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ANO IV VOL.20 BIMESTRAL - MARÇO DE 2010 DISTRIBUIÇÃO GRATUITA




•	 A SEMENTE          •	 MINARETES SUIÇOS                         •	 O FIDELÍSSIMO


            BASÍLICA DO EMBARÉ
Sumário
  EDITORIAL                          Edição 20 - Ano 4 - Março 2010

                                 4        TROVAS
                                 5        PALPITES, ÀS VEZES, DÃO CERTO
Olá, leitores:
                                          Carolina Ramos
Nesta edição, não po-            6        MAITÊ PROENÇA NÃO SOUBE EMPREGAR A
deríamos deixar de                        MESÓCLISE
prestar homenagem                         Fernando Jorge
à mulher, no seu dia
internacional. É o               7        A SEMENTE
que fazemos, por in-                      Sonia Regina Rocha Rodrigues
termédio da pena de              8        FUNDAÇÃO DE SÃO PAULO
uma mulher especial,                      Nelly Martins Ferreira Candeias
Liane Uechi, esposa e
mãe dedicada, além              9         MINARETES SUIÇOS
de competente pro-                        Ives Gandra da Silva Martins
fissional, que traça o          10        COMO É DIFÍCIL APRENDER INGLÊS
perfil dessa mulher                       Wilma Therezinha Fernandes de Andrade
ímpar que foi Zilda
Arns.                           11        O FIDELÍSSIMO
A capa é foto de uma                      Cláudio de Cápua
das construções ar-             12        BICICLETA BERÇO
quitetônicas sacras                       Maria Zilda da Cruz
mais deslumbrantes
de Santos, a Basílica           13        OS INOCENTES DO EMBARÉ
de Santo Antonio do                       José Candido F. Júnior
Embaré.                         13        BASÍLICA DO EMBARÉ
Nossos colaboradores,                     Liane Uechi
como não poderia dei-
xar de ser, mantém              14        A PRESENÇA DE ROBERTINA COCKRANE
                                          SIMONSEN NUMA EXPERIÊNCIA DA
seus textos no ápice                      EDUCAÇÃO FEMININA (1902 - 1920)
do bom gosto e da in-                     Maria Apparecida Franco Pereira
formação cultural.
                                15        O PIANO E O BASTIDOR
                                          Valéria Pelosi
Boa leitura                     15        ZILDA ARNS NEUMANN
                                16        T.P.M.
O Editor.
                                          Neide Ramos
                                17        NOTAS CULTURAIS
                                18        ESPAÇO DO LIVRO


   Expediente                                                   LEI ROUANET
   Editor - Cláudio de Cápua. MTB 80                    A Revista Santos Arte e Cultura é
Jornalista Responsável - Liane Uechi. MTB 18.190.
                                                        aprovada pelo Ministério da Cultu-
Editoração Gráfica - Liane Uechi
                                                        ra e beneficiada pela Lei Rouanet
Designer Gráfico - Mariana Ramos Gadig
Capa: Liane Uechi                                       de Incentivo à Cultura. Os patroci-
End.: Rua Euclides da Cunha, 11 sala 211. Santos/SP.    nadores poderão abater 100% do
E-mail: revistaartecultura@yahoo.com.br                 valor doado no imposto de renda.
Participaram desta edição: Carolina Ramos; Cláudio de   O benefício é válido para pessoas
Cápua; Fernando Jorge; Ives Gandra da Silva Martins,    jurídicas tributadas com base no
José Candido F. Junior, Liane Uechi; Maria Apparecida   lucro real, sendo o valor limitado a
Franco Pereira; Maria Zilda da Cruz; Neide Ramos;       4% do imposto de renda devido.
Nelly Martins Ferreira Candeias; Sonia Regina Rocha     Pessoas físicas que fazem a decla-
Rodrigues; Valéria Pelosi e Wilma Therezinha Fernan-
                                                        ração completa do IR também po-
des de Andrade. Os autores têm responsabilidade
                                                        dem abater suas doações. O limite
integral pelo conteúdo dos artigos aqui publicados.
                                                        neste caso, é de 6% do Imposto de
Distribuição Gratuita. 5000 exemplares.
                                                        Renda.


                                                              3
TROVAS
      TROVAS


 O átomo a força desata!                    Tens tanto fascínio, tanto,
 Cresce a ambição! E a sofrer,              que as flores puras e belas
 a humanidade, insensata,                   se curvam cheias de encanto
 se algema ao próprio poder!                quando tu passas por elas!
 Carolina Ramos                             P. de Petrus




Que bela seria a vida                    Tantas ternuras guardadas
se acima de ódios mortais,               eu tenho para te dar,
uma ponte fosse erguida                  que minhas mãos descuidadas,
unindo margens rivais!                   já traçam carícias no ar...
Dorothy Jasson Moretti                   Héron Patrício




Teu beijo pela internet,                  Ao sulcos que, bem juntinhos,
vem sempre com tal calor,                 na face mostram a idade,
que qualquer dia derrete                  das lágrimas são caminhos
meu pobre computador!                     abertos pela saudade!
Antonio Augusto de Assis                  Angélica Villela Santos




                                         Bendigo a lágrima doce
                                         da chuva que cai lá fora.
                                         Bom seria se assim fosse
                                         o pranto que a gente chora...
                                         José Valdez de Castro Moura




                                   Gosta de Trovas?
                                 A “União Brasileira de Trovadores”, seção de Santos, reúne-se, na
                                 última terça-feira de cada mês, no IHGS, av. Conselheiro Nébias, 689,
                                 às 20h30. Compareça!



Março - Santos Arte e Cultura
                                   4
PALPITES, ÀS VEZES, DÃO CERTO
                                                     CAROLINA RAMOS

        Na verdade, palpites não custam nada e às vezes dão            sas pinturas que enriqueciam o interior do prédio. A Cultura e
certo... ou não. Este, certamente deu. À volta de uma viagem           a Educação saberiam como usar o novo espaço, transforman-
a Ribeirão Preto, em meio do século passado, tendo oportuni-           do-o em Escola de Arte, de modo a proporcionar aos jovens,
dade de conhecer o Museu do Café, apresentado com orgu-                que se dedicam ao teatro, feliz oportunidade de ver crescer o
lho aos visitantes daquela cidade, indaguei-me, por que San-           rol dos santistas que, lá fora, enfrentam com sucesso os pal-
tos, porto plenamente integrado à vigorosa era cafeeira não            cos e cenários de TV. E não foi o que foi feito?! Aliás, foi feito
tinha ainda um Museu igual àquele?! A nossa Bolsa de Café,             muito mais! Restaurado e remoçado, o nosso Guarany reas-
desativada, oferecia, de bandeja, sede ideal para tal instala-         sumiu suas funções artísticas, transformado, não apenas num
ção! José Carlos Jr, corretor de café, com seu violão, animava         teatro de arena ou em escola de teatro a céu aberto, mas ul-
nossas festas de poesia, e foi, por algumas vezes, alvo desse          trapassando, em muito, este modesto sonho! Ao vê-lo lotado,
questionamento. Concordava comigo. O tempo passou e o                  numa noite de gala, em que a nossa Marlene Akel, empolgou
palpite desta inconformada santista, tivesse, ou não, chegado          ouvidos e corações, interpretando, com virtuosismo, páginas
aos ouvidos de alguém com poder decisivo, acabou aconte-               de Chopin, meu orgulho santista, agradeceu e cumprimentou
cendo, indo além do pretendido! Aí está o nosso Museu do               a Prefeitura de Santos e todos aqueles que levaram a cabo
Café situado no mesmo nobilíssimo local e em pleno desem-              tão importante projeto! E, no íntimo, somei mais um palpite
penho de suas funções! Claro, que aquele palpite, com tantos           que dera certo.
anos de antecedência, nada teve a ver com esta realidade!                        Contudo, houve um palpite que não pegou, embora,
Mas, deu certo, ninguém negará!                                        bem intencionado, como os demais. Quando a destinação do
          Outro palpite feliz foi aquele a envolver o Guarany.         casarão branco, meu vizinho na Av. Bartolomeu de Gusmão,
          Há alguns anos, usando o espaço reservado ao lei-            virou debate público, não me omiti. Sugeri fossem lá instala-
tor, cumprimentei “A Tribuna” pelo oportuno artigo “Ruínas do          das entidades culturais carentes de sede, como as duas Aca-
Guarany”. O autor? Por certo, alguém, também preocupado                demias de Letras, a Associação dos Artistas Plásticos do Lito-
com o estado precário do imóvel e, com o destino que viesse            ral Paulista, e, naturalmente, a Seção de Santos da UBT
a ter aquele arruinado palco de tantas glórias anteriores! San-        (União Brasileira.de Trovadores), hoje Internacional, que te-
tista, muito me entristecia a condição, dita irreversível, desse       nho a honra de presidir. A proposta até que não era má: uma
patrimônio cultural à mercê de palpites, nem sempre bem in-            sala para cada entidade, um salão, comum, para exposições
tencionados. Muitas eram as sugestões. Falava-se em demo-              e lançamentos, e, ainda, para que não virasse um saco de
lição, em transformar o local em estacionamento, num restau-           gatos, tudo a ser monitorado, oficialmente, pela Secretaria
rante, etc. Lembram-se? Eu mesma cheguei a ser convencida              Municipal de Cultura. Intenção aplaudida por muitos, embora
de que, “absolutamente não havia possibilidade de recupera-            prevalecesse a idéia, primorosa, da criação da Pinacoteca
ção do prédio” e “o jeito, para livrar a cidade daquele pardiei-       Benedicto Calixto, concretizada como Fundação, e que, bas-
ro, era pô-lo abaixo”! Cruzes!                                         tante ativa culturalmente, vai de vento em popa! E, ao final de
           Enorme, pois, a satisfação, quando, alguns anos             cada ano, ao vê-la deslumbrante, com seus corais e decora-
mais tarde, ao ler o referido artigo, pude sentir ainda vivo o         ções natalinas, reconheço, com toda a sinceridade, que, se
interesse público e somado ao das autoridades. Na esperan-             daquela vez meu palpite não dera certo, dera muito certo, sim,
ça de que algo pudesse ser feito em prol do arruinado Gua-             tudo o quanto lá foi feito e, melhor ainda, o que o futuro há de
rany, atrevi-me a sugerir o que me parecia viável para a sua           mostrar!
recuperação e reaproveitamento das antigas funções. Minha                          Carolina Ramos, poetisa e escritora, é Secretária Ge-
sugestão, acolhida pelo jornal A Tribuna, era de que, após                          ral do Instituto Histórico e Geográfico de Santos (IHGS)
retorno do imóvel ao poder público e extirpado o matagal in-                            e Presidente da União Brasileira de Trovadores UBT-
terno, fossem restauradas, pelo menos, a fachada e as pare-                                Santos. Pertence à Academia Santista de Letras e
des passíveis de restauração. Isto feito, o que fazer do espa-                                    à Academia Feminina de Ciências, Letras e
ço recuperado? - Arrisquei: - Que tal transformar o                                                                Artes de Santos (AFCLAS).
Guarany num pólo cultural? Num Teatro de Arena, a
exigir instalações mais simples, menos dispendio-
sas, já que        impossível, recuperar as valio-




                                                                   5                                          Março - Santos Arte e Cultura
MAITÊ PROENÇA NÃO SOUBE EMPREGAR A MESÓCLISE
                                                      FERNANDO JORGE
         Georgina Magalhães Soares, estudante de jornalis-                        Desconfio que um presidente sul-americano é viciado
mo, quer saber se está correta a seguinte frase:                        em cacoepia...
         “O doutor Fonseca, estabelecido à rua das Magnó-                         Francisco Calderón Verbena, de Porto Alegre, per-
lias”...                                                                gunta se está correta a seguinte frase de Maitê Proença, publi-
         Cara Georgina, há aí um erro de regência, pois os              cada na edição do dia 18 de dezembro de 2008 do jornal “O
verbos que indicam fixidez, estabilidade, como morar e ficar,           Globo”:
possuem complemento com a preposição em. Portanto, eis o                          “Se os rapazes empreendessem a caça, faria-lhes
certo!                                                                  bem ao instinto”
         “...estabelecido na rua das Magnólias”...                                Caro Francisco, a atriz Maitê Proença, embora seja
                                                                        também escritora, não soube empregar a mesóclise, que é o
         Antonio Carlos Frankenthaler, estudante de Direito,            processo sintático da colocação do pronome pessoal oblíquo
pergunta numa carta se não é errado dizer isto:                         átono no meio do verbo. Um exemplo de mesóclise:
         “Hoje é 19 de março de 2009, quinta-feira”.                              “Dar-lhe-iam o troféu”.
         Veja, Antonio, nesta frase o verbo ser deve concordar                    Vamos corrigir a frase da Maitê Proença:
com o número que é indicado. Imagine que a frase fosse as-                        “Se os rapazes empreendessem a caça, far-lhes-ia
sim:                                                                    bem ao instinto”.
         “ Hoje são 1º de novembro de 2009, domingo”.                             Três ótimos exemplos de mesóclise pronominal, no
         Ela estaria completamente errada, pois o verbo ser             texto de um escritor clássico:
está se referindo apenas a um número. Na primeira frase o                         “...(os hereges) tomarão os cálices e os vasos sagra-
verbo se refere a número superior a um e de acordo com a ló-            dos, e aplicá-los-ão às suas nefandas embriaguezes; derruba-
gica, em vez de ir para o singular, vai para o plural:                  rão dos altares os bustos e estátuas dos santos; deformá-los-
         “Hoje são 19 de março de 2009, quinta-feira”.                  ão a cutiladas, metê-los-ão no fogo”
          Luiz Alberto Gomes Natário, economista, pretende                        (Padre Antonio Vieira, “Sermão pelo
ampliar os seus conhecimentos de português e por este motivo            sucesso das armas portuguesas”).
me fez várias perguntas. Ele deseja saber, por exemplo, o que                     A eloquência arrebatadora do je-
é assibilação.                                                          suíta Vieira era incomparável. Não foi à-
          Prezado Luiz, o dicionário do Aurélio, em um volume,          toa que ele recebeu a alcunha de “O
e o do Caldas Aulete, em cinco, não encerram um verbete para            Crisóstomo Português”. No idioma gre-
explicar o significado de tal substantivo feminino. Entretanto, o       go a palavra crisóstomo significa “boca
“Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa” o exibe, mas o seu            de ouro” e isto nos traz à memória o
verbete é lacunoso, não satisfaz. Revelo, assibilação é nos tex-        nome de outro grande orador, São José
tos a repetição de ss e zz:                                             Crisóstomo, um dos maiores bispos do sé-
          “Os seus sapatos sujos, quase sem solas, são sete”.           culo IV, diamante sem jaça, fulguroso,
                                                                                                                   Padre António Vieira, por Ar-
          A Zezé, bem zonza, zombava da Zulu”.                          os oradores sacros do Oriente.             nold van Westerhout (1651-
                                                                                                                      1725
          O mesmo leitor se assustou com a palavra cacoepia
(pronúncia cacoépia). Ele pergunta: que bicho é este? Cacoe-
pia é a pronúncia contrária às regras da linguagem culta, ou               Fernando Jorge é jornalista, membro do Conselho de Ética do
melhor vernácula. Por exemplo, dizer flô, em vez de flor; homi,          Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Estado de São Paulo,
em vez de homem; mulhé, em vez de mulher; estrupo, em vez                 o petropolitano Fernando Jorge é autor do livro “A Academia do
de estupro; mantega, em vez de manteiga; previlégio, em vez                 Fardão e da Confusão”, lançado pela Geração Editorial, onde
de privilégio; bandeija, em vez de bandeja; professô, em vez de         mostra numerosos erros de português cometidos pelos membros
professor; abissuluto, em vez de absoluto; mendingo, em vez                                             da Academia Brasileira de Letras.
de mendigo; pissiculugia, em vez de psicologia.


Março - Santos Arte e Cultura                                       6
A SEMENTE
                   SONIA REGINA ROCHA RODRIGUES

         Cada ladrão que a assaltava      um “Nem Só de Caviar Vive o Homem”
ganhava um livro. E como ela acredita-    e explicou:
va que os assaltos fazem parte do coti-             - No meio de aventuras incrí-
diano de um paulista típico, expunha-     veis, tem aí umas receitas deliciosas.
se em horários e ruelas tais, que                   Em outra noite, tendo ouvido
tornara-se uma vítima compulsiva.         o clique revelador e levantado as mãos
         Leitora voraz, disseminadora     como de praxe, escutou:
de cultura, carregava sempre consigo                - Ah, é a doida dos livros!
dezenas de títulos que emprestava,                  - Doido é quem vive no cri-
presenteava ou trocava com amigos,        me.
alunos e parentes.                                  Para seu espanto, o rapaz
         Da primeira vez em que um        abaixou a arma.
pivete comentou: ‘Não tem mais nada                 - Sabe, dona, o pessoal daqui
de valor aí’, ela estremecera. Perce-     ‘tamo’ juntando seus livros e trocando
bendo em que noite de trevas estava       aí umas ideias...
mergulhada aquela alma, ofereceu, ou                Madrugada adentro, aquelas
antes, exigiu:                            duas almas conversaram longamente
         - Leve um livro.                 sobre estórias reais e imaginárias.
         E ofereceu O Ladrão de Bag-                Ela contaminou o rapaz com
dá, em atraente capa colorida.            sua fome incurável, temperada com pó
         A partir deste dia, junto com    de pirlimpimpim; confrontou-o com
os trocados reservados para os habitu-    monstros, dragões e bruxas; virou-o
ais assaltos, escolhia cuidadosamente     pelo avesso e transmutou suas angús-
os livros com que brindaria os assal-     tias em curiosidade e desejo.
tantes. Havia estórias adequadas para               Nossa heroína não foi mais
órfãos abandonados e livros mais          assaltada naquele perigoso bairro.
apropriados para desempregados pais                 E convido o leitor a imaginar o
de família.                               que seria este país se cada um de nós
         Certa noite uma pergunta sur-    se pusesse a ‘semear livros, livros à
preendeu-a:                               mão cheia...’
         - Tem aí um livro de culiná-
ria?
         Não tinha, pois ela era mulher
                                            Sonia Regina Rocha Rodrigues é médica,
que se alimentava de sonhos, porém,          com pós-graduação em PNL - programa-
de um canto do porta-malas, retirou                            ção neurolinguística.




                                                             7
FUNDAÇÃO DE SÃO PAULO
                                          NELLY MARTINS FERREIRA CANDEIAS

           O encontro de                                                                                       carta dirigida ao
 náufragos portugueses                                                                                         capitão - mor Jerô-
 com índias da terra deu                                                                                       nimo Leitão,“ Do-
 origem à mestiçagem,                                                                                          mingos Luís está
 signo sob o qual se for-                                                                                      acabando a igreja.
 mou a nação brasileira.                                                                                       Já lhe dissemos mis-
 Traço característico do                                                                                       sa com muita festa”.
 quinhentismo – foi a                                                                                          Referia-se claramen-
 melhor solução encon-                                                                                         te àquela ermida, a
 trada pela colonização                                                                                        primeira capela con-
 portuguesa para firmar-                                                                                       sagrada a Nossa
 se no mundo novo. Fo-                                                                                         Senhora em Pirati-
 ram os mamelucos – fi-                                                                                        ninga. Isso aconte-
 lhos de europeus com                                                                                          ceu apenas 25 anos
 cunhatãs, jovens índias,                                                                                      após a fundação ofi-
 que deram origem ao                                                                                           cial da Igreja e do
                                   Fundação de São Paulo, 1913. Óleo sobre tela, 179 x 279,5 cm
 povo brasileiro. A mestiçagem (Acervo da Pinacoteca Municipal de São Paulo).                        Colégio dos padres da Com-
 foi um dos principais fatores                                                                       panhia de Jesus.
 que determinaram o povoamento da nação brasileira.                       Em 1603, a capela foi transferida para o atual bairro
           O padre José de Anchieta representa a ação apos- da Luz, onde foi construído um convento que hoje abriga o
 tólica elevada ao mais alto expoente da dedicação e do amor Museu de Arte Sacra de São Paulo. Lá se encontra a mais
 à raça aborígene nas terras de Santa Cruz. Autor da primeira antiga imagem de Nossa Senhora da Luz, entre outras relí-
 gramática em língua tupi e animado pela fé, colocou a inte- quias.
 ligência e a vontade na integração de um Brasil sem precon-              Termino esta saudação à amada cidade de São
 ceitos de raça. Esta nação é o peabiru do padre José de Paulo, feita até de forma pouco convencional, em Inhapuam-
 Anchieta.                                                      buçu, no mesmo local onde no século XVI ouvia-se a voz de
           Na sede do Instituto Histórico e Geográfico de São Anchieta a recitar com os curumins e as cunhatãs seu cân-
 Paulo encontra-se belíssimo quadro, fixando um momento tico sagrado. Vou citar:
 exponencial de sua vida, o de escrever na areia da praia de
 Iperoig, versos do poema “De Beata Virgine Dei Matre Ma-                                “Ó Virgem Maria”
 ria”, homenagem à Virgem Maria.                                                           Tupã sy êté,
           Mas qual das designações da Virgem Maria, Padre                                Abapé ara póra
 Anchieta invocava ?                                                                     Oicó ende jabê?’
           No museu do Pateo do Collegio encontra-se ima-                              Xe retama moopira
 gem em bronze de Anchieta e réplica da imagem de Nossa
 Senhora da Candelária, padroeira das Ilhas Canárias, onde                                 Traduzindo :
 ele nasceu.                                                                Ó Virgem Maria, Grande Mãe de Deus
           Pequeno estudo a respeito das designações da Vir-                     Que outra criatura há igual a ti.
 gem Maria (assim era invocada no período quinhentista),                              Minha terra venturosa”.
 permite supor que ele tivesse dedicado seus versos à Nossa
 Senhora da Candelária, também denominada Nossa Senho-                    Que a fé, a justiça, a tolerância e a solidariedade
 ra das Candeias e Nossa Senhora da Luz.                        estejam sempre nos corações dos brasileiros paulistas.
           De acordo com a documentação do Arquivo da Cú- Amém!
 ria Metropolitana, a primitiva capela de Nossa Senhora das
 Candelárias ou das Candeias foi construída, em 1579, por
 Domingos Luís, português, casado com Ana Camacho, ma-
                                                                   Nelly Martins Ferreira Candeias é professora titular da Uni-
 meluca, bisneta de João Ramalho e da índia Bartira – fato
                                                                   versidade de São Paulo (aposentada) e presidente do Ins-
 registrado no traslado da doação, datado de janeiro de
                                                                   tituto Histórico e Geográfico de São Paulo.
 1579.
           Nesse mesmo ano, José de Anchieta escreve em

Março - Santos Arte e Cultura                                    8
MINARETES SUIÇOS
                                            IVES GANDRA DA SILVA MARTINS

         A Suíça sempre se caracterizou por ser um país              casas de prostituição, os motéis para encontros suspeitos,
com cidadãos serenos, respeitadores dos demais, preocu-              as boates noturnas e os espetáculos pouco dignificantes,
pados em não se envolver com seus vizinhos, tendo, inclusi-          que também existem na Suíça, como em todos os países,
ve, conseguido permanecer neutra em duas guerras mun-                não sejam fechados, por uma questão de igualdade?
diais, apesar de estar no centro dos conflitos.                               Por que o culto ao Criador, conforme cada religião,
         Estranhamente, a onda de um falso laicismo, que             não é respeitado como se respeita o culto aos denominados
começa a dominar o mundo, pela qual, devido ao extremis-             centros turísticos de diversões laicas, em que a droga e o
mo, só quem não acredita em Deus pode falar em um Esta-              meretrício de luxo têm curso fácil e quase sem controle ofi-
do Laico, tem levado a geração de ódios e preconceitos que           cial?
terminaram por atingir o âmago de povos civilizados, como o                   Àqueles que não conseguem viver como deveriam
          suíço, o francês e até mesmo a comunidade euro-            pensar e passam a pensar como vivem, à evidência, inco-
           péia.                                                     modam os valores que as religiões transmitem e que não
           Na França, proibiu-se o uso das “burcas” e                conseguem viver, em sua maioria, razão pela qual os bons
             “xadors” nas escolas, mas não a pouca roupa             costumes devem ser afastados – embora vividos pela maio-
             das meninas francesas, que se exibem em re-             ria das pessoas- em detrimento de um Estado Laico, sem
             vistas de todas as espécies, algumas delas não          valores, quase sempre libertino, onde a frustração, os divãs
             recomendáveis, pois em um Estado Laico, quem            dos psiquiatras, a droga, o adultério, os casamentos desfigu-
                é islamita não pode seguir os seus costumes          rados e os filhos desorientados povoam como símbolo da
                publicamente. Na Itália, uma única mulher ob-        modernidade.
                tém da “Corte de Direitos Humanos” da União                   Indiscutivelmente, o preconceito suíço não faz bem
              Européia – tenho dúvidas se os juízes deste Tri-       à sua história, definitivamente manchada pelo plebiscito, que
             bunal não italiano conheçam as tradições e cos-         pode estar beirando às raias de um racismo contra o povo
             tumes do povo italiano- o direito de eliminar de        árabe, revivendo o que de pior o nazismo exibiu, na busca
              todas as escolas públicas o crucifixo. Felizmen-       de uma raça pura. Estou convencido que este tipo de “pre-
                  te, a Ministra da Educação italiana já disse       conceito aristocrático” suíço e de outros países europeus
                    que não respeitará a desarrazoada deci-          está na essência da reação dos povos menos desenvolvi-
                    são. Agora, na Suíça, proíbe-se que os           dos, que, muitas vezes, até no terrorismo buscam a sua vin-
                   templos islâmicos ostentem seus minare-           gança. Como entendo que devemos buscar a paz e a convi-
                 tes!                                                vência entre os povos, não posso aprovar a discriminação
                    É bem verdade, que no Estado Laico Euro-         odiosa dos suíços.
               peu, que está conformando os “sem Deus” ou
               aqueles agnósticos que se julgam “deuses”,                     Dr. Ives Gandra da Silva Martins é professor emérito
                                                                          das Universidades Mackenzie, UNIFMU, UNIFIEO, UNIP, da
               se comemora o aniversário de Cristo, com fe-
                                                                           Escola de Comando e Estado-Maior do Exército - ECEME;
               riados e presentes, sem que haja um movi-                              Presidente do Centro de Extensão Universitária.
               mento para abolir o Natal, data maior da Cris-
               tandade.
                    Pergunto eu, por que não respeitar os mi-
               naretes islâmicos como se respeitam os
               sinos católicos e as Igrejas Cristãs na
               Suíça? Por que o preconceito? Por
               que admitir que as




                                                                                                          Março - Santos Arte e Cultura
                                                                 9
COMO É DIFÍCIL APRENDER INGLÊS
                                wILMA ThEREZINhA FERNANDES DE ANDRADE




          Era, anos atrás, a escola mais cara da cidade. A                   De uma feita, estávamos todos sentados frente à
classe tinha 15 alunos: treze adolescentes e dois adultos,         frente e ela ordenou:
entre eles eu. A sala era adequada e o livro excelente. Havia                - Digam uma palavra em inglês.
uma biblioteca com livros em inglês separados pelos níveis                   Ninguém se manifestou. Mudos, constrangidos, pa-
de aprendizados, um laboratório com gravações de aulas,            recíamos aqueles soldados norte-americanos da Segunda
diálogos e exercícios interativos. Uma vez por semana ocor-        Guerra Mundial, prisioneiros dos japoneses, obrigados a
ria uma reunião para se falar em inglês. Entretanto, o princi-     cantar em japonês.
pal da aprendizagem ficava por conta da professora em sala                   - Vamos, falem! Ninguém aprende uma língua, se
de aula. Ela implicava com a classe, por sinal bem compor-         não falar!
tada, de adolescentes ajustados.                                             Até que um adolescente mais otimista ou corajoso
          - Vocês nunca aprenderão inglês, nem no 4º ano!          disse:
Deviam ver a classe que eu tenho em São Paulo. São umas                      - Píter. Pra quê!
gracinhas, já estão falando inglês.                                          - Só vocês brasileiros é que falam Píter. No mundo
          Claro que isto não ajudava em nada para melhorar         inteiro se fala “Péchau” “Pétchau”!
o astral da classe.                                                          Apesar do equipamento e facilidades, nossa classe
          A sua vítima favorita era um rapaz de 15 anos, ma-       era o exemplo de como um bom sistema de ensino pode ser
gro, alto, chamado Mário, que sempre chegava atrasado.             inutilizado por um mau professor.
          - Isto são horas de chegar? Na sua casa não tem                    Após o término do semestre, encontrei-me com a
relógio?                                                           professora na Avenida. Ela veio falando em inglês e eu res-
          - Tem sim, até mais de um. É que eu durmo depois         pondi em português.
do almoço.                                                                   - Vamos, fale em inglês. Você sabe inglês.
          - Isto é um absurdo! Eu vou falar com a sua mãe!                   Mas, eu disse:
          - Pode falar. Ela está em casa agora. A idéia foi                  - Não sei não. Não sei falar inglês.
dela. Diz que eu estou magro e em fase de crescimento. A                     E despedimo-nos. Foi o troco por aquela experiên-
senhora quer o telefone?                                           cia pedagógica mal-fadada.
          - Não preciso, posso conseguí-lo na secretaria.                    Como é difícil aprender inglês!
          Mario falava sem provocação, normal como se al-                    Era, anos atrás, a escola mais cara da cidade.
guém lhe tivesse perguntado as horas. Ele devia ser de uma
                                                                         Wilma Therezinha Fernandes de Andrade é mestra e
família bem estruturada, era filho de um delegado. Nunca se
                                                                          doutora em História Social, pela USP; professora da
constrangia.                                                           Universidade Católica de Santos; membro da Academia
          Era até engraçado. A professora nervosa, o aluno                   Feminina de Ciências, Letras e Artes de Santos -
tranqüilo.                                                                  AFCLAS e da Academia Santista de Letras - ASL.


Março - Santos Arte e Cultura                                    10
                                                                  10
O FIDELÍSSIMO
                              CLÁUDIO DE CÁPUA




             Aclamação de Amador Bueno como rei de São Paulo

         Aconteceu, embora pareça            invasões holandesas, comandada pelo
lenda. Segundo dois renomados histo-         Gen. Spilbergen, contra Santos.
riaadores, Frei Gaspar da Madre de                      Os paulistas andavam des-
Deus e Afonso de Taunay, a história do       contentes com a coroa portuguesa que
paulista que tendo sido aclamado, não        proibia o tráfego de índios.
quis ser rei foi real. Fato acontecido                  Os escravos africanos eram
com Amador Bueno da Ribeira. Após            negociados sob a tutela holandesa.
60 anos de convívio, Portugal separou-                  A companhia de Jesus dava
se da Espanha, com o fim da Anexa-           proteção aos indígenas. Em 1640, pau-
ção. Término da União Ibérica.               listas inflamados expulsaram os Jesui-
         Nessa época, o oitavo Duque         tas da Capitania de São Vicente.
de Bragança assume o trono portu-                       Amador Bueno tinha ocupado
guês.                                        o cargo de ouvidor e capitão-mor da
         Nos 60 anos de convivência ,        Vila de Piratininga, era senhor de terras
espanhóis e portugueses mesclavam-           e de índios. Após aclamado rei, Ama-
se em suas colônias, mundo afora. In-        dor Bueno recusou a honraria e retirou-
clusive, a presença espanhola na Pro-        se para o Mosteiro de São Bento, onde
víncia de São Paulo era numerosa.            jurou lealdade ao Rei de Portugal, Dom
         Contrariada com a dissolução        João IV e continuou na sua lida dedica-
da União Ibérica, a elite composta de        da à lavoura de trigo. Duzentos e cin-
fidalgos espanhóis, em Piratininga, re-      qüenta anos depois, Dom Pedro, nosso
belou-se, não aceitando ser vassala do       primeiro imperador, referindo-se ao
rei de Portugal. Foi então proclamado        fato, deu a Amador Bueno a alcunha de
na Paulicéia, um novo rei, filho do fidal-   “O Fidelíssimo”.
go espanhol Bartolomeu Bueno da Ri-
beira vindo para o Brasil, em 1571.
                                                 Cláudio de Cápua é aviador, jornalista e
         O escolhido era figura ímpar,
                                                 escritor. Pertence ao Instituto Histórico e
de Amador Bueno, homem influente e
                                                       Geográfico de Santos, à Academia
respeitado na época, pois, em 1614,
                                              Paulistana de História. É sócio-fundador da
saíra de Piratininga, comandando seu
                                              União Brasileira de Trovadores - Seção de
exército particular de índios e mamelu-
                                                          São Paulo. www.de-capua.com
cos, para aniquilar uma das primeiras


                                                                  11
BICICLETA BERÇO
               MARIA ZILDA DA CRUZ




          As pernas movimentam milhares de rodas, diaria-             Nem sempre é gente carregando gente. Aos domingos, um
mente, pelas ruas e avenidas santistas. Elas são os motorzi-          senhor sorridente, de aparência simples, leva seu grande cão
nhos das bicicletas transportando uma legião de trabalhado-           a passear... Sentado no selim, com as patas dianteiras sobre
res: homens, mulheres, jovens adultos e até idosos. Se                o guidão, um enorme cão pastor alemão vai à frente... fingin-
alguém quer uma lição de democracia, basta observar essa              do uma solene vigilância sobre a rua. Tal imponência quebra
gente em linha reta ou zinquezagueando por entre carros e             a sua propagada ferocidade. O dono, sentado no bagageiro
motos. Todos se respeitam com o rosto avermelhado pelo ca-            de trás, pedala com as pernas bem esticadas, equilibrando o
lor do esforço. Uns se cumprimentam num leve murmúrio; ou-            cachorro e o orgulho de o possuir. Um dá prazer ao outro sem
tros em alta voz. Ignorando o vozeiro, pessoas carrancudas            importunar e, muito menos, ameaçar os transeuntes.
usam o mutismo para se fecharem no próprio interior indefini-                   Entre tanta igualdade na forma de transportar-se, e
do. Outras parecem não ter acordado. Alguns são malabaris-            maior diversidade nos rostos lavados ou maquiados, uma bi-
tas e aproveitam para provar e demonstrar, com cenas arris-           cicleta parece ser especial. Chama a atenção pela maneira
cadas, gestos e contorções de equilíbrio duvidoso.                    como dois seres ocupam um transporte rotineiro em nossas
          No caminho, o verde se oferece para dar repouso ao          ruas.
olhar. O sol acaricia as carecas, banha os braços de todos.                     Dirigindo o veículo, com grande cautela e equilíbrio,
          Observando os pés dos ciclistas dá para ler, inferir        pedala uma jovem senhora. Desvia-se dos buracos, não faz
sobre os seus donos. Chinelas havaianas simples, umas já              manobras arriscadas; procura segurança entre tantos aventu-
surradas pelo gasto do uso, protegem a sola grossa de pés             reiros do pedal. À frente, num cestinho ela carrega seu bem
maltratados. Seus donos têm a vida tão dura como seus sola-           precioso: um menino com prováveis dois anos de vida. Ele
dos. Mulheres, jovens ou não, levam havaianas enfeitadas              viaja sereno, não sabendo o caminho por onde passa. Certo
com dourados, prateados e tantas criativas fantasias, confir-         da habilidade materna, deixa-se levar, dormindo sobre fofos e
mando cuidados e vaidades femininas.                                  grandes travesseiros. Nota-se que tudo foi colocado, cuidado-
          Uns poucos, homens e mulheres, pensando na pro-             samente, dando conforto ao dorminhoco com chupeta na
teção dos pés calçam tênis: coloridos, brancos, de baixo cus-         boca, e pequena mochila deitada em suas costas. No futuro
to ou bem caros. Esse artefato torna mais difícil a tarefa de         as fraldas e mamadeiras, de agora, serão livros e canetas.
dizer sobre os seus donos. Não é a riqueza do bolso que de-                     A escola maternal o espera. O trabalho aguarda
termina a sua compra. Há os pobres querendo ser ricos nos             aquela mulher zelosa, preocupada em aninhar o filho no cora-
pés; há os ricos querendo pobreza nos pés, com medo dos               ção e na bicicleta. A limpeza das fronhas alvas e o carinho se
ladrões!                                                              depositam no berço ambulante para proteger o sono de uma
          Observemos mais atentos a bicicleta e os ocupan-            criaturinha, muito bem defendida por essa mãe, anônima do
tes. Algumas são pedaladas com vigor, pilotadas por heróis            asfalto. O quadro de amor que embrulha as pedaladas da bi-
vencedores de grandes corridas, em sua imaginação esporti-            cicleta berço, que rola cedo, nas manhãs santistas, aquece de
va. Amigos e conhecidos vão aos pares, esquecendo o exer-             ternura o pequeno dorminhoco, e alimenta o respeito para
cício das pernas, para se aterem ao equilíbrio das palavras,          com as nossas crianças.
passando notícias alegres ou tristes, em altas ou baixas vo-                    Rola bicicleta berço, vence a rua, bem suave, de
zes. Existem os ciclistas, preocupados, pensando no traba-            mansinho você carrega dois anjos: o protetor e o protegido,
lho, na família em casa, nas contas a serem pagas. Uma infi-          dentro de uma bolha de carinho.
nidade de deveres ou de alegria escorregam das bicicletas e
nas ruas acompanham o rolar das rodas, tornando todos os
pensamentos redondos, sobre a vida a correr contínua no as-              Maria Zilda da Cruz é Mestra e Doutora em Psicologia pela
falto.                                                                   Universidade de São Paulo. Presidente da Academia Femi-
          Também existem os caronistas. Ganham com o es-                 nina de Ciências, Letras e Artes de Santos. Membro da Di-
forço do condutor e descansados chegam ao lugar desejado.                retoria da Academia Santista de Letras.
Formam a simbiose do hospedeiro e a fraternidade.

Março - Santos Arte e Cultura                                    12
OS INOCENTES DO EMBARÉ
                          JOSÉ CANDIDO F. JÚNIOR




         O que pode fazer um homem        num nirvana originado do torpor do sol,
cansado, andando pelo jardim da           no paraíso.
praia, além de se sentar num banco,                 De repente, passa um velhi-
embaixo de uma árvore e olhar a mo-       nho, tão frágil, entre a massa bronzea-
cidade?                                   da; a massa abre alas e o velhinho pas-
         Ah! A gigantesca energia vital   sa. Olho para o lado oposto da praia e
da mocidade sentada ali, a meu lado,      vejo a igreja do Embaré, uma verdadei-
a desfrutar o iodo e o ócio marinhos, a   ra obra de arte espremida entre prédios
esquadrinhar os biquínis, a trocar pa-    ordinários. O velhinho passa lentamen-
lavrões amigáveis uns com os outros!      te, a garotada conversa assuntos tri-
Estão em plena felicidade distraída,      viais e ninguém o vê.


               BASÍLICA DO EMBARÉ
                                LIANE UEChI

        As origens da Basílica do Embaré estão ligadas ao primeiro morador do
                                             bairro de mesmo nome, Antônio
                                             Ferreira da Silva Júnior, o Viscon-
                                             de de Embaré, que também foi o
                                             fundador da Associação Comer-
                                             cial de Santos, em 1870. O Vis-
                                             conde ergueu em sua chácara,
                                             em frente à praia, a Capela de
                                             Santo Antônio do Embaré. Foi
                                             entregue em 1922 aos frades
                                             franciscanos, que iniciaram a
                                             nova edificação, em 1930, dan-
                                             do-lhe a forma como a conhece-
                                             mos hoje. Foi inaugurada em
                                             1945, e em 1952, foi elevada à
                                             categoria de basílica, pelo Papa
                                             Pio XII.
                                                   Seu estilo arquitetônico é o
                                             neogótico, marcado pelos seus
                                             arcos ogivais, vitrais e rosáceas.
                                             As duas torres da fachada termi-
                                             nam com pináculos. No tímpano          rosa dividem-se em cada lado da nave
                                             sobre a entrada principal, uma         e do altar, emoldurando as quatro ca-
                                             composição clássica mostra San-        pelas menores, bem como as capelas-
                                             to Antônio recebendo o Menino          balcões e as capelas de confissão. Ne-
                                             Jesus das mãos da Virgem. Na           las, estão pinturas alusivas à remissão
                                             parte interna, os 18 metros de pé      dos pecados, como o perdão ao filho
                                             direito são cobertos por murais à      pródigo e a Maria Madalena.
                                             têmpera de Pedro Gentili, que                    Sem dúvida, um dos tesouros
                                             preenchem todos os espaços do          santista.
                                             templo. Os 44 pilares em granilito           Informações fonte: site Novo Milênio


                                                           13                                    Março - Santos Arte e Cultura
A PRESENÇA DE ROBERTINA COCKRANE SIMONSEN
       NUMA EXPERIÊNCIA DA EDUCAÇÃO FEMININA
                    (1902 - 1920)
                                      MARIA APPARECIDA FRANCO PEREIRA

           Nos inícios do século XX, Santos está pas-                               20 de dezembro de 1862 e era uma dos seis filhos do
sando por um período de urbanização, onde a                                            casal Ignácio da Gama Cochrane e Maria Luísa
modernização de seu Porto, por causa da eco-                                             Barbosa, filha de comissário de café santista, An-
nomia agro-exportadora do café, traz um nú-                                                tônio Vieira Barbosa. Dr. Ignácio Wallace de
mero grande de trabalhadores nacionais                                                      Gama Cochrane (1836-1912), natural de Va-
(livres e ex-escravos) e sobretudo, imigran-                                                 lença, RJ, de família ligada a projetos de fer-
tes (tornando-a uma cidade portuguesa),                                                       rovias, foi personalidade das mais atuantes,
atuando nos serviços ligados à comerciali-                                                    na vida administrativa política e social. Em
zação do café; nos transportes, nos arma-                                                     1860, está em Santos, como engenheiro fis-
zéns, nas docas e na ferrovia.                                                                cal da São Paulo Railway e ao contrair matri-
        Santos reúne uma elite formada pelo                                                   mônio e associando-se à firma de seu sogro,
alto comércio, negociantes locais (diversos                                                 aí permanece até 1878, quando se transfere
portugueses), a que se unem geralmente os                                                  para a capital paulista.
filhos de fazendeiros paulistas. Completando,                                            Robertina casou-se, aos 21 anos, com Sydney
estão os homens de profissões liberais - médicos                                       Martin Simonsen, inglês que se dedica aos negó-
e engenheiros, muitos vindos da capital federal nos                                 cios do café. Um dos seus filhos foi o eng. Roberto C.
anos próximos à virada do século XIX para o XX, atraídos                      Simonsen, o grande industrial paulista.
por uma cidade castigada por inúmeras epidemias (febre ama-                         A atividade de Robertina Simonsen na Associação
rela, varíola, peste bubônica, tuberculose etc.), mas com recur-         Feminina Santista é muito grande. Sócia fundadora (1902), é
sos econômicos advindos da economia cafeeira para a supera-              vice-presidente da AFS no biênio 1902-1903. A seguir, assume
ção de seus males.                                                       a função pedagógica mais importante da escola, com a saída
         Um aspecto importante dessa era da modernização é o             de Eunice Caldas, que é a de Diretora Geral da Instrução por
filão da educação, patrimônio cultural que deve ser estendido a          vários anos, sem ter diploma de normalista. Ao mesmo tempo,
todos os estratos da população, necessitados da regeneração              de 1903 a 1907, também ministra Trabalhos Manuais.
social. Em Santos, nesse início, as realizações educacionais se                      Depois, mantém a sua participação como Presidente
multiplicam, desde as iniciativas do poder do Estado (Grupos             da mantenedora ou no atuante Conselho da instituição, arregi-
Escolares Cesário Bastos: 1900; Barnabé: 1902) e do Municí-              mentando novos sócios, com seu marido.
pio (G.E. Olavo Bilac) e Academia do Comércio, 1907; das or-                        Uma das poucas vezes onde se encontram as suas
dens religiosas (Irmãs do Coração de Maria e Irmãos Maristas:            palavras: “É sinceramente penalisada que deixo este logar
1904) ou de instituições leigas (Escola Docas: 1907), de grupos          onde há perto de 9 annos me tenho esforçado em prol desta
filantrópicos (Auxiliadora da Instrução, 1878) ou de Maçonaria           tão útil e benemérita Associação, e a qual eu desejo de coração
(Loja Brás Cubas).                                                       a continuação de sua prosperidade” (Rel. AFS de 1911). Em
       É em 1902, que surge a primeira grande instituição voltada        1919, é chamada, novamente em situação de crise da Associa-
principalmente para a educação feminina. A professora Eunice             ção Feminina Santista, para ser a sua Presidente.
Caldas (1879-1967) consegue reunir um grupo de senhoras da                          Com pouco mais de 60 anos, em 1921,desliga-se de-
sociedade local e cria o Liceu Feminino Santista e as Escolas            finitivamente da direção (continuando como conselheira), mu-
maternais, com o fim de “proporcionar a educação gratuita da             dando-se para o Rio, onde falece com a idade de 80 anos
criança e da mulher, principalmente desta”. Na mantenedora, a            (1942). Durante esses anos todos batalhou para a manutenção
Associação Feminina Santista (AFS), militam mulheres da so-              da instituição e para o seu engrandecimento cultural .
ciedade, assessoradas pelos seus maridos, que são engenhei-
ros, médicos, bacharéis em Direito, comerciantes de café.
                                                                                   Maria Apparecida Franco Pereira é professora titular da
       Embora a grande inspiradora inicial fosse Eunice Caldas,
                                                                                  Universidade Católica de Santos. Possui graduação em
irmã de Vital Brasil, uma de suas dirigentes fundadora e conti-
                                                                              Pedagogia, em História e em Filosofia. É Mestre em História
nuadora foi Robertina Cochrane Simonsen .
                                                                               Econômica e Doutora em História Social, ambas pela USP.
           Robertina da Gama Cochrane nasceu em Santos, em


Março - Santos Arte e Cultura                                       14
O PIANO E O BASTIDOR
                                                                                              VALÉRIA PELOSI

                                                    Ah! Velhos companheiros! Porque os amo,
                                         escrevo.
                                                  Se suas teclas falassem (nossa, como estão
                                         velhas)! E dizer que as conheci desde o tempo em que
                                         reluziam, enfim, se suas teclas falassem o que conta-
                                         riam? Acho que diriam que o mesmo tempo que gastou
                                         suas teclas pode afinar a alma. Que uma alma bem
                                         afinada pode ver que o belo não está em um único lu-
                                         gar e pode ouvi-lo quando ele chama no farfalhar de
                                         folhas, numa canção de ninar, nas tentativas de peque-
                                         nos dedos queridos que buscam desvendar os misté-
                                         rios das velhas teclas.
                                                  O redondo mais perfeito, o encaixe mais total,
                                         o que você tem para contar? Você entende tudo de
                                         devaneio. Sabe segurar as mãos para soltar a alma.
                                         Com seu contorno construí minhas asas.
                                                                                        Valéria Pelosi é cronista, Mestra-Doutora em Psicologia, pela PUC São Paulo.
                                                  Obrigado amigos.




                                                       ZILDA ARNS NEUMANN
                                                                        LIANE UEChI
                                                  Março é o mês de homenagear a mulher. A Revista Santos Arte e
                                         Cultura o faz através de uma ilustre representante do sexo feminino, a mé-
                                         dica e sanitarista Zilda Arns Neumann e seu trabalho à frente da Pastoral da
                                         Criança.

                                                              Muitas mulheres deixaram seu nome na história da huma-
                                                                nidade, algumas por feitos inéditos, pelo pioneirismo e
                                                                 coragem. Donas de características como liderança,
Foto: Sonia Baiocchi/ Câmara Deputados




                                                                 obstinação e destemor, elas abriram caminhos a tantas
                                                                 conquistas obtidas ao longo das últimas décadas. Fa-
                                                                     mosas ou anônimas, todas foram importantes.
                                                                       Mas há algumas que merecem um olhar mais
                                                                      atento, por dedicarem seus conhecimentos, esfor-
                                                                     ços e trabalho em prol da dignidade humana. Aque-
                                                                     las que no seu labor diário, combatem mais do que
                                                                     preconceitos ou uma superação pessoal, enfren-
                                                                     tam sim, vilões cruéis: a pobreza, a ignorância e a
                                                                     injustiça. Uma dessas combatentes e que nos dei-
                                                                     xou há pouco, vítima do terremoto no Haiti, foi a
                                           médica e sanitarista Zilda Arns Neumann, coordenadora da Pastoral da
                                           Criança e três vezes indicada ao Prêmio Nobel da Paz pelo Brasil.
                                                    Os resultados do seu trabalho são o maior testemunho de seu valor
                                           como mulher. Sua estratégia foi apostar que a educação das mães, através
                                           de líderes comunitários capacitados, revelaria-se a melhor forma de comba-
                                           ter doenças facilmente preveníveis e a marginalidade das crianças. Acer-
                                           tou!
                                                    A Pastoral estima que cerca de 2 milhões de crianças e mais de 80
                                           mil gestantes já foram beneficiados pelo trabalho idealizado e, até então, co-
                                           mandado por ela. Seus mais de 260 mil voluntários levam fé e vida, em forma
                                           de solidariedade e conhecimentos sobre saúde, nutrição, educação e cidada-
                                           nia para as comunidades mais pobres do mundo. Uma mulher, uma brasileira,
                                           um exemplo!


                                                                                                        15                                     Março- Santos Arte e Cultura
T.P.M.
                                       NEIDE RAMOS




        O          que é T.P.M? (Tensão Pré-Menstrual). É uma síndrome com um conjun-
   to de sintomas físicos, emocionais e comportamentais que se manifestam de maneira
cíclica (período pré-mesntrual) que em geral desaparece por completo com o início do
 período menstrual.
          O quadro clínico da T.P.M. é bastante variado, sendo relacionados 150 sinto-
      mas.
          Os mais comuns são: Irritabilidade, Agressividade, Depressão, Fadiga, Labili-
           dade Emocional, Dificuldade de Concentração, Cefaléia (Enxaqueca), Mastal-
            gia (Dores nas Mamas), Acne, Distensão Abdomnal (Inclaço), Palpitação e
             Vertigem.
                    Por que a T.P.M. acontece?
                    As causas ainda são desconhecidas e ao mesmo tempo polêmicas;
              entre os fatores apontados estão o envolvimento de vários hormônios, como
              estrogênio, progesterona, prolactina e androgênios; a alteração dos níveis
              de neuro-transmissores (endorfinas, serotoninas e prostaglandinas). Nutri-
             cionais e deficiência de vitaminas e sais minerais.

    Tratamento
    É feito de acordo com a intensidade dos sintomas.
   Dieta: hipoproteica (pobre em carbohidratos). Evitar ingerir álcool, café e chás, por-
   que interfere na retenção hídrica.
   Exercícios Físicos: aeróbicos que atuam na eliminação das endorfinas: correr, nadar,
   e quaisquer outros exercícios aeróbicos fazem bem e aliviam a T.P.M.
    Diuréticos: melhoram os sintomas da paciente com retenção hidríca.
     Sedativos e anti-depressivos: no caso de mulheres com depressão devem ser to-
       mados com orientação médica. É interessante ressaltar que adolescentes não
         tem T.P.M., porque seus ciclos são anovulatórios; isto porque os Ciclos se tor-
           nam, anovulatórios dois anos depois da primeira menstruação.
                  Após a menopausa a mulher normalmente não tem mais T.P.M.



                              Existem empresas que não
                              permitem que mulheres que
                              ocupam cargos de respon-
                              sabilidade tomem qualquer
                              decisão nessa fase.



                                      Neide Ramos é médica, com título de especialista em
                                      Ginecologia e Obstetrícia pela Fundação Brasileira de
                                  Ginecologia e Obstetrícia. Especialista em ginecologia da
                                                                 infância e da adolescência



                         16
NOTAS CULTURAIS
    NOTAS CULTURAIS

                            TEATRO COLISEU GANhA PIANO STEINwAY
           Em comemoração aos 464 anos da Cidade de




                                                                                                                                          Foto: Vanessa Rodrigues/PMS
 Santos, o Teatro Coliseu ganhou de presente um Piano
 Steinway Concert Grande - Model D, que foi entregue
 em grande estilo, com a apresentação do renomado pia-
 nista Nelson Freire, ao lado da Orquestra Sinfônica Mu-
 nicipal de Santos, em 24 de janeiro.
           Velho e ansiado sonho de Aura Botto de Barros,
 presidente do Centro de Expansão Cultural e dos de-
 mais associados, o Steinway foi adquirido pela Prefeitu-
 ra, no final de 2009, pelo Programa de Incentivo Fiscal
 do Governo do Estado de São Paulo (ProAC), graças ao
 patrocínio das empresas TECONDI, CPFL e Comgás.



         A OUSADIA SACUDIU A MULTIDÃO....                                                        CAROLINA RAMOS PREMIADA
      CANTOU A CAMPEÃ DO CARNAVAL SANTISTA
         A escola Padre Paulo foi




                                                                                Foto: site PMS
a Campeã do Carnaval 2010, em
Santos. Na apuração, que acon-
teceu na quarta-feira de cinzas
(17 de fevereiro), a campeã fe-
chou a apuração na Passarela
Dráusio da Cruz, na Zona Noro-
este, com 179,25 pontos - distan-
                                                                                                 Carolina Ramos recebendo o prêmio das
te apenas 25 décimos (0,25) da                                                                   mãos da Presidente da Seção da UBT de
segunda colocada, a vice-cam-                                                                    Caxias do Sul, Alice Brandão.
peã Vila Nova.                                                                                             Carolina Ramos, poetisa e es-
         A classificação final foi:                                                              critora santista, recebeu das mãos da
GRUPO 1 (ESPECIAL)- 1º: 179,25 -           perial; 6º: 177,5 - Unidos dos Morros;                presidente dos II Jogos Florais de Cai-
Padre Paulo; 2º: 179 - Vila Nova; 3º:      7º: 174,75 - Bandeirantes do Saboó; 8º:               xas do Sul, intelectual Alice Velho Bran-
178,75 - Sangue Jovem; 4º: 178,25 -        173,75 - Brasil e 9º: 169,5 - Real Moci-              dão, troféu e diploma de Vencedora, na
Amazonense; 5º:178 - X-9 e União Im-       dade.                                                 categoria de crônica, cujo tema era
                                                                                                 “Nos trilhos da História”.
                                   O DOMADOR DO ESPAÇO                                                     O evento esteve integrado a
                     Aproveitando sua passagem pelo sul do país, Cláudio de                      um das mais belas festas do sul, a tra-
                     Cápua autografou informalmente, seu último livro “Santos Du-                dicional “Festa da Uva”, que aconteceu
                     mont - o Domador do Espaço”, no saguão do Hotel Pousada                     nos dias 27 e 28 de fevereiro. A entrega
                     Caxiense, em Caxias do Sul - RS                                             da premiação deu-se na Câmara Muni-
                                                                                                 cipal de Caxias do Sul.

                BONDE ITALIANO                                          100 ANOS DE VILA BELMIRO
               EM RESTAURAÇÃO
                                                                    A Vila Belmiro, bairro que abriga o Estádio Urbano Cal-
Mais um exemplar de bonde europeu começa a passar por               deira, do SFC, completou no último dia 14 de fevereiro,
um criterioso trabalho de restauração, nas garagens da              100 anos. Com cerca de 10 mil moradores, é um bairro
Companhia de Engenharia de Tráfego de Santos.                       residencial, onde convivem harmoniosamente casarios
Trata-se de um dos dois veículos italianos doados ao Mu-            antigos e edificações modernas. Mantém excelente in-
nicípio pela cidade italiana de Turim, o de prefixo 3265,           fra-estrtura com escolas, hospitais, bancos e comércio
construído pela FIAT italiana na década de 40.                      variado. Parabéns Vila Belmiro!
Fonte: Diario oficial de Santos.

                                                                                                               Março - Santos Arte e Cultura
                                                               17
Espaço do Livro
                 CLÁUDIO DE CÁPUA

                                                                  MIGUEL COSTA
                                                                     de YURI ABYAZA COSTA

                                                               “Miguel Costa: um herói brasileiro”, livro de autoria de Yuri
                                                     Abyaza Costa, neto do verdadeiro comandante da Coluna que nunca
                                                     foi Prestes, a não ser na cabeça de alguns radicais da esquerda bra-
                                                     sileira de nossa imprensa. Miguel Costa foi o grande estrategista da
                                                     revolução de 1924, a mais sangrenta luta entre irmãos travada em
                                                     solo brasileiro. As tropas, sob o comando do Gen. Isidoro Dias Lopes
                                                     e Miguel Costa, tomaram a Paulicéia, durante 23 dias, após intenso
                                                     bombardeio da artilharia governista, que matou entre 12 a 15 mil civis,
                                                     sendo que a população da cidade, não chegava a trezentos mil habi-
                                                     tantes. Miguel Costa, homem de bom senso, para evitar que a matan-
                                                     ça de inocentes continuasse, retirou as tropas revoltosas da capital e
                                                     marchou para o sul do país, onde foi em socorro da fracassada Colu-
                                                     na Gaúcha, comandada pelo inexperiente capitão engenheiro do
                                                     exército, Luiz Carlos Prestes. Com a fusão dos revoltosos paulistas e
                                                     o grupo rebelde gaúcho surgiu a 1ª Divisão Revolucionária. Miguel
                                                     Costa foi pelo menos durante quatro décadas, o mais destacado líder
                                                     político militar do Brasil.
                                                               O livro de autoria de Yuri Abyaza Costa é um livro sério e
                                                     esclarecedor.
                                                               Edição da Imprensa oficial do Estado de São Paulo. Preço
                                                     de R$ 50,00. Aquisição: http://livraria.imprensaoficial.com.br



         BRIGADEIRO-DO-AR                    BARThOLOMEU LOURENÇO                     DELÍRIOS DE UM SONhO
           NERO MOURA                             DE GUSMÃO                               DEOCLECIANO JOSÉ

        MANUEL CAMBESES JR.                       CLOTILDE PAUL


                          A história do                      A vida de um                                O poeta auto-
                          Brigadeiro                         gênio de seu                                didata mostra
                          Nero Moura,                        tempo, seus in-                             como as suas
                          ilustre persona-                  ventos e crono-                              experiências
                          lidade da vida                    logia, numa lin-                             de vida, como
                          nacional e da                     guagem capaz                                 menino     de
                          historiografia                    de despertar nos                             rua, podem
                          aeronáutica e                      jovens o interes-                           se transfor-
                          da aviação bra-                    se pela histó-                              mar em poe-
                          sileira.                           ria.                                        sia.




Março - Santos Arte e Cultura                          18
Janeiro Santos Arte e Cultura   19
Edição março 2010

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Edição março 2010

  • 1. ANO IV VOL.20 BIMESTRAL - MARÇO DE 2010 DISTRIBUIÇÃO GRATUITA • A SEMENTE • MINARETES SUIÇOS • O FIDELÍSSIMO BASÍLICA DO EMBARÉ
  • 2.
  • 3. Sumário EDITORIAL Edição 20 - Ano 4 - Março 2010 4 TROVAS 5 PALPITES, ÀS VEZES, DÃO CERTO Olá, leitores: Carolina Ramos Nesta edição, não po- 6 MAITÊ PROENÇA NÃO SOUBE EMPREGAR A deríamos deixar de MESÓCLISE prestar homenagem Fernando Jorge à mulher, no seu dia internacional. É o 7 A SEMENTE que fazemos, por in- Sonia Regina Rocha Rodrigues termédio da pena de 8 FUNDAÇÃO DE SÃO PAULO uma mulher especial, Nelly Martins Ferreira Candeias Liane Uechi, esposa e mãe dedicada, além 9 MINARETES SUIÇOS de competente pro- Ives Gandra da Silva Martins fissional, que traça o 10 COMO É DIFÍCIL APRENDER INGLÊS perfil dessa mulher Wilma Therezinha Fernandes de Andrade ímpar que foi Zilda Arns. 11 O FIDELÍSSIMO A capa é foto de uma Cláudio de Cápua das construções ar- 12 BICICLETA BERÇO quitetônicas sacras Maria Zilda da Cruz mais deslumbrantes de Santos, a Basílica 13 OS INOCENTES DO EMBARÉ de Santo Antonio do José Candido F. Júnior Embaré. 13 BASÍLICA DO EMBARÉ Nossos colaboradores, Liane Uechi como não poderia dei- xar de ser, mantém 14 A PRESENÇA DE ROBERTINA COCKRANE SIMONSEN NUMA EXPERIÊNCIA DA seus textos no ápice EDUCAÇÃO FEMININA (1902 - 1920) do bom gosto e da in- Maria Apparecida Franco Pereira formação cultural. 15 O PIANO E O BASTIDOR Valéria Pelosi Boa leitura 15 ZILDA ARNS NEUMANN 16 T.P.M. O Editor. Neide Ramos 17 NOTAS CULTURAIS 18 ESPAÇO DO LIVRO Expediente LEI ROUANET Editor - Cláudio de Cápua. MTB 80 A Revista Santos Arte e Cultura é Jornalista Responsável - Liane Uechi. MTB 18.190. aprovada pelo Ministério da Cultu- Editoração Gráfica - Liane Uechi ra e beneficiada pela Lei Rouanet Designer Gráfico - Mariana Ramos Gadig Capa: Liane Uechi de Incentivo à Cultura. Os patroci- End.: Rua Euclides da Cunha, 11 sala 211. Santos/SP. nadores poderão abater 100% do E-mail: revistaartecultura@yahoo.com.br valor doado no imposto de renda. Participaram desta edição: Carolina Ramos; Cláudio de O benefício é válido para pessoas Cápua; Fernando Jorge; Ives Gandra da Silva Martins, jurídicas tributadas com base no José Candido F. Junior, Liane Uechi; Maria Apparecida lucro real, sendo o valor limitado a Franco Pereira; Maria Zilda da Cruz; Neide Ramos; 4% do imposto de renda devido. Nelly Martins Ferreira Candeias; Sonia Regina Rocha Pessoas físicas que fazem a decla- Rodrigues; Valéria Pelosi e Wilma Therezinha Fernan- ração completa do IR também po- des de Andrade. Os autores têm responsabilidade dem abater suas doações. O limite integral pelo conteúdo dos artigos aqui publicados. neste caso, é de 6% do Imposto de Distribuição Gratuita. 5000 exemplares. Renda. 3
  • 4. TROVAS TROVAS O átomo a força desata! Tens tanto fascínio, tanto, Cresce a ambição! E a sofrer, que as flores puras e belas a humanidade, insensata, se curvam cheias de encanto se algema ao próprio poder! quando tu passas por elas! Carolina Ramos P. de Petrus Que bela seria a vida Tantas ternuras guardadas se acima de ódios mortais, eu tenho para te dar, uma ponte fosse erguida que minhas mãos descuidadas, unindo margens rivais! já traçam carícias no ar... Dorothy Jasson Moretti Héron Patrício Teu beijo pela internet, Ao sulcos que, bem juntinhos, vem sempre com tal calor, na face mostram a idade, que qualquer dia derrete das lágrimas são caminhos meu pobre computador! abertos pela saudade! Antonio Augusto de Assis Angélica Villela Santos Bendigo a lágrima doce da chuva que cai lá fora. Bom seria se assim fosse o pranto que a gente chora... José Valdez de Castro Moura Gosta de Trovas? A “União Brasileira de Trovadores”, seção de Santos, reúne-se, na última terça-feira de cada mês, no IHGS, av. Conselheiro Nébias, 689, às 20h30. Compareça! Março - Santos Arte e Cultura 4
  • 5. PALPITES, ÀS VEZES, DÃO CERTO CAROLINA RAMOS Na verdade, palpites não custam nada e às vezes dão sas pinturas que enriqueciam o interior do prédio. A Cultura e certo... ou não. Este, certamente deu. À volta de uma viagem a Educação saberiam como usar o novo espaço, transforman- a Ribeirão Preto, em meio do século passado, tendo oportuni- do-o em Escola de Arte, de modo a proporcionar aos jovens, dade de conhecer o Museu do Café, apresentado com orgu- que se dedicam ao teatro, feliz oportunidade de ver crescer o lho aos visitantes daquela cidade, indaguei-me, por que San- rol dos santistas que, lá fora, enfrentam com sucesso os pal- tos, porto plenamente integrado à vigorosa era cafeeira não cos e cenários de TV. E não foi o que foi feito?! Aliás, foi feito tinha ainda um Museu igual àquele?! A nossa Bolsa de Café, muito mais! Restaurado e remoçado, o nosso Guarany reas- desativada, oferecia, de bandeja, sede ideal para tal instala- sumiu suas funções artísticas, transformado, não apenas num ção! José Carlos Jr, corretor de café, com seu violão, animava teatro de arena ou em escola de teatro a céu aberto, mas ul- nossas festas de poesia, e foi, por algumas vezes, alvo desse trapassando, em muito, este modesto sonho! Ao vê-lo lotado, questionamento. Concordava comigo. O tempo passou e o numa noite de gala, em que a nossa Marlene Akel, empolgou palpite desta inconformada santista, tivesse, ou não, chegado ouvidos e corações, interpretando, com virtuosismo, páginas aos ouvidos de alguém com poder decisivo, acabou aconte- de Chopin, meu orgulho santista, agradeceu e cumprimentou cendo, indo além do pretendido! Aí está o nosso Museu do a Prefeitura de Santos e todos aqueles que levaram a cabo Café situado no mesmo nobilíssimo local e em pleno desem- tão importante projeto! E, no íntimo, somei mais um palpite penho de suas funções! Claro, que aquele palpite, com tantos que dera certo. anos de antecedência, nada teve a ver com esta realidade! Contudo, houve um palpite que não pegou, embora, Mas, deu certo, ninguém negará! bem intencionado, como os demais. Quando a destinação do Outro palpite feliz foi aquele a envolver o Guarany. casarão branco, meu vizinho na Av. Bartolomeu de Gusmão, Há alguns anos, usando o espaço reservado ao lei- virou debate público, não me omiti. Sugeri fossem lá instala- tor, cumprimentei “A Tribuna” pelo oportuno artigo “Ruínas do das entidades culturais carentes de sede, como as duas Aca- Guarany”. O autor? Por certo, alguém, também preocupado demias de Letras, a Associação dos Artistas Plásticos do Lito- com o estado precário do imóvel e, com o destino que viesse ral Paulista, e, naturalmente, a Seção de Santos da UBT a ter aquele arruinado palco de tantas glórias anteriores! San- (União Brasileira.de Trovadores), hoje Internacional, que te- tista, muito me entristecia a condição, dita irreversível, desse nho a honra de presidir. A proposta até que não era má: uma patrimônio cultural à mercê de palpites, nem sempre bem in- sala para cada entidade, um salão, comum, para exposições tencionados. Muitas eram as sugestões. Falava-se em demo- e lançamentos, e, ainda, para que não virasse um saco de lição, em transformar o local em estacionamento, num restau- gatos, tudo a ser monitorado, oficialmente, pela Secretaria rante, etc. Lembram-se? Eu mesma cheguei a ser convencida Municipal de Cultura. Intenção aplaudida por muitos, embora de que, “absolutamente não havia possibilidade de recupera- prevalecesse a idéia, primorosa, da criação da Pinacoteca ção do prédio” e “o jeito, para livrar a cidade daquele pardiei- Benedicto Calixto, concretizada como Fundação, e que, bas- ro, era pô-lo abaixo”! Cruzes! tante ativa culturalmente, vai de vento em popa! E, ao final de Enorme, pois, a satisfação, quando, alguns anos cada ano, ao vê-la deslumbrante, com seus corais e decora- mais tarde, ao ler o referido artigo, pude sentir ainda vivo o ções natalinas, reconheço, com toda a sinceridade, que, se interesse público e somado ao das autoridades. Na esperan- daquela vez meu palpite não dera certo, dera muito certo, sim, ça de que algo pudesse ser feito em prol do arruinado Gua- tudo o quanto lá foi feito e, melhor ainda, o que o futuro há de rany, atrevi-me a sugerir o que me parecia viável para a sua mostrar! recuperação e reaproveitamento das antigas funções. Minha Carolina Ramos, poetisa e escritora, é Secretária Ge- sugestão, acolhida pelo jornal A Tribuna, era de que, após ral do Instituto Histórico e Geográfico de Santos (IHGS) retorno do imóvel ao poder público e extirpado o matagal in- e Presidente da União Brasileira de Trovadores UBT- terno, fossem restauradas, pelo menos, a fachada e as pare- Santos. Pertence à Academia Santista de Letras e des passíveis de restauração. Isto feito, o que fazer do espa- à Academia Feminina de Ciências, Letras e ço recuperado? - Arrisquei: - Que tal transformar o Artes de Santos (AFCLAS). Guarany num pólo cultural? Num Teatro de Arena, a exigir instalações mais simples, menos dispendio- sas, já que impossível, recuperar as valio- 5 Março - Santos Arte e Cultura
  • 6. MAITÊ PROENÇA NÃO SOUBE EMPREGAR A MESÓCLISE FERNANDO JORGE Georgina Magalhães Soares, estudante de jornalis- Desconfio que um presidente sul-americano é viciado mo, quer saber se está correta a seguinte frase: em cacoepia... “O doutor Fonseca, estabelecido à rua das Magnó- Francisco Calderón Verbena, de Porto Alegre, per- lias”... gunta se está correta a seguinte frase de Maitê Proença, publi- Cara Georgina, há aí um erro de regência, pois os cada na edição do dia 18 de dezembro de 2008 do jornal “O verbos que indicam fixidez, estabilidade, como morar e ficar, Globo”: possuem complemento com a preposição em. Portanto, eis o “Se os rapazes empreendessem a caça, faria-lhes certo! bem ao instinto” “...estabelecido na rua das Magnólias”... Caro Francisco, a atriz Maitê Proença, embora seja também escritora, não soube empregar a mesóclise, que é o Antonio Carlos Frankenthaler, estudante de Direito, processo sintático da colocação do pronome pessoal oblíquo pergunta numa carta se não é errado dizer isto: átono no meio do verbo. Um exemplo de mesóclise: “Hoje é 19 de março de 2009, quinta-feira”. “Dar-lhe-iam o troféu”. Veja, Antonio, nesta frase o verbo ser deve concordar Vamos corrigir a frase da Maitê Proença: com o número que é indicado. Imagine que a frase fosse as- “Se os rapazes empreendessem a caça, far-lhes-ia sim: bem ao instinto”. “ Hoje são 1º de novembro de 2009, domingo”. Três ótimos exemplos de mesóclise pronominal, no Ela estaria completamente errada, pois o verbo ser texto de um escritor clássico: está se referindo apenas a um número. Na primeira frase o “...(os hereges) tomarão os cálices e os vasos sagra- verbo se refere a número superior a um e de acordo com a ló- dos, e aplicá-los-ão às suas nefandas embriaguezes; derruba- gica, em vez de ir para o singular, vai para o plural: rão dos altares os bustos e estátuas dos santos; deformá-los- “Hoje são 19 de março de 2009, quinta-feira”. ão a cutiladas, metê-los-ão no fogo” Luiz Alberto Gomes Natário, economista, pretende (Padre Antonio Vieira, “Sermão pelo ampliar os seus conhecimentos de português e por este motivo sucesso das armas portuguesas”). me fez várias perguntas. Ele deseja saber, por exemplo, o que A eloquência arrebatadora do je- é assibilação. suíta Vieira era incomparável. Não foi à- Prezado Luiz, o dicionário do Aurélio, em um volume, toa que ele recebeu a alcunha de “O e o do Caldas Aulete, em cinco, não encerram um verbete para Crisóstomo Português”. No idioma gre- explicar o significado de tal substantivo feminino. Entretanto, o go a palavra crisóstomo significa “boca “Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa” o exibe, mas o seu de ouro” e isto nos traz à memória o verbete é lacunoso, não satisfaz. Revelo, assibilação é nos tex- nome de outro grande orador, São José tos a repetição de ss e zz: Crisóstomo, um dos maiores bispos do sé- “Os seus sapatos sujos, quase sem solas, são sete”. culo IV, diamante sem jaça, fulguroso, Padre António Vieira, por Ar- A Zezé, bem zonza, zombava da Zulu”. os oradores sacros do Oriente. nold van Westerhout (1651- 1725 O mesmo leitor se assustou com a palavra cacoepia (pronúncia cacoépia). Ele pergunta: que bicho é este? Cacoe- pia é a pronúncia contrária às regras da linguagem culta, ou Fernando Jorge é jornalista, membro do Conselho de Ética do melhor vernácula. Por exemplo, dizer flô, em vez de flor; homi, Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Estado de São Paulo, em vez de homem; mulhé, em vez de mulher; estrupo, em vez o petropolitano Fernando Jorge é autor do livro “A Academia do de estupro; mantega, em vez de manteiga; previlégio, em vez Fardão e da Confusão”, lançado pela Geração Editorial, onde de privilégio; bandeija, em vez de bandeja; professô, em vez de mostra numerosos erros de português cometidos pelos membros professor; abissuluto, em vez de absoluto; mendingo, em vez da Academia Brasileira de Letras. de mendigo; pissiculugia, em vez de psicologia. Março - Santos Arte e Cultura 6
  • 7. A SEMENTE SONIA REGINA ROCHA RODRIGUES Cada ladrão que a assaltava um “Nem Só de Caviar Vive o Homem” ganhava um livro. E como ela acredita- e explicou: va que os assaltos fazem parte do coti- - No meio de aventuras incrí- diano de um paulista típico, expunha- veis, tem aí umas receitas deliciosas. se em horários e ruelas tais, que Em outra noite, tendo ouvido tornara-se uma vítima compulsiva. o clique revelador e levantado as mãos Leitora voraz, disseminadora como de praxe, escutou: de cultura, carregava sempre consigo - Ah, é a doida dos livros! dezenas de títulos que emprestava, - Doido é quem vive no cri- presenteava ou trocava com amigos, me. alunos e parentes. Para seu espanto, o rapaz Da primeira vez em que um abaixou a arma. pivete comentou: ‘Não tem mais nada - Sabe, dona, o pessoal daqui de valor aí’, ela estremecera. Perce- ‘tamo’ juntando seus livros e trocando bendo em que noite de trevas estava aí umas ideias... mergulhada aquela alma, ofereceu, ou Madrugada adentro, aquelas antes, exigiu: duas almas conversaram longamente - Leve um livro. sobre estórias reais e imaginárias. E ofereceu O Ladrão de Bag- Ela contaminou o rapaz com dá, em atraente capa colorida. sua fome incurável, temperada com pó A partir deste dia, junto com de pirlimpimpim; confrontou-o com os trocados reservados para os habitu- monstros, dragões e bruxas; virou-o ais assaltos, escolhia cuidadosamente pelo avesso e transmutou suas angús- os livros com que brindaria os assal- tias em curiosidade e desejo. tantes. Havia estórias adequadas para Nossa heroína não foi mais órfãos abandonados e livros mais assaltada naquele perigoso bairro. apropriados para desempregados pais E convido o leitor a imaginar o de família. que seria este país se cada um de nós Certa noite uma pergunta sur- se pusesse a ‘semear livros, livros à preendeu-a: mão cheia...’ - Tem aí um livro de culiná- ria? Não tinha, pois ela era mulher Sonia Regina Rocha Rodrigues é médica, que se alimentava de sonhos, porém, com pós-graduação em PNL - programa- de um canto do porta-malas, retirou ção neurolinguística. 7
  • 8. FUNDAÇÃO DE SÃO PAULO NELLY MARTINS FERREIRA CANDEIAS O encontro de carta dirigida ao náufragos portugueses capitão - mor Jerô- com índias da terra deu nimo Leitão,“ Do- origem à mestiçagem, mingos Luís está signo sob o qual se for- acabando a igreja. mou a nação brasileira. Já lhe dissemos mis- Traço característico do sa com muita festa”. quinhentismo – foi a Referia-se claramen- melhor solução encon- te àquela ermida, a trada pela colonização primeira capela con- portuguesa para firmar- sagrada a Nossa se no mundo novo. Fo- Senhora em Pirati- ram os mamelucos – fi- ninga. Isso aconte- lhos de europeus com ceu apenas 25 anos cunhatãs, jovens índias, após a fundação ofi- que deram origem ao cial da Igreja e do Fundação de São Paulo, 1913. Óleo sobre tela, 179 x 279,5 cm povo brasileiro. A mestiçagem (Acervo da Pinacoteca Municipal de São Paulo). Colégio dos padres da Com- foi um dos principais fatores panhia de Jesus. que determinaram o povoamento da nação brasileira. Em 1603, a capela foi transferida para o atual bairro O padre José de Anchieta representa a ação apos- da Luz, onde foi construído um convento que hoje abriga o tólica elevada ao mais alto expoente da dedicação e do amor Museu de Arte Sacra de São Paulo. Lá se encontra a mais à raça aborígene nas terras de Santa Cruz. Autor da primeira antiga imagem de Nossa Senhora da Luz, entre outras relí- gramática em língua tupi e animado pela fé, colocou a inte- quias. ligência e a vontade na integração de um Brasil sem precon- Termino esta saudação à amada cidade de São ceitos de raça. Esta nação é o peabiru do padre José de Paulo, feita até de forma pouco convencional, em Inhapuam- Anchieta. buçu, no mesmo local onde no século XVI ouvia-se a voz de Na sede do Instituto Histórico e Geográfico de São Anchieta a recitar com os curumins e as cunhatãs seu cân- Paulo encontra-se belíssimo quadro, fixando um momento tico sagrado. Vou citar: exponencial de sua vida, o de escrever na areia da praia de Iperoig, versos do poema “De Beata Virgine Dei Matre Ma- “Ó Virgem Maria” ria”, homenagem à Virgem Maria. Tupã sy êté, Mas qual das designações da Virgem Maria, Padre Abapé ara póra Anchieta invocava ? Oicó ende jabê?’ No museu do Pateo do Collegio encontra-se ima- Xe retama moopira gem em bronze de Anchieta e réplica da imagem de Nossa Senhora da Candelária, padroeira das Ilhas Canárias, onde Traduzindo : ele nasceu. Ó Virgem Maria, Grande Mãe de Deus Pequeno estudo a respeito das designações da Vir- Que outra criatura há igual a ti. gem Maria (assim era invocada no período quinhentista), Minha terra venturosa”. permite supor que ele tivesse dedicado seus versos à Nossa Senhora da Candelária, também denominada Nossa Senho- Que a fé, a justiça, a tolerância e a solidariedade ra das Candeias e Nossa Senhora da Luz. estejam sempre nos corações dos brasileiros paulistas. De acordo com a documentação do Arquivo da Cú- Amém! ria Metropolitana, a primitiva capela de Nossa Senhora das Candelárias ou das Candeias foi construída, em 1579, por Domingos Luís, português, casado com Ana Camacho, ma- Nelly Martins Ferreira Candeias é professora titular da Uni- meluca, bisneta de João Ramalho e da índia Bartira – fato versidade de São Paulo (aposentada) e presidente do Ins- registrado no traslado da doação, datado de janeiro de tituto Histórico e Geográfico de São Paulo. 1579. Nesse mesmo ano, José de Anchieta escreve em Março - Santos Arte e Cultura 8
  • 9. MINARETES SUIÇOS IVES GANDRA DA SILVA MARTINS A Suíça sempre se caracterizou por ser um país casas de prostituição, os motéis para encontros suspeitos, com cidadãos serenos, respeitadores dos demais, preocu- as boates noturnas e os espetáculos pouco dignificantes, pados em não se envolver com seus vizinhos, tendo, inclusi- que também existem na Suíça, como em todos os países, ve, conseguido permanecer neutra em duas guerras mun- não sejam fechados, por uma questão de igualdade? diais, apesar de estar no centro dos conflitos. Por que o culto ao Criador, conforme cada religião, Estranhamente, a onda de um falso laicismo, que não é respeitado como se respeita o culto aos denominados começa a dominar o mundo, pela qual, devido ao extremis- centros turísticos de diversões laicas, em que a droga e o mo, só quem não acredita em Deus pode falar em um Esta- meretrício de luxo têm curso fácil e quase sem controle ofi- do Laico, tem levado a geração de ódios e preconceitos que cial? terminaram por atingir o âmago de povos civilizados, como o Àqueles que não conseguem viver como deveriam suíço, o francês e até mesmo a comunidade euro- pensar e passam a pensar como vivem, à evidência, inco- péia. modam os valores que as religiões transmitem e que não Na França, proibiu-se o uso das “burcas” e conseguem viver, em sua maioria, razão pela qual os bons “xadors” nas escolas, mas não a pouca roupa costumes devem ser afastados – embora vividos pela maio- das meninas francesas, que se exibem em re- ria das pessoas- em detrimento de um Estado Laico, sem vistas de todas as espécies, algumas delas não valores, quase sempre libertino, onde a frustração, os divãs recomendáveis, pois em um Estado Laico, quem dos psiquiatras, a droga, o adultério, os casamentos desfigu- é islamita não pode seguir os seus costumes rados e os filhos desorientados povoam como símbolo da publicamente. Na Itália, uma única mulher ob- modernidade. tém da “Corte de Direitos Humanos” da União Indiscutivelmente, o preconceito suíço não faz bem Européia – tenho dúvidas se os juízes deste Tri- à sua história, definitivamente manchada pelo plebiscito, que bunal não italiano conheçam as tradições e cos- pode estar beirando às raias de um racismo contra o povo tumes do povo italiano- o direito de eliminar de árabe, revivendo o que de pior o nazismo exibiu, na busca todas as escolas públicas o crucifixo. Felizmen- de uma raça pura. Estou convencido que este tipo de “pre- te, a Ministra da Educação italiana já disse conceito aristocrático” suíço e de outros países europeus que não respeitará a desarrazoada deci- está na essência da reação dos povos menos desenvolvi- são. Agora, na Suíça, proíbe-se que os dos, que, muitas vezes, até no terrorismo buscam a sua vin- templos islâmicos ostentem seus minare- gança. Como entendo que devemos buscar a paz e a convi- tes! vência entre os povos, não posso aprovar a discriminação É bem verdade, que no Estado Laico Euro- odiosa dos suíços. peu, que está conformando os “sem Deus” ou aqueles agnósticos que se julgam “deuses”, Dr. Ives Gandra da Silva Martins é professor emérito das Universidades Mackenzie, UNIFMU, UNIFIEO, UNIP, da se comemora o aniversário de Cristo, com fe- Escola de Comando e Estado-Maior do Exército - ECEME; riados e presentes, sem que haja um movi- Presidente do Centro de Extensão Universitária. mento para abolir o Natal, data maior da Cris- tandade. Pergunto eu, por que não respeitar os mi- naretes islâmicos como se respeitam os sinos católicos e as Igrejas Cristãs na Suíça? Por que o preconceito? Por que admitir que as Março - Santos Arte e Cultura 9
  • 10. COMO É DIFÍCIL APRENDER INGLÊS wILMA ThEREZINhA FERNANDES DE ANDRADE Era, anos atrás, a escola mais cara da cidade. A De uma feita, estávamos todos sentados frente à classe tinha 15 alunos: treze adolescentes e dois adultos, frente e ela ordenou: entre eles eu. A sala era adequada e o livro excelente. Havia - Digam uma palavra em inglês. uma biblioteca com livros em inglês separados pelos níveis Ninguém se manifestou. Mudos, constrangidos, pa- de aprendizados, um laboratório com gravações de aulas, recíamos aqueles soldados norte-americanos da Segunda diálogos e exercícios interativos. Uma vez por semana ocor- Guerra Mundial, prisioneiros dos japoneses, obrigados a ria uma reunião para se falar em inglês. Entretanto, o princi- cantar em japonês. pal da aprendizagem ficava por conta da professora em sala - Vamos, falem! Ninguém aprende uma língua, se de aula. Ela implicava com a classe, por sinal bem compor- não falar! tada, de adolescentes ajustados. Até que um adolescente mais otimista ou corajoso - Vocês nunca aprenderão inglês, nem no 4º ano! disse: Deviam ver a classe que eu tenho em São Paulo. São umas - Píter. Pra quê! gracinhas, já estão falando inglês. - Só vocês brasileiros é que falam Píter. No mundo Claro que isto não ajudava em nada para melhorar inteiro se fala “Péchau” “Pétchau”! o astral da classe. Apesar do equipamento e facilidades, nossa classe A sua vítima favorita era um rapaz de 15 anos, ma- era o exemplo de como um bom sistema de ensino pode ser gro, alto, chamado Mário, que sempre chegava atrasado. inutilizado por um mau professor. - Isto são horas de chegar? Na sua casa não tem Após o término do semestre, encontrei-me com a relógio? professora na Avenida. Ela veio falando em inglês e eu res- - Tem sim, até mais de um. É que eu durmo depois pondi em português. do almoço. - Vamos, fale em inglês. Você sabe inglês. - Isto é um absurdo! Eu vou falar com a sua mãe! Mas, eu disse: - Pode falar. Ela está em casa agora. A idéia foi - Não sei não. Não sei falar inglês. dela. Diz que eu estou magro e em fase de crescimento. A E despedimo-nos. Foi o troco por aquela experiên- senhora quer o telefone? cia pedagógica mal-fadada. - Não preciso, posso conseguí-lo na secretaria. Como é difícil aprender inglês! Mario falava sem provocação, normal como se al- Era, anos atrás, a escola mais cara da cidade. guém lhe tivesse perguntado as horas. Ele devia ser de uma Wilma Therezinha Fernandes de Andrade é mestra e família bem estruturada, era filho de um delegado. Nunca se doutora em História Social, pela USP; professora da constrangia. Universidade Católica de Santos; membro da Academia Era até engraçado. A professora nervosa, o aluno Feminina de Ciências, Letras e Artes de Santos - tranqüilo. AFCLAS e da Academia Santista de Letras - ASL. Março - Santos Arte e Cultura 10 10
  • 11. O FIDELÍSSIMO CLÁUDIO DE CÁPUA Aclamação de Amador Bueno como rei de São Paulo Aconteceu, embora pareça invasões holandesas, comandada pelo lenda. Segundo dois renomados histo- Gen. Spilbergen, contra Santos. riaadores, Frei Gaspar da Madre de Os paulistas andavam des- Deus e Afonso de Taunay, a história do contentes com a coroa portuguesa que paulista que tendo sido aclamado, não proibia o tráfego de índios. quis ser rei foi real. Fato acontecido Os escravos africanos eram com Amador Bueno da Ribeira. Após negociados sob a tutela holandesa. 60 anos de convívio, Portugal separou- A companhia de Jesus dava se da Espanha, com o fim da Anexa- proteção aos indígenas. Em 1640, pau- ção. Término da União Ibérica. listas inflamados expulsaram os Jesui- Nessa época, o oitavo Duque tas da Capitania de São Vicente. de Bragança assume o trono portu- Amador Bueno tinha ocupado guês. o cargo de ouvidor e capitão-mor da Nos 60 anos de convivência , Vila de Piratininga, era senhor de terras espanhóis e portugueses mesclavam- e de índios. Após aclamado rei, Ama- se em suas colônias, mundo afora. In- dor Bueno recusou a honraria e retirou- clusive, a presença espanhola na Pro- se para o Mosteiro de São Bento, onde víncia de São Paulo era numerosa. jurou lealdade ao Rei de Portugal, Dom Contrariada com a dissolução João IV e continuou na sua lida dedica- da União Ibérica, a elite composta de da à lavoura de trigo. Duzentos e cin- fidalgos espanhóis, em Piratininga, re- qüenta anos depois, Dom Pedro, nosso belou-se, não aceitando ser vassala do primeiro imperador, referindo-se ao rei de Portugal. Foi então proclamado fato, deu a Amador Bueno a alcunha de na Paulicéia, um novo rei, filho do fidal- “O Fidelíssimo”. go espanhol Bartolomeu Bueno da Ri- beira vindo para o Brasil, em 1571. Cláudio de Cápua é aviador, jornalista e O escolhido era figura ímpar, escritor. Pertence ao Instituto Histórico e de Amador Bueno, homem influente e Geográfico de Santos, à Academia respeitado na época, pois, em 1614, Paulistana de História. É sócio-fundador da saíra de Piratininga, comandando seu União Brasileira de Trovadores - Seção de exército particular de índios e mamelu- São Paulo. www.de-capua.com cos, para aniquilar uma das primeiras 11
  • 12. BICICLETA BERÇO MARIA ZILDA DA CRUZ As pernas movimentam milhares de rodas, diaria- Nem sempre é gente carregando gente. Aos domingos, um mente, pelas ruas e avenidas santistas. Elas são os motorzi- senhor sorridente, de aparência simples, leva seu grande cão nhos das bicicletas transportando uma legião de trabalhado- a passear... Sentado no selim, com as patas dianteiras sobre res: homens, mulheres, jovens adultos e até idosos. Se o guidão, um enorme cão pastor alemão vai à frente... fingin- alguém quer uma lição de democracia, basta observar essa do uma solene vigilância sobre a rua. Tal imponência quebra gente em linha reta ou zinquezagueando por entre carros e a sua propagada ferocidade. O dono, sentado no bagageiro motos. Todos se respeitam com o rosto avermelhado pelo ca- de trás, pedala com as pernas bem esticadas, equilibrando o lor do esforço. Uns se cumprimentam num leve murmúrio; ou- cachorro e o orgulho de o possuir. Um dá prazer ao outro sem tros em alta voz. Ignorando o vozeiro, pessoas carrancudas importunar e, muito menos, ameaçar os transeuntes. usam o mutismo para se fecharem no próprio interior indefini- Entre tanta igualdade na forma de transportar-se, e do. Outras parecem não ter acordado. Alguns são malabaris- maior diversidade nos rostos lavados ou maquiados, uma bi- tas e aproveitam para provar e demonstrar, com cenas arris- cicleta parece ser especial. Chama a atenção pela maneira cadas, gestos e contorções de equilíbrio duvidoso. como dois seres ocupam um transporte rotineiro em nossas No caminho, o verde se oferece para dar repouso ao ruas. olhar. O sol acaricia as carecas, banha os braços de todos. Dirigindo o veículo, com grande cautela e equilíbrio, Observando os pés dos ciclistas dá para ler, inferir pedala uma jovem senhora. Desvia-se dos buracos, não faz sobre os seus donos. Chinelas havaianas simples, umas já manobras arriscadas; procura segurança entre tantos aventu- surradas pelo gasto do uso, protegem a sola grossa de pés reiros do pedal. À frente, num cestinho ela carrega seu bem maltratados. Seus donos têm a vida tão dura como seus sola- precioso: um menino com prováveis dois anos de vida. Ele dos. Mulheres, jovens ou não, levam havaianas enfeitadas viaja sereno, não sabendo o caminho por onde passa. Certo com dourados, prateados e tantas criativas fantasias, confir- da habilidade materna, deixa-se levar, dormindo sobre fofos e mando cuidados e vaidades femininas. grandes travesseiros. Nota-se que tudo foi colocado, cuidado- Uns poucos, homens e mulheres, pensando na pro- samente, dando conforto ao dorminhoco com chupeta na teção dos pés calçam tênis: coloridos, brancos, de baixo cus- boca, e pequena mochila deitada em suas costas. No futuro to ou bem caros. Esse artefato torna mais difícil a tarefa de as fraldas e mamadeiras, de agora, serão livros e canetas. dizer sobre os seus donos. Não é a riqueza do bolso que de- A escola maternal o espera. O trabalho aguarda termina a sua compra. Há os pobres querendo ser ricos nos aquela mulher zelosa, preocupada em aninhar o filho no cora- pés; há os ricos querendo pobreza nos pés, com medo dos ção e na bicicleta. A limpeza das fronhas alvas e o carinho se ladrões! depositam no berço ambulante para proteger o sono de uma Observemos mais atentos a bicicleta e os ocupan- criaturinha, muito bem defendida por essa mãe, anônima do tes. Algumas são pedaladas com vigor, pilotadas por heróis asfalto. O quadro de amor que embrulha as pedaladas da bi- vencedores de grandes corridas, em sua imaginação esporti- cicleta berço, que rola cedo, nas manhãs santistas, aquece de va. Amigos e conhecidos vão aos pares, esquecendo o exer- ternura o pequeno dorminhoco, e alimenta o respeito para cício das pernas, para se aterem ao equilíbrio das palavras, com as nossas crianças. passando notícias alegres ou tristes, em altas ou baixas vo- Rola bicicleta berço, vence a rua, bem suave, de zes. Existem os ciclistas, preocupados, pensando no traba- mansinho você carrega dois anjos: o protetor e o protegido, lho, na família em casa, nas contas a serem pagas. Uma infi- dentro de uma bolha de carinho. nidade de deveres ou de alegria escorregam das bicicletas e nas ruas acompanham o rolar das rodas, tornando todos os pensamentos redondos, sobre a vida a correr contínua no as- Maria Zilda da Cruz é Mestra e Doutora em Psicologia pela falto. Universidade de São Paulo. Presidente da Academia Femi- Também existem os caronistas. Ganham com o es- nina de Ciências, Letras e Artes de Santos. Membro da Di- forço do condutor e descansados chegam ao lugar desejado. retoria da Academia Santista de Letras. Formam a simbiose do hospedeiro e a fraternidade. Março - Santos Arte e Cultura 12
  • 13. OS INOCENTES DO EMBARÉ JOSÉ CANDIDO F. JÚNIOR O que pode fazer um homem num nirvana originado do torpor do sol, cansado, andando pelo jardim da no paraíso. praia, além de se sentar num banco, De repente, passa um velhi- embaixo de uma árvore e olhar a mo- nho, tão frágil, entre a massa bronzea- cidade? da; a massa abre alas e o velhinho pas- Ah! A gigantesca energia vital sa. Olho para o lado oposto da praia e da mocidade sentada ali, a meu lado, vejo a igreja do Embaré, uma verdadei- a desfrutar o iodo e o ócio marinhos, a ra obra de arte espremida entre prédios esquadrinhar os biquínis, a trocar pa- ordinários. O velhinho passa lentamen- lavrões amigáveis uns com os outros! te, a garotada conversa assuntos tri- Estão em plena felicidade distraída, viais e ninguém o vê. BASÍLICA DO EMBARÉ LIANE UEChI As origens da Basílica do Embaré estão ligadas ao primeiro morador do bairro de mesmo nome, Antônio Ferreira da Silva Júnior, o Viscon- de de Embaré, que também foi o fundador da Associação Comer- cial de Santos, em 1870. O Vis- conde ergueu em sua chácara, em frente à praia, a Capela de Santo Antônio do Embaré. Foi entregue em 1922 aos frades franciscanos, que iniciaram a nova edificação, em 1930, dan- do-lhe a forma como a conhece- mos hoje. Foi inaugurada em 1945, e em 1952, foi elevada à categoria de basílica, pelo Papa Pio XII. Seu estilo arquitetônico é o neogótico, marcado pelos seus arcos ogivais, vitrais e rosáceas. As duas torres da fachada termi- nam com pináculos. No tímpano rosa dividem-se em cada lado da nave sobre a entrada principal, uma e do altar, emoldurando as quatro ca- composição clássica mostra San- pelas menores, bem como as capelas- to Antônio recebendo o Menino balcões e as capelas de confissão. Ne- Jesus das mãos da Virgem. Na las, estão pinturas alusivas à remissão parte interna, os 18 metros de pé dos pecados, como o perdão ao filho direito são cobertos por murais à pródigo e a Maria Madalena. têmpera de Pedro Gentili, que Sem dúvida, um dos tesouros preenchem todos os espaços do santista. templo. Os 44 pilares em granilito Informações fonte: site Novo Milênio 13 Março - Santos Arte e Cultura
  • 14. A PRESENÇA DE ROBERTINA COCKRANE SIMONSEN NUMA EXPERIÊNCIA DA EDUCAÇÃO FEMININA (1902 - 1920) MARIA APPARECIDA FRANCO PEREIRA Nos inícios do século XX, Santos está pas- 20 de dezembro de 1862 e era uma dos seis filhos do sando por um período de urbanização, onde a casal Ignácio da Gama Cochrane e Maria Luísa modernização de seu Porto, por causa da eco- Barbosa, filha de comissário de café santista, An- nomia agro-exportadora do café, traz um nú- tônio Vieira Barbosa. Dr. Ignácio Wallace de mero grande de trabalhadores nacionais Gama Cochrane (1836-1912), natural de Va- (livres e ex-escravos) e sobretudo, imigran- lença, RJ, de família ligada a projetos de fer- tes (tornando-a uma cidade portuguesa), rovias, foi personalidade das mais atuantes, atuando nos serviços ligados à comerciali- na vida administrativa política e social. Em zação do café; nos transportes, nos arma- 1860, está em Santos, como engenheiro fis- zéns, nas docas e na ferrovia. cal da São Paulo Railway e ao contrair matri- Santos reúne uma elite formada pelo mônio e associando-se à firma de seu sogro, alto comércio, negociantes locais (diversos aí permanece até 1878, quando se transfere portugueses), a que se unem geralmente os para a capital paulista. filhos de fazendeiros paulistas. Completando, Robertina casou-se, aos 21 anos, com Sydney estão os homens de profissões liberais - médicos Martin Simonsen, inglês que se dedica aos negó- e engenheiros, muitos vindos da capital federal nos cios do café. Um dos seus filhos foi o eng. Roberto C. anos próximos à virada do século XIX para o XX, atraídos Simonsen, o grande industrial paulista. por uma cidade castigada por inúmeras epidemias (febre ama- A atividade de Robertina Simonsen na Associação rela, varíola, peste bubônica, tuberculose etc.), mas com recur- Feminina Santista é muito grande. Sócia fundadora (1902), é sos econômicos advindos da economia cafeeira para a supera- vice-presidente da AFS no biênio 1902-1903. A seguir, assume ção de seus males. a função pedagógica mais importante da escola, com a saída Um aspecto importante dessa era da modernização é o de Eunice Caldas, que é a de Diretora Geral da Instrução por filão da educação, patrimônio cultural que deve ser estendido a vários anos, sem ter diploma de normalista. Ao mesmo tempo, todos os estratos da população, necessitados da regeneração de 1903 a 1907, também ministra Trabalhos Manuais. social. Em Santos, nesse início, as realizações educacionais se Depois, mantém a sua participação como Presidente multiplicam, desde as iniciativas do poder do Estado (Grupos da mantenedora ou no atuante Conselho da instituição, arregi- Escolares Cesário Bastos: 1900; Barnabé: 1902) e do Municí- mentando novos sócios, com seu marido. pio (G.E. Olavo Bilac) e Academia do Comércio, 1907; das or- Uma das poucas vezes onde se encontram as suas dens religiosas (Irmãs do Coração de Maria e Irmãos Maristas: palavras: “É sinceramente penalisada que deixo este logar 1904) ou de instituições leigas (Escola Docas: 1907), de grupos onde há perto de 9 annos me tenho esforçado em prol desta filantrópicos (Auxiliadora da Instrução, 1878) ou de Maçonaria tão útil e benemérita Associação, e a qual eu desejo de coração (Loja Brás Cubas). a continuação de sua prosperidade” (Rel. AFS de 1911). Em É em 1902, que surge a primeira grande instituição voltada 1919, é chamada, novamente em situação de crise da Associa- principalmente para a educação feminina. A professora Eunice ção Feminina Santista, para ser a sua Presidente. Caldas (1879-1967) consegue reunir um grupo de senhoras da Com pouco mais de 60 anos, em 1921,desliga-se de- sociedade local e cria o Liceu Feminino Santista e as Escolas finitivamente da direção (continuando como conselheira), mu- maternais, com o fim de “proporcionar a educação gratuita da dando-se para o Rio, onde falece com a idade de 80 anos criança e da mulher, principalmente desta”. Na mantenedora, a (1942). Durante esses anos todos batalhou para a manutenção Associação Feminina Santista (AFS), militam mulheres da so- da instituição e para o seu engrandecimento cultural . ciedade, assessoradas pelos seus maridos, que são engenhei- ros, médicos, bacharéis em Direito, comerciantes de café. Maria Apparecida Franco Pereira é professora titular da Embora a grande inspiradora inicial fosse Eunice Caldas, Universidade Católica de Santos. Possui graduação em irmã de Vital Brasil, uma de suas dirigentes fundadora e conti- Pedagogia, em História e em Filosofia. É Mestre em História nuadora foi Robertina Cochrane Simonsen . Econômica e Doutora em História Social, ambas pela USP. Robertina da Gama Cochrane nasceu em Santos, em Março - Santos Arte e Cultura 14
  • 15. O PIANO E O BASTIDOR VALÉRIA PELOSI Ah! Velhos companheiros! Porque os amo, escrevo. Se suas teclas falassem (nossa, como estão velhas)! E dizer que as conheci desde o tempo em que reluziam, enfim, se suas teclas falassem o que conta- riam? Acho que diriam que o mesmo tempo que gastou suas teclas pode afinar a alma. Que uma alma bem afinada pode ver que o belo não está em um único lu- gar e pode ouvi-lo quando ele chama no farfalhar de folhas, numa canção de ninar, nas tentativas de peque- nos dedos queridos que buscam desvendar os misté- rios das velhas teclas. O redondo mais perfeito, o encaixe mais total, o que você tem para contar? Você entende tudo de devaneio. Sabe segurar as mãos para soltar a alma. Com seu contorno construí minhas asas. Valéria Pelosi é cronista, Mestra-Doutora em Psicologia, pela PUC São Paulo. Obrigado amigos. ZILDA ARNS NEUMANN LIANE UEChI Março é o mês de homenagear a mulher. A Revista Santos Arte e Cultura o faz através de uma ilustre representante do sexo feminino, a mé- dica e sanitarista Zilda Arns Neumann e seu trabalho à frente da Pastoral da Criança. Muitas mulheres deixaram seu nome na história da huma- nidade, algumas por feitos inéditos, pelo pioneirismo e coragem. Donas de características como liderança, Foto: Sonia Baiocchi/ Câmara Deputados obstinação e destemor, elas abriram caminhos a tantas conquistas obtidas ao longo das últimas décadas. Fa- mosas ou anônimas, todas foram importantes. Mas há algumas que merecem um olhar mais atento, por dedicarem seus conhecimentos, esfor- ços e trabalho em prol da dignidade humana. Aque- las que no seu labor diário, combatem mais do que preconceitos ou uma superação pessoal, enfren- tam sim, vilões cruéis: a pobreza, a ignorância e a injustiça. Uma dessas combatentes e que nos dei- xou há pouco, vítima do terremoto no Haiti, foi a médica e sanitarista Zilda Arns Neumann, coordenadora da Pastoral da Criança e três vezes indicada ao Prêmio Nobel da Paz pelo Brasil. Os resultados do seu trabalho são o maior testemunho de seu valor como mulher. Sua estratégia foi apostar que a educação das mães, através de líderes comunitários capacitados, revelaria-se a melhor forma de comba- ter doenças facilmente preveníveis e a marginalidade das crianças. Acer- tou! A Pastoral estima que cerca de 2 milhões de crianças e mais de 80 mil gestantes já foram beneficiados pelo trabalho idealizado e, até então, co- mandado por ela. Seus mais de 260 mil voluntários levam fé e vida, em forma de solidariedade e conhecimentos sobre saúde, nutrição, educação e cidada- nia para as comunidades mais pobres do mundo. Uma mulher, uma brasileira, um exemplo! 15 Março- Santos Arte e Cultura
  • 16. T.P.M. NEIDE RAMOS O que é T.P.M? (Tensão Pré-Menstrual). É uma síndrome com um conjun- to de sintomas físicos, emocionais e comportamentais que se manifestam de maneira cíclica (período pré-mesntrual) que em geral desaparece por completo com o início do período menstrual. O quadro clínico da T.P.M. é bastante variado, sendo relacionados 150 sinto- mas. Os mais comuns são: Irritabilidade, Agressividade, Depressão, Fadiga, Labili- dade Emocional, Dificuldade de Concentração, Cefaléia (Enxaqueca), Mastal- gia (Dores nas Mamas), Acne, Distensão Abdomnal (Inclaço), Palpitação e Vertigem. Por que a T.P.M. acontece? As causas ainda são desconhecidas e ao mesmo tempo polêmicas; entre os fatores apontados estão o envolvimento de vários hormônios, como estrogênio, progesterona, prolactina e androgênios; a alteração dos níveis de neuro-transmissores (endorfinas, serotoninas e prostaglandinas). Nutri- cionais e deficiência de vitaminas e sais minerais. Tratamento É feito de acordo com a intensidade dos sintomas. Dieta: hipoproteica (pobre em carbohidratos). Evitar ingerir álcool, café e chás, por- que interfere na retenção hídrica. Exercícios Físicos: aeróbicos que atuam na eliminação das endorfinas: correr, nadar, e quaisquer outros exercícios aeróbicos fazem bem e aliviam a T.P.M. Diuréticos: melhoram os sintomas da paciente com retenção hidríca. Sedativos e anti-depressivos: no caso de mulheres com depressão devem ser to- mados com orientação médica. É interessante ressaltar que adolescentes não tem T.P.M., porque seus ciclos são anovulatórios; isto porque os Ciclos se tor- nam, anovulatórios dois anos depois da primeira menstruação. Após a menopausa a mulher normalmente não tem mais T.P.M. Existem empresas que não permitem que mulheres que ocupam cargos de respon- sabilidade tomem qualquer decisão nessa fase. Neide Ramos é médica, com título de especialista em Ginecologia e Obstetrícia pela Fundação Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia. Especialista em ginecologia da infância e da adolescência 16
  • 17. NOTAS CULTURAIS NOTAS CULTURAIS TEATRO COLISEU GANhA PIANO STEINwAY Em comemoração aos 464 anos da Cidade de Foto: Vanessa Rodrigues/PMS Santos, o Teatro Coliseu ganhou de presente um Piano Steinway Concert Grande - Model D, que foi entregue em grande estilo, com a apresentação do renomado pia- nista Nelson Freire, ao lado da Orquestra Sinfônica Mu- nicipal de Santos, em 24 de janeiro. Velho e ansiado sonho de Aura Botto de Barros, presidente do Centro de Expansão Cultural e dos de- mais associados, o Steinway foi adquirido pela Prefeitu- ra, no final de 2009, pelo Programa de Incentivo Fiscal do Governo do Estado de São Paulo (ProAC), graças ao patrocínio das empresas TECONDI, CPFL e Comgás. A OUSADIA SACUDIU A MULTIDÃO.... CAROLINA RAMOS PREMIADA CANTOU A CAMPEÃ DO CARNAVAL SANTISTA A escola Padre Paulo foi Foto: site PMS a Campeã do Carnaval 2010, em Santos. Na apuração, que acon- teceu na quarta-feira de cinzas (17 de fevereiro), a campeã fe- chou a apuração na Passarela Dráusio da Cruz, na Zona Noro- este, com 179,25 pontos - distan- Carolina Ramos recebendo o prêmio das te apenas 25 décimos (0,25) da mãos da Presidente da Seção da UBT de segunda colocada, a vice-cam- Caxias do Sul, Alice Brandão. peã Vila Nova. Carolina Ramos, poetisa e es- A classificação final foi: critora santista, recebeu das mãos da GRUPO 1 (ESPECIAL)- 1º: 179,25 - perial; 6º: 177,5 - Unidos dos Morros; presidente dos II Jogos Florais de Cai- Padre Paulo; 2º: 179 - Vila Nova; 3º: 7º: 174,75 - Bandeirantes do Saboó; 8º: xas do Sul, intelectual Alice Velho Bran- 178,75 - Sangue Jovem; 4º: 178,25 - 173,75 - Brasil e 9º: 169,5 - Real Moci- dão, troféu e diploma de Vencedora, na Amazonense; 5º:178 - X-9 e União Im- dade. categoria de crônica, cujo tema era “Nos trilhos da História”. O DOMADOR DO ESPAÇO O evento esteve integrado a Aproveitando sua passagem pelo sul do país, Cláudio de um das mais belas festas do sul, a tra- Cápua autografou informalmente, seu último livro “Santos Du- dicional “Festa da Uva”, que aconteceu mont - o Domador do Espaço”, no saguão do Hotel Pousada nos dias 27 e 28 de fevereiro. A entrega Caxiense, em Caxias do Sul - RS da premiação deu-se na Câmara Muni- cipal de Caxias do Sul. BONDE ITALIANO 100 ANOS DE VILA BELMIRO EM RESTAURAÇÃO A Vila Belmiro, bairro que abriga o Estádio Urbano Cal- Mais um exemplar de bonde europeu começa a passar por deira, do SFC, completou no último dia 14 de fevereiro, um criterioso trabalho de restauração, nas garagens da 100 anos. Com cerca de 10 mil moradores, é um bairro Companhia de Engenharia de Tráfego de Santos. residencial, onde convivem harmoniosamente casarios Trata-se de um dos dois veículos italianos doados ao Mu- antigos e edificações modernas. Mantém excelente in- nicípio pela cidade italiana de Turim, o de prefixo 3265, fra-estrtura com escolas, hospitais, bancos e comércio construído pela FIAT italiana na década de 40. variado. Parabéns Vila Belmiro! Fonte: Diario oficial de Santos. Março - Santos Arte e Cultura 17
  • 18. Espaço do Livro CLÁUDIO DE CÁPUA MIGUEL COSTA de YURI ABYAZA COSTA “Miguel Costa: um herói brasileiro”, livro de autoria de Yuri Abyaza Costa, neto do verdadeiro comandante da Coluna que nunca foi Prestes, a não ser na cabeça de alguns radicais da esquerda bra- sileira de nossa imprensa. Miguel Costa foi o grande estrategista da revolução de 1924, a mais sangrenta luta entre irmãos travada em solo brasileiro. As tropas, sob o comando do Gen. Isidoro Dias Lopes e Miguel Costa, tomaram a Paulicéia, durante 23 dias, após intenso bombardeio da artilharia governista, que matou entre 12 a 15 mil civis, sendo que a população da cidade, não chegava a trezentos mil habi- tantes. Miguel Costa, homem de bom senso, para evitar que a matan- ça de inocentes continuasse, retirou as tropas revoltosas da capital e marchou para o sul do país, onde foi em socorro da fracassada Colu- na Gaúcha, comandada pelo inexperiente capitão engenheiro do exército, Luiz Carlos Prestes. Com a fusão dos revoltosos paulistas e o grupo rebelde gaúcho surgiu a 1ª Divisão Revolucionária. Miguel Costa foi pelo menos durante quatro décadas, o mais destacado líder político militar do Brasil. O livro de autoria de Yuri Abyaza Costa é um livro sério e esclarecedor. Edição da Imprensa oficial do Estado de São Paulo. Preço de R$ 50,00. Aquisição: http://livraria.imprensaoficial.com.br BRIGADEIRO-DO-AR BARThOLOMEU LOURENÇO DELÍRIOS DE UM SONhO NERO MOURA DE GUSMÃO DEOCLECIANO JOSÉ MANUEL CAMBESES JR. CLOTILDE PAUL A história do A vida de um O poeta auto- Brigadeiro gênio de seu didata mostra Nero Moura, tempo, seus in- como as suas ilustre persona- ventos e crono- experiências lidade da vida logia, numa lin- de vida, como nacional e da guagem capaz menino de historiografia de despertar nos rua, podem aeronáutica e jovens o interes- se transfor- da aviação bra- se pela histó- mar em poe- sileira. ria. sia. Março - Santos Arte e Cultura 18
  • 19. Janeiro Santos Arte e Cultura 19