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FICHA TÉCNICA

TÍTULO
Kit da Cidadania – Proposta formativa de educação não-
formal de crianças e jovens num contexto intercultural
tendo em vista uma cidadania responsável

COORDENAÇÃO
Associação Guias de Portugal

REDACÇÃO
Associação Guias de Portugal
Graal

COLABORAÇÃO
Parceria Vamos Utopiar:
• ACIDI
• AGP
• AMRT
• GRAAL
• LUSOTEMP

DESIGN E PAGINAÇÃO
Keep it Simple
Proposta formativa de educação não-formal de crianças e jovens
    num contexto intercultural para uma cidadania responsável



    ÍNDICE

    Introdução                                                   06
    Necessidades a que o KIT DA CIDADANIA procura dar resposta   06
    O que é o KIT DA CIDADANIA                                   06
    Contexto que justifica a intervenção                         07
    Quem pode aplicar o KIT DA CIDADANIA                         08
    Principais Actores/as                                        08
    Objectivos                                                   09
    Ganhos / Motivações para aplicar o KIT DA CIDADANIA          09
    Pilares da intervenção                                       11
    Ponto de partida e estabelecimento da parceria               12
    Reconhecimento de um problema                                12
    Trabalhar em parceria                                        12
    Actividades de cooperação                                    16
    Envolvimento progressivo                                     16
    Orientações metodológicas das actividades                    16
    O que não são as actividades de cooperação                   20
    Actividades co-construídas pelos/as actores/as               20
    Envolvimento das Famílias                                    23
    Formação de animadores/as                                    24
    Monitores como públicos estratégicos                         24
    Objectivos da formação                                       26
    Linhas de orientação metodológicas                           26
    Módulos da formação                                          27

    Anexos
    Diagnóstico às/aos Jovens (dividido por idades)              54
    Diagnóstico às/aos Dirigentes Associativas/os                56
    Diagnóstico às/aos Encarregadas/os de Educação               59
    Actividades planeadas pelo Grupo de Trabalho                 62
    Jogos de Apresentação                                        74
    Jogos de Formação de Equipas                                 76
    Propostas de Avaliação                                       77



4
K IT DA CIDADANIA




                    5
Proposta formativa de educação não-formal de crianças e jovens
    num contexto intercultural para uma cidadania responsável



    INTRODUÇÃO
    NECESSIDADES A QUE O KIT DA CIDADANIA PROCURA DAR RESPOSTA

    Que motivos levam a que um grupo de educação não-formal procure, de forma pró-activa,
    proporcionar a crianças e jovens um contexto de vivência da diversidade?
    Que razões levam um grupo de imigrantes a colaborar numa proposta que visa a formação
    de crianças e jovens através da cooperação e aprendizagem entre pares?
    Quais os passos a seguir para se concretizar a cooperação?
    Quais as funções e competências necessárias dos/as responsáveis pela coordenação do
    projecto, dos/as dirigentes ou monitores/as que orientam a acção no terreno e das crianças
    e jovens envolvidos/as?
    Que princípios metodológicos estão subjacentes à cooperação entre pares tendo num con-
    texto de interculturalidade? Como se concretizam estes princípios?
    Que aspectos devem ser tidos em conta na concepção de actividades de cooperação com
    crianças e jovens de diferentes grupos culturais?
    Que dinâmicas (jogos para formação de equipas, dinâmicas de trabalho em conjunto, sug-
    estões de avaliação) facilitam a aplicação e apropriação desta proposta?

    Estas são algumas das questões a que se procura dar resposta ao longo do KIT DA
    CIDADANIA.


    O QUE É O KIT DA CIDADANIA

    O KIT DA CIDADANIA é uma estratégia pró-activa de abertura à interculturalidade de con-
    textos de educação não formal de crianças e jovens assente em três pilares: no trabalho
    em parceria com um grupo/entidade da população imigrante, numa proposta formativa
    intercultural tendo em vista uma cidadania responsável e na formação de dirigentes/moni-
    tores/as sobre a temática da interculturalidade.
    Traduz a experiência de trabalho realizado no contexto do projecto Vamos Utopiar, integra-
    do na Iniciativa Comunitária Equal, por uma parceria constituída por cinco entidades:
    - ACIDI (Alto Comissariado para a Imigração e Diálogo Intercultural) - Departamento gov-
    ernamental de apoio e consulta sobre assuntos relacionados com a imigração
    (www.acidi.gov.pt);

6
K IT DA CIDADANIA
 - AGP (Associação Guias de Portugal) - Associação de educação não-formal de crianças
e jovens raparigas para a cidadania (www.guiasdeportugal.org);
- AMRT (Associação Melhoramentos e Recreativo do Talude) - Associação de imigrantes,
maioritariamente caboverdianas/os, inserida no Bairro do Talude;
- GRAAL - Associação de mulheres especializada na mobilização de grupos para a
mudança de mentalidades e combate à discriminação (www.graal.org.pt);
- LUSOTEMP - Empresa de trabalho temporário (www.lusotemp.pt)
O objectivo geral do projecto VAMOS UTOPIAR era combater o racismo e a xenofobia a
partir do envolvimento de imigrantes e sociedade de acolhimento em torno da proposta
“Vozes que se levantam pela diversidade”, traduzida nas seguintes premissas:
Vamos construir uma sociedade mais aberta, mais participativa e igualitária.
Vamos defender o diálogo intercultural.
Vamos ecoar a voz do/as imigrantes e das minorias étnicas.
Vamos construir comunidades mais solidárias e unidas.
Vamos acreditar que uma sociedade mais justa é possível.
VAMOS UTOPIAR.


CONTEXTO QUE JUSTIFICA A INTERVENÇÃO

O KIT DA CIDADANIA parte do reconhecimento de que, apesar de formalmente não exis-
tirem barreiras à participação de crianças e jovens imigrantes, ou descendentes de imi-
grantes, em contextos de educação não-formal, estes raramente têm aqui uma partici-
pação activa.
Esta situação tem consequências tanto para os rapazes e raparigas da sociedade de acol-
himento, como para aqueles de outras origens. Para uns, limitam-se oportunidades de
aprendizagem da riqueza da diferença e da diversidade; para outros, limitam-se as vanta-
gens associadas à participação em contextos de Educação Não-Formal, designadamente
o sentido de identidade, de valorização de si e do outro, de sentido de pertença a um grupo,
de educação para Valores, o desenvolvimento de competências transversais, não directa-
mente associadas ao mercado de trabalho, a valorização da participação e da responsabi-
lização colectivas, entre outras.
Tal acontece porque, apesar de não ser essa a intenção, existem barreiras “invisíveis” e
normas aparentemente neutras que fazem com que as crianças e jovens imigrantes não se
sintam realmente incluídos/as nestes contextos. São barreiras físicas, ligadas a dificul-
dades de deslocação, por exemplo, ou financeiras, associadas aos custos de participação

                                                                                               7
Proposta formativa de educação não-formal de crianças e jovens
    num contexto intercultural para uma cidadania responsável



    nas actividades promovidas, mas são sobretudo barreiras culturais que dificultam a inte-
    gração, já que existem, de ambos os lados, estereótipos, incluindo estereótipos de género,
    que se traduzem muitas vezes em preconceitos que impedem a interacção.
    Importa, portanto, fazer um esforço consciente, intencional e pró-activo, para atingir novos
    grupos, pois isso não acontece “espontaneamente”. Importa também rever o modelo de
    funcionamento, de forma a garantir condições de vivência da igualdade. Importa ainda, e
    porque nos contextos de Educação Não-Formal os/as dirigentes ou monitores/as fun-
    cionam muitas vezes como modelos, aos/às mais novos/as ideologias e valores através da
    sua própria forma de estar e ser, criar contextos de reflexão e tomada de consciência sobre
    as práticas.


    QUEM PODE APLICAR O KIT DA CIDADANIA

    O KIT DA CIDADANIA é aplicável a entidades (uma associação, um movimento, um ATL,
    um escola, etc.) que promovam contextos de Educação Não-Formal a crianças e jovens,
    que reconheçam a necessidade de um esforço de abertura à inclusão da população imi-
    grante, por esta estar sub-representada. Devem ser entidades que, através da sua acção,
    pretendem promover a participação e a Cidadania, com abertura à criação de contextos de
    aprendizagem entre pares onde se proporcione a interacção entre grupos de diferentes
    quadrantes da sociedade.
    Neste sentido, o KIT DA CIDADANIA não se aplica a contextos de educação formal em que
    os comportamentos são normalizados, os espaços regulados, a autoridade assegurada por
    pessoal com autoridade e onde há um conjunto de conteúdos ou competências a atingir
    tendo em vista a certificação para níveis de maiores qualificações. Não se aplica, igual-
    mente, a contextos informais, como a família, o bairro, os/as amigos/as, onde as relações
    sociais se desenvolvem espontaneamente, de acordo com as preferências, valores e cul-
    turas de cada grupo reproduzindo, em geral, atitudes e comportamentos do passado.


    PRINCIPAIS ACTORES/AS

    Os/as principais actores/as do processo são os/as crianças e jovens propriamente ditos,
    os/as seus/suas respectivos/as animadores/as e as pessoas responsáveis por facilitar o
    processo junto da população imigrante.
    Aos/às animadores/as cabe estimular e orientar a acção, coordenar as actividades,

8
K IT DA CIDADANIA
envolver os/as participantes e respectivos pais/mães, desbloquear/facilitar quaisquer difi-
culdades, motivar e orientar o grupo de trabalho para resultados e avaliar a acção.
Aos/às facilitadores/as junto da população imigrante, cabe manter uma relação de proxim-
idade e confiança com as crianças e jovens imigrantes, mobilizá-las para participar nas
actividades de cooperação, convidar os/as jovens mais velhos/as para constituir uma task
force (o grupo de trabalho) e acompanhar esse grupo, envolver pais/mães da comunidade
imigrante e avaliar continuamente a necessidades de introdução de alterações ao proces-
so.


OBJECTIVOS

O KIT DA CIDADANIA tem como objectivo proporcionar a crianças e jovens, imigrantes e
da sociedade de acolhimento, contextos interculturais de educação não-formal tendo em
vista uma Cidadania responsável.
Para tal, o KIT DA CIDADANIA visa especificamente:
- Explicitar as etapas que antecedem o desenvolvimento de uma estratégia pró-activa de
abertura à diversidade;
- Apresentar uma proposta formativa adequada à interacção de crianças e jovens, imi-
grantes e da sociedade de acolhimento, tendo em conta a especificidade da educação não-
formal e a especificidade do envolvimento da população imigrante;
- Propor um conjunto de dinâmicas de formação de dirigentes / monitores/as



GANHOS / MOTIVAÇÕES PARA APLICAR O KIT DA
CIDADANIA
O KIT DA CIDADANIA proporciona ganhos, que traduzem também motivações para aplicar
o Kit, tanto para as entidades como para as pessoas envolvidas.


PARA AS ENTIDADES PARCEIRAS

- Faculta aos membros da entidade contextos de interculturalidade e a aprendizagem de
diferentes formas de trabalhar, novas formas de olhar o mundo e novas competências;
                                                                                              9
Proposta formativa de educação não-formal de crianças e jovens
     num contexto intercultural para uma cidadania responsável



     - Contribui para criar uma sociedade mais justa, mais igualitária e mais inclusiva;
     - Desenvolve, no seio da organização, um ambiente favorável à mudança;
     - Questiona práticas que se reproduzem, muitas vezes sem disso se ter consciência,
     definindo os aspectos a alterar e outros que devem ser consolidados;
     - Promove a construção de relações sociais baseadas nos princípios de igualdade e de
     justiça social e fortalece a prática da cidadania.
     Além destes aspectos, comuns a ambas as entidades parceiras, para aquela que promove
     contextos de educação não-formal o KIT DA CIDADANIA:
     - Proporciona a crianças e jovens de diferentes quadrantes contextos particularmente
     favoráveis à aprendizagem da diferença e da igualdade como valores positivos;
     - Aumenta o universo de pessoas que podem pertencer / fazer parte da entidade e propor-
     cionar a todos e a todas a participação plena na sociedade;


     PARA OS/AS DIRIGENTES / ANIMADORES/AS

     - Desperta para a vivência das diferenças, para a realidade do dia-a-dia dos/as imigrantes
     e a perspectiva do/a Outro/a e estimula a curiosidade e o interesse em se aproximar da
     diferença;
     - Questiona atitudes, comportamentos, normas e procedimentos discriminatórios e mobiliza
     para a luta contra quaisquer formas de discriminação, designadamente no contexto especí-
     fico de intervenção enquanto animadores/as;
     - Oferece ferramentas aplicáveis à resolução de problemas, reais ou antecipados, e trans-
     forma práticas na relação com as crianças e grupos;
     - Motiva para a intervenção junto das crianças e jovens, aumenta a confiança na inter-
     venção, reforça o significado do trabalho desenvolvido.


     PARA AS CRIANÇAS E JOVENS, IMIGRANTES E DA SOCIEDADE DE ACOLHIMEN-
     TO, O KIT DA CIDADANIA

     - Promove o empoderamento associado à experiência de concretização de tarefas especí-
     ficas realizadas em pequenos grupos, onde todos/as têm um papel activo e aprendem ao
     fazer, com reflexos na auto-estima e na capacidade de afirmação pessoal;
     - Aumenta o sentido de responsabilidade, autonomia, criatividade, iniciativa e trabalho em
     equipa;

10
K IT DA CIDADANIA
- Promove o sentido de pertença a um grupo e a construção de uma identidade colectiva;
- Facilita a aprendizagem da diversidade, da igualdade e da diferença como valores posi-
tivos;
- Promove a receptividade à mudança;
- Desconstrói preconceitos;
- Altera atitudes e comportamentos associados à discriminação;
- Altera a forma de interagir / relacionar-se com pessoas de outras referências culturais;
- Facilita o auto-conhecimento e o reconhecimento nos/as outros/as do que há em comum;
- Capacita para reagir em situações de desigualdade;
- Desenvolve um papel mais activo e consciente na construção de uma sociedade mais
aberta, mais participativa, mais diversificada;
- Facilita a aprendizagem da prevenção de conflitos e do saber lidar com a diferença;
- Permite que todos/as se valorizem e valorizem os outros;
- Promove a rejeição de preconceitos (que nos são dirigidos e os que dirigimos a outros);
- Assenta no reconhecimento de que todas as pessoas como iguais, dentro de suas difer-
enças, enquanto seres humanos.
Para os/as jovens que constituem o “grupo de trabalho”, além dos ganhos acima referidos,
o envolvimento e a responsabilização na concepção e organização de actividades para os
seus pares permite-lhes:
- Ganhar autoconfiança;
- Estimular a capacidade afirmativa;
- Desenvolver a capacidade de liderança e de tomada de decisão.


PARA AS FAMÍLIAS DAS CRIANÇAS E JOVENS

- Questiona práticas e comportamentos discriminatórios e promove a diversidade enquan-
to valor
- Reforça o significado atribuído à participação dos filhos/filhas no grupo;
- Faz acreditar na mudança e aumenta a esperança no futuro:


PILARES DA INTERVENÇÃO

Tendo em vista os objectivos definidos, propõe-se uma estratégia assente em três pilares:
- Trabalho em parceria entre uma entidade que promove contextos de educação não for-

                                                                                             11
Proposta formativa de educação não-formal de crianças e jovens
     num contexto intercultural para uma cidadania responsável



     mal e outra entidade/grupo com conhecimentos e contactos privilegiados junto da popu-
     lação imigrante;
     - Planeamento, concepção, organização, desenvolvimento e avaliação de actividades de
     cooperação entre crianças e jovens, imigrantes e da sociedade de acolhimento, pensadas
     a partir de um conjunto de orientações metodológicas;
     - Formação sobre pedagogia para a interculturalidade a dirigentes ou monitores/as que tra-
     balham directamente com as crianças e jovens.



     PONTO DE PARTIDA E ESTABELECIMENTO DA
     PARCERIA

     RECONHECIMENTO DE UM PROBLEMA

     O ponto de partida para aplicar o KIT DA CIDADANIA é o reconhecimento do problema.
     Neste sentido, propõe-se, antes de mais, um processo de questionamento interno no seio
     na entidade que promove contextos de educação não-formal a crianças e jovens, de forma
     a responder a duas questões:
     - “Será que o nosso contexto de educação não formal garante as condições para que todas
     as crianças e jovens, independentemente da sua nacionalidade, país de origem, cultura,
     etc., participem em condições de igualdade nas actividades por nós promovidas?”
     - “Será que estamos interessados/as em fazer um esforço pró-activo e consciente de aber-
     tura a outros grupos?”
     Estas questões, muitas vezes colocadas intuitivamente pelos elementos responsáveis pela
     entidade, devem ser aprofundada com um diagnóstico onde se evidencie a percepção de
     todos/as em relação à temática.


     TRABALHAR EM PARCERIA

     Uma vez reconhecido o problema e assumido o interesse em alterar a situação, importa
     estabelecer uma pareceria com uma entidade ou grupo, formalmente constituído ou não
     (pode ser uma associação, um grupo informal, um clube, etc.), que se caracterize por:
     - Conhecer a especificidade da realidade da população imigrante, de forma a planear
12
K IT DA CIDADANIA
acções e orientações;
- Ter contactos privilegiados e uma relação de confiança com essa população, que facilite
a mobilização;
- Relacionar-se com crianças e jovens das mesmas faixas etárias, que cooperam com
aquelas da sociedade de acolhimento;
- Ser geograficamente próximo, de modo a que a interacção seja viável sem elevados cus-
tos e tempo de deslocações.
Tal como a entidade que proporciona contextos de educação não-formal, também esta enti-
dade deverá fazer um processo de questionamento interno que evidencie as vantagens da
cooperação.
Se ambas confirmarem vontade efectiva de interacção/cooperação, condição necessária
para garantir o empenhamento num processo que obriga, muitas vezes, a ultrapassar difi-
culdades resultantes de diferentes culturas e formas de trabalhar, passa-se para uma etapa
de consolidação da parceria.
Nesta fase, importa que ambas as entidades partilhem e aprofundem as suas expectativas
em relação à proposta do KIT DA CIDADANIA, que invistam na criação de uma relação
favorável à cooperação, que procurem conhecer-se mutuamente de modo a criar uma
plataforma de entendimento, designadamente a nível da linguagem e conceitos, forma de
colaboração e divisão de responsabilidades e modo de apropriação da proposta do KIT DA
CIDADANIA.
Relativamente à divisão de responsabilidades, de modo geral, à entidade que promove
contextos de educação não-formal cabe adaptar a sua proposta de forma a proporcionar
contextos de real vivência da igualdade e à entidade com contactos e conhecimentos junto
de crianças e jovens imigrantes cabe envolver a população-alvo e motivar à participação,
assim como contribuir para o planeamento e avaliação contínua da Acção.
O Plano de Acção deve ser definido em conjunto, de forma a incorporar aprendizagens e
resultados do acompanhamento e avaliação contínua e criar condições para que, nos
diversos contextos promovidos, todos/as se sintam “iguais na diferença e diferentes na
igualdade”.
De resto, cabe a cada uma das entidades, separadamente:
- Mobilizar a respectiva estrutura interna;
- Reunir pessoal motivado para os objectivos do KIT DA CIDADANIA, com capacidade de
implementação do Plano “no terreno” e compromisso com a acção;
- Estimular a capacidade de adaptação e a flexibilidade, orientando a equipa para resulta-
dos;
- Proporcionar a essa equipa, se necessário, formação adequada;

                                                                                             13
Proposta formativa de educação não-formal de crianças e jovens
     num contexto intercultural para uma cidadania responsável



     - Coordenar o desenvolvimento das actividades;
     - Gerir conflitos, ultrapassar resistências e a tendência para desistir quando a acção não
     evolui como esperado, gerir a motivação/desmotivação.


         No Vamos Utopiar, estas duas entidades foram a Associação Guias de Portugal e
         a Associação Melhoramentos e Recreativo do Talude.
         A ASSOCIAÇÃO GUIAS DE PORTUGAL (AGP) é uma associação de utilidade
         pública sem fins lucrativos, assente no voluntariado e que promove o GUIDISMO.
         O GUIDISMO é um Movimento de educação não formal, que se baseia no méto-
         do preconizado por Baden-Powell e tem como objectivos principais a formação e
         o desenvolvimento integral das raparigas e jovens mulheres, nas vertentes física,
         intelectual, social, espiritual e emocional. A AGP é membro efectivo da Associação
         Mundial das Guias (World Association of Girl Guides anda Girl Scouts -
         WAGGGS), que integra jovens voluntárias espalhadas por 150 países e que conta,
         actualmente, com cerca de 10 milhões de associadas, tendo como Missão propor-
         cionar às raparigas e jovens mulheres a oportunidade de desenvolverem plena-
         mente o seu potencial como cidadãs universais responsáveis. A Associação
         Mundial das Guias tem tido um papel decisivo em projectos de educação e desen-
         volvimento comunitário, participando simultaneamente em diversos programas
         promovidos pelas Nações Unidas e seus departamentos especializados.
         A ASSOCIAÇÃO MELHORAMENTOS E RECREATIVO DO TALUDE (AMRT)
         nasceu de uma comissão de moradores do Bairro do Talude Militar, situado na per-
         iferia da cidade de Lisboa, com o objectivo de melhorar as condições de vida dos
         seus habitantes. Actualmente ocupa-se da promoção de oportunidades de desen-
         volvimento pessoal e colectivo de imigrantes, crianças, jovens e adultos da
         Freguesia de Unhos (Concelho de Loures).



     MOBILIZAÇÃO DOS/AS INTERVENIENTES

     Dirigentes
     Manter-se em contacto permanente com os/as Dirigentes da outra entidade, mobilizar inter-
     namente a sua entidade (divulgação, envolvimento da hierarquia…), coordenar no terreno,
     desbloquear/facilitar, motivar os/as técnicos e orientá-los para resultados, avaliar.

14
K IT DA CIDADANIA
    No Vamos Utopiar, os/as Dirigentes de ambas as entidades tiveram reuniões per-
    iódicas de preparação da acção e envolveram os/as técnicos/as/animadores/as na
    concepção das linhas gerais das actividades. Paralelamente, foram sempre agen-
    dadas reuniões de avaliação das actividades, no sentido de manter o que tinha
    corrido bem, pensar no que tinha falhado e fazer as devidas alterações.




Técnicos/as / Animadores/as
Orientar a acção, funcionando como intermediária/o(s) entre a equipa de coordenação e o
grupo de trabalho e entre este e as crianças e jovens. Envolver os/as participantes e
respectivas famílias, coordenar a acção no local, desbloquear/facilitar quaisquer dificul-
dades, motivar e orientar o grupo de trabalho para resultados e avaliar a acção.



    As crianças e jovens foram acompanhadas pelos/as técnicos/as / animadores/as
    que deram especial atenção ao “grupo de trabalho”, acompanhando sempre a
    preparação de cada uma das actividades.




Do outro lado
Manter uma relação de proximidade e confiança com as crianças e jovens imigrantes;
mobilizar essas crianças e jovens para participar nas actividades de cooperação; convidar
os/as jovens mais velhos/as para constituir o grupo de trabalho; acompanhar o grupo de
trabalho; envolver pais/mães da comunidade imigrante; responsabilizar a/os participantes
e transmitir necessidades de correcção de desvios.




                                                                                             15
Proposta formativa de educação não-formal de crianças e jovens
     num contexto intercultural para uma cidadania responsável



     ACTIVIDADES DE COOPERAÇÃO

     ENVOLVIMENTO PROGRESSIVO

     O KIT DA CIDADANIA propõe o envolvimento gradual de crianças e jovens, da sociedade
     de acolhimento e imigrantes, em 6 a 8 actividades de cooperação que se realizam ao longo
     de dois anos.



         No contexto do projecto Vamos Utopiar realizaram-se 7 actividades ao longo de
         dois anos lectivos, nomeadamente: 6 actividades com crianças e jovens, sendo
         que a terceira e a sexta contaram com a participação das famílias das crianças e
         jovens envolvidos/as e 1 actividade de apresentação do grupo ao público em geral
         no contexto do Fórum da Interculturalidade, evento organizado pela parceria do
         projecto Vamos Utopiar.



     ORIENTAÇÕES METODOLÓGICAS DAS ACTIVIDADES

     São actividades lúdico-pedagógicas
     São actividades carácter lúdico-pedagógico (jogos), onde se alia a parte física à intelectu-
     al, envolvendo também uma componente criativa e atentando às idades da/os partici-
     pantes.

     Promovem a cooperação em pequenos grupos com equipas mistas
     Nas actividades, as crianças e jovens são integrados/as em pequenos grupos com 5 a 8
     elementos cada, com participantes de ambos os lados (equipas mistas), de várias idades
     e de ambos os sexos. Elas irão cooperar tendo em vista a realização de determinadas tare-
     fas para atingir um objectivo comum, objectivo só atingível através do trabalho em conjun-
     to.

     É dada autonomia às equipas / Educação entre pares
     Cada equipa implementa a proposta com autonomia, decidindo como a realizar, num mod-

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K IT DA CIDADANIA
elo que privilegia a educação entre pares, onde uns/umas aprendem com os/as outros/as
e onde cada um/a encontre espaço para ter um papel activo. Desenvolve-se, desta forma,
entre outros aspectos, o espírito de grupo e a cooperação, as relações interpessoais, a par-
tilha de responsabilidades, a aquisição de capacidades de liderança e a prática de com-
petências democráticas, motivando para o desenvolvimento pessoal.

Aprende-se ao fazer
As tarefas propostas às equipas devem ser simultaneamente desafiantes e executáveis,
proporcionar interacção, divertimento e estimular o “aprender ao fazer”, onde todos/as par-
tilham as mesmas experiências, as mesmas dificuldades e as mesmas realizações. Isto
significa que cada criança e jovem faz as coisas por si própria, não ficando a ouvir alguém
ou a observar passivamente como se faz, o que lhe permite aprender mais depressa e mel-
hor, uma vez que a experiência é pessoal (e não em “segunda mão”). Além disso, fomen-
ta-se a iniciativa e a criatividade, pois é permitido tentar algo diferente e experimentar
novas maneiras de realizar as tarefas.

Acentuam-se as semelhanças, não as diferenças
As actividades devem ser centradas num tema aglutinador, igualmente (des)conhecido por
todos/as, para que ninguém parta em (des)vantagem, de modo a reforçar o que é comum
e não o que é diferente. Esse tema nunca está directamente relacionado com a intercultur-
alidade, ou seja, não poderá ser algo como “Diversidade” ou “Igualdade”. Isto significa que
não é ao nível dos temas e dos interesses que se integra a dimensão do respeito pela difer-
ença, mas sim através do trabalho em conjunto, momento em que essas diferenças surgem
naturalmente e devem ser trabalhadas para serem ultrapassadas.

Contrariam-se estereótipos de género
As actividades devem ser pensadas tendo em conta os papéis normalmente atribuídos a
raparigas e rapazes, baseados nos estereótipos de género, propondo tarefas que os con-
trariem. Nesta, há em geral uma parte criativa e uma parte física em que todos/as têm de
participar, de forma a capacitar raparigas em competências socialmente atribuídas ao
género masculino, como gestão de tempo, recursos e logística, e rapazes em competên-
cias muitas vezes ditas femininas, como habilidade para trabalhos manuais.

Nenhum/a participante é colocado/a em vantagem
Devem ser actividades de dia inteiro, desdobradas em 6 momentos estruturantes:
1. Acolhimento a todos/as

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Proposta formativa de educação não-formal de crianças e jovens
     num contexto intercultural para uma cidadania responsável



     Nas “boas vindas” podem-se convidar as crianças e jovens a distribuírem-se ao longo de
     uma roda. O/a dirigente dá então as boas vindas a todos e todas e propõe que se cantem
     algumas músicas que toda/os conheçam, o que não só é algo do agrado das crianças e
     jovens, como permite que os níveis de ansiedade se atenuem.
     2. Constituição das equipas
     A formação de equipas é feita através de uma dinâmica, proposta pelo “Grupo de
     Trabalho”, que também funciona como “quebra-gelo”. Em seguida, distribui-se os emble-
     mas da actividade (para que todos/as se sintam parte integrante) e transmitem-se recados
     importantes e regras de segurança.
     3. Dinâmica da manhã
     Depois das equipas formadas, é chamado o elemento mais velho de cada uma, designado
     chefe da equipa, para ouvir a explicação da dinâmica da manhã, receber materiais de apoio
     (como por exemplo “mensagens”) e esclarecer eventuais dúvidas. Este deverá depois pôr
     a par os restantes membros da sua equipa do que lhe foi dito e “começar o jogo”.
     4. Almoço conjunto
     O almoço deve ser tomado no grupo alargado e permitir aos/às participantes descansarem
     e terem algum tempo livre.
     5. Dinâmica da tarde
     A dinâmica da tarde, ao contrário daquela da manhã, em que cada equipa desenvolve a
     sua actividade independentemente das outras, pode ser orientada para que as equipas
     organizem uma tarefa em conjunto - pode ser inventar uma música, uma dança, um
     pequeno teatro… - para depois apresentarem ao grupo alargado.
     6. Avaliação
     No fim do dia, propõe-se a avaliação do encontro, procurando criar contextos para que
     toda/os deixem o seu testemunho do que sentiram durante o dia. Este testemunho não pre-
     cisa necessariamente ser escrito; pode-se estimular a imaginação artística através de
     desenhos e objectos ou imagens coloridas.


         No Vamos Utopiar foram realizados alguns jogos de apresentação e de formação
         de equipas, que anexamos no final deste Kit, bem como as dinâmicas que o Grupo
         de Trabalho organizou para as actividades.


     Na organização dos aspectos logísticos deve-se procurar garantir condições de igualdade
     para ambos os grupos, pelo que, por exemplo, o transporte que leva a/os participantes para

18
K IT DA CIDADANIA
as actividades deve ser da mesma natureza (todos/as de transportes públicos, ou na
mesma carrinha alugada, por exemplo), as refeições devem ser iguais para toda/os a/os
participantes (podem ser compradas e oferecidas a todos/as), as actividades têm de con-
templar datas e horários favoráveis à participação de ambos os grupos.


    No Vamos Utopiar as actividades tiveram temas aglutinadores tão diversos como
    “A Lenda de Osíris”, “Os Piratas”, “Os Planetas”, entre outros escolhidos pelo
    Grupo de Trabalho.
    Desenvolveram-se em vários locais, como o Anfiteatro Alfredo Keil do Amaral, em
    Monsanto, a Quinta das Conchas, no Lumiar e os Jardins da Fundação Calouste
    Gulbenkian, onde estava previsto um outro local, abrigado, caso chovesse. No
    caso da actividade realizada na Gulbenkian, por exemplo, foi obtida uma autoriza-
    ção para utilizar as instalações paroquiais da Igreja de Nossa Senhora de Fátima,
    situada na rua adjacente à Gulbenkian.
    Relativamente ao transporte, alugou-se um autocarro para levar todos/as os/as
    participantes de ambos os grupos para o local da actividade, de forma a que a
    viagem de ida e volta para o local da actividade realizava-se com todos/as
    juntos/as.
    No que diz respeito às refeições, iguais para todas as crianças e jovens, foram
    compradas pelos/as dirigentes / monitores/as, com sandes de atum e salsicha,
    batatas fritas, sumos e fruta para o almoço e um bolo (individual) e leite com
    chocolate a meio da tarde.
    As datas e horários das actividades, acordadas com os/as responsáveis de cada
    entidade tendo em conta a disponibilidade dos/das participantes, optou-se por
    realizar as actividades ao domingo, entre as 9h30 (para apanhar o autocarro) e as
    17h00.
    No que se refere à dinâmica das actividades, o dia começava com uma roda feita
    com todos/as os/as presentes, na qual se dava as boas-vindas e se cantava uma
    música conhecida de todos/as. De seguida, formavam-se as equipas, por exemp-
    lo, distribuído a cada elemento uma peça de um puzzle e propondo a cada um/a
    que encontrasse as outras pessoas do mesmo puzzle.
    Depois desta dinâmica, e para se explicar o funcionamento do dia, o Grupo de
    Trabalho reunia-se com os chefes de equipas (os elementos mais velhos de cada
    uma, do sexo feminino ou masculino, pertencentes à AGP ou à AMRT), para trans-


                                                                                          19
Proposta formativa de educação não-formal de crianças e jovens
     num contexto intercultural para uma cidadania responsável




         mitir os recados mais significativos e dar início à actividade, incutindo-se, desta
         forma, responsabilidade a estes/as participantes.
         Numa das actividades, que foi um jogo de “caça ao tesouro”, havia vários “postos”
         espalhados pela Quinta e, em cada um deles, as equipas tinha de superar provas
         para ganharem pistas para descobrir onde estava o tesouro. A ordem pela qual as
         equipas iam aos postos era inteiramente escolhida por cada uma. As tarefas pas-
         saram por fazer uma bandeira de piratas com tecido, agulha e linha, construir
         moedas dos piratas com barro e um baú em papel ou ainda fazer uma corrida de
         sacos. Em todos os casos, quer rapazes, quer raparigas realizaram, em conjunto,
         cada uma das tarefas propostas, aprendendo uns/umas com os /as outros/as e
         auxiliando-se mutuamente.



     O QUE NÃO SÃO AS ACTIVIDADES DE COOPERAÇÃO

     Face ao exposto, as actividades propostas não devem ser pensadas para uma interacção
     pontual, em que crianças e jovens de ambos os grupos apenas se encontram uma vez,
     pois não é num encontro esporádico que se conseguem criar relações ou desconstruir pre-
     conceitos.
     Devem ser excluídas actividades como: espectáculos a que as crianças e jovens assistem
     passivamente, como meras espectadoras; competições entre equipas constituídas por gru-
     pos de origens diferentes, onde se reforçam as diferençam, não as semelhanças; activi-
     dades de trocas culturais que reforcem elementos diferenciadores, onde se ensinam uns e
     outros danças ou pratos típicos; campanhas de massas, que mobilizam muitas pessoas,
     mas que a médio prazo pouco contribuem para mudar as mentalidades, as atitudes e os
     comportamentos ou actividades colectivas de convívio e lazer, sem quaisquer elementos
     de cooperação para um objectivo comum.


     ACTIVIDADES CO-CONSTRUÍDAS PELOS/AS ACTORES/AS

     Estas actividades têm ainda a particularidade de serem co-construídas por elementos de
     ambas as entidades, de acordo com um modelo onde os/as responsáveis das duas enti-
     dades parceiras elaboram em conjunto o Plano de Acção, os/as dirigentes ou monitores/as

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K IT DA CIDADANIA
preparam a primeira actividade e apoiam a preparação das demais, e constitui-se um
“grupo de trabalho” com os/as jovens mais velhos/as de ambos os lados para preparar as
restantes.
As actividades em que as crianças e jovens participam não são, portanto, pensadas e pro-
postas isoladamente por um grupo da sociedade de acolhimento para um grupo de imi-
grantes, tal como não são pensadas e propostas por um/a adulto/a a um grupo de crianças
e jovens. Desta forma, assegura-se:
- a adequação das propostas às necessidades dos/as participantes,
- o envolvimento dos/as mais velhos/as de ambos os lados no processo, com efeitos na
mobilização dos elementos mais novos de cada grupo;
- o interesse dos temas e das dinâmicas para os/as mais novos/as, já que são propostos
por pessoas com idades próximas, com maior probabilidade de se aproximarem dos seus
gostos;
Por outro lado, para as pessoas que fazem parte do “grupo de trabalho”, este modelo
fomenta a sua autonomia e responsabilização e desenvolve capacidades de planeamento
e implementação de iniciativas, assim como de liderança e tomada de decisão.

O Plano de Acção é definido por uma equipa constituída com elementos das duas enti-
dades
O Plano de Acção deverá definir o número de actividades de cooperação a realizar, as
datas mais propícias, os actores-chave a envolver e a divisão de responsabilidades entre
parceiros. Este Plano deverá ter em conta:
- o levantamento prévio de barreiras à participação e dos factores que podem facilitar ou
dificultar a adesão às propostas,
- os resultados da avaliação de experiências anteriores e
- o plano de outras iniciativas, de modo a integrar estas actividades com outras, aprovei-
tando sinergias e complementaridades e evitando a sobreposição de acções.

A primeira actividade de cooperação é preparada pelos/as dirigentes / monitores/as do con-
texto de educação não-formal; nas restantes, este grupo apenas acompanha a preparação
das actividades
A primeira actividade é preparada pelos/as dirigentes (ou monitores/as) por duas razões. A
primeira é porque é o primeiro momento de contacto entre as crianças e jovens de ambas
as entidades e porque é particularmente importante que tudo corra bem (nas futuras inter-
acções há mais margem para erros). A segunda razão é que o “grupo de trabalho” só é con-
stituído depois desta etapa.

                                                                                             21
Proposta formativa de educação não-formal de crianças e jovens
     num contexto intercultural para uma cidadania responsável




         No Vamos Utopiar, o plano de acção foi definido ao longo das reuniões da equipa
         técnica da Parceria de Desenvolvimento do projecto e de reuniões bilaterais entre
         responsáveis da AMRT e da AGP. Estas reuniões serviram para delinear as etapas
         seguintes e fazer o balanço do desenrolar do projecto. Paralelamente, permitiram
         o aprofundamento da relação entre as entidades e o conhecimento acerca do tra-
         balho desenvolvido por cada uma delas.
         O plano de acção definido pela equipa da PD foi passado às dirigentes respon-
         sáveis pela sua implementação na AGP.



     As restantes actividades são preparadas por um “grupo de trabalho” com igual número de
     jovens dos dois lados
     O “grupo de trabalho”, que não deve exceder as 8 pessoas (número que permite que
     todos/as participem), deverá reunir-se várias vezes antes da data de realização de cada
     actividade, num local e horário conveniente para todos/as, de modo a definir o local de real-
     ização da actividade, o que se irá comer ao longo do dia, o imaginário e as dinâmicas uti-
     lizadas, a bricolage para o decorrer das actividades, o emblema do dia e a forma de avaliar
     a acção com os/as mais novos/as. Para realizar estas funções, conta com o apoio dos/as
     dirigentes / monitores/as, que procuram assegurar o cumprimento dos objectivos propos-
     tos e tratar de aspectos práticos, tais como as autorizações para realizar a actividade no
     local proposto (se necessário), alugar transportes, comprar comida, divulgar a actividade e
     reunir inscrições, tratar do seguro de acidentes para todos/as para o dia da actividade e
     garantir que os/as Encarregadas/os de Educação assinaram uma autorização de partici-
     pação das/os menores (Termo de Responsabilidade).


         Foi constituído um “grupo de trabalho” com 4 raparigas com idades entre os 14 e
         os 17 anos pertencentes à 4ª Companhia de Lisboa, e 4 raparigas oriundas do
         bairro do Talude, com as mesmas idades.




22
K IT DA CIDADANIA
Avaliação das participantes do Grupo de Trabalho


    “Nunca as teria conhecido (as jovens do Talude) se não fosse o projecto. Tomei
    consciência da realidade em que elas vivem e percebi que tinha muitas ideias
    erradas.”
    “Percebemos que apesar de vivermos em realidades diferentes, somos parecidís-
    simas, temos gostos semelhantes, ouvimos as mesmas músicas, rimos do mesmo
    tipo de piadas”
    “Reconhecemos que afinal podemos aprender umas com as outras, que há coisas
    que se desenvolvem, como a amizade, a organização e a entreajuda”
    “Fizemos tudo isto em conjunto.”
    “A preparação e realização da exposição para os pais foi um dos melhores
    momentos, porque houve vontade mútua de aprender. Já nos conhecíamos mel-
    hor, já não tínhamos vergonha umas das outras e preparámos juntas e de forma
    divertida o almoço para todos.”
    “Para mim, a 1ª actividade em Monsanto foi excelente ver a alegria imensa dos
    meninos do Talude.”
    “A preparação da apresentação do Fórum da Interculturalidade foi o melhor! Foi
    um momento em que estávamos todas presentes a ensaiar o nosso sketch e
    enquanto umas iam aprendendo uma dança, outras faziam uma montagem de
    fotografias… nesta fase já éramos amigas.”
    “Os melhores momentos foram a preparação das actividades, porque passámos a
    sentir-nos mais à vontade com as raparigas da AGP, porque trabalhámos em con-
    junto com elas.”
    “A exposição aos pais foi um momento muito importante porque vimos o nosso tra-
    balho reconhecido pelos nossos pais.”
    “Aprendemos canções/músicas e danças com as Guias e percebemos que con-
    seguimos organizar jogos e actividades sozinhas.”


ENVOLVIMENTO DAS FAMÍLIAS

As Famílias devem ser informadas sobre o trabalho que está a ser realizado, quer através
de um contacto informal, quer através de reuniões marcadas para o efeito. Deverão ainda
ser envolvidas no desenrolar do processo, e ser convidadas a estar presentes e a partici-

                                                                                            23
Proposta formativa de educação não-formal de crianças e jovens
     num contexto intercultural para uma cidadania responsável



     par em algumas das actividades, no sentido de terem um papel activo que ajude a/o(s)
     filha/o(s) a desconstruírem ideias pré-concebidas.

     Avaliação das Famílias das Avezinhas e Guias e crianças e jovens do Talude:


         “Como antiga Guia, sempre achei que iniciativas destas, viradas para o exterior, é
         que faziam sentido. Estou orgulhosa de que a minha filha faça parte deste projec-
         to. Continuem!”

         “Olá todos! Esta actividade é o exemplo de que o Homem e o seu desenvolvimen-
         to estão relacionados com as vontades, “as nossas vontades”. Espero que seja
         para continuar com muita alegria e vontade, pois só deste modo poderemos con-
         struir um mundo em que todos possamos viver em igualdade de oportunidades.
         Mas que seja mesmo efectivo, ou seja, que as pessoas sintam que isso está real-
         mente a acontecer. Um grande abraço a todos e que continuem com muita força
         de espírito.”
         “Esta exposição, bem como o clima em que foi apresentada é, sem dúvida, um
         excelente testemunho sobre o que podemos fazer com os outros, sem sermos uns
         e outros, mas sendo nós. Muitos parabéns!”
         “Queremo-vos parabenizar por todos os eventos feitos, pois têm ajudado a melho-
         rar a nossa sociedade e a interculturalidade de todos. Esperamos também que
         continuem a existir estes eventos e que, com a ajuda de todos, possamos mel-
         horá-los.”
         “É sempre bom saber que ainda existem pessoas interessadas em produzir diver-
         timentos para o bem de todas as comunidades, sem diferenças. Um bom projecto
         e um excelente princípio! Continuem a acreditar que vai ser um sucesso para
         todas as envolvidas. É certamente uma fantástica acção de formação!”




     MOMENTOS-ESTRUTURANTES DAS ACTIVIDADES DE COOPERAÇÃO

     Em geral, as actividades estruturam-se em torno de seis momentos: boas vindas, formação
     de equipas, dinâmica da manhã, almoço, dinâmica da tarde e avaliação.
     - Nas “boas vindas” podem-se convidar as crianças e jovens a distribuírem-se ao longo de

24
K IT DA CIDADANIA
uma roda. O/a dirigente dá então as boas vindas a todos e todas e propõe que se cantem
algumas músicas que toda/os conheçam, o que não só é algo do agrado das crianças e
jovens, como permite que os níveis de ansiedade se atenuem;
- A formação de equipas é feita através de uma dinâmica, proposta pelo “Grupo de
Trabalho”, que também funciona como “quebra-gelo”. Em seguida, distribui-se os emble-
mas da actividade (para que todos/as se sintam parte integrante) e transmitem-se recados
importantes e regras de segurança;
- Depois das equipas formadas, é chamado o elemento mais velho de cada uma, designa-
do chefe da equipa, para ouvir a explicação da dinâmica da manhã, receber materiais de
apoio (como por exemplo “mensagens”) e esclarecer eventuais dúvidas. Este deverá
depois pôr a par os restantes membros da sua equipa do que lhe foi dito e “começar o
jogo”;
- O almoço deve ser tomado no grupo alargado e permitir aos/às participantes des-
cansarem e terem algum tempo livre;
- A dinâmica da tarde, ao contrário daquela da manhã, em que cada equipa desenvolve a
sua actividade independentemente das outras, pode ser orientada para que as equipas
organizem uma tarefa em conjunto - pode ser inventar uma música, uma dança, um
pequeno teatro… - para depois apresentarem ao grupo alargado;
- No fim do dia, propõe-se a avaliação do encontro, procurando criar contextos para que
toda/os deixem o seu testemunho do que sentiram durante o dia. Este testemunho não pre-
cisa necessariamente ser escrito; pode-se estimular a imaginação artística através de
desenhos e objectos ou imagens coloridas.



FORMAÇÃO DE ANIMADORES/AS

MONITORES COMO PÚBLICOS ESTRATÉGICOS

A formação sobre pedagogia para a interculturalidade a dirigentes ou monitores/as que tra-
balham directamente com as crianças e jovens é um dos pilares da estratégia, essencial-
mente por duas razões: por um lado, enraíza-se no reconhecimento da influência que
jogam na modelação dos comportamentos de jovens e crianças que integram o movimen-
to; por outro, devido às responsabilidades que detêm na orientação do grupo, na gestão
das relações, na estruturação das actividades e na definição das linhas orientadoras da

                                                                                             25
Proposta formativa de educação não-formal de crianças e jovens
     num contexto intercultural para uma cidadania responsável



     acção (temas, etc…).
     Os/as dirigentes ou monitores/as estão, assim, estrategicamente bem situados/as para
     contribuírem de forma efectiva para a construção de relações positivas e igualitárias entre
     crianças e jovens do grupo dominante e outras que se apresentam de forma evidente como
     “diferentes”.


     OBJECTIVOS DA FORMAÇÃO

     A resposta formativa concebida visa ser um contributo para que os/as formandos/as se
     tornem mais aptos/as a:
     - Analisar criticamente a relação com a diversidade, tornando conscientes e transformando
     representações, atitudes e comportamentos face ao/à outro/a que se apresenta de forma
     evidente como diferente;
     - Reconhecer a riqueza associada à diversidade e as possibilidades de mobilizar, para
     benefício de todos/as, as diferenças e as semelhanças entre os membros do grupo;
     - Alargar a compreensão dos fenómenos de desigualdade e discriminação, identificando os
     mecanismos que os reproduzem;
     - Questionar o modo como a organização acolhe (ou não) a diversidade das crianças e
     jovens, identificando modos de funcionamento organizacionais constituem barreiras à par-
     ticipação e integração numa base igualitária de todas as crianças e jovens;
     - Analisar criticamente e transformar práticas enquanto monitores/as reconhecendo o
     impacto das mesmas no contexto educativo no qual exerce este papel, do ponto de vista
     da igualdade de oportunidades (entre crianças e jovens de diferentes origens e/ou meios
     sócio-culturais, de diferentes sexos, etc.);
     - Propor estratégias/actividades e adoptar comportamentos e atitudes capazes de con-
     tribuir para proporcionar uma efectiva igualdade de circunstâncias educativas para todas
     as crianças;
     - Apropriar-se dos objectivos da proposta e envolver-se na sua concretização.


     LINHAS DE ORIENTAÇÃO METODOLÓGICAS

     Recurso a metodologias activas
     Privilegia-se o recurso a metodologias activas e reflexivas que apelam à participação de
     todos/as e criam condições para a realização dos objectivos de tomada de consciência e

26
K IT DA CIDADANIA
para a revisão dos próprios pressupostos ideológicos, atitudes e comportamentos.
Evitam-se as intervenções de carácter predominantemente expositivo e didáctico que colo-
cam os/as formandas num papel passivo. Os conteúdos que se introduzem são apresen-
tados enquanto instrumentos de apoio à problematização e enriquecimento da reflexão.
Os/as formandos/as como objectos de (auto) conhecimento e transformação
Estimula-se que os/as formandos/as se constituam a si mesmos/as como objectos de con-
hecimento. O questionamento das próprias perspectivas e práticas, dos modos habituais
de olhar e lidar com a diferença são chave no processo de formação. Reconhece-se que
não há receitas válidas e adequadas para qualquer situação, pressupondo-se que a trans-
feribilidade das mudanças implica um investimento na construção de atitudes de vigilância
crítica que permitem a adequação dos comportamentos às situações concretas.
A experiência como recurso
A experiência pessoal e, em particular, enquanto agentes educativos/as são fundamentais
nesta intervenção formativa, sendo transversal a todo o processo a aproximação às reali-
dades significativas dos/das formandos/das. Convocam-se os seus percursos, as suas
vivências e experiências de acção, criando-se pontes entre teoria e prática.
Orientação para a acção
Em diversos momentos a intervenção formativa ancora-se na resolução de problemas
(reais ou antecipados) propostos pelo/a formador/a ou pelos/as formandos/as. A ligação à
prática e a orientação para a acção criam condições para que a intervenção formativa seja
percebida pelos/as formandos/as como útil e relevante e transferível.
Trabalho em pequenos grupos
Valoriza-se o trabalho em pequenos grupos, na medida em que propicia o diálogo e a par-
ticipação. Por outro lado, permite um maior aprofundamento e cruzamento de pontos de
vista e potencia a capacidade de gerar alternativas de acção.


MÓDULOS DA FORMAÇÃO

A intervenção formativa estrutura-se em quatro módulos interdependentes, cujas propostas
podem dar origem a diferentes combinações de formação, dependendo do tempo e das
necessidades específicas a que se pretende fazer face:
- Compreender a discriminação. Questionar e transformar a relação pessoal com a difer-
ença.
- Analisar e transformar os contextos. Construir competências para a acção
- Construindo os pilares da acção – aproximação ao Bairro e investimento na relação de

                                                                                            27
Proposta formativa de educação não-formal de crianças e jovens
     num contexto intercultural para uma cidadania responsável



     parceria
     - Avaliação da intervenção formativa
     Para cada um dos módulos apresentam-se os objectivos, descrevem-se as actividades
     propostas, estima-se o tempo necessário ao seu desenvolvimento e listam-se os recursos
     materiais utilizados.


         A experiência de formação levada a cabo pelo Graal junto de dirigentes da AGP
         decorreu ao longo de 3 sessões, que no total somaram 33 horas de formação.


     Módulo “Compreender a discriminação; questionar e transformar a relação pessoal com a
     diferença”

     Desenrolando o novelo
     Objectivo(s)     Identificar e tomar consciência de atitudes e comportamentos discriminatórios
     Duração             20 minutos
     Material            Novelo de lã
     Desenvolvimento O novelo vai desenrolando de mão em mão à medida que os/as formandos
                         /as tomam a palavra para completar a frase: Discriminamos quando ….

     Situações mais e menos óbvias de discriminação
     Objectivo(s)        Identificar comportamentos e mecanismos que colocam e mantêm
                         pessoas e grupos em situação de desvantagem
                         Tomar consciência das práticas e relações de cada um/a com a
                         diferença
     Duração             90 minutos
     Material            Flip chart e canetas
     Desenvolvimento Divide-se o grande grupo em pequenos grupos de 4 a 6 elementos.
                     Propõe-se a cada subgrupo que seleccione e descreva uma situação
                     óbvia e uma situação subtil de discriminação;
                     Em grande grupo, a/o porta-voz de cada subgrupo apresenta as situ-
                     ações seleccionadas que são debatidas. O/a formador/a propõe um

28
K IT DA CIDADANIA
              conceito de discriminação, definida por colocar-se ou manter-se de
              forma efectiva outra pessoa numa situação de desvantagem. Pode
              colocar-se alguém em situação de desvantagem directamente (através
              de uma agressão, do tratamento desigual) ou através de regras pseu-
              do-neutras. Quanto à manutenção da situação de desvantagem: pode
              fazer-se directamente através de preconceitos, estereótipos e pela afir-
              mação de uma posição social desigual ou indirectamente pelo evita-
              mento da mudança, pela ausência de cooperação e resistências a
              acções positivas.
              As situações identificadas nos grupos são analisadas face a este ref-
              erencial.




Na AGP, foram escolhidas e discutidas as seguintes situações:

Situações óbvias de discriminação

- Barreiras físicas que impedem o acesso aos locais públicos por parte de pessoas
deficientes;
- Não se seleccionar sistematicamente uma criança para uma equipa de desporto;
- Classificar pessoas pela zona onde moram ou pela profissão que têm;
- Discursos racistas e ofensas a pessoas por serem estrangeiras;
- Empresa que contrata apenas funcionários brancos e portugueses;
- Comentários para pessoas obesas “Olha o gordo!”.

Situações subtis de discriminação

- Afastamento de uma pessoa com um aspecto diferente nos transportes públicos;
- Não querer ser namorado/a de alguém porque é gordo/a;
- Ter um discurso paternalista e usar expressões politicamente correctas, tais
como: “é de cor”;
- Entrevista de emprego a uma mulher: “Está a pensar ter filhos?”;
- Depois de um assalto alguém perguntar “Era preto?”;
- Escolher amigos/as na escola pela marca de roupa.


                                                                                         29
Proposta formativa de educação não-formal de crianças e jovens
     num contexto intercultural para uma cidadania responsável


     Imagine que…
     Objectivo(s)      Identificar atitudes discriminatórias
                       Reconhecer de potenciais dificuldades pessoais em lidar com a
                       diferença
                       Problematizar fenómenos de discriminação e exclusão associados à
                       pertença a um dado grupo.
     Duração           60 minutos
     Material          Cartões com questões
     Desenvolvimento Propõe-se aos/às formandos/das que formem pares e se sentem
                     frente a frente, formando dois círculos. O/a formador/a distribui uma
                     folha com uma questão e durante 5 minutos os pares discutem e reg-
                     istam a resposta. Terminado este tempo, os/as formandos/das que se
                     encontram no círculo de fora deslocam-se para a cadeira que está à
                     sua direita, ao passo que os/as que integram o círculo de dentro man-
                     tém-se nos seus lugares; Este ciclo repete-se a cada nova questão.
                     No final da actividade, no contexto do grande grupo, os/as
                     formandos/das são convidados/as a responder às seguintes questões:
                     Como se sentiram ao responder às questões colocadas? Descobriram
                     alguma coisa sobre os limites pessoais relativamente a estas
                     questões?
                     Podem ser utilizadas questões como:
                     - Imagine que uma amiga sua se assume como racista, como reagiria?
                     - Imagine que saiu à noite e que no seu grupo de amigos/as se contam
                     inúmeras piadas racistas. Como reagiria?
                     - Imagine que chega a casa com um amigo negro. Qual seria a reacção
                     da sua família?
                     - Imagine que a sua melhor amiga lhe conta que está apaixonada por
                     um rapaz de etnia cigana. Que pensamentos e sentimentos lhe ocor-
                     reriam?
                     - Imagine que vai a uma festa de anos na qual apenas estão pessoas
                     da China. Como se sentiria?
                     - Imagine que se muda para a casa em frente à sua uma numerosa
                     família de ciganos. Que sentimentos esta situação lhe despertaria?
                     - Imagine que lhe era pedido que formulasse uma questão parecida
                     com as que anteriormente respondeu. Qual seria essa questão?
30
K IT DA CIDADANIA
Visionamento e discussão do Filme “Colisão”
Objectivo(s)      Reconhecer a complexidade dos fenómenos da discriminação racial e
                  de género
                  Problematizar o papel dos estereótipos e preconceitos e a influência da
                  história das tensões e desigualdades entre grupos na construção de
                  comportamentos discriminatórios
                  Tomar consciência de sentimentos e do posicionamento pessoal face
                  a situações de tensões entre grupos diferentes.
Duração         150 minutos
Material        DVD do filme “Colisão”
Desenvolvimento Os/as formandos/as visionam o filme e, na sequência, são convida-
                dos/as a identificar individualmente, a cena que lhes provocou mais
                incómodo e porquê. Num segundo momento, partilham em grande
                grupo e dinamiza-se o debate em torno das questões da desigualdade,
                da exclusão social, das discriminações raciais e de género.


Representar e pensar as discriminações
Objectivo(s)      Reconhecer os efeitos da discriminação nas vítimas
                  Analisar estratégias de prevenção e combate a situações de discrimi-
                  nação
Duração           90 minutos
Material          Não aplicável
Desenvolvimento Divide-se o grande grupo em pequenos grupos de 4-6 elementos.
                Propõe-se que cada um dos grupos prepare um role play que drama-
                tize uma situação de discriminação.
                Depois de representados os role play, estimulam-se os/as
                formandos/as a partilhar a sua vivência e estimula-se a exploração de
                estratégias para prevenir situações como a representada e pensam-se
                respostas possíveis para lidar com situações idênticas.




                                                                                            31
Proposta formativa de educação não-formal de crianças e jovens
     num contexto intercultural para uma cidadania responsável



     O que sabemos sobre…
     Objectivo(s)      Tomar consciência do nível de (des) conhecimento relativamente a out-
                       ras culturas.
                       Reconhecer potenciais obstáculos e mal entendidos associados à
                       incompreensão/desconhecimento destas especificidades.
                       Reconhecer o potencial de aprendizagem e questionamento associa-
                       do ao contacto com outras culturas.
     Duração           30 minutos
     Material          Não aplicável
     Desenvolvimento Os/as formandos/as são chamadas a pensar numa comunidade de
                     imigrantes e, em grupos de 4 a 6 elementos, responder às seguintes
                     questões: O que sabemos sobre….os valores, as relações familiares,
                     as relações entre gerações, as relações entre homens e mulheres; a
                     educação das crianças; as convenções sociais, o lazer e o divertimen-
                     to, a relação com o tempo e com a autoridade na cultura X?
                     15 minutos depois, o/a formando/a solicita aos elementos do grupo que
                     partilhem com o grupo, se tiveram a percepção de saberem muito ou
                     pouco sobre a cultura das comunidades que escolheram. O/a for-
                     mador/a estimula o grupo a pensar nas consequências do desconhec-
                     imento de aspectos importantes de outras culturas que coexistem na
                     nossa sociedade e nos possíveis ganhos associados a um maior con-
                     hecimento.
                     Representar e pensar as discriminações

     O/a outro/a como ponto de partida
     Objectivo(s)      Conhecer, empatizar e compreender experiências de crianças e
                       jovens que imigram ou que descendem de imigrantes
                       Reconhecer possibilidades de acção individual com vista a facilitar a
                       integração de crianças e jovens com experiência de imigração
     Duração           60 minutos
     Material        Testemunhos
     Desenvolvimento Propõe-se aos/às formandos/as que leiam e analisem um testemunho
                     de vida de uma jovem com uma trajectória de imigração e um teste-
                     munho colectivo de um grupo de jovens de origem africana. De segui-

32
K IT DA CIDADANIA
              da, pede-se que identifiquem as perdas, as dificuldades e exigências
              experimentadas. Num segundo momento, os/as formandas são estim-
              ulados/as a identificar os recursos e acções que poderiam facilitar o
              processo de integração destes/as crianças e jovens.
Recursos de   Estrato da história de vida da Dulcineia, 20 anos, solteira, imigrante
Apoio         “sem papéis” nascida em Cabo Verde, chegou a Portugal em Dezembro
              de 1998.
              “Saí de lá (Cabo Verde) com 12 ou 13 anos. A minha mãe veio para Portugal
              quando eu tinha 6 anos. Como a minha mãe não podia trazer-me com ela,
              teve que me deixar com os pais do meu pai. (…), Fiquei muito contente com
              a ideia de vir para Portugal. Nos dias antes da viagem, eu tinha muita ilusão:
              “Vou para Portugal, vou ter muitos brinquedos, muitas bonecas, muita fartura.
              Vou comer muitos bolos. Vou ter muito dinheiro, vou poder ajudar as minhas
              famílias de Cabo Verde”. Tinha essa ideia, muita ilusão mesmo. Depois quan-
              do vim, fiquei muito desiludida. Eu via coisas que queria comprar, mas não
              podia ter.
              Quando cheguei, a minha mãe estava à minha espera. Foi muito estranho lá
              no aeroporto. Estavam lá muitos brancos e eu senti aquilo de uma maneira
              estranha, porque na minha terra quase não se viam brancos. Eu estava habit-
              uada a ver pessoas da minha cor, brancos só via na televisão. Depois, quan-
              do vi pessoalmente tantos brancos pela primeira vez, foi uma admiração. E
              eles também me olharam assim de uma maneira estranha.
              Vim logo aqui para o bairro, viver com a minha mãe. Nos primeiros dias, quan-
              do cheguei aqui ao bairro e vi que não tinha estrada, comecei a pensar que
              estava mesmo em Cabo Verde e subia às árvores como fazia lá. E andava aí
              por esse mato. Ia à procura das frutas, da manga e do coco, mas não encon-
              trava…
              No início foi muito difícil. Quando cheguei, a minha mãe queria que eu fosse
              estudar. Mas nesse ano já não consegui estudar e no seguinte também não.
              Estive dois anos sem conseguir ir à escola. Ia estudando em casa nos livros
              que trouxe de Cabo Verde. Ficava em casa sozinha, enquanto a minha mãe
              ia trabalhar. Às vezes sentia falta de trabalhar na terra (eu lá também trabal-
              hei na roça, a plantar milho, a semear) e então começava a cavar a terra com
              as mãos. E a minha mãe dizia-me “pensas que estás em Cabo Verde?”
              Tinha (e ainda tenho) saudades dos meus amigos, da escola de lá. Brincava
              muito com os meus amigos lá na rua e fazíamos muitos jogos. Aqui em
              Portugal não há rua. Só estradas. Lá tudo se passava na rua: muitas crianças
              que brincam, correm. Gosto mais da vida de lá.
              Há muitas coisas aqui que são diferentes e leva tempo para uma pessoa se

                                                                                                33
Proposta formativa de educação não-formal de crianças e jovens
     num contexto intercultural para uma cidadania responsável


                       adaptar. Em Cabo Verde as famílias são muito maiores. Na hora da refeição,
                       cada um apanha o seu prato e senta-se no quintal a comer e a falar. Aqui não.
                       Eu, quando fui a primeira vez a casa de uma amiga da minha mãe, passei
                       uma vergonha porque nem sabia comer de garfo e faca. Sempre comia de col-
                       her. A minha só me dizia “Tu não estás em casa”. Agora já aprendi, mas em
                       casa continuo a comer com a colher.
                       (…) Aqui na escola as pessoas viam-me ‘diferente’: agrediam-me, atacavam-
                       me. Os meus colegas diziam-me “ah preto, vai-te embora…”. Só que eu ainda
                       não percebia muito a língua, nem as coisas que eles estavam a dizer. Quando
                       eu tinha dúvidas, os professores não me explicavam. Uma colega cabo-ver-
                       diana é que me traduzia as coisas que os professores diziam na escola. Eu
                       notava diferenças na atitude dos professores, por causa da cor. Quando os
                       meus colegas tinham dúvidas, os professores explicavam-lhes várias vezes.
                       Mas quando era eu que perguntava, os professores já não repetiam. E come-
                       cei a sentir-me mal com aquilo.
                       Na escola, custou-me a adaptar aos horários. Lá em Cabo Verde, o horário
                       era sempre igual, das 8.00 às 13.00h. Mas aqui eu não percebia nada daqui-
                       lo. Todos os dias ia para a escola cedo. Estava lá sempre às 8.00h, mas havia
                       dias em que só entrava às 11.00h. Passava todo o dia lá. E depois ficava sem-
                       pre até às 18.00. Havia dias em que saímos às 17.00, mas ninguém me expli-
                       cava que as aulas nesse dia já tinham terminado. Perguntava aos meus cole-
                       gas e eles respondiam-me “desenrasca-te”. Perguntava à minha mãe e ela
                       não sabia.
                       Outra coisa que era diferente na escola, em Cabo Verde, é que nós tínhamos
                       de usar uma bata. Eu até trouxe a minha bata e ao princípio ia com aquela
                       bata à escola. Os meus colegas fartavam-se de gozar comigo e eu não perce-
                       bia porquê. Até que um dia percebi e deixei de usar aquilo. Para mim foi muito
                       difícil ir percebendo o que é que se passava à minha volta. Também gozavam
                       com os meus vestidos e as minhas chinelas. Eu ia de chinelas, como fazia lá
                       em Cabo Verde. Quando eu chegava, os meus colegas cochichavam. E eu
                       chorava, chorava. Eles gozavam comigo e eu sentia-me mal porque não
                       percebia porquê.
                       Ao princípio senti muito racismo e tinha mesmo muito medo. Um dia fui a um
                       restaurante com a minha mãe. Quando nos sentámos, houve um branco que
                       se levantou e chamou o gerente. Perguntou-lhe “Vocês aceitam este tipo de
                       gente aqui?”. A minha mãe revoltou-se e começou a discutir com o homem.
                       Ele começou a ameaçar: “Olha que eu estou com pistola. Vai para a tua terra,
                       preta. Vocês vêm para cá invadir o nosso país. Vão para a vossa terra, vão-
                       se embora daqui.” Eu pedi à minha mãe para sairmos dali, mas a minha mãe
                       não quis sair do restaurante. Eu fiquei com medo que ele me matasse mesmo

34
K IT DA CIDADANIA
e fiquei com aquele terror… Porque que lá na escola, em Cabo Verde, con-
tavam nos, quando estudámos a História de Portugal, que antigamente os
brancos maltratavam os escravos. Veio-me aquela imagem à cabeça e só
pensava “vão-me matar”. Eu era uma criança e pensava que me queriam
matar.

Testemunho colectivo dos jovens do Bairro do Talude
Aos olhos de outros portugueses, somos encarados como estrangeiros, como
imigrantes, mesmo quando nascemos cá. Ser imigrante em Portugal não é um
bom estatuto: há uma cultura de “hostilidade” relativamente aos imigrantes,
independentemente da sua origem.
Parece haver uma cegueira da sociedade portuguesa relativamente à riqueza
que a imigração traz, permitindo o contacto com ideias, culturas e modos de
vida diferentes. Há também uma cegueira relativamente ao papel dos imi-
grantes na economia: Portugal cresceu graças à imigração! No entanto,
atribuem-se aos imigrantes as causas de todos os problemas e somos
responsabilizados por roubar o emprego dos portugueses, apesar de nos ocu-
parmos, sobretudo, dos trabalhos que não querem fazer…
Todos sabemos o que é ser rotulado, discriminado, colocado num estatuto
inferior devido à cor da pele. Todos sabemos o que é ser vítima de precon-
ceitos e pagar pelo comportamento de alguns. O racismo, a negrofobia, são
frutos da ignorância. Quando se pergunta “é racista porquê?”, as pessoas não
conseguem dar justificação. Também não se entende como é que o governo
autoriza manifestações de extrema direita … não se pode falar em liberdade
de expressão, em democracia, quando o que está em causa é o respeito
pelos direitos humanos, quando há ofensas contra outros seres humanos.
Mas para grande parte dos portugueses, “ser preto” é aquilo que nos define,
mais do que o sermos descendentes de imigrantes africanos ou outra coisa
qualquer… Ao contrário, “ser branco” é visto como uma superioridade, mesmo
por alguns negros que, por exemplo, reconhecem um estatuto mais elevado
a quem é mais claro. Este complexo de inferioridade racial leva a que algu-
mas famílias de mulatos não se misturem com negros, a que famílias de
negros ambicionem casamentos com brancos…
Em situações em que somos alvo de atitudes discriminatórias e racistas,
alguns reagem com agressividade, partem para a ofensa e para “porrada” …
mas a maioria de nós sente-se humilhada e não reage, porque já nos habituá-
mos, porque estamos saturados de estar sempre a responder, porque não
podemos brigar com o mundo inteiro ou porque sentimos que a situação pode
piorar… Por comparação com as mulheres, os homens são tratados com mais
respeito, talvez por medo, porque se associa o negro à violência e à criminal-

                                                                                 35
Proposta formativa de educação não-formal de crianças e jovens
     num contexto intercultural para uma cidadania responsável

                       idade.
                       Além da discriminação constante, temos que enfrentar as barreiras burocráti-
                       cas, as leis que oferecem resistências à entrada, à permanência e que exclui
                       muitos dos que aqui vivem, trabalham e nascem. Quando procuramos
                       emprego em sectores mais qualificados não somos aceites por sermos
                       negros. As oportunidades são vedadas mesmo àqueles que estudaram.
                       Muitos de nós desanimam, sentem que não vale a pena, pensam em deixar
                       Portugal e virar-se para outro sítio onde sejam mais as oportunidades.
                       E tudo isto faz com que muitos vivam o sentimento de não pertencer a lado
                       nenhum, de ser um/a “Sem Terra”… faz com que fiquemos sem resposta
                       quando ouvimos “Vai para a tua terra”. Ter duas terras, duas culturas, poderia
                       ser uma riqueza, mas isso é, para já, um sonho. Esperamos que os nossos fil-
                       hos e os netos não passem pelas mesmas situações… Lá fora, os emigrantes
                       portugueses passam o mesmo que nós aqui. Emigram para outros países e
                       também lhes dizem “volta para a tua terra”. Há portugueses que passaram por
                       isto, mas quando vêm cá não se manifestam...
                       Viver no Bairro do Talude é também motivo de discriminação. Há medos e
                       ideias negativas em relação às pessoas que aqui vivem, o que faz com que
                       alguns não entrem sequer no Bairro… Além disso, os acessos e os trans-
                       portes são difíceis. É a forma do sistema nos manter mais isolados, guetifica-
                       dos e longe dos olhos do resto da sociedade.
                       Sentimos que também falta à comunidade imigrante africana a noção do seu
                       valor e também sintonia e união para lutar pelos próprios direitos e interess-
                       es. O sistema separou-nos: dividiu os negros, que lutam entre si e que se
                       matam uns aos outros. Há uma separação “tribal”, uma divisão entre grupos
                       de diferentes bairros. A população negra já passou por tanto que já não tem
                       direcção.
                       Reconhecemos que é prioritário levar a cabo acções de combate ao racismo
                       e à xenofobia, começando pela Escola. É também necessário conseguirmos
                       ver e dar uma maior visibilidade aos aspectos positivos do Bairro e às coisas
                       boas das nossas culturas. Consideramos também importante alimentar as
                       relações com pessoas de fora do Bairro e da sociedade de acolhimento,
                       porque a convivência é uma boa forma de desmontar preconceitos…

     Visionamento e discussão do Filme “Os Lisboetas”
     Objectivo(s)      Conhecer as condições de vida e vivências de diferentes comunidades
                       imigrantes em Portugal
                       Empatizar com pessoas e comunidades imigrantes
     Duração           150 minutos
     Material          DVD filme “Os lisboetas”
36
K IT DA CIDADANIA
Desenvolvimento Os/as formando/as visionam o filme e, na sequência, são
                convidados/as a identificar individualmente, a cena do filme mais sur-
                preendente, que os/as tenha estimulado a pensar. Num segundo
                momento, partilham em grande grupo e dinamiza-se o debate em torno
                das questões da desigualdade, da exclusão social, das discriminações
                raciais e de género.

O triângulo dramático de Karpman
Objectivo(s)      Analisar criticamente e transformar comportamentos e atitudes típicas
                  face a indivíduos/grupos em situação de dificuldade
Duração         30 minutos
Material        Flipchart e canetas
Desenvolvimento O/a formador/a apresenta o triângulo dramático de Karpman (diagra-
                ma que se apresenta em seguida) descrevendo os papéis de
                perseguidor/juiz, salvador e vítima, as relações de complementaridade
                que se estabelecem entre estas posições e a dinâmica da circulação
                de papéis. Este modelo é aplicado à análise das relações entre indiví-
                duos/grupos em posições sociais assimétricas. O/a formador/a,
                apelando à experiência pessoal dos/das formandos/as estimula o
                grupo a discutir as consequências relacionais e para cada uma das
                partes da adopção de cada uma destas posições.
Recursos de
Apoio




                                                                                          37
Proposta formativa de educação não-formal de crianças e jovens
     num contexto intercultural para uma cidadania responsável



     Viagem em direcção a um lugar sem discriminações

     Objectivo(s)      Identificar constrangimentos e factores a potenciar no sentido da con-
                       strução de relações igualitárias e não discriminatórias nos contextos
                       educativos
     Duração           60 minutos
     Material          Barco de papel e flipchart
     Desenvolvimento Propõe-se ao grupo a seguinte metáfora: há um barco que viaja no
                     sentido de um lugar livre de discriminações. Há ventos que o fazem
                     regredir e afastar-se do seu rumo. Um/a a um/a, à medida que fazem
                     circular um barco de papel, os/as formandos/as são convidados/as a
                     identificar os factores que podem dificultar a construção de relações
                     igualitárias entre as crianças e jovens de diferentes contextos sociais,
                     culturais, económicos no contexto da sua organização.
                     Num segundo momento, propõe-se ao grupo que se faça circular o
                     barco no sentido oposto, identificando, desta feita, os ventos
                     favoráveis”, isto é, os factores que propiciam o estabelecimento de
                     relações igualitárias entre crianças e jovens que de uma forma “evi-
                     dente” aparecem como diferentes, no âmbito da organização.
                     O/a formador/a regista no flipchart os factores identificados. No final
                     sintetiza-os e promove a reflexão crítica acerca dos mesmos. O/a for-
                     mador/a deve promover o questionamento e apoiar a identificação de
                     mudanças necessárias nos modos habituais de funcionamento para
                     que a organização crie condições para a participação de todos/as.



         No contexto da AGP foram identificados os seguintes factores:
         Ventos favoráveis
         - Capacidade de encontrar igualdades na diferença;
         - O desenvolvimento de tarefas em grupo;
         - Gostar de ser Guia e ser coerente com os valores das Guias;
         - Ter curiosidade;
         - Ser tolerante;
         - Reflectir e pôr em causa as evidências;


38
K IT DA CIDADANIA
   - Reconhecer preconceitos próprios;
   - Estar desperta para diferentes tipos de discriminação;
   - Dar exemplos positivos às mais novas.
   Ventos desfavoráveis
   - Barrar a entrada a estrangeiras, a pessoas de outras raças/etnias, com outras
   crenças;
   - Pais não quererem que as filhas convivam com pessoas socialmente desfavore-
   cidas;
   - As Guias porem de parte membros novos na patrulha, por serem diferentes;
   - Não haver curiosidade e interesse por outras culturas;
   - Ter medo do desconhecido;
   - Resistir à mudança e à diferença;
   - Impor sem discutir as regras;
   - Excesso de “espírito de patrulha”.Módulo “Analisar e transformar os contextos.


MÓDULO “ANALISAR E TRANSFORMAR OS CONTEXTOS. CONSTRUIR COM-
PETÊNCIAS PARA A ACÇÃO”

O que fazer?
Objectivo(s)     Reconhecer expressões de fechamento, formas de depreciação e
                 mecanismos de discriminação dentro dos grupos.
                 Reconhecer a necessidade de intervenção em situações de discrimi-
                 nação enquanto monitor/a.
                 Analisar estratégias e soluções capazes de prevenir e combater situ-
                 ações de discriminação.
Duração          120 minutos
Material         Flipchart e canetas
Desenvolvimento O/a formador/a propõe aos/às formandos/as que imaginem um grupo
                no qual as pessoas têm por hábito depreciar-se e desvalorizar-se
                mutuamente. De seguida, pede que respondam à questão “como se
                depreciam os/as outros/as? O/a formador/a vai registando os contribu-
                tos do grupo. Na discussão em plenário, o/a formador/a explicita a
                problematização em torno das consequências dos comportamentos

                                                                                        39
Proposta formativa de educação não-formal de crianças e jovens
     num contexto intercultural para uma cidadania responsável


                       referenciados e promove o debate sobre o papel dos/das monitores/as
                       face a situações semelhantes. Devem estimular-se os/as
                       formandos/as a partilhar experiências vivenciadas e presenciadas.
                       Neste sentido, podem utilizar-se questões como: situações como esta
                       acontecem no nosso quotidiano, na nossa organização? O que faze-
                       mos para lidar com elas?
                       O/a formador/a promove uma dinâmica similar, desta vez, partindo da
                       situação de um grupo fechado que não acolhe bem novos membros.
                       Os/as formandos/as são convidado/as a descrever os comportamentos
                       típicos deste grupo na relação com outros/as (que se registam no
                       flipchart). O debate deve ser conduzido de forma a promover o recon-
                       hecimento das consequências deste funcionamento grupal e a tomada
                       de consciência das práticas correntes dos/das monitor/as face a fenó-
                       menos como estes. Devem também explorar-se novas possibilidades
                       de acção dos/das monitores/as perante situações similares. Na orien-
                       tação do debate podem se colocadas questões tais como: estas situ-
                       ações são frequentes? Que consequências provocam? O que fazemos
                       perante estas situações? O que podemos fazer enquanto monitores/as
                       para prevenir estas situações e minimizar as suas consequências?


         No contexto da AGP, recolheram-se os seguintes contributos
         Depreciar é…
         - Desvalorizar;
         - Ser cruel;
         - Insultar;
         - Abusar do poder;
         - Criar boatos depreciativos;
         - Excluir através da criação de barreiras;
         - Ignorar e ser indiferente;
         - Rir/gozar com características físicas e opiniões pessoais;
         - Mandar fazer as tarefas piores e mais pesadas;
         - Discriminar com base na riqueza dos pais;
         - Desvalorizar devido ao número de anos guidistas;
         - Humilhar e repreender em público;


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K IT DA CIDADANIA
    - Levantar suspeitas e acusar sem fundamento;

    O que fazer?
    - Observar;
    - Estar atentas;
    - Avaliar periodicamente o desempenho da patrulha e do contributo de cada guia;
    - Valorizar o grupo e, havendo um elemento mais desfavorecido, realçar a sua
    importância no seio do mesmo;
    - Promover o envolvimento e a responsabilização de todas;
    - Promover o trabalho tendo em conta a diversidade;
    - Fazer jogos práticos, do tipo role-play que sensibilizem para a discriminação;


No contexto da AGP, recolheram-se os seguintes contributos:
Comportamentos típicos do grupo               O que fazer?
Tem uma linguagem própria e piadas pri-       Fazer jogos com patrulhas mistas (sepa-
vadas;                                        ração da patrulha de origem)
É muito unido;                                Promover actividades com outras
Há entreajuda entre os seus membros;          Companhias
Não está interessado na opinião dos outros;   Nos ramos Aventura e Caravela, atribuir
É ou julga-se auto-suficiente;                mais tarefas do que o número de elementos
Isolado e pouco receptivo ao exterior;        da patrulha, com o intuito delas próprias
Mau funcionamento com outros grupos           sentirem que precisam de ajuda e de todos
Protegem-se do exterior por insegurança;      os elementos
Sentem-se diferentes: superiores ou inferi-   As dirigentes dão exemplo de comporta-
ores;                                         mentos adequados
Resistem à mudança;                           Misturar o grupo e valorizar cada elemento
Não se auto-criticam e são pouco exigentes    Actividades de role-play onde se problema-
umas com as outras                            tiza a situação
Cada elemento actua em função do que o        Sensibilizar para o facto do lado mais “forte”
grupo espera                                  ter que fazer o movimento de abertura, para
A consciência do grupo e a individual fun-    que o esforço não seja todo do elemento em
dem-se                                        situação mais vulnerável.
Baseia a sua existência nas suas próprias
vivências.
                                                                                               41
Proposta formativa de educação não-formal de crianças e jovens
     num contexto intercultural para uma cidadania responsável


     Learning Cafe
     Objectivo(s)       Desenhar estratégias para a resolução de problemas (vivenciados ou
                        antecipados) pelos/as formandos/as na prática da intervenção
     Duração            90 minutos
     Material           Toalhas de mesa de papel e canetas
     Desenvolvimento O grupo subdivide-se pequenos grupos de 4 a 6 elementos. Cada um
                     dos sub-grupos ocupa uma mesa coberta por uma folha de papel e é
                     convidado a formular uma questão que gostasse de ver discutida no
                     contexto da formação. A questão escreve-se no centro da toalha de
                     mesa e começa com a expressão “como fazer para….?”.
                     Exemplos de questões:
                     - Como fazer para promover a construção de relações próximas e
                     igualitárias com as crianças/jovens de uma comunidade de imigrantes?
                     - Como fazer para estimular o envolvimento dos pais das crianças e
                     jovens dessa comunidade?
                     - Como fazer para envolver as raparigas sem que os rapazes se sin-
                     tam excluídos (quando se tratam de movimentos só de raparigas)?
                     Designa-se uma moderadora para cada uma das mesas que tem como
                     função sintetizar os diferentes contributos e clarificar pontos de vista.
                     De 15 em 15 minutos os grupos trocam de mesa, tentando dar respos-
                     ta a uma nova questão e fazendo registos na toalha. No final, as mod-
                     eradoras apresentam as conclusões em grande grupo que se discutem
                     em plenário.


     Prémio interculturalidade
     Objectivo(s)       Identificar os componentes que caracterizam os contextos intercultur-
                        ais
                        Criar indicadores capazes de avaliar a qualidade dos contextos do
                        ponto de vista da interculturalidade
                        Promover a auto-avaliação
     Duração            60 minutos
     Material           Flip chart canetas
     Desenvolvimento Dividem-se os/as formandos/as em pequenos grupos aos quais se

42
K IT DA CIDADANIA
                 propõe que imaginem que são um júri com a responsabilidade atribuir
                 um prémio a uma organização exemplar na promoção da
                 Interculturalidade. Neste sentido, é-lhes solicitado que elaborem um
                 conjunto de indicadores/critérios para avaliar as diferentes organiza-
                 ções candidatas.
                 Num segundo momento, o/a porta-voz de cada um dos grupo apresen-
                 ta os critérios propostos que são discutidos e sintetizados pelo/a for-
                 mador/a.



   Indicadores propostos no contexto da AGP
   Percentagem de elementos de diferentes culturas que integram a organização
   Os membros da organização:
   - Adquiriram conceitos e definições sobre a temática da interculturalidade
   - Estão abertos à entrada de novos elementos e novos elementos de culturas difer-
   entes
   - Realizam actividades com pessoas da sua comunidade com igual ou diferente
   cultura
   - Realizam mais do que uma actividade com elementos de culturas diferentes
   - Aplicam no seu dia-a-dia as competências adquiridas na realização/participação
   nas actividades
   - Demonstram conhecimentos sobre as culturas mais representativas presentes na
   sua comunidade


O que podemos propor aos nossos grupos?
Objectivo(s)     Conhecer e discutir propostas actividades a desenvolver com crianças
                 e jovens com vista a facilitar o reconhecimento por parte dos mesmos
                 de diferentes comportamentos discriminatórios e das suas consequên-
                 cias nas vitimas e promover o envolvimento activo na construção de
                 soluções capazes de contribuir para a inclusão de todos/as.
                 Analisar criticamente formas correntes de trabalhar as questões da
                 diversidade que reproduzem visões estereotipadas, “folclorizadas”
                 do/da “outro/a”.
Duração          90 minutos
                                                                                           43
Proposta formativa de educação não-formal de crianças e jovens
     num contexto intercultural para uma cidadania responsável


     Material           flipchart e canetas
     Desenvolvimento O/a formador/a apresenta algumas actividades que podem ser desen-
                     volvidas com grupos de crianças para trabalhar as questões da dis-
                     criminação, nomeadamente: a discussão e análise de situações críti-
                     cas (reais ou imaginadas) narradas, apresentadas em squetchs ou em
                     bandas desenhada e diversos jogos de cooperação.
                     Exemplos de situações problema:
                     - “A Ana é cabo-verdiana e entrou nas guias há poucos meses. As cole-
                     gas falam pouco com ela e ela própria toma pouca iniciativa, pensa
                     muitas vezes em desistir.”
                     - “A Rute levou para um acampamento um estojo de maquilhagens e
                     todas querem enfeitar-se para uma apresentação. Competindo pela
                     sua vez uma delas grita “não emprestes à Luana que isto não dá para
                     pretas”…
                     - “Desapareceu o tamagochi da Joana e todas as meninas começaram
                     a acusar a Lurdes, apesar de não haver nenhuma prova de ter sido
                     ela”.
                     - “A Raquel fez chichi durante a noite num acampamento. Nos últimos
                     tempos as meninas gozam com ela e fazem piadinhas acerca da situ-
                     ação e ninguém quer ficar com ela na mesma tenda.”
                     Os/as formandas são convidados/as a avaliar a adequabilidade das
                     propostas apresentadas aos contextos educativos nos quais exercem
                     o papel de monitor/a e a sugerir outras. O/a formador/a promove a
                     reflexão crítica acerca das formas correntes de trabalhar as questões
                     da diversidade que se traduzem na organização de iniciativas pontuais
                     de mostra dos usos e costumes de um dado local do mundo: dos seus
                     trajes típicos, do artesanato, da gastronomia, dado que estas iniciati-
                     vas se revelam, incapazes de promover a aproximação e potenciar a
                     transformação das representações que se tem do outro/a que aparece
                     de forma evidente como diferente.

     Partilhar experiências
     Objectivo(s)       Partilhar e reflectir experiências e identificar factores capazes de
                        favorecer ou dificultar o estabelecimento de relações igualitárias e pos-
                        itivas entre crianças de diferentes origens e/ou contextos sócio-cultur-
                        ais.
44
K IT DA CIDADANIA
Duração              90 minutos
Material             Flipchart e canetas
Desenvolvimento Solicitar aos/às formandos/as que descrevam numa página, uma
                experiência de trabalho com crianças/jovens que do seu ponto de vista
                tenha contribuído para criar condições favoráveis ao estabelecimento
                de relações igualitárias e positivas entre crianças de diferentes origens
                e/ou contextos sócio-culturais. Os/asformandos/as podem constituir
                um pequeno grupo, caso tenham vivenciado em conjunto a experiên-
                cia.
                Num segundo momento, narram a experiência seleccionada, eviden-
                ciando o que da sua experiência foi mais gratificante e o que foi mais
                negativo e difícil de gerir.
                Na sequência de cada um dos relatos os/as formandos/as são estimu-
                lados/as a sistematizar as lições aprendidas, identificando os factores
                aos quais se atribuem os sucessos e os insucessos.

Torre de Palhinhas
Objectivo(s)         Identificar factores necessários ao sucesso na realização de tarefas
                     em grupo
                     Compreender a cooperação como instrumento de combate à discrimi-
                     nação
Duração              45 minutos
Material             palhinha e fita-cola
Desenvolvimento Dividem-se os/as formandos/as em grupos de 4 a 6 elementos.
                Propõe-se a cada grupo que construa uma torre tão alta quanto pos-
                sível com palhinhas e fita-cola (materiais que se fornecem) sem qual-
                quer outro ponto de apoio que não seja a própria estrutura e o chão.
                Têm 10 minutos para executar a tarefa.
                Passados 5 minutos, o/a formador/a informa que a tarefa vai ser difi-
                cultada, ninguém poderá falar e cada um/a só poderá utilizar uma mão.
                No fim, propõe-se aos/às formandos/as que partilhem os sentimentos
                experienciados e o que pensaram ao realizar esta actividade. O/a for-
                mador/a explicita a importância de se ter em conta o objectivo, as fer-
                ramentas, competências e o estímulo quando se propõem actividades

                                                                                            45
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Kit da Cidadania - Educação intercultural

  • 1.
  • 2. FICHA TÉCNICA TÍTULO Kit da Cidadania – Proposta formativa de educação não- formal de crianças e jovens num contexto intercultural tendo em vista uma cidadania responsável COORDENAÇÃO Associação Guias de Portugal REDACÇÃO Associação Guias de Portugal Graal COLABORAÇÃO Parceria Vamos Utopiar: • ACIDI • AGP • AMRT • GRAAL • LUSOTEMP DESIGN E PAGINAÇÃO Keep it Simple
  • 3.
  • 4. Proposta formativa de educação não-formal de crianças e jovens num contexto intercultural para uma cidadania responsável ÍNDICE Introdução 06 Necessidades a que o KIT DA CIDADANIA procura dar resposta 06 O que é o KIT DA CIDADANIA 06 Contexto que justifica a intervenção 07 Quem pode aplicar o KIT DA CIDADANIA 08 Principais Actores/as 08 Objectivos 09 Ganhos / Motivações para aplicar o KIT DA CIDADANIA 09 Pilares da intervenção 11 Ponto de partida e estabelecimento da parceria 12 Reconhecimento de um problema 12 Trabalhar em parceria 12 Actividades de cooperação 16 Envolvimento progressivo 16 Orientações metodológicas das actividades 16 O que não são as actividades de cooperação 20 Actividades co-construídas pelos/as actores/as 20 Envolvimento das Famílias 23 Formação de animadores/as 24 Monitores como públicos estratégicos 24 Objectivos da formação 26 Linhas de orientação metodológicas 26 Módulos da formação 27 Anexos Diagnóstico às/aos Jovens (dividido por idades) 54 Diagnóstico às/aos Dirigentes Associativas/os 56 Diagnóstico às/aos Encarregadas/os de Educação 59 Actividades planeadas pelo Grupo de Trabalho 62 Jogos de Apresentação 74 Jogos de Formação de Equipas 76 Propostas de Avaliação 77 4
  • 5. K IT DA CIDADANIA 5
  • 6. Proposta formativa de educação não-formal de crianças e jovens num contexto intercultural para uma cidadania responsável INTRODUÇÃO NECESSIDADES A QUE O KIT DA CIDADANIA PROCURA DAR RESPOSTA Que motivos levam a que um grupo de educação não-formal procure, de forma pró-activa, proporcionar a crianças e jovens um contexto de vivência da diversidade? Que razões levam um grupo de imigrantes a colaborar numa proposta que visa a formação de crianças e jovens através da cooperação e aprendizagem entre pares? Quais os passos a seguir para se concretizar a cooperação? Quais as funções e competências necessárias dos/as responsáveis pela coordenação do projecto, dos/as dirigentes ou monitores/as que orientam a acção no terreno e das crianças e jovens envolvidos/as? Que princípios metodológicos estão subjacentes à cooperação entre pares tendo num con- texto de interculturalidade? Como se concretizam estes princípios? Que aspectos devem ser tidos em conta na concepção de actividades de cooperação com crianças e jovens de diferentes grupos culturais? Que dinâmicas (jogos para formação de equipas, dinâmicas de trabalho em conjunto, sug- estões de avaliação) facilitam a aplicação e apropriação desta proposta? Estas são algumas das questões a que se procura dar resposta ao longo do KIT DA CIDADANIA. O QUE É O KIT DA CIDADANIA O KIT DA CIDADANIA é uma estratégia pró-activa de abertura à interculturalidade de con- textos de educação não formal de crianças e jovens assente em três pilares: no trabalho em parceria com um grupo/entidade da população imigrante, numa proposta formativa intercultural tendo em vista uma cidadania responsável e na formação de dirigentes/moni- tores/as sobre a temática da interculturalidade. Traduz a experiência de trabalho realizado no contexto do projecto Vamos Utopiar, integra- do na Iniciativa Comunitária Equal, por uma parceria constituída por cinco entidades: - ACIDI (Alto Comissariado para a Imigração e Diálogo Intercultural) - Departamento gov- ernamental de apoio e consulta sobre assuntos relacionados com a imigração (www.acidi.gov.pt); 6
  • 7. K IT DA CIDADANIA - AGP (Associação Guias de Portugal) - Associação de educação não-formal de crianças e jovens raparigas para a cidadania (www.guiasdeportugal.org); - AMRT (Associação Melhoramentos e Recreativo do Talude) - Associação de imigrantes, maioritariamente caboverdianas/os, inserida no Bairro do Talude; - GRAAL - Associação de mulheres especializada na mobilização de grupos para a mudança de mentalidades e combate à discriminação (www.graal.org.pt); - LUSOTEMP - Empresa de trabalho temporário (www.lusotemp.pt) O objectivo geral do projecto VAMOS UTOPIAR era combater o racismo e a xenofobia a partir do envolvimento de imigrantes e sociedade de acolhimento em torno da proposta “Vozes que se levantam pela diversidade”, traduzida nas seguintes premissas: Vamos construir uma sociedade mais aberta, mais participativa e igualitária. Vamos defender o diálogo intercultural. Vamos ecoar a voz do/as imigrantes e das minorias étnicas. Vamos construir comunidades mais solidárias e unidas. Vamos acreditar que uma sociedade mais justa é possível. VAMOS UTOPIAR. CONTEXTO QUE JUSTIFICA A INTERVENÇÃO O KIT DA CIDADANIA parte do reconhecimento de que, apesar de formalmente não exis- tirem barreiras à participação de crianças e jovens imigrantes, ou descendentes de imi- grantes, em contextos de educação não-formal, estes raramente têm aqui uma partici- pação activa. Esta situação tem consequências tanto para os rapazes e raparigas da sociedade de acol- himento, como para aqueles de outras origens. Para uns, limitam-se oportunidades de aprendizagem da riqueza da diferença e da diversidade; para outros, limitam-se as vanta- gens associadas à participação em contextos de Educação Não-Formal, designadamente o sentido de identidade, de valorização de si e do outro, de sentido de pertença a um grupo, de educação para Valores, o desenvolvimento de competências transversais, não directa- mente associadas ao mercado de trabalho, a valorização da participação e da responsabi- lização colectivas, entre outras. Tal acontece porque, apesar de não ser essa a intenção, existem barreiras “invisíveis” e normas aparentemente neutras que fazem com que as crianças e jovens imigrantes não se sintam realmente incluídos/as nestes contextos. São barreiras físicas, ligadas a dificul- dades de deslocação, por exemplo, ou financeiras, associadas aos custos de participação 7
  • 8. Proposta formativa de educação não-formal de crianças e jovens num contexto intercultural para uma cidadania responsável nas actividades promovidas, mas são sobretudo barreiras culturais que dificultam a inte- gração, já que existem, de ambos os lados, estereótipos, incluindo estereótipos de género, que se traduzem muitas vezes em preconceitos que impedem a interacção. Importa, portanto, fazer um esforço consciente, intencional e pró-activo, para atingir novos grupos, pois isso não acontece “espontaneamente”. Importa também rever o modelo de funcionamento, de forma a garantir condições de vivência da igualdade. Importa ainda, e porque nos contextos de Educação Não-Formal os/as dirigentes ou monitores/as fun- cionam muitas vezes como modelos, aos/às mais novos/as ideologias e valores através da sua própria forma de estar e ser, criar contextos de reflexão e tomada de consciência sobre as práticas. QUEM PODE APLICAR O KIT DA CIDADANIA O KIT DA CIDADANIA é aplicável a entidades (uma associação, um movimento, um ATL, um escola, etc.) que promovam contextos de Educação Não-Formal a crianças e jovens, que reconheçam a necessidade de um esforço de abertura à inclusão da população imi- grante, por esta estar sub-representada. Devem ser entidades que, através da sua acção, pretendem promover a participação e a Cidadania, com abertura à criação de contextos de aprendizagem entre pares onde se proporcione a interacção entre grupos de diferentes quadrantes da sociedade. Neste sentido, o KIT DA CIDADANIA não se aplica a contextos de educação formal em que os comportamentos são normalizados, os espaços regulados, a autoridade assegurada por pessoal com autoridade e onde há um conjunto de conteúdos ou competências a atingir tendo em vista a certificação para níveis de maiores qualificações. Não se aplica, igual- mente, a contextos informais, como a família, o bairro, os/as amigos/as, onde as relações sociais se desenvolvem espontaneamente, de acordo com as preferências, valores e cul- turas de cada grupo reproduzindo, em geral, atitudes e comportamentos do passado. PRINCIPAIS ACTORES/AS Os/as principais actores/as do processo são os/as crianças e jovens propriamente ditos, os/as seus/suas respectivos/as animadores/as e as pessoas responsáveis por facilitar o processo junto da população imigrante. Aos/às animadores/as cabe estimular e orientar a acção, coordenar as actividades, 8
  • 9. K IT DA CIDADANIA envolver os/as participantes e respectivos pais/mães, desbloquear/facilitar quaisquer difi- culdades, motivar e orientar o grupo de trabalho para resultados e avaliar a acção. Aos/às facilitadores/as junto da população imigrante, cabe manter uma relação de proxim- idade e confiança com as crianças e jovens imigrantes, mobilizá-las para participar nas actividades de cooperação, convidar os/as jovens mais velhos/as para constituir uma task force (o grupo de trabalho) e acompanhar esse grupo, envolver pais/mães da comunidade imigrante e avaliar continuamente a necessidades de introdução de alterações ao proces- so. OBJECTIVOS O KIT DA CIDADANIA tem como objectivo proporcionar a crianças e jovens, imigrantes e da sociedade de acolhimento, contextos interculturais de educação não-formal tendo em vista uma Cidadania responsável. Para tal, o KIT DA CIDADANIA visa especificamente: - Explicitar as etapas que antecedem o desenvolvimento de uma estratégia pró-activa de abertura à diversidade; - Apresentar uma proposta formativa adequada à interacção de crianças e jovens, imi- grantes e da sociedade de acolhimento, tendo em conta a especificidade da educação não- formal e a especificidade do envolvimento da população imigrante; - Propor um conjunto de dinâmicas de formação de dirigentes / monitores/as GANHOS / MOTIVAÇÕES PARA APLICAR O KIT DA CIDADANIA O KIT DA CIDADANIA proporciona ganhos, que traduzem também motivações para aplicar o Kit, tanto para as entidades como para as pessoas envolvidas. PARA AS ENTIDADES PARCEIRAS - Faculta aos membros da entidade contextos de interculturalidade e a aprendizagem de diferentes formas de trabalhar, novas formas de olhar o mundo e novas competências; 9
  • 10. Proposta formativa de educação não-formal de crianças e jovens num contexto intercultural para uma cidadania responsável - Contribui para criar uma sociedade mais justa, mais igualitária e mais inclusiva; - Desenvolve, no seio da organização, um ambiente favorável à mudança; - Questiona práticas que se reproduzem, muitas vezes sem disso se ter consciência, definindo os aspectos a alterar e outros que devem ser consolidados; - Promove a construção de relações sociais baseadas nos princípios de igualdade e de justiça social e fortalece a prática da cidadania. Além destes aspectos, comuns a ambas as entidades parceiras, para aquela que promove contextos de educação não-formal o KIT DA CIDADANIA: - Proporciona a crianças e jovens de diferentes quadrantes contextos particularmente favoráveis à aprendizagem da diferença e da igualdade como valores positivos; - Aumenta o universo de pessoas que podem pertencer / fazer parte da entidade e propor- cionar a todos e a todas a participação plena na sociedade; PARA OS/AS DIRIGENTES / ANIMADORES/AS - Desperta para a vivência das diferenças, para a realidade do dia-a-dia dos/as imigrantes e a perspectiva do/a Outro/a e estimula a curiosidade e o interesse em se aproximar da diferença; - Questiona atitudes, comportamentos, normas e procedimentos discriminatórios e mobiliza para a luta contra quaisquer formas de discriminação, designadamente no contexto especí- fico de intervenção enquanto animadores/as; - Oferece ferramentas aplicáveis à resolução de problemas, reais ou antecipados, e trans- forma práticas na relação com as crianças e grupos; - Motiva para a intervenção junto das crianças e jovens, aumenta a confiança na inter- venção, reforça o significado do trabalho desenvolvido. PARA AS CRIANÇAS E JOVENS, IMIGRANTES E DA SOCIEDADE DE ACOLHIMEN- TO, O KIT DA CIDADANIA - Promove o empoderamento associado à experiência de concretização de tarefas especí- ficas realizadas em pequenos grupos, onde todos/as têm um papel activo e aprendem ao fazer, com reflexos na auto-estima e na capacidade de afirmação pessoal; - Aumenta o sentido de responsabilidade, autonomia, criatividade, iniciativa e trabalho em equipa; 10
  • 11. K IT DA CIDADANIA - Promove o sentido de pertença a um grupo e a construção de uma identidade colectiva; - Facilita a aprendizagem da diversidade, da igualdade e da diferença como valores posi- tivos; - Promove a receptividade à mudança; - Desconstrói preconceitos; - Altera atitudes e comportamentos associados à discriminação; - Altera a forma de interagir / relacionar-se com pessoas de outras referências culturais; - Facilita o auto-conhecimento e o reconhecimento nos/as outros/as do que há em comum; - Capacita para reagir em situações de desigualdade; - Desenvolve um papel mais activo e consciente na construção de uma sociedade mais aberta, mais participativa, mais diversificada; - Facilita a aprendizagem da prevenção de conflitos e do saber lidar com a diferença; - Permite que todos/as se valorizem e valorizem os outros; - Promove a rejeição de preconceitos (que nos são dirigidos e os que dirigimos a outros); - Assenta no reconhecimento de que todas as pessoas como iguais, dentro de suas difer- enças, enquanto seres humanos. Para os/as jovens que constituem o “grupo de trabalho”, além dos ganhos acima referidos, o envolvimento e a responsabilização na concepção e organização de actividades para os seus pares permite-lhes: - Ganhar autoconfiança; - Estimular a capacidade afirmativa; - Desenvolver a capacidade de liderança e de tomada de decisão. PARA AS FAMÍLIAS DAS CRIANÇAS E JOVENS - Questiona práticas e comportamentos discriminatórios e promove a diversidade enquan- to valor - Reforça o significado atribuído à participação dos filhos/filhas no grupo; - Faz acreditar na mudança e aumenta a esperança no futuro: PILARES DA INTERVENÇÃO Tendo em vista os objectivos definidos, propõe-se uma estratégia assente em três pilares: - Trabalho em parceria entre uma entidade que promove contextos de educação não for- 11
  • 12. Proposta formativa de educação não-formal de crianças e jovens num contexto intercultural para uma cidadania responsável mal e outra entidade/grupo com conhecimentos e contactos privilegiados junto da popu- lação imigrante; - Planeamento, concepção, organização, desenvolvimento e avaliação de actividades de cooperação entre crianças e jovens, imigrantes e da sociedade de acolhimento, pensadas a partir de um conjunto de orientações metodológicas; - Formação sobre pedagogia para a interculturalidade a dirigentes ou monitores/as que tra- balham directamente com as crianças e jovens. PONTO DE PARTIDA E ESTABELECIMENTO DA PARCERIA RECONHECIMENTO DE UM PROBLEMA O ponto de partida para aplicar o KIT DA CIDADANIA é o reconhecimento do problema. Neste sentido, propõe-se, antes de mais, um processo de questionamento interno no seio na entidade que promove contextos de educação não-formal a crianças e jovens, de forma a responder a duas questões: - “Será que o nosso contexto de educação não formal garante as condições para que todas as crianças e jovens, independentemente da sua nacionalidade, país de origem, cultura, etc., participem em condições de igualdade nas actividades por nós promovidas?” - “Será que estamos interessados/as em fazer um esforço pró-activo e consciente de aber- tura a outros grupos?” Estas questões, muitas vezes colocadas intuitivamente pelos elementos responsáveis pela entidade, devem ser aprofundada com um diagnóstico onde se evidencie a percepção de todos/as em relação à temática. TRABALHAR EM PARCERIA Uma vez reconhecido o problema e assumido o interesse em alterar a situação, importa estabelecer uma pareceria com uma entidade ou grupo, formalmente constituído ou não (pode ser uma associação, um grupo informal, um clube, etc.), que se caracterize por: - Conhecer a especificidade da realidade da população imigrante, de forma a planear 12
  • 13. K IT DA CIDADANIA acções e orientações; - Ter contactos privilegiados e uma relação de confiança com essa população, que facilite a mobilização; - Relacionar-se com crianças e jovens das mesmas faixas etárias, que cooperam com aquelas da sociedade de acolhimento; - Ser geograficamente próximo, de modo a que a interacção seja viável sem elevados cus- tos e tempo de deslocações. Tal como a entidade que proporciona contextos de educação não-formal, também esta enti- dade deverá fazer um processo de questionamento interno que evidencie as vantagens da cooperação. Se ambas confirmarem vontade efectiva de interacção/cooperação, condição necessária para garantir o empenhamento num processo que obriga, muitas vezes, a ultrapassar difi- culdades resultantes de diferentes culturas e formas de trabalhar, passa-se para uma etapa de consolidação da parceria. Nesta fase, importa que ambas as entidades partilhem e aprofundem as suas expectativas em relação à proposta do KIT DA CIDADANIA, que invistam na criação de uma relação favorável à cooperação, que procurem conhecer-se mutuamente de modo a criar uma plataforma de entendimento, designadamente a nível da linguagem e conceitos, forma de colaboração e divisão de responsabilidades e modo de apropriação da proposta do KIT DA CIDADANIA. Relativamente à divisão de responsabilidades, de modo geral, à entidade que promove contextos de educação não-formal cabe adaptar a sua proposta de forma a proporcionar contextos de real vivência da igualdade e à entidade com contactos e conhecimentos junto de crianças e jovens imigrantes cabe envolver a população-alvo e motivar à participação, assim como contribuir para o planeamento e avaliação contínua da Acção. O Plano de Acção deve ser definido em conjunto, de forma a incorporar aprendizagens e resultados do acompanhamento e avaliação contínua e criar condições para que, nos diversos contextos promovidos, todos/as se sintam “iguais na diferença e diferentes na igualdade”. De resto, cabe a cada uma das entidades, separadamente: - Mobilizar a respectiva estrutura interna; - Reunir pessoal motivado para os objectivos do KIT DA CIDADANIA, com capacidade de implementação do Plano “no terreno” e compromisso com a acção; - Estimular a capacidade de adaptação e a flexibilidade, orientando a equipa para resulta- dos; - Proporcionar a essa equipa, se necessário, formação adequada; 13
  • 14. Proposta formativa de educação não-formal de crianças e jovens num contexto intercultural para uma cidadania responsável - Coordenar o desenvolvimento das actividades; - Gerir conflitos, ultrapassar resistências e a tendência para desistir quando a acção não evolui como esperado, gerir a motivação/desmotivação. No Vamos Utopiar, estas duas entidades foram a Associação Guias de Portugal e a Associação Melhoramentos e Recreativo do Talude. A ASSOCIAÇÃO GUIAS DE PORTUGAL (AGP) é uma associação de utilidade pública sem fins lucrativos, assente no voluntariado e que promove o GUIDISMO. O GUIDISMO é um Movimento de educação não formal, que se baseia no méto- do preconizado por Baden-Powell e tem como objectivos principais a formação e o desenvolvimento integral das raparigas e jovens mulheres, nas vertentes física, intelectual, social, espiritual e emocional. A AGP é membro efectivo da Associação Mundial das Guias (World Association of Girl Guides anda Girl Scouts - WAGGGS), que integra jovens voluntárias espalhadas por 150 países e que conta, actualmente, com cerca de 10 milhões de associadas, tendo como Missão propor- cionar às raparigas e jovens mulheres a oportunidade de desenvolverem plena- mente o seu potencial como cidadãs universais responsáveis. A Associação Mundial das Guias tem tido um papel decisivo em projectos de educação e desen- volvimento comunitário, participando simultaneamente em diversos programas promovidos pelas Nações Unidas e seus departamentos especializados. A ASSOCIAÇÃO MELHORAMENTOS E RECREATIVO DO TALUDE (AMRT) nasceu de uma comissão de moradores do Bairro do Talude Militar, situado na per- iferia da cidade de Lisboa, com o objectivo de melhorar as condições de vida dos seus habitantes. Actualmente ocupa-se da promoção de oportunidades de desen- volvimento pessoal e colectivo de imigrantes, crianças, jovens e adultos da Freguesia de Unhos (Concelho de Loures). MOBILIZAÇÃO DOS/AS INTERVENIENTES Dirigentes Manter-se em contacto permanente com os/as Dirigentes da outra entidade, mobilizar inter- namente a sua entidade (divulgação, envolvimento da hierarquia…), coordenar no terreno, desbloquear/facilitar, motivar os/as técnicos e orientá-los para resultados, avaliar. 14
  • 15. K IT DA CIDADANIA No Vamos Utopiar, os/as Dirigentes de ambas as entidades tiveram reuniões per- iódicas de preparação da acção e envolveram os/as técnicos/as/animadores/as na concepção das linhas gerais das actividades. Paralelamente, foram sempre agen- dadas reuniões de avaliação das actividades, no sentido de manter o que tinha corrido bem, pensar no que tinha falhado e fazer as devidas alterações. Técnicos/as / Animadores/as Orientar a acção, funcionando como intermediária/o(s) entre a equipa de coordenação e o grupo de trabalho e entre este e as crianças e jovens. Envolver os/as participantes e respectivas famílias, coordenar a acção no local, desbloquear/facilitar quaisquer dificul- dades, motivar e orientar o grupo de trabalho para resultados e avaliar a acção. As crianças e jovens foram acompanhadas pelos/as técnicos/as / animadores/as que deram especial atenção ao “grupo de trabalho”, acompanhando sempre a preparação de cada uma das actividades. Do outro lado Manter uma relação de proximidade e confiança com as crianças e jovens imigrantes; mobilizar essas crianças e jovens para participar nas actividades de cooperação; convidar os/as jovens mais velhos/as para constituir o grupo de trabalho; acompanhar o grupo de trabalho; envolver pais/mães da comunidade imigrante; responsabilizar a/os participantes e transmitir necessidades de correcção de desvios. 15
  • 16. Proposta formativa de educação não-formal de crianças e jovens num contexto intercultural para uma cidadania responsável ACTIVIDADES DE COOPERAÇÃO ENVOLVIMENTO PROGRESSIVO O KIT DA CIDADANIA propõe o envolvimento gradual de crianças e jovens, da sociedade de acolhimento e imigrantes, em 6 a 8 actividades de cooperação que se realizam ao longo de dois anos. No contexto do projecto Vamos Utopiar realizaram-se 7 actividades ao longo de dois anos lectivos, nomeadamente: 6 actividades com crianças e jovens, sendo que a terceira e a sexta contaram com a participação das famílias das crianças e jovens envolvidos/as e 1 actividade de apresentação do grupo ao público em geral no contexto do Fórum da Interculturalidade, evento organizado pela parceria do projecto Vamos Utopiar. ORIENTAÇÕES METODOLÓGICAS DAS ACTIVIDADES São actividades lúdico-pedagógicas São actividades carácter lúdico-pedagógico (jogos), onde se alia a parte física à intelectu- al, envolvendo também uma componente criativa e atentando às idades da/os partici- pantes. Promovem a cooperação em pequenos grupos com equipas mistas Nas actividades, as crianças e jovens são integrados/as em pequenos grupos com 5 a 8 elementos cada, com participantes de ambos os lados (equipas mistas), de várias idades e de ambos os sexos. Elas irão cooperar tendo em vista a realização de determinadas tare- fas para atingir um objectivo comum, objectivo só atingível através do trabalho em conjun- to. É dada autonomia às equipas / Educação entre pares Cada equipa implementa a proposta com autonomia, decidindo como a realizar, num mod- 16
  • 17. K IT DA CIDADANIA elo que privilegia a educação entre pares, onde uns/umas aprendem com os/as outros/as e onde cada um/a encontre espaço para ter um papel activo. Desenvolve-se, desta forma, entre outros aspectos, o espírito de grupo e a cooperação, as relações interpessoais, a par- tilha de responsabilidades, a aquisição de capacidades de liderança e a prática de com- petências democráticas, motivando para o desenvolvimento pessoal. Aprende-se ao fazer As tarefas propostas às equipas devem ser simultaneamente desafiantes e executáveis, proporcionar interacção, divertimento e estimular o “aprender ao fazer”, onde todos/as par- tilham as mesmas experiências, as mesmas dificuldades e as mesmas realizações. Isto significa que cada criança e jovem faz as coisas por si própria, não ficando a ouvir alguém ou a observar passivamente como se faz, o que lhe permite aprender mais depressa e mel- hor, uma vez que a experiência é pessoal (e não em “segunda mão”). Além disso, fomen- ta-se a iniciativa e a criatividade, pois é permitido tentar algo diferente e experimentar novas maneiras de realizar as tarefas. Acentuam-se as semelhanças, não as diferenças As actividades devem ser centradas num tema aglutinador, igualmente (des)conhecido por todos/as, para que ninguém parta em (des)vantagem, de modo a reforçar o que é comum e não o que é diferente. Esse tema nunca está directamente relacionado com a intercultur- alidade, ou seja, não poderá ser algo como “Diversidade” ou “Igualdade”. Isto significa que não é ao nível dos temas e dos interesses que se integra a dimensão do respeito pela difer- ença, mas sim através do trabalho em conjunto, momento em que essas diferenças surgem naturalmente e devem ser trabalhadas para serem ultrapassadas. Contrariam-se estereótipos de género As actividades devem ser pensadas tendo em conta os papéis normalmente atribuídos a raparigas e rapazes, baseados nos estereótipos de género, propondo tarefas que os con- trariem. Nesta, há em geral uma parte criativa e uma parte física em que todos/as têm de participar, de forma a capacitar raparigas em competências socialmente atribuídas ao género masculino, como gestão de tempo, recursos e logística, e rapazes em competên- cias muitas vezes ditas femininas, como habilidade para trabalhos manuais. Nenhum/a participante é colocado/a em vantagem Devem ser actividades de dia inteiro, desdobradas em 6 momentos estruturantes: 1. Acolhimento a todos/as 17
  • 18. Proposta formativa de educação não-formal de crianças e jovens num contexto intercultural para uma cidadania responsável Nas “boas vindas” podem-se convidar as crianças e jovens a distribuírem-se ao longo de uma roda. O/a dirigente dá então as boas vindas a todos e todas e propõe que se cantem algumas músicas que toda/os conheçam, o que não só é algo do agrado das crianças e jovens, como permite que os níveis de ansiedade se atenuem. 2. Constituição das equipas A formação de equipas é feita através de uma dinâmica, proposta pelo “Grupo de Trabalho”, que também funciona como “quebra-gelo”. Em seguida, distribui-se os emble- mas da actividade (para que todos/as se sintam parte integrante) e transmitem-se recados importantes e regras de segurança. 3. Dinâmica da manhã Depois das equipas formadas, é chamado o elemento mais velho de cada uma, designado chefe da equipa, para ouvir a explicação da dinâmica da manhã, receber materiais de apoio (como por exemplo “mensagens”) e esclarecer eventuais dúvidas. Este deverá depois pôr a par os restantes membros da sua equipa do que lhe foi dito e “começar o jogo”. 4. Almoço conjunto O almoço deve ser tomado no grupo alargado e permitir aos/às participantes descansarem e terem algum tempo livre. 5. Dinâmica da tarde A dinâmica da tarde, ao contrário daquela da manhã, em que cada equipa desenvolve a sua actividade independentemente das outras, pode ser orientada para que as equipas organizem uma tarefa em conjunto - pode ser inventar uma música, uma dança, um pequeno teatro… - para depois apresentarem ao grupo alargado. 6. Avaliação No fim do dia, propõe-se a avaliação do encontro, procurando criar contextos para que toda/os deixem o seu testemunho do que sentiram durante o dia. Este testemunho não pre- cisa necessariamente ser escrito; pode-se estimular a imaginação artística através de desenhos e objectos ou imagens coloridas. No Vamos Utopiar foram realizados alguns jogos de apresentação e de formação de equipas, que anexamos no final deste Kit, bem como as dinâmicas que o Grupo de Trabalho organizou para as actividades. Na organização dos aspectos logísticos deve-se procurar garantir condições de igualdade para ambos os grupos, pelo que, por exemplo, o transporte que leva a/os participantes para 18
  • 19. K IT DA CIDADANIA as actividades deve ser da mesma natureza (todos/as de transportes públicos, ou na mesma carrinha alugada, por exemplo), as refeições devem ser iguais para toda/os a/os participantes (podem ser compradas e oferecidas a todos/as), as actividades têm de con- templar datas e horários favoráveis à participação de ambos os grupos. No Vamos Utopiar as actividades tiveram temas aglutinadores tão diversos como “A Lenda de Osíris”, “Os Piratas”, “Os Planetas”, entre outros escolhidos pelo Grupo de Trabalho. Desenvolveram-se em vários locais, como o Anfiteatro Alfredo Keil do Amaral, em Monsanto, a Quinta das Conchas, no Lumiar e os Jardins da Fundação Calouste Gulbenkian, onde estava previsto um outro local, abrigado, caso chovesse. No caso da actividade realizada na Gulbenkian, por exemplo, foi obtida uma autoriza- ção para utilizar as instalações paroquiais da Igreja de Nossa Senhora de Fátima, situada na rua adjacente à Gulbenkian. Relativamente ao transporte, alugou-se um autocarro para levar todos/as os/as participantes de ambos os grupos para o local da actividade, de forma a que a viagem de ida e volta para o local da actividade realizava-se com todos/as juntos/as. No que diz respeito às refeições, iguais para todas as crianças e jovens, foram compradas pelos/as dirigentes / monitores/as, com sandes de atum e salsicha, batatas fritas, sumos e fruta para o almoço e um bolo (individual) e leite com chocolate a meio da tarde. As datas e horários das actividades, acordadas com os/as responsáveis de cada entidade tendo em conta a disponibilidade dos/das participantes, optou-se por realizar as actividades ao domingo, entre as 9h30 (para apanhar o autocarro) e as 17h00. No que se refere à dinâmica das actividades, o dia começava com uma roda feita com todos/as os/as presentes, na qual se dava as boas-vindas e se cantava uma música conhecida de todos/as. De seguida, formavam-se as equipas, por exemp- lo, distribuído a cada elemento uma peça de um puzzle e propondo a cada um/a que encontrasse as outras pessoas do mesmo puzzle. Depois desta dinâmica, e para se explicar o funcionamento do dia, o Grupo de Trabalho reunia-se com os chefes de equipas (os elementos mais velhos de cada uma, do sexo feminino ou masculino, pertencentes à AGP ou à AMRT), para trans- 19
  • 20. Proposta formativa de educação não-formal de crianças e jovens num contexto intercultural para uma cidadania responsável mitir os recados mais significativos e dar início à actividade, incutindo-se, desta forma, responsabilidade a estes/as participantes. Numa das actividades, que foi um jogo de “caça ao tesouro”, havia vários “postos” espalhados pela Quinta e, em cada um deles, as equipas tinha de superar provas para ganharem pistas para descobrir onde estava o tesouro. A ordem pela qual as equipas iam aos postos era inteiramente escolhida por cada uma. As tarefas pas- saram por fazer uma bandeira de piratas com tecido, agulha e linha, construir moedas dos piratas com barro e um baú em papel ou ainda fazer uma corrida de sacos. Em todos os casos, quer rapazes, quer raparigas realizaram, em conjunto, cada uma das tarefas propostas, aprendendo uns/umas com os /as outros/as e auxiliando-se mutuamente. O QUE NÃO SÃO AS ACTIVIDADES DE COOPERAÇÃO Face ao exposto, as actividades propostas não devem ser pensadas para uma interacção pontual, em que crianças e jovens de ambos os grupos apenas se encontram uma vez, pois não é num encontro esporádico que se conseguem criar relações ou desconstruir pre- conceitos. Devem ser excluídas actividades como: espectáculos a que as crianças e jovens assistem passivamente, como meras espectadoras; competições entre equipas constituídas por gru- pos de origens diferentes, onde se reforçam as diferençam, não as semelhanças; activi- dades de trocas culturais que reforcem elementos diferenciadores, onde se ensinam uns e outros danças ou pratos típicos; campanhas de massas, que mobilizam muitas pessoas, mas que a médio prazo pouco contribuem para mudar as mentalidades, as atitudes e os comportamentos ou actividades colectivas de convívio e lazer, sem quaisquer elementos de cooperação para um objectivo comum. ACTIVIDADES CO-CONSTRUÍDAS PELOS/AS ACTORES/AS Estas actividades têm ainda a particularidade de serem co-construídas por elementos de ambas as entidades, de acordo com um modelo onde os/as responsáveis das duas enti- dades parceiras elaboram em conjunto o Plano de Acção, os/as dirigentes ou monitores/as 20
  • 21. K IT DA CIDADANIA preparam a primeira actividade e apoiam a preparação das demais, e constitui-se um “grupo de trabalho” com os/as jovens mais velhos/as de ambos os lados para preparar as restantes. As actividades em que as crianças e jovens participam não são, portanto, pensadas e pro- postas isoladamente por um grupo da sociedade de acolhimento para um grupo de imi- grantes, tal como não são pensadas e propostas por um/a adulto/a a um grupo de crianças e jovens. Desta forma, assegura-se: - a adequação das propostas às necessidades dos/as participantes, - o envolvimento dos/as mais velhos/as de ambos os lados no processo, com efeitos na mobilização dos elementos mais novos de cada grupo; - o interesse dos temas e das dinâmicas para os/as mais novos/as, já que são propostos por pessoas com idades próximas, com maior probabilidade de se aproximarem dos seus gostos; Por outro lado, para as pessoas que fazem parte do “grupo de trabalho”, este modelo fomenta a sua autonomia e responsabilização e desenvolve capacidades de planeamento e implementação de iniciativas, assim como de liderança e tomada de decisão. O Plano de Acção é definido por uma equipa constituída com elementos das duas enti- dades O Plano de Acção deverá definir o número de actividades de cooperação a realizar, as datas mais propícias, os actores-chave a envolver e a divisão de responsabilidades entre parceiros. Este Plano deverá ter em conta: - o levantamento prévio de barreiras à participação e dos factores que podem facilitar ou dificultar a adesão às propostas, - os resultados da avaliação de experiências anteriores e - o plano de outras iniciativas, de modo a integrar estas actividades com outras, aprovei- tando sinergias e complementaridades e evitando a sobreposição de acções. A primeira actividade de cooperação é preparada pelos/as dirigentes / monitores/as do con- texto de educação não-formal; nas restantes, este grupo apenas acompanha a preparação das actividades A primeira actividade é preparada pelos/as dirigentes (ou monitores/as) por duas razões. A primeira é porque é o primeiro momento de contacto entre as crianças e jovens de ambas as entidades e porque é particularmente importante que tudo corra bem (nas futuras inter- acções há mais margem para erros). A segunda razão é que o “grupo de trabalho” só é con- stituído depois desta etapa. 21
  • 22. Proposta formativa de educação não-formal de crianças e jovens num contexto intercultural para uma cidadania responsável No Vamos Utopiar, o plano de acção foi definido ao longo das reuniões da equipa técnica da Parceria de Desenvolvimento do projecto e de reuniões bilaterais entre responsáveis da AMRT e da AGP. Estas reuniões serviram para delinear as etapas seguintes e fazer o balanço do desenrolar do projecto. Paralelamente, permitiram o aprofundamento da relação entre as entidades e o conhecimento acerca do tra- balho desenvolvido por cada uma delas. O plano de acção definido pela equipa da PD foi passado às dirigentes respon- sáveis pela sua implementação na AGP. As restantes actividades são preparadas por um “grupo de trabalho” com igual número de jovens dos dois lados O “grupo de trabalho”, que não deve exceder as 8 pessoas (número que permite que todos/as participem), deverá reunir-se várias vezes antes da data de realização de cada actividade, num local e horário conveniente para todos/as, de modo a definir o local de real- ização da actividade, o que se irá comer ao longo do dia, o imaginário e as dinâmicas uti- lizadas, a bricolage para o decorrer das actividades, o emblema do dia e a forma de avaliar a acção com os/as mais novos/as. Para realizar estas funções, conta com o apoio dos/as dirigentes / monitores/as, que procuram assegurar o cumprimento dos objectivos propos- tos e tratar de aspectos práticos, tais como as autorizações para realizar a actividade no local proposto (se necessário), alugar transportes, comprar comida, divulgar a actividade e reunir inscrições, tratar do seguro de acidentes para todos/as para o dia da actividade e garantir que os/as Encarregadas/os de Educação assinaram uma autorização de partici- pação das/os menores (Termo de Responsabilidade). Foi constituído um “grupo de trabalho” com 4 raparigas com idades entre os 14 e os 17 anos pertencentes à 4ª Companhia de Lisboa, e 4 raparigas oriundas do bairro do Talude, com as mesmas idades. 22
  • 23. K IT DA CIDADANIA Avaliação das participantes do Grupo de Trabalho “Nunca as teria conhecido (as jovens do Talude) se não fosse o projecto. Tomei consciência da realidade em que elas vivem e percebi que tinha muitas ideias erradas.” “Percebemos que apesar de vivermos em realidades diferentes, somos parecidís- simas, temos gostos semelhantes, ouvimos as mesmas músicas, rimos do mesmo tipo de piadas” “Reconhecemos que afinal podemos aprender umas com as outras, que há coisas que se desenvolvem, como a amizade, a organização e a entreajuda” “Fizemos tudo isto em conjunto.” “A preparação e realização da exposição para os pais foi um dos melhores momentos, porque houve vontade mútua de aprender. Já nos conhecíamos mel- hor, já não tínhamos vergonha umas das outras e preparámos juntas e de forma divertida o almoço para todos.” “Para mim, a 1ª actividade em Monsanto foi excelente ver a alegria imensa dos meninos do Talude.” “A preparação da apresentação do Fórum da Interculturalidade foi o melhor! Foi um momento em que estávamos todas presentes a ensaiar o nosso sketch e enquanto umas iam aprendendo uma dança, outras faziam uma montagem de fotografias… nesta fase já éramos amigas.” “Os melhores momentos foram a preparação das actividades, porque passámos a sentir-nos mais à vontade com as raparigas da AGP, porque trabalhámos em con- junto com elas.” “A exposição aos pais foi um momento muito importante porque vimos o nosso tra- balho reconhecido pelos nossos pais.” “Aprendemos canções/músicas e danças com as Guias e percebemos que con- seguimos organizar jogos e actividades sozinhas.” ENVOLVIMENTO DAS FAMÍLIAS As Famílias devem ser informadas sobre o trabalho que está a ser realizado, quer através de um contacto informal, quer através de reuniões marcadas para o efeito. Deverão ainda ser envolvidas no desenrolar do processo, e ser convidadas a estar presentes e a partici- 23
  • 24. Proposta formativa de educação não-formal de crianças e jovens num contexto intercultural para uma cidadania responsável par em algumas das actividades, no sentido de terem um papel activo que ajude a/o(s) filha/o(s) a desconstruírem ideias pré-concebidas. Avaliação das Famílias das Avezinhas e Guias e crianças e jovens do Talude: “Como antiga Guia, sempre achei que iniciativas destas, viradas para o exterior, é que faziam sentido. Estou orgulhosa de que a minha filha faça parte deste projec- to. Continuem!” “Olá todos! Esta actividade é o exemplo de que o Homem e o seu desenvolvimen- to estão relacionados com as vontades, “as nossas vontades”. Espero que seja para continuar com muita alegria e vontade, pois só deste modo poderemos con- struir um mundo em que todos possamos viver em igualdade de oportunidades. Mas que seja mesmo efectivo, ou seja, que as pessoas sintam que isso está real- mente a acontecer. Um grande abraço a todos e que continuem com muita força de espírito.” “Esta exposição, bem como o clima em que foi apresentada é, sem dúvida, um excelente testemunho sobre o que podemos fazer com os outros, sem sermos uns e outros, mas sendo nós. Muitos parabéns!” “Queremo-vos parabenizar por todos os eventos feitos, pois têm ajudado a melho- rar a nossa sociedade e a interculturalidade de todos. Esperamos também que continuem a existir estes eventos e que, com a ajuda de todos, possamos mel- horá-los.” “É sempre bom saber que ainda existem pessoas interessadas em produzir diver- timentos para o bem de todas as comunidades, sem diferenças. Um bom projecto e um excelente princípio! Continuem a acreditar que vai ser um sucesso para todas as envolvidas. É certamente uma fantástica acção de formação!” MOMENTOS-ESTRUTURANTES DAS ACTIVIDADES DE COOPERAÇÃO Em geral, as actividades estruturam-se em torno de seis momentos: boas vindas, formação de equipas, dinâmica da manhã, almoço, dinâmica da tarde e avaliação. - Nas “boas vindas” podem-se convidar as crianças e jovens a distribuírem-se ao longo de 24
  • 25. K IT DA CIDADANIA uma roda. O/a dirigente dá então as boas vindas a todos e todas e propõe que se cantem algumas músicas que toda/os conheçam, o que não só é algo do agrado das crianças e jovens, como permite que os níveis de ansiedade se atenuem; - A formação de equipas é feita através de uma dinâmica, proposta pelo “Grupo de Trabalho”, que também funciona como “quebra-gelo”. Em seguida, distribui-se os emble- mas da actividade (para que todos/as se sintam parte integrante) e transmitem-se recados importantes e regras de segurança; - Depois das equipas formadas, é chamado o elemento mais velho de cada uma, designa- do chefe da equipa, para ouvir a explicação da dinâmica da manhã, receber materiais de apoio (como por exemplo “mensagens”) e esclarecer eventuais dúvidas. Este deverá depois pôr a par os restantes membros da sua equipa do que lhe foi dito e “começar o jogo”; - O almoço deve ser tomado no grupo alargado e permitir aos/às participantes des- cansarem e terem algum tempo livre; - A dinâmica da tarde, ao contrário daquela da manhã, em que cada equipa desenvolve a sua actividade independentemente das outras, pode ser orientada para que as equipas organizem uma tarefa em conjunto - pode ser inventar uma música, uma dança, um pequeno teatro… - para depois apresentarem ao grupo alargado; - No fim do dia, propõe-se a avaliação do encontro, procurando criar contextos para que toda/os deixem o seu testemunho do que sentiram durante o dia. Este testemunho não pre- cisa necessariamente ser escrito; pode-se estimular a imaginação artística através de desenhos e objectos ou imagens coloridas. FORMAÇÃO DE ANIMADORES/AS MONITORES COMO PÚBLICOS ESTRATÉGICOS A formação sobre pedagogia para a interculturalidade a dirigentes ou monitores/as que tra- balham directamente com as crianças e jovens é um dos pilares da estratégia, essencial- mente por duas razões: por um lado, enraíza-se no reconhecimento da influência que jogam na modelação dos comportamentos de jovens e crianças que integram o movimen- to; por outro, devido às responsabilidades que detêm na orientação do grupo, na gestão das relações, na estruturação das actividades e na definição das linhas orientadoras da 25
  • 26. Proposta formativa de educação não-formal de crianças e jovens num contexto intercultural para uma cidadania responsável acção (temas, etc…). Os/as dirigentes ou monitores/as estão, assim, estrategicamente bem situados/as para contribuírem de forma efectiva para a construção de relações positivas e igualitárias entre crianças e jovens do grupo dominante e outras que se apresentam de forma evidente como “diferentes”. OBJECTIVOS DA FORMAÇÃO A resposta formativa concebida visa ser um contributo para que os/as formandos/as se tornem mais aptos/as a: - Analisar criticamente a relação com a diversidade, tornando conscientes e transformando representações, atitudes e comportamentos face ao/à outro/a que se apresenta de forma evidente como diferente; - Reconhecer a riqueza associada à diversidade e as possibilidades de mobilizar, para benefício de todos/as, as diferenças e as semelhanças entre os membros do grupo; - Alargar a compreensão dos fenómenos de desigualdade e discriminação, identificando os mecanismos que os reproduzem; - Questionar o modo como a organização acolhe (ou não) a diversidade das crianças e jovens, identificando modos de funcionamento organizacionais constituem barreiras à par- ticipação e integração numa base igualitária de todas as crianças e jovens; - Analisar criticamente e transformar práticas enquanto monitores/as reconhecendo o impacto das mesmas no contexto educativo no qual exerce este papel, do ponto de vista da igualdade de oportunidades (entre crianças e jovens de diferentes origens e/ou meios sócio-culturais, de diferentes sexos, etc.); - Propor estratégias/actividades e adoptar comportamentos e atitudes capazes de con- tribuir para proporcionar uma efectiva igualdade de circunstâncias educativas para todas as crianças; - Apropriar-se dos objectivos da proposta e envolver-se na sua concretização. LINHAS DE ORIENTAÇÃO METODOLÓGICAS Recurso a metodologias activas Privilegia-se o recurso a metodologias activas e reflexivas que apelam à participação de todos/as e criam condições para a realização dos objectivos de tomada de consciência e 26
  • 27. K IT DA CIDADANIA para a revisão dos próprios pressupostos ideológicos, atitudes e comportamentos. Evitam-se as intervenções de carácter predominantemente expositivo e didáctico que colo- cam os/as formandas num papel passivo. Os conteúdos que se introduzem são apresen- tados enquanto instrumentos de apoio à problematização e enriquecimento da reflexão. Os/as formandos/as como objectos de (auto) conhecimento e transformação Estimula-se que os/as formandos/as se constituam a si mesmos/as como objectos de con- hecimento. O questionamento das próprias perspectivas e práticas, dos modos habituais de olhar e lidar com a diferença são chave no processo de formação. Reconhece-se que não há receitas válidas e adequadas para qualquer situação, pressupondo-se que a trans- feribilidade das mudanças implica um investimento na construção de atitudes de vigilância crítica que permitem a adequação dos comportamentos às situações concretas. A experiência como recurso A experiência pessoal e, em particular, enquanto agentes educativos/as são fundamentais nesta intervenção formativa, sendo transversal a todo o processo a aproximação às reali- dades significativas dos/das formandos/das. Convocam-se os seus percursos, as suas vivências e experiências de acção, criando-se pontes entre teoria e prática. Orientação para a acção Em diversos momentos a intervenção formativa ancora-se na resolução de problemas (reais ou antecipados) propostos pelo/a formador/a ou pelos/as formandos/as. A ligação à prática e a orientação para a acção criam condições para que a intervenção formativa seja percebida pelos/as formandos/as como útil e relevante e transferível. Trabalho em pequenos grupos Valoriza-se o trabalho em pequenos grupos, na medida em que propicia o diálogo e a par- ticipação. Por outro lado, permite um maior aprofundamento e cruzamento de pontos de vista e potencia a capacidade de gerar alternativas de acção. MÓDULOS DA FORMAÇÃO A intervenção formativa estrutura-se em quatro módulos interdependentes, cujas propostas podem dar origem a diferentes combinações de formação, dependendo do tempo e das necessidades específicas a que se pretende fazer face: - Compreender a discriminação. Questionar e transformar a relação pessoal com a difer- ença. - Analisar e transformar os contextos. Construir competências para a acção - Construindo os pilares da acção – aproximação ao Bairro e investimento na relação de 27
  • 28. Proposta formativa de educação não-formal de crianças e jovens num contexto intercultural para uma cidadania responsável parceria - Avaliação da intervenção formativa Para cada um dos módulos apresentam-se os objectivos, descrevem-se as actividades propostas, estima-se o tempo necessário ao seu desenvolvimento e listam-se os recursos materiais utilizados. A experiência de formação levada a cabo pelo Graal junto de dirigentes da AGP decorreu ao longo de 3 sessões, que no total somaram 33 horas de formação. Módulo “Compreender a discriminação; questionar e transformar a relação pessoal com a diferença” Desenrolando o novelo Objectivo(s) Identificar e tomar consciência de atitudes e comportamentos discriminatórios Duração 20 minutos Material Novelo de lã Desenvolvimento O novelo vai desenrolando de mão em mão à medida que os/as formandos /as tomam a palavra para completar a frase: Discriminamos quando …. Situações mais e menos óbvias de discriminação Objectivo(s) Identificar comportamentos e mecanismos que colocam e mantêm pessoas e grupos em situação de desvantagem Tomar consciência das práticas e relações de cada um/a com a diferença Duração 90 minutos Material Flip chart e canetas Desenvolvimento Divide-se o grande grupo em pequenos grupos de 4 a 6 elementos. Propõe-se a cada subgrupo que seleccione e descreva uma situação óbvia e uma situação subtil de discriminação; Em grande grupo, a/o porta-voz de cada subgrupo apresenta as situ- ações seleccionadas que são debatidas. O/a formador/a propõe um 28
  • 29. K IT DA CIDADANIA conceito de discriminação, definida por colocar-se ou manter-se de forma efectiva outra pessoa numa situação de desvantagem. Pode colocar-se alguém em situação de desvantagem directamente (através de uma agressão, do tratamento desigual) ou através de regras pseu- do-neutras. Quanto à manutenção da situação de desvantagem: pode fazer-se directamente através de preconceitos, estereótipos e pela afir- mação de uma posição social desigual ou indirectamente pelo evita- mento da mudança, pela ausência de cooperação e resistências a acções positivas. As situações identificadas nos grupos são analisadas face a este ref- erencial. Na AGP, foram escolhidas e discutidas as seguintes situações: Situações óbvias de discriminação - Barreiras físicas que impedem o acesso aos locais públicos por parte de pessoas deficientes; - Não se seleccionar sistematicamente uma criança para uma equipa de desporto; - Classificar pessoas pela zona onde moram ou pela profissão que têm; - Discursos racistas e ofensas a pessoas por serem estrangeiras; - Empresa que contrata apenas funcionários brancos e portugueses; - Comentários para pessoas obesas “Olha o gordo!”. Situações subtis de discriminação - Afastamento de uma pessoa com um aspecto diferente nos transportes públicos; - Não querer ser namorado/a de alguém porque é gordo/a; - Ter um discurso paternalista e usar expressões politicamente correctas, tais como: “é de cor”; - Entrevista de emprego a uma mulher: “Está a pensar ter filhos?”; - Depois de um assalto alguém perguntar “Era preto?”; - Escolher amigos/as na escola pela marca de roupa. 29
  • 30. Proposta formativa de educação não-formal de crianças e jovens num contexto intercultural para uma cidadania responsável Imagine que… Objectivo(s) Identificar atitudes discriminatórias Reconhecer de potenciais dificuldades pessoais em lidar com a diferença Problematizar fenómenos de discriminação e exclusão associados à pertença a um dado grupo. Duração 60 minutos Material Cartões com questões Desenvolvimento Propõe-se aos/às formandos/das que formem pares e se sentem frente a frente, formando dois círculos. O/a formador/a distribui uma folha com uma questão e durante 5 minutos os pares discutem e reg- istam a resposta. Terminado este tempo, os/as formandos/das que se encontram no círculo de fora deslocam-se para a cadeira que está à sua direita, ao passo que os/as que integram o círculo de dentro man- tém-se nos seus lugares; Este ciclo repete-se a cada nova questão. No final da actividade, no contexto do grande grupo, os/as formandos/das são convidados/as a responder às seguintes questões: Como se sentiram ao responder às questões colocadas? Descobriram alguma coisa sobre os limites pessoais relativamente a estas questões? Podem ser utilizadas questões como: - Imagine que uma amiga sua se assume como racista, como reagiria? - Imagine que saiu à noite e que no seu grupo de amigos/as se contam inúmeras piadas racistas. Como reagiria? - Imagine que chega a casa com um amigo negro. Qual seria a reacção da sua família? - Imagine que a sua melhor amiga lhe conta que está apaixonada por um rapaz de etnia cigana. Que pensamentos e sentimentos lhe ocor- reriam? - Imagine que vai a uma festa de anos na qual apenas estão pessoas da China. Como se sentiria? - Imagine que se muda para a casa em frente à sua uma numerosa família de ciganos. Que sentimentos esta situação lhe despertaria? - Imagine que lhe era pedido que formulasse uma questão parecida com as que anteriormente respondeu. Qual seria essa questão? 30
  • 31. K IT DA CIDADANIA Visionamento e discussão do Filme “Colisão” Objectivo(s) Reconhecer a complexidade dos fenómenos da discriminação racial e de género Problematizar o papel dos estereótipos e preconceitos e a influência da história das tensões e desigualdades entre grupos na construção de comportamentos discriminatórios Tomar consciência de sentimentos e do posicionamento pessoal face a situações de tensões entre grupos diferentes. Duração 150 minutos Material DVD do filme “Colisão” Desenvolvimento Os/as formandos/as visionam o filme e, na sequência, são convida- dos/as a identificar individualmente, a cena que lhes provocou mais incómodo e porquê. Num segundo momento, partilham em grande grupo e dinamiza-se o debate em torno das questões da desigualdade, da exclusão social, das discriminações raciais e de género. Representar e pensar as discriminações Objectivo(s) Reconhecer os efeitos da discriminação nas vítimas Analisar estratégias de prevenção e combate a situações de discrimi- nação Duração 90 minutos Material Não aplicável Desenvolvimento Divide-se o grande grupo em pequenos grupos de 4-6 elementos. Propõe-se que cada um dos grupos prepare um role play que drama- tize uma situação de discriminação. Depois de representados os role play, estimulam-se os/as formandos/as a partilhar a sua vivência e estimula-se a exploração de estratégias para prevenir situações como a representada e pensam-se respostas possíveis para lidar com situações idênticas. 31
  • 32. Proposta formativa de educação não-formal de crianças e jovens num contexto intercultural para uma cidadania responsável O que sabemos sobre… Objectivo(s) Tomar consciência do nível de (des) conhecimento relativamente a out- ras culturas. Reconhecer potenciais obstáculos e mal entendidos associados à incompreensão/desconhecimento destas especificidades. Reconhecer o potencial de aprendizagem e questionamento associa- do ao contacto com outras culturas. Duração 30 minutos Material Não aplicável Desenvolvimento Os/as formandos/as são chamadas a pensar numa comunidade de imigrantes e, em grupos de 4 a 6 elementos, responder às seguintes questões: O que sabemos sobre….os valores, as relações familiares, as relações entre gerações, as relações entre homens e mulheres; a educação das crianças; as convenções sociais, o lazer e o divertimen- to, a relação com o tempo e com a autoridade na cultura X? 15 minutos depois, o/a formando/a solicita aos elementos do grupo que partilhem com o grupo, se tiveram a percepção de saberem muito ou pouco sobre a cultura das comunidades que escolheram. O/a for- mador/a estimula o grupo a pensar nas consequências do desconhec- imento de aspectos importantes de outras culturas que coexistem na nossa sociedade e nos possíveis ganhos associados a um maior con- hecimento. Representar e pensar as discriminações O/a outro/a como ponto de partida Objectivo(s) Conhecer, empatizar e compreender experiências de crianças e jovens que imigram ou que descendem de imigrantes Reconhecer possibilidades de acção individual com vista a facilitar a integração de crianças e jovens com experiência de imigração Duração 60 minutos Material Testemunhos Desenvolvimento Propõe-se aos/às formandos/as que leiam e analisem um testemunho de vida de uma jovem com uma trajectória de imigração e um teste- munho colectivo de um grupo de jovens de origem africana. De segui- 32
  • 33. K IT DA CIDADANIA da, pede-se que identifiquem as perdas, as dificuldades e exigências experimentadas. Num segundo momento, os/as formandas são estim- ulados/as a identificar os recursos e acções que poderiam facilitar o processo de integração destes/as crianças e jovens. Recursos de Estrato da história de vida da Dulcineia, 20 anos, solteira, imigrante Apoio “sem papéis” nascida em Cabo Verde, chegou a Portugal em Dezembro de 1998. “Saí de lá (Cabo Verde) com 12 ou 13 anos. A minha mãe veio para Portugal quando eu tinha 6 anos. Como a minha mãe não podia trazer-me com ela, teve que me deixar com os pais do meu pai. (…), Fiquei muito contente com a ideia de vir para Portugal. Nos dias antes da viagem, eu tinha muita ilusão: “Vou para Portugal, vou ter muitos brinquedos, muitas bonecas, muita fartura. Vou comer muitos bolos. Vou ter muito dinheiro, vou poder ajudar as minhas famílias de Cabo Verde”. Tinha essa ideia, muita ilusão mesmo. Depois quan- do vim, fiquei muito desiludida. Eu via coisas que queria comprar, mas não podia ter. Quando cheguei, a minha mãe estava à minha espera. Foi muito estranho lá no aeroporto. Estavam lá muitos brancos e eu senti aquilo de uma maneira estranha, porque na minha terra quase não se viam brancos. Eu estava habit- uada a ver pessoas da minha cor, brancos só via na televisão. Depois, quan- do vi pessoalmente tantos brancos pela primeira vez, foi uma admiração. E eles também me olharam assim de uma maneira estranha. Vim logo aqui para o bairro, viver com a minha mãe. Nos primeiros dias, quan- do cheguei aqui ao bairro e vi que não tinha estrada, comecei a pensar que estava mesmo em Cabo Verde e subia às árvores como fazia lá. E andava aí por esse mato. Ia à procura das frutas, da manga e do coco, mas não encon- trava… No início foi muito difícil. Quando cheguei, a minha mãe queria que eu fosse estudar. Mas nesse ano já não consegui estudar e no seguinte também não. Estive dois anos sem conseguir ir à escola. Ia estudando em casa nos livros que trouxe de Cabo Verde. Ficava em casa sozinha, enquanto a minha mãe ia trabalhar. Às vezes sentia falta de trabalhar na terra (eu lá também trabal- hei na roça, a plantar milho, a semear) e então começava a cavar a terra com as mãos. E a minha mãe dizia-me “pensas que estás em Cabo Verde?” Tinha (e ainda tenho) saudades dos meus amigos, da escola de lá. Brincava muito com os meus amigos lá na rua e fazíamos muitos jogos. Aqui em Portugal não há rua. Só estradas. Lá tudo se passava na rua: muitas crianças que brincam, correm. Gosto mais da vida de lá. Há muitas coisas aqui que são diferentes e leva tempo para uma pessoa se 33
  • 34. Proposta formativa de educação não-formal de crianças e jovens num contexto intercultural para uma cidadania responsável adaptar. Em Cabo Verde as famílias são muito maiores. Na hora da refeição, cada um apanha o seu prato e senta-se no quintal a comer e a falar. Aqui não. Eu, quando fui a primeira vez a casa de uma amiga da minha mãe, passei uma vergonha porque nem sabia comer de garfo e faca. Sempre comia de col- her. A minha só me dizia “Tu não estás em casa”. Agora já aprendi, mas em casa continuo a comer com a colher. (…) Aqui na escola as pessoas viam-me ‘diferente’: agrediam-me, atacavam- me. Os meus colegas diziam-me “ah preto, vai-te embora…”. Só que eu ainda não percebia muito a língua, nem as coisas que eles estavam a dizer. Quando eu tinha dúvidas, os professores não me explicavam. Uma colega cabo-ver- diana é que me traduzia as coisas que os professores diziam na escola. Eu notava diferenças na atitude dos professores, por causa da cor. Quando os meus colegas tinham dúvidas, os professores explicavam-lhes várias vezes. Mas quando era eu que perguntava, os professores já não repetiam. E come- cei a sentir-me mal com aquilo. Na escola, custou-me a adaptar aos horários. Lá em Cabo Verde, o horário era sempre igual, das 8.00 às 13.00h. Mas aqui eu não percebia nada daqui- lo. Todos os dias ia para a escola cedo. Estava lá sempre às 8.00h, mas havia dias em que só entrava às 11.00h. Passava todo o dia lá. E depois ficava sem- pre até às 18.00. Havia dias em que saímos às 17.00, mas ninguém me expli- cava que as aulas nesse dia já tinham terminado. Perguntava aos meus cole- gas e eles respondiam-me “desenrasca-te”. Perguntava à minha mãe e ela não sabia. Outra coisa que era diferente na escola, em Cabo Verde, é que nós tínhamos de usar uma bata. Eu até trouxe a minha bata e ao princípio ia com aquela bata à escola. Os meus colegas fartavam-se de gozar comigo e eu não perce- bia porquê. Até que um dia percebi e deixei de usar aquilo. Para mim foi muito difícil ir percebendo o que é que se passava à minha volta. Também gozavam com os meus vestidos e as minhas chinelas. Eu ia de chinelas, como fazia lá em Cabo Verde. Quando eu chegava, os meus colegas cochichavam. E eu chorava, chorava. Eles gozavam comigo e eu sentia-me mal porque não percebia porquê. Ao princípio senti muito racismo e tinha mesmo muito medo. Um dia fui a um restaurante com a minha mãe. Quando nos sentámos, houve um branco que se levantou e chamou o gerente. Perguntou-lhe “Vocês aceitam este tipo de gente aqui?”. A minha mãe revoltou-se e começou a discutir com o homem. Ele começou a ameaçar: “Olha que eu estou com pistola. Vai para a tua terra, preta. Vocês vêm para cá invadir o nosso país. Vão para a vossa terra, vão- se embora daqui.” Eu pedi à minha mãe para sairmos dali, mas a minha mãe não quis sair do restaurante. Eu fiquei com medo que ele me matasse mesmo 34
  • 35. K IT DA CIDADANIA e fiquei com aquele terror… Porque que lá na escola, em Cabo Verde, con- tavam nos, quando estudámos a História de Portugal, que antigamente os brancos maltratavam os escravos. Veio-me aquela imagem à cabeça e só pensava “vão-me matar”. Eu era uma criança e pensava que me queriam matar. Testemunho colectivo dos jovens do Bairro do Talude Aos olhos de outros portugueses, somos encarados como estrangeiros, como imigrantes, mesmo quando nascemos cá. Ser imigrante em Portugal não é um bom estatuto: há uma cultura de “hostilidade” relativamente aos imigrantes, independentemente da sua origem. Parece haver uma cegueira da sociedade portuguesa relativamente à riqueza que a imigração traz, permitindo o contacto com ideias, culturas e modos de vida diferentes. Há também uma cegueira relativamente ao papel dos imi- grantes na economia: Portugal cresceu graças à imigração! No entanto, atribuem-se aos imigrantes as causas de todos os problemas e somos responsabilizados por roubar o emprego dos portugueses, apesar de nos ocu- parmos, sobretudo, dos trabalhos que não querem fazer… Todos sabemos o que é ser rotulado, discriminado, colocado num estatuto inferior devido à cor da pele. Todos sabemos o que é ser vítima de precon- ceitos e pagar pelo comportamento de alguns. O racismo, a negrofobia, são frutos da ignorância. Quando se pergunta “é racista porquê?”, as pessoas não conseguem dar justificação. Também não se entende como é que o governo autoriza manifestações de extrema direita … não se pode falar em liberdade de expressão, em democracia, quando o que está em causa é o respeito pelos direitos humanos, quando há ofensas contra outros seres humanos. Mas para grande parte dos portugueses, “ser preto” é aquilo que nos define, mais do que o sermos descendentes de imigrantes africanos ou outra coisa qualquer… Ao contrário, “ser branco” é visto como uma superioridade, mesmo por alguns negros que, por exemplo, reconhecem um estatuto mais elevado a quem é mais claro. Este complexo de inferioridade racial leva a que algu- mas famílias de mulatos não se misturem com negros, a que famílias de negros ambicionem casamentos com brancos… Em situações em que somos alvo de atitudes discriminatórias e racistas, alguns reagem com agressividade, partem para a ofensa e para “porrada” … mas a maioria de nós sente-se humilhada e não reage, porque já nos habituá- mos, porque estamos saturados de estar sempre a responder, porque não podemos brigar com o mundo inteiro ou porque sentimos que a situação pode piorar… Por comparação com as mulheres, os homens são tratados com mais respeito, talvez por medo, porque se associa o negro à violência e à criminal- 35
  • 36. Proposta formativa de educação não-formal de crianças e jovens num contexto intercultural para uma cidadania responsável idade. Além da discriminação constante, temos que enfrentar as barreiras burocráti- cas, as leis que oferecem resistências à entrada, à permanência e que exclui muitos dos que aqui vivem, trabalham e nascem. Quando procuramos emprego em sectores mais qualificados não somos aceites por sermos negros. As oportunidades são vedadas mesmo àqueles que estudaram. Muitos de nós desanimam, sentem que não vale a pena, pensam em deixar Portugal e virar-se para outro sítio onde sejam mais as oportunidades. E tudo isto faz com que muitos vivam o sentimento de não pertencer a lado nenhum, de ser um/a “Sem Terra”… faz com que fiquemos sem resposta quando ouvimos “Vai para a tua terra”. Ter duas terras, duas culturas, poderia ser uma riqueza, mas isso é, para já, um sonho. Esperamos que os nossos fil- hos e os netos não passem pelas mesmas situações… Lá fora, os emigrantes portugueses passam o mesmo que nós aqui. Emigram para outros países e também lhes dizem “volta para a tua terra”. Há portugueses que passaram por isto, mas quando vêm cá não se manifestam... Viver no Bairro do Talude é também motivo de discriminação. Há medos e ideias negativas em relação às pessoas que aqui vivem, o que faz com que alguns não entrem sequer no Bairro… Além disso, os acessos e os trans- portes são difíceis. É a forma do sistema nos manter mais isolados, guetifica- dos e longe dos olhos do resto da sociedade. Sentimos que também falta à comunidade imigrante africana a noção do seu valor e também sintonia e união para lutar pelos próprios direitos e interess- es. O sistema separou-nos: dividiu os negros, que lutam entre si e que se matam uns aos outros. Há uma separação “tribal”, uma divisão entre grupos de diferentes bairros. A população negra já passou por tanto que já não tem direcção. Reconhecemos que é prioritário levar a cabo acções de combate ao racismo e à xenofobia, começando pela Escola. É também necessário conseguirmos ver e dar uma maior visibilidade aos aspectos positivos do Bairro e às coisas boas das nossas culturas. Consideramos também importante alimentar as relações com pessoas de fora do Bairro e da sociedade de acolhimento, porque a convivência é uma boa forma de desmontar preconceitos… Visionamento e discussão do Filme “Os Lisboetas” Objectivo(s) Conhecer as condições de vida e vivências de diferentes comunidades imigrantes em Portugal Empatizar com pessoas e comunidades imigrantes Duração 150 minutos Material DVD filme “Os lisboetas” 36
  • 37. K IT DA CIDADANIA Desenvolvimento Os/as formando/as visionam o filme e, na sequência, são convidados/as a identificar individualmente, a cena do filme mais sur- preendente, que os/as tenha estimulado a pensar. Num segundo momento, partilham em grande grupo e dinamiza-se o debate em torno das questões da desigualdade, da exclusão social, das discriminações raciais e de género. O triângulo dramático de Karpman Objectivo(s) Analisar criticamente e transformar comportamentos e atitudes típicas face a indivíduos/grupos em situação de dificuldade Duração 30 minutos Material Flipchart e canetas Desenvolvimento O/a formador/a apresenta o triângulo dramático de Karpman (diagra- ma que se apresenta em seguida) descrevendo os papéis de perseguidor/juiz, salvador e vítima, as relações de complementaridade que se estabelecem entre estas posições e a dinâmica da circulação de papéis. Este modelo é aplicado à análise das relações entre indiví- duos/grupos em posições sociais assimétricas. O/a formador/a, apelando à experiência pessoal dos/das formandos/as estimula o grupo a discutir as consequências relacionais e para cada uma das partes da adopção de cada uma destas posições. Recursos de Apoio 37
  • 38. Proposta formativa de educação não-formal de crianças e jovens num contexto intercultural para uma cidadania responsável Viagem em direcção a um lugar sem discriminações Objectivo(s) Identificar constrangimentos e factores a potenciar no sentido da con- strução de relações igualitárias e não discriminatórias nos contextos educativos Duração 60 minutos Material Barco de papel e flipchart Desenvolvimento Propõe-se ao grupo a seguinte metáfora: há um barco que viaja no sentido de um lugar livre de discriminações. Há ventos que o fazem regredir e afastar-se do seu rumo. Um/a a um/a, à medida que fazem circular um barco de papel, os/as formandos/as são convidados/as a identificar os factores que podem dificultar a construção de relações igualitárias entre as crianças e jovens de diferentes contextos sociais, culturais, económicos no contexto da sua organização. Num segundo momento, propõe-se ao grupo que se faça circular o barco no sentido oposto, identificando, desta feita, os ventos favoráveis”, isto é, os factores que propiciam o estabelecimento de relações igualitárias entre crianças e jovens que de uma forma “evi- dente” aparecem como diferentes, no âmbito da organização. O/a formador/a regista no flipchart os factores identificados. No final sintetiza-os e promove a reflexão crítica acerca dos mesmos. O/a for- mador/a deve promover o questionamento e apoiar a identificação de mudanças necessárias nos modos habituais de funcionamento para que a organização crie condições para a participação de todos/as. No contexto da AGP foram identificados os seguintes factores: Ventos favoráveis - Capacidade de encontrar igualdades na diferença; - O desenvolvimento de tarefas em grupo; - Gostar de ser Guia e ser coerente com os valores das Guias; - Ter curiosidade; - Ser tolerante; - Reflectir e pôr em causa as evidências; 38
  • 39. K IT DA CIDADANIA - Reconhecer preconceitos próprios; - Estar desperta para diferentes tipos de discriminação; - Dar exemplos positivos às mais novas. Ventos desfavoráveis - Barrar a entrada a estrangeiras, a pessoas de outras raças/etnias, com outras crenças; - Pais não quererem que as filhas convivam com pessoas socialmente desfavore- cidas; - As Guias porem de parte membros novos na patrulha, por serem diferentes; - Não haver curiosidade e interesse por outras culturas; - Ter medo do desconhecido; - Resistir à mudança e à diferença; - Impor sem discutir as regras; - Excesso de “espírito de patrulha”.Módulo “Analisar e transformar os contextos. MÓDULO “ANALISAR E TRANSFORMAR OS CONTEXTOS. CONSTRUIR COM- PETÊNCIAS PARA A ACÇÃO” O que fazer? Objectivo(s) Reconhecer expressões de fechamento, formas de depreciação e mecanismos de discriminação dentro dos grupos. Reconhecer a necessidade de intervenção em situações de discrimi- nação enquanto monitor/a. Analisar estratégias e soluções capazes de prevenir e combater situ- ações de discriminação. Duração 120 minutos Material Flipchart e canetas Desenvolvimento O/a formador/a propõe aos/às formandos/as que imaginem um grupo no qual as pessoas têm por hábito depreciar-se e desvalorizar-se mutuamente. De seguida, pede que respondam à questão “como se depreciam os/as outros/as? O/a formador/a vai registando os contribu- tos do grupo. Na discussão em plenário, o/a formador/a explicita a problematização em torno das consequências dos comportamentos 39
  • 40. Proposta formativa de educação não-formal de crianças e jovens num contexto intercultural para uma cidadania responsável referenciados e promove o debate sobre o papel dos/das monitores/as face a situações semelhantes. Devem estimular-se os/as formandos/as a partilhar experiências vivenciadas e presenciadas. Neste sentido, podem utilizar-se questões como: situações como esta acontecem no nosso quotidiano, na nossa organização? O que faze- mos para lidar com elas? O/a formador/a promove uma dinâmica similar, desta vez, partindo da situação de um grupo fechado que não acolhe bem novos membros. Os/as formandos/as são convidado/as a descrever os comportamentos típicos deste grupo na relação com outros/as (que se registam no flipchart). O debate deve ser conduzido de forma a promover o recon- hecimento das consequências deste funcionamento grupal e a tomada de consciência das práticas correntes dos/das monitor/as face a fenó- menos como estes. Devem também explorar-se novas possibilidades de acção dos/das monitores/as perante situações similares. Na orien- tação do debate podem se colocadas questões tais como: estas situ- ações são frequentes? Que consequências provocam? O que fazemos perante estas situações? O que podemos fazer enquanto monitores/as para prevenir estas situações e minimizar as suas consequências? No contexto da AGP, recolheram-se os seguintes contributos Depreciar é… - Desvalorizar; - Ser cruel; - Insultar; - Abusar do poder; - Criar boatos depreciativos; - Excluir através da criação de barreiras; - Ignorar e ser indiferente; - Rir/gozar com características físicas e opiniões pessoais; - Mandar fazer as tarefas piores e mais pesadas; - Discriminar com base na riqueza dos pais; - Desvalorizar devido ao número de anos guidistas; - Humilhar e repreender em público; 40
  • 41. K IT DA CIDADANIA - Levantar suspeitas e acusar sem fundamento; O que fazer? - Observar; - Estar atentas; - Avaliar periodicamente o desempenho da patrulha e do contributo de cada guia; - Valorizar o grupo e, havendo um elemento mais desfavorecido, realçar a sua importância no seio do mesmo; - Promover o envolvimento e a responsabilização de todas; - Promover o trabalho tendo em conta a diversidade; - Fazer jogos práticos, do tipo role-play que sensibilizem para a discriminação; No contexto da AGP, recolheram-se os seguintes contributos: Comportamentos típicos do grupo O que fazer? Tem uma linguagem própria e piadas pri- Fazer jogos com patrulhas mistas (sepa- vadas; ração da patrulha de origem) É muito unido; Promover actividades com outras Há entreajuda entre os seus membros; Companhias Não está interessado na opinião dos outros; Nos ramos Aventura e Caravela, atribuir É ou julga-se auto-suficiente; mais tarefas do que o número de elementos Isolado e pouco receptivo ao exterior; da patrulha, com o intuito delas próprias Mau funcionamento com outros grupos sentirem que precisam de ajuda e de todos Protegem-se do exterior por insegurança; os elementos Sentem-se diferentes: superiores ou inferi- As dirigentes dão exemplo de comporta- ores; mentos adequados Resistem à mudança; Misturar o grupo e valorizar cada elemento Não se auto-criticam e são pouco exigentes Actividades de role-play onde se problema- umas com as outras tiza a situação Cada elemento actua em função do que o Sensibilizar para o facto do lado mais “forte” grupo espera ter que fazer o movimento de abertura, para A consciência do grupo e a individual fun- que o esforço não seja todo do elemento em dem-se situação mais vulnerável. Baseia a sua existência nas suas próprias vivências. 41
  • 42. Proposta formativa de educação não-formal de crianças e jovens num contexto intercultural para uma cidadania responsável Learning Cafe Objectivo(s) Desenhar estratégias para a resolução de problemas (vivenciados ou antecipados) pelos/as formandos/as na prática da intervenção Duração 90 minutos Material Toalhas de mesa de papel e canetas Desenvolvimento O grupo subdivide-se pequenos grupos de 4 a 6 elementos. Cada um dos sub-grupos ocupa uma mesa coberta por uma folha de papel e é convidado a formular uma questão que gostasse de ver discutida no contexto da formação. A questão escreve-se no centro da toalha de mesa e começa com a expressão “como fazer para….?”. Exemplos de questões: - Como fazer para promover a construção de relações próximas e igualitárias com as crianças/jovens de uma comunidade de imigrantes? - Como fazer para estimular o envolvimento dos pais das crianças e jovens dessa comunidade? - Como fazer para envolver as raparigas sem que os rapazes se sin- tam excluídos (quando se tratam de movimentos só de raparigas)? Designa-se uma moderadora para cada uma das mesas que tem como função sintetizar os diferentes contributos e clarificar pontos de vista. De 15 em 15 minutos os grupos trocam de mesa, tentando dar respos- ta a uma nova questão e fazendo registos na toalha. No final, as mod- eradoras apresentam as conclusões em grande grupo que se discutem em plenário. Prémio interculturalidade Objectivo(s) Identificar os componentes que caracterizam os contextos intercultur- ais Criar indicadores capazes de avaliar a qualidade dos contextos do ponto de vista da interculturalidade Promover a auto-avaliação Duração 60 minutos Material Flip chart canetas Desenvolvimento Dividem-se os/as formandos/as em pequenos grupos aos quais se 42
  • 43. K IT DA CIDADANIA propõe que imaginem que são um júri com a responsabilidade atribuir um prémio a uma organização exemplar na promoção da Interculturalidade. Neste sentido, é-lhes solicitado que elaborem um conjunto de indicadores/critérios para avaliar as diferentes organiza- ções candidatas. Num segundo momento, o/a porta-voz de cada um dos grupo apresen- ta os critérios propostos que são discutidos e sintetizados pelo/a for- mador/a. Indicadores propostos no contexto da AGP Percentagem de elementos de diferentes culturas que integram a organização Os membros da organização: - Adquiriram conceitos e definições sobre a temática da interculturalidade - Estão abertos à entrada de novos elementos e novos elementos de culturas difer- entes - Realizam actividades com pessoas da sua comunidade com igual ou diferente cultura - Realizam mais do que uma actividade com elementos de culturas diferentes - Aplicam no seu dia-a-dia as competências adquiridas na realização/participação nas actividades - Demonstram conhecimentos sobre as culturas mais representativas presentes na sua comunidade O que podemos propor aos nossos grupos? Objectivo(s) Conhecer e discutir propostas actividades a desenvolver com crianças e jovens com vista a facilitar o reconhecimento por parte dos mesmos de diferentes comportamentos discriminatórios e das suas consequên- cias nas vitimas e promover o envolvimento activo na construção de soluções capazes de contribuir para a inclusão de todos/as. Analisar criticamente formas correntes de trabalhar as questões da diversidade que reproduzem visões estereotipadas, “folclorizadas” do/da “outro/a”. Duração 90 minutos 43
  • 44. Proposta formativa de educação não-formal de crianças e jovens num contexto intercultural para uma cidadania responsável Material flipchart e canetas Desenvolvimento O/a formador/a apresenta algumas actividades que podem ser desen- volvidas com grupos de crianças para trabalhar as questões da dis- criminação, nomeadamente: a discussão e análise de situações críti- cas (reais ou imaginadas) narradas, apresentadas em squetchs ou em bandas desenhada e diversos jogos de cooperação. Exemplos de situações problema: - “A Ana é cabo-verdiana e entrou nas guias há poucos meses. As cole- gas falam pouco com ela e ela própria toma pouca iniciativa, pensa muitas vezes em desistir.” - “A Rute levou para um acampamento um estojo de maquilhagens e todas querem enfeitar-se para uma apresentação. Competindo pela sua vez uma delas grita “não emprestes à Luana que isto não dá para pretas”… - “Desapareceu o tamagochi da Joana e todas as meninas começaram a acusar a Lurdes, apesar de não haver nenhuma prova de ter sido ela”. - “A Raquel fez chichi durante a noite num acampamento. Nos últimos tempos as meninas gozam com ela e fazem piadinhas acerca da situ- ação e ninguém quer ficar com ela na mesma tenda.” Os/as formandas são convidados/as a avaliar a adequabilidade das propostas apresentadas aos contextos educativos nos quais exercem o papel de monitor/a e a sugerir outras. O/a formador/a promove a reflexão crítica acerca das formas correntes de trabalhar as questões da diversidade que se traduzem na organização de iniciativas pontuais de mostra dos usos e costumes de um dado local do mundo: dos seus trajes típicos, do artesanato, da gastronomia, dado que estas iniciati- vas se revelam, incapazes de promover a aproximação e potenciar a transformação das representações que se tem do outro/a que aparece de forma evidente como diferente. Partilhar experiências Objectivo(s) Partilhar e reflectir experiências e identificar factores capazes de favorecer ou dificultar o estabelecimento de relações igualitárias e pos- itivas entre crianças de diferentes origens e/ou contextos sócio-cultur- ais. 44
  • 45. K IT DA CIDADANIA Duração 90 minutos Material Flipchart e canetas Desenvolvimento Solicitar aos/às formandos/as que descrevam numa página, uma experiência de trabalho com crianças/jovens que do seu ponto de vista tenha contribuído para criar condições favoráveis ao estabelecimento de relações igualitárias e positivas entre crianças de diferentes origens e/ou contextos sócio-culturais. Os/asformandos/as podem constituir um pequeno grupo, caso tenham vivenciado em conjunto a experiên- cia. Num segundo momento, narram a experiência seleccionada, eviden- ciando o que da sua experiência foi mais gratificante e o que foi mais negativo e difícil de gerir. Na sequência de cada um dos relatos os/as formandos/as são estimu- lados/as a sistematizar as lições aprendidas, identificando os factores aos quais se atribuem os sucessos e os insucessos. Torre de Palhinhas Objectivo(s) Identificar factores necessários ao sucesso na realização de tarefas em grupo Compreender a cooperação como instrumento de combate à discrimi- nação Duração 45 minutos Material palhinha e fita-cola Desenvolvimento Dividem-se os/as formandos/as em grupos de 4 a 6 elementos. Propõe-se a cada grupo que construa uma torre tão alta quanto pos- sível com palhinhas e fita-cola (materiais que se fornecem) sem qual- quer outro ponto de apoio que não seja a própria estrutura e o chão. Têm 10 minutos para executar a tarefa. Passados 5 minutos, o/a formador/a informa que a tarefa vai ser difi- cultada, ninguém poderá falar e cada um/a só poderá utilizar uma mão. No fim, propõe-se aos/às formandos/as que partilhem os sentimentos experienciados e o que pensaram ao realizar esta actividade. O/a for- mador/a explicita a importância de se ter em conta o objectivo, as fer- ramentas, competências e o estímulo quando se propõem actividades 45