O documento resume a obra "Memorial do Convento" de José Saramago, descrevendo as principais linhas de ação, personagens, espaços e período histórico coberto pela narrativa. A história decorre no início do século XVIII e envolve a construção do Convento de Mafra por ordem do Rei D. João V, bem como as vidas entrelaçadas dos personagens Baltasar, Blimunda e o Padre Bartolomeu.
2. Introdução
Neste trabalho vou falar um pouco da obra de José
Saramago, “Memorial do Convento”.
O “Memorial do Convento” é um dos mais belos romances de José
Saramago, o único Nobel da Literatura em língua portuguesa.
A ação decorre no início do século XVIII, durante o reinado de D.
João V e da Inquisição. Este rei absolutista, graças à grande
quantidade de ouro e de diamantes vindos do Brasil
Colónia, mandou construir Palácio Nacional de Mafra, mais
conhecido por convento, em resultado de uma promessa que fez a
um padre para garantir a sucessão do trono.
3. Linhas de ação
A obra é composta por 4 linhas de ação:
1ª linha de ação: “Era uma vez um rei que fez a promessa de
levantar um convento em mafra”;
2ª linha de ação: “Era uma vez a gente que construiu esse
convento (o povo)”;
3ª linha de ação: “Era uma vez um soldado maneta e uma mulher
que tinha poderes”;
4ª linha de ação: “Era uma vez um padre que queria voar e morreu
doido”.
4. Linhas de ação
1ª linha de ação: Esta linha de ação envolve todas as personagens
da família real e relaciona-se com a 2ª linha de ação, uma vez que
é a promessa do rei que vai possibilitar a construção do convento.
2ª linha de ação: Esta é a linha principal da história, a par da
quarta – a que respeita a construção da passarola. Glorificam-se
aqui os homens que se sacrificam, passam por dificuldades, mas
que também as vencem.
3ª linha de ação: Nesta linha relata-se uma história de amor e o
modo de vida dos portugueses. Baltasar e Blimunda são os
construtores da passarola.
4ª linha de ação: É relacionada com o sonho e o desejo de
construir uma máquina voadora. Também se enquadra na terceira
linha, dado que a construção da passarola resulta da força das
vontades que Blimunda tem de recolher para que a passarola voe.
5. Contextualização histórica do romance
A ação do romance decorre no reinado de D. João V.
Foi aclamado rei a 1 de Janeiro de 1707. A 9 de Junho de 1708
casou com D. Maria Ana de Áustria.
O período histórico nacional em que se verificou um maior afluxo
de ouro vindo do Brasil coincidiu com o reinado de D. João V, que
teve lugar de 1707 a 1750.
6. Contextualização histórica do romance
D. João V era um rei que tinha uma mentalidade muito exuberante
para a sua época pois só queria gastar dinheiro, muito dele
proveniente das minas brasileiras. D. João V gastou quase tudo
quanto pertenceu ao Estado do rendimento das minas brasileiras,
de modo a promover o seu prestígio e a manter uma corte
dominada pelo luxo, por outro lado, o país não dispunha de
pessoas preparadas para produzir riqueza a partir daquela que
entrava em Portugal.
Vários estrangeiros, atraídos pelo ouro, instalaram as suas indústrias
no nosso país. Mas, muitos destes empreendimentos não
floresceram, devido à falta de organização económica.
7. Espaço
Existem 3 tipos de Espaços: o Físico, o Social e o Psicológico.
O espaço Físico
É o espaço real, onde os acontecimentos ocorrem. O cenário da
obra tem dois macroespaços:
- Lisboa e Mafra.
Lisboa
Terreiro do Paço - local onde se situava o palácio do rei;
Rossio - é o centro urbano onde tem lugar as festividades como os
autos-de-fé, as procissões e as touradas;
Abegoaria - a Quinta do Duque de Aveiro, em S. Sebastião da
Pedreira, é o local onde a passarola é construída.
8. Espaço
Mafra
Vila de Mafra - é uma pequena população que sobrevive pela
agricultura e que vive isolada da civilização até o rei escolher
Mafra como local da construção do convento;
Alto da Vela - é o local da construção do convento;
Ilha da Madeira - é um aglomerado de barracões de madeira
onde se localiza os alojamentos dos operários que trabalham na
construção.
9. Espaço
Social
Procissão do Corpo de Deus;
O trabalho no Convento de
Mafra;
Procissão de quaresma;
Autos-de-Fé;
Touradas.
10. Espaço
Psicológico
É constituído pelos elementos que traduzem a interioridade das
personagens.
Nesta obra, o espaço psicológico é formado com apoio nos monólogos
das personagens.
Com isto, quando as personagens revelam os seus sonhos, recorrem às
suas memórias ou partilham os seus pensamentos, é possíveis os espaços
que já existiram ou outros imaginados pelas personagens.
11. Tempo
A ação passa-se no início do século XVIII (1711 - 1739), não é um
tempo contínuo uma vez que o discurso do narrador cria espaços
dentro desse período cronológico para o integrar num tempo único
em que passado, presente e futuro se misturam.
Ao longo da obra são-nos dadas várias indicações temporais,
através de episódios como: a história da família real, o romance de
Baltasar e Blimunda, a construção da passarola e o
desaparecimento de algumas personagens.
O autor recorre também frequentemente à utilização de
analepses, prolepses e elipse , que indicam recuos, avanços e
omissão de períodos temporais.
12. Tempo (Prolepses e Analepses)
Analepses
São recuos no tempo, que geralmente explicam acontecimentos anteriores,
contribuindo para a coesão da narrativa.
Exemplo:
- “(…) desde mil seiscentos e quarenta, durante mais de oitenta anos…”
Prolepses
São antecipações de alguns acontecimentos que auxiliam a crítica social e a visão
globalizada de tempos distintos por parte do narrador.
Exemplo:
- “(…) o tal Fernando, que será o sexto da tabela espanhola e de rei pouco mais terá
que o nome”
Elipse
São omissões de períodos temporais.
Exemplo:
- No final da narrativa, o salto temporal de 9 anos (desde 1730, data da sagração da
basílica) correspondendo ao tempo de procura de Baltasar por Blimunda (1739).
13. Tempo ( Datas Importantes )
Algumas das referências temporais mais importantes:
Em 1716, tem lugar a bênção da primeira pedra do Convento em
Mafra;
Em 1717, quando Baltasar e Blimunda regressam a Lisboa para
trabalhar na passarola do padre Bartolomeu de Gusmão;
Em 1730, data do quadragésimo primeiro aniversário do rei D. João V
e realiza-se a consagração do Convento de Mafra;
E em 1739, data que termina a ação, em que Blimunda vê Baltasar a
ser queimado em Lisboa, num auto-de-fé;
14. Personagens principais
D. João V;
D. Maria Ana Josefa;
Baltasar e Blimunda;
Padre Bartolomeu;
Domenico Scarlatti;
Clero;
Povo.
15. D. João V
D. João V é caracterizado por ser :
- Megalómano – pois desvia as riquezas nacionais para manter a corte
dominada de luxo;
- Curioso – pois interessa-se pelas invenções do padre Bartolomeu de
Gusmão;
- Devoto fanático – pois submete o país inteiro a uma promessa pessoal
( a construção do convento, de modo a garantir a sucessão) e que
assiste aos autos-de-fé;
- Rei vaidoso – que se equipara a Deus nas suas relações com as
religiosas;
- E um homem que teme a morte e que antecipa a sua imortalidade,
através da sagração do convento no dia do seu quadragésimo
primeiro aniversário.
16. D. Maria Ana Josefa
A rainha representa a mulher que só através do sonho se liberta da
sua condição aristocrática para assumir a sua feminilidade. D.
Maria Ana é caracterizada como uma mulher passiva e insatisfeita.
17. Blimunda e Baltasar
Blimunda
Filha de Sebastiana Maria de Jesus, que fora, pela
inquisição, condenada e degredada, por ser cristã-nova conhece
Baltasar. Com capacidades de videntes e possuidora de uma
sabedoria muito própria, vai ajudar na construção da passarola e
partilhar com Baltasar as alegrias, tristezas e preocupações da vida.
Blimunda é uma estranha vidente que vê no interior dos corpos os
males que destroem a vida e consegue recolher as “ vontades”
vitais que permitirão o voo da passarola do padre Bartolomeu. Por
amar Baltasar, Blimunda recusa usar a magia para conhecer o sei
interior.
O poder de Blimunda permite, simultaneamente, curar e criar, ou
melhor, ver o que está no mundo, as verdades mais profundas que
o sustentam.
18. Blimunda e Baltasar
Baltasar
Baltasar Mateus, de Alcunha Sete-Sóis, é um dos protagonistas do
romance.
Foi soldado na Guerra da Sucessão Espanhola, de onde foi
mandado embora pois perdeu a sua mão esquerda.
É jovem, tem apenas 26 anos.
Conhece Blimunda, num auto-de-fé e com ela partilha a vida e os
sonhos.
19. Padre Bartolomeu
O padre bartolomeu tinha o sonho de construir uma passarola
voadora e com ela voar, mas só o conseguiu devido á sua
amizade com o rei D. João V que também possui o sonho e a
esperança da máquina voadora.
Com a ajuda de Baltasar e Blimunda construiu a tal passarola.
Foi forçado a fugir á Inquisição por possível adesão ao judaísmo ou
por se ter envolvido num caso de bruxaria.
Morreu em Toledo, em 1724.
20. Povo
Personagem importante, o povo trabalhador construiu o convento
de Mafra, à custa de muitos sacrifícios e mesmo de algumas
mortes. Definido pelo seu trabalho, pela sua miséria física e moral,
pela sua devoção, este povo humilde surge como o verdadeiro
obreiro da realização do sonho de D. João V.
Os trabalhadores são apenas qualquer coisa mais desta obra
grandiosa, ou, como diz o narrador, “a diferença que há entre tijolo
e homem é a diferença que se julga haver entre quinhentos e
quinhentos […]”.
21. Conclusão
Para concluir tenho a afirmar que a obra “Memorial do Convento”
é uma narrativa histórica que percorre este período de
aproximadamente 30 anos de história portuguesa, no reinado de D.
João V entrelaçando personagens e acontecimentos verídicos
com seres conseguidos pela ficção.
Saramago fundamenta-se na realidade histórica da Inquisição, da
família real, do padre Bartolomeu Lourenço de Gusmão ( inventor
da passarola voadora) e de muitas das figuras da intelectualidade
e da política portuguesa, embora ficcionasse a sua ação.