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10 Setembro 2004
O Histórico da Evolução do Fuzil de Assalto,
a Atualidade e o Contexto Brasileiro
Alexandre Beraldi
Alexberaldi@ibest.com.br
Especialista e Estudioso em Armas Leves
Nota: As opiniões apresentadas nesse artigo são do
autor e não representam posição de nenhum
Órgão do Governo Brasileiro
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O Histórico da Evolução do Fuzil de Assalto,
a Atualidade e o Contexto Brasileiro
Alexandre Beraldi
Alexberaldi@ibest.com.br
Especialista e Estudioso
em Armas Leves
Histórico
Desde seu surgimento, em plena Segunda Guerra Mundial, o Fuzil de
Assalto passou por uma constante evolução, visando adequar-se às
necessidades cada vez mais específicas da guerra moderna. Seu
surgimento deu-se quando os analistas militares perceberam que, ao
contrário do ocorrido na Primeira Guerra Mundial, esta de então – a
Segunda – não mais se caracterizava pelo combate estático em
trincheiras, com disparos de longo alcance e exércitos inteiros estáticos
e imobilizados em linhas de frente bem definidas. Ao contrário: o
advento da guerra de movimento, a difusão da arma blindada e os
avanços na artilharia impediram a colocação de tropas em posições
estáticas, sob o risco de serem dizimadas pela combinação fogo
indireto-avanço blindado com apoio de infantaria. É este o contexto do
surgimento da nova arma: o infante agora combatia em distâncias
menores – por vezes em cidades, que se constituíam em um campo de
combate inexplorado até então – seus alvos eram móveis e, por vezes,
em grande quantidade; ao contrário dos avanços em campo aberto,
agora eles se expunham por um curto período de tempo; não havia
mais o apoio de fogo instantâneo das metralhadoras para saturar o
inimigo, pois este era subitamente encontrado e as armas de apoio
necessitavam de alguns segundos para serem montadas em seus
reparos; entre outras novidades que se apresentaram aos estrategistas
no novo conflito.
Este cenário fez com que certas armas fossem modificadas para
adaptarem-se à nova realidade, como ocorreu com as metralhadoras:
como forma de aumentar sua agilidade no campo de batalha, ganharam
reparos do tipo bipé e coronhas, deixando os até então exclusivamente
utilizados reparos tripé para situações específicas; por outro lado, outras
armas já existentes tomaram uma posição de destaque, como foi o caso
da submetralhadora que, a exemplo das MP38/40 alemãs e das
Thompson americanas, viram-se extremamente favorecidas por suas
características inerentes: fogo supressivo instantâneo, grande
capacidade de munição e pequenas dimensões – tornando-as ideais
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para os combates de então – sendo este também o caso da Carabina
M1, do fuzil BAR e do próprio fuzil M1 Garand: o maior poder de fogo e
velocidade de tiro destas armas, quando comparadas ao fuzil de ação
manual, deram-nas a supremacia nos combates.
Porém a situação ainda não era vista como ideal: os fuzis Garand e BAR
eram grandes, pesados e desajeitados para o uso nas cidades e nas
florestas, além de sua munição extremamente potente não permitir
rápidas seqüências de tiro com a precisão desejada. Já o problema da
submetralhadora era o oposto: sua extrema mobilidade era tida como
ideal, porém sua munição não tinha o poder destrutivo necessário para
o combate em áreas edificadas, para o fogo a médias distâncias ou para
deter o inimigo com um só disparo. É justamente para sanar os defeitos
e unir as qualidades destas armas que surge o fuzil de assalto:
primeiramente o FG-42 (que demonstrou que não bastava diminuir o
peso e aumentar a capacidade de tiro: a munição de então, o
7,92x57mm, era super-dimensionada para a tarefa, tornando o fogo
automático preciso impraticável), seguido pelos MP-43 e MP-44 (“MP”
ainda de MachinenPistole – Submetralhadora), finalmente denominado
Stg.44 (“Stg.” de SturmGewehr – Fuzil de Assalto), de fato o primeiro
fuzil de assalto, que tinha como características a compaticidade, a
grande capacidade de tiro, a possibilidade de fogo automático e um
calibre intermediário, o 7,92x33mm.
A Evolução
Fuzil FG-42
Fuzil Stg.44
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A Segunda Grande Guerra serviu de base para que todos os exércitos
reformulassem suas doutrinas com base nas lições apreendidas, sendo
unanimidade a adoção do Fuzil de Assalto como arma base da infantaria
na década seguinte.
A evolução do Fuzil de Assalto pode ser dividida em gerações, sendo
que, a cada salto evolutivo, vemos novas características predominantes
nesta classe de armas, havendo, porém, modelos que não apresentam
todas as características em conjunto, ou, ainda, aqueles que mesclam
traços de uma geração posterior com aqueles de gerações bem
anteriores. Grosso modo, podem ser assim divididos:
A primeira geração de Fuzis de Assalto, surgida nos anos 50,
caracteriza-se pela construção combinando a caixa da culatra usinada
em aço com as guarnições em madeira, e pelo uso de calibres
intermediários, porém extremamente potentes, tais como o
7,62x51mm, no Bloco Ocidental, e o 7,62x39mm, no Bloco Oriental. São
exemplos notórios desta geração:O M-14 norte-americano e seus
derivados, tal como o BM-59 italiano; o FAL belga e todas suas variantes
de diversas origens; o H&K G-3 alemão e suas cópias; e, o ícone, o AK-
47 e todas suas cópias e derivações, como o Type 56, o Valmet, o Galil
cal. 7,62x51mm, entre alguns outros.
A segunda geração, nascida nos anos 60, buscou uma maior economia e
facilidade de produção, além da redução de peso, caracterizando-se pela
construção em aço estampado ou ligas metálicas leves, como o
alumínio, e pelo uso de guarnições plásticas. São exemplos desta
geração: o AR-15/M-16 norte-americano, que foi além, buscando
também uma munição mais leve e barata, e o AKM russo.
Fuzil AK-47 Fuzil FAL
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Uma “segunda geração e meia”, surgida nos anos 70, marcou a
consolidação da munição mais leve como a ideal para esta classe de
arma, sendo exemplos: o AR-18 norte-americano, AR-70 italiano, o FNC
belga, o Galil cal. 5,56x45mm israelense, o H&K 33 alemão, o Sig 540
suíço e o AK-74 russo.
A terceira geração, surgida nos anos 80, buscou a maior compaticidade
da arma, com a adoção de fuzis com configuração do tipo Bullpup (caixa
de culatra assumindo o lugar da coronha), uma redução ainda maior de
Fuzil M-16 Fuzil AKM
Fuzil AR-18 Fuzil AR-70
Fuzil GALIL Fuzil FNC
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peso – caracterizada pelo emprego de materiais de nova geração, como
os polímeros – e uma nascente preocupação com sistemas de pontaria
mais eficientes, sendo exemplos desta fase: O Steyr Aug suíço, o FAMAS
francês e o L-85 inglês, entre outros.
Já ao final dos anos 90 surge a quarta geração, a atual, caracterizada
pela modularidade: em virtude do surgimento de novos cenários, vão
chegando até o soldado de infantaria meios de tecnologia cada vez mais
avançada, tornando-se de uso essencial, sob pena de não dar a mínima
chance de sobrevivência aos que assim não procedem – como, por
exemplo, o uso de equipamentos de visão noturna em conjunto com o
armamento individual, pra estender pelas vinte e quatro horas do dia a
capacidade de emprego eficiente da tropa. É mandatório, então, que o
armamento do infante esteja apto a incorporar estes
acessórios/atualizações de forma imediata, bem como desincorporá-los
quando a situação não os exigir, seja para uma redução de peso, seja
para preservação de componentes sensíveis.
Surgem então as versões do AR-15/M-16/M-4 com os “Rail Interface
System”, ou sistema de interface através de trilhos de fixação, que
permite a incorporação ao Fuzil de Assalto de acessórios diversos, tais
como: equipamentos de visão noturna, miras laser, aparelhos de
pontaria óticos com ou sem ampliação de imagem (lunetas e miras do
tipo “red dot” – ponto vermelho), lançadores de granada, espingardas
calibre 12, etc., tudo para melhor adequar a arma ao ambiente, à
missão e à função daquele que a porta.
Fuzil FAMAS
Fuzil STEYR AUG
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É patente também nesta fase a predileção pelas já citadas miras do tipo
“ponto-vermelho”, tais como as Aimpoint Comp M (adotadas pelo
Exército Norte-Americano), as Mepor 21 (adotadas pelo Exército de
Israel), as H&k (adotadas pelo Exército Alemão) e as Trijicon, entre
outras, que por reduzirem em até 75% o tempo para efetuar-se a
visada necessária a um tiro preciso (segundo estudos do próprio
Exército Norte-Americano), tornaram-se equipamentos essenciais à
sobrevivência nos conturbados e velozes engajamentos presentes no
combate moderno.
Os exemplos de armas desta quarta geração são: a família M-16 A3/A4
RIS e o M-4 SOPMOD norte-americanos, o Tavor israelense, o F2000
belga, o G-36/XM-8 alemão, bem como as evoluções de fuzis de
gerações anteriores que buscam incorporar estas atualizações.
Não obstante toda esta modernidade, já há traços no horizonte de uma
nova geração de fuzis de assalto, a quinta geração: na realidade são
armas conjugadas, incorporando ao fuzil de assalto, um lançador de
granadas - este normalmente com espoletas programáveis – além de
sistemas de controle de tiro computadorizados, capacidade de
identificação de amigo/inimigo e visada indireta (esta através de
câmeras fixadas à arma, com imagem transmitida a um visor afixado ao
capacete).
Esta nova geração de armas, que deve entrar em serviço já na próxima
década, incorpora as últimas lições aprendidas nos recentes conflitos do
Golfo e do Afeganistão, além de estudos e projeções que mostram que
os combates futuros serão essencialmente urbanos – haja vista que no
ano de 2010 teremos 85% da população mundial vivendo em cidades –,
rápidos e com emprego maciço de sistemas de informação e armas de
precisão, sendo vital para o infante a capacidade de saber onde ele
Fuzil M-4 SOPMOD com
Espingarda Semi-Automática
XM-26
Exemplo da Modularidade
do Fuzil XM-8
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próprio está, onde está o inimigo, visualizá-lo e neutralizá-lo, mesmo
que este se encontre abrigado, e, preferencialmente, estando ele
próprio protegido. São exemplos desta nova geração: o atualmente
cancelado XM-29, substituído pela combinação XM-8/XM-25 norte-
americanos (com interesse e sob observação por parte de outros países
da OTAN), o PAPOP francês, versões atualizadas do F2000 belga, além
de sistemas similares ingleses, israelenses, australianos, italianos,
suecos, entre outros.
O Caso do Brasil
A crônica falta de verbas para as Forças Armadas Brasileiras, que por
vezes chega a ser insuficiente para a própria manutenção administrativa
do poder militar nacional, e que também afeta as Instituições Policiais,
entre outros fatores, têm sido responsáveis pela defasagem tecnológica
e pela obsolescência do material de emprego militar da nação,
contrastando com a pretensão política de que o país tenha projeção
internacional e venha a ocupar um assento no Conselho de Segurança
das Nações Unidas. É um contra-senso que beira o ridículo: algo como
querer participar de uma corrida de Fórmula 1 montado em um carrinho
de rolimã... Porém, a despeito das dificuldades, nossos militares
continuam tentando manter um padrão mínimo desejável, mesmo que
em alguns poucos núcleos de excelência, para que num futuro
hipotético, quando algum “iluminado” que for eleito chefe da nação vier
a dar-se conta do estado deplorável em que as coisas se encontram, e,
por fim, resolver solucionar o estrago, o “gap” tecnológico a ser vencido
não seja tão grande a ponto de ser intransponível.
É neste contexto que se insere a IMBEL. O corpo de técnicos e
engenheiros da empresa é de fato extremamente competente, e
conseguem com poucos recursos, produzir armas de extrema qualidade,
buscando, dentro de suas limitações tecnológicas, fornecer o melhor
possível aos diversos usuários a nível mundial. Prova disso é o sucesso
Versão Atual do Fuzil PAPOP
Fuzil XM-29
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na comercialização de produtos já defasados tecnologicamente mas que,
devido à extrema qualidade e perfeição com que são produzidos, ainda
conquistam compradores, como é o caso das peças base fornecidas para
a Springfield norte-americana, que procede então à montagem e ajuste
das Pistolas calibre .45 das equipes especiais do FBI.
Ocorre que, justamente agora quando se sedimenta a intenção de
substituir os nossos velhos e cansados – e pesados – FAL M964, por
uma arma mais avançada e adequada aos tempos modernos, perde-se
uma enorme oportunidade de dar-se um salto tecnológico que, de fato,
recolocaria a IMBEL em condições de competitividade no cenário
mundial.
Tomemos como exemplo a EMBRAER: da mesma maneira que a IMBEL
foi criada para produzir produtos de interesse do Exército, contando com
um corpo de engenheiros e projetistas capacitados para tal, foi criada a
EMBRAER para servir à FAB, produzindo aeronaves que, da mesma
maneira, obtinham sucesso no mercado internacional (Tucano,
Bandeirante, Brasília). Porém, a FAB, que ansiava por uma aeronave de
alto desempenho, sabia que o estudo, projeto, aperfeiçoamento e, por
conseqüência, o tempo necessários para o desenvolvimento de todas as
tecnologias envolvidas, teriam um custo por demais proibitivo para os
parcos orçamentos da Arma Aérea. Partiu-se, então, para um projeto
conjunto com uma empresa que já dominava boa parte do ciclo de
produção e, com os ganhos em know-how, foi possível a consecução do
objetivo inicial – que se traduziu no caça-bombardeio A-1 (AMX) –, além
de um verdadeiro salto de tecnologia e qualidade nos produtos da
empresa, sendo que o resto da história todos já conhecem.
É o caso a ser aplicado à IMBEL: o fuzil de assalto MD97 é, em seu atual
estágio, nada mais do que um fuzil de “segunda geração e meia”.
Apesar de ser adequado para substituir um de primeira geração, como é
o caso do FAL M964, ainda está longe do daquilo que se espera para um
país que pretende ocupar um assento no Conselho de Segurança. Não
proponho a pesquisa e produção imediata de uma arma de quinta
geração, pois os custos para isso são extremamente proibitivos, mas há
uma solução melhor e atingível para o caso.
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O fuzil de assalto mais festejado atualmente é o alemão Heckler & Koch
G36 e suas variantes. Enquanto a capacidade dos alemães produzirem
armas de fogo que beiram a perfeição está acima de qualquer
questionamento – o que é notório até mesmo por parte do Exército
Brasileiro, que utilizou fuzis Mauser por mais de meio século – deve ser
notado que o fuzil G36, apesar de ser praticamente um “novato” no
cenário mundial, tem, como o antigo Mauser, uma história que já se
mostra promissora: é o fuzil de dotação das Forças Armadas da
Alemanha e da Espanha (este último, um país que também tem uma
indústria de armas extremamente tradicional, possuía um fuzil de
assalto moderno de fabricação própria, mas, mesmo assim, rendeu-se
diante da superioridade do projeto alemão, produzindo-o sob licença);
é, provavelmente, o próximo fuzil de dotação do Exército Inglês que,
insatisfeito com seu L85 A1, já o adotou para uso por parte de suas
forças especiais – SAS e SBS; além destas, já é utilizado por inúmeras
outras forças especiais, militares ou não, mundo afora, tendo sempre
suas qualidades ressaltadas; e, como coroamento, está preste a ser
adotado pelo Exército Norte-Americano – a força militar com maior
experiência de combate da história recente – em sua versão adaptada
às necessidades modernas, o XM-8.
Fuzil MD97 LC com coronha fixa
Fuzil MD97 LC com coronha rebatível
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Façamos uma comparação: um fuzil MD97, construído em liga de
alumínio, pesa vazio, sem bandoleira e sem carregador, exatos 3,7 Kg.
Suas miras são mecânicas e ele possui, opcionalmente, um trilho na
cobertura da caixa da culatra que pode receber certos acessórios, tais
como miras ponto-vermelho, miras laser, intensificadores de luz, etc.,
mas tudo isto não está incluso em seu peso vazio... Já um fuzil de
assalto XM-8 pesa, equipado com uma mira de ponto-vermelho, uma
mira laser e um iluminador integrais (sendo os dois últimos em
freqüência infravermelha, para uso dissimulado em conjunto com
Óculos de Visão Noturna), além de sua bandoleira e sua baioneta
multifuncional, bem como municiado com dois carregadores completos
acoplados lado a lado, perfazendo um total de sessenta cartuchos, os
mesmos 3,7 Kg. A vantagem tática é evidente: uma arma
completamente equipada e municiada, pesando o mesmo que outra
completamente vazia, sem ao menos sua bandoleira ou carregador. Há
que ser considerado também o fato de que o XM-8 é construído
predominantemente de polímeros – inclusive seu carregador, que é
translúcido –, sendo portanto de manutenção e conservação mais fáceis,
além de possuir maior durabilidade quando submetido a abusos
mecânicos ou intempéries. Tudo isso, somado ao fato que um MD97
sem acessórios custa, aproximadamente R$ 1.200,00, ao passo que um
XM-8 completamente equipado da forma acima descrita, à exceção da
munição e do segundo carregador, tem o preço de venda no mercado
internacional previsto para ser aproximadamente R$ 1.750,00 (US$
600,00), ao dólar da primeira semana de setembro de 2004. É óbvio
que uma eventual produção sob licença poderia baratear ainda mais os
custos...
Fuzil G36 E Fuzil XM-8
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É esta exatamente a proposta: ao invés de produzir-se o MD97 – o que,
nos dias de hoje, equivaleria a abrir uma linha de produção de F-5E para
a FAB, ou de Leopard 1 A1 para o EB – produzir-se-ia sob licença o fuzil
de assalto XM-8, de quarta geração. A IMBEL ganharia know-how na
área de armas de construção em polímero, equipamentos óticos e de
pontaria laser, sendo plenamente capaz de absorver todo o
conhecimento e reaplicá-lo na criação de novos e modernos produtos,
contando com o excelente pessoal que possui, e o EB, e desejavelmente
as outras Forças, contariam com um fuzil de assalto extremamente
atualizado e capaz, por um preço equivalente.
Versão Compacta do Fuzil XM- 8 –
note a coronha retrátil similar à da
Submetralhadora MP5 A3/A5
Versão LMG (Metralhadora Leve)
do Fuzil XM-8 – note o carregador
Beta C-Mag para 100 cartuchos e
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É certo que alguns seguidores do “nacionalismo burro” dirão: mas aí
estaremos trocando um produto estrangeiro por um nacional... No que
pergunto: o que é o FAL, ou o que são as pistolas IMBEL M911A1, ou
ainda, o que é a submetralhadora Taurus MT-12 ou a pistola Taurus PT-
92, senão TODAS armas produzidas sob licença? Suas tecnologias foram
adquiridas e posteriormente aperfeiçoadas, dando origem a novos e
melhores produtos: MD97, pistolas IMBEL GC e MD4, submetralhadora
MT-12A e as inúmeras pistolas da linha Taurus.
Versão atual do Fuzil XM- 8 –
caracteriza-se, entre outras coisas,
pela possibilidade de colocação do
botão acionador remoto e sem fio
do apontador laser em várias
posições na arma, possuindo, para
tanto, diversos encaixes.
Fuzil XM-8 desmontado – note o
reduzido número de componentes
e a construção quase que
inteiramente em polímero. Pode-se
perceber também o sistema de
operação por tomada de gases
idêntico ao do G36 – confiabilidade
e simplicidade baseados nos fuzis
AK-47 e AR-18.
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E não é só no campo da produção de armas em si que tal atitude se
mostraria promissora: não podemos nos esquecer que o XM-8 é a base
inicial sobre a qual se assenta todo o desenvolvimento do Programa
Land Warrior do Exército Norte-Americano. Através deste programa, o
soldado receberá e enviará dados aos Centros de Comando e Controle,
entrando no conceito de Network Centric Warfare, sendo, desta
maneira, considerado também uma plataforma, tal qual um caça ou um
Carro de Combate conectado ao sistema. É o futuro inescapável para o
qual seguem todos os exércitos, senão vejamos, entre outros, os
Programas: FELIN (França), FIST (Inglaterra), System Soldat
Infanterist der Zukunft - IdZ (Alemanha), Integrated Protective
Clothing and Equipment-IPCE (Canadá), Land 125 Soldier Combat
System " Wundurra" (Austrália), Soldato Futuro (Itália), ANOG
(Israel), Markus (Suécia), Wolf/Soldier 2000, Individual Soldier's
Military Equipment Set 2000 (Rússia) e até o African Warrior
(África do Sul), estes dois últimos com especial destaque, por se
Extrato de uma apresentação para o US Army da versão II do Fuzil XM-8 – note o
jogo de miras mecânicas e reguláveis como back-up do visor combinado ( mira red-
dot, apontador e iluminador laser), a proteção contra aquecimento do guarda-mão
frontal, a coronha retrátil opcional tipo MP5 e, não visível no desenho, o novo
sistema de controles (seletor de tiro, retém do carregador e do ferrolho) totalmente
acessíveis pelos dedos da mão que empunha o pistol grip.
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tratarem de países com os quais o Brasil buscou recentemente um
alinhamento tecnológico-militar. Ou seja, os países que recentemente
viram, ou ainda vêem, combate real, ou ainda outros que
tradicionalmente sempre estão no topo da tecnologia bélica, já
acordaram para o fato de que o comando, o controle, as comunicações e
a identificação em combate, seja entre pequenas unidades, ou até
mesmo entre os integrantes dos Grupos de Combate, já não são mais
satisfatórias se feitas “na base do grito” ou através de gestos ou
sinais: simplesmente não é ágil o suficiente e não funciona para o
combate moderno.
Se “perdermos este bonde”, a próxima Operação da ONU a qual nos
propusermos participar em um provável futuro próximo, pode resultar
em nossos soldados sendo impossibilitados de conectarem-se com as
eventuais Forças de Coalizão e, por isso mesmo, serem expostos ao
risco desnecessário da desorientação em combate, ou até mesmo do
“fogo amigo”.
É chegada a hora de um novo salto tecnológico.
Crédito Fotos
1- Fuzis de Assalto (páginas 2-9)
Cortesia de Max Popenker, do Website www.guns.ru
2- Fuzil XM-8 ( páginas 9-13) Arquivo Alexandre Beraldi
Artigo Relacionado:
0 Novo Fuzil 5,56 Imbel
http://www.defesanet.com.br/eb/fuzil556.pdf
Sobre o Autor:
Alexandre Beraldi - Especialista e estudioso de material bélico, com
profundos conhecimentos nas áreas de armamento leve de emprego
individual e coletivo de origem Ocidental e do antigo bloco Soviético,
bem como suas respectivas munições de uso geral e uso especializado,
além de seus acessórios. Participou em inúmeras situações de crise com
emprego real de armas de fogo e foi Vice-campeão brasileiro de tiro
com arma longa (1998).

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Evolução do fuzil de assalto

  • 1. www.defesanet.com.br 1 www.defesanet.com.br 10 Setembro 2004 O Histórico da Evolução do Fuzil de Assalto, a Atualidade e o Contexto Brasileiro Alexandre Beraldi Alexberaldi@ibest.com.br Especialista e Estudioso em Armas Leves Nota: As opiniões apresentadas nesse artigo são do autor e não representam posição de nenhum Órgão do Governo Brasileiro
  • 2. www.defesanet.com.br 2 O Histórico da Evolução do Fuzil de Assalto, a Atualidade e o Contexto Brasileiro Alexandre Beraldi Alexberaldi@ibest.com.br Especialista e Estudioso em Armas Leves Histórico Desde seu surgimento, em plena Segunda Guerra Mundial, o Fuzil de Assalto passou por uma constante evolução, visando adequar-se às necessidades cada vez mais específicas da guerra moderna. Seu surgimento deu-se quando os analistas militares perceberam que, ao contrário do ocorrido na Primeira Guerra Mundial, esta de então – a Segunda – não mais se caracterizava pelo combate estático em trincheiras, com disparos de longo alcance e exércitos inteiros estáticos e imobilizados em linhas de frente bem definidas. Ao contrário: o advento da guerra de movimento, a difusão da arma blindada e os avanços na artilharia impediram a colocação de tropas em posições estáticas, sob o risco de serem dizimadas pela combinação fogo indireto-avanço blindado com apoio de infantaria. É este o contexto do surgimento da nova arma: o infante agora combatia em distâncias menores – por vezes em cidades, que se constituíam em um campo de combate inexplorado até então – seus alvos eram móveis e, por vezes, em grande quantidade; ao contrário dos avanços em campo aberto, agora eles se expunham por um curto período de tempo; não havia mais o apoio de fogo instantâneo das metralhadoras para saturar o inimigo, pois este era subitamente encontrado e as armas de apoio necessitavam de alguns segundos para serem montadas em seus reparos; entre outras novidades que se apresentaram aos estrategistas no novo conflito. Este cenário fez com que certas armas fossem modificadas para adaptarem-se à nova realidade, como ocorreu com as metralhadoras: como forma de aumentar sua agilidade no campo de batalha, ganharam reparos do tipo bipé e coronhas, deixando os até então exclusivamente utilizados reparos tripé para situações específicas; por outro lado, outras armas já existentes tomaram uma posição de destaque, como foi o caso da submetralhadora que, a exemplo das MP38/40 alemãs e das Thompson americanas, viram-se extremamente favorecidas por suas características inerentes: fogo supressivo instantâneo, grande capacidade de munição e pequenas dimensões – tornando-as ideais
  • 3. www.defesanet.com.br 3 para os combates de então – sendo este também o caso da Carabina M1, do fuzil BAR e do próprio fuzil M1 Garand: o maior poder de fogo e velocidade de tiro destas armas, quando comparadas ao fuzil de ação manual, deram-nas a supremacia nos combates. Porém a situação ainda não era vista como ideal: os fuzis Garand e BAR eram grandes, pesados e desajeitados para o uso nas cidades e nas florestas, além de sua munição extremamente potente não permitir rápidas seqüências de tiro com a precisão desejada. Já o problema da submetralhadora era o oposto: sua extrema mobilidade era tida como ideal, porém sua munição não tinha o poder destrutivo necessário para o combate em áreas edificadas, para o fogo a médias distâncias ou para deter o inimigo com um só disparo. É justamente para sanar os defeitos e unir as qualidades destas armas que surge o fuzil de assalto: primeiramente o FG-42 (que demonstrou que não bastava diminuir o peso e aumentar a capacidade de tiro: a munição de então, o 7,92x57mm, era super-dimensionada para a tarefa, tornando o fogo automático preciso impraticável), seguido pelos MP-43 e MP-44 (“MP” ainda de MachinenPistole – Submetralhadora), finalmente denominado Stg.44 (“Stg.” de SturmGewehr – Fuzil de Assalto), de fato o primeiro fuzil de assalto, que tinha como características a compaticidade, a grande capacidade de tiro, a possibilidade de fogo automático e um calibre intermediário, o 7,92x33mm. A Evolução Fuzil FG-42 Fuzil Stg.44
  • 4. www.defesanet.com.br 4 A Segunda Grande Guerra serviu de base para que todos os exércitos reformulassem suas doutrinas com base nas lições apreendidas, sendo unanimidade a adoção do Fuzil de Assalto como arma base da infantaria na década seguinte. A evolução do Fuzil de Assalto pode ser dividida em gerações, sendo que, a cada salto evolutivo, vemos novas características predominantes nesta classe de armas, havendo, porém, modelos que não apresentam todas as características em conjunto, ou, ainda, aqueles que mesclam traços de uma geração posterior com aqueles de gerações bem anteriores. Grosso modo, podem ser assim divididos: A primeira geração de Fuzis de Assalto, surgida nos anos 50, caracteriza-se pela construção combinando a caixa da culatra usinada em aço com as guarnições em madeira, e pelo uso de calibres intermediários, porém extremamente potentes, tais como o 7,62x51mm, no Bloco Ocidental, e o 7,62x39mm, no Bloco Oriental. São exemplos notórios desta geração:O M-14 norte-americano e seus derivados, tal como o BM-59 italiano; o FAL belga e todas suas variantes de diversas origens; o H&K G-3 alemão e suas cópias; e, o ícone, o AK- 47 e todas suas cópias e derivações, como o Type 56, o Valmet, o Galil cal. 7,62x51mm, entre alguns outros. A segunda geração, nascida nos anos 60, buscou uma maior economia e facilidade de produção, além da redução de peso, caracterizando-se pela construção em aço estampado ou ligas metálicas leves, como o alumínio, e pelo uso de guarnições plásticas. São exemplos desta geração: o AR-15/M-16 norte-americano, que foi além, buscando também uma munição mais leve e barata, e o AKM russo. Fuzil AK-47 Fuzil FAL
  • 5. www.defesanet.com.br 5 Uma “segunda geração e meia”, surgida nos anos 70, marcou a consolidação da munição mais leve como a ideal para esta classe de arma, sendo exemplos: o AR-18 norte-americano, AR-70 italiano, o FNC belga, o Galil cal. 5,56x45mm israelense, o H&K 33 alemão, o Sig 540 suíço e o AK-74 russo. A terceira geração, surgida nos anos 80, buscou a maior compaticidade da arma, com a adoção de fuzis com configuração do tipo Bullpup (caixa de culatra assumindo o lugar da coronha), uma redução ainda maior de Fuzil M-16 Fuzil AKM Fuzil AR-18 Fuzil AR-70 Fuzil GALIL Fuzil FNC
  • 6. www.defesanet.com.br 6 peso – caracterizada pelo emprego de materiais de nova geração, como os polímeros – e uma nascente preocupação com sistemas de pontaria mais eficientes, sendo exemplos desta fase: O Steyr Aug suíço, o FAMAS francês e o L-85 inglês, entre outros. Já ao final dos anos 90 surge a quarta geração, a atual, caracterizada pela modularidade: em virtude do surgimento de novos cenários, vão chegando até o soldado de infantaria meios de tecnologia cada vez mais avançada, tornando-se de uso essencial, sob pena de não dar a mínima chance de sobrevivência aos que assim não procedem – como, por exemplo, o uso de equipamentos de visão noturna em conjunto com o armamento individual, pra estender pelas vinte e quatro horas do dia a capacidade de emprego eficiente da tropa. É mandatório, então, que o armamento do infante esteja apto a incorporar estes acessórios/atualizações de forma imediata, bem como desincorporá-los quando a situação não os exigir, seja para uma redução de peso, seja para preservação de componentes sensíveis. Surgem então as versões do AR-15/M-16/M-4 com os “Rail Interface System”, ou sistema de interface através de trilhos de fixação, que permite a incorporação ao Fuzil de Assalto de acessórios diversos, tais como: equipamentos de visão noturna, miras laser, aparelhos de pontaria óticos com ou sem ampliação de imagem (lunetas e miras do tipo “red dot” – ponto vermelho), lançadores de granada, espingardas calibre 12, etc., tudo para melhor adequar a arma ao ambiente, à missão e à função daquele que a porta. Fuzil FAMAS Fuzil STEYR AUG
  • 7. www.defesanet.com.br 7 É patente também nesta fase a predileção pelas já citadas miras do tipo “ponto-vermelho”, tais como as Aimpoint Comp M (adotadas pelo Exército Norte-Americano), as Mepor 21 (adotadas pelo Exército de Israel), as H&k (adotadas pelo Exército Alemão) e as Trijicon, entre outras, que por reduzirem em até 75% o tempo para efetuar-se a visada necessária a um tiro preciso (segundo estudos do próprio Exército Norte-Americano), tornaram-se equipamentos essenciais à sobrevivência nos conturbados e velozes engajamentos presentes no combate moderno. Os exemplos de armas desta quarta geração são: a família M-16 A3/A4 RIS e o M-4 SOPMOD norte-americanos, o Tavor israelense, o F2000 belga, o G-36/XM-8 alemão, bem como as evoluções de fuzis de gerações anteriores que buscam incorporar estas atualizações. Não obstante toda esta modernidade, já há traços no horizonte de uma nova geração de fuzis de assalto, a quinta geração: na realidade são armas conjugadas, incorporando ao fuzil de assalto, um lançador de granadas - este normalmente com espoletas programáveis – além de sistemas de controle de tiro computadorizados, capacidade de identificação de amigo/inimigo e visada indireta (esta através de câmeras fixadas à arma, com imagem transmitida a um visor afixado ao capacete). Esta nova geração de armas, que deve entrar em serviço já na próxima década, incorpora as últimas lições aprendidas nos recentes conflitos do Golfo e do Afeganistão, além de estudos e projeções que mostram que os combates futuros serão essencialmente urbanos – haja vista que no ano de 2010 teremos 85% da população mundial vivendo em cidades –, rápidos e com emprego maciço de sistemas de informação e armas de precisão, sendo vital para o infante a capacidade de saber onde ele Fuzil M-4 SOPMOD com Espingarda Semi-Automática XM-26 Exemplo da Modularidade do Fuzil XM-8
  • 8. www.defesanet.com.br 8 próprio está, onde está o inimigo, visualizá-lo e neutralizá-lo, mesmo que este se encontre abrigado, e, preferencialmente, estando ele próprio protegido. São exemplos desta nova geração: o atualmente cancelado XM-29, substituído pela combinação XM-8/XM-25 norte- americanos (com interesse e sob observação por parte de outros países da OTAN), o PAPOP francês, versões atualizadas do F2000 belga, além de sistemas similares ingleses, israelenses, australianos, italianos, suecos, entre outros. O Caso do Brasil A crônica falta de verbas para as Forças Armadas Brasileiras, que por vezes chega a ser insuficiente para a própria manutenção administrativa do poder militar nacional, e que também afeta as Instituições Policiais, entre outros fatores, têm sido responsáveis pela defasagem tecnológica e pela obsolescência do material de emprego militar da nação, contrastando com a pretensão política de que o país tenha projeção internacional e venha a ocupar um assento no Conselho de Segurança das Nações Unidas. É um contra-senso que beira o ridículo: algo como querer participar de uma corrida de Fórmula 1 montado em um carrinho de rolimã... Porém, a despeito das dificuldades, nossos militares continuam tentando manter um padrão mínimo desejável, mesmo que em alguns poucos núcleos de excelência, para que num futuro hipotético, quando algum “iluminado” que for eleito chefe da nação vier a dar-se conta do estado deplorável em que as coisas se encontram, e, por fim, resolver solucionar o estrago, o “gap” tecnológico a ser vencido não seja tão grande a ponto de ser intransponível. É neste contexto que se insere a IMBEL. O corpo de técnicos e engenheiros da empresa é de fato extremamente competente, e conseguem com poucos recursos, produzir armas de extrema qualidade, buscando, dentro de suas limitações tecnológicas, fornecer o melhor possível aos diversos usuários a nível mundial. Prova disso é o sucesso Versão Atual do Fuzil PAPOP Fuzil XM-29
  • 9. www.defesanet.com.br 9 na comercialização de produtos já defasados tecnologicamente mas que, devido à extrema qualidade e perfeição com que são produzidos, ainda conquistam compradores, como é o caso das peças base fornecidas para a Springfield norte-americana, que procede então à montagem e ajuste das Pistolas calibre .45 das equipes especiais do FBI. Ocorre que, justamente agora quando se sedimenta a intenção de substituir os nossos velhos e cansados – e pesados – FAL M964, por uma arma mais avançada e adequada aos tempos modernos, perde-se uma enorme oportunidade de dar-se um salto tecnológico que, de fato, recolocaria a IMBEL em condições de competitividade no cenário mundial. Tomemos como exemplo a EMBRAER: da mesma maneira que a IMBEL foi criada para produzir produtos de interesse do Exército, contando com um corpo de engenheiros e projetistas capacitados para tal, foi criada a EMBRAER para servir à FAB, produzindo aeronaves que, da mesma maneira, obtinham sucesso no mercado internacional (Tucano, Bandeirante, Brasília). Porém, a FAB, que ansiava por uma aeronave de alto desempenho, sabia que o estudo, projeto, aperfeiçoamento e, por conseqüência, o tempo necessários para o desenvolvimento de todas as tecnologias envolvidas, teriam um custo por demais proibitivo para os parcos orçamentos da Arma Aérea. Partiu-se, então, para um projeto conjunto com uma empresa que já dominava boa parte do ciclo de produção e, com os ganhos em know-how, foi possível a consecução do objetivo inicial – que se traduziu no caça-bombardeio A-1 (AMX) –, além de um verdadeiro salto de tecnologia e qualidade nos produtos da empresa, sendo que o resto da história todos já conhecem. É o caso a ser aplicado à IMBEL: o fuzil de assalto MD97 é, em seu atual estágio, nada mais do que um fuzil de “segunda geração e meia”. Apesar de ser adequado para substituir um de primeira geração, como é o caso do FAL M964, ainda está longe do daquilo que se espera para um país que pretende ocupar um assento no Conselho de Segurança. Não proponho a pesquisa e produção imediata de uma arma de quinta geração, pois os custos para isso são extremamente proibitivos, mas há uma solução melhor e atingível para o caso.
  • 10. www.defesanet.com.br 10 O fuzil de assalto mais festejado atualmente é o alemão Heckler & Koch G36 e suas variantes. Enquanto a capacidade dos alemães produzirem armas de fogo que beiram a perfeição está acima de qualquer questionamento – o que é notório até mesmo por parte do Exército Brasileiro, que utilizou fuzis Mauser por mais de meio século – deve ser notado que o fuzil G36, apesar de ser praticamente um “novato” no cenário mundial, tem, como o antigo Mauser, uma história que já se mostra promissora: é o fuzil de dotação das Forças Armadas da Alemanha e da Espanha (este último, um país que também tem uma indústria de armas extremamente tradicional, possuía um fuzil de assalto moderno de fabricação própria, mas, mesmo assim, rendeu-se diante da superioridade do projeto alemão, produzindo-o sob licença); é, provavelmente, o próximo fuzil de dotação do Exército Inglês que, insatisfeito com seu L85 A1, já o adotou para uso por parte de suas forças especiais – SAS e SBS; além destas, já é utilizado por inúmeras outras forças especiais, militares ou não, mundo afora, tendo sempre suas qualidades ressaltadas; e, como coroamento, está preste a ser adotado pelo Exército Norte-Americano – a força militar com maior experiência de combate da história recente – em sua versão adaptada às necessidades modernas, o XM-8. Fuzil MD97 LC com coronha fixa Fuzil MD97 LC com coronha rebatível
  • 11. www.defesanet.com.br 11 Façamos uma comparação: um fuzil MD97, construído em liga de alumínio, pesa vazio, sem bandoleira e sem carregador, exatos 3,7 Kg. Suas miras são mecânicas e ele possui, opcionalmente, um trilho na cobertura da caixa da culatra que pode receber certos acessórios, tais como miras ponto-vermelho, miras laser, intensificadores de luz, etc., mas tudo isto não está incluso em seu peso vazio... Já um fuzil de assalto XM-8 pesa, equipado com uma mira de ponto-vermelho, uma mira laser e um iluminador integrais (sendo os dois últimos em freqüência infravermelha, para uso dissimulado em conjunto com Óculos de Visão Noturna), além de sua bandoleira e sua baioneta multifuncional, bem como municiado com dois carregadores completos acoplados lado a lado, perfazendo um total de sessenta cartuchos, os mesmos 3,7 Kg. A vantagem tática é evidente: uma arma completamente equipada e municiada, pesando o mesmo que outra completamente vazia, sem ao menos sua bandoleira ou carregador. Há que ser considerado também o fato de que o XM-8 é construído predominantemente de polímeros – inclusive seu carregador, que é translúcido –, sendo portanto de manutenção e conservação mais fáceis, além de possuir maior durabilidade quando submetido a abusos mecânicos ou intempéries. Tudo isso, somado ao fato que um MD97 sem acessórios custa, aproximadamente R$ 1.200,00, ao passo que um XM-8 completamente equipado da forma acima descrita, à exceção da munição e do segundo carregador, tem o preço de venda no mercado internacional previsto para ser aproximadamente R$ 1.750,00 (US$ 600,00), ao dólar da primeira semana de setembro de 2004. É óbvio que uma eventual produção sob licença poderia baratear ainda mais os custos... Fuzil G36 E Fuzil XM-8
  • 12. www.defesanet.com.br 12 É esta exatamente a proposta: ao invés de produzir-se o MD97 – o que, nos dias de hoje, equivaleria a abrir uma linha de produção de F-5E para a FAB, ou de Leopard 1 A1 para o EB – produzir-se-ia sob licença o fuzil de assalto XM-8, de quarta geração. A IMBEL ganharia know-how na área de armas de construção em polímero, equipamentos óticos e de pontaria laser, sendo plenamente capaz de absorver todo o conhecimento e reaplicá-lo na criação de novos e modernos produtos, contando com o excelente pessoal que possui, e o EB, e desejavelmente as outras Forças, contariam com um fuzil de assalto extremamente atualizado e capaz, por um preço equivalente. Versão Compacta do Fuzil XM- 8 – note a coronha retrátil similar à da Submetralhadora MP5 A3/A5 Versão LMG (Metralhadora Leve) do Fuzil XM-8 – note o carregador Beta C-Mag para 100 cartuchos e
  • 13. www.defesanet.com.br 13 É certo que alguns seguidores do “nacionalismo burro” dirão: mas aí estaremos trocando um produto estrangeiro por um nacional... No que pergunto: o que é o FAL, ou o que são as pistolas IMBEL M911A1, ou ainda, o que é a submetralhadora Taurus MT-12 ou a pistola Taurus PT- 92, senão TODAS armas produzidas sob licença? Suas tecnologias foram adquiridas e posteriormente aperfeiçoadas, dando origem a novos e melhores produtos: MD97, pistolas IMBEL GC e MD4, submetralhadora MT-12A e as inúmeras pistolas da linha Taurus. Versão atual do Fuzil XM- 8 – caracteriza-se, entre outras coisas, pela possibilidade de colocação do botão acionador remoto e sem fio do apontador laser em várias posições na arma, possuindo, para tanto, diversos encaixes. Fuzil XM-8 desmontado – note o reduzido número de componentes e a construção quase que inteiramente em polímero. Pode-se perceber também o sistema de operação por tomada de gases idêntico ao do G36 – confiabilidade e simplicidade baseados nos fuzis AK-47 e AR-18.
  • 14. www.defesanet.com.br 14 E não é só no campo da produção de armas em si que tal atitude se mostraria promissora: não podemos nos esquecer que o XM-8 é a base inicial sobre a qual se assenta todo o desenvolvimento do Programa Land Warrior do Exército Norte-Americano. Através deste programa, o soldado receberá e enviará dados aos Centros de Comando e Controle, entrando no conceito de Network Centric Warfare, sendo, desta maneira, considerado também uma plataforma, tal qual um caça ou um Carro de Combate conectado ao sistema. É o futuro inescapável para o qual seguem todos os exércitos, senão vejamos, entre outros, os Programas: FELIN (França), FIST (Inglaterra), System Soldat Infanterist der Zukunft - IdZ (Alemanha), Integrated Protective Clothing and Equipment-IPCE (Canadá), Land 125 Soldier Combat System " Wundurra" (Austrália), Soldato Futuro (Itália), ANOG (Israel), Markus (Suécia), Wolf/Soldier 2000, Individual Soldier's Military Equipment Set 2000 (Rússia) e até o African Warrior (África do Sul), estes dois últimos com especial destaque, por se Extrato de uma apresentação para o US Army da versão II do Fuzil XM-8 – note o jogo de miras mecânicas e reguláveis como back-up do visor combinado ( mira red- dot, apontador e iluminador laser), a proteção contra aquecimento do guarda-mão frontal, a coronha retrátil opcional tipo MP5 e, não visível no desenho, o novo sistema de controles (seletor de tiro, retém do carregador e do ferrolho) totalmente acessíveis pelos dedos da mão que empunha o pistol grip.
  • 15. www.defesanet.com.br 15 tratarem de países com os quais o Brasil buscou recentemente um alinhamento tecnológico-militar. Ou seja, os países que recentemente viram, ou ainda vêem, combate real, ou ainda outros que tradicionalmente sempre estão no topo da tecnologia bélica, já acordaram para o fato de que o comando, o controle, as comunicações e a identificação em combate, seja entre pequenas unidades, ou até mesmo entre os integrantes dos Grupos de Combate, já não são mais satisfatórias se feitas “na base do grito” ou através de gestos ou sinais: simplesmente não é ágil o suficiente e não funciona para o combate moderno. Se “perdermos este bonde”, a próxima Operação da ONU a qual nos propusermos participar em um provável futuro próximo, pode resultar em nossos soldados sendo impossibilitados de conectarem-se com as eventuais Forças de Coalizão e, por isso mesmo, serem expostos ao risco desnecessário da desorientação em combate, ou até mesmo do “fogo amigo”. É chegada a hora de um novo salto tecnológico. Crédito Fotos 1- Fuzis de Assalto (páginas 2-9) Cortesia de Max Popenker, do Website www.guns.ru 2- Fuzil XM-8 ( páginas 9-13) Arquivo Alexandre Beraldi Artigo Relacionado: 0 Novo Fuzil 5,56 Imbel http://www.defesanet.com.br/eb/fuzil556.pdf Sobre o Autor: Alexandre Beraldi - Especialista e estudioso de material bélico, com profundos conhecimentos nas áreas de armamento leve de emprego individual e coletivo de origem Ocidental e do antigo bloco Soviético, bem como suas respectivas munições de uso geral e uso especializado, além de seus acessórios. Participou em inúmeras situações de crise com emprego real de armas de fogo e foi Vice-campeão brasileiro de tiro com arma longa (1998).