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                         Lucília Salgado (coord.)




A Educação de Adultos    :
     uma dupla
    oportunidade
     na família




                Perspectivas e Reflexões
LISBOA, 2010




A Educação de Adultos                                                             :
     uma dupla
    oportunidade
     na família
         Textos apresentados no I Encontro Internacional de Literacia Familiar




   Lucília Salgado, António Candeias, Lourdes Mata, Susana Coimbra,
Ana Teberosky, Núria Ribera, Michael F. DiPaola, Manuela Castro Neves,
  Cristina Pinto, Joana Cruz, Catarina Costa, Célia Silva, Micaela Silva,
Patrícia Pinto, Sara Almeida, Tânia Santos, Pierre Dominicé, Patrícia Ávila,
            Cláudia Andrade, Carolina Cardoso, Joana Ferreira



                                                                        Perspectivas e Reflexões
Ficha Técnica
 Título:
 A Educação de Adultos:
 uma dupla oportunidade na família

 Editor:
 Agência Nacional para a Qualificação, I.P.
 (1ª edição, Dezembro 2010)

 Coordenação
 Lucília Salgado

 Autores
 Lucília Salgado, António Candeias, Lourdes Mata,
 Susana Coimbra, Ana Teberosky, Núria Ribera,
 Michael F. DiPaola, Manuela Castro Neves,
 Cristina Pinto, Joana Cruz, Catarina Costa, Célia Silva,
 Micaela Silva, Patrícia Pinto, Sara Almeida, Tânia Santos,
 Pierre Dominicé, Patrícia Ávila, Cláudia Andrade,
 Carolina Cardoso, Joana Ferreira

 Organização
 Lucília Salgado, Cláudia Andrade, Joana Ferreira
 e Carolina Cardoso

 Design Gráfico:
 Modjo Design, Lda.

 Adaptação do Design Gráfico e Paginação:
 Regina Andrade

 Revisão:
 ANQ, I.P.

 Execução Gráfica:                                                    Biblioteca Nacional de Portugal – Catalogação na Publicação
 Eurodois, Lda.

 Depósito Legal:                                                      A EDUCAÇÃO DE ADULTOS
 000 000/00                                                           A educação de adultos : uma dupla oportunidade nas famílias /
                                                                      Lucília Salgado...[et al.]. – (Perspectivas e reflexões ; 2)
                                                                      ISBN 978-972-8743-68-0
 Tiragem:
 1 500 exemplares                                                     I - SALGADO, Lucília

 ISBN:                                                                CDU 374
 978-972-8743-68-0                                                        331


 Agência Nacional para a Qualificação, I.P.
 Av. 24 de Julho, nº138 1399-026 Lisboa Tel. 213 943 700      Fax. 213 943 799   www.anq.gov.pt
ÍNDICE
                                                           Prefácio      5
                                             Maria do Carmo Gomes       00
                                Agência Nacional para a Qualificação    00
                                              Nota de Apresentação       7
                                                     Lucília Salgado    00
                            Escola Superior de Educação de Coimbra      00


                                                     Introdução
                  As Novas Potencialidades da Educação de Adultos       11
                       na Construção do Sucesso Escolar dos Filhos      00
                                                     Lucília Salgado    00
                                                                        00
                                                          Parte I
           A Génese do (In)sucesso Escolar: na Escola e na Família      29
     A Persistência do Atraso Educativo Português nos Nossos Dias:      31
            Portugal nos Processos de Alfabetização, Escolarização      00
            e Criação de Capital Humano nos Séculos XIX, XX e XXI       00
                                                   António Candeias     00
Literacia Familiar – Diversidade, Desafios e Princípios Orientadores    51
                                                      Lourdes Mata      00
  Uma Questão de Confiança: o que (Des)motiva a Geração Actual?         59
                                                    Susana Coimbra      00
                    Los Juegos de Lenguaje y Alfabetización Inicial     77
                                       Ana Teberosky e Núria Ribera     00
                                                                        00
                                                         Parte II
                                   A Construção do Sucesso Escolar      89
                 Systemic Educational Reform in the United States:      91
                               The No Child Left Behind Act of 2001     00
                                                  Michael F. DiPaola   000




                                                                        3 05
Envolver a Família no e através      099
                do Programa Nacional do Ensino do Português (PNEP)            00
                                                            Cristina Pinto
    “A Ler Vamos…”: Um Projecto da Câmara Municipal de Matosinhos            117
                   Joana Cruz, Catarina Costa, Célia Silva, Micaela Silva,
                              Patrícia Pinto, Sara Almeida, Tânia Santos


                                                              Parte III
                                            O Projecto de Escolarização      127
              para os Filhos e a Literacia Familiar: Contexto e Práticas
                                        La Formation Entendue Comme          129
                          Processus Construit dans L’histoire d’une Vie       00
                                                         Pierre Dominicé
                              Adultos pouco Escolarizados e Literacia.       135
                      Um Olhar sobre a Literacia em Contexto Familiar         00
                                                            Patrícia Ávila   00
                             Conciliação Trabalho-Família em Adultos         149
                       em Formação nos Centros Novas Oportunidades            00
                                                         Cláudia Andrade      00
        Os Adultos no Contexto do Processo de RVCC: Uma Abordagem            157
                 das Representações e Práticas da Leitura e da Escrita        00
                                       Carolina Cardoso e Joana Ferreira      00
        Os Adultos no Contexto do Processo de RVCC: Uma Abordagem            169
          das Representações e Práticas do Processo de Escolarização          00
                                       Joana Ferreira e Carolina Cardoso      00
                                                                              00




4
Maria do Carmo Gomes1




  Prefácio
It takes a village to raise a child é um provérbio popular africano que tem sido usado frequentemente para salientar o papel conjunto da comunidade,
dos pais e das instituições na educação das crianças e dos jovens. E é verdade que os estudos mais recentes têm vindo a demonstrar que quanto
maior é o envolvimento dos pais e da comunidade na vida escolar dos seus filhos mais elevado é o seu desempenho e mais tranquila é a sua
transição para a vida adulta. Maior envolvimento dos pais é, pois, um dos caminhos para o sucesso escolar dos filhos.

Mas se são verdadeiras estas conclusões e resultados demonstrados pela investigação científica também é verdade que algumas correlações
existem e que delas se devem retirar as devidas ilações – os pais que mais se envolvem são, em norma, pais mais escolarizados e com profissões
mais qualificadas, com pertenças sociais a classes mais letradas e com práticas e hábitos culturais diferenciados e mais frequentes.

Ora, o nosso país tem em média, num número muito superior aos outros países da OCDE e da União Europeia, pais pouco escolarizados, os
quais pertencem à larguíssima faixa de adultos que não completaram o ensino básico ou secundário e que, em 2001, perfaziam cerca de 75%
da população activa. Estávamos no início do século XXI e em Portugal a situação estrutural das qualificações da população adulta era esta, pese
embora o enorme esforço e o progresso assinalável realizados.

Desde o 25 de Abril que a escolarização da população portuguesa tem sofrido melhorias consideráveis, não só em termos de taxa de escolarização
das gerações mais jovens mas também na elevação dos níveis de escolaridade. Se esta é uma realidade inquestionável, também se sabe que
muitos dos que já tiveram oportunidade de prosseguir os seus estudos acabaram por abandonar precocemente a escola ou por ter a marca
do insucesso nos seus percursos escolares. São estes os pais de baixa qualificação que hoje acompanham os seus filhos na vida escolar. E
é a estes pais que, muitas vezes, se pede um maior envolvimento na vida escolar dos seus filhos e uma maior participação cívica e social na
comunidade.

A investigação coordenada por Lucília Salgado sobre Literacia Familiar e Sucesso Escolar que deu origem ao I Encontro Internacional de Literacia
Familiar e ao livro que aqui se publica tem demonstrado que há, neste momento, em Portugal um conjunto de políticas públicas na área da
educação-formação de adultos que está a contribuir de modo decisivo para que esse maior envolvimento aconteça, ao mesmo tempo que se
alcança o objectivo de elevação dos níveis de qualificação dos portugueses. 1

A Iniciativa Novas Oportunidades através do seu eixo de intervenção destinado à população adulta – objecto empírico do trabalho de investigação
realizado pela equipa da Escola Superior de Educação de Coimbra – enquadra, assim, as medidas de política de qualificação que têm tido efeitos
(in)directos nas práticas familiares. Por um lado, há consequências directas nas práticas de leitura, escrita e cálculo, incrementando o uso de suportes
escritos (e em grande parte das situações usando suportes electrónicos); por outro lado, há efeitos indirectos, tais como o acompanhamento mais
regular das tarefas escolares dos filhos, maior participação em reuniões escolares, e maior atenção aos resultados obtidos pelas crianças e jovens
destas famílias. Há também a expectativa, numa dimensão mais projectiva, de que os seus filhos possam ter trajectórias escolares de maior sucesso
que os próprios conseguindo assim concretizar aspirações de mobilidade social para os seus descendentes, as quais passam em grande medida pela
obtenção de níveis de escolaridade superiores. Este estudo pretende ainda, ao longo do segundo ano de pesquisa, obter resultados sobre a relação
que estes contextos familiares mais ricos em práticas de literacia possam ter no sucesso escolar das crianças e jovens.

1 Vice-Presidente da Agência Nacional para a Qualificação, I.P.




                                                                                                                                                     5 05
Os resultados obtidos são muito encorajadores e reveladores da enorme potencialidade que as dinâmicas de qualificação de adultos podem ter
    na promoção de práticas de literacia de maior complexidade na vida quotidiana, na maior participação dos pais nas comunidades escolares e no
    desenvolvimento de hábitos culturais mais diferenciados e frequentes. Veremos também se poderão contribuir do mesmo modo para a existência
    de vidas escolares mais bem sucedidas por parte dos filhos.

    Neste contexto, tive oportunidade na abertura dos trabalhos do encontro realizado em Coimbra, em Novembro de 2009, de considerar a Iniciativa
    Novas Oportunidades como uma revolução silenciosa no contexto da educação em Portugal. Revolução, sim! Revolução nas práticas, nos
    públicos, nas metodologias, nas pedagogias, nas referências curriculares, nos técnicos – seus perfis e funções – , nas soluções organizacionais,
    nas respostas aos cidadãos. Muitas vezes desconhecida (ou mal conhecida) a Iniciativa Novas Oportunidades é constituída por um conjunto muito
    diversificado de soluções de educação-formação procurando responder de modo ajustado aos diferentes públicos que a ela poderão recorrer. E
    está a ser concretizada no terreno com um empenho técnico e profissional por milhares de docentes, técnicos, conselheiros de orientação, entre
    outros. São também centenas as organizações que nela se envolveram – escolas públicas e privadas, centros de formação, escolas profissionais,
    entidades privadas, empresas, associações empresariais e sindicais, e associações de desenvolvimento local e regional. E, por último, como
    um dos aspectos mais importantes a salientar, a Iniciativa é reconhecida por mais de um milhão de adultos portugueses como uma resposta
    adequada à sua vontade de voltar a estudar, de aprender mais, de fazer mais formação ou de completar o 12º ano, como muitos afirmam.

    O estudo que a Lucília Salgado e a sua equipa está a desenvolver é um bom princípio para explorarmos novas pistas de investigação, novos
    efeitos (in)directos, novas consequências (im)previstas, novos desafios para a intervenção das políticas públicas de qualificação de adultos. Este
    seminário deu um importantíssimo contributo para que a análise e reflexão científica neste domínio se tenha intensificado.

    Um dia será possível compreender de modo mais aprofundado de que forma é que educando e formando os nossos adultos, educámos e formámos
    melhor as gerações dos seus filhos. E que esses filhos tornando-se pais e avós mais escolarizados, mais integrados e mais participativos tiveram
    também eles o seu papel de reprodução social criando gerações futuras de portugueses e portuguesas mais despertos para o conhecimento e para
    as aprendizagens. É esse o futuro das sociedades mais desenvolvidas. Espero sinceramente que também possa passar por aqui o futuro de Portugal!




6
Lucília Salgado1




  Nota de Apresentação
O presente livro propõe-se dar conta das comunicações apresentadas no I Encontro Internacional de Literacia Familiar realizado na Escola
Superior de Educação de Coimbra (ESEC), em Novembro de 2009.1
Procurava este Encontro cruzar os quadros teóricos que, de uma forma transversal, fundamentaram e deram origem ao Estudo que temos em
curso em colaboração com a Agência Nacional para a Qualificação, I.P. (ANQ) sobre a importância da frequência dos pais, com baixos níveis de
escolaridade, nos processos de Reconhecimento, Validação e Certificação de Competências (RVCC) para o sucesso escolar dos seus filhos.

O livro abre com uma apresentação das principais problemáticas fundamentadoras desta hipótese de investigação desenvolvidas por Lucília
Salgado, Professora da ESEC, que tendo iniciado a sua actividade no domínio da Educação de Adultos, transporta estas perspectivas educativas
para a compreensão da génese do insucesso escolar das crianças à entrada para a escola básica. No artigo As novas potencialidades da Educação
de Adultos na construção do sucesso escolar dos filhos, identifica-se as principais causas do insucesso escolar, quer junto das famílias de baixo
nível de escolaridade, quer junto do sistema educativo que nem sempre oferece respostas adequadas às necessidades destas crianças. É esta
compreensão que permite construir a hipótese de que através da educação de adultos (processo de RVCC), será possível criar condições de base
para o sucesso das crianças logo no início da vida escolar.

A Parte I desta obra procura questionar A génese do (in)sucesso escolar: na escola e na família. Assim, António Candeias, Professor na
Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, com o artigo: A persistência do atraso educativo português nos nossos
dias: Portugal nos processos de alfabetização, escolarização e criação de Capital Humano nos séculos XIX, XX e XXI evoca uma perspectiva
histórica explicativa da razão dos baixos níveis de competências escolares das famílias portuguesas equacionados numa escolaridade tardia,
comparada com a maior parte dos países considerados desenvolvidos, sobretudo os europeus.

Após a apresentação da sua comunicação em Coimbra e já depois de corrigido o seu artigo para esta obra, faleceu inesperadamente António
Candeias e assim a possibilidade de nos poder continuar a elucidar sobre as razões históricas das nossas baixas qualificações. Pela disponibilidade
que sempre manifestou a este projecto os nossos agradecimentos. Pela extraordinária pessoa e investigador que foi aqui queremos registar a
nossa homenagem.

Esclarecendo a temática chave deste Encontro, Lourdes Mata, Professora do Instituto Superior de Psicologia Aplicada apresenta o artigo: Literacia
familiar – diversidade, desafios e princípios orientadores evidenciando o modo como a Literacia na família é portadora de potencialidade da
aprendizagem da leitura e da escrita nas crianças.

Procurando desvendar a importância da família na construção do sucesso escolar dos filhos começamos por evidenciar os trabalhos de Anne-
Marie Fontaine sobre a motivação das crianças para o sucesso escolar2. Na impossibilidade da sua participação neste Encontro, Susana Coimbra,
da sua equipa na Faculdade de Psicologia e Ciência da Educação da Universidade do Porto, apresenta o artigo: Uma questão de confiança: o que
(des)motiva a geração actual.

Emília Ferreiro e Ana Teberosky nos seus trabalhos sobre Psicogénese da Linguagem Escrita3, apresentam os resultados da sua investigação,
numa perspectiva piagetiana, sobre o tipo de motivação para a leitura e escrita e o modo como se desenvolvem as condições prévias para a sua




                                                                                                                                                7 05
aprendizagem no interior da família. Neste sentido, Ana Teberosky e Núria Ribera da Universidade de Barcelona trabalham um dos aspectos desta
    problemática com o artigo: Los juegos de lenguaje y alfabetización inicial 4.

    Poderíamos ser levados a considerar que dado o baixo nível de escolaridade das famílias, as crianças de meios pouco letrados estariam fatalmente
    condenadas ao insucesso escolar. As autoras acima referidas participaram num Encontro na América Latina5 onde mostraram como, em vários
    países, escolas e comunidades se organizaram para construir respostas adequadas a estas crianças.

    Na Parte II deste livro, sobre A construção do sucesso escolar quisemos trazer a experiência dos Estados Unidos convidando Michael F. DiPaola
    de Williamsburg, Virginia, que nos apresentou o Systemic Educational Reform in the United States: The No Child Left Behind Act Of 20016.
    Procurando experiências que têm por objectivo dar respostas ao insucesso escolar, apresentamos dois testemunhos e projectos de referência
    realizados em Portugal: uma experiência da escola do 1º ciclo do ensino básico que promove a participação das famílias na escrita dos filhos,
    Envolver a Família no e através do PNEP7, por Cristina Pinto e “A Ler Vamos…”: Um projecto da Câmara Municipal de Matosinhos que visa a
    promoção de competências de literacia emergente como estratégia de promoção do sucesso escolar, por Joana Cruz, Catarina Costa, Célia Silva,
    Micaela Silva, Patrícia Pinto, Sara Almeida e Tânia Santos.

    Na Parte III – O projecto de escolarização para os filhos e a Literacia Familiar: contexto e prácticas, debruçamo-nos sobre as duas grandes
    mais-valias que a Educação de Adultos, mais precisamente através do processo de RVCC desenvolvido nos Centros Novas Oportunidades (CNO),
    pode constituir para o desenvolvimento de um Projecto de Escolarização para os Filhos e para o desenvolvimento da Literacia Familiar. Neste
    capítulo entra-se no âmbito da Educação de Adultos, com Pierre Dominicé da Faculté de Psychologie et des Sciences de l’Éducation da Université
    de Genève que nos apresenta um depoimento: La formation entendue comme processus construit dans l’histoire d’une vie extraído de uma
    extensa bibliografia neste domínio.

    Patrícia Ávila, professora no Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da Empresa (ISCTE), apresenta no seu artigo: Adultos pouco escolarizados
    e literacia. Um olhar sobre a literacia em contexto familiar alguns elementos de caracterização do perfil de literacia dos adultos em Portugal e
    sistematiza alguns resultados de um estudo qualitativo realizado junto de adultos pouco escolarizados recentemente envolvidos em processos
    de educação e formação.

    Apresentam-se, seguidamente, três artigos com os resultados de investigação desenvolvidos na primeira fase do projecto “CNO uma Oportunidade
    Dupla: da promoção da literacia familiar ao sucesso escolar das crianças”. Este estudo exploratório teve por base entrevistas semi-estruturadas
    efectuadas a 40 adultos que realizaram o processo de RVCC de nível básico e que têm filhos a frequentar o 1º ciclo do ensino básico8.

    Cláudia Andrade, investigadora sénior deste projecto, professora na ESEC e investigadora sobre a família no Centro de Psicologia da Faculdade
    de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade do Porto, apresenta o seu artigo: Conciliação trabalho-família em adultos em formação
    nos Centros Novas Oportunidades, debruçando-se sobre o contexto familiar onde se operam as transferência entre pais e filhos.

    Carolina Cardoso e Joana Ferreira, assistentes de investigação neste projecto analisam, através do artigo: Os adultos no contexto do processo de
    RVCC: Uma abordagem das representações e práticas da leitura e da escrita, de que modo o processo de RVCC facilita e potencia a introdução de
    hábitos e práticas de Leitura e Escrita na família, fundamentais na aprendizagem da linguagem escrita no início da escolaridade.

    As mesmas autoras, no artigo: Os adultos no contexto do processo de RVCC: Uma abordagem das representações e práticas do processo de
    escolarização, procuram compreender se o adulto que realizou o processo de RVCC modifica a sua interacção com os filhos e em que medida
    as novas competências e conhecimentos adquiridos permitem aos pais incutir nos filhos valores que passem pela vontade e interesse pela
    escolarização.


    1 Professora na Escola Superior de Educação de Coimbra.
    2 Fontaine, A-M. (1990). Motivation pour la réussite scolaire. Porto: Instituto Nacional de Investigação Científica e Centro de Psicologia da Universidade do Porto.
    3 Ferreiro, E. & Teberosky, A. (1985). Psicogénese da língua escrita. Porto Alegre: Artes Médicas.
    4 Os jogos de linguagem e a alfabetização inicial.
    5 Ferreiro, E. (1992). Os filhos do analfabetismo: Propostas para a alfabetização escolar na América Latina. Porto Alegre: Artes Médicas.
    6 Reforma do Sistema Educativo: A Lei de 2001 “Não deixar crianças para traz”.
    7 Alguns resultados do PNEP (Programa Nacional de Ensino do Português) promovido pelo Ministério da Educação em escolas do 1º ciclo do ensino básico e
    coordenado por Inês Sim-Sim (entre 2006 e 2010), mostram já a transformação efectuada em escolas envolvidas passíveis de ajudar a modificar a situação de
    insucesso escolar.
    8 Esta fase do estudo foi realizada também por Filipa Moraes, docente da ESEC e Inês Cruz e Cláudia Ferreira, assistentes de investigação, que apresentaram
    a metodologia do Projecto numa comunicação, neste Encontro.




8
INTRODUÇÃO




         9 05
10
As novas potencialidades
da educação de adultos na construção
        do sucesso escolar dos filhos


                                   11 05
Lucília Salgado1, 2

                                       Resumo
                                       Marcado por um atraso na escolarização para todos – acesso e permanência na
                                       escola do 1º ciclo – a situação histórica portuguesa no século XX colocou os
                                       nossos níveis educativos numa escala de valores entre os mais baixos da Europa.

                                       A ausência de uma cultura de escolarização na família e a fraca utilização da leitura
                                       e escrita estarão na origem do insucesso e desinteresse pela escola que dificultam
                                       uma escolarização das crianças. Embora a perspectiva sócio-institucional de
                                       atribuição causal do insucesso escolar (Benavente, 1976) não escuse a escola da
                                       resposta a atribuir a estes destinatários verificamos que, apesar de existentes, são
                                       raras as situações em que a Escola consegue vencer esta dificuldade de partida.

                                       A procura massiva dos Centros Novas Oportunidades por uma população com
                                       baixos níveis de escolaridade conduziu à criação da hipótese de que a situação
                                       nas famílias com filhos à entrada para o ensino básico estaria a mudar em relação
                                       ao envolvimento dos pais na sua escolaridade. O estudo que temos em curso
                                       tem vindo a produzir resultados que confirmam esta hipótese. Assim, poderemos
                                       ser levados a concluir que o envolvimento em Educação de Adultos, mais
                                       especificamente no processo de RVCC (Reconhecimento, Validação e Certificação
                                       de Competências) estará a ter uma importância indirecta na subida dos níveis de
                                       qualidade da educação escolar em Portugal.


     1. Introdução                                                                  passar, para além da resolução dos problemas imediatos e
                                                                                    quotidianos, por uma mudança profunda na educação de
     Marcada por níveis muito baixos de qualidade da educação, a                    construção e acesso de uma formação que permita a todos o
     sociedade portuguesa entra neste milénio numa situação difícil para            bem-estar possível numa economia de carácter sustentável.
     recuperar o seu atraso secular em relação aos países da Europa
     central e para enfrentar os novos desafios que anunciou na sua                 Após uma análise da situação da educação em Portugal que
     conferência de Lisboa 2000, os da sociedade do conhecimento.1, 2               se apresentava sem esperança (Salgado, 2003) cumpre agora
                                                                                    anunciar o início de recuperação, ao identificar sinais de
     As medidas políticas lançadas nos últimos cinco anos parecem                   mudança positiva na educação das crianças e, sobretudo, na
     querer inverter a situação sendo, eventualmente, portadoras de                 educação de adultos. É o que nos propomos fazer neste capítulo,
     uma reforma estrutural no campo educativo antevendo impactos                   apoiado pelos artigos que a seguir fundamentam o diagnóstico
     esperados a nível económico e de cidadania dos portugueses.                    e as mudanças que conseguimos visualizar na educação em
     De facto, o quadro da luta contra a nossa pobreza secular parece               Portugal. Foi já esse o sentido que encontramos no 1º Encontro
                                                                                    de Literacia Familiar que realizámos em Coimbra, no mês de
                                                                                    Novembro, de 2009, e cuja memória escrita apresentaremos
     1 Coordenadora do projecto: “CNO - uma oportunidade dupla: da promoção
     da literacia familiar ao sucesso escolar das crianças”. Professora na Escola   nos próximos capítulos deste livro.
     Superior de Educação de Coimbra.

     2 Com a colaboração do assistente de investigação Carlo Patrão.                Vamos, numa primeira parte deste capítulo, identificar as




12
nossas preocupações de necessidade educativa na sociedade do      grupos “marginais da população como os idosos, deficientes
conhecimento perspectivando o futuro a partir de um passado       de diverso tipo e imigrantes” mas sim, referindo que “cidadãos
marcado por contingências históricas identificadas.               adultos, por vezes com mais de dez anos de frequência de
                                                                  escola básica, revelam actualmente uma absoluta incapacidade
Numa segunda parte, tentaremos perceber como se constroem         de recorrer à leitura e à escrita para a resolução dos problemas
os nossos baixos níveis educativos logo à entrada no 1º           do seu quotidiano.”
ciclo do ensino básico. Da situação charneira entre a escola
e a família, iremos reflectir e apurar quais os factores que,     O Estudo Nacional da Literacia, publicado em 1996, vem mostrar
para além de eventuais fatalismos sociológicos, podem ser         que a nossa realidade cruza uma situação de analfabetismo
identificados e eventualmente removidos através de medidas        tradicional de não acesso ou abandono precoce da escola, típica
políticas – e pedagógicas – adequadas. Nesse sentido,             dos países periféricos, com a situação apresentada no estudo da
procuraremos recuperar, a nível nacional e mundial, políticas     OCDE referido em que cidadãos que já tiveram acesso à escola
potencialmente portadoras de mudança no sistema educativo         revelam níveis reduzidos de competência de leitura – literacia
e na comunidade.                                                  – quando confrontados com um texto escrito necessário ao
                                                                  seu quotidiano. De facto, podemos aí verificar que 47,3%
Feito o diagnóstico e focalizadas as medidas de mudança no        da população inquirida se situa nos níveis 0 e 1 de literacia
sistema educativo, desvendaremos, no campo das práticas da        revelando que praticamente metade da nossa população adulta
Iniciativa Novas Oportunidades, impactos na relação dos pais      não lê no seu quotidiano. Os nossos indicadores são não só os
com os filhos, com o sistema escolar e com a necessidade de       mais baixos dos países da OCDE como semelhantes aos países
aprender que se apresentam hoje como factor de remoção do         do chamado terceiro mundo onde a maioria da população ainda
principal obstáculo ao sucesso às aprendizagens das crianças:     não tem acesso à escola. Estaremos em presença de uma dupla
a baixa escolaridade dos pais.                                    situação adversa ou serão apenas as duas faces de uma mesma
                                                                  moeda?
2. Das necessidades de aprendizagem na sociedade
   actual                                                         O acesso tardio à escolarização da população portuguesa
                                                                  (Candeias, 1996)3 justifica o nosso atraso educativo. Enquanto
Nas sociedades actuais, marcadas pela globalização da produção    praticamente toda a Europa escolarizou toda a sua população
e das respectivas formas de regulação, assim como pelo            nos finais do século XIX, princípios do XX, nós, tendo perdido
desenvolvimento célere das tecnologias, a educação tem vindo      esta oportunidade, acabámos por poder garantir a presença na
a ser considerada e questionada como capaz de resolver ou de      escola de toda a população apenas nos anos 70. No entanto,
contribuir fortemente para atenuar grandes problemas actuais      escolarização não significou alfabetização e, apesar do acesso
que vão desde a tradicionalmente considerada exclusão social,     à escola, muitas crianças vêem vedado o acesso aos saberes
ao desemprego estrutural, até aos entraves e aos avanços na       considerados fundamentais para viver com direitos de cidadania,
produtividade que o desenvolvimento tecnológico exige.            na sociedade actual. Não aprendem a ler e começam assim um
                                                                  ciclo de insucesso escolar nas suas vidas (Salgado, 2003).
Em 1992, a OCDE, através da edição do relatório Analfabetismo
Funcional e Rentabilidade Económica, lança o desafio aos seus     Questionando a génese deste insucesso escolar deparamo-nos
estados membros para que no âmbito da educação, tomem             com dois grandes problemas convergentes nesta resposta, uma
especial atenção aos processos de aquisição da literacia,         delas centrada na origem do problema: o que caracteriza as
indo assim mais longe do que falar apenas, globalmente, em        crianças que não adquirem as competências previstas à entrada
Educação como vinha sendo corrente. Com este relatório estava
lançado o alerta aos estados membros ligando a dificuldade
                                                                  3 Ver, nesta obra o artigo de António Candeias, “A persistência do atraso
com que se debatem devido às baixas competências de leitura       educativo português nos nossos dias: Portugal nos processos de alfabetiza-
e escrita dos seus trabalhadores, referindo que não se trata de   ção, escolarização e criação de Capital humano nos séculos XIX, XX e XXI”.




                                                                                                                                        13 05
para escola. A outra centra-se no modo como a escola responde                  arrastam o insucesso durante toda a escolaridade, enquanto
     a estas características. De facto, se a escola é para todos –                  se aguentam na escola (Salgado, 2003). Países como a França,
     princípio constitucionalmente admitido – poderemos dizer que                   em que a participação de todas as crianças em pelo menos um
     existe uma inadequação da resposta a estes destinatários.4                     ano de jardim-de-infância é conhecida há mais de quarenta
                                                                                    anos, onde as bibliotecas de bairro proliferam há muitos mais,
     3. Do atraso da escolarização ao insucesso escolar                             onde existem programas com associações para a mediação
                                                                                    da leitura em quase todos os lugares, debatem-se hoje com
     Apesar da nossa abordagem das políticas educativas, nos                        problemas sérios devido às dificuldades de leitura à saída da
     últimos anos, se ter preocupado com o tipo de resposta que                     sua escola primária. Um recente alerta do Haut Conseil de
     a escola oferece às crianças oriundas de meios baixamente                      l’Éducation (2007) diz-nos que apenas 60% das suas crianças
     escolarizados (Salgado, 2003) a emergência de uma nova                         que terminam o 1º ciclo do ensino básico (de cinco anos) está
     resposta, inesperada, obriga-nos a centrar a nossa atenção                     em condições de prosseguir uma escolaridade com sucesso. E
     nas necessidades e nos modos de aprendizagem das crianças                      qual será a nossa percentagem?5
     na sua entrada no sistema escolar, focalizando a atenção na
     herança familiar.                                                              O insucesso escolar não é, de modo nenhum, um fatalismo.
                                                                                    E a solução não é administrativa: passar todos de ano sem
     De facto, há mais de trinta anos que conseguimos que todas as                  saberem. O desafio estará mesmo em conseguir que todos
     nossas crianças frequentem a escola, no entanto, apenas uma                    aprendam devidamente à entrada para a escola. Adquirir as
     parte consegue usufruir plenamente do acesso à educação, mais                  competências básicas nos dois primeiros anos de escolaridade
     precisamente, ao sucesso nas aprendizagens. Muitos jovens                      é o passaporte de sucesso para toda a vida.
     abandonam a escola sem a escolaridade obrigatória e quase
     metade tem que repetir pelo menos um ano para conseguir obter                  No sentido de evitar que muitas crianças arrastem o insucesso
     uma certificação mínima (Capucha, Albuquerque, Rodrigues e                     através de toda escolaridade os Estados Unidos promulgaram
     Estevão, 2009).                                                                o No Child Left Behind Act 6 de modo a que nenhuma criança
                                                                                    fique sem adquirir as competências básicas à entrada para a
     Socializadas em famílias com baixos níveis de escolarização                    escola.
     encontramos uma população que, na sua maioria, revela o que
     a escola chama de dificuldades de aprendizagem, desmotivação                   Em Portugal muitos professores, trabalhando em meios sociais
     precoce, insucesso ou abandono escolar. De outras diríamos                     adversos, conseguem ter todas as crianças a ler na Primavera
     ainda que conseguem ir avançando mal no sistema, portadoras                    do ano de iniciação da escolaridade. Os vários materiais e estudo
     da chamada morbilidade escolar, uma vez que os seus níveis de                  produzidos pelo e sobre o Movimento da Escola Moderna são
     aprendizagem são inseguros, fracos.                                            testemunho da possibilidade de ensinar a ler a todas as que se
                                                                                    iniciam na escolaridade7.
     Sabemos também que uma das principais causas do insucesso
     escolar tem como base uma deficiente aprendizagem da                           De passagem gostaríamos ainda de referir as mudanças
     leitura e da escrita: muitas crianças lêem mal, lentamente, ou
     não compreendem o que lêem. Estas crianças ou começam                          5 Alguns cálculos permitem-nos aventar para cerca de 60%. Ora, 60% de crian-
     cedo com insucesso e desinteresse escolar reprovando logo                      ças que não tem um bom domínio da leitura não é uma minoria e estará na base
                                                                                    dos nossos baixos níveis educativos.
     na primeira avaliação sumativa – mais de 10% no 2º ano de
     escolaridade – ou acabam por reprovar no 2º ciclo, ou ainda,                   6 Ver a comunicação nesta obra de Michel Di Paola “Systemic Educational Re-
                                                                                    form in the United States: The No Child Left Behind Act of 2001”.
     4 De facto, este segundo vector do problema não será objecto desta obra, em-
                                                                                    7 Referimo-nos às crianças não portadoras de deficiência sabendo que um
     bora as nossas preocupações caminhem igualmente nesse caminho. Centrar-
                                                                                    meio social deficitário não gera automaticamente crianças com dificuldades de
     nos-emos, neste contexto, apenas na génese do problema, as características
                                                                                    aprendizagem perante uma pedagogia adequada.
     dos destinatários.




14
que parecem estar a efectuar-se na própria escola do ensino                        quais os obstáculos e os facilitadores que, à entrada para a
básico. O Programa Nacional de Ensino do Português (PNEP)                          escola, podem contribuir para inverter a situação facilitando
será portador de novas maneiras de propor a aprendizagem                           o acesso à aprendizagem de todas as crianças qualquer que
às crianças, à entrada do 1º ciclo facilitadoras de aquisição da                   seja o seu meio social de origem. Nesta linha de preocupações
competência de ler e escrever com maior funcionalidade na                          encontrámos duas características na maioria das famílias
sociedade do conhecimento. Apesar de não haver ainda estudos                       que se considera de meios socioeconómicos considerados
realizados neste domínio permitimo-nos, através de pequenos                        desfavorecidos9 que estarão na génese da produção do
trabalhos exploratórios, aventar que crianças cujos professores                    insucesso escolar:
têm estado envolvidos na formação deste Programa8 revelam,
nas provas aferidas, melhores resultados em língua portuguesa                      4.1. Ténue existência de um projecto de escolarização para
do aquelas cujos professores não se voluntariaram para esta                             os filhos
formação. Um número significativo de crianças poderá mais
facilmente aceder à literacia mas, a dificuldade de vencer a                       Uma primeira característica prende-se com a ausência, ou
situação de base – iliteracia nas famílias – será forçosamente                     presença ténue, de um projecto de escolarização para os
apoiada por outros programas de desenvolvimento na educação                        seus filhos. As suas vidas decorreram sem os levar a passar
de infância e nas comunidades para que as dificuldades de                          adequadamente pela escola e conseguiram sobreviver. Por
partida sejam um obstáculo removido.                                               essa razão, às primeiras dificuldades que os filhos registam
                                                                                   consideram que “Não dão para a escola”. Estas famílias
4. “Deficits” nas famílias                                                         aceitam o fatalismo desta reprodução social, e o afecto aos
                                                                                   filhos (“coitadinhos não conseguem, a escola é muito difícil”)
Apesar dos sociólogos da educação dos anos 70 (Baudelot &
                                                                                   aliado à falta de consciência da sua auto-eficácia própria neste
Establet, 1974; Bourdieu & Passeron, 1970) evidenciarem a
                                                                                   domínio evadem-lhes a intervenção no processo escolar dos
relação entre meio social e sucesso escolar apontando para a
                                                                                   seus descendentes directos.
função da escola de manutenção da estrutura de classe, cumpre
questionar se no tempo da sociedade do conhecimento esta
                                                                                   Estas famílias não escolarizadas não constituem modelo para
necessidade de recusar o acesso à aprendizagem a uma grande
                                                                                   os filhos na formação da sua identidade na relação positiva – a
maioria das crianças ainda seria útil à hegemonia dos grupos
                                                                                   conducente ao sucesso escolar – com a escola. As preocupações
dominantes ou se a escola apenas mantém esta função por
                                                                                   na família são de outra ordem não sentindo, as crianças que, à
inércia reaccionária ao desenvolvimento a que se propõe. No
                                                                                   escola, seja atribuída grande importância. Para os rapazes, este
entanto, o investigador social preocupa-se em entender o modo
                                                                                   problema acentua-se uma vez que todo o universo escolar é
como a escola se organiza para que, após garantir o acesso
                                                                                   composto por mulheres. As educadoras e professoras e todos
a todas as crianças, apenas grupos minoritários consigam a
                                                                                   os que trabalham na escola são mulheres, quem se preocupa
aprendizagem cabal dos objectivos enunciados. Mandato ou
                                                                                   de organizar a vida familiar para enviar os filhos à escola são,
inércia? O facto é que apesar do discurso acerca da burguesia e
                                                                                   maioritariamente, as mães. Nos modelos parentais e sociais de
do proletariado em que se polarizava a sociologia dos anos 70,
                                                                                   adultos que a criança encontra para construir a sua identidade,
a escola continua a reproduzir as classes sociais.
                                                                                   a escola não existe como algo determinante10.
Interessa, pois, saber, numa perspectiva contra hegemónica,

8 O PNEP organiza-se através de um Formador Residente por Agrupamento de
                                                                                   Sabemos também que as dificuldades de relação destes pais
Escolas que, tendo sido sujeito a uma formação específica, forma e apoia os
professores do 1º ciclo do seu Agrupamento que se voluntariaram para esta          9 Consideramos que o factor “desfavorecido”, na sociedade do conhecimento,
formação. Este trabalho é acompanhado por textos e materiais realizados por        remete para a sua relação com a escolarização enquanto projecto de vida para
uma Comissão Nacional de Acompanhamento coordenada por Inês Sim-Sim                si e para os seus filhos, com a ausência de práticas correntes de leitura e escrita
e por um Coordenador Regional docente na Instituição de Ensino Superior de         no quotidiano.
Educação do respectivo Distrito. Apesar do carácter voluntário da formação
calcula-se que cerca de metade dos professores do 1º ciclo já terão sido objecto   10 Em Inglaterra, a Pré-school Learning Alliance desenvolve um programa especial
desta formação realizada dentro e fora da sala de aula.                            para que sejam os pais – homens – a relacionar-se com a vida escolar dos filhos rapazes.




                                                                                                                                                                      15 05
com a escola, os leva a afastar-se contactando pouco com os         nem as manipulam com as crianças. De facto, segundo
     professores dos filhos. Para além da dificuldade de relação         Teberosky, (2001) a aprendizagem da escrita, enquanto
     marcada pela diferença das classes sociais de pertença, os          artefacto cultural, não passa só pela presença no universo da
     professores consideram que estes pais se entendem mal com a         criança mas pelo seu envolvimento, com outros indivíduos, na
     escola levando a atribuir as ausências à falta de interesse pelos   sua manipulação.
     filhos. O conflito, mesmo latente, está instalado o que dificulta
     ainda mais a comunicação (Perrenoud & Montandon, 1987).             Semelhante ao modo como se aprende a falar a criança
                                                                         precisa, em primeiro lugar, de ter necessidade de ler. Esta
     Também a consciência da necessidade de ajudar os filhos a fazer     necessidade, em famílias letradas11 cria-se pelo gosto adquirido
     os trabalhos escolares está ausente das suas preocupações.          ao ouvir os seus adultos significativos a contar-lhes histórias,
     Acreditam que a escola ensinará os seus filhos, não tendo           fundamentais para o seu crescimento, respondendo às suas
     consciência da cumplicidade que a escola exige com a família        angústias e inseguranças (Bettelheim, 1985). Perceberá então
     para ajudar os filhos nas aprendizagens escolares (Meirieu,         que, se tiver a capacidade de ser ela própria a fazê-lo, se torna
     1987). Muitas vezes, quando se dispõem a ajudar temem não           mais autónoma ao conseguir ler sozinha as histórias. O gosto
     saber fazê-lo ou por não saberem mesmo as matérias ou por           pela leitura instala-se e, com ele, a vontade de aprender a ler e,
     não ser capazes de responder às expectativas dos professores        sabemos (Ferreiro & Teberosky, 1985) que ela própria, sozinha
     (Salgado & Reis, 1993).                                             ou em grupo, enceta a descoberta da organização do texto
                                                                         escrito e, amiúdes vezes surgem casos de aprendizagem da
     4.2. Fraca (ou nula) existência da literacia na família             leitura sem o seu ensino explícito.


     Uma segunda característica passa pelas dificuldades de              Também, nas famílias letradas, as crianças aprendem para que
     aprender a ler e a escrever à entrada para a escola. Para além      serve ler e escrever à medida que, de um modo funcional, a criança
     da inadequação da oferta educativa já referida, estas crianças      vê os seus adultos significativos a fazê-lo. No seu quotidiano,
     não possuem um projecto de leitor que lhes possibilite              lêem instruções de aparelhos ou para fazer receitas de cozinha,
     envolvimento nesta aprendizagem. Vários autores (Ferreiro,          escrevem por razões diversas no computador, lêem notícias de
     1985; Martins, 1996) referem que a aprendizagem da leitura          jornais ou revistas, tiram dúvidas em livros ou na internet, para
     passa pela criação ou desenvolvimento da necessidade de             comunicar com amigos ou familiares. Vêem igualmente como os
     aprender a ler – porque as suas pessoas significativas lêem e       adultos se relacionam com o texto escrito onde escrevem e como
     lhes lêem, pela compreensão da funcionalidade da leitura e da       o fazem, que materiais utilizam e com que funções.
     escrita – saber onde, para quê e como se lê (Chauveau, 2001)
     e pelo desenvolvimento de conceptualizações sobre como se           Numa família onde não existam estas práticas quotidianas
                                                                         dificilmente as crianças têm oportunidade de adquirir esta
     lê e escreve, praticada anteriormente ao processo técnico de
                                                                         familiaridade com o texto escrito. Ao chegar à escola, na maior
     aquisição da competência de leitura e escrita (Salgado, 2000).
                                                                         parte dos casos, são-lhe apresentados textos sem nexo, letras
     O termo corrente para esta fase de aprendizagem é o de literacia
                                                                         para decifrar fora dos contextos reais, num manual escolar
     emergente (Clay, 1991). Sabemos também que as crianças de
                                                                         muitas vezes com palavras desfasadas do quotidiano (pua,
     meios letrados, onde a literacia familiar se desenvolve, entram
                                                                         águia…). O texto escrito surge-lhes como um jogo escolar,
     nas escolas com níveis elevados de literacia emergente, algumas
                                                                         muitas vezes fastidioso, que dificilmente poderá criar o gosto,
     tendo mesmo aprendido a ler quando inseridas num “banho de
                                                                         o interesse, a necessidade de ler. A leitura fica, deste modo
     escrita” de natureza familiar (Chauveau & Martine, 1997).
                                                                         remetida para a esfera escolar não passado a consciência da
                                                                         sua utilidade no quotidiano social.
     Inseridas em famílias não letradas, as crianças não têm
     oportunidade de ver os seus progenitores relacionar-se com a
     escrita. Mesmo se existem palavras escritas nas embalagens
     utilizadas no quotidiano doméstico, os adultos não as referem       11 As que utilizam no seu quotidiano a leitura e a escrita.




16
Os trabalhos de Emília Ferreiro e Ana Teberosky (1985) vêm           Foi esta hipótese que colocámos perante a informação de que
desvendar o conhecimento prévio que as crianças, que                 cerca de 900 000 de pessoas, de baixos níveis de escolaridade
contactam com a escrita antes da sua iniciação formal em             procuravam os Centros Novas Oportunidades envolvendo-se
contexto escolar, adquirem através da sua construção numa            num projecto de escolarização (www.novasoportunidades.gov.pt).
aprendizagem por descoberta (Piaget, Bruner, 1999). Dizem-nos
que não só constroem um projecto pessoal de leitor (Martins,         Os dados disponíveis (Idem) permitem precisamente concluir que
1991), como descobrem como o texto se organiza, evoluindo,           a procura de Centros advém de uma faixa de população situada na
passo a passo nessa compreensão, através de estágios                 idade de ter filhos – entre os 25 e 44 anos – (61,5%), sobretudo
de conhecimento evolutivos numa perspectiva piagetiana.              mulheres (53,5%) o que leva permitir criar a hipótese de que
Nesse processo adquirem a consciência fonológica e mesmo             sendo a população que procura os Centro Novas Oportunidades
fonémica, facilitada pelo desenvolvimento da sua linguagem           situada na idade de ter filhos em idade escolar e sendo as
oral, sobretudo lexical (Duarte, 2008; Sim-Sim, 2007).               mulheres quem maioritariamente se ocupa da vida escolar dos
                                                                     filhos algo poderia acontecer na mudança de relação.
Pelas razões expostas, a dificuldade de aprender a ler e o gosto
e facilidade da leitura torna-se mais difícil para as crianças       Sendo a falta de projecto de escolarização para os filhos e a
oriundas de famílias onde não se lê nem escreve. Toda a              ausência de literacia nas famílias as duas grandes diferenças
retaguarda cultural e linguísta necessária à aprendizagem da         encontradas junto das famílias com mais altos níveis de
leitura e escrita não existe ou só aparece deficientemente, e a      escolarização cujos filhos têm sucesso escolar, conhecendo as
criança sente-se desprovida de um background fundamental             práticas desenvolvidas em contexto de RVCC (Reconhecimento,
para a aprendizagem. O jardim-de-infância não tem, muitas            Validação e Certificação de Competências) podemos pensar que
vezes, esta preocupação diferenciada e sistemática, a escola do      as mudanças no interior das famílias poderiam ser portadoras
1º ciclo também não e, a não aprendizagem ou aprendizagem            de novas estratégias na escolarização dos filhos.
deficiente da leitura vai-se arrastando, criando o acto de ler
em algo fatigante e mesmo fastidioso. A presença de livros de        Por um lado, o facto de um dos pais procurar elevar o seu
histórias que, para muitas crianças constitui fonte de satisfação,   nível de escolaridade significaria a existência, aquisição ou
para as crianças que começam, deste modo, a sofrer o seu             desenvolvimento da importância da escola para si próprio,
primeiro insucesso, torna-se um instrumento de sofrimento e          primeiro passo para considerar a sua importância no futuro dos
descriminação.                                                       seus filhos. Por outro lado, a manipulação de materiais de escrita
                                                                     na presença do seu filho trariam a esta família as condições
5. Centros Novas Oportunidades (CNO) – Uma                           prévias referidas para a aprendizagem da leitura e da escrita.
   oportunidade dupla: da promoção da literacia
   familiar ao sucesso escolar das crianças                          Pierre Dominicé considera que a expressão da sua história
                                                                     de vida, contando-a a outro, é portadora de aprendizagens
5.1. A procura dos Centros Novas Oportunidades                       quer seja no domínio do aprofundamento dos conhecimentos
                                                                     construídos quer na sua organização e sistematização12.
Transportando esta preocupação pretendemos com o presente
trabalho dar conta de novos movimentos na sociedade                  A construção de um projecto de investigação feito com estas
portuguesa com potencialidades de modificar a actual situação        premissas permitiria verificar a hipótese percebendo as
educativa.                                                           mudanças ocorridas no interior das famílias com a realização
                                                                     de um processo de RVCC pelos seus progenitores.
A menos que a situação de partida se altere e as crianças
originárias de famílias menos escolarizadas passem a ter
                                                                     12 Ver o seu depoimento neste obra “La formation entendue comme processus
na família uma interacção com a leitura e a escrita e maior          construit dans l´Histoire de Vie“ mais desenvolvido na obra “L’Histoire de Vie
motivação para se envolverem na sua escolarização.                   comme Processus de Formation (1997), Paris: L’Harmattan.




                                                                                                                                              17 05
6. Conceitos                                                        quais as transferências pais-filhos, pelo envolvimento parental,
                                                                         no que se refere à motivação criada, ao conhecimento da sua
     Embora sabendo que quando interrogados acerca do processo           funcionalidade e ao desenvolvimento de conceptualizações
     de mudança, os inquiridos apenas nos dariam as suas                 sobre a leitura e escrita facilitadoras da iniciação à sua
     percepções acerca do processo de mudança. Por outro lado, pela      aprendizagem. Em seguida serão apresentados os conceitos-
     impossibilidade temporal de proceder a um estudo longitudinal       base envolvidos neste estudo.
     optamos por, numa primeira fase, proceder à realização de
     entrevistas de carácter exploratório a indivíduos que realizaram    6.1. “Auto-eficácia e envolvimento em actividades com o filho”13
     um processo de RVCC de nível básico – equivalente ao 9º ano
     de escolaridade – e que têm filhos que frequentam o 1º ciclo        A família desempenha um papel fundamental no sucesso
     de escolaridade. Optámos por esta amostra uma vez que se            escolar das crianças, sendo muitas vezes referenciado pela
     entende este ciclo como definidor decisivo de construção do         literatura que os pais são os primeiros professores e que a
     sucesso escolar das crianças.                                       casa é a primeira escola (Bandura, 1997, Morrow, 1995).
                                                                         No domínio das relações pais-filhos as investigações são
     Este estudo exploratório partiu de conceitos definidores das        consensuais no sentido de evidenciar que os pais exercem um
     questões colocadas aos sujeitos inquiridos. Um primeiro grupo       papel activo e influente no modo como as crianças aprendem a
     de questões procurava inquirir acerca dos contextos pessoais e      ser pró-activas nas suas aprendizagens (Schneewind, 1995). O
     familiares de inserção dos filhos. Remetiam para a consciência      estudo de Mondell e Tyler (1981) demonstrou que quanto mais
     da auto-eficácia dos indivíduos no envolvimento em actividades      competentes os pais são (sendo esta competência definida
     com o filho e para o modo de Gestão de Papéis no interior da        como níveis gerais elevados de auto-eficácia) mais apoio dão
     família com a introdução das novas práticas desenvolvidas           aos seus filhos. Para além disto, também evidenciam níveis
     com a realização do processo de RVCC. Um segundo grupo de           mais frequentes de interacção positiva com as crianças e dão
     conceitos fundamentam as questões referentes às mudanças            menos ordens às crianças. Nesta linha, Grolnick, Ryan e Deci
     no projecto de vida atribuído ao processo de escolarização dos      (1991) afirmam que o comportamento dos pais não afecta
     filhos através do envolvimento nesse processo e, por fim, um        directamente as capacidades das crianças, como foi defendido
     quarto grupo remete para as mudanças nas representações e           em alguns estudos, mas antes que tem um impacto nas atitudes
     nas práticas da leitura e da escrita.                               e motivações das crianças em relação ao contexto escolar e
                                                                         escolarização em geral. Um estudo de Bandura, Barbaranelli,
     No estudo que aqui se apresenta, procura compreender-se a           Caprara e Pastorelli (1996) demonstrou ainda a existência
     importância de um adulto fazer um processo de RVCC na vida          de uma ligação entre a percepção de eficácia académica e
     escolar dos filhos que frequentam o 1º ciclo do ensino básico. A    aspirações dos pais e as mesmas percepções e aspirações nos
     auto-eficácia que o adulto desenvolve no seu processo de RVCC       filhos; o autor destaca, então, que o sentido de auto-eficácia dos
     permite-lhe relacionar-se melhor com os outros, nomeadamente        pais promove as aspirações educacionais dos filhos, actuando
     sentindo-se mais bem preparado para responder às perguntas          como incentivo e reforço constante em relação às aprendizagens
     do seu filho e para falar com os seus professores.                  e contribuindo para que as dificuldades encontradas pelas
                                                                         crianças sejam ultrapassadas de forma construtiva (Bandura,
     Pretende-se, igualmente, saber quais as transferências realizadas   1993). Corroborando esta perspectiva, Henk e Melnick (1995)
     no interior da família e o modo como estas facilitam o empenho      argumentam que o modo como o indivíduo adulto se vê a si
     e o acompanhamento da vida escolar; mais especificamente,           próprio enquanto leitor influencia, de forma activa, o tipo de
     como as competências adquiridas e/ou reconhecidas trazem            actividades de leitura e a frequência das mesmas. Estas vão
     maiores e melhores expectativas em relação à escola na vida         ser observadas pelos filhos e, como tal, desenvolvem nestes
     do seu filho e facilitam um maior envolvimento no seu projecto
     de escolarização. Sabendo que a aprendizagem da leitura é           13 A partir de um texto de Cláudia Andrade no 1º Relatório Progresso – fase 1
     decisiva na construção do sucesso escolar, procura saber-se         – 1ª parte, Julho 2009.




18
um interesse crescente por este tipo de actividades. Assim,                     trazer benefícios importantes para a compreensão da vida das
e retomando a perspectiva de Bandura et al. (1996), a auto-                     famílias. As mulheres são responsáveis não só pelo cuidado e
eficácia académica dos pais promove a auto-eficácia académica                   sustento dos seus filhos mas também por todos os aspectos
dos filhos, embora esta relação seja mediada pelas crenças de                   associados ao seu desenvolvimento emocional e intelectual.
sucesso académico das crianças.                                                 As expectativas parentais têm, deste modo, sofrido também
                                                                                alterações significativas. Um “bom pai” já não é um ganha-
De um modo geral, a perspectiva defendida pelos diversos                        pão ausente e benevolente. É esperado que esteja intimamente
autores permite-nos, pela sua relevância, considerar no presente                envolvido nos aspectos da vida da criança, desde o brincar ao
estudo a importância da auto-eficácia geral e a importância da                  cuidar, ao alimentar e ajudar nas tarefas da escola (Jacobs &
mesma para as dinâmicas relacionais pais-filhos como variável                   Gerson, 2004). Estes dados parecem ser também válidos em
importante para a análise da promoção da literacia familiar.                    Portugal, onde se considera que o elemento masculino do casal
                                                                                deve também dedicar-se à família, colocando os interesses
6.2. “Gestão de Papéis”14                                                       desta acima de outros assuntos (Poeschl, 2000). Outro aspecto
                                                                                particularmente relevante para as exigências crescentes da
A análise das relações entre a vida profissional e familiar tem                 maternidade e da paternidade diz respeito ao papel privilegiado
sofrido alterações ao longo do tempo. Se durante alguns anos                    que a criança ocupa no contexto da família. De facto, ter uma
se analisou cada um dos domínios em separado, sendo o                           criança implica actualmente maiores investimentos nos planos
trabalho e família perspectivados como esferas independentes,                   afectivos, relacionais e mesmo materiais que possibilitem
mais recentemente tem-se assistido a um crescente interesse                     percursos escolares mais longos tendo em vista a sua futura
na relação e interdependência destas duas esferas. De facto, a                  inserção profissional. Adicionalmente, a preocupação, em
questão que se coloca actualmente na análise dos processos                      particular dos pais, em promover o desenvolvimento “cultural”
pelos quais estas esferas estão ligadas, reporta-se aos efeitos                 das crianças, inscrevendo-as num sem número de actividades
que cada um dos sistemas pode ter no outro e no indivíduo.                      extra-escolares, acrescenta um maior número de exigências
Para este crescente interesse contribuíram as novas tendências                  aos pais. As actividades centradas na criança dominam a vida
sociais, nomeadamente o aumento do número de famílias de                        familiar e criam um ritmo familiar e doméstico muito intenso
duplo-rendimento. Assim, a temática da conciliação entre vida                   (Lareau, 2002 cit. por Jacobs & Gerson, 2004). O envolvimento
familiar e profissional surge como consequência das mudanças                    crescente com as crianças que se espera dos pais torna as
sociais ocorridas nos países industrializados, onde se verificou                longas horas de trabalho mais problemáticas e, como tal, pode
a entrada da mulher no mercado de trabalho e o aumento do                       gerar sentimentos de conflito entre papéis.
número de papéis por ela desempenhados bem como um
aumento da participação dos homens no desempenho de tarefas                     Assim, e na linha do que foi apresentado, o modo como as
não remuneradas (apesar deste aumento ser considerado                           relações entre papéis familiares e profissionais são articuladas
insuficiente para equilibrar a distribuição do trabalho em casa).               parece-nos ser uma dimensão importante para o presente
Paralelamente, mudanças ao nível das expectativas profissionais,                estudo, na medida em que podem fornecer informação relevante
familiares e mesmo parentais contribuem, certamente, para                       sobre a interacção pais-filhos e seu impacto nos processos de
o aumento das exigências sobre os indivíduos e influenciam                      aprendizagem destes últimos.
a articulação entre os papéis familiares e profissionais. Nesta
linha, verifica-se actualmente que os indivíduos desempenham                    6.3. “Representações e práticas de envolvimento no processo
cada vez mais papéis com diferentes exigências; o estudo                              de escolarização”
da forma como estes são geridos e a análise das suas
consequências individuais, familiares e profissionais, podem                    O envolvimento das famílias nos processos de escolarização
                                                                                dos filhos é hoje reconhecido como condição de sucesso
14 A partir de um texto de Cláudia Andrade no 1º Relatório Progresso – fase 1   escolar das crianças. Não basta enviá-las à escola diariamente
– 1ª parte, Julho 2009.                                                         para que o processo de escolarização se efective. Entre as




                                                                                                                                            19 05
necessidades decorrentes do empenhamento dos pais na sua             A recusa à escola constitui-se como uma situação de evasão às
     escolarização parecem ressaltar: a implicação das pessoas            dificuldades de inserção neste sistema. A valorização através do
     significativas no empenho dos filhos na relação pedagógica, a        trabalho permitiu a muitos adultos encontrarem o seu caminho
     atribuição de sentido às aprendizagens e a necessidade de uma        na sociedade, à revelia da escola. Quando, em Portugal, a
     pedagogia diferenciada para acesso ao saber (Salgado, 2003)          Educação de Adultos enquadrada pelo sistema oficial de ensino
     que a maioria da escola de massas dificulta.                         e ministrada nos mesmo moldes do sistema educativo, os
                                                                          adultos de baixos níveis de escolaridade, não aderiam à oferta,
     Sabendo que uma das primeiras condições de aprendizagem              ou então desmotivavam-se, não aprendiam ou/e abandonavam
     se situa na necessidade/vontade de aprender algo, poder-se-á         (Salgado, 1985).
     encontrar a génese dessa apetência nas tarefas propriamente
     ditas ou na vontade comunicada pelas pessoas significativas          As relações da escola com os pais de famílias de meios populares
     através da sua experiência de vida. No seu crescimento, a criança    também não são pacíficas. As dificuldades de entendimento
     procura, por um lado, imitar essas pessoas, na maior parte das       dos códigos escolares dificultam a relação com a escola que se
     vezes os progenitores, por outro – se a relação é positiva ou        acentua quando os seus filhos começam a sentir dificuldades
     pretende que seja – procura agradar-lhes. Assim, se do projecto      e são colocados em situação de insucesso. (Perrenoud &
     de vida dos pais faz parte a escolarização e o sucesso dos filhos,   Montandon, 1987).
     estes senti-lo-ão no seu quotidiano e procurarão responder a
     essas expectativas. O momento de fazer os trabalhos de casa,         Não se poderá, no entanto, dizer que os adultos de baixos
     acompanhados por um dos progenitores, poderá constituir um           níveis de escolaridade menosprezavam o saber e recusavam
     momento privilegiado para sentirem esse empenho. Igualmente,         a aprendizagem. No tempo da República e início do Estado
     da parte dos filhos, o tempo de realizar as tarefas escolares        Novo criaram associações de “instrução” e “academias”. No
     acompanhados pelos pais acaba por ter a contrapartida positiva       período a seguir ao 25 de Abril, as associações populares
     destes lhe dedicarem, especialmente, alguma atenção em torno         foram reconhecidas com contexto educativo (Lei 3/79) dado
     do seu apoio. Também a relação pedagógica, que é fundamental         o empenho dos adultos em actividades de aprendizagem
     para que a criança consiga aprender, deveria ser acompanhada         (Melo e Benavente, 1978; Salgado e et al, 1980). Em contextos
     por um adulto significativo que fosse capaz de desenvolver as        migratórios, e independentemente de sistemas formais de
     oito competência inter-pessoais que Maria Emília Brederode           ensino, os trabalhadores emigrantes procuravam informação e
     Santos (1985) considera: empatia, respeito, calor, autenticidade,    acesso ao saber (Gago, 1978). Não será, pois de estranhar que,
     especificidade, auto-exposição, confronto e imediaticidade.          perante uma possibilidade organizada de educação baseada
     Esta relação, que em alguns dos seus aspectos exige uma              no reconhecimento dos saberes adquiridos previamente,
     proximidade individualizada, dificilmente se consegue numa           os adultos com baixo nível de escolaridade, pressionados
     escola em que os professores falam para todos ao mesmo               pelas necessidades da sociedade do conhecimento (Lindley,
     tempo e em que a relação personalizada não aparece nas alturas       2000), tenham respondido de forma expressiva à oferta dos
     chave das aprendizagens. A criança só acaba por encontrar na         Centros Novas Oportunidades, sobretudo dos processos de
     família, ao realizar os trabalhos, esta relação pedagógica que       reconhecimento validação e certificação de competências
     deveria ser paradigma da escola. Também o desenvolvimento            (RVCC).
     da sua auto-estima aparece habitualmente apenas na família.
     A escola tradicional pauta-se por indicar à criança apenas os        No entanto, não é evidente que a passagem para o investimento
     erros, aquilo que está mal, penalizando-a muitas vezes por           na educação dos filhos tivesse acontecido. O facto de terem
     isso, esquecendo de referir e enaltecer os sucessos. Muitas das      vivido na escola situações de violência provocadas, na sua
     características que se consideram de importância numa relação        maioria, pelo insucesso escolar, poderia ter conduzido a
     pedagógica (Dupont, 1983) – congruência, compreensão                 desenvolver o proteccionismo dos filhos, acreditando que o seu
     empática, consideração, intencionalidade na consideração – só        processo de aprendizagem poderia não ser coroado de sucesso.
     acontecem na aprendizagem em família.                                Esta foi uma das razões deste estudo: verificar se o acesso




20
a um processo de escolarização cria, no interior da família, a                 adequado para o desenvolvimento da literacia emergente
construção de projecto de vida que passe pela escolarização                    e para a criação do projecto pessoal de leitor, que passa pela
dos filhos, determinante para o seu sucesso escolar.                           criação da vontade e necessidade de ler (Fontaine, 1990) e pelo
                                                                               desenvolvimento das representações sobre a funcionalidade e
Apoiar o processo de escolarização dos filhos no sentido da                    conceptualizações sobre a leitura e a escrita (Salgado, 2003).
promoção do seu sucesso escolar não só implicaria desconstruir,
para si próprio e para a escola actual, a representação de                     O processo de descoberta da linguagem escrita é um processo
exclusão escolar que recusaria a sua cultura, traduzida na sua                 participado e dinâmico, em que a criança assume um papel
história de vida, como passaria por reconhecer a necessidade                   activo e através do qual reconstrói e reinventa activamente a
de resposta, através da escola e das suas práticas familiares,                 linguagem escrita (Mata, 2002). Antes da entrada no ensino
das funções socialmente atribuídas à educação.                                 formal, as crianças já constroem representações sobre a
                                                                               linguagem escrita, pois interpretam a informação recolhida
6.4. “Mudanças nas representações e nas práticas da leitura                    conforme os esquemas de pensamento e os esquemas
      e da escrita”15                                                          conceptuais que desenvolveram no contacto com a escrita
                                                                               (Martins, 1996), e colocam hipóteses sobre o funcionamento
As crianças que frequentam as escolas públicas portuguesas                     e objectivos da linguagem escrita. Estudos demonstram que
revelam níveis de insucesso escolar elevados e níveis de                       a consciência fonológica, a linguagem oral, o conhecimento
competências de leitura mais baixos que em outros países da                    das letras e as conceptualizações acerca da leitura e da escrita
OCDE (Ferreiro, 1992; Sim-Sim, 1989). Um dos motivos para                      são capacidades tidas como fundamentais para a posterior
que ainda se verifiquem estes resultados reside, como referido                 aprendizagem da leitura (Scarborough, 1998 cit. por Spira
anteriormente, na implementação tardia da escolaridade                         Bracken & Fichel, 2005). Observou-se ainda que existe uma
obrigatória em Portugal, que leva a que, nos dias de hoje,                     relação entre as capacidades de literacia que as crianças têm
ainda exista por parte de muitas famílias uma fraca cultura de                 ao entrar para a escola e o seu desempenho académico futuro
escolarização. Esta pouca valorização da escolarização pode                    (Teale, 1984; Hanei & Hill, 2004; Spira et al, 2005).
significar que, no quotidiano destas famílias, a importância
da utilização da leitura e da escrita não seja muitas vezes                    Sabendo da importância que a qualidade do ambiente familiar
reconhecida e incentivada.                                                     de literacia pode exercer sobre a aprendizagem e sobre a forma
                                                                               como as crianças se tornam mais predispostas em compreender
Pressupõe-se que numa sociedade letrada todas as crianças                      a natureza da linguagem escrita, é fundamental conhecer
tenham contacto com o mundo da leitura e da escrita. Contudo,                  as concepções parentais acerca da literacia, bem como os
no que respeita à quantidade e qualidade dessas experiências,                  comportamentos e práticas que os pais desenvolvem com os
nem todas têm acesso às mesmas práticas de literacia, pois                     filhos neste domínio (Lynch et al, 2006). As famílias podem
estas dependem dos valores e da cultura do grupo social em que                 cultivar as competências de literacia emergente dos filhos se
estão inseridas. Sendo a família um dos agentes de socialização                i) de forma contextualizada e em situações com significado,
mais importantes para a criança, esta desempenha um papel                      fornecerem uma larga diversidade de materiais de literacia, se
preponderante na aquisição e valorização das práticas de literacia.            ii) com frequência, incentivarem as interacções interpessoais
Não tendo a escrita entrado no universo familiar de muitos                     durante as actividades de leitura e escrita, iii) se permitirem a
portugueses, as condições culturais que a sua aquisição implica                observação e participação dos filhos nas práticas de literacia do
dificultam esta aprendizagem por parte das crianças (Chauveau,                 dia-a-dia e em contextos de entretenimento e se iv) integrarem
Chauveau, & Martins, 1997a; Chauveau & Martine, 1997b;                         materiais de literacia no ambiente social e familiar em que estão
Chauveau, 2001). Deste modo, não se propicia um ambiente                       inseridos (DeBaryshe, Binder & Buell, 2000; Leichter, 1984;
                                                                               Purcell-Gates, 2003; Tizard & Hughes, 1984).
15 A partir de um texto de Carolina Cardoso no 1º Relatório Progresso – fase
1 – 1ª parte, Julho 2009.                                                      Em suma, conclui-se que a relação entre as concepções




                                                                                                                                            21 05
parentais sobre literacia e os comportamentos em ambiente                      entrevistas se desdobrassem num conjunto mais vasto do que
     familiar são fundamentais e têm uma relevante consequência                     o inicialmente previsto.
     no desenvolvimento precoce da literacia. Assim, mudar as
     concepções parentais pode ter um impacto positivo na forma                     A opção pela técnica da entrevista semi-estruturada prendeu-
     como os pais promovem a literacia no ambiente familiar e,                      se ainda com a sua elasticidade quanto à duração, permitindo
     por consequência, na forma como as crianças desenvolvem                        uma cobertura mais profunda sobre determinados assuntos e,
     as competências de literacia, tão importantes para o seu                       simultaneamente, limitar o volume das informações, obtendo-
     sucesso académico futuro (Bingham, 2007). Os Centros                           se assim uma maior atenção sobre o tema e, nesta etapa do
     Novas Oportunidades surgem, assim, como oportunidades de                       estudo, lidar com a possível dificuldade que muitas pessoas
     formação que podem desencadear mecanismos facilitadores da                     teriam de responder por escrito a um leque tão abrangente de
     promoção da leitura e da escrita no contexto familiar.                         temas e de experiências.

     7. Metodologia do estudo16                                                     Partiu-se, assim, de um conjunto de questões previamente
                                                                                    seleccionados a partir dos conceitos identificados na revisão
     O trabalho realizado, de carácter exploratório, recorreu                       bibliográfica e nas dimensões em que foram decompostos,
     exclusivamente a metodologias qualitativas, mais especifica-                   que definiram os pontos do guião de entrevista. Estes foram
     mente através de entrevistas individuais semi-estruturadas                     considerados na análise de conteúdo, com base em protocolos
     devido à fidelidade e riqueza das informações que fornecem.                    de transcrição integral mas, posteriormente, seleccionados
                                                                                    com base num conjunto de categorias e cuja descrição em
     O objectivo do recurso a esta metodologia prendeu-se com                       pormenor será apresentada no ponto seguinte deste trabalho.
     a necessidade de, nesta primeira fase, conhecer experiências
     subjectivas dos participantes nos Centros Novas Oportunidades                  Para efectuar a análise das entrevistas, recorreu-se à análise
     (CNO) face a um conjunto de temas, partindo-se, neste sentido,                 de conteúdo segundo o modelo de Bardin (1979) que tem por
     das experiências do indivíduo enquanto objecto de investigação.                objectivo a descrição sistemática do conteúdo da comunicação.
     De facto, este tipo de entrevista colabora muito na investigação               Os dados recolhidos, neste caso através de entrevistas, são
     dos aspectos afectivos e valorativos dos respondentes                          essencialmente de natureza qualitativa. A análise de conteúdo foi
     que determinam significados pessoais das suas atitudes e                       a ferramenta de pesquisa usada para determinar a presença de
     comportamentos. Além disso, a interacção entre entrevistador                   certos conceitos e categorias no texto transcrito. Na análise das
     e entrevistado favorece respostas espontâneas, possibilitando                  entrevistas, o conteúdo foi codificado e dividido em categorias
     uma maior abertura e proximidade entre ambos, o que permite                    numa variedade de níveis. Em seguida, o conteúdo transcrito
     ao entrevistador abordar assuntos mais complexos e delicados,                  e seleccionado foi analisado e discutido conceptualmente.
     tais como os relativos a vivências e experiências durante e após               No presente trabalho, dada a quantidade e complexidade da
     a participação nas actividades dos CNO, ou seja, quanto menos                  informação recolhida, houve a necessidade de segmentar
     estruturada a entrevista, maior o favorecimento de uma troca                   o conteúdo em categorias, subcategorias e componentes,
     mais afectiva entre as duas partes.                                            partindo dos conceitos teóricos mais relevantes, até às práticas
                                                                                    concretas dos entrevistados.
     As respostas espontâneas dos entrevistados e a maior liberdade
     que estes têm podem fazer surgir aspectos inesperados ao                       8. Resultados do estudo
     entrevistador que poderão ser de grande utilidade na sua
     pesquisa. Tal verificou-se no presente estudo, fazendo com                     Sabendo a importância da vinculação segura para o
     que as categorias posteriormente criadas para a análise das                    desenvolvimento das crianças, o facto dos pais se sentirem
                                                                                    mais confiantes em si próprios possibilita, pelo maior
     16 A partir de um texto de Filipa Morais, Cláudia ferreira e Inês Cruz no 1º
                                                                                    investimento que propicia, ganhos na educação dos filhos. O
     Relatório Progresso – fase 1 – 1ª parte, Julho 2009.                           facto dos entrevistados ganharem consciência de que o RVCC




22
é uma rampa de lançamento para investimentos profissionais e        maior destreza em ferramentas que já conheciam, e em outros
pessoais desenvolve a atribuição de maior valor à escolarização     numa completa iniciação. As aprendizagens neste domínio
no futuro dos seus filhos.                                          revelam ainda a hipótese de abertura de diálogo com os filhos,
                                                                    uma vez que estes instrumentos fazem hoje parte da cultura
A importância atribuída à mobilidade social é um exemplo da         dos mais jovens. A mais-valia acrescida por esta potencialidade
auto-estima conseguida neste processo. O orgulho de poder           de criação de conteúdos de diálogo virá resolver o problema
dizer que já tem o 9º ano, no exterior da família, parece ser um    que muitos pais tinham de não conseguir ter com os filhos
ganho incalculável na relação com os filhos.                        conversas que lhes interessem.

A confiança em si próprio revela ser uma componente importante,     “Passo o mesmo tempo, (…) Mas quando estamos juntos
referida por um grande grupo de entrevistados, quer na facilidade   costumamos passear, o mais novo ajuda-me a fazer o jantar
nas relações com outras pessoas quer a nível profissional.          nos meus dias de folga, vemos televisão e é melhor, porque,
                                                                    às vezes, já vemos filmes juntos, porque agora já acompanho
“Sinto-me capaz de me fazer notar por outras pessoas, sinto-me      melhor as legendas e explico-lhes se eles não entenderem.”
com qualidades diferentes, que não tinha. Mesmo no trabalho         (E7;Sexo feminino; Meio Urbano; Região Centro)
sou mais valorizada, tenho novas oportunidades, novas portas
a abrir, e isso é muito importante.”                                O modo de resolução dos problemas na família acrescidos pela
(E17; Sexo Feminino; Meio Rural; Região Centro)                     necessidade de participarem nas novas tarefas de aprendizagem
                                                                    – processo de RVCC – parece ter constituído um novo campo
Estas aquisições traduzem-se ainda na necessidade de continuar      de aprendizagens, para além do modo de resolução de conflitos
um projecto de estudos que a nível de fazer mais formação           conseguido17. A procura de soluções de gestão do tempo terá
que na possibilidade de dar continuidade a um processo de           levado a conseguir a criação de outros espaços e tempos em
escolarização, 12º ano ou mesmo Ensino Superior. Por vezes          detrimento do lazer e preterindo algumas tarefas domésticas.
revelam a implicação da formação adquirida na possibilidade
de concorrer a novos empregos.                                      “Eu não acho que me tenha roubado algum tempo, se calhar
                                                                    eu aproveitei, foi melhor o tempo, deixei de fazer coisas que se
Importante na sociedade do conhecimento é o sentimento              calhar não são tão importantes, ocupando o tempo numa mais-
manifestado da necessidade, do gosto e do prazer de aprender        valia para mim…”
e do modo como se expressa na relação com os filhos.                (E14; Sexo feminino; Meio Rural; Região Centro)
Considerou-se esta uma aquisição fundamental uma vez que
na escola nem sempre se adquire o gosto por aprender numa           A importância atribuída ao processo de escolarização dos
perspectiva de Educação ao Longo da Vida.                           filhos revelou ter sido um dos domínios de maior importância
                                                                    na vida familiar sabendo como o papel dos pais é decisivo
“Deu-me mais entusiasmo para participar noutras coisas, deu-        na construção dos sucesso escolar e na motivação para
me mais entusiasmo para eu me desenvolver culturalmente,            as aprendizagens dos filhos. Este empenho traduziu-se na
deu-me mais para pesquisar, deu-me mais para me informar            construção de um projecto de vida para os filhos que passe
mais sobre certos assuntos.”                                        pelo sucesso da sua escolarização. Dizem que estão dispostos
(E33; Sexo feminino; Meio Suburbano; Região LVT)                    a fazer todo o possível para conseguirem que eles vão tão longe
                                                                    quanto desejarem. A vontade dos pais será um factor decisivo
A importância atribuída ao desenvolvimento ou aprendizagem de       na criação desse desejo aparecendo logo no envolvimento nos
novos saberes vem posteriormente revelar-se na intervenção em
relação à escolarização dos filhos. Os resultados obtidos revelam
                                                                    17 O estudo destes aspectos deve ser aprofundado no capítulo de Cláudia
que existe um ganho substancial neste domínio aparecendo, à         Andrade “Conciliação Trabalho-Família em Adultos em Formação nos Centros
cabeça, a informática. Em alguns entrevistados traduz-se numa       de Novas Oportunidades”




                                                                                                                                        23 05
trabalhos de casa que agora dizem já conseguir acompanhar e                        condições de promoção do sucesso escolar das crianças. Foi
     na relação que mantêm com os professores e outros actores                          possível verificar que, na maioria, a mudança da situação de
     educativos que revelam agora conseguir melhor desenvolver.18                       auto-estima e auto-eficácia do pai ou mãe que completaram o
                                                                                        processo de RVCC – B2 são facilitadores expressos nas relações
     “(…) e eu hoje entendo isso e não quero de forma alguma que                        com os filhos ou com os professores, que a organização da
     aconteça isso aos meus filhos, que é o facto de ter que começar                    vida familiar entre conflito – mal ou bem resolvido – negociação
     a trabalhar cedo afasta-nos a nossa mente (…) graças ao RVCC,                      ou criação de novas formas de gestão do tempo trouxeram
     a abrir esta caixa e a soltar toda esta informação que estava                      acrescidamente vantagens qualitativas para as aprendizagens
     guardada, que está cá há muitos anos... e deixa-me muito mais                      das crianças e que o interesse e empenho no sucesso escolar
     à vontade e isso sem dúvida nenhuma ajuda os meus filhos no                        dos filhos passou pelo maior envolvimentos nos trabalhos
     processo escolar (…) sempre achei que era importante andar                         de casa e o estabelecimento de maiores relações com os
     na escola, acredito que hoje dou muito mais importância a esse                     professores e com a escola dos filhos. Também a literacia se
     facto (…)”                                                                         desenvolveu na família, em termos de apoio escolar ou de lazer
     (E19; Sexo masculino; Meio Rural; Região Centro)                                   passando a ser prática corrente no universo familiar.

     Sabendo que os primeiros sintomas de insucesso escolar                             No entanto, embora o sistema tenha mostrado estas
     aparecem nos primeiros anos de escolaridade tendo na sua                           potencialidades nem todas as famílias atingiram estes
     génese, como já referimos, a ausência de literacia na família                      objectivos. A maior parte do número que não revelou ter havido
     foi possível verificar, através das entrevistas realizadas que não                 mudanças ou aqueles em que estas mudanças ficaram muito
     só a literacia entrou na família confirmando a nossa hipótese                      aquém do que outros conseguiram permitem-nos agora, uma
     de partida como adquiriu, em alguns casos, o envolvimento                          vez que já conhecemos em detalhe as potencialidades do
     dos pais introduzindo-a como actividade do quotidiano não                          sistema, identificar necessidades de formação que podem ser
     só nos trabalhos de casa e respectivo aprofundamento, como                         respondidas quer nos processos de RVCC e nos cursos EFA,
     actividade colectiva de lazer.19                                                   quer através das escolas do 1º ciclo na relação de parceria
                                                                                        educativa que estabelecem com os pais dos seus alunos.
     “A Playstation é de trás para a frente, de frente para trás, lê tudo,
     mesmo em inglês, não faz mal, (...) Lê, a nível de computador,
     de Playstation, isso tudo, ele lê. (...) jogos didácticos... na
     internet o jogo da forca... há aí um jogo de perguntas, que tem
     as respostas, A, B, C e D, e então a gente anda lá entretidos a
     ver quem é que erra mais... e sudoku (...)”
     (E39; Sexo masculino; Meio Suburbano; Região LVT)


     9. Conclusões Prévias

     O objectivo deste estudo centrava-se na compreensão das
     mudanças ocorridas no interior das famílias, portadoras de


     18 O capítulo, neste livro, de Joana Ferreira e Carolina Cardoso “Os adultos no
     contexto do processo de RVCC: Uma abordagem das representações e práticas
     do processo de escolarização” aprofunda os resultados do estudo acerca deste
     contributo.

     19 O capítulo, neste livro, de Carolina Cardoso e Joana Ferreira “Os adultos no
     contexto do processo de RVCC: Uma abordagem das representações e práticas da
     leitura e da escrita” aprofunda os resultados do estudo acerca deste contributo.




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  • 1. 2 Lucília Salgado (coord.) A Educação de Adultos : uma dupla oportunidade na família Perspectivas e Reflexões
  • 2.
  • 3. LISBOA, 2010 A Educação de Adultos : uma dupla oportunidade na família Textos apresentados no I Encontro Internacional de Literacia Familiar Lucília Salgado, António Candeias, Lourdes Mata, Susana Coimbra, Ana Teberosky, Núria Ribera, Michael F. DiPaola, Manuela Castro Neves, Cristina Pinto, Joana Cruz, Catarina Costa, Célia Silva, Micaela Silva, Patrícia Pinto, Sara Almeida, Tânia Santos, Pierre Dominicé, Patrícia Ávila, Cláudia Andrade, Carolina Cardoso, Joana Ferreira Perspectivas e Reflexões
  • 4. Ficha Técnica Título: A Educação de Adultos: uma dupla oportunidade na família Editor: Agência Nacional para a Qualificação, I.P. (1ª edição, Dezembro 2010) Coordenação Lucília Salgado Autores Lucília Salgado, António Candeias, Lourdes Mata, Susana Coimbra, Ana Teberosky, Núria Ribera, Michael F. DiPaola, Manuela Castro Neves, Cristina Pinto, Joana Cruz, Catarina Costa, Célia Silva, Micaela Silva, Patrícia Pinto, Sara Almeida, Tânia Santos, Pierre Dominicé, Patrícia Ávila, Cláudia Andrade, Carolina Cardoso, Joana Ferreira Organização Lucília Salgado, Cláudia Andrade, Joana Ferreira e Carolina Cardoso Design Gráfico: Modjo Design, Lda. Adaptação do Design Gráfico e Paginação: Regina Andrade Revisão: ANQ, I.P. Execução Gráfica: Biblioteca Nacional de Portugal – Catalogação na Publicação Eurodois, Lda. Depósito Legal: A EDUCAÇÃO DE ADULTOS 000 000/00 A educação de adultos : uma dupla oportunidade nas famílias / Lucília Salgado...[et al.]. – (Perspectivas e reflexões ; 2) ISBN 978-972-8743-68-0 Tiragem: 1 500 exemplares I - SALGADO, Lucília ISBN: CDU 374 978-972-8743-68-0 331 Agência Nacional para a Qualificação, I.P. Av. 24 de Julho, nº138 1399-026 Lisboa Tel. 213 943 700 Fax. 213 943 799 www.anq.gov.pt
  • 5. ÍNDICE Prefácio 5 Maria do Carmo Gomes 00 Agência Nacional para a Qualificação 00 Nota de Apresentação 7 Lucília Salgado 00 Escola Superior de Educação de Coimbra 00 Introdução As Novas Potencialidades da Educação de Adultos 11 na Construção do Sucesso Escolar dos Filhos 00 Lucília Salgado 00 00 Parte I A Génese do (In)sucesso Escolar: na Escola e na Família 29 A Persistência do Atraso Educativo Português nos Nossos Dias: 31 Portugal nos Processos de Alfabetização, Escolarização 00 e Criação de Capital Humano nos Séculos XIX, XX e XXI 00 António Candeias 00 Literacia Familiar – Diversidade, Desafios e Princípios Orientadores 51 Lourdes Mata 00 Uma Questão de Confiança: o que (Des)motiva a Geração Actual? 59 Susana Coimbra 00 Los Juegos de Lenguaje y Alfabetización Inicial 77 Ana Teberosky e Núria Ribera 00 00 Parte II A Construção do Sucesso Escolar 89 Systemic Educational Reform in the United States: 91 The No Child Left Behind Act of 2001 00 Michael F. DiPaola 000 3 05
  • 6. Envolver a Família no e através 099 do Programa Nacional do Ensino do Português (PNEP) 00 Cristina Pinto “A Ler Vamos…”: Um Projecto da Câmara Municipal de Matosinhos 117 Joana Cruz, Catarina Costa, Célia Silva, Micaela Silva, Patrícia Pinto, Sara Almeida, Tânia Santos Parte III O Projecto de Escolarização 127 para os Filhos e a Literacia Familiar: Contexto e Práticas La Formation Entendue Comme 129 Processus Construit dans L’histoire d’une Vie 00 Pierre Dominicé Adultos pouco Escolarizados e Literacia. 135 Um Olhar sobre a Literacia em Contexto Familiar 00 Patrícia Ávila 00 Conciliação Trabalho-Família em Adultos 149 em Formação nos Centros Novas Oportunidades 00 Cláudia Andrade 00 Os Adultos no Contexto do Processo de RVCC: Uma Abordagem 157 das Representações e Práticas da Leitura e da Escrita 00 Carolina Cardoso e Joana Ferreira 00 Os Adultos no Contexto do Processo de RVCC: Uma Abordagem 169 das Representações e Práticas do Processo de Escolarização 00 Joana Ferreira e Carolina Cardoso 00 00 4
  • 7. Maria do Carmo Gomes1 Prefácio It takes a village to raise a child é um provérbio popular africano que tem sido usado frequentemente para salientar o papel conjunto da comunidade, dos pais e das instituições na educação das crianças e dos jovens. E é verdade que os estudos mais recentes têm vindo a demonstrar que quanto maior é o envolvimento dos pais e da comunidade na vida escolar dos seus filhos mais elevado é o seu desempenho e mais tranquila é a sua transição para a vida adulta. Maior envolvimento dos pais é, pois, um dos caminhos para o sucesso escolar dos filhos. Mas se são verdadeiras estas conclusões e resultados demonstrados pela investigação científica também é verdade que algumas correlações existem e que delas se devem retirar as devidas ilações – os pais que mais se envolvem são, em norma, pais mais escolarizados e com profissões mais qualificadas, com pertenças sociais a classes mais letradas e com práticas e hábitos culturais diferenciados e mais frequentes. Ora, o nosso país tem em média, num número muito superior aos outros países da OCDE e da União Europeia, pais pouco escolarizados, os quais pertencem à larguíssima faixa de adultos que não completaram o ensino básico ou secundário e que, em 2001, perfaziam cerca de 75% da população activa. Estávamos no início do século XXI e em Portugal a situação estrutural das qualificações da população adulta era esta, pese embora o enorme esforço e o progresso assinalável realizados. Desde o 25 de Abril que a escolarização da população portuguesa tem sofrido melhorias consideráveis, não só em termos de taxa de escolarização das gerações mais jovens mas também na elevação dos níveis de escolaridade. Se esta é uma realidade inquestionável, também se sabe que muitos dos que já tiveram oportunidade de prosseguir os seus estudos acabaram por abandonar precocemente a escola ou por ter a marca do insucesso nos seus percursos escolares. São estes os pais de baixa qualificação que hoje acompanham os seus filhos na vida escolar. E é a estes pais que, muitas vezes, se pede um maior envolvimento na vida escolar dos seus filhos e uma maior participação cívica e social na comunidade. A investigação coordenada por Lucília Salgado sobre Literacia Familiar e Sucesso Escolar que deu origem ao I Encontro Internacional de Literacia Familiar e ao livro que aqui se publica tem demonstrado que há, neste momento, em Portugal um conjunto de políticas públicas na área da educação-formação de adultos que está a contribuir de modo decisivo para que esse maior envolvimento aconteça, ao mesmo tempo que se alcança o objectivo de elevação dos níveis de qualificação dos portugueses. 1 A Iniciativa Novas Oportunidades através do seu eixo de intervenção destinado à população adulta – objecto empírico do trabalho de investigação realizado pela equipa da Escola Superior de Educação de Coimbra – enquadra, assim, as medidas de política de qualificação que têm tido efeitos (in)directos nas práticas familiares. Por um lado, há consequências directas nas práticas de leitura, escrita e cálculo, incrementando o uso de suportes escritos (e em grande parte das situações usando suportes electrónicos); por outro lado, há efeitos indirectos, tais como o acompanhamento mais regular das tarefas escolares dos filhos, maior participação em reuniões escolares, e maior atenção aos resultados obtidos pelas crianças e jovens destas famílias. Há também a expectativa, numa dimensão mais projectiva, de que os seus filhos possam ter trajectórias escolares de maior sucesso que os próprios conseguindo assim concretizar aspirações de mobilidade social para os seus descendentes, as quais passam em grande medida pela obtenção de níveis de escolaridade superiores. Este estudo pretende ainda, ao longo do segundo ano de pesquisa, obter resultados sobre a relação que estes contextos familiares mais ricos em práticas de literacia possam ter no sucesso escolar das crianças e jovens. 1 Vice-Presidente da Agência Nacional para a Qualificação, I.P. 5 05
  • 8. Os resultados obtidos são muito encorajadores e reveladores da enorme potencialidade que as dinâmicas de qualificação de adultos podem ter na promoção de práticas de literacia de maior complexidade na vida quotidiana, na maior participação dos pais nas comunidades escolares e no desenvolvimento de hábitos culturais mais diferenciados e frequentes. Veremos também se poderão contribuir do mesmo modo para a existência de vidas escolares mais bem sucedidas por parte dos filhos. Neste contexto, tive oportunidade na abertura dos trabalhos do encontro realizado em Coimbra, em Novembro de 2009, de considerar a Iniciativa Novas Oportunidades como uma revolução silenciosa no contexto da educação em Portugal. Revolução, sim! Revolução nas práticas, nos públicos, nas metodologias, nas pedagogias, nas referências curriculares, nos técnicos – seus perfis e funções – , nas soluções organizacionais, nas respostas aos cidadãos. Muitas vezes desconhecida (ou mal conhecida) a Iniciativa Novas Oportunidades é constituída por um conjunto muito diversificado de soluções de educação-formação procurando responder de modo ajustado aos diferentes públicos que a ela poderão recorrer. E está a ser concretizada no terreno com um empenho técnico e profissional por milhares de docentes, técnicos, conselheiros de orientação, entre outros. São também centenas as organizações que nela se envolveram – escolas públicas e privadas, centros de formação, escolas profissionais, entidades privadas, empresas, associações empresariais e sindicais, e associações de desenvolvimento local e regional. E, por último, como um dos aspectos mais importantes a salientar, a Iniciativa é reconhecida por mais de um milhão de adultos portugueses como uma resposta adequada à sua vontade de voltar a estudar, de aprender mais, de fazer mais formação ou de completar o 12º ano, como muitos afirmam. O estudo que a Lucília Salgado e a sua equipa está a desenvolver é um bom princípio para explorarmos novas pistas de investigação, novos efeitos (in)directos, novas consequências (im)previstas, novos desafios para a intervenção das políticas públicas de qualificação de adultos. Este seminário deu um importantíssimo contributo para que a análise e reflexão científica neste domínio se tenha intensificado. Um dia será possível compreender de modo mais aprofundado de que forma é que educando e formando os nossos adultos, educámos e formámos melhor as gerações dos seus filhos. E que esses filhos tornando-se pais e avós mais escolarizados, mais integrados e mais participativos tiveram também eles o seu papel de reprodução social criando gerações futuras de portugueses e portuguesas mais despertos para o conhecimento e para as aprendizagens. É esse o futuro das sociedades mais desenvolvidas. Espero sinceramente que também possa passar por aqui o futuro de Portugal! 6
  • 9. Lucília Salgado1 Nota de Apresentação O presente livro propõe-se dar conta das comunicações apresentadas no I Encontro Internacional de Literacia Familiar realizado na Escola Superior de Educação de Coimbra (ESEC), em Novembro de 2009.1 Procurava este Encontro cruzar os quadros teóricos que, de uma forma transversal, fundamentaram e deram origem ao Estudo que temos em curso em colaboração com a Agência Nacional para a Qualificação, I.P. (ANQ) sobre a importância da frequência dos pais, com baixos níveis de escolaridade, nos processos de Reconhecimento, Validação e Certificação de Competências (RVCC) para o sucesso escolar dos seus filhos. O livro abre com uma apresentação das principais problemáticas fundamentadoras desta hipótese de investigação desenvolvidas por Lucília Salgado, Professora da ESEC, que tendo iniciado a sua actividade no domínio da Educação de Adultos, transporta estas perspectivas educativas para a compreensão da génese do insucesso escolar das crianças à entrada para a escola básica. No artigo As novas potencialidades da Educação de Adultos na construção do sucesso escolar dos filhos, identifica-se as principais causas do insucesso escolar, quer junto das famílias de baixo nível de escolaridade, quer junto do sistema educativo que nem sempre oferece respostas adequadas às necessidades destas crianças. É esta compreensão que permite construir a hipótese de que através da educação de adultos (processo de RVCC), será possível criar condições de base para o sucesso das crianças logo no início da vida escolar. A Parte I desta obra procura questionar A génese do (in)sucesso escolar: na escola e na família. Assim, António Candeias, Professor na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, com o artigo: A persistência do atraso educativo português nos nossos dias: Portugal nos processos de alfabetização, escolarização e criação de Capital Humano nos séculos XIX, XX e XXI evoca uma perspectiva histórica explicativa da razão dos baixos níveis de competências escolares das famílias portuguesas equacionados numa escolaridade tardia, comparada com a maior parte dos países considerados desenvolvidos, sobretudo os europeus. Após a apresentação da sua comunicação em Coimbra e já depois de corrigido o seu artigo para esta obra, faleceu inesperadamente António Candeias e assim a possibilidade de nos poder continuar a elucidar sobre as razões históricas das nossas baixas qualificações. Pela disponibilidade que sempre manifestou a este projecto os nossos agradecimentos. Pela extraordinária pessoa e investigador que foi aqui queremos registar a nossa homenagem. Esclarecendo a temática chave deste Encontro, Lourdes Mata, Professora do Instituto Superior de Psicologia Aplicada apresenta o artigo: Literacia familiar – diversidade, desafios e princípios orientadores evidenciando o modo como a Literacia na família é portadora de potencialidade da aprendizagem da leitura e da escrita nas crianças. Procurando desvendar a importância da família na construção do sucesso escolar dos filhos começamos por evidenciar os trabalhos de Anne- Marie Fontaine sobre a motivação das crianças para o sucesso escolar2. Na impossibilidade da sua participação neste Encontro, Susana Coimbra, da sua equipa na Faculdade de Psicologia e Ciência da Educação da Universidade do Porto, apresenta o artigo: Uma questão de confiança: o que (des)motiva a geração actual. Emília Ferreiro e Ana Teberosky nos seus trabalhos sobre Psicogénese da Linguagem Escrita3, apresentam os resultados da sua investigação, numa perspectiva piagetiana, sobre o tipo de motivação para a leitura e escrita e o modo como se desenvolvem as condições prévias para a sua 7 05
  • 10. aprendizagem no interior da família. Neste sentido, Ana Teberosky e Núria Ribera da Universidade de Barcelona trabalham um dos aspectos desta problemática com o artigo: Los juegos de lenguaje y alfabetización inicial 4. Poderíamos ser levados a considerar que dado o baixo nível de escolaridade das famílias, as crianças de meios pouco letrados estariam fatalmente condenadas ao insucesso escolar. As autoras acima referidas participaram num Encontro na América Latina5 onde mostraram como, em vários países, escolas e comunidades se organizaram para construir respostas adequadas a estas crianças. Na Parte II deste livro, sobre A construção do sucesso escolar quisemos trazer a experiência dos Estados Unidos convidando Michael F. DiPaola de Williamsburg, Virginia, que nos apresentou o Systemic Educational Reform in the United States: The No Child Left Behind Act Of 20016. Procurando experiências que têm por objectivo dar respostas ao insucesso escolar, apresentamos dois testemunhos e projectos de referência realizados em Portugal: uma experiência da escola do 1º ciclo do ensino básico que promove a participação das famílias na escrita dos filhos, Envolver a Família no e através do PNEP7, por Cristina Pinto e “A Ler Vamos…”: Um projecto da Câmara Municipal de Matosinhos que visa a promoção de competências de literacia emergente como estratégia de promoção do sucesso escolar, por Joana Cruz, Catarina Costa, Célia Silva, Micaela Silva, Patrícia Pinto, Sara Almeida e Tânia Santos. Na Parte III – O projecto de escolarização para os filhos e a Literacia Familiar: contexto e prácticas, debruçamo-nos sobre as duas grandes mais-valias que a Educação de Adultos, mais precisamente através do processo de RVCC desenvolvido nos Centros Novas Oportunidades (CNO), pode constituir para o desenvolvimento de um Projecto de Escolarização para os Filhos e para o desenvolvimento da Literacia Familiar. Neste capítulo entra-se no âmbito da Educação de Adultos, com Pierre Dominicé da Faculté de Psychologie et des Sciences de l’Éducation da Université de Genève que nos apresenta um depoimento: La formation entendue comme processus construit dans l’histoire d’une vie extraído de uma extensa bibliografia neste domínio. Patrícia Ávila, professora no Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da Empresa (ISCTE), apresenta no seu artigo: Adultos pouco escolarizados e literacia. Um olhar sobre a literacia em contexto familiar alguns elementos de caracterização do perfil de literacia dos adultos em Portugal e sistematiza alguns resultados de um estudo qualitativo realizado junto de adultos pouco escolarizados recentemente envolvidos em processos de educação e formação. Apresentam-se, seguidamente, três artigos com os resultados de investigação desenvolvidos na primeira fase do projecto “CNO uma Oportunidade Dupla: da promoção da literacia familiar ao sucesso escolar das crianças”. Este estudo exploratório teve por base entrevistas semi-estruturadas efectuadas a 40 adultos que realizaram o processo de RVCC de nível básico e que têm filhos a frequentar o 1º ciclo do ensino básico8. Cláudia Andrade, investigadora sénior deste projecto, professora na ESEC e investigadora sobre a família no Centro de Psicologia da Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade do Porto, apresenta o seu artigo: Conciliação trabalho-família em adultos em formação nos Centros Novas Oportunidades, debruçando-se sobre o contexto familiar onde se operam as transferência entre pais e filhos. Carolina Cardoso e Joana Ferreira, assistentes de investigação neste projecto analisam, através do artigo: Os adultos no contexto do processo de RVCC: Uma abordagem das representações e práticas da leitura e da escrita, de que modo o processo de RVCC facilita e potencia a introdução de hábitos e práticas de Leitura e Escrita na família, fundamentais na aprendizagem da linguagem escrita no início da escolaridade. As mesmas autoras, no artigo: Os adultos no contexto do processo de RVCC: Uma abordagem das representações e práticas do processo de escolarização, procuram compreender se o adulto que realizou o processo de RVCC modifica a sua interacção com os filhos e em que medida as novas competências e conhecimentos adquiridos permitem aos pais incutir nos filhos valores que passem pela vontade e interesse pela escolarização. 1 Professora na Escola Superior de Educação de Coimbra. 2 Fontaine, A-M. (1990). Motivation pour la réussite scolaire. Porto: Instituto Nacional de Investigação Científica e Centro de Psicologia da Universidade do Porto. 3 Ferreiro, E. & Teberosky, A. (1985). Psicogénese da língua escrita. Porto Alegre: Artes Médicas. 4 Os jogos de linguagem e a alfabetização inicial. 5 Ferreiro, E. (1992). Os filhos do analfabetismo: Propostas para a alfabetização escolar na América Latina. Porto Alegre: Artes Médicas. 6 Reforma do Sistema Educativo: A Lei de 2001 “Não deixar crianças para traz”. 7 Alguns resultados do PNEP (Programa Nacional de Ensino do Português) promovido pelo Ministério da Educação em escolas do 1º ciclo do ensino básico e coordenado por Inês Sim-Sim (entre 2006 e 2010), mostram já a transformação efectuada em escolas envolvidas passíveis de ajudar a modificar a situação de insucesso escolar. 8 Esta fase do estudo foi realizada também por Filipa Moraes, docente da ESEC e Inês Cruz e Cláudia Ferreira, assistentes de investigação, que apresentaram a metodologia do Projecto numa comunicação, neste Encontro. 8
  • 11. INTRODUÇÃO 9 05
  • 12. 10
  • 13. As novas potencialidades da educação de adultos na construção do sucesso escolar dos filhos 11 05
  • 14. Lucília Salgado1, 2 Resumo Marcado por um atraso na escolarização para todos – acesso e permanência na escola do 1º ciclo – a situação histórica portuguesa no século XX colocou os nossos níveis educativos numa escala de valores entre os mais baixos da Europa. A ausência de uma cultura de escolarização na família e a fraca utilização da leitura e escrita estarão na origem do insucesso e desinteresse pela escola que dificultam uma escolarização das crianças. Embora a perspectiva sócio-institucional de atribuição causal do insucesso escolar (Benavente, 1976) não escuse a escola da resposta a atribuir a estes destinatários verificamos que, apesar de existentes, são raras as situações em que a Escola consegue vencer esta dificuldade de partida. A procura massiva dos Centros Novas Oportunidades por uma população com baixos níveis de escolaridade conduziu à criação da hipótese de que a situação nas famílias com filhos à entrada para o ensino básico estaria a mudar em relação ao envolvimento dos pais na sua escolaridade. O estudo que temos em curso tem vindo a produzir resultados que confirmam esta hipótese. Assim, poderemos ser levados a concluir que o envolvimento em Educação de Adultos, mais especificamente no processo de RVCC (Reconhecimento, Validação e Certificação de Competências) estará a ter uma importância indirecta na subida dos níveis de qualidade da educação escolar em Portugal. 1. Introdução passar, para além da resolução dos problemas imediatos e quotidianos, por uma mudança profunda na educação de Marcada por níveis muito baixos de qualidade da educação, a construção e acesso de uma formação que permita a todos o sociedade portuguesa entra neste milénio numa situação difícil para bem-estar possível numa economia de carácter sustentável. recuperar o seu atraso secular em relação aos países da Europa central e para enfrentar os novos desafios que anunciou na sua Após uma análise da situação da educação em Portugal que conferência de Lisboa 2000, os da sociedade do conhecimento.1, 2 se apresentava sem esperança (Salgado, 2003) cumpre agora anunciar o início de recuperação, ao identificar sinais de As medidas políticas lançadas nos últimos cinco anos parecem mudança positiva na educação das crianças e, sobretudo, na querer inverter a situação sendo, eventualmente, portadoras de educação de adultos. É o que nos propomos fazer neste capítulo, uma reforma estrutural no campo educativo antevendo impactos apoiado pelos artigos que a seguir fundamentam o diagnóstico esperados a nível económico e de cidadania dos portugueses. e as mudanças que conseguimos visualizar na educação em De facto, o quadro da luta contra a nossa pobreza secular parece Portugal. Foi já esse o sentido que encontramos no 1º Encontro de Literacia Familiar que realizámos em Coimbra, no mês de Novembro, de 2009, e cuja memória escrita apresentaremos 1 Coordenadora do projecto: “CNO - uma oportunidade dupla: da promoção da literacia familiar ao sucesso escolar das crianças”. Professora na Escola nos próximos capítulos deste livro. Superior de Educação de Coimbra. 2 Com a colaboração do assistente de investigação Carlo Patrão. Vamos, numa primeira parte deste capítulo, identificar as 12
  • 15. nossas preocupações de necessidade educativa na sociedade do grupos “marginais da população como os idosos, deficientes conhecimento perspectivando o futuro a partir de um passado de diverso tipo e imigrantes” mas sim, referindo que “cidadãos marcado por contingências históricas identificadas. adultos, por vezes com mais de dez anos de frequência de escola básica, revelam actualmente uma absoluta incapacidade Numa segunda parte, tentaremos perceber como se constroem de recorrer à leitura e à escrita para a resolução dos problemas os nossos baixos níveis educativos logo à entrada no 1º do seu quotidiano.” ciclo do ensino básico. Da situação charneira entre a escola e a família, iremos reflectir e apurar quais os factores que, O Estudo Nacional da Literacia, publicado em 1996, vem mostrar para além de eventuais fatalismos sociológicos, podem ser que a nossa realidade cruza uma situação de analfabetismo identificados e eventualmente removidos através de medidas tradicional de não acesso ou abandono precoce da escola, típica políticas – e pedagógicas – adequadas. Nesse sentido, dos países periféricos, com a situação apresentada no estudo da procuraremos recuperar, a nível nacional e mundial, políticas OCDE referido em que cidadãos que já tiveram acesso à escola potencialmente portadoras de mudança no sistema educativo revelam níveis reduzidos de competência de leitura – literacia e na comunidade. – quando confrontados com um texto escrito necessário ao seu quotidiano. De facto, podemos aí verificar que 47,3% Feito o diagnóstico e focalizadas as medidas de mudança no da população inquirida se situa nos níveis 0 e 1 de literacia sistema educativo, desvendaremos, no campo das práticas da revelando que praticamente metade da nossa população adulta Iniciativa Novas Oportunidades, impactos na relação dos pais não lê no seu quotidiano. Os nossos indicadores são não só os com os filhos, com o sistema escolar e com a necessidade de mais baixos dos países da OCDE como semelhantes aos países aprender que se apresentam hoje como factor de remoção do do chamado terceiro mundo onde a maioria da população ainda principal obstáculo ao sucesso às aprendizagens das crianças: não tem acesso à escola. Estaremos em presença de uma dupla a baixa escolaridade dos pais. situação adversa ou serão apenas as duas faces de uma mesma moeda? 2. Das necessidades de aprendizagem na sociedade actual O acesso tardio à escolarização da população portuguesa (Candeias, 1996)3 justifica o nosso atraso educativo. Enquanto Nas sociedades actuais, marcadas pela globalização da produção praticamente toda a Europa escolarizou toda a sua população e das respectivas formas de regulação, assim como pelo nos finais do século XIX, princípios do XX, nós, tendo perdido desenvolvimento célere das tecnologias, a educação tem vindo esta oportunidade, acabámos por poder garantir a presença na a ser considerada e questionada como capaz de resolver ou de escola de toda a população apenas nos anos 70. No entanto, contribuir fortemente para atenuar grandes problemas actuais escolarização não significou alfabetização e, apesar do acesso que vão desde a tradicionalmente considerada exclusão social, à escola, muitas crianças vêem vedado o acesso aos saberes ao desemprego estrutural, até aos entraves e aos avanços na considerados fundamentais para viver com direitos de cidadania, produtividade que o desenvolvimento tecnológico exige. na sociedade actual. Não aprendem a ler e começam assim um ciclo de insucesso escolar nas suas vidas (Salgado, 2003). Em 1992, a OCDE, através da edição do relatório Analfabetismo Funcional e Rentabilidade Económica, lança o desafio aos seus Questionando a génese deste insucesso escolar deparamo-nos estados membros para que no âmbito da educação, tomem com dois grandes problemas convergentes nesta resposta, uma especial atenção aos processos de aquisição da literacia, delas centrada na origem do problema: o que caracteriza as indo assim mais longe do que falar apenas, globalmente, em crianças que não adquirem as competências previstas à entrada Educação como vinha sendo corrente. Com este relatório estava lançado o alerta aos estados membros ligando a dificuldade 3 Ver, nesta obra o artigo de António Candeias, “A persistência do atraso com que se debatem devido às baixas competências de leitura educativo português nos nossos dias: Portugal nos processos de alfabetiza- e escrita dos seus trabalhadores, referindo que não se trata de ção, escolarização e criação de Capital humano nos séculos XIX, XX e XXI”. 13 05
  • 16. para escola. A outra centra-se no modo como a escola responde arrastam o insucesso durante toda a escolaridade, enquanto a estas características. De facto, se a escola é para todos – se aguentam na escola (Salgado, 2003). Países como a França, princípio constitucionalmente admitido – poderemos dizer que em que a participação de todas as crianças em pelo menos um existe uma inadequação da resposta a estes destinatários.4 ano de jardim-de-infância é conhecida há mais de quarenta anos, onde as bibliotecas de bairro proliferam há muitos mais, 3. Do atraso da escolarização ao insucesso escolar onde existem programas com associações para a mediação da leitura em quase todos os lugares, debatem-se hoje com Apesar da nossa abordagem das políticas educativas, nos problemas sérios devido às dificuldades de leitura à saída da últimos anos, se ter preocupado com o tipo de resposta que sua escola primária. Um recente alerta do Haut Conseil de a escola oferece às crianças oriundas de meios baixamente l’Éducation (2007) diz-nos que apenas 60% das suas crianças escolarizados (Salgado, 2003) a emergência de uma nova que terminam o 1º ciclo do ensino básico (de cinco anos) está resposta, inesperada, obriga-nos a centrar a nossa atenção em condições de prosseguir uma escolaridade com sucesso. E nas necessidades e nos modos de aprendizagem das crianças qual será a nossa percentagem?5 na sua entrada no sistema escolar, focalizando a atenção na herança familiar. O insucesso escolar não é, de modo nenhum, um fatalismo. E a solução não é administrativa: passar todos de ano sem De facto, há mais de trinta anos que conseguimos que todas as saberem. O desafio estará mesmo em conseguir que todos nossas crianças frequentem a escola, no entanto, apenas uma aprendam devidamente à entrada para a escola. Adquirir as parte consegue usufruir plenamente do acesso à educação, mais competências básicas nos dois primeiros anos de escolaridade precisamente, ao sucesso nas aprendizagens. Muitos jovens é o passaporte de sucesso para toda a vida. abandonam a escola sem a escolaridade obrigatória e quase metade tem que repetir pelo menos um ano para conseguir obter No sentido de evitar que muitas crianças arrastem o insucesso uma certificação mínima (Capucha, Albuquerque, Rodrigues e através de toda escolaridade os Estados Unidos promulgaram Estevão, 2009). o No Child Left Behind Act 6 de modo a que nenhuma criança fique sem adquirir as competências básicas à entrada para a Socializadas em famílias com baixos níveis de escolarização escola. encontramos uma população que, na sua maioria, revela o que a escola chama de dificuldades de aprendizagem, desmotivação Em Portugal muitos professores, trabalhando em meios sociais precoce, insucesso ou abandono escolar. De outras diríamos adversos, conseguem ter todas as crianças a ler na Primavera ainda que conseguem ir avançando mal no sistema, portadoras do ano de iniciação da escolaridade. Os vários materiais e estudo da chamada morbilidade escolar, uma vez que os seus níveis de produzidos pelo e sobre o Movimento da Escola Moderna são aprendizagem são inseguros, fracos. testemunho da possibilidade de ensinar a ler a todas as que se iniciam na escolaridade7. Sabemos também que uma das principais causas do insucesso escolar tem como base uma deficiente aprendizagem da De passagem gostaríamos ainda de referir as mudanças leitura e da escrita: muitas crianças lêem mal, lentamente, ou não compreendem o que lêem. Estas crianças ou começam 5 Alguns cálculos permitem-nos aventar para cerca de 60%. Ora, 60% de crian- cedo com insucesso e desinteresse escolar reprovando logo ças que não tem um bom domínio da leitura não é uma minoria e estará na base dos nossos baixos níveis educativos. na primeira avaliação sumativa – mais de 10% no 2º ano de escolaridade – ou acabam por reprovar no 2º ciclo, ou ainda, 6 Ver a comunicação nesta obra de Michel Di Paola “Systemic Educational Re- form in the United States: The No Child Left Behind Act of 2001”. 4 De facto, este segundo vector do problema não será objecto desta obra, em- 7 Referimo-nos às crianças não portadoras de deficiência sabendo que um bora as nossas preocupações caminhem igualmente nesse caminho. Centrar- meio social deficitário não gera automaticamente crianças com dificuldades de nos-emos, neste contexto, apenas na génese do problema, as características aprendizagem perante uma pedagogia adequada. dos destinatários. 14
  • 17. que parecem estar a efectuar-se na própria escola do ensino quais os obstáculos e os facilitadores que, à entrada para a básico. O Programa Nacional de Ensino do Português (PNEP) escola, podem contribuir para inverter a situação facilitando será portador de novas maneiras de propor a aprendizagem o acesso à aprendizagem de todas as crianças qualquer que às crianças, à entrada do 1º ciclo facilitadoras de aquisição da seja o seu meio social de origem. Nesta linha de preocupações competência de ler e escrever com maior funcionalidade na encontrámos duas características na maioria das famílias sociedade do conhecimento. Apesar de não haver ainda estudos que se considera de meios socioeconómicos considerados realizados neste domínio permitimo-nos, através de pequenos desfavorecidos9 que estarão na génese da produção do trabalhos exploratórios, aventar que crianças cujos professores insucesso escolar: têm estado envolvidos na formação deste Programa8 revelam, nas provas aferidas, melhores resultados em língua portuguesa 4.1. Ténue existência de um projecto de escolarização para do aquelas cujos professores não se voluntariaram para esta os filhos formação. Um número significativo de crianças poderá mais facilmente aceder à literacia mas, a dificuldade de vencer a Uma primeira característica prende-se com a ausência, ou situação de base – iliteracia nas famílias – será forçosamente presença ténue, de um projecto de escolarização para os apoiada por outros programas de desenvolvimento na educação seus filhos. As suas vidas decorreram sem os levar a passar de infância e nas comunidades para que as dificuldades de adequadamente pela escola e conseguiram sobreviver. Por partida sejam um obstáculo removido. essa razão, às primeiras dificuldades que os filhos registam consideram que “Não dão para a escola”. Estas famílias 4. “Deficits” nas famílias aceitam o fatalismo desta reprodução social, e o afecto aos filhos (“coitadinhos não conseguem, a escola é muito difícil”) Apesar dos sociólogos da educação dos anos 70 (Baudelot & aliado à falta de consciência da sua auto-eficácia própria neste Establet, 1974; Bourdieu & Passeron, 1970) evidenciarem a domínio evadem-lhes a intervenção no processo escolar dos relação entre meio social e sucesso escolar apontando para a seus descendentes directos. função da escola de manutenção da estrutura de classe, cumpre questionar se no tempo da sociedade do conhecimento esta Estas famílias não escolarizadas não constituem modelo para necessidade de recusar o acesso à aprendizagem a uma grande os filhos na formação da sua identidade na relação positiva – a maioria das crianças ainda seria útil à hegemonia dos grupos conducente ao sucesso escolar – com a escola. As preocupações dominantes ou se a escola apenas mantém esta função por na família são de outra ordem não sentindo, as crianças que, à inércia reaccionária ao desenvolvimento a que se propõe. No escola, seja atribuída grande importância. Para os rapazes, este entanto, o investigador social preocupa-se em entender o modo problema acentua-se uma vez que todo o universo escolar é como a escola se organiza para que, após garantir o acesso composto por mulheres. As educadoras e professoras e todos a todas as crianças, apenas grupos minoritários consigam a os que trabalham na escola são mulheres, quem se preocupa aprendizagem cabal dos objectivos enunciados. Mandato ou de organizar a vida familiar para enviar os filhos à escola são, inércia? O facto é que apesar do discurso acerca da burguesia e maioritariamente, as mães. Nos modelos parentais e sociais de do proletariado em que se polarizava a sociologia dos anos 70, adultos que a criança encontra para construir a sua identidade, a escola continua a reproduzir as classes sociais. a escola não existe como algo determinante10. Interessa, pois, saber, numa perspectiva contra hegemónica, 8 O PNEP organiza-se através de um Formador Residente por Agrupamento de Sabemos também que as dificuldades de relação destes pais Escolas que, tendo sido sujeito a uma formação específica, forma e apoia os professores do 1º ciclo do seu Agrupamento que se voluntariaram para esta 9 Consideramos que o factor “desfavorecido”, na sociedade do conhecimento, formação. Este trabalho é acompanhado por textos e materiais realizados por remete para a sua relação com a escolarização enquanto projecto de vida para uma Comissão Nacional de Acompanhamento coordenada por Inês Sim-Sim si e para os seus filhos, com a ausência de práticas correntes de leitura e escrita e por um Coordenador Regional docente na Instituição de Ensino Superior de no quotidiano. Educação do respectivo Distrito. Apesar do carácter voluntário da formação calcula-se que cerca de metade dos professores do 1º ciclo já terão sido objecto 10 Em Inglaterra, a Pré-school Learning Alliance desenvolve um programa especial desta formação realizada dentro e fora da sala de aula. para que sejam os pais – homens – a relacionar-se com a vida escolar dos filhos rapazes. 15 05
  • 18. com a escola, os leva a afastar-se contactando pouco com os nem as manipulam com as crianças. De facto, segundo professores dos filhos. Para além da dificuldade de relação Teberosky, (2001) a aprendizagem da escrita, enquanto marcada pela diferença das classes sociais de pertença, os artefacto cultural, não passa só pela presença no universo da professores consideram que estes pais se entendem mal com a criança mas pelo seu envolvimento, com outros indivíduos, na escola levando a atribuir as ausências à falta de interesse pelos sua manipulação. filhos. O conflito, mesmo latente, está instalado o que dificulta ainda mais a comunicação (Perrenoud & Montandon, 1987). Semelhante ao modo como se aprende a falar a criança precisa, em primeiro lugar, de ter necessidade de ler. Esta Também a consciência da necessidade de ajudar os filhos a fazer necessidade, em famílias letradas11 cria-se pelo gosto adquirido os trabalhos escolares está ausente das suas preocupações. ao ouvir os seus adultos significativos a contar-lhes histórias, Acreditam que a escola ensinará os seus filhos, não tendo fundamentais para o seu crescimento, respondendo às suas consciência da cumplicidade que a escola exige com a família angústias e inseguranças (Bettelheim, 1985). Perceberá então para ajudar os filhos nas aprendizagens escolares (Meirieu, que, se tiver a capacidade de ser ela própria a fazê-lo, se torna 1987). Muitas vezes, quando se dispõem a ajudar temem não mais autónoma ao conseguir ler sozinha as histórias. O gosto saber fazê-lo ou por não saberem mesmo as matérias ou por pela leitura instala-se e, com ele, a vontade de aprender a ler e, não ser capazes de responder às expectativas dos professores sabemos (Ferreiro & Teberosky, 1985) que ela própria, sozinha (Salgado & Reis, 1993). ou em grupo, enceta a descoberta da organização do texto escrito e, amiúdes vezes surgem casos de aprendizagem da 4.2. Fraca (ou nula) existência da literacia na família leitura sem o seu ensino explícito. Uma segunda característica passa pelas dificuldades de Também, nas famílias letradas, as crianças aprendem para que aprender a ler e a escrever à entrada para a escola. Para além serve ler e escrever à medida que, de um modo funcional, a criança da inadequação da oferta educativa já referida, estas crianças vê os seus adultos significativos a fazê-lo. No seu quotidiano, não possuem um projecto de leitor que lhes possibilite lêem instruções de aparelhos ou para fazer receitas de cozinha, envolvimento nesta aprendizagem. Vários autores (Ferreiro, escrevem por razões diversas no computador, lêem notícias de 1985; Martins, 1996) referem que a aprendizagem da leitura jornais ou revistas, tiram dúvidas em livros ou na internet, para passa pela criação ou desenvolvimento da necessidade de comunicar com amigos ou familiares. Vêem igualmente como os aprender a ler – porque as suas pessoas significativas lêem e adultos se relacionam com o texto escrito onde escrevem e como lhes lêem, pela compreensão da funcionalidade da leitura e da o fazem, que materiais utilizam e com que funções. escrita – saber onde, para quê e como se lê (Chauveau, 2001) e pelo desenvolvimento de conceptualizações sobre como se Numa família onde não existam estas práticas quotidianas dificilmente as crianças têm oportunidade de adquirir esta lê e escreve, praticada anteriormente ao processo técnico de familiaridade com o texto escrito. Ao chegar à escola, na maior aquisição da competência de leitura e escrita (Salgado, 2000). parte dos casos, são-lhe apresentados textos sem nexo, letras O termo corrente para esta fase de aprendizagem é o de literacia para decifrar fora dos contextos reais, num manual escolar emergente (Clay, 1991). Sabemos também que as crianças de muitas vezes com palavras desfasadas do quotidiano (pua, meios letrados, onde a literacia familiar se desenvolve, entram águia…). O texto escrito surge-lhes como um jogo escolar, nas escolas com níveis elevados de literacia emergente, algumas muitas vezes fastidioso, que dificilmente poderá criar o gosto, tendo mesmo aprendido a ler quando inseridas num “banho de o interesse, a necessidade de ler. A leitura fica, deste modo escrita” de natureza familiar (Chauveau & Martine, 1997). remetida para a esfera escolar não passado a consciência da sua utilidade no quotidiano social. Inseridas em famílias não letradas, as crianças não têm oportunidade de ver os seus progenitores relacionar-se com a escrita. Mesmo se existem palavras escritas nas embalagens utilizadas no quotidiano doméstico, os adultos não as referem 11 As que utilizam no seu quotidiano a leitura e a escrita. 16
  • 19. Os trabalhos de Emília Ferreiro e Ana Teberosky (1985) vêm Foi esta hipótese que colocámos perante a informação de que desvendar o conhecimento prévio que as crianças, que cerca de 900 000 de pessoas, de baixos níveis de escolaridade contactam com a escrita antes da sua iniciação formal em procuravam os Centros Novas Oportunidades envolvendo-se contexto escolar, adquirem através da sua construção numa num projecto de escolarização (www.novasoportunidades.gov.pt). aprendizagem por descoberta (Piaget, Bruner, 1999). Dizem-nos que não só constroem um projecto pessoal de leitor (Martins, Os dados disponíveis (Idem) permitem precisamente concluir que 1991), como descobrem como o texto se organiza, evoluindo, a procura de Centros advém de uma faixa de população situada na passo a passo nessa compreensão, através de estágios idade de ter filhos – entre os 25 e 44 anos – (61,5%), sobretudo de conhecimento evolutivos numa perspectiva piagetiana. mulheres (53,5%) o que leva permitir criar a hipótese de que Nesse processo adquirem a consciência fonológica e mesmo sendo a população que procura os Centro Novas Oportunidades fonémica, facilitada pelo desenvolvimento da sua linguagem situada na idade de ter filhos em idade escolar e sendo as oral, sobretudo lexical (Duarte, 2008; Sim-Sim, 2007). mulheres quem maioritariamente se ocupa da vida escolar dos filhos algo poderia acontecer na mudança de relação. Pelas razões expostas, a dificuldade de aprender a ler e o gosto e facilidade da leitura torna-se mais difícil para as crianças Sendo a falta de projecto de escolarização para os filhos e a oriundas de famílias onde não se lê nem escreve. Toda a ausência de literacia nas famílias as duas grandes diferenças retaguarda cultural e linguísta necessária à aprendizagem da encontradas junto das famílias com mais altos níveis de leitura e escrita não existe ou só aparece deficientemente, e a escolarização cujos filhos têm sucesso escolar, conhecendo as criança sente-se desprovida de um background fundamental práticas desenvolvidas em contexto de RVCC (Reconhecimento, para a aprendizagem. O jardim-de-infância não tem, muitas Validação e Certificação de Competências) podemos pensar que vezes, esta preocupação diferenciada e sistemática, a escola do as mudanças no interior das famílias poderiam ser portadoras 1º ciclo também não e, a não aprendizagem ou aprendizagem de novas estratégias na escolarização dos filhos. deficiente da leitura vai-se arrastando, criando o acto de ler em algo fatigante e mesmo fastidioso. A presença de livros de Por um lado, o facto de um dos pais procurar elevar o seu histórias que, para muitas crianças constitui fonte de satisfação, nível de escolaridade significaria a existência, aquisição ou para as crianças que começam, deste modo, a sofrer o seu desenvolvimento da importância da escola para si próprio, primeiro insucesso, torna-se um instrumento de sofrimento e primeiro passo para considerar a sua importância no futuro dos descriminação. seus filhos. Por outro lado, a manipulação de materiais de escrita na presença do seu filho trariam a esta família as condições 5. Centros Novas Oportunidades (CNO) – Uma prévias referidas para a aprendizagem da leitura e da escrita. oportunidade dupla: da promoção da literacia familiar ao sucesso escolar das crianças Pierre Dominicé considera que a expressão da sua história de vida, contando-a a outro, é portadora de aprendizagens 5.1. A procura dos Centros Novas Oportunidades quer seja no domínio do aprofundamento dos conhecimentos construídos quer na sua organização e sistematização12. Transportando esta preocupação pretendemos com o presente trabalho dar conta de novos movimentos na sociedade A construção de um projecto de investigação feito com estas portuguesa com potencialidades de modificar a actual situação premissas permitiria verificar a hipótese percebendo as educativa. mudanças ocorridas no interior das famílias com a realização de um processo de RVCC pelos seus progenitores. A menos que a situação de partida se altere e as crianças originárias de famílias menos escolarizadas passem a ter 12 Ver o seu depoimento neste obra “La formation entendue comme processus na família uma interacção com a leitura e a escrita e maior construit dans l´Histoire de Vie“ mais desenvolvido na obra “L’Histoire de Vie motivação para se envolverem na sua escolarização. comme Processus de Formation (1997), Paris: L’Harmattan. 17 05
  • 20. 6. Conceitos quais as transferências pais-filhos, pelo envolvimento parental, no que se refere à motivação criada, ao conhecimento da sua Embora sabendo que quando interrogados acerca do processo funcionalidade e ao desenvolvimento de conceptualizações de mudança, os inquiridos apenas nos dariam as suas sobre a leitura e escrita facilitadoras da iniciação à sua percepções acerca do processo de mudança. Por outro lado, pela aprendizagem. Em seguida serão apresentados os conceitos- impossibilidade temporal de proceder a um estudo longitudinal base envolvidos neste estudo. optamos por, numa primeira fase, proceder à realização de entrevistas de carácter exploratório a indivíduos que realizaram 6.1. “Auto-eficácia e envolvimento em actividades com o filho”13 um processo de RVCC de nível básico – equivalente ao 9º ano de escolaridade – e que têm filhos que frequentam o 1º ciclo A família desempenha um papel fundamental no sucesso de escolaridade. Optámos por esta amostra uma vez que se escolar das crianças, sendo muitas vezes referenciado pela entende este ciclo como definidor decisivo de construção do literatura que os pais são os primeiros professores e que a sucesso escolar das crianças. casa é a primeira escola (Bandura, 1997, Morrow, 1995). No domínio das relações pais-filhos as investigações são Este estudo exploratório partiu de conceitos definidores das consensuais no sentido de evidenciar que os pais exercem um questões colocadas aos sujeitos inquiridos. Um primeiro grupo papel activo e influente no modo como as crianças aprendem a de questões procurava inquirir acerca dos contextos pessoais e ser pró-activas nas suas aprendizagens (Schneewind, 1995). O familiares de inserção dos filhos. Remetiam para a consciência estudo de Mondell e Tyler (1981) demonstrou que quanto mais da auto-eficácia dos indivíduos no envolvimento em actividades competentes os pais são (sendo esta competência definida com o filho e para o modo de Gestão de Papéis no interior da como níveis gerais elevados de auto-eficácia) mais apoio dão família com a introdução das novas práticas desenvolvidas aos seus filhos. Para além disto, também evidenciam níveis com a realização do processo de RVCC. Um segundo grupo de mais frequentes de interacção positiva com as crianças e dão conceitos fundamentam as questões referentes às mudanças menos ordens às crianças. Nesta linha, Grolnick, Ryan e Deci no projecto de vida atribuído ao processo de escolarização dos (1991) afirmam que o comportamento dos pais não afecta filhos através do envolvimento nesse processo e, por fim, um directamente as capacidades das crianças, como foi defendido quarto grupo remete para as mudanças nas representações e em alguns estudos, mas antes que tem um impacto nas atitudes nas práticas da leitura e da escrita. e motivações das crianças em relação ao contexto escolar e escolarização em geral. Um estudo de Bandura, Barbaranelli, No estudo que aqui se apresenta, procura compreender-se a Caprara e Pastorelli (1996) demonstrou ainda a existência importância de um adulto fazer um processo de RVCC na vida de uma ligação entre a percepção de eficácia académica e escolar dos filhos que frequentam o 1º ciclo do ensino básico. A aspirações dos pais e as mesmas percepções e aspirações nos auto-eficácia que o adulto desenvolve no seu processo de RVCC filhos; o autor destaca, então, que o sentido de auto-eficácia dos permite-lhe relacionar-se melhor com os outros, nomeadamente pais promove as aspirações educacionais dos filhos, actuando sentindo-se mais bem preparado para responder às perguntas como incentivo e reforço constante em relação às aprendizagens do seu filho e para falar com os seus professores. e contribuindo para que as dificuldades encontradas pelas crianças sejam ultrapassadas de forma construtiva (Bandura, Pretende-se, igualmente, saber quais as transferências realizadas 1993). Corroborando esta perspectiva, Henk e Melnick (1995) no interior da família e o modo como estas facilitam o empenho argumentam que o modo como o indivíduo adulto se vê a si e o acompanhamento da vida escolar; mais especificamente, próprio enquanto leitor influencia, de forma activa, o tipo de como as competências adquiridas e/ou reconhecidas trazem actividades de leitura e a frequência das mesmas. Estas vão maiores e melhores expectativas em relação à escola na vida ser observadas pelos filhos e, como tal, desenvolvem nestes do seu filho e facilitam um maior envolvimento no seu projecto de escolarização. Sabendo que a aprendizagem da leitura é 13 A partir de um texto de Cláudia Andrade no 1º Relatório Progresso – fase 1 decisiva na construção do sucesso escolar, procura saber-se – 1ª parte, Julho 2009. 18
  • 21. um interesse crescente por este tipo de actividades. Assim, trazer benefícios importantes para a compreensão da vida das e retomando a perspectiva de Bandura et al. (1996), a auto- famílias. As mulheres são responsáveis não só pelo cuidado e eficácia académica dos pais promove a auto-eficácia académica sustento dos seus filhos mas também por todos os aspectos dos filhos, embora esta relação seja mediada pelas crenças de associados ao seu desenvolvimento emocional e intelectual. sucesso académico das crianças. As expectativas parentais têm, deste modo, sofrido também alterações significativas. Um “bom pai” já não é um ganha- De um modo geral, a perspectiva defendida pelos diversos pão ausente e benevolente. É esperado que esteja intimamente autores permite-nos, pela sua relevância, considerar no presente envolvido nos aspectos da vida da criança, desde o brincar ao estudo a importância da auto-eficácia geral e a importância da cuidar, ao alimentar e ajudar nas tarefas da escola (Jacobs & mesma para as dinâmicas relacionais pais-filhos como variável Gerson, 2004). Estes dados parecem ser também válidos em importante para a análise da promoção da literacia familiar. Portugal, onde se considera que o elemento masculino do casal deve também dedicar-se à família, colocando os interesses 6.2. “Gestão de Papéis”14 desta acima de outros assuntos (Poeschl, 2000). Outro aspecto particularmente relevante para as exigências crescentes da A análise das relações entre a vida profissional e familiar tem maternidade e da paternidade diz respeito ao papel privilegiado sofrido alterações ao longo do tempo. Se durante alguns anos que a criança ocupa no contexto da família. De facto, ter uma se analisou cada um dos domínios em separado, sendo o criança implica actualmente maiores investimentos nos planos trabalho e família perspectivados como esferas independentes, afectivos, relacionais e mesmo materiais que possibilitem mais recentemente tem-se assistido a um crescente interesse percursos escolares mais longos tendo em vista a sua futura na relação e interdependência destas duas esferas. De facto, a inserção profissional. Adicionalmente, a preocupação, em questão que se coloca actualmente na análise dos processos particular dos pais, em promover o desenvolvimento “cultural” pelos quais estas esferas estão ligadas, reporta-se aos efeitos das crianças, inscrevendo-as num sem número de actividades que cada um dos sistemas pode ter no outro e no indivíduo. extra-escolares, acrescenta um maior número de exigências Para este crescente interesse contribuíram as novas tendências aos pais. As actividades centradas na criança dominam a vida sociais, nomeadamente o aumento do número de famílias de familiar e criam um ritmo familiar e doméstico muito intenso duplo-rendimento. Assim, a temática da conciliação entre vida (Lareau, 2002 cit. por Jacobs & Gerson, 2004). O envolvimento familiar e profissional surge como consequência das mudanças crescente com as crianças que se espera dos pais torna as sociais ocorridas nos países industrializados, onde se verificou longas horas de trabalho mais problemáticas e, como tal, pode a entrada da mulher no mercado de trabalho e o aumento do gerar sentimentos de conflito entre papéis. número de papéis por ela desempenhados bem como um aumento da participação dos homens no desempenho de tarefas Assim, e na linha do que foi apresentado, o modo como as não remuneradas (apesar deste aumento ser considerado relações entre papéis familiares e profissionais são articuladas insuficiente para equilibrar a distribuição do trabalho em casa). parece-nos ser uma dimensão importante para o presente Paralelamente, mudanças ao nível das expectativas profissionais, estudo, na medida em que podem fornecer informação relevante familiares e mesmo parentais contribuem, certamente, para sobre a interacção pais-filhos e seu impacto nos processos de o aumento das exigências sobre os indivíduos e influenciam aprendizagem destes últimos. a articulação entre os papéis familiares e profissionais. Nesta linha, verifica-se actualmente que os indivíduos desempenham 6.3. “Representações e práticas de envolvimento no processo cada vez mais papéis com diferentes exigências; o estudo de escolarização” da forma como estes são geridos e a análise das suas consequências individuais, familiares e profissionais, podem O envolvimento das famílias nos processos de escolarização dos filhos é hoje reconhecido como condição de sucesso 14 A partir de um texto de Cláudia Andrade no 1º Relatório Progresso – fase 1 escolar das crianças. Não basta enviá-las à escola diariamente – 1ª parte, Julho 2009. para que o processo de escolarização se efective. Entre as 19 05
  • 22. necessidades decorrentes do empenhamento dos pais na sua A recusa à escola constitui-se como uma situação de evasão às escolarização parecem ressaltar: a implicação das pessoas dificuldades de inserção neste sistema. A valorização através do significativas no empenho dos filhos na relação pedagógica, a trabalho permitiu a muitos adultos encontrarem o seu caminho atribuição de sentido às aprendizagens e a necessidade de uma na sociedade, à revelia da escola. Quando, em Portugal, a pedagogia diferenciada para acesso ao saber (Salgado, 2003) Educação de Adultos enquadrada pelo sistema oficial de ensino que a maioria da escola de massas dificulta. e ministrada nos mesmo moldes do sistema educativo, os adultos de baixos níveis de escolaridade, não aderiam à oferta, Sabendo que uma das primeiras condições de aprendizagem ou então desmotivavam-se, não aprendiam ou/e abandonavam se situa na necessidade/vontade de aprender algo, poder-se-á (Salgado, 1985). encontrar a génese dessa apetência nas tarefas propriamente ditas ou na vontade comunicada pelas pessoas significativas As relações da escola com os pais de famílias de meios populares através da sua experiência de vida. No seu crescimento, a criança também não são pacíficas. As dificuldades de entendimento procura, por um lado, imitar essas pessoas, na maior parte das dos códigos escolares dificultam a relação com a escola que se vezes os progenitores, por outro – se a relação é positiva ou acentua quando os seus filhos começam a sentir dificuldades pretende que seja – procura agradar-lhes. Assim, se do projecto e são colocados em situação de insucesso. (Perrenoud & de vida dos pais faz parte a escolarização e o sucesso dos filhos, Montandon, 1987). estes senti-lo-ão no seu quotidiano e procurarão responder a essas expectativas. O momento de fazer os trabalhos de casa, Não se poderá, no entanto, dizer que os adultos de baixos acompanhados por um dos progenitores, poderá constituir um níveis de escolaridade menosprezavam o saber e recusavam momento privilegiado para sentirem esse empenho. Igualmente, a aprendizagem. No tempo da República e início do Estado da parte dos filhos, o tempo de realizar as tarefas escolares Novo criaram associações de “instrução” e “academias”. No acompanhados pelos pais acaba por ter a contrapartida positiva período a seguir ao 25 de Abril, as associações populares destes lhe dedicarem, especialmente, alguma atenção em torno foram reconhecidas com contexto educativo (Lei 3/79) dado do seu apoio. Também a relação pedagógica, que é fundamental o empenho dos adultos em actividades de aprendizagem para que a criança consiga aprender, deveria ser acompanhada (Melo e Benavente, 1978; Salgado e et al, 1980). Em contextos por um adulto significativo que fosse capaz de desenvolver as migratórios, e independentemente de sistemas formais de oito competência inter-pessoais que Maria Emília Brederode ensino, os trabalhadores emigrantes procuravam informação e Santos (1985) considera: empatia, respeito, calor, autenticidade, acesso ao saber (Gago, 1978). Não será, pois de estranhar que, especificidade, auto-exposição, confronto e imediaticidade. perante uma possibilidade organizada de educação baseada Esta relação, que em alguns dos seus aspectos exige uma no reconhecimento dos saberes adquiridos previamente, proximidade individualizada, dificilmente se consegue numa os adultos com baixo nível de escolaridade, pressionados escola em que os professores falam para todos ao mesmo pelas necessidades da sociedade do conhecimento (Lindley, tempo e em que a relação personalizada não aparece nas alturas 2000), tenham respondido de forma expressiva à oferta dos chave das aprendizagens. A criança só acaba por encontrar na Centros Novas Oportunidades, sobretudo dos processos de família, ao realizar os trabalhos, esta relação pedagógica que reconhecimento validação e certificação de competências deveria ser paradigma da escola. Também o desenvolvimento (RVCC). da sua auto-estima aparece habitualmente apenas na família. A escola tradicional pauta-se por indicar à criança apenas os No entanto, não é evidente que a passagem para o investimento erros, aquilo que está mal, penalizando-a muitas vezes por na educação dos filhos tivesse acontecido. O facto de terem isso, esquecendo de referir e enaltecer os sucessos. Muitas das vivido na escola situações de violência provocadas, na sua características que se consideram de importância numa relação maioria, pelo insucesso escolar, poderia ter conduzido a pedagógica (Dupont, 1983) – congruência, compreensão desenvolver o proteccionismo dos filhos, acreditando que o seu empática, consideração, intencionalidade na consideração – só processo de aprendizagem poderia não ser coroado de sucesso. acontecem na aprendizagem em família. Esta foi uma das razões deste estudo: verificar se o acesso 20
  • 23. a um processo de escolarização cria, no interior da família, a adequado para o desenvolvimento da literacia emergente construção de projecto de vida que passe pela escolarização e para a criação do projecto pessoal de leitor, que passa pela dos filhos, determinante para o seu sucesso escolar. criação da vontade e necessidade de ler (Fontaine, 1990) e pelo desenvolvimento das representações sobre a funcionalidade e Apoiar o processo de escolarização dos filhos no sentido da conceptualizações sobre a leitura e a escrita (Salgado, 2003). promoção do seu sucesso escolar não só implicaria desconstruir, para si próprio e para a escola actual, a representação de O processo de descoberta da linguagem escrita é um processo exclusão escolar que recusaria a sua cultura, traduzida na sua participado e dinâmico, em que a criança assume um papel história de vida, como passaria por reconhecer a necessidade activo e através do qual reconstrói e reinventa activamente a de resposta, através da escola e das suas práticas familiares, linguagem escrita (Mata, 2002). Antes da entrada no ensino das funções socialmente atribuídas à educação. formal, as crianças já constroem representações sobre a linguagem escrita, pois interpretam a informação recolhida 6.4. “Mudanças nas representações e nas práticas da leitura conforme os esquemas de pensamento e os esquemas e da escrita”15 conceptuais que desenvolveram no contacto com a escrita (Martins, 1996), e colocam hipóteses sobre o funcionamento As crianças que frequentam as escolas públicas portuguesas e objectivos da linguagem escrita. Estudos demonstram que revelam níveis de insucesso escolar elevados e níveis de a consciência fonológica, a linguagem oral, o conhecimento competências de leitura mais baixos que em outros países da das letras e as conceptualizações acerca da leitura e da escrita OCDE (Ferreiro, 1992; Sim-Sim, 1989). Um dos motivos para são capacidades tidas como fundamentais para a posterior que ainda se verifiquem estes resultados reside, como referido aprendizagem da leitura (Scarborough, 1998 cit. por Spira anteriormente, na implementação tardia da escolaridade Bracken & Fichel, 2005). Observou-se ainda que existe uma obrigatória em Portugal, que leva a que, nos dias de hoje, relação entre as capacidades de literacia que as crianças têm ainda exista por parte de muitas famílias uma fraca cultura de ao entrar para a escola e o seu desempenho académico futuro escolarização. Esta pouca valorização da escolarização pode (Teale, 1984; Hanei & Hill, 2004; Spira et al, 2005). significar que, no quotidiano destas famílias, a importância da utilização da leitura e da escrita não seja muitas vezes Sabendo da importância que a qualidade do ambiente familiar reconhecida e incentivada. de literacia pode exercer sobre a aprendizagem e sobre a forma como as crianças se tornam mais predispostas em compreender Pressupõe-se que numa sociedade letrada todas as crianças a natureza da linguagem escrita, é fundamental conhecer tenham contacto com o mundo da leitura e da escrita. Contudo, as concepções parentais acerca da literacia, bem como os no que respeita à quantidade e qualidade dessas experiências, comportamentos e práticas que os pais desenvolvem com os nem todas têm acesso às mesmas práticas de literacia, pois filhos neste domínio (Lynch et al, 2006). As famílias podem estas dependem dos valores e da cultura do grupo social em que cultivar as competências de literacia emergente dos filhos se estão inseridas. Sendo a família um dos agentes de socialização i) de forma contextualizada e em situações com significado, mais importantes para a criança, esta desempenha um papel fornecerem uma larga diversidade de materiais de literacia, se preponderante na aquisição e valorização das práticas de literacia. ii) com frequência, incentivarem as interacções interpessoais Não tendo a escrita entrado no universo familiar de muitos durante as actividades de leitura e escrita, iii) se permitirem a portugueses, as condições culturais que a sua aquisição implica observação e participação dos filhos nas práticas de literacia do dificultam esta aprendizagem por parte das crianças (Chauveau, dia-a-dia e em contextos de entretenimento e se iv) integrarem Chauveau, & Martins, 1997a; Chauveau & Martine, 1997b; materiais de literacia no ambiente social e familiar em que estão Chauveau, 2001). Deste modo, não se propicia um ambiente inseridos (DeBaryshe, Binder & Buell, 2000; Leichter, 1984; Purcell-Gates, 2003; Tizard & Hughes, 1984). 15 A partir de um texto de Carolina Cardoso no 1º Relatório Progresso – fase 1 – 1ª parte, Julho 2009. Em suma, conclui-se que a relação entre as concepções 21 05
  • 24. parentais sobre literacia e os comportamentos em ambiente entrevistas se desdobrassem num conjunto mais vasto do que familiar são fundamentais e têm uma relevante consequência o inicialmente previsto. no desenvolvimento precoce da literacia. Assim, mudar as concepções parentais pode ter um impacto positivo na forma A opção pela técnica da entrevista semi-estruturada prendeu- como os pais promovem a literacia no ambiente familiar e, se ainda com a sua elasticidade quanto à duração, permitindo por consequência, na forma como as crianças desenvolvem uma cobertura mais profunda sobre determinados assuntos e, as competências de literacia, tão importantes para o seu simultaneamente, limitar o volume das informações, obtendo- sucesso académico futuro (Bingham, 2007). Os Centros se assim uma maior atenção sobre o tema e, nesta etapa do Novas Oportunidades surgem, assim, como oportunidades de estudo, lidar com a possível dificuldade que muitas pessoas formação que podem desencadear mecanismos facilitadores da teriam de responder por escrito a um leque tão abrangente de promoção da leitura e da escrita no contexto familiar. temas e de experiências. 7. Metodologia do estudo16 Partiu-se, assim, de um conjunto de questões previamente seleccionados a partir dos conceitos identificados na revisão O trabalho realizado, de carácter exploratório, recorreu bibliográfica e nas dimensões em que foram decompostos, exclusivamente a metodologias qualitativas, mais especifica- que definiram os pontos do guião de entrevista. Estes foram mente através de entrevistas individuais semi-estruturadas considerados na análise de conteúdo, com base em protocolos devido à fidelidade e riqueza das informações que fornecem. de transcrição integral mas, posteriormente, seleccionados com base num conjunto de categorias e cuja descrição em O objectivo do recurso a esta metodologia prendeu-se com pormenor será apresentada no ponto seguinte deste trabalho. a necessidade de, nesta primeira fase, conhecer experiências subjectivas dos participantes nos Centros Novas Oportunidades Para efectuar a análise das entrevistas, recorreu-se à análise (CNO) face a um conjunto de temas, partindo-se, neste sentido, de conteúdo segundo o modelo de Bardin (1979) que tem por das experiências do indivíduo enquanto objecto de investigação. objectivo a descrição sistemática do conteúdo da comunicação. De facto, este tipo de entrevista colabora muito na investigação Os dados recolhidos, neste caso através de entrevistas, são dos aspectos afectivos e valorativos dos respondentes essencialmente de natureza qualitativa. A análise de conteúdo foi que determinam significados pessoais das suas atitudes e a ferramenta de pesquisa usada para determinar a presença de comportamentos. Além disso, a interacção entre entrevistador certos conceitos e categorias no texto transcrito. Na análise das e entrevistado favorece respostas espontâneas, possibilitando entrevistas, o conteúdo foi codificado e dividido em categorias uma maior abertura e proximidade entre ambos, o que permite numa variedade de níveis. Em seguida, o conteúdo transcrito ao entrevistador abordar assuntos mais complexos e delicados, e seleccionado foi analisado e discutido conceptualmente. tais como os relativos a vivências e experiências durante e após No presente trabalho, dada a quantidade e complexidade da a participação nas actividades dos CNO, ou seja, quanto menos informação recolhida, houve a necessidade de segmentar estruturada a entrevista, maior o favorecimento de uma troca o conteúdo em categorias, subcategorias e componentes, mais afectiva entre as duas partes. partindo dos conceitos teóricos mais relevantes, até às práticas concretas dos entrevistados. As respostas espontâneas dos entrevistados e a maior liberdade que estes têm podem fazer surgir aspectos inesperados ao 8. Resultados do estudo entrevistador que poderão ser de grande utilidade na sua pesquisa. Tal verificou-se no presente estudo, fazendo com Sabendo a importância da vinculação segura para o que as categorias posteriormente criadas para a análise das desenvolvimento das crianças, o facto dos pais se sentirem mais confiantes em si próprios possibilita, pelo maior 16 A partir de um texto de Filipa Morais, Cláudia ferreira e Inês Cruz no 1º investimento que propicia, ganhos na educação dos filhos. O Relatório Progresso – fase 1 – 1ª parte, Julho 2009. facto dos entrevistados ganharem consciência de que o RVCC 22
  • 25. é uma rampa de lançamento para investimentos profissionais e maior destreza em ferramentas que já conheciam, e em outros pessoais desenvolve a atribuição de maior valor à escolarização numa completa iniciação. As aprendizagens neste domínio no futuro dos seus filhos. revelam ainda a hipótese de abertura de diálogo com os filhos, uma vez que estes instrumentos fazem hoje parte da cultura A importância atribuída à mobilidade social é um exemplo da dos mais jovens. A mais-valia acrescida por esta potencialidade auto-estima conseguida neste processo. O orgulho de poder de criação de conteúdos de diálogo virá resolver o problema dizer que já tem o 9º ano, no exterior da família, parece ser um que muitos pais tinham de não conseguir ter com os filhos ganho incalculável na relação com os filhos. conversas que lhes interessem. A confiança em si próprio revela ser uma componente importante, “Passo o mesmo tempo, (…) Mas quando estamos juntos referida por um grande grupo de entrevistados, quer na facilidade costumamos passear, o mais novo ajuda-me a fazer o jantar nas relações com outras pessoas quer a nível profissional. nos meus dias de folga, vemos televisão e é melhor, porque, às vezes, já vemos filmes juntos, porque agora já acompanho “Sinto-me capaz de me fazer notar por outras pessoas, sinto-me melhor as legendas e explico-lhes se eles não entenderem.” com qualidades diferentes, que não tinha. Mesmo no trabalho (E7;Sexo feminino; Meio Urbano; Região Centro) sou mais valorizada, tenho novas oportunidades, novas portas a abrir, e isso é muito importante.” O modo de resolução dos problemas na família acrescidos pela (E17; Sexo Feminino; Meio Rural; Região Centro) necessidade de participarem nas novas tarefas de aprendizagem – processo de RVCC – parece ter constituído um novo campo Estas aquisições traduzem-se ainda na necessidade de continuar de aprendizagens, para além do modo de resolução de conflitos um projecto de estudos que a nível de fazer mais formação conseguido17. A procura de soluções de gestão do tempo terá que na possibilidade de dar continuidade a um processo de levado a conseguir a criação de outros espaços e tempos em escolarização, 12º ano ou mesmo Ensino Superior. Por vezes detrimento do lazer e preterindo algumas tarefas domésticas. revelam a implicação da formação adquirida na possibilidade de concorrer a novos empregos. “Eu não acho que me tenha roubado algum tempo, se calhar eu aproveitei, foi melhor o tempo, deixei de fazer coisas que se Importante na sociedade do conhecimento é o sentimento calhar não são tão importantes, ocupando o tempo numa mais- manifestado da necessidade, do gosto e do prazer de aprender valia para mim…” e do modo como se expressa na relação com os filhos. (E14; Sexo feminino; Meio Rural; Região Centro) Considerou-se esta uma aquisição fundamental uma vez que na escola nem sempre se adquire o gosto por aprender numa A importância atribuída ao processo de escolarização dos perspectiva de Educação ao Longo da Vida. filhos revelou ter sido um dos domínios de maior importância na vida familiar sabendo como o papel dos pais é decisivo “Deu-me mais entusiasmo para participar noutras coisas, deu- na construção dos sucesso escolar e na motivação para me mais entusiasmo para eu me desenvolver culturalmente, as aprendizagens dos filhos. Este empenho traduziu-se na deu-me mais para pesquisar, deu-me mais para me informar construção de um projecto de vida para os filhos que passe mais sobre certos assuntos.” pelo sucesso da sua escolarização. Dizem que estão dispostos (E33; Sexo feminino; Meio Suburbano; Região LVT) a fazer todo o possível para conseguirem que eles vão tão longe quanto desejarem. A vontade dos pais será um factor decisivo A importância atribuída ao desenvolvimento ou aprendizagem de na criação desse desejo aparecendo logo no envolvimento nos novos saberes vem posteriormente revelar-se na intervenção em relação à escolarização dos filhos. Os resultados obtidos revelam 17 O estudo destes aspectos deve ser aprofundado no capítulo de Cláudia que existe um ganho substancial neste domínio aparecendo, à Andrade “Conciliação Trabalho-Família em Adultos em Formação nos Centros cabeça, a informática. Em alguns entrevistados traduz-se numa de Novas Oportunidades” 23 05
  • 26. trabalhos de casa que agora dizem já conseguir acompanhar e condições de promoção do sucesso escolar das crianças. Foi na relação que mantêm com os professores e outros actores possível verificar que, na maioria, a mudança da situação de educativos que revelam agora conseguir melhor desenvolver.18 auto-estima e auto-eficácia do pai ou mãe que completaram o processo de RVCC – B2 são facilitadores expressos nas relações “(…) e eu hoje entendo isso e não quero de forma alguma que com os filhos ou com os professores, que a organização da aconteça isso aos meus filhos, que é o facto de ter que começar vida familiar entre conflito – mal ou bem resolvido – negociação a trabalhar cedo afasta-nos a nossa mente (…) graças ao RVCC, ou criação de novas formas de gestão do tempo trouxeram a abrir esta caixa e a soltar toda esta informação que estava acrescidamente vantagens qualitativas para as aprendizagens guardada, que está cá há muitos anos... e deixa-me muito mais das crianças e que o interesse e empenho no sucesso escolar à vontade e isso sem dúvida nenhuma ajuda os meus filhos no dos filhos passou pelo maior envolvimentos nos trabalhos processo escolar (…) sempre achei que era importante andar de casa e o estabelecimento de maiores relações com os na escola, acredito que hoje dou muito mais importância a esse professores e com a escola dos filhos. Também a literacia se facto (…)” desenvolveu na família, em termos de apoio escolar ou de lazer (E19; Sexo masculino; Meio Rural; Região Centro) passando a ser prática corrente no universo familiar. Sabendo que os primeiros sintomas de insucesso escolar No entanto, embora o sistema tenha mostrado estas aparecem nos primeiros anos de escolaridade tendo na sua potencialidades nem todas as famílias atingiram estes génese, como já referimos, a ausência de literacia na família objectivos. A maior parte do número que não revelou ter havido foi possível verificar, através das entrevistas realizadas que não mudanças ou aqueles em que estas mudanças ficaram muito só a literacia entrou na família confirmando a nossa hipótese aquém do que outros conseguiram permitem-nos agora, uma de partida como adquiriu, em alguns casos, o envolvimento vez que já conhecemos em detalhe as potencialidades do dos pais introduzindo-a como actividade do quotidiano não sistema, identificar necessidades de formação que podem ser só nos trabalhos de casa e respectivo aprofundamento, como respondidas quer nos processos de RVCC e nos cursos EFA, actividade colectiva de lazer.19 quer através das escolas do 1º ciclo na relação de parceria educativa que estabelecem com os pais dos seus alunos. “A Playstation é de trás para a frente, de frente para trás, lê tudo, mesmo em inglês, não faz mal, (...) Lê, a nível de computador, de Playstation, isso tudo, ele lê. (...) jogos didácticos... na internet o jogo da forca... há aí um jogo de perguntas, que tem as respostas, A, B, C e D, e então a gente anda lá entretidos a ver quem é que erra mais... e sudoku (...)” (E39; Sexo masculino; Meio Suburbano; Região LVT) 9. Conclusões Prévias O objectivo deste estudo centrava-se na compreensão das mudanças ocorridas no interior das famílias, portadoras de 18 O capítulo, neste livro, de Joana Ferreira e Carolina Cardoso “Os adultos no contexto do processo de RVCC: Uma abordagem das representações e práticas do processo de escolarização” aprofunda os resultados do estudo acerca deste contributo. 19 O capítulo, neste livro, de Carolina Cardoso e Joana Ferreira “Os adultos no contexto do processo de RVCC: Uma abordagem das representações e práticas da leitura e da escrita” aprofunda os resultados do estudo acerca deste contributo. 24