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O mito do amor
Marinaldo L Batista
Seria possível amar alguém sem nunca ter-lhe visto?
Se sim, encontrarem-se sem necessidades de ver-se? E
manter esse romance aceso com todos os outros
sentidos excluindo a visão? Sem as aparências? O
amor dito espiritual resistirá às intempéries do tempo?
Esquecer o físico, as carnes e partir para um amor
maior que não fosse necessário a beleza (no sentido
da palavra)e buscarmos o amor como fazem os cegos,
pelos outros sentidos que não sejam os olhos? Onde
ficaria a curiosidade humana?




                                    marinaldo l batista

                                          26/01/2011
Prólogo

Sou como chamam por aqui um “biscateiro”. Não é nenhuma
profissão nobre, diz-se de quem vive à toa, fazendo um bico
ali outro acolá, levando a vida sem grandes sonhos.

Sei soldar, pintar paredes, assentar piso, porta, dizem até que
sirvo para assustar casa velha.

Não sou feio, sou até simpático, é o que disseram e quando
criança em mim fizeram “bilu bilu”, talvez por isso tenha
grande pudor das partes íntimas. Tive algumas namoradas,
algumas que se apaixonaram, outras que me iludiram, e fui
vivendo assim jogado de léu em léu como pluma ao vento.

Fiz curso de tudo que é tipo. Tipo corte e costura, corte de
cabelo, desenho e pintura todos pelo correio, agora falo - meu
verdadeiro sonho mesmo era ser artista.

Quando lia uma história em quadrinhos diziam, ficava
garatujando algum desenho ou encarnava os personagens e
saía pelas vielas em busca de aventura que acabavam
geralmente com alguns hematomas pelo corpo. “O que esse
menino procura?” Dizia minha mãe.

E foi assim, desde o início de minha vida num quarto
qualquer, num lugarejo remoto, numa noite melancólica o
céu nenhuma estrela, dissera minha mãe, jogado como célula
fria num útero profundo. Não conheci meu pai. Ou quase.

Hoje sou técnico em eletrônica e manutenção em computador
formado num curso a distância. Foi nesses consertos que
encontrei uma história. Estavam em dois discos rígidos
imperfeitos que um homem trouxera para concertá-los.

E como sempre sonhara em ser um escritor vi nesse material
uma chance sem precedentes, pois a história parecia ser
original, e aproveitando a oficina literária que fizera, pensei
com meus botões: “ No mínimo serviria como exercício para
no futuro quem sabe uma obra maior.”.

Meses e meses tentava montar a história. Primeiro pensei em
montar tudo na forma de novelas dos séculos XVII e XVIII dos
quais sou fã incondicional. Como é difícil montar uma
história com verossimilhança. Suei as “bicas” como dizem por
aqui. Logo pensei em contá-la como fazia nossas antigas
amas, ao fechar da cortina dos olhos no sono pueril, nos
acalentando com sua voz suave e morna.

 Depois a coisa foi embolando e saiu assim meio parecido
com textos de blogs tão na moda recentemente.

Senti como montasse um velho computador. A arquitetura
estava pronta, usei uma carcaça que já fora muito útil no
passado, e era só escolher as peças e encaixá-las, colocando-
as uma a uma no lugar mais pertinente, para no fim a
geringonça ligar o leitor.

Uma cena ali, um diálogo acolá, um perfil, umas reflexões. Os
nomes são fictícios. Chega de preâmbulos. Vamos à história.



                  Primeiro capítulo



Num grande magazine, olhos acostumados espreitavam as
câmeras. Era Marinês, puxando para cima do nariz os seus
óculos de grau. Via quase tudo com os olhos de cão de
guarda. Desconfiava de tudo e de todos vigiando os “amigos
do alheio”. Era seu trabalho. Vigiar a tudo e todos evitando
assim os roubos que assombrava.

Consideraram as mulheres mais observadoras e perspicazes
então Contrataram várias meninas. Estava ela ali única e
exclusivamente para observar os outros nas compras e
qualquer movimento suspeito avisar ao segurança para tomar
as devidas providencias.
Marinês sentada, sobre uma grossa almofada para
aumentar seu tamanho. Desde os dez anos passou a usar
sandálias altas, pois detestava sua altura. Não passava de
um metro e meio.

Lembrava-se dos tempos de escola onde apelidada de pintora
de rodapé, pouca sombra e outras do mesmo gênero. Muita
vez saíra “na mão” com meninas, como dizia “jamais levou
desaforo para casa”.

Seu ponto de observação era toda ala sul, e o
estacionamento.

Colocou os óculos, pois além de míope era estrábica. Era uma
cabine com um grande monitor, dividido em imagens
menores, oito ao todo onde se via quatro corredores e parte
do estacionamento, que passavam crianças e adultos fazendo
compra. Na parede da frente um quadro que olhava quando
estava aturdida ou angustiada. “Traz-me saudades”, dizia.

Era um bosque com árvores frondosas, o chão coberto por
gramas de variadas cores devido ao impacto da luz. Na
sombra, verde escuro, na luz, verde claro. Era manhã. Via-se
pela brisa fria. No primeiro plano uma mulher tricotava na
calma do lar. Tinha os cabelos presos em um coque, mas
viam-se lhes que eram escuros. Debruçada em seu colo uma
criança de olhos claros uma menina lânguida com olhar
sonhador, sentindo-se protegida pelo olhar cândido da mãe.
Ao fundo uma mesinha de madeira, sobre ela flores
vermelhas. Um sonho.

Volta à realidade. O local estava abarrotado, era feriado e
parecia que o mundo viera às compras. Com um toque
poderia dar zoom às imagens como fazem os diretores de
cinema ou afastá-las para ter uma vista aérea.

O microfone ficava ligado no sistema de som, e qualquer
problema era só apertar o botão vermelho e numa voz de
rodoviária dar o aviso: “Automóvel marca tal, placa MLB1442,
favor retirá-lo, pois se encontra em lugar proibido” ou
“Encontra-se no escritório uma garota de três anos mais ou
menos com vestido branco de bolinha que encarecidamente
pede a presença dos pais. Obrigada.”

Após o aviso, colocava uma música cuja melodia dava aos
clientes um anseio estranho, de gastar mais.

Súbito um movimento suspeito no estacionamento. Ela Ver
um casal num carro branco, chegar. Não descem. Dar um
close na câmera. O homem é bonito, usa óculos escuros. A
mulher um vestidinho de linho. Beijam-se. Mais um casal as
compras.

Olha no outro monitor. Ver no corredor um homem que
pegara algo na vitrine.

Avisa pelo rádio: - Indivíduo de camisa azul no quarto
corredor. Rápido. Pegou algo. Claro que tenho certeza!
Suspeito vai sair na porta lateral.

Volta para o outro casal. A mulher faz um movimento
suspeito. Põe a mão sobre a braguilha do homem. “Ah! Um
daqueles casais! Que bom, por isso gosto do meu trabalho.”
Dar close. Ele investe nos seios. Tira um que salta do vestido
e suga com força. Depois se beijam demorado.

- Um homem de azul? Grita pelo fone o segurança. -Sim!
Colocou algo dentro da cueca.

Ela pensa no carro e imagina o homem com o pênis duro no
meio das pernas. A sombra das árvores cobre o vidro e
atrapalha um pouco a visão. Regula a câmera. Procura outro
ângulo. A mulher sorrir e parece olhar para os lados como se
procurasse algo. “Não me ver aqui sua cretina, eu sim, tenho-
os em minhas mãos.” Sente algo como um calor subir entre
as pernas, o mesmo calor quando no ônibus encostaram-se
nela. Naquele dia não conseguira se desvencilhar. Chegara à
casa toda molhada.
Agora estava em fogo, quase brasa. Voltou à cena. Aproximou
devagar. A mulher desaparecera. Não! Agora via melhor.
“Chupa o sorvete do bonitão, piranha”. Na outra tela o
segurança aproximava-se da sua cabine. “Diabo, como esses
pestes se perdem!” Com o dedo fecha a imagem tirando-lhe a
luz. Abre a porta.

-Mais uma, para você. Ela pega o microfone e avisa:

-Atenção, atenção! Encontra-se na cabine quatro, uma
criança, a Célia, uma linda menina de olhos azuis. Favor os
pais pegá-la. Não se preocupem, estar bem, somente um
pouco aflita. Obrigada.

 Em dois minutos um casal sobe em pânico em busca da
pequena. Tudo como manda a regra, com documentos
certificam-se serem os pais verdadeiros, agradecem e saem.

Imediatamente Marinês move a tecla e ilumina a tela. A
mulher já levantara o vestido até a cintura e cavalgava
docemente o homem, ora lento ora mais rápido.

-Ai que delícia! Gritou. Fora ouvida por todos no sistema de
som.

No início os clientes até não prestaram muito atenção.
Pensavam ser mais uma propaganda de biscoitos.

O homem levantou o vestido e apertava as nádegas. Batia.

-Ai gostoso!

Agora todos riram com a frase. Os caixas olhavam para os
lados, para cima, sem entenderem nada.

Agora no carro cavalgavam ligeiro.

-Bota pra quebrar vagabundo! E via o carro todo se balançar
na luxúria.

O homem apertava os seios por baixo do tecido fino.

Gritou ainda:
- Os meus, querido! Os meus!

Agora imagine vocês a cena. Todos lá embaixo pararam de
comprar estupefato. Riam sem parar.

Os velhos entre dentes, os jovens urravam, e uma freira
persignava-se.

O escândalo não foi maior porque o segurança notou o que
acontecia, correu escada acima seguida por um rol de gente.
Quando chegaram viram esse quadro: Marinês apalpava-se e
dava tapa em sua própria bunda e gemia.

De um pulo o segurança desligou o microfone e a câmera.

Marinês vendo todo aquele povo olhando-a espantados
desejou que o mundo acabasse ali, ou que um buraco se
abrisse a seus pés e a engolisse. Pegou suas coisas, jogou
dentro da bolsa e fugiu.

                               2



Subiu a escadaria do prédio de três andares no subúrbio
correndo como fazia todos os dias, dizia que era para
fortalecer as pernas e o coração. Ouviu os mesmos sons de
todos os dias: as crianças chorarem, os sons das TVs, um
galo cantar, barulho de panelas e quase se chocou com o
vizinho da frente, que corria para chegar a tempo para o
almoço.

Era Erosnaldo mais conhecido por “Eros”. Não achou
trabalho melhor para seu jeito. Trabalhava num call Center,
órgãos criados nas grandes empresas no intuito exclusivo de
ludibriar os clientes.

Era conhecido no meio com o codinome de “voz de ouro”, pois
tinha a voz quase semelhante ao Cid Moreira. Seu maior
desejo era não aparecer, andava nas ruas se desviando das
aglomerações, era tão tímido que qualquer coisa o corava e
nessa hora dava vontade de esconder-se como fazem os
avestruzes, quando assustados. Era assim que se sentia.

Não por acaso uma mulher, sempre ligava as seis em ponto
todos os dias nesses cinco anos que trabalhava, pura e
exclusivamente para ouvir sua voz. Nunca teve namorada
séria, sempre coisas passageiras como mesmo falava: “Um
rolo”.

Um dia, um dos colegas lhe pregara uma peça. As seis em
ponto, todos já sabiam, ao toque do telefone, o tal colega
aumentou os alto-falantes, e escutaram esse esdrúxulo
diálogo.

Nesse dia o telefone tocou alto. Com a voz poderosa ele
atendeu:

-Boa noite, em que posso servi-la? Idêntico a locutor de rádio.

-Uma voz débil respondeu: “Sou eu amor. Fala novamente
boa noite só para mim. Para seu pequenino amor.

E a cada frase era uma gargalhada contida a muito custo nos
biombos vizinhos.

Sem desconfiar de nada ele, repetia:

“Bo-a Noi-te! Em que posso servi-la?” Idêntico ao Cid Moreira,
quando falava “Mister M, o mágico dos mágicos.”.

-Em tudo amor. Quero te pegar no colo, te dar mil beijos
depois ouvir essa voz maravilhosa murmurar: “Meu Amor”.
Repete vai.

-Não brinque comigo. Se os outros ouvirem vão pegar no meu
pé e sou capaz de morrer.

Era querido por todos. Há muito viera do interior, e logo
notaram a tamanha timidez. Quando sorria prendia os lábios
nos dentes e alguém de má fé o apelidara de “coelho”. Sempre
só, na solidão do caminho, aprendera a se safar dos medos,
dos fantasmas e monstros, muitas vezes encolhido no fundo
da rede.

Era Coelho pra cá, Coelho pra lá e o apelido pegou. E apelido
é igual catinga de bunda, pode-se lavar o dia inteiro, mas o
cheiro esse não sai. E ele aceitou o apelido contrariado como
vai aceitando tudo na vida. O salário baixo a solidão e vive
como ele mesmo fala: “Só ele e Deus”.

O ambiente estava silencioso, somente no salão ouvia a voz
no alto falante, e todos em surdina ouviam a mulher se
declarar.

Ela pedia ainda.

-Fala meu nome mais uma vez, vai. E ele: - Se alguém me
ouvir eu me mato. E será sua culpa. Fazia silencio. Impostava
a voz e dizia lento, com gosto: - Meu amor. E nesse momento
todos caíam na gargalhada.



-Mais uma vez vai meu pitititinho! Falava ela e pela voz
parecia fazer biquinho.

E ele repetiu: “Meu amor, minha flor!”

 Foi quando ouviu um reboliço atrás de si. Voltou-se e viu
toda repartição em alvoroço e os olhos pareciam estrelas que
choravam, mas de riso. Um colega fazia biquinho nos lábio e
repetia gargalhando: - Pi-ti-ti-tinho! E fazia uma mímica
feminina.

Ele ficou pálido, começou tremer, queria falar a voz não saia,
foi ficando vermelho, a respiração ofegava, a tez foi perdendo
a cor, as mãos tremeram-lhe e a voz, a grande voz ficou
muda, tirou os fones, levantou-se e saiu. No outro dia pediu a
conta e desapareceu.



                             3
Marinês tinha uma vida sedentária. Sentada o dia inteiro em
frente às câmeras, e a noite não saia do computador. Por isso
subia sempre correndo as escadas, isto lhe deixava um pouco
aliviada. Sonhava encontrar alguém que pudesse contar seus
anseios e sonhos. Mas sabia que a realidade era dura e até
aqui tinha sido cruel com ela. Era como se diz, ausente de
beleza. Aquela beleza de carnes e de músculos das
academias.

Aqui pergunto? O que é o feio? Para mim feio é morrer de
fome, roubar, mentir. Além do que como os ditos populares:
para cada pé torto existe um sapato velho ou não existem
pessoas feias e sim pessoas sem imaginação.

Quando passou pelo corredor escuro ouviu os sons de todos
os dias, sons de televisão e choro de crianças. Tirou a calça
chutando-a num canto e de tênis e calcinha jogou-se sobre a
cama.

Que vergonha sentiu todo aquele povo olhando-a como
estivesse fazendo algo muito feio e horroroso, verdade que foi
se perguntava agora mais calma, como pode esquecer o
microfone ligado? Enfiou a mão na calcinha e sentiu-a
úmida. Entrou no banheiro e ficou embaixo do chuveiro
sentindo as gotas quentes escorrer na pele, ensaboando-se
longamente e chorando.

Lembrou-se de tempos felizes, quando morava num pequeno
sítio, os pais lavradores plantavam para sobrevivência. Teve
que sair para conseguir algo na vida como fazia todos dali
trabalhava em casas de família, em subempregos e às vezes
até se prostituíam. Quando achou esse trabalho deu graças a
Deus. Morava só.

Sabia do olhar do patrão para ela, ou de alguns colegas de
trabalho, mas nunca lhes dera bola. Sabia o que eles
queriam, ou melhor, o que todos os homens queriam.
Enxugou-se tomou um copo de leite gelado alguns biscoitos e
ligou o computador. Com muita dificuldade conseguira
comprá-lo nas casas Bahia. Dividiu em 24 vezes no crediário.

Entrou na mesma sala de bate papo com o mesmo apelido de
sempre. Era uma mulher carinhosa podia até não parecer,
mas se queimava por dentro. Olhava na tela brilhante o
cursor piscar e a barra de rolagem subir. Colocou uma
música suave e ficou vendo as estrelas pela janela enquanto
um cachorro latia sem parar e uma criança começara
novamente a chorar.

Iniciou o diálogo:

 Carinhosa entra na sala...
 Lobo mal fala para Carinhosa: oi amor
“Esse é um cretino, pensou”.
Carinhosa fala para lobo mal: oi
 CORAÇÃO.romântico fala para bia: tcs de onde
  lobo mal fala para Carinhosa: quantos anos?
 Carinhosa fala para lobo mal: Chuta...
 dezza fala para Ksado 34a SP Z/L: oi
 lobo mal fala para Carinhosa: 14 aninhos?

“Talvez um pedófilo, o filho da puta.”

gatinhp cam fala para Carinhosa: Se mostre para mim!

“Outro cretino e imbecil, fala pelos cotovelos.”

Carinhosa fala para gatinhp cam: Não tenho.
gatinhp cam fala para Carinhosa: Como estais vestida?
 lobo mal fala para Carinhosa: vc tem avó?
 Carinhosa fala para lobo mal: Tenho sim por quê?
lobo mal fala para Carinhosa: quero devorar-te! Comer-te
todinha...
“Outro safado. No mínimo casado com cinco filhos o puto.”
Eros entra na sala...
Eros fala para todos: Boa noite.
ludymylla fala para ++RODRIGO++: ata
 Erosfala para todos: Oi! Quem Quer companhia para comer
pipoca sentindo nos pés descalços a areia do mar?

“Ai! É esse. Um poeta.”

Carinhosa fala para Sedutor: Ah! Aceito e com queijo.
Eros fala para Carinhosa: Tira as sandálias então.

Sorri docemente. Pensou “Eu sem sandálias sou uma anã.”

perseguidos 27 sai da sala...
 RAUL--ABC-SP sai da sala...
 lobo mal fala para Carinhosa: vc não responde?
Carinhosa fala para lobo mal: Morri para vc...
 JP DELICIA fala para Aninh@: oi tudo bom vc tc de onde
cowboy fala para Carinhosa: Deixa eu te domar minha
potranca.
“Um machão... Não me interessa.”

Carinhosa fala para cowboy: procure uma égua...
 Gostoso cam entra na sala...
 gata do mar fala para Carinhosa: Curte mulher?
Carinhosa fala para gata do mar: Só minha mãe...
 amizade para valer fala para VIVI: estas a fim de uma
nova amizade
Gato Z/S MSN fala para Carinhosa: Faz carinho em mim...
 chayane]] fala para marcelo 22 cam: oiiiiiiiiiiiiiiiiiiii
 Polaco entra na sala...
 Ránie sai da sala...
LINDO SP sai da sala...
 gata do mar fala para bello-sp: vc ta online?
 VIVI fala para gatinho sp: SIM
Eros reservadamente fala para Carinhosa: Vamos sair desta
sala. Passa-me teu MSN que entro em contato.
Trocam MSN.
Eros sai da sala...
Carinhosa sai da sala...

       Com certeza os deuses da mitologia, foram criados
das imaginações loucas e pueris dos sonhos humanos e os
semideuses cópias fiéis de todas as aspirações dos mesmos
sentimentos. Mania de grandeza, ambição, amor e ódio.

Tudo isso me fez exclamar um dia achando-me inspirado:
“Oh! Deus, porque nos criastes tão dependentes! Não basta
só o livre arbítrio! Depois mais resignado: “A vida é assim
mesmo, no final a morte.”

E assim nossos personagens se conheceram.



                            4



Outro dia no MSN:

Marinês fala:

-Pesquisando no Wikipédia, seu nome descobri uma história
muito interessante sobre.

Eros fala: O que minha princesa?

-Que Eros, é o Deus do amor e se casou com Psiquê, uma
bela mortal, com a condição de que ela nunca pudesse ver o
seu rosto.

Afrodite mãe de Eros enciumada com a beleza estonteante de
Psiquê pede ao filho que lance suas setas para ela apaixonar-
se por um monstro. Mas a seta atingiu-o. E ele ficou
perdidamente apaixonado por ela. Assim se casaram e viviam
felizes num grande castelo. As irmãs queriam visitá-la e
Eros resistia e, ante sua insistência, advertiu-a para a alma
invejosa das mulheres.

Induzida pelas irmãs, invejosas não resistiu. Disseram ter
ouvido falar que ela havia se casado com uma monstruosa
serpente que a estava alimentando para depois devorá-la,
então lhe sugeriram que, à noite, quando este adormecesse,
tomasse de uma lâmpada e uma faca: com uma iluminaria o
seu rosto; com a outra, se fosse mesmo um monstro, o
mataria.

-E o que aconteceu minha flor?

-Encantada com tamanha beleza, deixou cair sobre ele uma
gota de cera acordando-o. Percebendo que fora traído, Eros
enlouquece, e foge, gritando repetidamente:

-O amor não sobrevive sem confiança!

Depois para conseguir a confiança novamente teve que fazer
vários trabalhos quase impossíveis que ela fez e Eros a
perdoou. Não é lindo meu bem?

-Muito.

-Você percebeu as coincidências?

-Quais meu bem? “Eu não sou nenhum deus grego”.

-Parece com nossa história. E Psiquê não rima com Marinês?
Pois então. Há dois anos nos conhecemos sei todos os seus
gostos, mas ainda não nos vimos. Não é chegada a hora
afinal?

-Sim. Só queria uma promessa sua. Não uma promessa, uma
jura.

-Pode falar amor. “Se ele soubesse que fiz cada coisa bisonha,
como por exemplo: apostar comigo mesmo, que atravessaria
a rua em 5 segundos se não perderia uma perna ou no meio
de um sonho saber que aquilo não era real, que era só um
sonho”.
-Porque não seguimos esse mito tão lindo. O que é a
aparência? O mais importante não é a alma?

-Exatamente. É no que mais acredito.

-Então, façamos essa jura nós dois. Topas?

-Tanto topo que a partir de hoje não pergunto como tu és,
não quero saber nada do teu físico.

-Farei o mesmo. O que penso de ti vem da alma, do coração e
assim nosso amor será eterno pelo simples fato: A alma é
eterna.

-Beijos, beijos e beijos amor. Oh! Como sou feliz!

-Te amo.



                            5



O amor é sublime, mas o sexo tem pressa. Exige tocar,
cheirar, ouvir, ver e sentir.

Depois dessas juras, três meses depois marcaram um
encontro num motel de uma pequena cidade. Simples mais
confortável. Ela chegaria e depois de instalada, e vendada
ligaria para ele indicando o endereço. Respeitando o trato,
não poderiam ver-se.



Dois anos haviam se passado e cada um sabia do outro os
gostos, até as futilidades: Marinês gostava de dormir no lado
esquerdo da cama, ler romances e broa de fubá.

Erosnaldo gostava do flamengo, ler poesia e pão doce.

Mas pouco ou nada sabiam como eram fisicamente. Ela dele
conhecia a voz. E por esse detalhe procurava desenhar-lhe o
resto. Mas como esse detalhe é enganoso. Quem nunca se
surpreendeu com alguém, pequeno, raquítica até, com uma
voz de tenor? Ou ao contrário uma pessoa forte, vigorosa com
voz de sopranos? Pairava sempre a incerteza.

São essas coisas que existem na natureza inexplicáveis ou
talvez explícitas demais. Os defeitos são divididos. A perfeição
não é desse mundo.

Ela tinha dele a seguinte ficha que passaram pelo MSN:

Louro, alto mais ou menos um metro e oitenta, dentes hígidos
e brancos, sereno e sólido, arguto e inteligente.

Já ele tinha dela o seguinte perfil:

Morena, cabelos longos, pernas torneadas, olhos de
ressaca(nunca entendi esse olhar), mãos longas e finas unhas
arredondadas. Um olhar original. Dela ele conhecia a mão.

“Todos correm em busca da felicidade, adquirindo coisas
materiais, mas acredito profundamente que esta não se
compra é coisa do espírito.” Pensava ela.

No quarto vendados estavam agora, como cegos. Os outros
sentidos aguçados. Sentiram-se num mundo estranho e ao
mesmo tempo excitante, um mundo sem luz, onde podia
agora ouvir o leve revoar dos cabelos, uma gota de chuva
explodir numa folha, os silvos vastos dos pássaros e ainda no
toque sentir os poros, a malha fina da pele.

Ela sentiu adentrar todo o perfume, o cheiro de bicho no cio,
a respiração ofegar, as mãos tocarem, a voz, e como fazem os
cegos foram se aproximando. A mão fria suspeitou-o mais
baixo, os cabelos dela são curtos, a voz é romântica, o toque
macio, o repicar do coração.

Abraçaram-se, apalparam-se, sentiram os lábios num beijo
meigo e violento. Depois ela empurrou-o, o que ele vai pensar
de mim, se entregar no primeiro encontro, depois ele
novamente, não fuja todos os meus sentidos tão amplos, sem
a luz dos olhos, a imaginação é mais colorida.
Medo de se mostrarem como eram? O amor seria mais forte
do que as aparências? Por segundos cogitaram olharem-se.

“Não, não quero saber, pensaram juntos. Construí para mim
um príncipe e esse príncipe é você, que tenho agora e sinto o
perfume, teu cheiro que é bom, o calor dos teus lábios, tua
força comprimindo minhas coxas, teu sabor, tua voz, tua
pele quente e macia, um rosto só meu, um nariz, um cabelo
um corpo. O que importa, é o que criei de ti e você criou de
mim, e nesses corpos os quais, jamais iremos ver, sopramos
nossas almas, apaixonadas até a eternidade, livre das
aparências e de todos os preconceitos que ela traz. Assim sou
feliz e assim seremos para sempre.”

Foram se despindo, ela o vestido, ajudou-o com o um leve
movimento dos quadris. Ao mesmo tempo em que ela tirava
dele o cinto, e ouviu o tilintar da fivela no chão, o roçar de
suas pernas, os segredos entre pelos.

Era como assistir um teatro de olhos fechados. Era o mundo
dos sons, dos cheiros e do tato. Para a platéia o cenário seria
como uma tela escura e os personagens invisíveis, não
obstante muita emoção seguida dos outros sentidos, pele
cheiro, gemidos e excitação. Os cegos não vêm às coisas
concretas, abrem-se outras janelas mais amplas: da
imaginação e dos sonhos.



Agora imagineis vós, toda a cena. Beijos, peles, coxas,
músculos, membros, movimentos...

Todos nós buscamos imagens que ficaram guardadas em
algum canto de nossas mentes. Imagens criadas ou vistas por
nós em algum momento de nossas vidas. Aproveitem. Não
vou descrevê-las. Deixo para vossas imaginações. Não me
decepcionem. Só uma pergunta me fica se me permitem fazer
agora: Como serão as imagens dos cegos se eles não possuem
nenhum parâmetro. Seriam brancas como uma folha ou
escura como a noite?
Só sei que para eles o orgasmo foi múltiplo, amplo e multicor.



                             6



Houve muito outros encontros. Nenhum deixou a desejar.
Mas como tudo na vida há um “quê” para atrapalhar. Como
aquele poeta que tinha uma pedra no caminho. Para eles a
pedra era a curiosidade, essa serpente venenosa que arma o
bote lentamente.

Foi quando numa noite de amor naquela hora que se acende
um cigarro para os fumantes ou caem-se em devaneios mil, e
reflexões tomam nossos pensamentos, ele contou rindo:

- Você não vai acreditar, mas acho que estou ficando louco.

-O que? Conta.

-Você jura que não vai me censurar? Que não vai ri de mim?

-Claro que não amor, conta. E ele continuou:

-Um dia no metrô senti teu perfume. Juro! Naquele momento
fechei os olhos para ter certeza. Idêntico. Olhei e via a minha
frente um senhor levando uma sacola. Do outro lado um
sujeito ouvindo música. Os bancos todos ocupados. Lá na
frente uma mulher, segurando uma bolsinha e as mãos,
luvas. Fazia frio. Levantei-me e aproximei. Era como tivesse
com você, o mesmo perfume que sinto agora. Uma bela
mulher. Postei-me atrás. Ela me olhou assustada e desceu na
primeira parada. Desci também. Segui-a por mais ou menos
dois quilômetros. O mesmo timbre de voz. Não ria, mas
cheguei a gritar teu nome. Pensei: “Qualquer um se ouvisse o
nome gritado, em algum lugar, puro reflexo, olharia para
trás.” Somente depois lembrei que não usávamos os
verdadeiros e aí o susto teve efeito oposto. Ela entrou numa
rua gritando, atemorizada. Eu atrás, que criancice a minha.
Sabia que não podia quebrar o trato. Mas a curiosidade
mata. Só quando ela gritou por socorro eu me expliquei.
Queria só ver as mãos. Ela caiu na gargalhada e me perdoou
pelo susto. Fí-la tirar as luvas. Não eram as mesmas.

-Mas como teve certeza que não era eu, só pelas mãos?

-Não podia ser. Fechei os olhos, e assim pude ouvir as
batidas do coração. Não era o seu, tive certeza. Depois
agradeci, pois assim teria quebrado o juramento.

Ele levantou-se tateando e sentou-se perto dela.

-Você me perdoa? Juro que nunca mais faço isso.

Ela beijou-o nas mãos e falou:

- Comigo aconteceu diferente.

-Também?

-Sim! Escuta amor. Um belo dia entrou no mercado um
homem. Parecido com o perfil que tenho de você. Louro, alto,
mais ou menos um metro e setenta não tão alto como você
me falou, o perfume, pelo amor de Deus era idêntico. Senti-
me bem perto de ti. Segui-o pelas câmeras. Observei o andar,
o jeito como mexia as mãos, tudo enfim achava que era você.

Não tinha dúvida. Meu coração começou a palpitar. Fechei os
olhos curiosos. O mesmo cheiro. Fiquei olhando estupefata.
Quando foi pagar, fiz questão de olhar o nome no cartão de
crédito. Lembrei o mesmo que você. Usamos apelidos. Vi o
endereço, e não me questione, mas segui-o até o endereço.
Vi-o entrar numa casa simples, uma mulher o esperava e
dois filhos pequenos. Morri de ciúme, juro. Perguntei coisa
para ele na loja e me respondeu por sinais, pois fazia muito
barulho. Você não acredita. Bati na porta e ele me atendeu.
Ela sorriu displicente.

-O que aconteceu? Inquiriu ele.
-O que deseja? Ele me falou olhando nos meus olhos. -Não
pude deixar de rir.

-O que?

Ela gargalhando. -Ele era fanho, ela disse quase engasgando.
E riram ambos até caírem no chão, abraçados. Depois fez-se
silêncio.

Ela saiu tateando pela sala e chegou ao banheiro. Voltou
sem a venda. Aproximou-se dele.

-Me de sua mão, falou. Colocou sobre os seus olhos. Ele
assustou-se.

-Você esta sem a venda? E chorando? O que isso significa?
Ela falou emocionada:

- Para que jamais aconteça novamente, arranquei meus
olhos. Toma-os. E ele sentiu duas esferas gelatinosas em sua
mão. Agora estou completamente cega.

-Oh! Minha querida que loucura. E agora como fica?

-Você esqueceu que temos o Braile. Encontraremos-nos
sempre aqui. Depois se abraçaram longamente. “Que
loucura!”. Ele pensava. “Ela me ama verdadeiramente”.

-Não pedirei nada para você. Só não cairei novamente na
curiosidade. Amo você como imagino e ponto.




                           7




 Longos anos se passaram. Estavam no mesmo motel a
mesma hora de sempre. Viu quando ela partiu e tomou uma
súbita resolução.
-Siga aquele táxi, por favor. Passavam os postes, as luzes
brilhavam intensamente. Via sua amada, os cabelos longos
voando ao vento. No pensamento dela imagens de um sonho
distante, quando jovem num pequeno povoado. Ali à vida
corria lento, sob a luz prateada da lua, lugar comum de
qualquer novela dos grandes mestres, usei-a agora, pois esta
mesma brilha idêntica àquela, e no intuito exclusivo, de
valorizar este singelo conto, naquela noite morna do sertão.

Naquele povoado havia uma única rua que descia íngreme
ladeada por casinhas coloridas, uma de cada cor, e no final
abria-se numa praça dessas do interior, onde moçoilas e
rapazes circulavam á noitinha em sonhos e divagações. Nos
passeios os mais velhos dormiam esquecidos, em
espreguiçadeiras. Foi ali que fora ferida de morte por um
jovem. “Você não chega aos pés de quem imaginei”. Essa
frase muitos anos ecoou em sua mente. Jurara para si
mesmo que só apaixonaria por alguém que não desse tanta
importância as aparências.

Agora se sentia feliz. Enfim encontrara sua alma gêmea.

Desceu do táxi e esticou a vara que passara a usar depois de
cega. Tateou o meio fio e subiu as escadas do prédio.

Erosnaldo ficou estupefato. Esses anos todos morando no
mesmo prédio. Por isso as lembranças de seus sons eram os
mesmos. Jamais desconfiou disso. Viu-a entrar no
apartamento em frente ao seu. “Então era ela, a garota de
óculos, que subia todos os dias correndo, e dizia um oi
sumido, timidamente.” Teve vontade de empurrar aquela
porta e dizer que ela era linda que a amava de qualquer jeito.
Olhou pelo olho mágico e o que viu atordoou-o.

Marinês acariciava o rosto de um jovem e afagava-o como a
um amante. Ficou tonto como se fora acertado com algo na
nuca, a boca ficou seca, o mundo rodou em sua volta e num
gemido falou, “miserável, todos esses anos me traindo”, e
empurrou a porta no ímpeto louco, sacou uma arma e
disparou dois tiros.

Iam em direção ao jovem rapaz, mas ela a “traidora” se jogara
a frente num ímpeto louco. Dois acertaram no coração e ela
caíra sem um gemido. Quanto ao jovem, soube depois que era
seu filho.

Marinês não aguentou a curiosidade. Teve um filho em
segredo e como uma escultora, dava forma a sua arte, que
ainda não conhecia, mas que todas as manhãs desvendavam
um pequeno detalhe e que e em sua mente uma face era
finalmente desenhada. E sabia que no fim, descobriria o
rosto do seu verdadeiro amor. Por isso todos os dias,
acariciava o filho, imaginando Eros e sua verdadeira face.

Depois dessa historia é que compreendi porque ninguém
mais procurou os discos rígidos. A mulher jazia no
cemitério. O homem no manicômio. O filho, este vive vagando
por aí, sofrendo as amarguras de uma vida, que não pedira.

O que queria ser mesmo era um artista, mas por enquanto...




                         Fim



                Para falar com o autor:

              marinaldo5.0@hotmail.com

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  • 1. O mito do amor Marinaldo L Batista Seria possível amar alguém sem nunca ter-lhe visto? Se sim, encontrarem-se sem necessidades de ver-se? E manter esse romance aceso com todos os outros sentidos excluindo a visão? Sem as aparências? O amor dito espiritual resistirá às intempéries do tempo? Esquecer o físico, as carnes e partir para um amor maior que não fosse necessário a beleza (no sentido da palavra)e buscarmos o amor como fazem os cegos, pelos outros sentidos que não sejam os olhos? Onde ficaria a curiosidade humana? marinaldo l batista 26/01/2011
  • 2. Prólogo Sou como chamam por aqui um “biscateiro”. Não é nenhuma profissão nobre, diz-se de quem vive à toa, fazendo um bico ali outro acolá, levando a vida sem grandes sonhos. Sei soldar, pintar paredes, assentar piso, porta, dizem até que sirvo para assustar casa velha. Não sou feio, sou até simpático, é o que disseram e quando criança em mim fizeram “bilu bilu”, talvez por isso tenha grande pudor das partes íntimas. Tive algumas namoradas, algumas que se apaixonaram, outras que me iludiram, e fui vivendo assim jogado de léu em léu como pluma ao vento. Fiz curso de tudo que é tipo. Tipo corte e costura, corte de cabelo, desenho e pintura todos pelo correio, agora falo - meu verdadeiro sonho mesmo era ser artista. Quando lia uma história em quadrinhos diziam, ficava garatujando algum desenho ou encarnava os personagens e saía pelas vielas em busca de aventura que acabavam geralmente com alguns hematomas pelo corpo. “O que esse menino procura?” Dizia minha mãe. E foi assim, desde o início de minha vida num quarto qualquer, num lugarejo remoto, numa noite melancólica o céu nenhuma estrela, dissera minha mãe, jogado como célula fria num útero profundo. Não conheci meu pai. Ou quase. Hoje sou técnico em eletrônica e manutenção em computador formado num curso a distância. Foi nesses consertos que encontrei uma história. Estavam em dois discos rígidos imperfeitos que um homem trouxera para concertá-los. E como sempre sonhara em ser um escritor vi nesse material uma chance sem precedentes, pois a história parecia ser original, e aproveitando a oficina literária que fizera, pensei
  • 3. com meus botões: “ No mínimo serviria como exercício para no futuro quem sabe uma obra maior.”. Meses e meses tentava montar a história. Primeiro pensei em montar tudo na forma de novelas dos séculos XVII e XVIII dos quais sou fã incondicional. Como é difícil montar uma história com verossimilhança. Suei as “bicas” como dizem por aqui. Logo pensei em contá-la como fazia nossas antigas amas, ao fechar da cortina dos olhos no sono pueril, nos acalentando com sua voz suave e morna. Depois a coisa foi embolando e saiu assim meio parecido com textos de blogs tão na moda recentemente. Senti como montasse um velho computador. A arquitetura estava pronta, usei uma carcaça que já fora muito útil no passado, e era só escolher as peças e encaixá-las, colocando- as uma a uma no lugar mais pertinente, para no fim a geringonça ligar o leitor. Uma cena ali, um diálogo acolá, um perfil, umas reflexões. Os nomes são fictícios. Chega de preâmbulos. Vamos à história. Primeiro capítulo Num grande magazine, olhos acostumados espreitavam as câmeras. Era Marinês, puxando para cima do nariz os seus óculos de grau. Via quase tudo com os olhos de cão de guarda. Desconfiava de tudo e de todos vigiando os “amigos do alheio”. Era seu trabalho. Vigiar a tudo e todos evitando assim os roubos que assombrava. Consideraram as mulheres mais observadoras e perspicazes então Contrataram várias meninas. Estava ela ali única e exclusivamente para observar os outros nas compras e qualquer movimento suspeito avisar ao segurança para tomar as devidas providencias.
  • 4. Marinês sentada, sobre uma grossa almofada para aumentar seu tamanho. Desde os dez anos passou a usar sandálias altas, pois detestava sua altura. Não passava de um metro e meio. Lembrava-se dos tempos de escola onde apelidada de pintora de rodapé, pouca sombra e outras do mesmo gênero. Muita vez saíra “na mão” com meninas, como dizia “jamais levou desaforo para casa”. Seu ponto de observação era toda ala sul, e o estacionamento. Colocou os óculos, pois além de míope era estrábica. Era uma cabine com um grande monitor, dividido em imagens menores, oito ao todo onde se via quatro corredores e parte do estacionamento, que passavam crianças e adultos fazendo compra. Na parede da frente um quadro que olhava quando estava aturdida ou angustiada. “Traz-me saudades”, dizia. Era um bosque com árvores frondosas, o chão coberto por gramas de variadas cores devido ao impacto da luz. Na sombra, verde escuro, na luz, verde claro. Era manhã. Via-se pela brisa fria. No primeiro plano uma mulher tricotava na calma do lar. Tinha os cabelos presos em um coque, mas viam-se lhes que eram escuros. Debruçada em seu colo uma criança de olhos claros uma menina lânguida com olhar sonhador, sentindo-se protegida pelo olhar cândido da mãe. Ao fundo uma mesinha de madeira, sobre ela flores vermelhas. Um sonho. Volta à realidade. O local estava abarrotado, era feriado e parecia que o mundo viera às compras. Com um toque poderia dar zoom às imagens como fazem os diretores de cinema ou afastá-las para ter uma vista aérea. O microfone ficava ligado no sistema de som, e qualquer problema era só apertar o botão vermelho e numa voz de rodoviária dar o aviso: “Automóvel marca tal, placa MLB1442, favor retirá-lo, pois se encontra em lugar proibido” ou
  • 5. “Encontra-se no escritório uma garota de três anos mais ou menos com vestido branco de bolinha que encarecidamente pede a presença dos pais. Obrigada.” Após o aviso, colocava uma música cuja melodia dava aos clientes um anseio estranho, de gastar mais. Súbito um movimento suspeito no estacionamento. Ela Ver um casal num carro branco, chegar. Não descem. Dar um close na câmera. O homem é bonito, usa óculos escuros. A mulher um vestidinho de linho. Beijam-se. Mais um casal as compras. Olha no outro monitor. Ver no corredor um homem que pegara algo na vitrine. Avisa pelo rádio: - Indivíduo de camisa azul no quarto corredor. Rápido. Pegou algo. Claro que tenho certeza! Suspeito vai sair na porta lateral. Volta para o outro casal. A mulher faz um movimento suspeito. Põe a mão sobre a braguilha do homem. “Ah! Um daqueles casais! Que bom, por isso gosto do meu trabalho.” Dar close. Ele investe nos seios. Tira um que salta do vestido e suga com força. Depois se beijam demorado. - Um homem de azul? Grita pelo fone o segurança. -Sim! Colocou algo dentro da cueca. Ela pensa no carro e imagina o homem com o pênis duro no meio das pernas. A sombra das árvores cobre o vidro e atrapalha um pouco a visão. Regula a câmera. Procura outro ângulo. A mulher sorrir e parece olhar para os lados como se procurasse algo. “Não me ver aqui sua cretina, eu sim, tenho- os em minhas mãos.” Sente algo como um calor subir entre as pernas, o mesmo calor quando no ônibus encostaram-se nela. Naquele dia não conseguira se desvencilhar. Chegara à casa toda molhada.
  • 6. Agora estava em fogo, quase brasa. Voltou à cena. Aproximou devagar. A mulher desaparecera. Não! Agora via melhor. “Chupa o sorvete do bonitão, piranha”. Na outra tela o segurança aproximava-se da sua cabine. “Diabo, como esses pestes se perdem!” Com o dedo fecha a imagem tirando-lhe a luz. Abre a porta. -Mais uma, para você. Ela pega o microfone e avisa: -Atenção, atenção! Encontra-se na cabine quatro, uma criança, a Célia, uma linda menina de olhos azuis. Favor os pais pegá-la. Não se preocupem, estar bem, somente um pouco aflita. Obrigada. Em dois minutos um casal sobe em pânico em busca da pequena. Tudo como manda a regra, com documentos certificam-se serem os pais verdadeiros, agradecem e saem. Imediatamente Marinês move a tecla e ilumina a tela. A mulher já levantara o vestido até a cintura e cavalgava docemente o homem, ora lento ora mais rápido. -Ai que delícia! Gritou. Fora ouvida por todos no sistema de som. No início os clientes até não prestaram muito atenção. Pensavam ser mais uma propaganda de biscoitos. O homem levantou o vestido e apertava as nádegas. Batia. -Ai gostoso! Agora todos riram com a frase. Os caixas olhavam para os lados, para cima, sem entenderem nada. Agora no carro cavalgavam ligeiro. -Bota pra quebrar vagabundo! E via o carro todo se balançar na luxúria. O homem apertava os seios por baixo do tecido fino. Gritou ainda:
  • 7. - Os meus, querido! Os meus! Agora imagine vocês a cena. Todos lá embaixo pararam de comprar estupefato. Riam sem parar. Os velhos entre dentes, os jovens urravam, e uma freira persignava-se. O escândalo não foi maior porque o segurança notou o que acontecia, correu escada acima seguida por um rol de gente. Quando chegaram viram esse quadro: Marinês apalpava-se e dava tapa em sua própria bunda e gemia. De um pulo o segurança desligou o microfone e a câmera. Marinês vendo todo aquele povo olhando-a espantados desejou que o mundo acabasse ali, ou que um buraco se abrisse a seus pés e a engolisse. Pegou suas coisas, jogou dentro da bolsa e fugiu. 2 Subiu a escadaria do prédio de três andares no subúrbio correndo como fazia todos os dias, dizia que era para fortalecer as pernas e o coração. Ouviu os mesmos sons de todos os dias: as crianças chorarem, os sons das TVs, um galo cantar, barulho de panelas e quase se chocou com o vizinho da frente, que corria para chegar a tempo para o almoço. Era Erosnaldo mais conhecido por “Eros”. Não achou trabalho melhor para seu jeito. Trabalhava num call Center, órgãos criados nas grandes empresas no intuito exclusivo de ludibriar os clientes. Era conhecido no meio com o codinome de “voz de ouro”, pois tinha a voz quase semelhante ao Cid Moreira. Seu maior desejo era não aparecer, andava nas ruas se desviando das aglomerações, era tão tímido que qualquer coisa o corava e
  • 8. nessa hora dava vontade de esconder-se como fazem os avestruzes, quando assustados. Era assim que se sentia. Não por acaso uma mulher, sempre ligava as seis em ponto todos os dias nesses cinco anos que trabalhava, pura e exclusivamente para ouvir sua voz. Nunca teve namorada séria, sempre coisas passageiras como mesmo falava: “Um rolo”. Um dia, um dos colegas lhe pregara uma peça. As seis em ponto, todos já sabiam, ao toque do telefone, o tal colega aumentou os alto-falantes, e escutaram esse esdrúxulo diálogo. Nesse dia o telefone tocou alto. Com a voz poderosa ele atendeu: -Boa noite, em que posso servi-la? Idêntico a locutor de rádio. -Uma voz débil respondeu: “Sou eu amor. Fala novamente boa noite só para mim. Para seu pequenino amor. E a cada frase era uma gargalhada contida a muito custo nos biombos vizinhos. Sem desconfiar de nada ele, repetia: “Bo-a Noi-te! Em que posso servi-la?” Idêntico ao Cid Moreira, quando falava “Mister M, o mágico dos mágicos.”. -Em tudo amor. Quero te pegar no colo, te dar mil beijos depois ouvir essa voz maravilhosa murmurar: “Meu Amor”. Repete vai. -Não brinque comigo. Se os outros ouvirem vão pegar no meu pé e sou capaz de morrer. Era querido por todos. Há muito viera do interior, e logo notaram a tamanha timidez. Quando sorria prendia os lábios nos dentes e alguém de má fé o apelidara de “coelho”. Sempre só, na solidão do caminho, aprendera a se safar dos medos,
  • 9. dos fantasmas e monstros, muitas vezes encolhido no fundo da rede. Era Coelho pra cá, Coelho pra lá e o apelido pegou. E apelido é igual catinga de bunda, pode-se lavar o dia inteiro, mas o cheiro esse não sai. E ele aceitou o apelido contrariado como vai aceitando tudo na vida. O salário baixo a solidão e vive como ele mesmo fala: “Só ele e Deus”. O ambiente estava silencioso, somente no salão ouvia a voz no alto falante, e todos em surdina ouviam a mulher se declarar. Ela pedia ainda. -Fala meu nome mais uma vez, vai. E ele: - Se alguém me ouvir eu me mato. E será sua culpa. Fazia silencio. Impostava a voz e dizia lento, com gosto: - Meu amor. E nesse momento todos caíam na gargalhada. -Mais uma vez vai meu pitititinho! Falava ela e pela voz parecia fazer biquinho. E ele repetiu: “Meu amor, minha flor!” Foi quando ouviu um reboliço atrás de si. Voltou-se e viu toda repartição em alvoroço e os olhos pareciam estrelas que choravam, mas de riso. Um colega fazia biquinho nos lábio e repetia gargalhando: - Pi-ti-ti-tinho! E fazia uma mímica feminina. Ele ficou pálido, começou tremer, queria falar a voz não saia, foi ficando vermelho, a respiração ofegava, a tez foi perdendo a cor, as mãos tremeram-lhe e a voz, a grande voz ficou muda, tirou os fones, levantou-se e saiu. No outro dia pediu a conta e desapareceu. 3
  • 10. Marinês tinha uma vida sedentária. Sentada o dia inteiro em frente às câmeras, e a noite não saia do computador. Por isso subia sempre correndo as escadas, isto lhe deixava um pouco aliviada. Sonhava encontrar alguém que pudesse contar seus anseios e sonhos. Mas sabia que a realidade era dura e até aqui tinha sido cruel com ela. Era como se diz, ausente de beleza. Aquela beleza de carnes e de músculos das academias. Aqui pergunto? O que é o feio? Para mim feio é morrer de fome, roubar, mentir. Além do que como os ditos populares: para cada pé torto existe um sapato velho ou não existem pessoas feias e sim pessoas sem imaginação. Quando passou pelo corredor escuro ouviu os sons de todos os dias, sons de televisão e choro de crianças. Tirou a calça chutando-a num canto e de tênis e calcinha jogou-se sobre a cama. Que vergonha sentiu todo aquele povo olhando-a como estivesse fazendo algo muito feio e horroroso, verdade que foi se perguntava agora mais calma, como pode esquecer o microfone ligado? Enfiou a mão na calcinha e sentiu-a úmida. Entrou no banheiro e ficou embaixo do chuveiro sentindo as gotas quentes escorrer na pele, ensaboando-se longamente e chorando. Lembrou-se de tempos felizes, quando morava num pequeno sítio, os pais lavradores plantavam para sobrevivência. Teve que sair para conseguir algo na vida como fazia todos dali trabalhava em casas de família, em subempregos e às vezes até se prostituíam. Quando achou esse trabalho deu graças a Deus. Morava só. Sabia do olhar do patrão para ela, ou de alguns colegas de trabalho, mas nunca lhes dera bola. Sabia o que eles queriam, ou melhor, o que todos os homens queriam. Enxugou-se tomou um copo de leite gelado alguns biscoitos e
  • 11. ligou o computador. Com muita dificuldade conseguira comprá-lo nas casas Bahia. Dividiu em 24 vezes no crediário. Entrou na mesma sala de bate papo com o mesmo apelido de sempre. Era uma mulher carinhosa podia até não parecer, mas se queimava por dentro. Olhava na tela brilhante o cursor piscar e a barra de rolagem subir. Colocou uma música suave e ficou vendo as estrelas pela janela enquanto um cachorro latia sem parar e uma criança começara novamente a chorar. Iniciou o diálogo: Carinhosa entra na sala... Lobo mal fala para Carinhosa: oi amor “Esse é um cretino, pensou”. Carinhosa fala para lobo mal: oi CORAÇÃO.romântico fala para bia: tcs de onde lobo mal fala para Carinhosa: quantos anos? Carinhosa fala para lobo mal: Chuta... dezza fala para Ksado 34a SP Z/L: oi lobo mal fala para Carinhosa: 14 aninhos? “Talvez um pedófilo, o filho da puta.” gatinhp cam fala para Carinhosa: Se mostre para mim! “Outro cretino e imbecil, fala pelos cotovelos.” Carinhosa fala para gatinhp cam: Não tenho. gatinhp cam fala para Carinhosa: Como estais vestida? lobo mal fala para Carinhosa: vc tem avó? Carinhosa fala para lobo mal: Tenho sim por quê? lobo mal fala para Carinhosa: quero devorar-te! Comer-te todinha... “Outro safado. No mínimo casado com cinco filhos o puto.”
  • 12. Eros entra na sala... Eros fala para todos: Boa noite. ludymylla fala para ++RODRIGO++: ata Erosfala para todos: Oi! Quem Quer companhia para comer pipoca sentindo nos pés descalços a areia do mar? “Ai! É esse. Um poeta.” Carinhosa fala para Sedutor: Ah! Aceito e com queijo. Eros fala para Carinhosa: Tira as sandálias então. Sorri docemente. Pensou “Eu sem sandálias sou uma anã.” perseguidos 27 sai da sala... RAUL--ABC-SP sai da sala... lobo mal fala para Carinhosa: vc não responde? Carinhosa fala para lobo mal: Morri para vc... JP DELICIA fala para Aninh@: oi tudo bom vc tc de onde cowboy fala para Carinhosa: Deixa eu te domar minha potranca. “Um machão... Não me interessa.” Carinhosa fala para cowboy: procure uma égua... Gostoso cam entra na sala... gata do mar fala para Carinhosa: Curte mulher? Carinhosa fala para gata do mar: Só minha mãe... amizade para valer fala para VIVI: estas a fim de uma nova amizade Gato Z/S MSN fala para Carinhosa: Faz carinho em mim... chayane]] fala para marcelo 22 cam: oiiiiiiiiiiiiiiiiiiii Polaco entra na sala... Ránie sai da sala... LINDO SP sai da sala... gata do mar fala para bello-sp: vc ta online? VIVI fala para gatinho sp: SIM
  • 13. Eros reservadamente fala para Carinhosa: Vamos sair desta sala. Passa-me teu MSN que entro em contato. Trocam MSN. Eros sai da sala... Carinhosa sai da sala... Com certeza os deuses da mitologia, foram criados das imaginações loucas e pueris dos sonhos humanos e os semideuses cópias fiéis de todas as aspirações dos mesmos sentimentos. Mania de grandeza, ambição, amor e ódio. Tudo isso me fez exclamar um dia achando-me inspirado: “Oh! Deus, porque nos criastes tão dependentes! Não basta só o livre arbítrio! Depois mais resignado: “A vida é assim mesmo, no final a morte.” E assim nossos personagens se conheceram. 4 Outro dia no MSN: Marinês fala: -Pesquisando no Wikipédia, seu nome descobri uma história muito interessante sobre. Eros fala: O que minha princesa? -Que Eros, é o Deus do amor e se casou com Psiquê, uma bela mortal, com a condição de que ela nunca pudesse ver o seu rosto. Afrodite mãe de Eros enciumada com a beleza estonteante de Psiquê pede ao filho que lance suas setas para ela apaixonar- se por um monstro. Mas a seta atingiu-o. E ele ficou perdidamente apaixonado por ela. Assim se casaram e viviam felizes num grande castelo. As irmãs queriam visitá-la e
  • 14. Eros resistia e, ante sua insistência, advertiu-a para a alma invejosa das mulheres. Induzida pelas irmãs, invejosas não resistiu. Disseram ter ouvido falar que ela havia se casado com uma monstruosa serpente que a estava alimentando para depois devorá-la, então lhe sugeriram que, à noite, quando este adormecesse, tomasse de uma lâmpada e uma faca: com uma iluminaria o seu rosto; com a outra, se fosse mesmo um monstro, o mataria. -E o que aconteceu minha flor? -Encantada com tamanha beleza, deixou cair sobre ele uma gota de cera acordando-o. Percebendo que fora traído, Eros enlouquece, e foge, gritando repetidamente: -O amor não sobrevive sem confiança! Depois para conseguir a confiança novamente teve que fazer vários trabalhos quase impossíveis que ela fez e Eros a perdoou. Não é lindo meu bem? -Muito. -Você percebeu as coincidências? -Quais meu bem? “Eu não sou nenhum deus grego”. -Parece com nossa história. E Psiquê não rima com Marinês? Pois então. Há dois anos nos conhecemos sei todos os seus gostos, mas ainda não nos vimos. Não é chegada a hora afinal? -Sim. Só queria uma promessa sua. Não uma promessa, uma jura. -Pode falar amor. “Se ele soubesse que fiz cada coisa bisonha, como por exemplo: apostar comigo mesmo, que atravessaria a rua em 5 segundos se não perderia uma perna ou no meio de um sonho saber que aquilo não era real, que era só um sonho”.
  • 15. -Porque não seguimos esse mito tão lindo. O que é a aparência? O mais importante não é a alma? -Exatamente. É no que mais acredito. -Então, façamos essa jura nós dois. Topas? -Tanto topo que a partir de hoje não pergunto como tu és, não quero saber nada do teu físico. -Farei o mesmo. O que penso de ti vem da alma, do coração e assim nosso amor será eterno pelo simples fato: A alma é eterna. -Beijos, beijos e beijos amor. Oh! Como sou feliz! -Te amo. 5 O amor é sublime, mas o sexo tem pressa. Exige tocar, cheirar, ouvir, ver e sentir. Depois dessas juras, três meses depois marcaram um encontro num motel de uma pequena cidade. Simples mais confortável. Ela chegaria e depois de instalada, e vendada ligaria para ele indicando o endereço. Respeitando o trato, não poderiam ver-se. Dois anos haviam se passado e cada um sabia do outro os gostos, até as futilidades: Marinês gostava de dormir no lado esquerdo da cama, ler romances e broa de fubá. Erosnaldo gostava do flamengo, ler poesia e pão doce. Mas pouco ou nada sabiam como eram fisicamente. Ela dele conhecia a voz. E por esse detalhe procurava desenhar-lhe o resto. Mas como esse detalhe é enganoso. Quem nunca se
  • 16. surpreendeu com alguém, pequeno, raquítica até, com uma voz de tenor? Ou ao contrário uma pessoa forte, vigorosa com voz de sopranos? Pairava sempre a incerteza. São essas coisas que existem na natureza inexplicáveis ou talvez explícitas demais. Os defeitos são divididos. A perfeição não é desse mundo. Ela tinha dele a seguinte ficha que passaram pelo MSN: Louro, alto mais ou menos um metro e oitenta, dentes hígidos e brancos, sereno e sólido, arguto e inteligente. Já ele tinha dela o seguinte perfil: Morena, cabelos longos, pernas torneadas, olhos de ressaca(nunca entendi esse olhar), mãos longas e finas unhas arredondadas. Um olhar original. Dela ele conhecia a mão. “Todos correm em busca da felicidade, adquirindo coisas materiais, mas acredito profundamente que esta não se compra é coisa do espírito.” Pensava ela. No quarto vendados estavam agora, como cegos. Os outros sentidos aguçados. Sentiram-se num mundo estranho e ao mesmo tempo excitante, um mundo sem luz, onde podia agora ouvir o leve revoar dos cabelos, uma gota de chuva explodir numa folha, os silvos vastos dos pássaros e ainda no toque sentir os poros, a malha fina da pele. Ela sentiu adentrar todo o perfume, o cheiro de bicho no cio, a respiração ofegar, as mãos tocarem, a voz, e como fazem os cegos foram se aproximando. A mão fria suspeitou-o mais baixo, os cabelos dela são curtos, a voz é romântica, o toque macio, o repicar do coração. Abraçaram-se, apalparam-se, sentiram os lábios num beijo meigo e violento. Depois ela empurrou-o, o que ele vai pensar de mim, se entregar no primeiro encontro, depois ele novamente, não fuja todos os meus sentidos tão amplos, sem a luz dos olhos, a imaginação é mais colorida.
  • 17. Medo de se mostrarem como eram? O amor seria mais forte do que as aparências? Por segundos cogitaram olharem-se. “Não, não quero saber, pensaram juntos. Construí para mim um príncipe e esse príncipe é você, que tenho agora e sinto o perfume, teu cheiro que é bom, o calor dos teus lábios, tua força comprimindo minhas coxas, teu sabor, tua voz, tua pele quente e macia, um rosto só meu, um nariz, um cabelo um corpo. O que importa, é o que criei de ti e você criou de mim, e nesses corpos os quais, jamais iremos ver, sopramos nossas almas, apaixonadas até a eternidade, livre das aparências e de todos os preconceitos que ela traz. Assim sou feliz e assim seremos para sempre.” Foram se despindo, ela o vestido, ajudou-o com o um leve movimento dos quadris. Ao mesmo tempo em que ela tirava dele o cinto, e ouviu o tilintar da fivela no chão, o roçar de suas pernas, os segredos entre pelos. Era como assistir um teatro de olhos fechados. Era o mundo dos sons, dos cheiros e do tato. Para a platéia o cenário seria como uma tela escura e os personagens invisíveis, não obstante muita emoção seguida dos outros sentidos, pele cheiro, gemidos e excitação. Os cegos não vêm às coisas concretas, abrem-se outras janelas mais amplas: da imaginação e dos sonhos. Agora imagineis vós, toda a cena. Beijos, peles, coxas, músculos, membros, movimentos... Todos nós buscamos imagens que ficaram guardadas em algum canto de nossas mentes. Imagens criadas ou vistas por nós em algum momento de nossas vidas. Aproveitem. Não vou descrevê-las. Deixo para vossas imaginações. Não me decepcionem. Só uma pergunta me fica se me permitem fazer agora: Como serão as imagens dos cegos se eles não possuem nenhum parâmetro. Seriam brancas como uma folha ou escura como a noite?
  • 18. Só sei que para eles o orgasmo foi múltiplo, amplo e multicor. 6 Houve muito outros encontros. Nenhum deixou a desejar. Mas como tudo na vida há um “quê” para atrapalhar. Como aquele poeta que tinha uma pedra no caminho. Para eles a pedra era a curiosidade, essa serpente venenosa que arma o bote lentamente. Foi quando numa noite de amor naquela hora que se acende um cigarro para os fumantes ou caem-se em devaneios mil, e reflexões tomam nossos pensamentos, ele contou rindo: - Você não vai acreditar, mas acho que estou ficando louco. -O que? Conta. -Você jura que não vai me censurar? Que não vai ri de mim? -Claro que não amor, conta. E ele continuou: -Um dia no metrô senti teu perfume. Juro! Naquele momento fechei os olhos para ter certeza. Idêntico. Olhei e via a minha frente um senhor levando uma sacola. Do outro lado um sujeito ouvindo música. Os bancos todos ocupados. Lá na frente uma mulher, segurando uma bolsinha e as mãos, luvas. Fazia frio. Levantei-me e aproximei. Era como tivesse com você, o mesmo perfume que sinto agora. Uma bela mulher. Postei-me atrás. Ela me olhou assustada e desceu na primeira parada. Desci também. Segui-a por mais ou menos dois quilômetros. O mesmo timbre de voz. Não ria, mas cheguei a gritar teu nome. Pensei: “Qualquer um se ouvisse o nome gritado, em algum lugar, puro reflexo, olharia para trás.” Somente depois lembrei que não usávamos os verdadeiros e aí o susto teve efeito oposto. Ela entrou numa rua gritando, atemorizada. Eu atrás, que criancice a minha.
  • 19. Sabia que não podia quebrar o trato. Mas a curiosidade mata. Só quando ela gritou por socorro eu me expliquei. Queria só ver as mãos. Ela caiu na gargalhada e me perdoou pelo susto. Fí-la tirar as luvas. Não eram as mesmas. -Mas como teve certeza que não era eu, só pelas mãos? -Não podia ser. Fechei os olhos, e assim pude ouvir as batidas do coração. Não era o seu, tive certeza. Depois agradeci, pois assim teria quebrado o juramento. Ele levantou-se tateando e sentou-se perto dela. -Você me perdoa? Juro que nunca mais faço isso. Ela beijou-o nas mãos e falou: - Comigo aconteceu diferente. -Também? -Sim! Escuta amor. Um belo dia entrou no mercado um homem. Parecido com o perfil que tenho de você. Louro, alto, mais ou menos um metro e setenta não tão alto como você me falou, o perfume, pelo amor de Deus era idêntico. Senti- me bem perto de ti. Segui-o pelas câmeras. Observei o andar, o jeito como mexia as mãos, tudo enfim achava que era você. Não tinha dúvida. Meu coração começou a palpitar. Fechei os olhos curiosos. O mesmo cheiro. Fiquei olhando estupefata. Quando foi pagar, fiz questão de olhar o nome no cartão de crédito. Lembrei o mesmo que você. Usamos apelidos. Vi o endereço, e não me questione, mas segui-o até o endereço. Vi-o entrar numa casa simples, uma mulher o esperava e dois filhos pequenos. Morri de ciúme, juro. Perguntei coisa para ele na loja e me respondeu por sinais, pois fazia muito barulho. Você não acredita. Bati na porta e ele me atendeu. Ela sorriu displicente. -O que aconteceu? Inquiriu ele.
  • 20. -O que deseja? Ele me falou olhando nos meus olhos. -Não pude deixar de rir. -O que? Ela gargalhando. -Ele era fanho, ela disse quase engasgando. E riram ambos até caírem no chão, abraçados. Depois fez-se silêncio. Ela saiu tateando pela sala e chegou ao banheiro. Voltou sem a venda. Aproximou-se dele. -Me de sua mão, falou. Colocou sobre os seus olhos. Ele assustou-se. -Você esta sem a venda? E chorando? O que isso significa? Ela falou emocionada: - Para que jamais aconteça novamente, arranquei meus olhos. Toma-os. E ele sentiu duas esferas gelatinosas em sua mão. Agora estou completamente cega. -Oh! Minha querida que loucura. E agora como fica? -Você esqueceu que temos o Braile. Encontraremos-nos sempre aqui. Depois se abraçaram longamente. “Que loucura!”. Ele pensava. “Ela me ama verdadeiramente”. -Não pedirei nada para você. Só não cairei novamente na curiosidade. Amo você como imagino e ponto. 7 Longos anos se passaram. Estavam no mesmo motel a mesma hora de sempre. Viu quando ela partiu e tomou uma súbita resolução.
  • 21. -Siga aquele táxi, por favor. Passavam os postes, as luzes brilhavam intensamente. Via sua amada, os cabelos longos voando ao vento. No pensamento dela imagens de um sonho distante, quando jovem num pequeno povoado. Ali à vida corria lento, sob a luz prateada da lua, lugar comum de qualquer novela dos grandes mestres, usei-a agora, pois esta mesma brilha idêntica àquela, e no intuito exclusivo, de valorizar este singelo conto, naquela noite morna do sertão. Naquele povoado havia uma única rua que descia íngreme ladeada por casinhas coloridas, uma de cada cor, e no final abria-se numa praça dessas do interior, onde moçoilas e rapazes circulavam á noitinha em sonhos e divagações. Nos passeios os mais velhos dormiam esquecidos, em espreguiçadeiras. Foi ali que fora ferida de morte por um jovem. “Você não chega aos pés de quem imaginei”. Essa frase muitos anos ecoou em sua mente. Jurara para si mesmo que só apaixonaria por alguém que não desse tanta importância as aparências. Agora se sentia feliz. Enfim encontrara sua alma gêmea. Desceu do táxi e esticou a vara que passara a usar depois de cega. Tateou o meio fio e subiu as escadas do prédio. Erosnaldo ficou estupefato. Esses anos todos morando no mesmo prédio. Por isso as lembranças de seus sons eram os mesmos. Jamais desconfiou disso. Viu-a entrar no apartamento em frente ao seu. “Então era ela, a garota de óculos, que subia todos os dias correndo, e dizia um oi sumido, timidamente.” Teve vontade de empurrar aquela porta e dizer que ela era linda que a amava de qualquer jeito. Olhou pelo olho mágico e o que viu atordoou-o. Marinês acariciava o rosto de um jovem e afagava-o como a um amante. Ficou tonto como se fora acertado com algo na nuca, a boca ficou seca, o mundo rodou em sua volta e num gemido falou, “miserável, todos esses anos me traindo”, e
  • 22. empurrou a porta no ímpeto louco, sacou uma arma e disparou dois tiros. Iam em direção ao jovem rapaz, mas ela a “traidora” se jogara a frente num ímpeto louco. Dois acertaram no coração e ela caíra sem um gemido. Quanto ao jovem, soube depois que era seu filho. Marinês não aguentou a curiosidade. Teve um filho em segredo e como uma escultora, dava forma a sua arte, que ainda não conhecia, mas que todas as manhãs desvendavam um pequeno detalhe e que e em sua mente uma face era finalmente desenhada. E sabia que no fim, descobriria o rosto do seu verdadeiro amor. Por isso todos os dias, acariciava o filho, imaginando Eros e sua verdadeira face. Depois dessa historia é que compreendi porque ninguém mais procurou os discos rígidos. A mulher jazia no cemitério. O homem no manicômio. O filho, este vive vagando por aí, sofrendo as amarguras de uma vida, que não pedira. O que queria ser mesmo era um artista, mas por enquanto... Fim Para falar com o autor: marinaldo5.0@hotmail.com