial fosse Eunice Caldas,
Universidade Católica de Santos. Possui graduação em
irmã de Vital Brasil, uma de suas dirigentes fundadora e conti-
Pedagogia, em História e em Filosofia. É Mestre em História
nuadora foi Robertina Cochrane Simonsen .
Econômica e Doutora em História Social, ambas pela USP.
Robertina da Gama Cochrane nasceu em Santos, em
Março - Santos Arte e Cultura 14
15. O PIANO E O BASTIDOR
VALÉRIA PELOSI
Ah! Velhos companheiros! Porque os amo,
escrevo.
Se suas teclas falassem (nossa, como estão
velhas)! E dizer que as conheci desde o tempo em que
reluziam, enfim, se suas teclas falassem o que conta-
riam? Acho que diriam que o mesmo tempo que gastou
suas teclas pode afinar a alma. Que uma alma bem
afinada pode ver que o belo não está em um único lu-
gar e pode ouvi-lo quando ele chama no farfalhar de
folhas, numa canção de ninar, nas tentativas de peque-
nos dedos queridos que buscam desvendar os misté-
rios das velhas teclas.
O redondo mais perfeito, o encaixe mais total,
o que você tem para contar? Você entende tudo de
devaneio. Sabe segurar as mãos para soltar a alma.
Com seu contorno construí minhas asas.
Valéria Pelosi é cronista, Mestra-Doutora em Psicologia, pela PUC São Paulo.
Obrigado amigos.
ZILDA ARNS NEUMANN
LIANE UEChI
Março é o mês de homenagear a mulher. A Revista Santos Arte e
Cultura o faz através de uma ilustre representante do sexo feminino, a mé-
dica e sanitarista Zilda Arns Neumann e seu trabalho à frente da Pastoral da
Criança.
Muitas mulheres deixaram seu nome na história da huma-
nidade, algumas por feitos inéditos, pelo pioneirismo e
coragem. Donas de características como liderança,
Foto: Sonia Baiocchi/ Câmara Deputados
obstinação e destemor, elas abriram caminhos a tantas
conquistas obtidas ao longo das últimas décadas. Fa-
mosas ou anônimas, todas foram importantes.
Mas há algumas que merecem um olhar mais
atento, por dedicarem seus conhecimentos, esfor-
ços e trabalho em prol da dignidade humana. Aque-
las que no seu labor diário, combatem mais do que
preconceitos ou uma superação pessoal, enfren-
tam sim, vilões cruéis: a pobreza, a ignorância e a
injustiça. Uma dessas combatentes e que nos dei-
xou há pouco, vítima do terremoto no Haiti, foi a
médica e sanitarista Zilda Arns Neumann, coordenadora da Pastoral da
Criança e três vezes indicada ao Prêmio Nobel da Paz pelo Brasil.
Os resultados do seu trabalho são o maior testemunho de seu valor
como mulher. Sua estratégia foi apostar que a educação das mães, através
de líderes comunitários capacitados, revelaria-se a melhor forma de comba-
ter doenças facilmente preveníveis e a marginalidade das crianças. Acer-
tou!
A Pastoral estima que cerca de 2 milhões de crianças e mais de 80
mil gestantes já foram beneficiados pelo trabalho idealizado e, até então, co-
mandado por ela. Seus mais de 260 mil voluntários levam fé e vida, em forma
de solidariedade e conhecimentos sobre saúde, nutrição, educação e cidada-
nia para as comunidades mais pobres do mundo. Uma mulher, uma brasileira,
um exemplo!
15 Março- Santos Arte e Cultura
16. T.P.M.
NEIDE RAMOS
O que é T.P.M? (Tensão Pré-Menstrual). É uma síndrome com um conjun-
to de sintomas físicos, emocionais e comportamentais que se manifestam de maneira
cíclica (período pré-mesntrual) que em geral desaparece por completo com o início do
período menstrual.
O quadro clínico da T.P.M. é bastante variado, sendo relacionados 150 sinto-
mas.
Os mais comuns são: Irritabilidade, Agressividade, Depressão, Fadiga, Labili-
dade Emocional, Dificuldade de Concentração, Cefaléia (Enxaqueca), Mastal-
gia (Dores nas Mamas), Acne, Distensão Abdomnal (Inclaço), Palpitação e
Vertigem.
Por que a T.P.M. acontece?
As causas ainda são desconhecidas e ao mesmo tempo polêmicas;
entre os fatores apontados estão o envolvimento de vários hormônios, como
estrogênio, progesterona, prolactina e androgênios; a alteração dos níveis
de neuro-transmissores (endorfinas, serotoninas e prostaglandinas). Nutri-
cionais e deficiência de vitaminas e sais minerais.
Tratamento
É feito de acordo com a intensidade dos sintomas.
Dieta: hipoproteica (pobre em carbohidratos). Evitar ingerir álcool, café e chás, por-
que interfere na retenção hídrica.
Exercícios Físicos: aeróbicos que atuam na eliminação das endorfinas: correr, nadar,
e quaisquer outros exercícios aeróbicos fazem bem e aliviam a T.P.M.
Diuréticos: melhoram os sintomas da paciente com retenção hidríca.
Sedativos e anti-depressivos: no caso de mulheres com depressão devem ser to-
mados com orientação médica. É interessante ressaltar que adolescentes não
tem T.P.M., porque seus ciclos são anovulatórios; isto porque os Ciclos se tor-
nam, anovulatórios dois anos depois da primeira menstruação.
Após a menopausa a mulher normalmente não tem mais T.P.M.
Existem empresas que não
permitem que mulheres que
ocupam cargos de respon-
sabilidade tomem qualquer
decisão nessa fase.
Neide Ramos é médica, com título de especialista em
Ginecologia e Obstetrícia pela Fundação Brasileira de
Ginecologia e Obstetrícia. Especialista em ginecologia da
infância e da adolescência
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17. NOTAS CULTURAIS
NOTAS CULTURAIS
TEATRO COLISEU GANhA PIANO STEINwAY
Em comemoração aos 464 anos da Cidade de
Foto: Vanessa Rodrigues/PMS
Santos, o Teatro Coliseu ganhou de presente um Piano
Steinway Concert Grande - Model D, que foi entregue
em grande estilo, com a apresentação do renomado pia-
nista Nelson Freire, ao lado da Orquestra Sinfônica Mu-
nicipal de Santos, em 24 de janeiro.
Velho e ansiado sonho de Aura Botto de Barros,
presidente do Centro de Expansão Cultural e dos de-
mais associados, o Steinway foi adquirido pela Prefeitu-
ra, no final de 2009, pelo Programa de Incentivo Fiscal
do Governo do Estado de São Paulo (ProAC), graças ao
patrocínio das empresas TECONDI, CPFL e Comgás.
A OUSADIA SACUDIU A MULTIDÃO.... CAROLINA RAMOS PREMIADA
CANTOU A CAMPEÃ DO CARNAVAL SANTISTA
A escola Padre Paulo foi
Foto: site PMS
a Campeã do Carnaval 2010, em
Santos. Na apuração, que acon-
teceu na quarta-feira de cinzas
(17 de fevereiro), a campeã fe-
chou a apuração na Passarela
Dráusio da Cruz, na Zona Noro-
este, com 179,25 pontos - distan-
Carolina Ramos recebendo o prêmio das
te apenas 25 décimos (0,25) da mãos da Presidente da Seção da UBT de
segunda colocada, a vice-cam- Caxias do Sul, Alice Brandão.
peã Vila Nova. Carolina Ramos, poetisa e es-
A classificação final foi: critora santista, recebeu das mãos da
GRUPO 1 (ESPECIAL)- 1º: 179,25 - perial; 6º: 177,5 - Unidos dos Morros; presidente dos II Jogos Florais de Cai-
Padre Paulo; 2º: 179 - Vila Nova; 3º: 7º: 174,75 - Bandeirantes do Saboó; 8º: xas do Sul, intelectual Alice Velho Bran-
178,75 - Sangue Jovem; 4º: 178,25 - 173,75 - Brasil e 9º: 169,5 - Real Moci- dão, troféu e diploma de Vencedora, na
Amazonense; 5º:178 - X-9 e União Im- dade. categoria de crônica, cujo tema era
“Nos trilhos da História”.
O DOMADOR DO ESPAÇO O evento esteve integrado a
Aproveitando sua passagem pelo sul do país, Cláudio de um das mais belas festas do sul, a tra-
Cápua autografou informalmente, seu último livro “Santos Du- dicional “Festa da Uva”, que aconteceu
mont - o Domador do Espaço”, no saguão do Hotel Pousada nos dias 27 e 28 de fevereiro. A entrega
Caxiense, em Caxias do Sul - RS da premiação deu-se na Câmara Muni-
cipal de Caxias do Sul.
BONDE ITALIANO 100 ANOS DE VILA BELMIRO
EM RESTAURAÇÃO
A Vila Belmiro, bairro que abriga o Estádio Urbano Cal-
Mais um exemplar de bonde europeu começa a passar por deira, do SFC, completou no último dia 14 de fevereiro,
um criterioso trabalho de restauração, nas garagens da 100 anos. Com cerca de 10 mil moradores, é um bairro
Companhia de Engenharia de Tráfego de Santos. residencial, onde convivem harmoniosamente casarios
Trata-se de um dos dois veículos italianos doados ao Mu- antigos e edificações modernas. Mantém excelente in-
nicípio pela cidade italiana de Turim, o de prefixo 3265, fra-estrtura com escolas, hospitais, bancos e comércio
construído pela FIAT italiana na década de 40. variado. Parabéns Vila Belmiro!
Fonte: Diario oficial de Santos.
Março - Santos Arte e Cultura
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18. Espaço do Livro
CLÁUDIO DE CÁPUA
MIGUEL COSTA
de YURI ABYAZA COSTA
“Miguel Costa: um herói brasileiro”, livro de autoria de Yuri
Abyaza Costa, neto do verdadeiro comandante da Coluna que nunca
foi Prestes, a não ser na cabeça de alguns radicais da esquerda bra-
sileira de nossa imprensa. Miguel Costa foi o grande estrategista da
revolução de 1924, a mais sangrenta luta entre irmãos travada em
solo brasileiro. As tropas, sob o comando do Gen. Isidoro Dias Lopes
e Miguel Costa, tomaram a Paulicéia, durante 23 dias, após intenso
bombardeio da artilharia governista, que matou entre 12 a 15 mil civis,
sendo que a população da cidade, não chegava a trezentos mil habi-
tantes. Miguel Costa, homem de bom senso, para evitar que a matan-
ça de inocentes continuasse, retirou as tropas revoltosas da capital e
marchou para o sul do país, onde foi em socorro da fracassada Colu-
na Gaúcha, comandada pelo inexperiente capitão engenheiro do
exército, Luiz Carlos Prestes. Com a fusão dos revoltosos paulistas e
o grupo rebelde gaúcho surgiu a 1ª Divisão Revolucionária. Miguel
Costa foi pelo menos durante quatro décadas, o mais destacado líder
político militar do Brasil.
O livro de autoria de Yuri Abyaza Costa é um livro sério e
esclarecedor.
Edição da Imprensa oficial do Estado de São Paulo. Preço
de R$ 50,00. Aquisição: http://livraria.imprensaoficial.com.br
BRIGADEIRO-DO-AR BARThOLOMEU LOURENÇO DELÍRIOS DE UM SONhO
NERO MOURA DE GUSMÃO DEOCLECIANO JOSÉ
MANUEL CAMBESES JR. CLOTILDE PAUL
A história do A vida de um O poeta auto-
Brigadeiro gênio de seu didata mostra
Nero Moura, tempo, seus in- como as suas
ilustre persona- ventos e crono- experiências
lidade da vida logia, numa lin- de vida, como
nacional e da guagem capaz menino de
historiografia de despertar nos rua, podem
aeronáutica e jovens o interes- se transfor-
da aviação bra- se pela histó- mar em poe-
sileira. ria. sia.
Março - Santos Arte e Cultura 18