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Esporotricose na espécie canina: relato de um caso na cidade de Mossoró, RN 	                                                            673




                                                        RELATO DE CASO


                        ESPOROTRICOSE NA ESPÉCIE CANINA:
                   RELATO DE UM CASO NA CIDADE DE MOSSORÓ, RN

                                                    Kilder Dantas Filgueira1
         1. Médico veterinário do Hospital Veterinário da Universidade Federal Rural do Semi-Árido. E-mail: kilderfilgueira@bol.com.br




                                                                RESUMO

        A esporotricose é uma micose causada pelo Sporo-                 dermatológico demonstrou alopecia e nódulos subcutâneos
thrix schenckii e pouco frequente em cães. A confirmação                 cervicais. Exame citológico, raspado cutâneo para pesquisa
diagnóstica é por isolamento fúngico em meio de cultura,                 de ácaro, sorologia para leishmaniose e cultura fúngica fo-
mas este procedimento pode ser difícil em caninos infec-                 ram solicitados. O resultado sorológico foi não reagente e o
tados. Em virtude de ser rara nesta espécie, por possuir                 raspado exibiu negatividade. Porém, a citologia evidenciou
diagnóstico definitivo difícil e pela carência de relatos da             estruturas, no citoplasma de macrófagos, sugestivas de S.
doença no Nordeste brasileiro, o presente trabalho objetivou             schenckii. O isolamento do fungo em cultura confirmou
a descrição de um caso de esporotricose canina, na cidade de             o diagnóstico de esporotricose. Fez-se o tratamento com
Mossoró, RN. Uma cadela, de três anos de idade, apresenta-               itraconazol. A inclusão constante da esporotricose para o
va lesões cutâneas crônicas. O animal era alojado em quintal             diagnóstico diferencial de pápulas, nódulos e ou úlceras
com areia, plantas e felinos peridomiciliados. O exame                   cutâneas é fundamental na espécie canina.

PALAVRAS-CHAVES: Canino, dermatologia, esporotricose, Mossoró.


                                                               ABSTRACT

              SPOROTRICHOSIS IN THE CANINE SPECIES: A CASE REPORT ON CITY OF MOSSORO, RN

        Sporotrichosis is a mycosis caused by Sporothrix                 examination showed alopecia and cervical subcutaneous
schenckii and little frequent in canines. The diagnosis con-             nodules. Cytology, scraping, serology for leishmaniasis and
firmation occurs by fungal isolation in culture medium, but              fungal culture were requested. The serological result was
this procedure can be difficult on infected dogs. Because                not reagent and the scraping showed negative. However,
it is rare in canines, its definitive diagnosis is difficult to          cytology evidenced suggestive structures of S. schenckii
achieve and due to a lack of reports about the disease in                on macrophages cytoplasm. The fungal isolation confirmed
the northeast region of Brazil, the present study aimed to               the sporotrichosis diagnosis. The treatment corresponded to
describe a canine sporotrichosis case, in the city of Mos-               itraconazole. The constant inclusion of sporotrichosis for
soro, RN. A three-year-old female canine presented chronic               papules differential diagnosis, nodules and/or cutaneous
cutaneous injuries. The animal was lodged at the backyard,               ulcers is basic on canine species.
in touch with sand, plants and felines. The dermatological

KEY WORDS: Canine, dermatology, sporotrichosis, Mossoro.


                                                                       Ciência Animal Brasileira, v. 10, n. 2, p. 673-677, abr./jun. 2009
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                     INTRODUÇÃO                                                MATERIAL E MÉTODOS

       A esporotricose é uma micose subcutânea                             Atendeu-se, no Hospital Veterinário da
granulomatosa a piogranulomatosa (FARIAS,                            Universidade Federal Rural do Semi-Árido
2000; CHIESA, 2007) de evolução subaguda                             (localizado na cidade de Mossoró, RN), no mês
ou crônica (SCHUBACH & SCHUBACH,                                     de agosto de 2006, uma cadela, de três anos de
2000; SANTOS et al., 2005), causada pelo                             idade, sem raça definida, com 18 kg. A paciente
fungo dimórfico Sporothrix schenckii. Este                           apresentava histórico de lesões de pele há apro-
microrganismo existe como saprófita no solo                          ximadamente dois anos, sendo realizados vários
e debris orgânicos (SCOOT et al., 1996).                             tratamentos anteriores, porém sem sucesso. O
Encontra-se amplamente disperso na natureza,                         animal encontrava-se alojado em um quintal de
especialmente em climas temperados e tropicais                       areia, com presença de plantas e de felinos peri-
(SCHUBACH & SCHUBACH, 2000). O reino                                 domiciliados. O canino foi submetido a exame
vegetal constitui a maior fonte de contágio,                         físico de rotina e exame dermatológico. Diante
sem predileção por alguma planta ou vegetação                        das alterações cutâneas encontradas, solicitaram-
(BRUM et al., 2007).                                                 se exames complementares. Para tanto, procedeu-
        A esporotricose é uma antropozoonose e                       se à citologia por punção aspirativa com agulha
corresponde à micose subcutânea humana mais                          fina, raspado cutâneo para pesquisa de ácaro,
comum na América Latina (SONODA et al.,                              sorologia para leishmaniose (pelos métodos de
2006; BRUM et al., 2007). É pouco frequente                          imunofluorescência indireta e ELISA) e cultura
entre os caninos, mas já ocorreram relatos nas                       fúngica em meio ágar Sabouraud dextrose acres-
regiões Sul (MADRID et al., 2007) e Sudeste do                       cido a cloranfenicol e cicloheximida, incubado
Brasil (RAMADINHA et al., 2006; SONODA                               a 25 e 37°C.
et al., 2006). Em cães, a forma cutânea é a mais
comumente relatada, caracterizada por nódulos                               RESULTADOS E DISCUSSÃO
firmes e múltiplos, placas ulceradas com bordas
elevadas ou áreas anulares crostosas e alopéci-                            Dentre as alterações dermatológicas en-
cas (SCOOT et al., 1996). Para a confirmação                         contradas verificou-se a presença de alopecia
diagnóstica, faz-se necessário o isolamento                          e múltiplos nódulos subcutâneos, envolvendo
do S. schenckii em meio de cultura (SCHU­                            apenas a região cervical dorsal e esternocefálica
BACH & SCHUBACH, 2000). Entretanto este                              (Figura 1). Alguns destes estavam ulcerados e
isolamento pode ser difícil em cães infectados                       com trajetos fistulosos que exsudavam secreção
(MEDLEAU & HNILICA, 2003). Além disso,                               purulenta e hemorrágica enquanto que outros
a esporotricose possui um amplo número de                            exibiam áreas de cicatrização. As lesões eram
diagnósticos diferenciais, como o complexo                           indolores e levemente pruriginosas. O exame
granuloma eosinofílico, abscesso, leishmaniose,                      sorológico revelou-se negativo para leishma-
demodicidose, escabiose, actinomicose, nocar-                        niose e o raspado cutâneo foi negativo para
diose, tuberculose, histoplasmose, criptococose,                     ácaros. A análise citopatológica evidenciou uma
corpo estranho, neoplasias (SCHUBACH &                               inflamação granulomatosa, caracterizada por
SCHUBACH, 2000; GREMIÃO et al., 2005).                               numerosos neutrófilos íntegros e degenerados de
Em virtude de a doença ser incomum e rara                            permeio a macrófagos espumosos, eosinófilos e
em cães, por possuir um diagnóstico definiti-                        células multinucleadas. Coexistia a presença de
vo difícil, e dada a carência de relatos dela na                     microrganismos arredondados, variando apro-
região Nordeste do Brasil, o presente trabalho                       ximadamente de 2 a 10 µm de comprimento,
objetivou a descrição de esporotricose cutânea                       no citoplasma de macrófagos. Estas estruturas
em um canino, na cidade de Mossoró, RN.                              intracitoplasmáticas possuíam padrão morfoló-


Ciência Animal Brasileira, v. 10, n. 2, p. 673-677, abr./jun. 2009
Esporotricose na espécie canina: relato de um caso na cidade de Mossoró, RN 	                                                 675


gico sugestivo de S. schenckii (Figura 2), seme-                         O animal foi tratado com itraconazol (10mg/
lhantes à descrição de SCOOT et al. (1996). O                     kg, VO, durante a alimentação, SID, por sessenta
diagnóstico de esporotricose foi confirmado com                   dias, inicialmente) e o proprietário foi advertido
o isolamento do fungo em cultura. As colônias                     da possibilidade de contágio e orientado para
obtidas a 25ºC apresentavam coloração casta-                      a adoção de práticas de prevenção da doença.
nha e exibiam, microscopicamente, uma forma                       Observou-se uma involução dos sinais clínicos ini-
filamentosa e no cultivo a 37ºC possuíam cor                      ciais, contudo não foi possível o acompanhamento
variando de branco a amarelo, com micromor-                       durante todo o tratamento, em virtude da mudança
fologia leveduriforme.                                            residencial do animal para outra região.




                                                                  FIGURA 2. Fotomicrografia do exame citológico. Macró-
FIGURA 1. Nódulos subcutâneos na região cervical dorsal           fago com estruturas intracitoplasmáticas arredondadas de
exibindo áreas de alopecia e ulceração.                           tamanho variável e envolvidas por um halo claro, sugesti-
                                                                  vas de S. schenckii (objetiva de imersão).



        Em cães não ocorre predisposição etária ou                radas, drenando um líquido serossanguinolento
sexual para a esporotricose. Entretanto, trata-se                 marrom-avermelhado, especialmente na cabeça,
de micose subcutânea que é mais comumente ob-                     orelhas e tronco (SCOOT et al., 1996; HARVEY
servada em animais caçadores (FARIAS, 2000),                      & McKEEVER, 2004). Nos cães acometidos,
o que sugere infecção por objetos pontiagudos                     as lesões não são dolorosas nem pruriginosas, o
como espinhos ou lascas de madeira (BRUM et                       fungo é difícil de ser encontrado nos exsudatos e
al., 2007). Classicamente, a esporotricose cutânea                geralmente os animais estão saudáveis (SCOOT
ocorre pela inoculação traumática do fungo, que é                 et al., 1996).
encontrado no solo, matéria orgânica e em plantas                        Assim, as alterações relacionadas à es-
(GREMIÃO et al., 2005), ou ainda pela morde-                      porotricose cutânea do paciente em discussão
dura, arranhadura ou contato direto com exsudato                  encontraram-se compatíveis com as descrições
de lesões de animais infectados (RAMADINHA                        da literatura. Nos felinos com esporotricose,
et al., 2006). Três a cinco semanas após a inocu-                 o número de microrganismos encontrados nos
lação aparecem as lesões típicas, como tumefa-                    tecidos, exsudatos e fezes de animais infectados
ções papulares ou nodulares, alopécicas e ulce-                   é maior do que em outros seres, o que aumenta

                                                                Ciência Animal Brasileira, v. 10, n. 2, p. 673-677, abr./jun. 2009
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o risco de transmissão para as demais espécies                                           CONCLUSÃO
(FARIAS 2000; HARVEY & McKEEVER, 2004).
Nesse sentido, o ambiente no qual se encontrava                            A esporotricose canina deve ser incluída no
o canino em questão poderia ser considerado um                       diagnóstico diferencial das dermatoses papulares,
reservatório para a esporotricose, uma vez que                       nodulares e ulcerativas nos cães domiciliados
possuía areia, matéria orgânica vegetal e presença                   na cidade de Mossoró, RN. Embora esta micose
de gatos peridomiciliados. Na maioria das vezes,                     subcutânea canina possua um significado reduzido
a enfermidade evolui como infecção benigna,                          em saúde pública, torna-se necessária uma investi-
limitada à pele e ao tecido subcutâneo (BRUM                         gação epidemiológica no Nordeste brasileiro, em
et al., 2007), sendo essa forma da esporotricose                     virtude da escassez de descrições do S. schenckii
denominada cutânea e correspondendo à que aco-                       nesta região.
metia o animal do presente relato.
       A cidade de Mossoró, RN, na qual foi diag-                                       REFERÊNCIAS
nosticada a esporotricose canina, encontra-se sob
influência do clima tropical (BAPTISTA et al.,                       BAPTISTA, G. M. M.; CARVALHO, J. M.; CAMACHO,
2005), estando de acordo com a epidemiologia                         R. G. V.; BIAS, E. S.; ZARA, L. F. Variação sazonal da
                                                                     vegetação e da temperatura de superfície em Mossoró, RN,
do agente, o qual pode estar presente em regiões
                                                                     por meio de dados ASTER. In: SIMPÓSIO BRASILEIRO
tropicais (SCHUBACH & SCHUBACH, 2000).                               DE SENSORIAMENTO REMOTO, 12., 2005, Goiânia.
O diagnóstico presuntivo pela citopatologia as-                      Anais... Goiânia, 2005. p.2843-2850.
sim como o diagnóstico definitivo pela cultura
podem ser dificultados pela reduzida quantidade                      BRUM, L. C.; CONCEIÇÃO, L. G.; RIBEIRO, V. M.;
do S. schenckii nos tecidos e secreções dos cães.                    HADDAD JÚNIOR, V. Principais dermatoses zoonóticas de
Apesar de ser pouco frequente, a esporotricose                       cães e gatos. Clínica Veterinária, n. 69, p. 29-46, 2007.
canina deve sempre ser considerada no diagnóstico
                                                                     CHIESA, S. C. Esporotricose: aspectos clínicos e tera-
diferencial de lesões pápulo-nodulares ulceradas
                                                                     pêuticos. In: CONGRESSO PAULISTA DE CLÍNICOS
ou não, exsudativas, com ou sem linfadenite                          VETERINÁRIOS DE PEQUENOS ANIMAIS, 7., 2007,
regional e não responsivas à antibioticoterapia                      São Paulo. Anais... São Paulo: ANCLIVEPA-SP, 2007. p.
(RAMADINHA et al., 2006). Com relação ao                             76-78.
tratamento, o itraconazol tem se mostrado eficaz
e seguro na terapia da esporotricose cutânea, em                     FARIAS, M. R. Avaliação clínica, citopatológica e his-
detrimento dos iodetos e cetoconazol, pelos efeitos                  topatológica seriada da esporotricose em gatos (Felis
                                                                     catus – Linnaeus, 1758) infectados experimentalmente.
indesejáveis desses agentes antifúngicos (JESUS
                                                                     2000. 97 f. Dissertação (Mestrado em Clínica Veterinária)
& MARQUES, 2006). A terapia com o itraconazol                        – Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia, Univer-
é realizada por um período mínimo de dois meses                      sidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, Botucatu,
e continuidade de trinta dias após cura clínica                      São Paulo, 2000.
(CHIESA, 2007). Para o sucesso terapêutico, é
necessário que o tratamento prossiga até que as                      GREMIÃO, I. D. F.; LEME, L. R. P.; PEREIRA, S. A.;
lesões cicatrizem e as culturas sejam negativas                      SANTOS, I. B.; HONSE, C. O.; FIGUEIREDO, F. B.;
                                                                     TROTE, M. N. S.; NASCIMENTO, K. C. S.; MIRANDA,
(BRUM et al., 2007). Nos felinos, a esporotricose
                                                                     L. H. M.; SILVA, J. N.; REIS, R. S.; SCHUBACH, T. M.
apresenta um potencial zoonótico significante en-                    P. Importância do exame citopatológico no diagnóstico
quanto que, em cães, a doença tem um potencial                       presuntivo da esporotricose felina naturalmente adquirida.
zoonótico mínimo (SCHUBACH & SCHUBACH,                               Anclivepa Brasil, n. 3, p.163-164, 2005.
2000). Contudo, deve-se ter precaução ao se lidar
com caninos infectados, exsudatos ou materiais                       HARVEY, R. G.; McKEEVER, P. J. Dermatoses ulcerati-
contaminados desses animais (HARVEY &                                vas: esporotricose. In: HARVEY, R. G.; McKEEVER, P.
                                                                     J. Manual colorido de dermatologia do cão e do gato:
McKEEVER, 2004).


Ciência Animal Brasileira, v. 10, n. 2, p. 673-677, abr./jun. 2009
Esporotricose na espécie canina: relato de um caso na cidade de Mossoró, RN 	                                                 677


diagnóstico e tratamento. Rio de Janeiro: Revinter, 2004.         SANTOS, I. B.; OKAMOTO, T.; SCHUBACH, T. M. P.;
p.104-105.                                                        FIGUEIREDO, F. B.; QUINTELLA, L. P.; PEREIRA, S. A.;
                                                                  LEME, L. R. P.; HONSE, C. O.; REIS, R. S.; TORTELLY,
JESUS, J. R.; MARQUES, S. M. T. Esporotricose cutânea             R; SCHUBACH, A. O. Esporotricose espontânea em cães:
em gato: relato de caso. Clínica Veterinária, n. 65, p.72-        aspectos histopatológicos e micológicos. Arquivo Brasi-
74, 2006.                                                         leiro de Medicina Veterinária e Zootecnia, v. 57, supl.1,
                                                                  p. 76-77, 2005.
MADRID, I. M.; SANTOS JÚNIOR, R.; SAMPAIO JÚ-
NIOR, D. P.; MUELLER, E. N.; DUTRA, D.; NOBRE, M.                 SCHUBACH, T. M. P.; SCHUBACH, A. O. Esporotricose
O.; MEIRELES, M. C. A. Esporotricose canina: relato de            em gatos e cães: revisão. Clínica Veterinária, n. 29, p.
três casos. Acta Scientiae Veterinariae, v. 35, n.1, p.105-       21-24, 2000.
108, 2007.
                                                                  SCOOT, D. W.; MILLER, W. H.; GRIFFIN, C. E. Doenças
MEDLEAU, L.; HNILICA, K. A. Micoses cutâneas esporo-              fúngicas da pele: esporotricose. In: SCOOT, D. W.; MILLER, W.
tricose. In: MEDLEAU, L.; HNILICA, K. A. Dermatologia             H.; GRIFFIN, C. E. Muller & Kirk: dermatologia de pequenos
de pequenos animais: atlas colorido e guia terapêutico. São       animais. 5. ed. Rio de Janeiro: Interlivros, 1996. p. 333-336.
Paulo: Roca, 2003. p. 51-52.
                                                                  SONODA, M. C.; OTSUKA, M.; FERRER, L. C.; FOND-
RAMADINHA, R. H. R.; AZEVEDO, S. C. S.; SOUZA,                    VILLA, D.; MICHALANY, N. S.; VIEIRA, S. A. M.;
C. P.; CAMPOS, S. G. Esporotricose em cães: relato de 2           GAMBALE, W.; LARSSON, C. E. Esporotricose canina:
casos. In: CONGRESSO BRASILEIRO DA ANCLIVEPA,                     relato de caso insólito em São Paulo. In: CONGRESSO
27., 2006, Vitória. Anais... Vitória: ANCLIVEPA-ES, 2006.         BRASILEIRO DA ANCLIVEPA, 27., 2006, Vitória.
p. 46.                                                            Anais... Vitória: ANCLIVEPA-ES, 2006. p. 21.


                                      Protocolado em: 24 out. 2007. Aceito em: 23 out. 2008.




                                                                Ciência Animal Brasileira, v. 10, n. 2, p. 673-677, abr./jun. 2009

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Esporotricose canina em Mossoró

  • 1. Esporotricose na espécie canina: relato de um caso na cidade de Mossoró, RN 673 RELATO DE CASO ESPOROTRICOSE NA ESPÉCIE CANINA: RELATO DE UM CASO NA CIDADE DE MOSSORÓ, RN Kilder Dantas Filgueira1 1. Médico veterinário do Hospital Veterinário da Universidade Federal Rural do Semi-Árido. E-mail: kilderfilgueira@bol.com.br RESUMO A esporotricose é uma micose causada pelo Sporo- dermatológico demonstrou alopecia e nódulos subcutâneos thrix schenckii e pouco frequente em cães. A confirmação cervicais. Exame citológico, raspado cutâneo para pesquisa diagnóstica é por isolamento fúngico em meio de cultura, de ácaro, sorologia para leishmaniose e cultura fúngica fo- mas este procedimento pode ser difícil em caninos infec- ram solicitados. O resultado sorológico foi não reagente e o tados. Em virtude de ser rara nesta espécie, por possuir raspado exibiu negatividade. Porém, a citologia evidenciou diagnóstico definitivo difícil e pela carência de relatos da estruturas, no citoplasma de macrófagos, sugestivas de S. doença no Nordeste brasileiro, o presente trabalho objetivou schenckii. O isolamento do fungo em cultura confirmou a descrição de um caso de esporotricose canina, na cidade de o diagnóstico de esporotricose. Fez-se o tratamento com Mossoró, RN. Uma cadela, de três anos de idade, apresenta- itraconazol. A inclusão constante da esporotricose para o va lesões cutâneas crônicas. O animal era alojado em quintal diagnóstico diferencial de pápulas, nódulos e ou úlceras com areia, plantas e felinos peridomiciliados. O exame cutâneas é fundamental na espécie canina. PALAVRAS-CHAVES: Canino, dermatologia, esporotricose, Mossoró. ABSTRACT SPOROTRICHOSIS IN THE CANINE SPECIES: A CASE REPORT ON CITY OF MOSSORO, RN Sporotrichosis is a mycosis caused by Sporothrix examination showed alopecia and cervical subcutaneous schenckii and little frequent in canines. The diagnosis con- nodules. Cytology, scraping, serology for leishmaniasis and firmation occurs by fungal isolation in culture medium, but fungal culture were requested. The serological result was this procedure can be difficult on infected dogs. Because not reagent and the scraping showed negative. However, it is rare in canines, its definitive diagnosis is difficult to cytology evidenced suggestive structures of S. schenckii achieve and due to a lack of reports about the disease in on macrophages cytoplasm. The fungal isolation confirmed the northeast region of Brazil, the present study aimed to the sporotrichosis diagnosis. The treatment corresponded to describe a canine sporotrichosis case, in the city of Mos- itraconazole. The constant inclusion of sporotrichosis for soro, RN. A three-year-old female canine presented chronic papules differential diagnosis, nodules and/or cutaneous cutaneous injuries. The animal was lodged at the backyard, ulcers is basic on canine species. in touch with sand, plants and felines. The dermatological KEY WORDS: Canine, dermatology, sporotrichosis, Mossoro. Ciência Animal Brasileira, v. 10, n. 2, p. 673-677, abr./jun. 2009
  • 2. 674 FILGUEIRA, K. D. INTRODUÇÃO MATERIAL E MÉTODOS A esporotricose é uma micose subcutânea Atendeu-se, no Hospital Veterinário da granulomatosa a piogranulomatosa (FARIAS, Universidade Federal Rural do Semi-Árido 2000; CHIESA, 2007) de evolução subaguda (localizado na cidade de Mossoró, RN), no mês ou crônica (SCHUBACH & SCHUBACH, de agosto de 2006, uma cadela, de três anos de 2000; SANTOS et al., 2005), causada pelo idade, sem raça definida, com 18 kg. A paciente fungo dimórfico Sporothrix schenckii. Este apresentava histórico de lesões de pele há apro- microrganismo existe como saprófita no solo ximadamente dois anos, sendo realizados vários e debris orgânicos (SCOOT et al., 1996). tratamentos anteriores, porém sem sucesso. O Encontra-se amplamente disperso na natureza, animal encontrava-se alojado em um quintal de especialmente em climas temperados e tropicais areia, com presença de plantas e de felinos peri- (SCHUBACH & SCHUBACH, 2000). O reino domiciliados. O canino foi submetido a exame vegetal constitui a maior fonte de contágio, físico de rotina e exame dermatológico. Diante sem predileção por alguma planta ou vegetação das alterações cutâneas encontradas, solicitaram- (BRUM et al., 2007). se exames complementares. Para tanto, procedeu- A esporotricose é uma antropozoonose e se à citologia por punção aspirativa com agulha corresponde à micose subcutânea humana mais fina, raspado cutâneo para pesquisa de ácaro, comum na América Latina (SONODA et al., sorologia para leishmaniose (pelos métodos de 2006; BRUM et al., 2007). É pouco frequente imunofluorescência indireta e ELISA) e cultura entre os caninos, mas já ocorreram relatos nas fúngica em meio ágar Sabouraud dextrose acres- regiões Sul (MADRID et al., 2007) e Sudeste do cido a cloranfenicol e cicloheximida, incubado Brasil (RAMADINHA et al., 2006; SONODA a 25 e 37°C. et al., 2006). Em cães, a forma cutânea é a mais comumente relatada, caracterizada por nódulos RESULTADOS E DISCUSSÃO firmes e múltiplos, placas ulceradas com bordas elevadas ou áreas anulares crostosas e alopéci- Dentre as alterações dermatológicas en- cas (SCOOT et al., 1996). Para a confirmação contradas verificou-se a presença de alopecia diagnóstica, faz-se necessário o isolamento e múltiplos nódulos subcutâneos, envolvendo do S. schenckii em meio de cultura (SCHU­ apenas a região cervical dorsal e esternocefálica BACH & SCHUBACH, 2000). Entretanto este (Figura 1). Alguns destes estavam ulcerados e isolamento pode ser difícil em cães infectados com trajetos fistulosos que exsudavam secreção (MEDLEAU & HNILICA, 2003). Além disso, purulenta e hemorrágica enquanto que outros a esporotricose possui um amplo número de exibiam áreas de cicatrização. As lesões eram diagnósticos diferenciais, como o complexo indolores e levemente pruriginosas. O exame granuloma eosinofílico, abscesso, leishmaniose, sorológico revelou-se negativo para leishma- demodicidose, escabiose, actinomicose, nocar- niose e o raspado cutâneo foi negativo para diose, tuberculose, histoplasmose, criptococose, ácaros. A análise citopatológica evidenciou uma corpo estranho, neoplasias (SCHUBACH & inflamação granulomatosa, caracterizada por SCHUBACH, 2000; GREMIÃO et al., 2005). numerosos neutrófilos íntegros e degenerados de Em virtude de a doença ser incomum e rara permeio a macrófagos espumosos, eosinófilos e em cães, por possuir um diagnóstico definiti- células multinucleadas. Coexistia a presença de vo difícil, e dada a carência de relatos dela na microrganismos arredondados, variando apro- região Nordeste do Brasil, o presente trabalho ximadamente de 2 a 10 µm de comprimento, objetivou a descrição de esporotricose cutânea no citoplasma de macrófagos. Estas estruturas em um canino, na cidade de Mossoró, RN. intracitoplasmáticas possuíam padrão morfoló- Ciência Animal Brasileira, v. 10, n. 2, p. 673-677, abr./jun. 2009
  • 3. Esporotricose na espécie canina: relato de um caso na cidade de Mossoró, RN 675 gico sugestivo de S. schenckii (Figura 2), seme- O animal foi tratado com itraconazol (10mg/ lhantes à descrição de SCOOT et al. (1996). O kg, VO, durante a alimentação, SID, por sessenta diagnóstico de esporotricose foi confirmado com dias, inicialmente) e o proprietário foi advertido o isolamento do fungo em cultura. As colônias da possibilidade de contágio e orientado para obtidas a 25ºC apresentavam coloração casta- a adoção de práticas de prevenção da doença. nha e exibiam, microscopicamente, uma forma Observou-se uma involução dos sinais clínicos ini- filamentosa e no cultivo a 37ºC possuíam cor ciais, contudo não foi possível o acompanhamento variando de branco a amarelo, com micromor- durante todo o tratamento, em virtude da mudança fologia leveduriforme. residencial do animal para outra região. FIGURA 2. Fotomicrografia do exame citológico. Macró- FIGURA 1. Nódulos subcutâneos na região cervical dorsal fago com estruturas intracitoplasmáticas arredondadas de exibindo áreas de alopecia e ulceração. tamanho variável e envolvidas por um halo claro, sugesti- vas de S. schenckii (objetiva de imersão). Em cães não ocorre predisposição etária ou radas, drenando um líquido serossanguinolento sexual para a esporotricose. Entretanto, trata-se marrom-avermelhado, especialmente na cabeça, de micose subcutânea que é mais comumente ob- orelhas e tronco (SCOOT et al., 1996; HARVEY servada em animais caçadores (FARIAS, 2000), & McKEEVER, 2004). Nos cães acometidos, o que sugere infecção por objetos pontiagudos as lesões não são dolorosas nem pruriginosas, o como espinhos ou lascas de madeira (BRUM et fungo é difícil de ser encontrado nos exsudatos e al., 2007). Classicamente, a esporotricose cutânea geralmente os animais estão saudáveis (SCOOT ocorre pela inoculação traumática do fungo, que é et al., 1996). encontrado no solo, matéria orgânica e em plantas Assim, as alterações relacionadas à es- (GREMIÃO et al., 2005), ou ainda pela morde- porotricose cutânea do paciente em discussão dura, arranhadura ou contato direto com exsudato encontraram-se compatíveis com as descrições de lesões de animais infectados (RAMADINHA da literatura. Nos felinos com esporotricose, et al., 2006). Três a cinco semanas após a inocu- o número de microrganismos encontrados nos lação aparecem as lesões típicas, como tumefa- tecidos, exsudatos e fezes de animais infectados ções papulares ou nodulares, alopécicas e ulce- é maior do que em outros seres, o que aumenta Ciência Animal Brasileira, v. 10, n. 2, p. 673-677, abr./jun. 2009
  • 4. 676 FILGUEIRA, K. D. o risco de transmissão para as demais espécies CONCLUSÃO (FARIAS 2000; HARVEY & McKEEVER, 2004). Nesse sentido, o ambiente no qual se encontrava A esporotricose canina deve ser incluída no o canino em questão poderia ser considerado um diagnóstico diferencial das dermatoses papulares, reservatório para a esporotricose, uma vez que nodulares e ulcerativas nos cães domiciliados possuía areia, matéria orgânica vegetal e presença na cidade de Mossoró, RN. Embora esta micose de gatos peridomiciliados. Na maioria das vezes, subcutânea canina possua um significado reduzido a enfermidade evolui como infecção benigna, em saúde pública, torna-se necessária uma investi- limitada à pele e ao tecido subcutâneo (BRUM gação epidemiológica no Nordeste brasileiro, em et al., 2007), sendo essa forma da esporotricose virtude da escassez de descrições do S. schenckii denominada cutânea e correspondendo à que aco- nesta região. metia o animal do presente relato. A cidade de Mossoró, RN, na qual foi diag- REFERÊNCIAS nosticada a esporotricose canina, encontra-se sob influência do clima tropical (BAPTISTA et al., BAPTISTA, G. M. M.; CARVALHO, J. M.; CAMACHO, 2005), estando de acordo com a epidemiologia R. G. V.; BIAS, E. S.; ZARA, L. F. Variação sazonal da vegetação e da temperatura de superfície em Mossoró, RN, do agente, o qual pode estar presente em regiões por meio de dados ASTER. In: SIMPÓSIO BRASILEIRO tropicais (SCHUBACH & SCHUBACH, 2000). DE SENSORIAMENTO REMOTO, 12., 2005, Goiânia. O diagnóstico presuntivo pela citopatologia as- Anais... Goiânia, 2005. p.2843-2850. sim como o diagnóstico definitivo pela cultura podem ser dificultados pela reduzida quantidade BRUM, L. C.; CONCEIÇÃO, L. G.; RIBEIRO, V. M.; do S. schenckii nos tecidos e secreções dos cães. HADDAD JÚNIOR, V. Principais dermatoses zoonóticas de Apesar de ser pouco frequente, a esporotricose cães e gatos. Clínica Veterinária, n. 69, p. 29-46, 2007. canina deve sempre ser considerada no diagnóstico CHIESA, S. C. Esporotricose: aspectos clínicos e tera- diferencial de lesões pápulo-nodulares ulceradas pêuticos. In: CONGRESSO PAULISTA DE CLÍNICOS ou não, exsudativas, com ou sem linfadenite VETERINÁRIOS DE PEQUENOS ANIMAIS, 7., 2007, regional e não responsivas à antibioticoterapia São Paulo. Anais... São Paulo: ANCLIVEPA-SP, 2007. p. (RAMADINHA et al., 2006). Com relação ao 76-78. tratamento, o itraconazol tem se mostrado eficaz e seguro na terapia da esporotricose cutânea, em FARIAS, M. R. Avaliação clínica, citopatológica e his- detrimento dos iodetos e cetoconazol, pelos efeitos topatológica seriada da esporotricose em gatos (Felis catus – Linnaeus, 1758) infectados experimentalmente. indesejáveis desses agentes antifúngicos (JESUS 2000. 97 f. Dissertação (Mestrado em Clínica Veterinária) & MARQUES, 2006). A terapia com o itraconazol – Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia, Univer- é realizada por um período mínimo de dois meses sidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, Botucatu, e continuidade de trinta dias após cura clínica São Paulo, 2000. (CHIESA, 2007). Para o sucesso terapêutico, é necessário que o tratamento prossiga até que as GREMIÃO, I. D. F.; LEME, L. R. P.; PEREIRA, S. A.; lesões cicatrizem e as culturas sejam negativas SANTOS, I. B.; HONSE, C. O.; FIGUEIREDO, F. B.; TROTE, M. N. S.; NASCIMENTO, K. C. S.; MIRANDA, (BRUM et al., 2007). Nos felinos, a esporotricose L. H. M.; SILVA, J. N.; REIS, R. S.; SCHUBACH, T. M. apresenta um potencial zoonótico significante en- P. Importância do exame citopatológico no diagnóstico quanto que, em cães, a doença tem um potencial presuntivo da esporotricose felina naturalmente adquirida. zoonótico mínimo (SCHUBACH & SCHUBACH, Anclivepa Brasil, n. 3, p.163-164, 2005. 2000). Contudo, deve-se ter precaução ao se lidar com caninos infectados, exsudatos ou materiais HARVEY, R. G.; McKEEVER, P. J. Dermatoses ulcerati- contaminados desses animais (HARVEY & vas: esporotricose. In: HARVEY, R. G.; McKEEVER, P. J. Manual colorido de dermatologia do cão e do gato: McKEEVER, 2004). Ciência Animal Brasileira, v. 10, n. 2, p. 673-677, abr./jun. 2009
  • 5. Esporotricose na espécie canina: relato de um caso na cidade de Mossoró, RN 677 diagnóstico e tratamento. Rio de Janeiro: Revinter, 2004. SANTOS, I. B.; OKAMOTO, T.; SCHUBACH, T. M. P.; p.104-105. FIGUEIREDO, F. B.; QUINTELLA, L. P.; PEREIRA, S. A.; LEME, L. R. P.; HONSE, C. O.; REIS, R. S.; TORTELLY, JESUS, J. R.; MARQUES, S. M. T. Esporotricose cutânea R; SCHUBACH, A. O. Esporotricose espontânea em cães: em gato: relato de caso. Clínica Veterinária, n. 65, p.72- aspectos histopatológicos e micológicos. Arquivo Brasi- 74, 2006. leiro de Medicina Veterinária e Zootecnia, v. 57, supl.1, p. 76-77, 2005. MADRID, I. M.; SANTOS JÚNIOR, R.; SAMPAIO JÚ- NIOR, D. P.; MUELLER, E. N.; DUTRA, D.; NOBRE, M. SCHUBACH, T. M. P.; SCHUBACH, A. O. Esporotricose O.; MEIRELES, M. C. A. Esporotricose canina: relato de em gatos e cães: revisão. Clínica Veterinária, n. 29, p. três casos. Acta Scientiae Veterinariae, v. 35, n.1, p.105- 21-24, 2000. 108, 2007. SCOOT, D. W.; MILLER, W. H.; GRIFFIN, C. E. Doenças MEDLEAU, L.; HNILICA, K. A. Micoses cutâneas esporo- fúngicas da pele: esporotricose. In: SCOOT, D. W.; MILLER, W. tricose. In: MEDLEAU, L.; HNILICA, K. A. Dermatologia H.; GRIFFIN, C. E. Muller & Kirk: dermatologia de pequenos de pequenos animais: atlas colorido e guia terapêutico. São animais. 5. ed. Rio de Janeiro: Interlivros, 1996. p. 333-336. Paulo: Roca, 2003. p. 51-52. SONODA, M. C.; OTSUKA, M.; FERRER, L. C.; FOND- RAMADINHA, R. H. R.; AZEVEDO, S. C. S.; SOUZA, VILLA, D.; MICHALANY, N. S.; VIEIRA, S. A. M.; C. P.; CAMPOS, S. G. Esporotricose em cães: relato de 2 GAMBALE, W.; LARSSON, C. E. Esporotricose canina: casos. In: CONGRESSO BRASILEIRO DA ANCLIVEPA, relato de caso insólito em São Paulo. In: CONGRESSO 27., 2006, Vitória. Anais... Vitória: ANCLIVEPA-ES, 2006. BRASILEIRO DA ANCLIVEPA, 27., 2006, Vitória. p. 46. Anais... Vitória: ANCLIVEPA-ES, 2006. p. 21. Protocolado em: 24 out. 2007. Aceito em: 23 out. 2008. Ciência Animal Brasileira, v. 10, n. 2, p. 673-677, abr./jun. 2009