O documento descreve as principais características estilísticas da poesia de Cesário Verde, incluindo a ênfase no mundo material e no realismo urbano, a atenção aos detalhes e a linguagem coloquial. Aborda também temas como a dureza do trabalho, a doença e a desigualdade social.
3. Supremacia do mundo externo, da materialidade dos objetos; impõe o real concreto à sua poesia.
Predomínio do cenário urbano (o favorito dos escritores realistas e naturalistas).
Situa espácio-temporalmente as cenas apresentadas (ex: «Num Bairro Moderno» - «dez horas da
manhã»).
Atenção ao pormenor, ao detalhe.
A seleção temática: a dureza do trabalho («Cristalizações» e «Num Bairro Moderno»); a doença e
a injustiça social («Contrariedades»); a imoralidade das «impuras», a desonestidade do
«ratoneiro» e a «miséria do velho professor» em «O Sentimento dum Ocidental».
A presença do real histórico: a referência a Camões e o contexto socio-político em «O
Sentimento dum Ocidental».
A linguagem burguesa, popular, coloquial, rica em termos concretos.
Pelo facto da sua poesia ser estimulada pelo real, que inspira o poeta, que se deixa absorver pelas
formas materiais e concretas.
4. Encontra-se já um olhar subjetivo, valorativo, pois mais do que a representação do real importa
a impressão do real, que suplanta o real objetivo.
Abre à poesia as portas da vida e assim traz o vulgar, o feio, a realidade trivial e quotidiana.
Forte cruzamento de várias sensações na apreensão do real.
Intersecção entre planos diferentes, visualização e memória, real e imaginário, etc.
5. A estrutura narrativa dos seus poemas, em que encontramos acções protagonizadas por
agentes/atores (ex: «Deslumbramentos», «Cristalizações» e «Num Bairro Moderno»).
A exploração do espaço é feita numa perspetiva de câmara de filmar, em que se vão fixando
vários planos. É uma espécie de olhar itinerante, que reflete o passeio obsessivo pela cidade (e
também no campo em alguns poemas).Exemplos mais significativos são os poemas «Num Bairro
Moderno», «O Sentimento dum Ocidental», que definem a relação do poeta com a cidade.
Características estilísticas:
6. Automatismo psíquico: associações que
sugerem uma acumulação, uma conexão
O olhar seletivo: a descrição/evocação do
aleatória de ideias (ex: «Contrariedades»,
espaço é filtrada por um juízo de valor
«O Sentimento dum Ocidental).
transfigurador, (ex: «Num Bairro Moderno»).
Adjetivação particularmente abundante e O poeta é como um espelho em que vem
expressiva, com dupla e tripla adjetivação. reflectir a diversidade do mundo citadino.
O contraste luz/sombra: tanto pode ser a luz
do dia como a luz artificial, como a luz
metafórica que emana da visão da mulher. A
incidência da luz é uma forma de valorizar os
objetos, entendendo-se a luz como princípio
de vida.
Características estilísticas:
7. Oposição cidade/campo, sendo a cidade um espaço de morte e o campo um espaço de vida –
valorização do natural em detrimento do artificial. O campo é visto como um espaço de liberdade,
do não isolamento; e a cidade como um espaço castrador, opressor, símbolo da morte, da
humilhação, da doença. A esta oposição associam-se as oposições belo/feio, claro/escuro,
força/fragilidade.
Oposição passado/presente, em que o passado é visto como um tempo de harmonia com a
natureza, ao contrário de um presente contaminado pelos malefícios da cidade (ex: «Nós»).
8. A questão da inviabilidade do Amor na cidade.
A humilhação (sentimental, estética, social).
A preocupação com as injustiças sociais.
O sentimento anti-burguês.
O perpétuo fluir do tempo, que só trará esperança para as gerações futuras.
9. Presença obsessiva da figura feminina, vista:
→ negativamente, porque contaminada pela civilização urbana:
- mulher opressora – mulher nórdica, fria, símbolo da eclosão do desenvolvimento da
cidade como fenómeno urbano, (ex: «Frígida», «Deslumbramentos» e «Esplêndida»), em que se
reconhece a influência de Baudelaire;
→ positivamente, porque relacionada com o campo, com os seus valores bons:
- mulher anjo – visão angelical, reflexo de uma entidade divina, símbolo de pureza
campestre («Em Petiz», «Nós», «De Tarde» e «Setentrional») – também tem um efeito
regenerador;
- mulher regeneradora – mulher frágil, pura, natural, simples, representa os valores do
campo na cidade (ex: as figuras femininas de a «A Débil» e «Num Bairro Moderno»);
- mulher oprimida – tísica, resignada, vítima da opressão social urbana, humilhada (ex:
«Contrariedades»);
- mulher como sinédoque social – (ex: as «burguesinhas» e as varinas de «O
Sentimento dum Ocidental»
→ como objecto do estímulo:
- mulher objecto – vista enquanto estímulo dos sentidos carnais, sensuais, como
impulso erótico (ex: actriz de «Cristalizações»).
10.
11. Contemporâneo de Antero e de Eça.
Contemporâneo do Realismo, que influencia alguns aspetos da sua poesia:
• descrição objetiva do real;
• presença de figuras do povo;
• preocupação social;
• expressão de solidariedade social.
12. Aspetos específicos:
Presença do quotidiano citadino e campestre.
Binómio campo ( vida, pureza, felicidade, saúde, alegria, liberdade, luz)
Carácter deambulatório. doença, infelicidade, prisão, sombra).
cidade ( morte, tristeza,
Aspeto cinético e de visualização:
Nova imagem da mulher:
o poeta faz a apresentação de aspetos genéricos e globalizantes, descendo depois aos
◦ mulher do povo, sofredora e doente – “ Contrariedades” e “ Num Bairro Moderno”;
aspetos particulares que descreve pormenorizadamente.
◦ mulher leviana – “ Sentimento dum Ocidental”;
Aspeto pictórico:
◦ mulher sedutora e bela – “ De tarde” e “ De Verão”.
influência dos movimentos e técnicas pictóricas da época ( Realismo, Impressionismo).
Intenção crítica e a questão social.
Mito de Anteu – o contacto com a terra, com a realidade, confere força e
vitalidade.
As fugas imaginativas e a pretendida objetividade.
13. Vocabulário preciso, conciso e pragmático.
Escassez de palavras eruditas.
Valor expressivo dos diminutivos.
Emprego de verbos sensoriais.
Sinestesias.