Apresentação de slides dos dois trabalhos apresentados pelo psicólogo e psicanalista Lucas Nápoli no V Seminário de Pesquisas do Instituto de Medicina Social da Uerj (2010). No primeiro trabalho, Lucas apresenta as considerações de Georg Groddeck, médico e psicanalista alemão do início do século XX, a respeito da possibilidade que toda doença tem de expressar conteúdos subjetivos. No segundo, Lucas traça uma analogia entre os usos da doença na vida cotidiana e a formação de cidadanias biológicas, conceito que ele explicita na apresentação.
3. Georg Groddeck Aspectos biográficos A influência de Ernst Schweninger O caráter anti-científico O encontro com a psicanálise
4. A originalidade de um pensamento Corpo e psiquismo não são duas “res” distintas, mas dois modos de expressão do Isso (Das Es); Isso -> organismo + Simbólico; Todo sintoma orgânico pode ser lido simbolicamente; Apesar do sentido singular de cada sintoma, há usos gerais para as doenças.
5. Objetivo Caracterizar e discutir os usos genéricos do “cair doente” comentados por Groddeck na conferência “A Doença” proferida na Universidade de Lessing em 1926 (GRODDECK, 1926b/1994).
6. Funções gerais da doença Primeira conseqüência do “cair doente”: sofrimento e necessidade de ajuda Retorno a um estado de dependência a outrem análogo à relação do bebê com a mãe
7. Funções gerais da doença Estando numa posição análoga à do bebê, o sujeito estabelece uma relação vantajosa com o mundo É alvo de uma atenção e compaixão atípicas; Adquire um ganho de poder sobre o ambiente.
8. Funções gerais da doença Dado que a doença usualmente provoca dor, sofrimento e desprazer Veículo de expiação de um sentimento intolerável de culpa.
9. Funções gerais da doença Na medida em que a maioria das doenças promove uma restrição das atividades O sujeito adquire uma razão para não fazer determinada tarefa ou não comparecer a um dado local.
10. Considerações finais A lição de Groddeck: o adoecimento não está desconectado da vida subjetiva; A doença como criação e não como algo que acontece com o sujeito; Necessidade de incorporação desse ponto de vista na atenção primária à saúde.
11. Referências bibliográficas ÁVILA, L. A. Doenças do corpo e doenças da alma. São Paulo: Escuta, 2002. ÁVILA, L. A. Georg Groddeck: originality and exclusion. History of Psychiatry, v. 14, n. 1, 2003. GRODDECK, G. Condicionamento psíquico e tratamento de moléstias orgânicas pela psicanálise. In: ______. Estudos Psicanalíticos sobre Psicossomática. São Paulo: Perspectiva, 1992, pp. 9-28. (Original publicado em 1917) GRODDECK, G. Doença. In: ______. O Homem e seu Isso. São Paulo: Perspectiva, 1994, pp. 207-216. (Original publicado em 1926b) GRODDECK, G. Sobre o absurdo da psicogênese. In: ______. Estudos Psicanalíticos sobre Psicossomática. São Paulo: Perspectiva, 1992, pp. 125-126. (Original publicado em 1926).
12. Os usos do corpo: cidadania biológica e a doença como plataforma de expressão Lucas Nápoli Mestrando em Saúde Coletiva (IESC-UFRJ) Orientador: André Martins
14. Corpo e contemporaneidade A prevalência do corpo como referente identitário; Baixo prestígio das instâncias tradicionais de subjetivação; O corpo deixa de ser receptáculo para ser o próprio veículo de formação de subjetividades;
15. Cidadania biológica Um dos modos de incidência do corpo num campo tradicionalmente valorativo e simbólico; Conceito proposto por Nikolas Rose e Carlos Novas (2004), para denotar um novo tipo de exercício da cidadania que não se faz com base em predicados políticos ou institucionais, mas a partir de temas biológicos/corporais.
16. Cidadania biológica Risco de generalização do conceito; Eixo central do conceito: uso do corpo como plataforma de reivindicação; Condições de emergência: prestígio da biomedicina, da biotecnologia e da genética no meio social; Queda da noção de cidadania atrelada à idéia de nacionalidade.
17. Cidadania biológica Sécs. XVIII e XIX -> idéias de raça e eugenia só fazem sentido a partir da noção de estado-nação; Na cidadania biológica a recorrência à biologia e ao corpo se faz muito mais como motivos de reivindicação de direitos e inserção política que a idéia de nacionalidade já não dá mais conta.
18. Cidadania biológica Exemplos: Organização de pessoas diagnosticadas com transtorno afetivo bipolar em grupos na internet para reivindicar ações por parte do Estado; Reivindicação de compensações por parte do Estado feita por pessoas que alegavam terem sido expostas aos efeitos da radiação da explosão nuclear do reator de Chernobyl na Ucrânia;
19. Groddeck O sujeito só fica doente quando isso serve a alguma finalidade. Arecorrência ao corpo como modo de expressão constitui uma espécie de último recurso do sujeito para conseguir lidar ou solucionar determinadas questões. Fuga para a doença
21. Medicalização O processo de medicalização auxilia a formação de cidadanias biológicas; As vantagens do rótulo de doente “A doença, e isso é uma sedução a que é difícil resistir, torna inocente: o doente não tem consciência de culpa, ou, pelo menos, possui um meio de destruir o sentimento de culpa, destruir por ficar cada vez mais doente, no fim a doença leva a um ponto tal que cessa toda consciência e com isso todo sentimento de responsabilidade. Será tão absurdo adoecer, se isso oferece tão grandes vantagens?” (GRODDECK, 1926b/1994, p. 209).
22. O paradoxo da doença Cidadania biológica -> ao mesmo tempo em que se quer a cura da doença, é a existência dela que liga o indivíduo ao Estado; Doença no nível individual -> ao mesmo tempo em que causa sofrimento e dor, é o único modo encontrado pelo indivíduo para se expressar.
23. Considerações finais A importância de se considerar os aspectos subjetivos envolvidos na formação de cidadanias biológicas; A capacidade do corpo de ocupar o lugar outrora preenchido por fundamentos simbólicos; A atualidade de Groddeck.
24. Referências bibliográficas CONRAD, P. Medicalization and Social Control. Annual Review of Sociology, v. 18, 1992. COSTA, J. F. O uso do corpo como objeto transicional. Disponível em: <http://jfreirecosta.sites.uol.com.br>. Acesso em: 14 jun. 2010. (Original publicado em 2004). FERRAZ, F. C. A tortuosa trajetória do corpo na psicanálise. Revista Brasileira de Psicanálise, Rio de Janeiro, v. 41, n. 4, 2007. GRODDECK, G. Condicionamento psíquico e tratamento de moléstias orgânicas pela psicanálise. In: ______. Estudos Psicanalíticos sobre Psicossomática. São Paulo: Perspectiva, 1992, pp. 9-28. (Original publicado em 1917) GRODDECK, G. Destino e coação. In: ______. O Homem e seu Isso. São Paulo: Perspectiva, 1994, pp. 231-245. (Original publicado em 1926a) GRODDECK, G. Doença. In: ______. O Homem e seu Isso. São Paulo: Perspectiva, 1994, pp. 207-216. (Original publicado em 1926b)
25. Referências bibliográficas GRODDECK, G. O livro dIsso. São Paulo: Perspectiva, 2008. LACAN, J. O seminário, livro 11: Os quatro conceitos fundamentais da psicanálise. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1988. MARTY, P. A psicossomática do adulto. Porto Alegre: Artes Médicas, 2003. ORTEGA, F. O corpo incerto: corporeidade, tecnologias médicas e cultura contemporânea. Rio de Janeiro: Garamond, 2008. PETRYNA, A. Biological Citizenship: The Science and Politics of Chernobyl-Exposed Populations. Osiris, v. 19, 2004. ROSE, N. Biological Citizens. In: ______. The Politics of Life Itself: biomedicine, power, and subjectivity in the twenty-first century. Princeton, NJ: Princeton University Press, 2007. ROSE, N.; NOVAS, C. Biological Citizenship. In: A. Ong.; S. Collier (orgs.). Global assemblages: technology, politics and the ethics anthropological problems. Malden, MA: Blackwell, 2004.