Estudos espíritas dedicados especialmente ao principiante espírita, descortinando novos horizontes à criatura humana, semeando conhecimento iluminativo, estimulando a prática incondicional do bem, enaltecendo Jesus.
1. 1
RESENHA spíritas
DE ESTUDOS
E
março
2015
NO
. 9
ESPIRITISMO ESTUDADO
semeando conhecimento iluminativo
descortinando novos horizontes às criaturas humanas
estimulando a prática incondicional do bem
enaltecendo Jesus
especialmente ao principiante espírita
2. 2 3
A rbítrio
o livre
Aliberdade é a condição necessária
da alma humana que, sem ela, não
poderia construir seu destino. Em vão os
filósofos e os teólogos têm argumentado
longamente a respeito dessa questão.
À porfia têm-na obscurecido com suas
teorias e sofismas, votando a humanidade
à servidão em vez de guiá-la para a luz
libertadora. A noção é simples e clara. Os
druidas haviam-na formulado desde os
primeiros tempos de nossa História. Está
expressa nas Tríades por estes termos: Há
três unidades primitivas – Deus, a luz e a
liberdade.
À primeira vista, a liberdade do homem
parece muito limitada no círculo de
fatalidades que o encerra: necessidades
físicas, condições sociais, interesses ou
instintos. Mas, considerando a questão
Continuando o temário de nosso número anterior (8), iniciamos este fascículo
com mensagem de Léon Denis, cujo título é o acima indicado, que extraímos
do livro: O problema do ser, do destino e da dor, de modo a poder trazer ao
estudo outros aspectos sobre o assunto, e alongarmos entendimentos. Também
estudarmos aqui a respeito da Fatalidade e da Escolha de Provas por parte
do Espírito, por serem temas interligados entre si, fazendo por donde o bom
entendimento de um, exije saber sobre os demais.
Outrossim, necessário trazermos considerações sobre a Verdade, pois o seu
conhecimento e vivência é que nos fará livres, no seu melhor sentido.
Acompanhemos, inicialmente, esse clássico autor espírita: Léon Denis.
mais de perto, vê-se que essa liberdade é
sempre suficiente para permitir que a alma
quebre esse círculo e escape às forças
opressoras.
A liberdade e a responsabilidade são
correlativas no ser e aumentam com sua
elevação; é a responsabilidade do homem
que faz sua dignidade e moralidade.
Sem ela, não seria ele mais do que
um autômato, um joguete das forças
ambientes; a noção de moralidade é
inseparável da de liberdade.
A responsabilidade é estabelecida pelo
testemunho da consciência, que nos
aprova ou censura segundo a natureza de
nossos atos. A sensação do remorso é
uma prova mais demonstrativa que todos
os argumentos filosóficos. Para todo
Espírito, por pequeno que seja o seu grau
de evolução, a lei do dever brilha como
um farol, através da névoa das paixões e
interesses. Por isso, vemos todos os dias
homens nas posições mais humildes e
difíceis preferirem aceitar provações duras
a se rebaixarem e cometer atos indignos.
Se a liberdade humana é restrita,
está pelo menos em via de perfeito
desenvolvimento, porque o progresso não
é outra coisa senão a extensão do livre-
arbítrio no indivíduo e na coletividade.
A luta entre a matéria e o espírito tem
precisamente como objetivo libertar este
último cada vez mais do jugo das forças
cegas. A inteligência e a vontade chegam,
pouco a pouco, a predominar sobre o que
a nossos olhos representa a fatalidade.
O livre-arbítrio é, pois, a expansão da
personalidade e da consciência. Para
sermos livres é necessário querer sê-lo e
fazer esforço para vir a sê-lo, libertando-
nos da escravidão da ignorância e das
paixões inferiores, substituindo o império
das sensações e dos instintos pelo da
razão.
Isto só se pode obter por uma educação
e uma preparação prolongada das
faculdades humanas: libertação física
pela limitação dos apetites; libertação
intelectual pela conquista da verdade;
libertação moral pela procura da virtude.
É essa a obra dos séculos. Mas, em todos
os graus de sua ascensão, na repartição
dos bens e dos males da vida, ao lado da
concatenação das coisas, sem prejuízo dos
destinos que nosso passado nos inflige,
há sempre lugar para a livre vontade do
homem.
*
Como conciliar nosso livre-arbítrio
com a presciência divina? Perante o
conhecimento antecipado que Deus tem de
todas as coisas, pode-se verdadeiramente
afirmar a liberdade humana? Questão
complexa e árdua na aparência, que
fez correr rios de tinta e cuja solução é,
contudo, das mais simples. Mas o homem
não gosta das coisas simples; prefere o
obscuro, o complicado, e não aceita a
verdade senão depois de ter esgotado
todas as formas do erro.
Deus, cuja ciência infinita abrange todas
as coisas, conhece a natureza de cada
homem e as impulsões, as tendências, de
acordo com as quais poderá determinar-
se. Nós mesmos, conhecendo o caráter
de uma pessoa, poderíamos facilmente
prever o sentido em que, numa dada
3. 4 5
renascimentos. Assim, cada ser conquista
a própria liberdade no decurso da evolução
que tem de perfazer.
Suprida, a princípio, pelo instinto, que
pouco a pouco desaparece para dar lugar à
razão, nossa liberdade é muito escassa nos
graus inferiores e em todo o período de
nossa educação primária. Toma extensão
considerável, desde que o Espírito adquire
a compreensão da lei. E sempre, em todos
os graus de sua ascensão, na hora das
resoluções importantes, será assistido,
guiado, aconselhado por Inteligências
superiores, por Espíritos evoluídos e mais
esclarecidos do que ele.
O livre-arbítrio, a livre vontade do
Espírito exerce-se principalmente na
hora das reencarnações. Escolhendo tal
família, certo meio social, ele sabe de
antemão quais são as provações que o
aguardam, mas compreende, igualmente,
a necessidade dessas provações para
desenvolver suas qualidades, curar seus
defeitos, despir seus preconceitos e vícios.
Essas provações podem ser também
consequência de um passado nefasto,
que é preciso reparar, e ele aceita-as com
resignação e confiança, porque sabe que
seus grandes irmãos do espaço não o
abandonarão nas horas difíceis.
O futuro aparece-lhe então, não em
seus pormenores, mas em seus traços
mais salientes, isto é, na medida em
que esse futuro é a resultante de atos
anteriores. Esses atos representam a parte
de fatalidade ou “a predestinação” que
certos homens são levados a ver em todas
as vidas. São simplesmente, como vimos,
efeitos ou reações de causas remotas.
Na realidade, nada há de fatal e, qualquer
que seja o peso das responsabilidades em
que se tenha incorrido, pode-se sempre
atenuar, modificar a sorte com obras de
dedicação, de bondade, de caridade, por
um longo sacrifício ao dever.
*
A questão do livre-arbítrio tem, dizíamos,
grande importância sob o ponto de vista
jurídico. Tendo, não obstante, em conta o
direito de repressão e preservação social,
é muito difícil precisar, em todos os casos
que dependem dos tribunais, a extensão
das responsabilidades individuais. Não
é possível fazê-lo senão estabelecendo
o grau de evolução dos criminosos. O
neo-espiritualismo fornecer-nos-ia talvez
os meios; mas, a justiça humana, pouco
versada nessas matérias, continua a ser
cega e imperfeita em suas decisões e
sentenças.
Muitas vezes o mau, o criminoso, não
é, na realidade, mais do que um Espírito
novo e ignorante em que a razão não
teve tempo de amadurecer. “O crime –
diz Duclos – é sempre o resultado dum
falso juízo.” É por isso que as penalidades
infligidas deveriam ser estabelecidas de
modo que obrigassem o condenado a
refletir, a instruir-se, a esclarecer-se, a
emendar-se. A sociedade deve corrigir com
amor e não com ódio, sem o que se torna
criminosa.
As almas, como demonstramos, são
equivalentes em seu ponto de partida.
São diferentes por seus graus infinitos
de adiantamento: umas novas, outras
velhas e, por conseguinte, diversamente
circunstância, ela decidirá, quer segundo
o interesse, quer segundo o dever. Uma
resolução não pode nascer do nada. Está
forçosamente ligada a uma série de causas
e efeitos anteriores das quais deriva e que
a explicam. Deus, conhecendo cada alma
em suas menores particularidades, pode,
pois, rigorosamente, deduzir, com certeza,
do conhecimento que tem dessa alma e
das condições em que ela é chamada a
agir, as determinações que, livremente, ela
tomará.
Notemos que não é a previsão de nossos
atos que os provoca. Se Deus não pudesse
prever nossas resoluções, não deixariam
elas, por isso, de seguir seu livre curso.
É assim que a liberdade humana e
a previdência divina conciliam-se e
combinam, quando se considera o
problema à luz da razão.
O círculo dentro do qual se exerce a
vontade do homem é, de mais a mais,
excessivamente restrito e não pode, em
caso algum, impedir a ação divina, cujos
efeitos se desenrolam na imensidade sem
limites. O fraco inseto, perdido num canto
do jardim, não pode, desarranjando os
poucos átomos ao seu alcance, lançar a
perturbação na harmonia do conjunto e pôr
obstáculos à obra do Divino Jardineiro.
*
A questão do livre-arbítrio tem
uma importância capital e graves
consequências para toda a ordem social,
por sua ação e repercussão na educação,
na moralidade, na justiça, na legislação,
etc. Determinou duas correntes opostas de
opinião: os que negam o livre-arbítrio e os
que o admitem com restrição.
Os argumentos dos fatalistas e
deterministas resumem-se assim: “O
homem está submetido aos impulsos de
sua natureza, que o dominam e obrigam
a querer, determinar-se num sentido, de
preferência a outro; logo, não é livre.”
A escola adversa, que admite a livre
vontade do homem, em face desse
sistema negativo, exalta a teoria das
causas indeterminadas. Seu mais ilustre
representante, em nossa época, foi Ch.
Renouvier.
As vistas desse filósofo foram
confirmadas, mais recentemente, pelos
belos trabalhos de Wundt, sobre a
percepção, de Alfred Fouillée sobre a ideia-
força e de Boutroux sobre a contingência
da lei natural.
Os elementos que a revelação neo-
espiritualista nos traz, sobre a natureza
e o futuro do ser, dão à teoria do livre-
arbítrio sanção definitiva. Vêm arrancar a
consciência moderna à influência deletéria
do materialismo e orientar o pensamento
para uma concepção do destino que
terá por efeito, como dizia C. du Prel,
recomeçar a vida interior da civilização.
Até agora, tanto sob o ponto de vista
teológico como determinista, a questão
tinha ficado quase insolúvel. E não podia
ser de outro modo, já que cada um
daqueles sistemas partia do dado inexato
de que o ser humano tem a percorrer
uma única existência. A questão muda,
porém, inteiramente de aspecto ao se
alargar o círculo da vida e se considerar o
problema à luz que projeta a doutrina dos
4. 6 7
desenvolvidas em moralidade e sabedoria,
segundo a idade. Seria injusto pedir ao
Espírito infantil méritos iguais aos que
se podem esperar de um Espírito que
viu e aprendeu muito. Daí uma grande
diferenciação nas responsabilidades.
O Espírito só estará verdadeiramente
preparado para a liberdade no dia em que
as leis universais, que lhe são externas, se
tornem internas e conscientes em razão de
sua própria evolução. No dia em que ele se
penetrar da lei e fizer dela a norma de suas
ações, terá atingido o ponto moral em que
o homem se possui, domina e governa a si
mesmo.
Daí em diante já não precisará do
constrangimento e da autoridade sociais
para corrigir-se. E dá-se com a coletividade
o que se dá com o indivíduo. Um povo
só é verdadeiramente livre, digno da
liberdade, se aprendeu a obedecer a essa
lei interna, lei moral, eterna e universal,
que não emana nem do poder de uma
casta, nem da vontade das multidões, mas
de um Poder mais alto. Sem a disciplina
moral que cada qual deve impor a si
mesmo, as liberdades não passam de um
logro; tem-se a aparência, mas não os
costumes de um povo livre. A sociedade
fica exposta, pela violência de suas
paixões e a intensidade de seus apetites,
a todas as complicações, a todas as
desordens.
Tudo o que se eleva para a luz eleva-se
para a liberdade. Esta se expande plena e
inteira na vida superior. A alma sofre tanto
mais o peso das fatalidades materiais
quanto mais atrasada e inconsciente é,
tanto mais livre se torna quanto mais se
eleva e aproxima do divino.
No estado de ignorância, é uma
felicidade para ela estar submetida a uma
direção. Mas, quando sábia e perfeita,
goza da sua liberdade na luz divina.
Em tese geral, todo homem chegado
ao estado de razão é livre e responsável
na medida do seu adiantamento. Passo
em claro os casos em que, sob o domínio
de uma causa qualquer, física ou moral,
doença ou obsessão, o homem perde
o uso de suas faculdades. Não se pode
desconhecer que o físico exerce, às
vezes, grande influência sobre o moral;
todavia, na luta travada entre ambos, as
almas fortes triunfam sempre. Sócrates
dizia que havia sentido germinar em si os
instintos mais perversos e que os domara.
Havia nesse filósofo duas correntes de
forças contrárias, uma orientada para o
mal, outra para o bem. Era a última que
predominava.
Há também causas secretas que
muitas vezes atuam sobre nós. Às vezes
a intuição vem combater o raciocínio,
impulsos partidos da consciência profunda
nos determinam num sentido não previsto.
Não é a negação do livre-arbítrio; é a ação
da alma em sua plenitude, intervindo no
curso de seus destinos, ou então será a
influência exercida pelos nossos Guias
invisíveis, que nos impele em direção
ao plano divino, ou ainda a intervenção
de uma Inteligência que, vindo de mais
longe e mais alto, procura arrancar-nos às
contingências inferiores e levar-nos para as
cumeadas. Em todos esses casos, porém,
é somente nossa vontade que rejeita ou
aceita e decide em última instância.
Em resumo, em vez de negar ou
afirmar o livre-arbítrio, segundo a escola
filosófica a que se pertença, seria mais
exato dizer: “O homem é o obreiro de sua
libertação.” Ele atinge o estado completo
de liberdade pelo cultivo íntimo e pela
valorização de suas potências ocultas. Os
obstáculos acumulados em seu caminho
são meramente meios de o obrigar a sair
da indiferença e a utilizar suas forças
latentes. Todas as dificuldades materiais
podem ser vencidas.
Somos todos solidários e a liberdade de
cada um liga-se à liberdade dos outros.
Libertando-se das paixões e da
ignorância, cada homem liberta seus
semelhantes. Tudo o que contribui para
dissipar da inteligência as trevas e fazer
recuar o mal torna a humanidade mais
livre, mais consciente de si mesma, de
seus deveres e potências.
Elevemo-nos, pois, à consciência
de nosso papel e nosso objetivo e
seremos livres. Com os nossos esforços,
ensinamentos e exemplos asseguraremos
a vitória da vontade, assim como do bem,
e em vez de formarmos seres passivos,
curvados ao jugo da matéria, expostos
à incerteza e inércia, teremos feito
almas verdadeiramente livres, soltas das
cadeias da fatalidade e pairando acima do
mundo pela superioridade das qualidades
conquistadas.
O homem é o
obreiro de sua
libertação
5. 8 9
FatalidadeTema correlato ao estudo do Livre-arbítrio, constante da mesma Lei
Moral da Vida - A Lei de Liberdade -, como se lê em O Livro dos Espíritos,
Fatalidade é de aprendizado essencial ao entendimento da vida e modo de
viver, que nos ajudará a compreender “como conciliar nosso livre-arbítrio
com a presciência divina? Perante o conhecimento antecipado que Deus
tem de todas as coisas, pode-se verdadeiramente afirmar a liberdade
humana?”, segundo indagações de Léon Denis, em texto acima .
Transcrevemos, a seguir, algumas questões constantes em O Livro dos
Espíritos, que tratam especificamente desse assunto.
851. Haverá fatalidade nos
acontecimentos da vida, conforme ao
sentido que se dá a este vocábulo? Quer
dizer: todos os acontecimentos são
predeterminados? E, neste caso, que vem
a ser do livre-arbítrio?
“A fatalidade existe unicamente pela
escolha que o Espírito fez, ao encarnar,
desta ou daquela prova para sofrer.
Escolhendo-a, institui para si uma espécie
de destino, que é a consequência mesma
da posição em que vem a achar-se
colocado. Falo das provas físicas, pois,
pelo que toca às provas morais e às
tentações, o Espírito, conservando o livre-
arbítrio quanto ao bem e ao mal, é sempre
senhor de ceder ou de resistir. Ao vê-lo
fraquejar, um bom Espírito pode vir-lhe
em auxílio, mas não pode influir sobre ele
de maneira a dominar-lhe a vontade. Um
Espírito mau, isto é, inferior, mostrando-
lhe, exagerando aos seus olhos um perigo
físico, o poderá abalar e amedrontar. Nem
por isso, entretanto, a vontade do Espírito
encarnado deixa de se conservar livre de
quaisquer peias.”
852. Há pessoas que parecem
perseguidas por uma fatalidade,
independente da maneira por que
procedem. Não lhes estará no destino o
infortúnio?
“São, talvez, provas que lhe caiba sofrer
e que elas escolheram. Porém, ainda
aqui lançais à conta do destino o que as
mais das vezes é apenas consequência
de vossas próprias faltas. Trata de ter
pura a consciência em meio dos males
que te afligem e já bastante consolado te
sentirás.”
As ideias exatas ou falsas que fazemos das
coisas nos levam a ser bem ou mal sucedidos,
de acordo com o nosso caráter e a nossa
posição social. Achamos mais simples e menos
humilhante para o nosso amor-próprio atribuir
antes à sorte ou ao destino os insucessos que
experimentamos, do que à nossa própria falta.
É certo que para isso contribui algumas vezes
a influência dos Espíritos, mas também o é que
podemos sempre forrar-nos a essa influência,
repelindo as ideias que eles nos sugerem,
quando más.
853. Algumas pessoas só escapam
de um perigo mortal para cair em outro.
Parece que não podem escapar da morte.
Não há nisso fatalidade?
“Fatal, no verdadeiro sentido da palavra,
só o instante da morte o é. Chegado esse
momento, de uma forma ou doutra, a ele
não podeis furtar-vos.”
a)- Assim, qualquer que seja o perigo que
nos ameace, se a hora da morte ainda não
chegou, não morreremos?
“Não; não perecerás e tens disso
milhares de exemplos. Quando, porém,
soe a hora da tua partida, nada poderá
impedir que partas. Deus sabe de antemão
de que gênero será a morte do homem e
muitas vezes seu Espírito também o sabe,
por lhe ter sido isso revelado, quando
escolheu tal ou qual existência.”
854. Do fato de ser infalível a hora
da morte, poder-se-á deduzir que sejam
inúteis as precauções para evitá-la?
“Não, visto que as precauções que
tomais vos são sugeridas com o fito de
evitardes a morte que vos ameaça. São
um dos meios empregados para que ela
não se dê.”
855. Com que fim nos faz a Providência
correr perigos que nenhuma consequência
devem ter?
“O fato de ser a tua vida posta em
perigo constitui um aviso que tu mesmo
desejaste, a fim de te desviares do mal
e te tornares melhor. Se escapas desse
perigo, quando ainda sob a impressão
do risco que correste, de te melhorares,
conforme seja mais ou menos forte
sobre ti a influência dos Espíritos bons.
Sobrevindo o mau Espírito (digo mau,
subentendendo o mal que ainda existe
nele), entras a pensar que do mesmo modo
escaparás a outros perigos e deixas que de
6. 10 11
novo tuas paixões se desencadeiem. Por
meio dos perigos que correis, Deus vos
lembra a vossa fraqueza e a fragilidade da
vossa existência. Se examinardes a causa
e a natureza do perigo, verificareis que,
quase sempre, suas consequências teriam
sido a punição de uma falta cometida
ou da negligência no cumprimento de
um dever. Deus, por essa forma, exorta
o Espírito a cair em si e a se emendar.”
(526-532)
856. Sabe o Espírito antecipadamente
de que gênero será sua morte?
“Sabe que o gênero de vida que
escolheu o expõe mais a morrer desta do
que daquela maneira. Sabe igualmente
quais a lutas que terá de sustentar para
evitá-lo e que, se Deus o permitir, não
sucumbirá.”
857. Há homens que afrontam os
perigos dos combates, persuadidos,
de certo modo, de que a hora não lhes
chegou. Haverá algum fundamento para
essa confiança?
“Muito amiúde tem o homem o
pressentimento do seu fim, como pode
ter o de que ainda não morrerá. Esse
pressentimento lhe vem dos Espíritos seus
protetores, que assim o advertem para que
esteja pronto a partir, ou lhe fortalecem a
coragem nos momentos em que mais dela
necessita. Pode vir-lhe também da intuição
que tem da existência que escolheu, ou
da missão que aceitou e que sabe ter que
cumprir.” (411-522)
858. Por que razão os que pressentem a
morte a temem geralmente menos do que
os outros?
“Quem teme a morte é o homem, não
o Espírito. Aquele que a pressente pensa
mais como Espírito do que como homem.
Compreende ser ela a sua libertação e
espera-a.”
859. Com todos os acidentes, que
nos sobrevêm no curso da vida, se dá o
mesmo que com a morte, que não pode
ser evitada, quando tem que ocorrer?
“São de ordinário coisas muito
insignificantes, de sorte que vos podeis
prevenir deles e fazer que os eviteis
algumas vezes, dirigindo o vosso
pensamento, pois nos desagradam
os sofrimentos materiais. Isso,
porém, nenhuma importância tem na
vida que escolhestes. A fatalidade,
verdadeiramente, só existe quanto ao
momento em que deveis aparecer e
desaparecer deste mundo.”
a)- Haverá fatos que forçosamente
devam dar-se e que os Espíritos não
possam conjurar, embora o queiram?
“Há, mas que tu viste e pressentiste
quando, no estado de Espírito, fizeste a
tua escolha. Não creias, entretanto, que
tudo o que sucede esteja escrito, como
costumam dizer. Um acontecimento
qualquer pode ser a consequência de um
ato que praticaste por tua livre vontade,
de tal sorte que, se não o houvesses
praticado, o acontecimento não seria dado.
Imagina que queimas o dedo. Isso nada
mais é senão resultado da tua imprudência
e efeito da matéria. Só as grandes dores,
os fatos importantes e capazes de influir
no moral, Deus os prevê, porque são úteis
à tua depuração e à tua instrução.”
860. Pode o homem, pela sua vontade
e por seus atos, fazer que se não deem
acontecimentos que deveriam verificar-se
e reciprocamente?
“Pode-o, se essa aparente mudança
na ordem dos fatos tiver cabimento na
sequência da vida que ele escolheu.
Acresce que, para fazer o bem, como lhe
cumpre, pois que isso constitui o objetivo
único da vida, facultado lhe é impedir o
mal, sobretudo aquele que possa concorrer
para a produção de um mal maior.”
861. Ao escolher a sua existência, o
Espírito daquele que comete um assassínio
sabia que viria a ser assassino?
“Não. Escolhendo uma vida de lutas,
sabe que terá ensejo de matar um de
seus semelhantes, mas não sabe se o
fará, visto que ao crime precederá quase
sempre, de sua parte, a deliberação de
praticá-lo. Ora, aquele que delibera sobre
uma coisa é sempre livre de fazê-la, ou
não. Se soubesse previamente que, como
homem, teria que cometer um crime,
o Espírito estaria a isso predestinado.
Ficai, porém, sabendo que a ninguém há
predestinado ao crime e que todo crime,
como qualquer outro ato, resulta sempre
da vontade e do livre-arbítrio.
“Demais, sempre confundis duas coisas
muito distintas: os sucessos materiais e os
atos da vida moral. A fatalidade, que por
algumas vezes há, só existe com relação
àqueles sucessos materiais, cuja causa
reside fora de vós e que independem da
vossa vontade. Quanto aos da vida moral
esses emanam sempre do próprio homem
que, por conseguinte, tem sempre a
liberdade de escolher. No tocante, pois, a
esses atos, nunca há fatalidade.”
862. Pessoas existem que nunca logram
bom êxito em coisa alguma, que parecem
perseguidas por um mau gênio em todos
os seus empreendimentos. Não se pode
chamar a isso fatalidade?
“Será uma fatalidade, se lhe quiseres dar
esse nome, mas que decorre do gênero
da existência escolhida. É que essas
pessoas quiseram ser provadas por uma
vida de decepções, a fim de exercitarem
a paciência e a resignação. Entretanto,
não creias seja absoluta essa fatalidade.
Resulta muitas vezes do caminho falso
que tais pessoas tomam, em discordância
com suas inteligências e aptidões. Grandes
probabilidades tem de se afogar quem
pretender atravessar a nada um rio, sem
saber nadar. O mesmo se dá relativamente
à maioria dos acontecimentos da vida.
Quase sempre obteria o homem bom
êxito, se só tentasse o que estivesse em
relação com as suas faculdades. O que
o perde são o seu amor próprio e a sua
ambição, que o desviam da senda que lhe
é própria e o fazem considerar vocação o
que não passa de desejo de satisfazer a
certas paixões. Fracassa por sua culpa.
Mas, em vez de culpar-se a si mesmo,
prefere queixar-se da sua estrela. Um,
por exemplo, que seria bom operário e
ganharia honestamente a vida, mete-se
a ser mau poeta e morre de fome. Para
todos haveria lugar no mundo, desde que
cada um soubesse colocar-se no lugar que
lhe compete.”
863. Os costumes sociais não obrigam
muitas vezes o homem a enveredar por
um caminho de preferência a outro e
não se acha ele submetido à direção da
opinião geral, quanto à escolha de suas
ocupações? O que se chama respeito
humano não constitui óbice ao exercício
do livre-arbítrio?
“São os homens e não Deus quem faz
os costumes sociais. Se eles a estes se
submetem, é porque lhes convêm. Tal
submissão, portanto, representa um ato
de livre arbítrio, pois que, se o quisessem,
poderiam libertar-se de semelhante jugo.
7. 12 13
Por que, então, se queixam? Falece-lhes
razão para acusarem os costumes sociais.
A culpa de tudo devem lançá-la ao tolo
amor-próprio de que vivem cheios e que os
faz preferirem morrer de fome a infringi-
los. Ninguém lhes leva em conta esse
sacrifício feito à opinião pública, ao passo
que Deus lhes levará em conta o sacrifício
que fizerem de suas vaidades. Não quer
isto dizer que o homem deva afrontar sem
necessidade aquela opinião, como fazem
alguns em que há mais originalidade do
que verdadeira filosofia. Tanto desatino há
em procurar alguém ser apontado a dedo,
ou considerado animal curioso, quanto
acerto em descer voluntariamente e sem
murmurar, desde que não possa manter-se
no alto da escala.”
864. Assim como há pessoas a quem a
sorte em tudo é contrária, outras parecem
favorecidas por ela, pois que tudo lhes sai
bem. A que atribuir isso?
“De ordinário, é que essas pessoas
sabem conduzir-se melhor nas suas
empresas. Mas, também pode ser
um gênero de prova. O bom êxito as
embriaga; fiam-se no seu destino e muitas
vezes pagam mais tarde esse bom êxito,
mediante revezes cruéis, que a prudência
as teria feito evitar.”
865. Como se explica que a boa
sorte favoreça a algumas pessoas em
circunstâncias com as quais nada têm que
ver a vontade, nem a inteligência: no jogo,
por exemplo?
“Alguns Espíritos hão escolhido
previamente certas espécies de prazer. A
fortuna que os favorece é uma tentação.
Aquele que, como homem, ganha; perde
como Espírito. É uma prova para o seu
orgulho e para a sua cupidez.”
866. Então, a faculdade que favorece
presidir aos destinos materiais de nossa
vida também é resultante do nosso livre-
arbítrio?
“Tu mesmo escolheste a tua prova.
Quanto mais rude ela for e melhor a
suportares, tanto mais te elevarás. Os
que passam a vida na abundância e na
ventura humana são Espíritos pusilânimes,
que permanecem estacionários. Assim,
o número dos desafortunados é muito
superior ao dos felizes deste mundo,
atento que os Espíritos, na sua maioria,
procuram as provas que lhes sejam mais
proveitosas. Eles veem perfeitamente bem
a futilidade das vossas grandezas e gozos.
Acresce que a mais ditosa existência
é sempre agitada, sempre perturbada,
quando mais não seja, pela ausência da
dor.” (525 e seguintes)
867. Donde vem a expressão: Nascer
sob uma boa estrela?
“Antiga superstição, que prendia às
estrelas os destinos dos homens. Alegoria
que algumas pessoas fazem a tolice de
tomar ao pé da letra.” P rovasescolha das
No mesmo contexto e também tema correlato, Escolha das Provas nos
põe diante da nossa responsabilidade perante as circunstâncias da vida,
uma vez haver compromisso anterior assumido livre e espontaneamente
por nós mesmos perante as leis da vida.
Leiamos com atenção, estudemos e meditemos sobre as questões que
seguem, também coletadas em O Livro dos Espíritos, de Allan Kardec.
258. Quando na erraticidade, antes de
começar nova existência corporal, tem o
Espírito consciência e previsão do que lhe
sucederá no curso da vida terrena?
“Ele próprio escolhe o gênero de provas
por que há de passar e nisso consiste o
seu livre-arbítrio.”
a)- Não é Deus, então, quem lhe impõe
as tribulações da vida, como castigo?
“Nada ocorre sem a permissão de Deus,
porquanto foi Deus quem estabeleceu
todas as leis que regem o Universo. Ide
agora perguntar por que decretou Ele
esta lei e não aquela. Dando ao Espírito
8. 14 15
a liberdade de escolher, Deus lhe deixa
a inteira responsabilidade de seus atos
e das consequências que estes tiverem.
Nada lhe estorva o futuro; abertos se lhe
acham, assim, o caminho do bem, como
o do mal. Se vier a sucumbir, restar-
lhe-á a consolação de que nem tudo se
lhe acabou e que a bondade divina lhe
concede a liberdade de recomeçar o que
foi mal feito. Demais, cumpre se distinga o
que é obra da vontade de Deus do que o é
da do homem. Se um perigo vos ameaça,
não fostes vós quem o criou e sim Deus.
Vosso, porém, foi o desejo de a ele vos
expordes, por haverdes visto nisso um
meio de progredirdes, e Deus o permitiu.”
259. Do fato de pertencer ao Espírito
a escolha do gênero de provas que deva
sofrer, seguir-se-á que todas as tribulações
que experimentamos na vida nós as
previmos e buscamos?
“Todas, não, porque não escolhestes
e previstes tudo o que vos sucede
no mundo, até às mínimas coisas.
Escolhestes apenas o gênero das
provações. As particularidades correm por
conta da posição em que vos achais; são,
muitas vezes, consequências das vossas
próprias ações. Escolhendo, por exemplo,
nascer entre malfeitores, sabia o Espírito a
que arrastamentos se expunha; ignorava,
porém, quais os atos que viria a praticar.
Esses atos resultam do exercício da sua
vontade, ou do seu livre-arbítrio. Sabe
o Espírito que, escolhendo tal caminho,
terá que sustentar lutas de determinada
espécie; sabe, portanto, de que natureza
serão as vicissitudes que se lhe depararão,
mas ignora se se verificará este ou aquele
êxito. Os acontecimentos secundários se
originam das circunstâncias e da força
mesma das coisas. Previstos só são
os fatos principais, os que influem no
destino. Se tomares uma estrada cheia
de sulcos profundos, sabes que terás de
andar cautelosamente, porque há muitas
probabilidades de caíres; ignoras, contudo,
em que ponto cairás e bem pode suceder
que não caias, se fores bastante prudente.
Se, ao percorreres uma rua, uma telha
te cair na cabeça, não creias que estava
escrito, segundo vulgarmente se diz.”
260. Como pode o Espírito desejar
nascer entre gente de má vida?
“Forçoso é que seja posto num meio
onde possa sofrer a prova que pediu. Pois
bem! É necessário que haja analogia. Para
lutar contra o instinto do roubo, preciso é
que se ache em contacto com gente dada
à prática de roubar.”
a) - Assim, se não houvesse na Terra
gente de maus costumes, o Espírito
não encontraria aí meio apropriado ao
sofrimento de certas provas?
“E seria isso de lastimar-se? É o que
ocorre nos mundos superiores, onde o mal
não penetra. Eis por que nesses mundos,
só há Espíritos bons. Fazei que em breve o
mesmo se dê na Terra.”
261. Nas provações por que lhe cumpre
passar para atingir a perfeição, tem o
Espírito que sofrer tentações de todas as
naturezas? Tem que se achar em todas
as circunstâncias que possam excitar-
lhe o orgulho, a inveja, a avareza, a
sensualidade, etc.?
“Certo que não, pois bem sabeis haver
Espíritos que desde o começo tomam um
caminho que os exime de muitas provas.
Aquele, porém, que se deixa arrastar para
o mau caminho, corre todos os perigos
que o inçam. Pode um Espírito, por
exemplo, pedir a riqueza e ser-lhe esta
concedida. Então, conforme o seu caráter,
poderá tornar-se avaro ou pródigo, egoísta
ou generoso, ou ainda lançar-se a todos os
gozos da sensualidade. Daí não se segue,
entretanto, que haja de forçosamente
passar por todas estas tendências.”
262. Como pode o Espírito, que, em sua
origem, é simples, ignorante e carecido de
experiência, escolher uma existência com
conhecimento de causa e ser responsável
por essa escolha?
“Deus lhe supre a inexperiência,
traçando-lhe o caminho que deve seguir,
como fazeis com a criancinha. Deixa-o,
porém, pouco a pouco, à medida que o
seu livre-arbítrio se desenvolve, senhor
de proceder à escolha e só então é que
muitas vezes lhe acontece extraviar-se,
tomando o mau caminho, por desatender
os conselhos dos bons Espíritos. A isso é
que se pode chamar a queda do homem.”
a) - Quando o Espírito goza do livre-
arbítrio, a escolha da existência corporal
dependerá sempre exclusivamente de sua
vontade, ou essa existência lhe pode ser
imposta, como expiação, pela vontade de
Deus?
“Deus sabe esperar, não apressa a
expiação. Todavia, pode impor certa
existência a um Espírito, quando este, pela
sua inferioridade ou má vontade, não se
mostra apto a compreender o que lhe seria
mais útil, e quando vê que tal existência
servirá para a purificação e o progresso do
Espírito, ao mesmo tempo que lhe sirva de
expiação.”
263. O Espírito faz a sua escolha logo
depois da morte?
“Não, muitos acreditam na eternidade
das penas, o que, como já se vos disse, é
um castigo.”
264. Que é o que dirige o Espírito na
escolha das provas que queira sofrer?
“Ele escolhe, de acordo com a natureza
de suas faltas, as que o levem à expiação
destas e a progredir mais depressa. Uns,
portanto, impõem a si mesmos uma vida
de misérias e privações, objetivando
suportá-las com coragem; outros preferem
experimentar as tentações da riqueza e
do poder, muito mais perigosas, pelos
abusos e má aplicação a que podem dar
lugar, pelas paixões inferiores que uma e
outros desenvolvem; muitos, finalmente,
se decidem a experimentar suas forças nas
lutas que terão de sustentar em contato
com o vício.”
265. Havendo Espíritos que, por
provação, escolhem o contato do vício,
outros não haverá que o busquem por
simpatia e pelo desejo de viverem num
meio conforme aos seus gostos, ou para
poderem entregar-se materialmente a seus
pendores materiais?
“Há, sem dúvida, mas tão-somente entre
aqueles cujo senso moral ainda está pouco
desenvolvido. A prova vem por si mesma
e eles a sofrem mais demoradamente.
Cedo ou tarde, compreendem que a
satisfação de suas paixões brutais lhes
acarretou deploráveis consequências, que
eles sofrerão durante um tempo que lhes
parecerá eterno. E Deus os deixará nessa
persuasão, até que se tornem conscientes
da falta em que incorreram e peçam,
por impulso próprio, lhes seja concedido
resgatá-la, mediante úteis provações.”
266. Não parece natural que se
escolham as provas menos dolorosas?
“Pode parecer-vos a vós; ao Espírito,
não. Logo que este se desliga da matéria,
cessa toda ilusão e outra passa a ser a sua
9. 16 17
maneira de pensar.”
Sob a influência das ideias carnais, o homem,
na Terra, só vê das provas o lado penoso. Tal
a razão de lhe parecer natural sejam escolhidas
as que, do seu ponto de vista, podem coexistir
com os gozos materiais. Na vida espiritual,
porém, compara esses gozos fugazes e
grosseiros com a inalterável felicidade que lhe é
dado entrever e desde logo nenhuma impressão
mais lhe causam os passageiros sofrimentos
terrenos. Assim, pois, o Espírito pode escolher
prova muito rude e, conseguintemente,
uma angustiada existência, na esperança de
alcançar depressa um estado melhor, como o
doente escolhe muitas vezes o remédio mais
desagradável para se curar de pronto. Aquele
que intenta ligar seu nome à descoberta de um
país desconhecido não procura trilhar estrada
florida. Conhece os perigos a que se arrisca,
mas também sabe que o espera a glória, se
lograr bom êxito.
A doutrina da liberdade que temos de
escolher as nossas existências e as provas
que devamos sofrer deixa de parecer singular,
desde que se atenda a que os Espíritos, uma
vez desprendidos da matéria, apreciam as
coisas de modo diverso da nossa maneira de
apreciá-los. Divisam a meta, que bem diferente
é para eles dos gozos fugitivos do mundo.
Após cada existência, veem o passo que
deram e compreendem o que ainda lhes falta
em pureza para atingirem aquela meta. Daí o
se submeterem voluntariamente a todas as
vicissitudes da vida corpórea, solicitando as
que possam fazer que a alcancem mais presto.
Não há, pois, motivo de espanto no fato de o
Espírito não preferir a existência mais suave.
Não lhe é possível, no estado de imperfeição
em que se encontra, gozar de uma vida isenta
de amarguras. Ele o percebe e, precisamente
para chegar a fruí-la, é que trata de se
melhorar.
Não vemos, aliás, todos os dias, exemplos
de escolhas tais? Que faz o homem que passa
uma parte de sua vida a trabalhar sem trégua,
nem descanso, para reunir haveres que lhe
assegurem o bem-estar, senão desempenhar
uma tarefa que a si mesmo se impôs, tendo
em vista melhor futuro? O militar que se
oferece para uma perigosa missão, o navegante
que afronta não menores perigos, por amor
da Ciência ou no seu próprio interesse, que
fazem, também eles, senão sujeitar-se a
provas voluntárias, de que lhes advirão honras
e proveito, se não sucumbirem? A que se
não submete ou expõe o homem pelo seu
interesse ou pela sua glória? E os concursos
não são também todos provas voluntárias a
que os concorrentes se sujeitam, com o fito
de avançarem na carreira que escolheram?
Ninguém galga qualquer posição nas ciências,
nas artes, na indústria, senão passando pela
série das posições inferiores, que são outras
tantas provas. A vida humana é, pois, cópia da
vida espiritual; nela se nos deparam em ponto
pequeno todas as peripécias da outra. Ora,
se na vida terrena muitas vezes escolhemos
duras provas, visando posição mais elevada,
por que não haveria o Espírito, que enxerga
mais longe que o corpo e para quem a vida
corporal é apenas incidente de curta duração,
de escolher uma existência árdua e laboriosa,
desde que o conduza à felicidade eterna? Os
que dizem que pedirão para ser príncipes ou
milionários, uma vez que ao homem é que
caiba escolher a sua existência, se assemelham
aos míopes, que apenas veem aquilo em que
tocam, ou a meninos gulosos, que, a quem os
interroga sobre isso, respondem que desejam
ser pasteleiros ou doceiros.
O viajante que atravessa profundo vale
ensombrado por espesso nevoeiro não logra
apanhar com a vista a extensão da estrada
por onde vai, nem os seus pontos extremos.
Chegando, porém, ao cume da montanha,
abrange com o olhar quanto percorreu do
caminho e quanto lhe resta dele a percorrer.
Divisa-lhe o termo, vê os obstáculos que ainda
terá de transpor e combina então os meios
mais seguros de atingi-lo. O Espírito encarnado
é qual viajante no sopé da montanha.
Desenleado dos liames terrenais, sua visão tudo
domina, como a daquele que subiu à crista da
serrania. Para o viajor, no termo da sua jornada
está o repouso após a fadiga; para o Espírito,
está a felicidade suprema, após as tribulações e
as provas.
Dizem todos os Espíritos que, na
erraticidade, eles se aplicam a pesquisar,
estudar, observar, a fim de fazerem a sua
escolha. Na vida corporal não se nos oferece
um exemplo deste fato? Não levamos,
frequentemente, anos a procurar a carreira pela
qual afinal nos decidimos, certos de ser a mais
apropriada a nos facilitar o caminho da vida? Se
numa o nosso intento se malogra, recorremos a
outra. Cada uma das que abraçamos representa
uma fase, um período da vida. Não nos
ocupamos cada dia em cogitar do que faremos
no dia seguinte? Ora, que são, para o Espírito
as diversas existências corporais, senão fases,
períodos, dias da sua vida espírita, que é, como
sabemos, a vida normal, visto que a outra é
transitória, passageira?
267. Pode o Espírito proceder à escolha
de suas provas, enquanto encarnado?
“O desejo que então alimenta pode
influir na escolha que venha a fazer,
dependendo isso da intenção que o anime.
Dá-se, porém, que, como Espírito livre,
quase sempre vê as coisas de modo
diferente. O Espírito por si só é quem faz
a escolha; entretanto, ainda uma vez o
dizemos, possível lhe é fazê-la, mesmo
na vida material, por isso que há sempre
momentos em que o Espírito se torna
independente da matéria que lhe serve de
habitação.”
a) - Não é decerto como expiação, ou
como prova, que muita gente deseja as
grandezas e as riquezas. Será?
“Indubitavelmente, não. A matéria deseja
essa grandeza para gozá-la e o Espírito
para conhecer-lhe as vicissitudes.”
268. Até que chegue ao estado de
pureza perfeita, tem o Espírito que passar
constantemente por provas?
“Sim, mas que não são como o
entendeis, pois que só considerais provas
as tribulações materiais. Ora, havendo-
se elevado a um certo grau, o Espírito,
embora não seja ainda perfeito, já não
tem que sofrer provas. Continua, porém,
sujeito a deveres nada penosos, cuja
satisfação lhe auxilia o aperfeiçoamento,
mesmo que consistam apenas em auxiliar
os outros a se aperfeiçoarem.”
269. Pode o Espírito enganar-se quanto à
eficiência da prova que escolheu?
“Pode escolher uma que esteja acima
de suas forças e sucumbir. Pode também
escolher alguma que nada lhe aproveite,
como sucederá se buscar vida ociosa e
inútil. Mas, então, voltando ao mundo dos
Espíritos, verifica que nada ganhou e pede
outra que lhe faculte recuperar o tempo
perdido.”
270. A que se devem atribuir as
vocações de certas pessoas e a vontade
que sentem de seguir uma carreira de
preferência a outra?
“Parece-me que vós mesmos podeis
responder a esta pergunta. Pois não é isso
a consequência de tudo o que acabamos
de dizer sobre a escolha das provas e
sobre o progresso efetuado em existência
anterior?”
271. Estudando, na erraticidade,
as diversas condições em que poderá
progredir, como pensa o Espírito consegui-
lo, nascendo, por exemplo, entre canibais?
10. 18 19
“Entre canibais não nascem Espíritos já
adiantados, mas Espíritos da natureza dos
canibais, ou ainda inferiores aos destes.”
Sabemos que os nossos antropólogos não se
acham no último degrau da escala espiritual e
que mundos há onde a bruteza e a ferocidade
não têm analogia na Terra. Os Espíritos que aí
encarnam são, portanto, inferiores aos mais
ínfimos que no nosso mundo encarnam. Para
eles, pois, nascer entre os nossos selvagens
representa um progresso, como progresso
seria, para os antropófagos terrenos, exercerem
entre nós uma profissão que os obrigasse a
fazer correr sangue. Não podem pôr mais alto
suas vistas, porque sua inferioridade moral não
lhes permite compreender maior progresso.
O Espírito só gradativamente avança. Não lhe
é dado transpor de um salto a distância que
da civilização separa a barbárie e é esta uma
das razões que nos mostram ser necessária
a reencarnação, que verdadeiramente
corresponde à justiça de Deus. De outro modo,
que seria desses milhões de criaturas que todos
os dias morrem na maior degradação, se não
tivessem meios de alcançar a superioridade?
Por que os privaria Deus dos favores
concedidos aos outros homens?
272. Poderá dar-se que Espíritos vindos
de um mundo inferior à Terra, ou de um
povo muito atrasado, como os canibais,
por exemplo, nasçam no seio de povos
civilizados?
“Pode. Alguns há que se extraviam, por
quererem subir muito alto. Mas, nesse
caso, ficam deslocados no meio em que
nasceram, por estarem seus costumes e
instintos em conflito com os dos outros
homens.”
Tais seres nos oferecem o triste espetáculo
da ferocidade dentro da civilização. Voltando
para o meio dos canibais, não sofrem uma
degradação; apenas volvem ao lugar que lhes é
próprio e com isso talvez até ganhem.
273. Será possível que um homem de
raça civilizada reencarne, por exemplo,
numa raça de selvagens?
“É; mas depende do gênero da
expiação. Um senhor, que tenha sido de
grande crueldade para os seus escravos,
poderá, por sua vez, tornar-se escravo
e sofrer os maus tratos que infligiu a
seus semelhantes. Um, que em certa
época exerceu o mando, pode, em nova
existência, ter que obedecer aos que se
curvaram ante a sua vontade. Ser-lhe-á
isso uma expiação, que Deus lhe imponha,
se ele abusou do seu poder. Também um
bom Espírito pode querer encarnar no
seio daquelas raças, ocupando posição
influente, para fazê-las progredir. Em tal
caso, desempenha uma missão.”
Livres
a verdade nos fará
Atentos a afirmativa de Jesus: “Se permanecerdes na minha palavra,
sereis verdadeiramente meus discípulos e conhecereis a verdade, e a
verdade vos libertará”, que se encontra em João 8 : 32, muito próprio
que acompanhemos os ensinos dos Benfeitores Espirituais a respeito,
com o objetivo não só do conhecimento superior, mas a fim de colhermos
estímulo para nossa jornada terrena, rumo ao encontro definitivo do
Caminho, da Verdade e da Vida, de vez por todas, contando com forças
extras para prosseguir rumo a redenção.
A seguir transcrevemos alguns textos que merecem nossa apurada
atenção e madura reflexão.
11. 20 21
ante a luz da
Verdade
“Conhecereis a verdade e a verdade vos
libertará.” - Jesus. (Jo 8:32)
Muitos, em política, filosofia, ciência e religião, se afeiçoam a certos ângulos da
verdade e transformam a própria vida numa trincheira de luta desesperada, a pretexto de
defendê-la, quando não passam de prisioneiros do “ponto de vista”.
Muitos aceitam a verdade, estendem-lhe as lições, advogam-lhe a causa e proclamam-
lhe os méritos, entretanto, a verdade libertadora é aquela que conhecemos na atividade
incessante do Eterno Bem. Penetrá-la é compreender as obrigações que nos competem.
Discerni-la é renovar o próprio entendimento e converter a existência num campo de
responsabilidade para com o melhor. Só existe verdadeira liberdade na submissão ao
dever fielmente cumprido.
Conhecer, portanto, a verdade é perceber o sentido da vida. E perceber o sentido da
vida é crescer em serviço e burilamento constantes.
Observa, desse modo, a tua posição diante da Luz...
Quem apenas vislumbra a glória ofuscante da realidade, fala muito e age menos.
Quem, todavia, lhe penetra a grandeza indefinível, age mais e fala menos.
(Livro: Fonte Viva. Espírito Emmanuel. Cap. 173. Francisco C. Xavier)
A palavra do Mestre é clara e segura.
Não seremos libertados pelos “aspectos
da verdade” ou pelas “verdades
provisórias” de que sejamos detentores no
círculo das afirmações apaixonadas a que
nos inclinemos.
a verdade
Desvelada
Em todas as épocas, a busca da verdade
é uma constante.
Vestida de mitos e lendas, apresentada
em metáforas ou como a última palavra, a
verdade é sempre enigmática e transitória,
exceção a algumas das suas expressões
imortalistas.
Por essa razão, a verdade pode apresentar-se como a maneira de entender do observa-
dor, em razão do se nível de consciência, do observado, em face da sua capacidade de
entendimento, e aquela que é a real, a que transcende a compreensão momentânea das
criaturas, e manifesta-se depois, sendo, a pouco e pouco, desvelada.
A tarefa da ciência, da religião, assim como da filosofia, tem sido a de penetrar no
mistério da verdade e, através da observação, da análise, da experiência, torná-la fac-
tível no mundo das formas, aceita e aplicada como diretriz de equilíbrio e de segurança
moral.
Quanto mais se desenvolvem o psiquismo e o sentimento humanos, mais ampla se tor-
na a sua capacidade para entender, descobrir e vivenciar a verdade, pelo menos aquela
que é conquistada de momento.
Transitória, em cada época, o seu fundamento, entretanto, é sempre o mesmo, sendo
a maneira de expressar-se que varia, adquirindo legitimidade ou perdendo o significado.
Dessa maneira, muitas das suas manifestações, consideradas reais, por uns, não o
são, por outros, tornando-se inútil qualquer tentativa de as impor àqueles que se encon-
tram na margem oposta, fortalecidos por especiais e próprias considerações.
12. 22 23
Mesmo Jesus, o Espírito mais nobre que esteve na Terra, quando interrogado por
Pilatos sobre a verdade, silenciou, porque aquele administrador mesquinho não a podia
entender. Nada obstante informara que todo aquele que é da verdade ouvia-Lhe a voz.
(Jo: 18 – 37 e 38).
A verdade, portanto, transcende a indumentária linguística para tornar-se um estado
interior de conquista espiritual, características dos Espíritos nobres e sábios.
Ante a impossibilidade natural de conhecer-se a verdade de um para outro momento,
o aventureirismo cultural veste-a de complicadas informações que mais a desfiguram e a
ocultam.
Por outro lado, a verdade é simples como o ar que se respira, a paisagem rutilante
que enternece, o brilho das estrelas que fascina, o sentimento de amor que dignifica e
eleva...
A dificuldade consiste em expressá-la, tornando-a de fácil compreensão, o que con-
seguem os sofistas, os hábeis mistificadores, que se habilitam em confundir e enganar,
porque não a têm ao alcance...
- Buscai a verdade, e a verdade vos libertará - propôs Jesus.
Certamente, referia-se à verdade profunda, àquela que diz o ser que se é, qual a finali-
dade da sua existência na Terra e as razões que explicam os sofrimentos, os desafios e
as dificuldades que defronta na sua trajetória autoiluminativa.
(...)
O mundo está referto de pseudossábios, de ilusionistas, de pessoas brilhantes por
fora, debatendo-se em sombras interiores.
É cada vez maior o número de portadores de verdades interesseiras em moedas e retri-
buições pelos seus feitos.
Não sejas um a mais, porém, alguém equilibrado que encontrou o caminho e segue-o
com alegria e simplicidade de coração.
A tua verdade é muito boa para ti, vive-a, então, permitindo que os demais realizem
o seu encontro pessoal e desfrutem-lhe as bênçãos de que necessitam, quando assim
ocorrer.
(Vitória sobre a depressão. Espírito Joanna de Ângelis, Cap. 29. Divaldo Franco)
Sou...
eu
“Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida. Ninguém vem ao Pai a
não ser por mim.” - Jesus (Jo. 14 : 6)
Eis o roteiro celeste, seguro e
definitivo.
Jesus, na tarefa de
esclarecimento da alma humana,
apresentou-se ao mundo de
diversas maneiras:
Eu sou a água viva...
Eu sou o pão da vida...
Eu sou a luz do mundo...
Eu sou a porta...
Eu sou o bom pastor...
Eu sou a ressurreição...
Eu sou o Caminho...
Eu sou a Verdade...
Eu sou a Vida...
Jesus é nosso Guia e Modelo.
Identificou-se perante todos e
enfatizou seu celeste Convite:
Vinde a mim todos os que estais
cansados sob o peso do vosso
fardo e eu vos darei descanso.
(Mateus 11 : 28).
13. 24 25
Em nenhum momento exigiu
ou impôs o aceitássemos ou
aceitássemos seu convite.
“E dizia a todos: Se alguém quer
vir após mim, renuncie a si mesmo,
tome sua cruz cada dia e siga-me.”
(Lucas 9 : 23).
Quem quiser, Ele deixou claro.
Compreensivo e amigo amoroso,
sempre presente, nos disse Ele:
“Se alguém ouvir minhas palavras
e não as guardar, eu não o julgo,
pois não vim para julgar o mundo,
mas para salvar o mundo.” (João
12 : 47).
Mas não deixou de afirmar de
modo incisivo: Eu sou o caminho
da verdadeira vida.
Reconhecendo-o hoje como
nosso Mestre, nos damos conta
que há mais de dois mil anos
protelamos nossa decisão por
seguir o Caminho, descobrirmos
e enfrentarmos a Verdade, e nos
depararmos com a Vida em seu
verdadeiro sentido.
Examinemos com atenção os
textos que seguem.
Venho, como outrora aos
transviados filhos de Israel,
trazer-vos a verdade e dissipar as
trevas. Escutai-me. O Espiritismo,
como o fez antigamente a minha
palavra, tem de lembrar aos
incrédulos que acima deles reina
a imutável verdade: o Deus bom,
o Deus grande, que faz germinem
as plantas e se levantem as ondas.
Revelei a doutrina divinal. Como
um ceifeiro, reuni em feixes o bem
esparso no seio da Humanidade
e disse: “Vinde a mim, todos vós
que sofreis.”
O Espírito de Verdade
(O evangelho segundo o Espiritismo.
Allan Kardec, Cap. VI, item 5)
o
Caminho
“Eu sou o caminho...” - Jesus. (Jo. 14:6.)
Há muita gente acreditando, ainda, na Terra, que o Cristianismo seja uma panaceia
como tantas para a salvação das almas.
Para essa casta de crentes, a vida humana é um processo de gozar o possível no
corpo de carne, reservando-se a luz da fé para as ocasiões de sofrimento irremediável.
Há decadência na carne? Procura-se o aconchego dos templos.
Veio a morte de pessoas amadas? Ouve-se uma ou outra pregação que auxilie a
descida de lágrimas momentâneas.
Há desastres? Dobram-se os joelhos, por alguns minutos, e aguarda-se a intervenção
celeste.
Usa-se a oração, em momentos excepcionais, à maneira de pomada miraculosa,
somente aconselhável à pele, em ocasiões de ferimento grave.
A maioria dos estudantes do Evangelho parecem esquecer que o Senhor se nos
revelou como sendo o caminho...
Não se compreende estrada sem proveito.
Abraçar o Cristianismo é avançar para a vida melhor.
Aceitar a tutela de Jesus e marchar, em companhia dEle, é aprender sempre e
servir diariamente, com renovação incessante para o bem infinito, porque o trabalho
construtivo, em todos os momentos da vida, é a jornada sublime da alma, no rumo do
conhecimento e da virtude, da experiência e da elevação.
Zonas sem estradas que lhes intensifiquem o serviço e o transporte são regiões de
economia paralítica.
Cristãos que não aproveitam o caminho do Senhor para alcançarem a legítima
prosperidade espiritual são criaturas voluntariamente condenadas à estagnação.
(Livro: Vinha de luz. Espírito Emmanuel. Cap. 176. Francisco C. Xavier)
14. 26 27
a
Verdade
“Eu sou o caminho e a verdade.” - Jesus. (Jo.
14:6.)
Por enquanto, ninguém se atreverá, em boa lógica, a exibir, na Terra, a verdade pura,
ante a visão das forças coletivas.
A profunda diversidade das mentes, com a heterogeneidade de caracteres e
temperamentos, aspirações e propósitos, impede a exposição da realidade plena ao
espírito das massas comuns.
Cada escola religiosa, em razão disso, mantém no mundo cursos diferentes da
revelação gradativa. A claridade imaculada não seria, no presente estágio da evolução
humana, assimilável por todos, de imediato.
Há que esperar pela passagem das horas. Nos círculos do tempo, a semente, com o
esforço do homem, provê o celeiro; e o carvão, com o auxílio da natureza, se converte
em diamante.
Por isto, vemos verdades estagnadas nas igrejas dogmáticas, verdades provisórias nas
ciências, verdades progressivas nas filosofias, verdades convenientes nas lides políticas
e verdades discutíveis em todos os ângulos da vida civilizada.
Semelhante imperativo, porém, para a mentalidade cristã, apenas vigora quanto às
massas.
Diante de cada discípulo, no reino individual, Jesus é a verdade sublime e reveladora.
Todo aquele que lhe descobre a luz bendita, absorve-lhe os raios celestes,
transformadores... E começa a observar a experiência sob outros prismas, elege mais
altos padrões de luta, descortina metas santificantes e identifica-se com horizontes
mais largos. O reino do próprio coração passa a gravitar ao redor do novo centro vital,
glorioso e eterno. E à medida que se vai desvencilhando das atrações da mentira, cada
discípulo do Senhor penetra mais intensivamente na órbita da Verdade, que é a Pura
Luz.
(Livro: Vinha de luz. Espírito Emmanuel. Cap. 175. Francisco C. Xavier)
Consolador
o
Se me amais, observareis meus mandamentos, e rogarei ao Pai e ele vos dará outro
Consolador, para que convosco permaneça para sempre, o Espírito da Verdade, que
o mundo não pode acolher, porque não o vê nem o conhece. Vós o conheceis, porque
permanece convosco. (Jo. 14 : 15 a 17).
As religiões que se fundaram no
Evangelho não podem, pois, dizer-se
possuidoras de toda a verdade, porquanto
ele, Jesus, reservou para si a completação
ulterior de seus ensinamentos. O princípio
da imutabilidade, em que elas se firmam,
constitui um desmentido às próprias
palavras do Cristo.
Sob o nome de Consolador e de Espírito
de Verdade, Jesus anunciou a vinda
daquele que havia de ensinar todas as
coisas e de lembrar o que ele dissera.
Logo, não estava completo o seu ensino.
E, ao demais, prevê não só que ficaria
esquecido, como também que seria
desvirtuado o que por ele fora dito, visto
que o Espírito de Verdade viria tudo
lembrar e, de combinação com Elias,
restabelecer todas as coisas, isto é, pô-las
de acordo com o verdadeiro pensamento
de seus ensinos. (A Gênese. Allan Kardec,
Cap. XVII, item 37).
Jesus promete outro consolador: o
Espírito de Verdade, que o mundo ainda
não conhece, por não estar maduro para
o compreender, consolador que o Pai
enviará para ensinar todas as coisas e
para relembrar o que o Cristo há dito. Se,
15. 28 29
portanto, o Espírito de Verdade tinha de
vir mais tarde ensinar todas as coisas,
é que o Cristo não dissera tudo; se ele
vem relembrar o que o Cristo disse, é
que o que este disse foi esquecido ou
mal compreendido. O Espiritismo vem,
na época predita, cumprir a promessa do
Cristo: preside ao seu advento o Espírito
de Verdade. Ele chama os homens à
observância da lei; ensina todas as coisas
fazendo compreender o que Jesus só
disse por parábolas. Advertiu o Cristo:
“Ouçam os que têm ouvidos para ouvir.”
O Espiritismo vem abrir os olhos e os
ouvidos, porquanto fala sem figuras, nem
alegorias; levanta o véu intencionalmente
lançado sobre certos mistérios. Vem,
finalmente, trazer a consolação suprema
aos deserdados da Terra e a todos os que
sofrem, atribuindo causa justa e fim útil a
todas as dores.
[...]
Assim, o Espiritismo realiza o que
Jesus disse do Consolador prometido:
conhecimento das coisas, fazendo que
o homem saiba donde vem, para onde
vai e por que está na Terra; atrai para
os verdadeiros princípios da lei de Deus
e consola pela fé e pela esperança. (O
evangelho segundo o Espiritismo. Allan
Kardec, Cap. VI, itens 3 e 4).
ROTEIRO
o celeste
Resenha de Estudos Espíritas
no
9
5 de março de 2015
Unidade em estudo: Eu Sou o Caminho
tema:
abordagem:
parte segunda:
título desta edição:
Eu e Deus
O Livre-arbítrio
Livre-arbítrio e determinismo
Livre arbítrio, fatalidade e a
escolha das provas
objetivo do tema abordado:
observação:
O objetivo deste tema é aclarar que
juntamente com o livre-arbítrio, há que
se estudar sobre as ditas fatalidades,
e assim as escolhas da provas. E
se cientificar que o conhecimento e
vivência da real Verdade, nos trará
liberdade.
Além das Notas de Referência para
as citações contidas no texto de
abordagem do assunto, ao final
seguem referências bibliográficas,
que recomendamos sejam lidas
e estudadas, pois ali se encontra
conhecimento que irá dar maior
substância ao que ora nos dispomos
aprender neste fascículo.
série
16. 30
Sugestões bibliográficas
• TEIXEIRA, Raul. Quem é o Cristo? Francisco de P. Vitor. Cap.: 3, 12, 19,
21, 22
• ________. Cintilação das estrelas. Camilo. Cap.: 29
• FRANCO, Divaldo P. Momentos de saúde. Joanna de Ângelis. Cap.: 2, 10,
17
• ________. Momentos de felicidade. Joanna de Ângelis. Cap.: 1, 10
• ________. Vigilância. Joanna de Ângelis. Cap.: 11, 15
• ________. Vitória sobre a depressão. Joanna de Ângelis. Cap.: 12, 26