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Unidade 1 - Parte 2
Mecanismos de mercado:
Demanda, Oferta e Equilíbrio
Na unidade anterior, estudamos o conceito de Econo-
mia, suas áreas de estudo, o problema da escassez, a necessi-
dade de fazer escolhas e a maneira simplificada que funcio-
na a Economia através da análise do fluxo circular da renda.
Esse primeiro contato com a Economia nos mostrou que o seu
funcionamento gira em torno dos mercados. Mas existe uma
história de “faça qualquer pergunta a um economista e ele
pensará em mercados”. Com razão, pois eles estão por toda
parte. Veja alguns exemplos:
A volkswagen no topo do pódio
A montadora bate recordes de venda e se torna a maior fabri-
cante de caminhões do País, depois de 50 anos de domínio da Mer-
cedes-Benz. No ano de ouro da indústria automobilística brasileira,
os veículos comerciais se tornaram o pedaço mais vigoroso desse
mercado [...] No ano passado, a Volkswagen Ônibus e Caminhões
roubou de sua principal concorrente, a conterrânea Mercedes-Benz,
o posto de maior fabricante de caminhões acima de cinco toneladas
do País. [...] A participação de mercado da empresa rondava os 15%.
Hoje, encontra-se em 30,5%. (ISTO É DINHEIRO, 01/FEV/2008)
Renata Ferreira
36
Mercado de trabalho nos EUA perde 17 mil vagas
Resultado realimenta temores de recessão no país [...]
(FOLHA DE S. PAULO, 02/fev/2008)
Campeonato Paulista (Boleiros)
E finalmente o futebol está de volta! [...] O hábito ancestral
e hereditário de ir direto aos cadernos de Esportes todas as ma-
nhãs se desenvolveu e se transformou numa espécie de maníaca
investigação do que estaria perdido nas entrelinhas e implícito
no espaço entre os parágrafos [...] Em primeiro lugar, checamos
o dia a dia do nosso time para depois espiar o que ocorre com
os concorrentes. É uma espécie de prazer sutil e doce, princi-
palmente quando o mercado está agitado e as novidades não
cessam de espocar. (O ESTADO DE S. PAULO, 17/jan/2008)
A Invasão dos Homens da Bolsa
Empresas do mercado financeiro apostam na profis-
sionalização do mercado da moda e compram algumas das
principais grifes brasileiras. O grande zunzum do São Paulo
Fashion Week teve como protagonistas homens acostumados
a desfilar de terno e gravata pelo mercado financeiro que de-
cidiram ir às compras. De grifes, bem entendido [...] Apesar
de ainda desorganizado, o mercado da moda tem visibilidade
e espaço para se expandir. O consumo interno não pára de
crescer [...] (VEJA, 30/JAN/2008)
Moda, futebol, música, alimentos, revistas, veículos,
imóveis, finanças, câmbio, saúde, educação, transporte, etc.,
são todos mercados, cujas flutuações são resultados da inte-
ração dos compradores e produtores. “É tudo uma questão de
oferta e demanda”. Você já deve ter ouvido isso muitas vezes,
Mecanismosdemercado:
demanda,ofertaeequilíbrio
37
mesmo sem perceber. Esses são conceitos presentes no nosso
dia a dia, mas você sabe o que eles realmente significam? Esse
é o objetivo desta unidade: desvendar os mistérios da oferta
e demanda. Vamos lá?
2.1
A Microeconomia
Na unidade anterior estudamos que a Microeconomia
preocupa-se com o comportamento dos agentes econômicos
(consumidores, empresas e governo). A Microeconomia tem
algumas características:
▪▪ Visão global: Ela não foca sua análise em uma empresa
específica, como a Administração de Empresas, e sim
no mercado no qual essa empresa está inserida.
▪▪ É parcial: para analisar um mercado isoladamente,
considera que todos os outros mercados e variáveis
são constantes. Em Economia usa-se a expressão ori-
ginária do latim coeteris paribus, que significa “tudo
o mais permanecendo constante”. Quando utilizada,
indica que, ao considerarmos a influência de uma vari-
ável sobre a outra, as demais variáveis que poderiam
interferir na análise permanecem inalteradas.
A Microeconomia também é chamada de Teoria dos
Preços porque são os preços que coordenam as decisões dos
agentes econômicos no mercado.
38
2.2
Entendendo os Mercados: Uma
Introdução
Para iniciar precisamos conceituar mercado. Original-
mente, mercado significava um local onde os bens e servi-
ços são comercializados. Mas com a evolução das formas de
comercialização, mercado tornou-se um termo abstrato, sem
necessariamente uma referência geográfica. Atualmente, po-
demos conceituar mercado como a interação entre comprado-
res e vendedores de um produto ou serviço.
Definem a
DEMANDA
Definem a
OFERTA
COMPRADORES VENDEDORES
MERCADO
Mas quem são esses compradores e vendedores?
Quando pensamos em vendedores, imaginamos empresas.
Na maioria dos casos são as firmas que fornecem grande
parte dos bens e serviços produzidos em uma economia, mas,
em alguns mercados, os vendedores são as pessoas, como,
por exemplo, o mercado de carros usados e o mercado de tra-
balho, no qual são as pessoas que “vendem” sua mão de obra
para as empresas. O mesmo ocorre com o outro lado, quando
pensamos em compradores, imaginamos pessoas, que são as
Mecanismosdemercado:
demanda,ofertaeequilíbrio
39
principais consumidoras de bens e serviços, mas as empresas
também são consumidoras de serviços (como, por exemplo,
segurança, serviços contábeis, etc.) e de fatores de produção
(matérias-primas, mão de obra). O governo também é con-
sumidor de bens e serviços. Com isso, a primeira lição para
entendermos o funcionamento de um mercado é identificar
quem são seus compradores e seus vendedores.
Depois, precisamos definir a área geográfica em que os
compradores e vendedores se localizam. Mesmo que um mer-
cado não tenha uma referência geográfica é preciso fazer um
corte espacial para analisarmos um mercado. Por exemplo, o
mercado brasileiro de automóveis tem características e neces-
sidades diferentes do mercado europeu.
Uma terceira lição é compreendermos como vários
fatores interferem no comportamento dos consumidores e
vendedores. Isso descobriremos a seguir:
2.3
A Demanda
A Demanda pode ser definida como a quantidade de
um bem ou serviço que os consumidores estão dispostos e
seriam capazes de adquirir a cada nível de preços, em deter-
minado período de tempo.
Estar disposto à
envolve escolha
Ser capaz de
envolve
orçamento/renda
40
A demanda representa o máximo que os consumido-
res podem aspirar, dada sua renda e os preços no mercado
(VASCONCELLOS, 2002, p. 49). Demanda é, portanto, dife-
rente de compra. “Demandar significa estar disposto a com-
prar, ao passo que comprar é efetuar realmente a aquisição. A
demanda reflete uma intenção, um desejo, enquanto a com-
pra constitui uma ação” (MOCHÒN, 2006, p. 21).
Existem vários fatores que interferem no comporta-
mento da demanda. O preço do próprio bem é o principal
deles. É através da relação entre preço e quantidade deman-
dada que se estabelece a Lei Geral da Procura, a qual revela
que existe uma relação inversa entre a quantidade deman-
dada e seu preço. Ou seja, a quantidade demandada aumenta
com a queda no preço e diminui com a elevação (conside-
rando ceteris paribus).
Isso faz sentido. Quanto mais elevado for o preço de
um produto, menores quantidades o consumidor está dis-
posto a adquirir; porém, quando o preço sofre reduções, os
consumidores aspiram por quantidades cada vez maiores.
Como exemplo, consideremos a demanda mensal de
uma família por sucos de laranja. A tabela a seguir ilustra as
quantidades demandadas de suco a cada preço:
Preço do litro de
suco de laranja
Unidades mensais
consumidas (Litros)
A R$ 2,00 40
B R$ 2,50 30
C R$ 3,00 20
D R$ 3,50 10
Mecanismosdemercado:
demanda,ofertaeequilíbrio
41
Construindo o gráfico, temos:
R$ 4,00
R$ 3,50
R$ 3,00
R$ 2,50
R$ 2,00
R$ 1,50
R$ 1,00
R$ 0,50
R$ 0,00
10 20 30 40
A
B
C
D
CURVA DE DEMANDA
Quantidade mensal de suco de laranja
Preçodolitrodelaranja
A curva de demanda é decrescente da esquerda para
a direita e nada mais é do que a representação gráfica da Lei
da Demanda.
Cabe destacar que o termo Demanda é usado para se
referir a toda a curva, e não apenas a um ponto dela. Quando
nos referimos a um ponto da curva usamos a expressão
“quantidade demandada”. Mudanças nos preços provocam
alterações na quantidade demandada, já que ocorre o deslo-
camento ao longo da curva de demanda.
Dentro do nosso exemplo, quando o preço sobe de
R$2,00 para R$3,00 o litro, a família deixa de consumir 40
litros e passa a consumir 20 litros mensais de suco de laranja,
passando do ponto D para o ponto B na curva de demanda.
Comportamento da Curva de Demanda
Por que a curva de demanda é decrescente?
De acordo com Alfred Marshall (economista inglês,
autor do livro Princípios de Economia, de 1890), o compor-
tamento da demanda está baseado no Princípio da Utilidade
42
Marginal Decrescente, princípio segundo o qual quantidades
a mais que forem consumidas de um bem irão gerar cada vez
menos utilidade. Estranho, né?
Vamos explicar melhor.
A utilidade é um fator subjetivo que representa a satis-
fação gerada pelo consumo de bens econômicos. Os consu-
midores fazem uma avaliação dos bens e serviços, definem
sua utilidade e estabelecem o preço máximo que estão dis-
postos a pagar pela aquisição desses bens. Assim, cada ponto
na curva de demanda supõe que o consumidor está maximi-
zando sua utilidade ou satisfação.
Para entender a utilidade marginal decrescente, vale
lembrar a antiga história do copo de água. Inicialmente, como
a sede é grande, esse copo de água traz uma satisfação ele-
vada. Quanto mais água for consumida, maior será a satis-
fação total (a utilidade total é crescente), mas à medida que a
sede é saciada, o próximo copo passa a trazer uma utilidade
cada vez menor. Como a utilidade marginal (ou suplementar)
representa a utilidade que o consumidor obtém ao consumir
uma unidade adicional de um bem, ela diminui à medida que
se consome mais e mais. Em decorrência disso, quanto mais
saciados estiverem os consumidores, menor deve ser o preço
do produto para induzir um consumo maior.
Isso ajuda a explicar, por exemplo, porque os lançamen-
tos (as novidades) têm sempre um preço elevado: como os con-
sumidores não estão saciados, pelo contrário, estão ávidos por
consumir, o preço é elevado. À medida que o consumo vai
se pulverizando, a saciedade aumenta, a utilidade marginal
decresce e, portanto, a tendência é a de que os preços caiam.
A relação inversa entre preço e quantidade também é
explicada por outros dois fatos:
Mecanismosdemercado:
demanda,ofertaeequilíbrio
43
▪▪ Efeito-substituição: Quando o preço de um bem
aumenta, alguns consumidores que antes o adquiriam,
deixarão de fazê-lo ou comprarão quantidades meno-
res, passando a procurar outros bens para substitui-
-lo. Um exemplo é o mercado turístico. Quando o preço
das diárias dos hotéis aumenta, os turistas passam a
procurar pousadas, chalés, casas de campo, etc.
▪▪ Efeito-renda: Considerando que a renda do consumi-
dor permaneça a mesma, se o preço de um produto
aumentar, os consumidores demandarão menos quan-
tidade do produto porque têm a sensação de que o seu
poder aquisitivo diminuiu.
Exceções à Lei da Demanda
Existem algumas exceções à Lei Geral da Demanda.
São elas:
▪▪ Bem de Giffen: Bem cuja curva de demanda é positi-
vamente inclinada (ascendente), ou seja, um bem cuja
demanda aumenta quando o seu preço sobe e dimi-
nui quando o seu preço desce. Geralmente, são bens de
baixo valor, mas de grande importância no orçamento
dos consumidores de baixa renda. Essa forma de com-
portamento foi verificada por Robert Giffen ao obser-
var que as famílias mais pobres compravam mais pão à
medida que o seu preço aumentava. Embora mais caro,
o pão ainda é um produto barato, o que faz com que
os consumidores deixem de comprar outros produtos
(mais caros) para comprar mais pão.
▪▪ Bens de Veblen: São bens de consumo ostentatório
(obras de arte, carros de luxo, tapeçarias, joias, etc.)
44
para os quais a procura tende a aumentar simultane-
amente à elevação de seus preços, já que o objetivo do
consumidor ao comprá-los é mostrar que possui um
grande poder aquisitivo (dá prestígo social). Thorstein
Bunde Veblen, economista que observou esse fenô-
meno em sua principal obra intitulada Teoria da Classe
Ociosa, definiu o conceito de “consumo conspícuo”, que
é o dispêndio feito em finalidade de demonstração de
condição social, manifestando-se através da compra de
artigos de luxo e quaisquer gastos ostentatórios.
Demanda de Mercado
A demanda de mercado é a soma das demandas indi-
viduais por um bem ou serviço em uma determinada econo-
mia. Exemplo: Imagine que numa economia só existam três
consumidores e que suas demandas individuais de chocola-
tes por semana sejam representadas na tabela abaixo. A de-
manda de mercado será a soma das quantidades procuradas
dos três consumidores.
Preço
Unidade
Quantidade de Chocolates Demanda
do MercadoHuguinho Zezinho Luisinho
R$ 2,50 2 3 1 6
R$ 2,00 3 5 2 10
R$ 1,50 4 7 3 14
R$ 1,00 5 9 4 18
Fatores que Afetam a Demanda de um Bem ou Serviço
Além do preço do próprio bem, existem outros fatores
que interferem na demanda por um bem ou serviço, como a
renda e as preferências do consumidor, o tamanho do mercado
Mecanismosdemercado:
demanda,ofertaeequilíbrio
45
e o preço dos bens relacionados - substitutos e complementares.
Esses fatores provocam deslocamentos da curva de demanda.
Toda mudança que aumente a quantidade demandada
de um bem ou serviço a dado preço, desloca a curva para a
direita. Nesta situação, dizemos que ocorreu um aumento da
demanda. Na situação inversa, toda mudança que reduza a
quantidade demandada de um bem ou serviço a um dado
preço, desloca a curva de demanda para a esquerda, ou seja,
provoca uma diminuição da demanda. Para facilitar, tudo
que afete a demanda que não seja o preço do próprio bem,
desloca a curva inteira.
Preço
D D1D2
Quantidade
Diminuição
da demanda
Aumento da
demanda
a.	 Renda do Consumidor:
Quando ocorre um aumento na renda dos consumido-
res, esses podem consumir mais de todos os bens, qualquer
que seja o preço, provocando um deslocamento da curva de
demanda para a direita. Ao contrário, quando a renda dos
consumidores sofre uma queda, espera-se que as pessoas
desejem consumir uma quantidade menor para cada preço,
deslocando a curva de demanda para a esquerda. Alguns
exemplos ocorridos na economia brasileira:
46
Renda do brasileiro cresceu 10,2% entre 2005 e 2006,
revela BNDES (Agência Brasil, 06/dez/2007)
Otimista com a economia, classe média planeja con-
sumir mais em 2008. Segundo estudo da TNS InterScience
realizado em novembro de 2007 na cidade de São Paulo, as
expectativas de consumo para 2008 são bem melhores que no
ano anterior [...] De acordo com a pesquisa, 52% dos entrevis-
tados de classe média já sentiram que seu poder de compra
aumentou em 2007, e 65% acreditam que vai continuar me-
lhorando em 2008. O mesmo movimento ocorre em relação
à baixa renda: 47% avaliaram que 2007 foi melhor que o ano
anterior e 53% acreditam que a tendência é melhorar ainda
mais neste ano. (CIDADE BIZ: Economia, Marketing e Negó-
cios, 30/jan/2008).
Porém, isso não ocorre com todos os bens, o que nos permite
classificá-los em:
▪▪ Bens normais: bens cuja quantidade demandada
aumenta quando se eleva a renda.
▪▪ Bens inferiores: bens cuja quantidade demandada
diminui quando se eleva a renda. Exemplo: Transporte
coletivo, Carne de segunda (sua demanda reduz
quando o indivíduo aumenta seus ganhos, pois ele
passa a consumir mais carne de primeira).
b.	 Preços dos outros bens relacionados:
Alterações no preço de um bem também podem afetar
a demanda de outros bens relacionados a ele. Para compreen-
dermos esse efeito, é preciso classificar os bens em:
▪▪ Substitutos: São bens que satisfazem a mesma neces-
sidade para o consumidor. Apresentam relação direta
Mecanismosdemercado:
demanda,ofertaeequilíbrio
47
entre o preço de um bem e a quantidade demandada de
seus bens substitutos, ou seja, o aumento do preço de
um bem provoca uma elevação na demanda de outro
bem. Ex.: carne e frango, manteiga e margarina, café
e chá. Consideremos a manteiga e a margarina como
substitutos. Se o preço da manteiga sofrer uma ele-
vação, as pessoas terão menos interesse em consumir
manteiga e procurarão um substituto, aumentando a
demanda por margarina. A demanda de margarina foi
afetada pelo preço da manteiga (é um mercado interfe-
rindo no outro).
▪▪ Complementares: São bens que se complementam para
a satisfação de uma mesma necessidade. Existe uma
relação inversa entre o preço do bem x e a quantidade
demandada do bem y, ou seja, o aumento do preço de
um bem reduz a demanda do outro bem. Ex.: lapiseira
e grafite, carro e combustível, impressoras e cartuchos
de tinta, xampu e condicionador, etc. Peguemos como
exemplo as impressoras e cartuchos de tinta. Se os car-
tuchos de tinta de um certo modelo tiverem seus preços
aumentados, os consumidores procurarão um modelo
de impressora que tenha um cartucho com preço mais
acessível, assim um aumento no preço dos cartuchos
diminui a demanda por impressoras jato de tinta.
c.	 Gostos ou Preferências do Consumidor:
A preferência do consumidor talvez seja o fator mais
evidente na demanda, pois, em geral, só demandamos o que
gostamos. Como os gostos se modificam ao longo do tempo,
alterações na preferência do consumidor impulsionam ou re-
traem a demanda de um bem. Fatores, como qualidade, tec-
nologia, campanhas publicitárias e moda podem ser funda-
mentais para a escolha de um bem ou serviço. Se os gostos se
alterarem no sentido de se desejar consumir mais de um bem,
48
a demanda se deslocará para a direita e, se os gostos forem
afetados negativamente, a demanda diminuirá, deslocando
sua curva para a esquerda.
d.	 Outros fatores:
Além dos fatores citados, existem outros que afetam a
demanda de um bem. Um deles é o tamanho do mercado. Por
exemplo, se a população de uma região aumenta, o tamanho
do mercado consumidor aumenta e, portanto, a demanda de
alguns bens se deslocará para a direita. Outro fator é a ex-
pectativa em relação ao futuro. Assim, se uma pessoa acre-
dita que seus rendimentos serão maiores no futuro, tende a
consumir mais desde hoje, aumentando a demanda dos bens;
já se uma pessoa acredita que o preço de determinado bem
irá subir em algumas semanas, tende a aumentar o consumo
desse bem hoje para se antecipar ao aumento.
Vimos que vários fatores podem afetar a demanda de
um bem. O quadro a seguir apresenta um resumo:
RESUMO: Principais fatores que afetam a demanda
Fator Mudanças do Fator Efeito sobre a demanda
Movimento ao longo da curva:
Preço do próprio bem Aumento do preço
Redução no preço
Reduz a qualidade
demandada
Aumenta a quantidade
demandada
Deslocamento da curva de demanda:
Renda do consumidor
Bem normal
Bem inferior
Renda Aumenta
Renda diminui
Renda Aumenta
Renda diminui
Aumento (curva para direita)
Queda (curva para esquerda)
Queda
Aumento
Mecanismosdemercado:
demanda,ofertaeequilíbrio
49
Preço dos substitutos
(P – S)
P – S aumenta
P – S diminui
Aumento
Queda
Preço do complemen-
tar (P – C)
P – C aumenta
P – C diminui
Queda
Aumento
Preferências/Gosto Estimulam o gosto
pelo bem
Desestímulo ao
gosto pelo bem
Aumento
Queda
Tamanho do mercado Tamanho aumenta
Tamanho diminui
Aumento
Queda
2.4
A Oferta
Oferta pode ser definida como a quantidade de um
bem ou serviço que os produtores estão dispostos e aptos
a oferecer a cada faixa de preços, em determinado período
de tempo (BOYES e MELVIN, 2006, p. 41). Cabe ressaltar
que ofertar é diferente de vender. “Ofertar é ter a intenção
ou estar disposto a vender, enquanto que vender é fazê-lo de
fato. A oferta mostra as intenções de venda dos produtores”
(MOCHÒN, 2006, p. 27).
Assim como na Demanda, o principal fator que inter-
fere na oferta é o preço do próprio bem. A relação entre preço
e quantidade ofertada define a Lei da Oferta, a qual estabelece
que existe uma relação positiva entre quantidade ofertada e
seu preço. Ou seja, quando o preço do bem aumenta, a pro-
dução e a venda desse bem se tornam mais lucrativas, e, por
isso, os produtores tendem a produzir mais desse bem, aumen-
tando a quantidade ofertada (considerando ceteris paribus).
Como exemplo, consideremos a oferta de uma empresa
de bonés. A tabela a seguir ilustra as quantidades ofertadas
semanalmente a cada preço:
50
Preço unitário
Unidades semanais
ofertadas
A R$ 15,00 75
B R$ 20,00 100
C R$ 25,00 125
D R$ 30,00 150
Construindo o gráfico, temos:
R$ 35,00
R$ 30,00
R$ 25,00
R$ 20,00
R$ 15,00
R$ 10,00
R$ 5,00
R$ 0,00
75 100 125 150
A
B
C
D
CURVA DE OFERTA
Quantidades ofertadas semanalmente
PreçoUnitário
A curva de oferta é crescente da esquerda para a direi-
ta. Isso nada mais é do que a representação gráfica da Lei da
Oferta. Cabe ressaltar que quando nos referimos a um ponto
da curva, usamos a expressão quantidade ofertada. Mudanças
nos preços provocam alterações nas quantidades ofertadas, já
que ocorre o deslocamento ao longo da curva de oferta. Den-
tro do nosso exemplo, quando o preço sobe de R$15,00 para
R$20,00, a empresa lucraria mais vendendo ao preço maior,
portanto, a tendência é ofertar mais. Desse modo, a quantidade
ofertada passa de 75 para 100 unidades, ocorrendo um movi-
mento ao longo da curva de oferta do ponto A para o B.
Mecanismosdemercado:
demanda,ofertaeequilíbrio
51
A Oferta de Mercado
A oferta de mercado é a soma das ofertas individuais de
todos os produtores de um bem e serviço a cada nível de preço
e em determinado período de tempo. Exemplo: Em uma cida-
de existem apenas três produtores de leite e suas ofertas indi-
viduais em litros por semana estão representadas na tabela a
seguir. Indique a oferta de mercado e represente graficamente
as quantidades ofertadas de cada produtor e do mercado.
Preço
Quantidade de litros Oferta do
MercadoEmpresa A Empresa B Empresa C
R$ 1,30 2000 4000 3000 9000
R$ 1,40 3000 8000 5000 16000
R$ 1,50 4000 12000 7000 23000
R$ 1,60 5000 16000 9000 30000
Fatores que Afetam a Oferta de um Bem ou Serviço
Além do preço do próprio bem, existem outros fatores
que interferem na oferta de um bem ou serviço, como a tecno-
logia, os custos de produção, a lucratividade dos outros bens
relacionados, o número de produtores. Estes fatores provo-
cam deslocamentos da curva de oferta.
Quando os vendedores optam por vender mais a um
determinado preço, a curva de oferta se desloca para direita – há
aumento da oferta. Quando escolhem vender menos a determi-
nado preço, a curva de oferta se desloca para a esquerda – ocorre
diminuição da oferta (HALL e LIEBERMAN, 2003, p. 73).
52
Preço
O O1
O2
Quantidade
Diminuição
da oferta
Aumento da
oferta
As diferentes variáveis que afetam a oferta merecem uma
descrição mais detalhada:
a.	 Custo dos fatores de produção:
As quantidades ofertadas de bem ou serviço depen-
dem, acima de tudo, do custo de produção. Esses dependem
do preço pago pela utilização dos fatores de produção. Redu-
ções nos preços dos fatores de produção (exemplo, redução
nos níveis salariais, nos preços das matérias-primas, etc.),
reduzem os custos dos produtores, tornam a produção mais
lucrativa, estimulando a expansão da oferta. Já um encareci-
mento nos preços dos fatores de produção aumenta os custos,
torna a produção menos lucrativa e reduz a oferta.
b.	 Tecnologia:
Qualquer melhora da tecnologia permite produzir a
custos menores, estimulando a produção e elevando a oferta
(a curva se deslocaria para a direita). Exemplo: a descoberta
de um novo fertilizante pode aumentar a produtividade na
agricultura, aumentando a oferta dos produtos beneficiados
pela inovação tecnológica. Porém, avanços tecnológicos que
aumentem os custos, tendem a reduzir a oferta de um bem,
deslocando a curva para a esquerda.
c.	 Lucratividade dos outros bens:
Mecanismosdemercado:
demanda,ofertaeequilíbrio
53
A oferta de um produto pode ser afetada pela variação
na lucratividade dos outros produtos que sejam substitutos
ou complementares na produção.
▪▪ Bens Substitutos: bens substitutos na produção são
bens que poderiam ser produzidos com aproxima-
damente os mesmos recursos. Muitas firmas podem
mudar sua produção com relativa facilidade entre
diferentes bens e serviços, desde que todos requei-
ram, mais ou menos, os mesmos insumos de produção.
Nesse caso, existe uma relação inversa entre o preço de
um bem e a quantidade ofertada de seus bens substi-
tutos, ou seja, o aumento do preço do bem x diminui
a quantidade ofertada do bem y. Exemplo: uma clí-
nica estética pode facilmente reduzir a oferta de tra-
tamento para acne e aumentar a oferta de tratamento
para rugas, se esse se apresentar mais lucrativo.
▪▪ Bens Complementares: bens complementares na pro-
dução são aqueles que apresentam alteração na pro-
dução em função de variações de preço de outro bem.
Apresentam relação direta entre o preço de um bem
e a quantidade ofertada de seus bens complementa-
res, ou seja, o aumento do preço do bem x aumenta a
quantidade ofertada do bem y. Ex.: carne e couro - se
aumentar o preço da carne, tornado-a mais lucrativa,
provoca um aumento nos abates e aumenta a oferta de
carne e, por decorrência, aumenta a oferta de couro,
deslocando sua curva de oferta de couro para a direita.
Assim, o mercado de couro foi afetado pelo aumento
no preço da carne.
d.	 Outros fatores:
Além dos fatores citados, existem outros que afetam
a oferta. O número de empresas ofertantes é um deles. Um
54
aumento no número de produtores provoca, consequente-
mente, um aumento na oferta, deslocando a curva para a
direita. Outro fator a ser considerado apenas para alguns bens
e serviços é o clima. No caso de produtos agrícolas e pecuários,
o clima é um fator relevante. Por exemplo, uma geada pode
reduzir a oferta de um bem. Também temos que considerar
as expectativas dos produtores. Um exemplo oportuno, citado
por Passos e Nogami (2003, p. 89), é o de um criador de gado:
se ele acredita que no futuro ocorrerá um aumento no preço
da carne, é provável que retenha o fornecimento atual de gado
para o abate a fim de aproveitar preços mais altos posterior-
mente, provocando uma redução na oferta atual de carne.
O quadro a seguir apresenta um resumo dos fatores que
afetam a oferta:
RESUMO: Principais fatores que afetam a oferta
Fator Mudanças do Fator Efeito sobre a oferta
Movimento ao longo da curva:
Preço do próprio bem Aumento do preço
Redução no preço
Aumenta a quantidade
ofertada
Reduz a quantidade
ofertada
Deslocamento da curva de demanda:
Tecnologia Mais eficiência,
menor custo
Menos eficiência,
maior custo
Aumenta
Queda
Lucratividade dos
produtos substitutos
na produção (P – S)
P – S aumenta
P – S diminui
Queda
Aumenta
Lucratividade dos
produtos conjuntos na
produção (P – C)
P – Cj aumenta
P – Cj diminui
Aumenta
Queda
Custo dos fatores de
produção (P – I)
Custo aumenta
Custo diminui
Queda
Aumenta
Número de firmas Número aumenta
Número diminui
Aumento
Queda
Mecanismosdemercado:
demanda,ofertaeequilíbrio
55
2.5
Equilíbrio de Mercado
Quando analisamos conjuntamente as decisões e o com-
portamento de consumidores e produtores com seus respecti-
vos planos de consumo e produção, podemos entender como se
estabelece o preço e a quantidade que equilibram um mercado,
além de compreender situações que deslocam o equilíbrio.
Para analisar a determinação do preço e da quantidade
de equilíbrio de um mercado, basta desenhar em um mesmo
gráfico as curvas de oferta e demanda.
P
PE
QE
O
E
D
Q
E = Ponto de Equilíbrio
Qe = Quantidade de Equilíbrio
Pe = Preço de equilibrio
O ponto de equilíbrio é dado pela intersecção das cur-
vas de demanda e de oferta. Esse ponto é único, as quanti-
dades que os compradores desejam comprar (quantidade
demandada) é exatamente igual à quantidade que os produ-
tores desejam vender (quantidade ofertada), não há excesso
de demanda ou de oferta.
56
Uma observação importante é que nossa análise de
mercado está voltada para os mercados competitivos - aque-
les em que existem muitos compradores e muitos vendedores
-, de tal forma que nenhum deles individualmente consegue
exercer influência significativa sobre os preços e as quantida-
des de mercado. Nesse mercado, quem determina o equilíbrio
entre oferta e demanda não são os consumidores nem os pro-
dutores, é o próprio mercado. Existem outras formas de orga-
nização dos mercados, com mais concentração, com produtos
diferenciados, etc. Mas vamos deixar esse assunto para outra
unidade, por enquanto só nos interessa saber que nosso mo-
delo de oferta e demanda pressupõe um mercado competitivo.
Determinação do Equilíbrio:
Podemos determinar matematicamente o equilíbrio.
Exemplo:
▪▪ Imagine que a função de demanda de um mercado seja:
Qd = 10 – 2P
Qo = 2 + 2P
e a função de oferta seja:
Calcule o preço e a quantidade de equilíbrio.
No ponto de equilíbrio, como a oferta é igual à deman-
da, só precisamos igualar as duas funções.
Mecanismosdemercado:
demanda,ofertaeequilíbrio
57
Qo = Qd
2 + 2P = 10 – 2
4P = 8
P = 8/4
Po
= R$ 2
Qo
= Qd
2 + 2P = 10 – 2P
Substituindo o preço de equilíbrio em uma das fun-
ções, determinamos a quantidade de equilíbrio.
Na demanda
Qd
= 10 – 2P
Qd
= 10 – 2(2)
Qd
= 10 – 4
Qe
= 6
Na oferta
Qo
= 2 + 2P
Qo
= 2 + 2(2)
Qo
= 2 + 4
Qo
= 6
O mercado não funciona sempre em equilíbrio. Por
isso é importante analisarmos outros pontos fora do ponto de
equilíbrio. Vamos utilizar outro exemplo. A tabela abaixo nos
mostra a escala de demanda e de oferta mensais de camisas a
cada nível de preço.
Preço
(R$/camisa)
Quantidade
demandada
camisa/mês
Quantidade
ofertada
camisa/mês
Excesso de
Oferta (+)
Excesso de
Demanda (–)
Pressão sobre
o Preço
80,00 2.000 8.000 + 6.000 Redução ( )
70,00 3.000 7.000 + 4.000 Redução ( )
60,00 4.000 6.000 + 2.000 Redução ( )
50,00 5.000 5.000 0 Nenhuma
40,00 6.000 4.000 – 2.000 Elevação ( )
30,00 7.000 3.000 – 4.000 Elevação ( )
58
P
QE = 500
Excesso de Oferta
Excesso de Demanda
PE = 50
O
E
D
Q
O preço de equilíbrio, o qual iguala as quantidades de-
mandada e ofertada, é R$50,00. A quantidade de equilíbrio
é 5.000 camisas mensais. A esse preço, não há escassez nem
excesso de produto. Para qualquer preço diferente de R$50,00
existirão diferenças entre a oferta e a demanda, gerando ex-
cesso ou escassez de produto.
Excesso de Oferta:
Aos preços de R$80,00, R$70,00 e R$60,00 a oferta
de camisas é maior do que a demanda, surgindo um exce-
dente de camisas no mercado. Esse excedente é chamado de
“Excesso de Oferta”.
Esse excesso faz com que os fabricantes fiquem com
mercadoria encalhada, aumentando os estoques. Com a
intenção de realizar alguma receita e eliminar o excesso de
mercadoria, os produtores passam a vender o seu produto
a preços mais baixos. Essa redução de preços faz com que
aumente a quantidade demandada (deslocamento ao longo
da curva de demanda) de camisas, ao passo que a quantidade
ofertada se reduz (deslocamento ao longo da curva de oferta).
A redução nos preços continuará até atingir o
nível de R$50,00, quando a quantidade de camisas que os
Mecanismosdemercado:
demanda,ofertaeequilíbrio
59
consumidores estarão dispostos a adquirir será exatamente
igual à quantidade de camisas que os produtores estarão dis-
postos a oferecer no mercado (ou seja, ocorrerá uma pressão
sobre os preços até que esse atinja o equilíbrio).
Excesso de Demanda:
Aos preços de R$40,00 e R$30,00 a demanda é maior do
que a oferta de camisas, surgindo uma escassez de camisas
no mercado. Isso ocorre porque a esse preço tão baixo poucos
serão os produtores dispostos ou em condições de produzir o
bem. Essa escassez é chamada de Excesso de Demanda.
Esse excesso de demanda faz com que os consumido-
res disputem entre si as camisas disponíveis no mercado e,
com isso, o preço começa a se elevar. Essa elevação de pre-
ços faz com que diminua a quantidade demandada (desloca-
mento ao longo da curva de demanda) de camisas, ao passo
que a quantidade ofertada se amplia (deslocamento ao longo
da curva de oferta), reduzindo o excesso de demanda.
A elevação nos preços continuará até atingir o nível
de R$50,00, quando a quantidade de camisas que os consu-
midores estarão dispostos a adquirir será exatamente igual à
quantidade de camisas que os produtores estarão dispostos
a oferecer no mercado (ou seja, da mesma forma que ocorre
com o excesso de oferta, o excesso de demanda provoca uma
pressão sobre os preços até que esse atinja o equilíbrio).
Podemos concluir que mesmo ocorrendo um desvio
temporário entre o preço praticado e o preço de equilíbrio,
esse último tende a ser alcançado naturalmente através da
interação entre as forças da oferta e da demanda, sem que
haja intervenção de nenhum agente externo (ex.: governo).
Assim, o equilíbrio é uma situação na qual não há forças
60
inerentes que estimulem uma mudança, por isso a tendência
é a de que o preço se estabilize nesse patamar, sem pressão
para variações. Cabe ressaltar que mudanças podem aconte-
cer apenas como resultado de fatores exógenos que alterem a
demanda e/ou a oferta e, portanto, deslocariam o equilíbrio.
Isso veremos a seguir.
Quando as coisas mudam
Se qualquer uma das variáveis que afetam a demanda
ou a oferta mudar, uma das curvas se deslocará e o equilíbrio
do mercado também mudará. Conhecer a teoria da oferta e
da demanda faz com que muitos desses efeitos sejam previsí-
veis. Vamos analisar alguns deles:
a.	 Movimentos da Demanda
Consideremos que um mercado está na situação de
equilíbrio (no gráfico abaixo, o equilíbrio inicial E1). Se ocor-
rer, por exemplo, um aumento na renda da população, as pes-
soas poderão comprar mais do bem a dado preço, deslocando
a curva de demanda para a direita (de D1 para D2).
Se for mantido o preço inicial (PE1) teremos uma
demanda maior do que a oferta (a quantidade demandada
será Qx e a ofertada QE1), caracterizando excesso de demanda.
Isso pressionará os preços para cima e, portanto,
o equilíbrio se alterará para E2, com preço e quantidade
superiores à situação inicial.
Mecanismosdemercado:
demanda,ofertaeequilíbrio
61
P
QE1
PE1
PE2
QE2 QEX
O
E2
E1
D2
D1
Q
Situações semelhantes ocorrem com uma elevação no
preço de um bem substituto, redução no preço de um bem com-
plementar, aumento na preferência do consumidor, entre outros.
No caso de fatores que reduzam a demanda, teríamos
o movimento inverso. Considere o mercado de óleo de soja.
Uma redução no preço de um bem substituto, por exemplo,
do óleo de milho, faria com que as pessoas comprassem mais
óleo de milho e reduzissem a demanda por óleo de soja, des-
locando a curva de demanda de D2 para D1. Isso gera, tem-
porariamente, um excesso de oferta, visto que os produtores
estão oferecendo a quantidade inicial de óleo de soja e os con-
sumidores passaram a desejar menores quantidades. A ten-
dência é que os preços caiam gradativamente para eliminar o
excesso de oferta até que o novo equilíbrio seja atingido (pas-
sará de E2 para E1), com preço e quantidades menores que a
situação inicial.
b.	 Movimentos da Oferta
Mudanças no custo dos fatores de produção, na quan-
tidade de produtores, na tecnologia e na lucratividade dos
outros bens relacionados, deslocarão a oferta, afetando, con-
sequentemente, o equilíbrio do mercado. Consideremos que
um mercado está na situação de equilíbrio (no gráfico abaixo,
62
o equilíbrio inicial E1). Se ocorrer, por exemplo, uma redução
no custo de produção, a lucratividade da empresa por unida-
de produzida aumentará, o que tende a aumentar a oferta,
deslocando sua curva para a direita, passando de O1 para O2.
Ao antigo preço de equilíbrio (PE1) passa a existir excesso de
oferta, já que os produtores passaram a produzir mais, mas
os consumidores permanecem desejando consumir a mesma
quantidade. O excesso de oferta pressiona o preço para baixo
até que o novo equilíbrio seja alcançado (E2) com um preço
menor e uma quantidade maior.
P
QE1
PE2
PE1
QE2
01
02
E2
E1
D
Q
No caso de fatores que reduzam a oferta, teríamos o
movimento inverso. Por exemplo, uma geada destrói a plan-
tação de milho. A oferta do produto sofreria uma redução,
deslocando a curva para a esquerda (de O2 para O1). Ao
antigo preço passa a existir um excesso de demanda, visto
que os consumidores desejam adquirir a mesma quantidade
de milho, mas os produtores não possuem essa quantidade
para ofertar. Ocorrerá uma pressão para a elevação do preço
até que o novo equilíbrio seja atingido (E1) com preço supe-
rior e a quantidade menor que a situação inicial.
Esses são apenas alguns exemplos. Com essa
Mecanismosdemercado:
demanda,ofertaeequilíbrio
63
abordagem, podemos explicar o movimento dos preços de
diversos mercados. Você é capaz de usá-la para descrever situ-
ações do nosso cotidiano, como, por exemplo: para descrever
porque os celulares e as TVs de LCD inicialmente apresenta-
ram um preço elevado e hoje são mais acessíveis ou porque
no verão os imóveis do litoral apresentam um aluguel mais
elevado ou, ainda, porque o comércio é aquecido na época do
Natal, entre outros. Imagine uma situação e tente explicá-la
usando as ferramentas da oferta e da demanda.
Você já sabe traçar tendências sobre o comportamento
dos preços, mas não temos ferramentas suficientes para
dimensionar o tamanho das mudanças. Sabemos que pela
Lei da Demanda um aumento do preço provoca uma redução
na quantidade demandada, mas de quanto é essa redução?
Será uma redução pequena ou expressiva? Para conseguir-
mos responder esse tipo de indagação, precisamos conhecer
mais uma ferramenta: a elasticidade. Assunto para nossa pró-
xima unidade. Nos encontramos lá!!
Referência
BOYES, W.; MELVIN, M. Introdução à Economia. São Paulo:
Ática, 2006.
HALL, R. E.; LIEBERMAN, M. Microeconomia: princípios e
aplicações. São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2003.
MANKIW, G. N. Introdução à Economia: princípios de mi-
cro e macroeconomia. 2. ed. Rio de Janeiro: Campus, 2001.
MOCHÓN, F. Economia: teoria e política. 5. ed. São Paulo:
Mc Graw Hill, 2006.
64
PASSOS, C. R. M.; NOGAMI, O. Princípios de Economia. 4.
ed. São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2003.
MONTORO FILHO, A. F. Teoria Elementar do Funciona-
mento do Mercado. In: PINHO, D. B.; VASCONCELLOS, M.
A. S. (org.) Manual de Economia. Equipe de Professores da
USP. 5. ed. São Paulo: Saraiva, 2005. p. 133-159.
VASCONCELLOS, M. A. S.; GARCIA, M. E. Fundamentos
de Economia. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2004.

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  • 1. Unidade 1 - Parte 2 Mecanismos de mercado: Demanda, Oferta e Equilíbrio
  • 2. Na unidade anterior, estudamos o conceito de Econo- mia, suas áreas de estudo, o problema da escassez, a necessi- dade de fazer escolhas e a maneira simplificada que funcio- na a Economia através da análise do fluxo circular da renda. Esse primeiro contato com a Economia nos mostrou que o seu funcionamento gira em torno dos mercados. Mas existe uma história de “faça qualquer pergunta a um economista e ele pensará em mercados”. Com razão, pois eles estão por toda parte. Veja alguns exemplos: A volkswagen no topo do pódio A montadora bate recordes de venda e se torna a maior fabri- cante de caminhões do País, depois de 50 anos de domínio da Mer- cedes-Benz. No ano de ouro da indústria automobilística brasileira, os veículos comerciais se tornaram o pedaço mais vigoroso desse mercado [...] No ano passado, a Volkswagen Ônibus e Caminhões roubou de sua principal concorrente, a conterrânea Mercedes-Benz, o posto de maior fabricante de caminhões acima de cinco toneladas do País. [...] A participação de mercado da empresa rondava os 15%. Hoje, encontra-se em 30,5%. (ISTO É DINHEIRO, 01/FEV/2008) Renata Ferreira
  • 3. 36 Mercado de trabalho nos EUA perde 17 mil vagas Resultado realimenta temores de recessão no país [...] (FOLHA DE S. PAULO, 02/fev/2008) Campeonato Paulista (Boleiros) E finalmente o futebol está de volta! [...] O hábito ancestral e hereditário de ir direto aos cadernos de Esportes todas as ma- nhãs se desenvolveu e se transformou numa espécie de maníaca investigação do que estaria perdido nas entrelinhas e implícito no espaço entre os parágrafos [...] Em primeiro lugar, checamos o dia a dia do nosso time para depois espiar o que ocorre com os concorrentes. É uma espécie de prazer sutil e doce, princi- palmente quando o mercado está agitado e as novidades não cessam de espocar. (O ESTADO DE S. PAULO, 17/jan/2008) A Invasão dos Homens da Bolsa Empresas do mercado financeiro apostam na profis- sionalização do mercado da moda e compram algumas das principais grifes brasileiras. O grande zunzum do São Paulo Fashion Week teve como protagonistas homens acostumados a desfilar de terno e gravata pelo mercado financeiro que de- cidiram ir às compras. De grifes, bem entendido [...] Apesar de ainda desorganizado, o mercado da moda tem visibilidade e espaço para se expandir. O consumo interno não pára de crescer [...] (VEJA, 30/JAN/2008) Moda, futebol, música, alimentos, revistas, veículos, imóveis, finanças, câmbio, saúde, educação, transporte, etc., são todos mercados, cujas flutuações são resultados da inte- ração dos compradores e produtores. “É tudo uma questão de oferta e demanda”. Você já deve ter ouvido isso muitas vezes,
  • 4. Mecanismosdemercado: demanda,ofertaeequilíbrio 37 mesmo sem perceber. Esses são conceitos presentes no nosso dia a dia, mas você sabe o que eles realmente significam? Esse é o objetivo desta unidade: desvendar os mistérios da oferta e demanda. Vamos lá? 2.1 A Microeconomia Na unidade anterior estudamos que a Microeconomia preocupa-se com o comportamento dos agentes econômicos (consumidores, empresas e governo). A Microeconomia tem algumas características: ▪▪ Visão global: Ela não foca sua análise em uma empresa específica, como a Administração de Empresas, e sim no mercado no qual essa empresa está inserida. ▪▪ É parcial: para analisar um mercado isoladamente, considera que todos os outros mercados e variáveis são constantes. Em Economia usa-se a expressão ori- ginária do latim coeteris paribus, que significa “tudo o mais permanecendo constante”. Quando utilizada, indica que, ao considerarmos a influência de uma vari- ável sobre a outra, as demais variáveis que poderiam interferir na análise permanecem inalteradas. A Microeconomia também é chamada de Teoria dos Preços porque são os preços que coordenam as decisões dos agentes econômicos no mercado.
  • 5. 38 2.2 Entendendo os Mercados: Uma Introdução Para iniciar precisamos conceituar mercado. Original- mente, mercado significava um local onde os bens e servi- ços são comercializados. Mas com a evolução das formas de comercialização, mercado tornou-se um termo abstrato, sem necessariamente uma referência geográfica. Atualmente, po- demos conceituar mercado como a interação entre comprado- res e vendedores de um produto ou serviço. Definem a DEMANDA Definem a OFERTA COMPRADORES VENDEDORES MERCADO Mas quem são esses compradores e vendedores? Quando pensamos em vendedores, imaginamos empresas. Na maioria dos casos são as firmas que fornecem grande parte dos bens e serviços produzidos em uma economia, mas, em alguns mercados, os vendedores são as pessoas, como, por exemplo, o mercado de carros usados e o mercado de tra- balho, no qual são as pessoas que “vendem” sua mão de obra para as empresas. O mesmo ocorre com o outro lado, quando pensamos em compradores, imaginamos pessoas, que são as
  • 6. Mecanismosdemercado: demanda,ofertaeequilíbrio 39 principais consumidoras de bens e serviços, mas as empresas também são consumidoras de serviços (como, por exemplo, segurança, serviços contábeis, etc.) e de fatores de produção (matérias-primas, mão de obra). O governo também é con- sumidor de bens e serviços. Com isso, a primeira lição para entendermos o funcionamento de um mercado é identificar quem são seus compradores e seus vendedores. Depois, precisamos definir a área geográfica em que os compradores e vendedores se localizam. Mesmo que um mer- cado não tenha uma referência geográfica é preciso fazer um corte espacial para analisarmos um mercado. Por exemplo, o mercado brasileiro de automóveis tem características e neces- sidades diferentes do mercado europeu. Uma terceira lição é compreendermos como vários fatores interferem no comportamento dos consumidores e vendedores. Isso descobriremos a seguir: 2.3 A Demanda A Demanda pode ser definida como a quantidade de um bem ou serviço que os consumidores estão dispostos e seriam capazes de adquirir a cada nível de preços, em deter- minado período de tempo. Estar disposto à envolve escolha Ser capaz de envolve orçamento/renda
  • 7. 40 A demanda representa o máximo que os consumido- res podem aspirar, dada sua renda e os preços no mercado (VASCONCELLOS, 2002, p. 49). Demanda é, portanto, dife- rente de compra. “Demandar significa estar disposto a com- prar, ao passo que comprar é efetuar realmente a aquisição. A demanda reflete uma intenção, um desejo, enquanto a com- pra constitui uma ação” (MOCHÒN, 2006, p. 21). Existem vários fatores que interferem no comporta- mento da demanda. O preço do próprio bem é o principal deles. É através da relação entre preço e quantidade deman- dada que se estabelece a Lei Geral da Procura, a qual revela que existe uma relação inversa entre a quantidade deman- dada e seu preço. Ou seja, a quantidade demandada aumenta com a queda no preço e diminui com a elevação (conside- rando ceteris paribus). Isso faz sentido. Quanto mais elevado for o preço de um produto, menores quantidades o consumidor está dis- posto a adquirir; porém, quando o preço sofre reduções, os consumidores aspiram por quantidades cada vez maiores. Como exemplo, consideremos a demanda mensal de uma família por sucos de laranja. A tabela a seguir ilustra as quantidades demandadas de suco a cada preço: Preço do litro de suco de laranja Unidades mensais consumidas (Litros) A R$ 2,00 40 B R$ 2,50 30 C R$ 3,00 20 D R$ 3,50 10
  • 8. Mecanismosdemercado: demanda,ofertaeequilíbrio 41 Construindo o gráfico, temos: R$ 4,00 R$ 3,50 R$ 3,00 R$ 2,50 R$ 2,00 R$ 1,50 R$ 1,00 R$ 0,50 R$ 0,00 10 20 30 40 A B C D CURVA DE DEMANDA Quantidade mensal de suco de laranja Preçodolitrodelaranja A curva de demanda é decrescente da esquerda para a direita e nada mais é do que a representação gráfica da Lei da Demanda. Cabe destacar que o termo Demanda é usado para se referir a toda a curva, e não apenas a um ponto dela. Quando nos referimos a um ponto da curva usamos a expressão “quantidade demandada”. Mudanças nos preços provocam alterações na quantidade demandada, já que ocorre o deslo- camento ao longo da curva de demanda. Dentro do nosso exemplo, quando o preço sobe de R$2,00 para R$3,00 o litro, a família deixa de consumir 40 litros e passa a consumir 20 litros mensais de suco de laranja, passando do ponto D para o ponto B na curva de demanda. Comportamento da Curva de Demanda Por que a curva de demanda é decrescente? De acordo com Alfred Marshall (economista inglês, autor do livro Princípios de Economia, de 1890), o compor- tamento da demanda está baseado no Princípio da Utilidade
  • 9. 42 Marginal Decrescente, princípio segundo o qual quantidades a mais que forem consumidas de um bem irão gerar cada vez menos utilidade. Estranho, né? Vamos explicar melhor. A utilidade é um fator subjetivo que representa a satis- fação gerada pelo consumo de bens econômicos. Os consu- midores fazem uma avaliação dos bens e serviços, definem sua utilidade e estabelecem o preço máximo que estão dis- postos a pagar pela aquisição desses bens. Assim, cada ponto na curva de demanda supõe que o consumidor está maximi- zando sua utilidade ou satisfação. Para entender a utilidade marginal decrescente, vale lembrar a antiga história do copo de água. Inicialmente, como a sede é grande, esse copo de água traz uma satisfação ele- vada. Quanto mais água for consumida, maior será a satis- fação total (a utilidade total é crescente), mas à medida que a sede é saciada, o próximo copo passa a trazer uma utilidade cada vez menor. Como a utilidade marginal (ou suplementar) representa a utilidade que o consumidor obtém ao consumir uma unidade adicional de um bem, ela diminui à medida que se consome mais e mais. Em decorrência disso, quanto mais saciados estiverem os consumidores, menor deve ser o preço do produto para induzir um consumo maior. Isso ajuda a explicar, por exemplo, porque os lançamen- tos (as novidades) têm sempre um preço elevado: como os con- sumidores não estão saciados, pelo contrário, estão ávidos por consumir, o preço é elevado. À medida que o consumo vai se pulverizando, a saciedade aumenta, a utilidade marginal decresce e, portanto, a tendência é a de que os preços caiam. A relação inversa entre preço e quantidade também é explicada por outros dois fatos:
  • 10. Mecanismosdemercado: demanda,ofertaeequilíbrio 43 ▪▪ Efeito-substituição: Quando o preço de um bem aumenta, alguns consumidores que antes o adquiriam, deixarão de fazê-lo ou comprarão quantidades meno- res, passando a procurar outros bens para substitui- -lo. Um exemplo é o mercado turístico. Quando o preço das diárias dos hotéis aumenta, os turistas passam a procurar pousadas, chalés, casas de campo, etc. ▪▪ Efeito-renda: Considerando que a renda do consumi- dor permaneça a mesma, se o preço de um produto aumentar, os consumidores demandarão menos quan- tidade do produto porque têm a sensação de que o seu poder aquisitivo diminuiu. Exceções à Lei da Demanda Existem algumas exceções à Lei Geral da Demanda. São elas: ▪▪ Bem de Giffen: Bem cuja curva de demanda é positi- vamente inclinada (ascendente), ou seja, um bem cuja demanda aumenta quando o seu preço sobe e dimi- nui quando o seu preço desce. Geralmente, são bens de baixo valor, mas de grande importância no orçamento dos consumidores de baixa renda. Essa forma de com- portamento foi verificada por Robert Giffen ao obser- var que as famílias mais pobres compravam mais pão à medida que o seu preço aumentava. Embora mais caro, o pão ainda é um produto barato, o que faz com que os consumidores deixem de comprar outros produtos (mais caros) para comprar mais pão. ▪▪ Bens de Veblen: São bens de consumo ostentatório (obras de arte, carros de luxo, tapeçarias, joias, etc.)
  • 11. 44 para os quais a procura tende a aumentar simultane- amente à elevação de seus preços, já que o objetivo do consumidor ao comprá-los é mostrar que possui um grande poder aquisitivo (dá prestígo social). Thorstein Bunde Veblen, economista que observou esse fenô- meno em sua principal obra intitulada Teoria da Classe Ociosa, definiu o conceito de “consumo conspícuo”, que é o dispêndio feito em finalidade de demonstração de condição social, manifestando-se através da compra de artigos de luxo e quaisquer gastos ostentatórios. Demanda de Mercado A demanda de mercado é a soma das demandas indi- viduais por um bem ou serviço em uma determinada econo- mia. Exemplo: Imagine que numa economia só existam três consumidores e que suas demandas individuais de chocola- tes por semana sejam representadas na tabela abaixo. A de- manda de mercado será a soma das quantidades procuradas dos três consumidores. Preço Unidade Quantidade de Chocolates Demanda do MercadoHuguinho Zezinho Luisinho R$ 2,50 2 3 1 6 R$ 2,00 3 5 2 10 R$ 1,50 4 7 3 14 R$ 1,00 5 9 4 18 Fatores que Afetam a Demanda de um Bem ou Serviço Além do preço do próprio bem, existem outros fatores que interferem na demanda por um bem ou serviço, como a renda e as preferências do consumidor, o tamanho do mercado
  • 12. Mecanismosdemercado: demanda,ofertaeequilíbrio 45 e o preço dos bens relacionados - substitutos e complementares. Esses fatores provocam deslocamentos da curva de demanda. Toda mudança que aumente a quantidade demandada de um bem ou serviço a dado preço, desloca a curva para a direita. Nesta situação, dizemos que ocorreu um aumento da demanda. Na situação inversa, toda mudança que reduza a quantidade demandada de um bem ou serviço a um dado preço, desloca a curva de demanda para a esquerda, ou seja, provoca uma diminuição da demanda. Para facilitar, tudo que afete a demanda que não seja o preço do próprio bem, desloca a curva inteira. Preço D D1D2 Quantidade Diminuição da demanda Aumento da demanda a. Renda do Consumidor: Quando ocorre um aumento na renda dos consumido- res, esses podem consumir mais de todos os bens, qualquer que seja o preço, provocando um deslocamento da curva de demanda para a direita. Ao contrário, quando a renda dos consumidores sofre uma queda, espera-se que as pessoas desejem consumir uma quantidade menor para cada preço, deslocando a curva de demanda para a esquerda. Alguns exemplos ocorridos na economia brasileira:
  • 13. 46 Renda do brasileiro cresceu 10,2% entre 2005 e 2006, revela BNDES (Agência Brasil, 06/dez/2007) Otimista com a economia, classe média planeja con- sumir mais em 2008. Segundo estudo da TNS InterScience realizado em novembro de 2007 na cidade de São Paulo, as expectativas de consumo para 2008 são bem melhores que no ano anterior [...] De acordo com a pesquisa, 52% dos entrevis- tados de classe média já sentiram que seu poder de compra aumentou em 2007, e 65% acreditam que vai continuar me- lhorando em 2008. O mesmo movimento ocorre em relação à baixa renda: 47% avaliaram que 2007 foi melhor que o ano anterior e 53% acreditam que a tendência é melhorar ainda mais neste ano. (CIDADE BIZ: Economia, Marketing e Negó- cios, 30/jan/2008). Porém, isso não ocorre com todos os bens, o que nos permite classificá-los em: ▪▪ Bens normais: bens cuja quantidade demandada aumenta quando se eleva a renda. ▪▪ Bens inferiores: bens cuja quantidade demandada diminui quando se eleva a renda. Exemplo: Transporte coletivo, Carne de segunda (sua demanda reduz quando o indivíduo aumenta seus ganhos, pois ele passa a consumir mais carne de primeira). b. Preços dos outros bens relacionados: Alterações no preço de um bem também podem afetar a demanda de outros bens relacionados a ele. Para compreen- dermos esse efeito, é preciso classificar os bens em: ▪▪ Substitutos: São bens que satisfazem a mesma neces- sidade para o consumidor. Apresentam relação direta
  • 14. Mecanismosdemercado: demanda,ofertaeequilíbrio 47 entre o preço de um bem e a quantidade demandada de seus bens substitutos, ou seja, o aumento do preço de um bem provoca uma elevação na demanda de outro bem. Ex.: carne e frango, manteiga e margarina, café e chá. Consideremos a manteiga e a margarina como substitutos. Se o preço da manteiga sofrer uma ele- vação, as pessoas terão menos interesse em consumir manteiga e procurarão um substituto, aumentando a demanda por margarina. A demanda de margarina foi afetada pelo preço da manteiga (é um mercado interfe- rindo no outro). ▪▪ Complementares: São bens que se complementam para a satisfação de uma mesma necessidade. Existe uma relação inversa entre o preço do bem x e a quantidade demandada do bem y, ou seja, o aumento do preço de um bem reduz a demanda do outro bem. Ex.: lapiseira e grafite, carro e combustível, impressoras e cartuchos de tinta, xampu e condicionador, etc. Peguemos como exemplo as impressoras e cartuchos de tinta. Se os car- tuchos de tinta de um certo modelo tiverem seus preços aumentados, os consumidores procurarão um modelo de impressora que tenha um cartucho com preço mais acessível, assim um aumento no preço dos cartuchos diminui a demanda por impressoras jato de tinta. c. Gostos ou Preferências do Consumidor: A preferência do consumidor talvez seja o fator mais evidente na demanda, pois, em geral, só demandamos o que gostamos. Como os gostos se modificam ao longo do tempo, alterações na preferência do consumidor impulsionam ou re- traem a demanda de um bem. Fatores, como qualidade, tec- nologia, campanhas publicitárias e moda podem ser funda- mentais para a escolha de um bem ou serviço. Se os gostos se alterarem no sentido de se desejar consumir mais de um bem,
  • 15. 48 a demanda se deslocará para a direita e, se os gostos forem afetados negativamente, a demanda diminuirá, deslocando sua curva para a esquerda. d. Outros fatores: Além dos fatores citados, existem outros que afetam a demanda de um bem. Um deles é o tamanho do mercado. Por exemplo, se a população de uma região aumenta, o tamanho do mercado consumidor aumenta e, portanto, a demanda de alguns bens se deslocará para a direita. Outro fator é a ex- pectativa em relação ao futuro. Assim, se uma pessoa acre- dita que seus rendimentos serão maiores no futuro, tende a consumir mais desde hoje, aumentando a demanda dos bens; já se uma pessoa acredita que o preço de determinado bem irá subir em algumas semanas, tende a aumentar o consumo desse bem hoje para se antecipar ao aumento. Vimos que vários fatores podem afetar a demanda de um bem. O quadro a seguir apresenta um resumo: RESUMO: Principais fatores que afetam a demanda Fator Mudanças do Fator Efeito sobre a demanda Movimento ao longo da curva: Preço do próprio bem Aumento do preço Redução no preço Reduz a qualidade demandada Aumenta a quantidade demandada Deslocamento da curva de demanda: Renda do consumidor Bem normal Bem inferior Renda Aumenta Renda diminui Renda Aumenta Renda diminui Aumento (curva para direita) Queda (curva para esquerda) Queda Aumento
  • 16. Mecanismosdemercado: demanda,ofertaeequilíbrio 49 Preço dos substitutos (P – S) P – S aumenta P – S diminui Aumento Queda Preço do complemen- tar (P – C) P – C aumenta P – C diminui Queda Aumento Preferências/Gosto Estimulam o gosto pelo bem Desestímulo ao gosto pelo bem Aumento Queda Tamanho do mercado Tamanho aumenta Tamanho diminui Aumento Queda 2.4 A Oferta Oferta pode ser definida como a quantidade de um bem ou serviço que os produtores estão dispostos e aptos a oferecer a cada faixa de preços, em determinado período de tempo (BOYES e MELVIN, 2006, p. 41). Cabe ressaltar que ofertar é diferente de vender. “Ofertar é ter a intenção ou estar disposto a vender, enquanto que vender é fazê-lo de fato. A oferta mostra as intenções de venda dos produtores” (MOCHÒN, 2006, p. 27). Assim como na Demanda, o principal fator que inter- fere na oferta é o preço do próprio bem. A relação entre preço e quantidade ofertada define a Lei da Oferta, a qual estabelece que existe uma relação positiva entre quantidade ofertada e seu preço. Ou seja, quando o preço do bem aumenta, a pro- dução e a venda desse bem se tornam mais lucrativas, e, por isso, os produtores tendem a produzir mais desse bem, aumen- tando a quantidade ofertada (considerando ceteris paribus). Como exemplo, consideremos a oferta de uma empresa de bonés. A tabela a seguir ilustra as quantidades ofertadas semanalmente a cada preço:
  • 17. 50 Preço unitário Unidades semanais ofertadas A R$ 15,00 75 B R$ 20,00 100 C R$ 25,00 125 D R$ 30,00 150 Construindo o gráfico, temos: R$ 35,00 R$ 30,00 R$ 25,00 R$ 20,00 R$ 15,00 R$ 10,00 R$ 5,00 R$ 0,00 75 100 125 150 A B C D CURVA DE OFERTA Quantidades ofertadas semanalmente PreçoUnitário A curva de oferta é crescente da esquerda para a direi- ta. Isso nada mais é do que a representação gráfica da Lei da Oferta. Cabe ressaltar que quando nos referimos a um ponto da curva, usamos a expressão quantidade ofertada. Mudanças nos preços provocam alterações nas quantidades ofertadas, já que ocorre o deslocamento ao longo da curva de oferta. Den- tro do nosso exemplo, quando o preço sobe de R$15,00 para R$20,00, a empresa lucraria mais vendendo ao preço maior, portanto, a tendência é ofertar mais. Desse modo, a quantidade ofertada passa de 75 para 100 unidades, ocorrendo um movi- mento ao longo da curva de oferta do ponto A para o B.
  • 18. Mecanismosdemercado: demanda,ofertaeequilíbrio 51 A Oferta de Mercado A oferta de mercado é a soma das ofertas individuais de todos os produtores de um bem e serviço a cada nível de preço e em determinado período de tempo. Exemplo: Em uma cida- de existem apenas três produtores de leite e suas ofertas indi- viduais em litros por semana estão representadas na tabela a seguir. Indique a oferta de mercado e represente graficamente as quantidades ofertadas de cada produtor e do mercado. Preço Quantidade de litros Oferta do MercadoEmpresa A Empresa B Empresa C R$ 1,30 2000 4000 3000 9000 R$ 1,40 3000 8000 5000 16000 R$ 1,50 4000 12000 7000 23000 R$ 1,60 5000 16000 9000 30000 Fatores que Afetam a Oferta de um Bem ou Serviço Além do preço do próprio bem, existem outros fatores que interferem na oferta de um bem ou serviço, como a tecno- logia, os custos de produção, a lucratividade dos outros bens relacionados, o número de produtores. Estes fatores provo- cam deslocamentos da curva de oferta. Quando os vendedores optam por vender mais a um determinado preço, a curva de oferta se desloca para direita – há aumento da oferta. Quando escolhem vender menos a determi- nado preço, a curva de oferta se desloca para a esquerda – ocorre diminuição da oferta (HALL e LIEBERMAN, 2003, p. 73).
  • 19. 52 Preço O O1 O2 Quantidade Diminuição da oferta Aumento da oferta As diferentes variáveis que afetam a oferta merecem uma descrição mais detalhada: a. Custo dos fatores de produção: As quantidades ofertadas de bem ou serviço depen- dem, acima de tudo, do custo de produção. Esses dependem do preço pago pela utilização dos fatores de produção. Redu- ções nos preços dos fatores de produção (exemplo, redução nos níveis salariais, nos preços das matérias-primas, etc.), reduzem os custos dos produtores, tornam a produção mais lucrativa, estimulando a expansão da oferta. Já um encareci- mento nos preços dos fatores de produção aumenta os custos, torna a produção menos lucrativa e reduz a oferta. b. Tecnologia: Qualquer melhora da tecnologia permite produzir a custos menores, estimulando a produção e elevando a oferta (a curva se deslocaria para a direita). Exemplo: a descoberta de um novo fertilizante pode aumentar a produtividade na agricultura, aumentando a oferta dos produtos beneficiados pela inovação tecnológica. Porém, avanços tecnológicos que aumentem os custos, tendem a reduzir a oferta de um bem, deslocando a curva para a esquerda. c. Lucratividade dos outros bens:
  • 20. Mecanismosdemercado: demanda,ofertaeequilíbrio 53 A oferta de um produto pode ser afetada pela variação na lucratividade dos outros produtos que sejam substitutos ou complementares na produção. ▪▪ Bens Substitutos: bens substitutos na produção são bens que poderiam ser produzidos com aproxima- damente os mesmos recursos. Muitas firmas podem mudar sua produção com relativa facilidade entre diferentes bens e serviços, desde que todos requei- ram, mais ou menos, os mesmos insumos de produção. Nesse caso, existe uma relação inversa entre o preço de um bem e a quantidade ofertada de seus bens substi- tutos, ou seja, o aumento do preço do bem x diminui a quantidade ofertada do bem y. Exemplo: uma clí- nica estética pode facilmente reduzir a oferta de tra- tamento para acne e aumentar a oferta de tratamento para rugas, se esse se apresentar mais lucrativo. ▪▪ Bens Complementares: bens complementares na pro- dução são aqueles que apresentam alteração na pro- dução em função de variações de preço de outro bem. Apresentam relação direta entre o preço de um bem e a quantidade ofertada de seus bens complementa- res, ou seja, o aumento do preço do bem x aumenta a quantidade ofertada do bem y. Ex.: carne e couro - se aumentar o preço da carne, tornado-a mais lucrativa, provoca um aumento nos abates e aumenta a oferta de carne e, por decorrência, aumenta a oferta de couro, deslocando sua curva de oferta de couro para a direita. Assim, o mercado de couro foi afetado pelo aumento no preço da carne. d. Outros fatores: Além dos fatores citados, existem outros que afetam a oferta. O número de empresas ofertantes é um deles. Um
  • 21. 54 aumento no número de produtores provoca, consequente- mente, um aumento na oferta, deslocando a curva para a direita. Outro fator a ser considerado apenas para alguns bens e serviços é o clima. No caso de produtos agrícolas e pecuários, o clima é um fator relevante. Por exemplo, uma geada pode reduzir a oferta de um bem. Também temos que considerar as expectativas dos produtores. Um exemplo oportuno, citado por Passos e Nogami (2003, p. 89), é o de um criador de gado: se ele acredita que no futuro ocorrerá um aumento no preço da carne, é provável que retenha o fornecimento atual de gado para o abate a fim de aproveitar preços mais altos posterior- mente, provocando uma redução na oferta atual de carne. O quadro a seguir apresenta um resumo dos fatores que afetam a oferta: RESUMO: Principais fatores que afetam a oferta Fator Mudanças do Fator Efeito sobre a oferta Movimento ao longo da curva: Preço do próprio bem Aumento do preço Redução no preço Aumenta a quantidade ofertada Reduz a quantidade ofertada Deslocamento da curva de demanda: Tecnologia Mais eficiência, menor custo Menos eficiência, maior custo Aumenta Queda Lucratividade dos produtos substitutos na produção (P – S) P – S aumenta P – S diminui Queda Aumenta Lucratividade dos produtos conjuntos na produção (P – C) P – Cj aumenta P – Cj diminui Aumenta Queda Custo dos fatores de produção (P – I) Custo aumenta Custo diminui Queda Aumenta Número de firmas Número aumenta Número diminui Aumento Queda
  • 22. Mecanismosdemercado: demanda,ofertaeequilíbrio 55 2.5 Equilíbrio de Mercado Quando analisamos conjuntamente as decisões e o com- portamento de consumidores e produtores com seus respecti- vos planos de consumo e produção, podemos entender como se estabelece o preço e a quantidade que equilibram um mercado, além de compreender situações que deslocam o equilíbrio. Para analisar a determinação do preço e da quantidade de equilíbrio de um mercado, basta desenhar em um mesmo gráfico as curvas de oferta e demanda. P PE QE O E D Q E = Ponto de Equilíbrio Qe = Quantidade de Equilíbrio Pe = Preço de equilibrio O ponto de equilíbrio é dado pela intersecção das cur- vas de demanda e de oferta. Esse ponto é único, as quanti- dades que os compradores desejam comprar (quantidade demandada) é exatamente igual à quantidade que os produ- tores desejam vender (quantidade ofertada), não há excesso de demanda ou de oferta.
  • 23. 56 Uma observação importante é que nossa análise de mercado está voltada para os mercados competitivos - aque- les em que existem muitos compradores e muitos vendedores -, de tal forma que nenhum deles individualmente consegue exercer influência significativa sobre os preços e as quantida- des de mercado. Nesse mercado, quem determina o equilíbrio entre oferta e demanda não são os consumidores nem os pro- dutores, é o próprio mercado. Existem outras formas de orga- nização dos mercados, com mais concentração, com produtos diferenciados, etc. Mas vamos deixar esse assunto para outra unidade, por enquanto só nos interessa saber que nosso mo- delo de oferta e demanda pressupõe um mercado competitivo. Determinação do Equilíbrio: Podemos determinar matematicamente o equilíbrio. Exemplo: ▪▪ Imagine que a função de demanda de um mercado seja: Qd = 10 – 2P Qo = 2 + 2P e a função de oferta seja: Calcule o preço e a quantidade de equilíbrio. No ponto de equilíbrio, como a oferta é igual à deman- da, só precisamos igualar as duas funções.
  • 24. Mecanismosdemercado: demanda,ofertaeequilíbrio 57 Qo = Qd 2 + 2P = 10 – 2 4P = 8 P = 8/4 Po = R$ 2 Qo = Qd 2 + 2P = 10 – 2P Substituindo o preço de equilíbrio em uma das fun- ções, determinamos a quantidade de equilíbrio. Na demanda Qd = 10 – 2P Qd = 10 – 2(2) Qd = 10 – 4 Qe = 6 Na oferta Qo = 2 + 2P Qo = 2 + 2(2) Qo = 2 + 4 Qo = 6 O mercado não funciona sempre em equilíbrio. Por isso é importante analisarmos outros pontos fora do ponto de equilíbrio. Vamos utilizar outro exemplo. A tabela abaixo nos mostra a escala de demanda e de oferta mensais de camisas a cada nível de preço. Preço (R$/camisa) Quantidade demandada camisa/mês Quantidade ofertada camisa/mês Excesso de Oferta (+) Excesso de Demanda (–) Pressão sobre o Preço 80,00 2.000 8.000 + 6.000 Redução ( ) 70,00 3.000 7.000 + 4.000 Redução ( ) 60,00 4.000 6.000 + 2.000 Redução ( ) 50,00 5.000 5.000 0 Nenhuma 40,00 6.000 4.000 – 2.000 Elevação ( ) 30,00 7.000 3.000 – 4.000 Elevação ( )
  • 25. 58 P QE = 500 Excesso de Oferta Excesso de Demanda PE = 50 O E D Q O preço de equilíbrio, o qual iguala as quantidades de- mandada e ofertada, é R$50,00. A quantidade de equilíbrio é 5.000 camisas mensais. A esse preço, não há escassez nem excesso de produto. Para qualquer preço diferente de R$50,00 existirão diferenças entre a oferta e a demanda, gerando ex- cesso ou escassez de produto. Excesso de Oferta: Aos preços de R$80,00, R$70,00 e R$60,00 a oferta de camisas é maior do que a demanda, surgindo um exce- dente de camisas no mercado. Esse excedente é chamado de “Excesso de Oferta”. Esse excesso faz com que os fabricantes fiquem com mercadoria encalhada, aumentando os estoques. Com a intenção de realizar alguma receita e eliminar o excesso de mercadoria, os produtores passam a vender o seu produto a preços mais baixos. Essa redução de preços faz com que aumente a quantidade demandada (deslocamento ao longo da curva de demanda) de camisas, ao passo que a quantidade ofertada se reduz (deslocamento ao longo da curva de oferta). A redução nos preços continuará até atingir o nível de R$50,00, quando a quantidade de camisas que os
  • 26. Mecanismosdemercado: demanda,ofertaeequilíbrio 59 consumidores estarão dispostos a adquirir será exatamente igual à quantidade de camisas que os produtores estarão dis- postos a oferecer no mercado (ou seja, ocorrerá uma pressão sobre os preços até que esse atinja o equilíbrio). Excesso de Demanda: Aos preços de R$40,00 e R$30,00 a demanda é maior do que a oferta de camisas, surgindo uma escassez de camisas no mercado. Isso ocorre porque a esse preço tão baixo poucos serão os produtores dispostos ou em condições de produzir o bem. Essa escassez é chamada de Excesso de Demanda. Esse excesso de demanda faz com que os consumido- res disputem entre si as camisas disponíveis no mercado e, com isso, o preço começa a se elevar. Essa elevação de pre- ços faz com que diminua a quantidade demandada (desloca- mento ao longo da curva de demanda) de camisas, ao passo que a quantidade ofertada se amplia (deslocamento ao longo da curva de oferta), reduzindo o excesso de demanda. A elevação nos preços continuará até atingir o nível de R$50,00, quando a quantidade de camisas que os consu- midores estarão dispostos a adquirir será exatamente igual à quantidade de camisas que os produtores estarão dispostos a oferecer no mercado (ou seja, da mesma forma que ocorre com o excesso de oferta, o excesso de demanda provoca uma pressão sobre os preços até que esse atinja o equilíbrio). Podemos concluir que mesmo ocorrendo um desvio temporário entre o preço praticado e o preço de equilíbrio, esse último tende a ser alcançado naturalmente através da interação entre as forças da oferta e da demanda, sem que haja intervenção de nenhum agente externo (ex.: governo). Assim, o equilíbrio é uma situação na qual não há forças
  • 27. 60 inerentes que estimulem uma mudança, por isso a tendência é a de que o preço se estabilize nesse patamar, sem pressão para variações. Cabe ressaltar que mudanças podem aconte- cer apenas como resultado de fatores exógenos que alterem a demanda e/ou a oferta e, portanto, deslocariam o equilíbrio. Isso veremos a seguir. Quando as coisas mudam Se qualquer uma das variáveis que afetam a demanda ou a oferta mudar, uma das curvas se deslocará e o equilíbrio do mercado também mudará. Conhecer a teoria da oferta e da demanda faz com que muitos desses efeitos sejam previsí- veis. Vamos analisar alguns deles: a. Movimentos da Demanda Consideremos que um mercado está na situação de equilíbrio (no gráfico abaixo, o equilíbrio inicial E1). Se ocor- rer, por exemplo, um aumento na renda da população, as pes- soas poderão comprar mais do bem a dado preço, deslocando a curva de demanda para a direita (de D1 para D2). Se for mantido o preço inicial (PE1) teremos uma demanda maior do que a oferta (a quantidade demandada será Qx e a ofertada QE1), caracterizando excesso de demanda. Isso pressionará os preços para cima e, portanto, o equilíbrio se alterará para E2, com preço e quantidade superiores à situação inicial.
  • 28. Mecanismosdemercado: demanda,ofertaeequilíbrio 61 P QE1 PE1 PE2 QE2 QEX O E2 E1 D2 D1 Q Situações semelhantes ocorrem com uma elevação no preço de um bem substituto, redução no preço de um bem com- plementar, aumento na preferência do consumidor, entre outros. No caso de fatores que reduzam a demanda, teríamos o movimento inverso. Considere o mercado de óleo de soja. Uma redução no preço de um bem substituto, por exemplo, do óleo de milho, faria com que as pessoas comprassem mais óleo de milho e reduzissem a demanda por óleo de soja, des- locando a curva de demanda de D2 para D1. Isso gera, tem- porariamente, um excesso de oferta, visto que os produtores estão oferecendo a quantidade inicial de óleo de soja e os con- sumidores passaram a desejar menores quantidades. A ten- dência é que os preços caiam gradativamente para eliminar o excesso de oferta até que o novo equilíbrio seja atingido (pas- sará de E2 para E1), com preço e quantidades menores que a situação inicial. b. Movimentos da Oferta Mudanças no custo dos fatores de produção, na quan- tidade de produtores, na tecnologia e na lucratividade dos outros bens relacionados, deslocarão a oferta, afetando, con- sequentemente, o equilíbrio do mercado. Consideremos que um mercado está na situação de equilíbrio (no gráfico abaixo,
  • 29. 62 o equilíbrio inicial E1). Se ocorrer, por exemplo, uma redução no custo de produção, a lucratividade da empresa por unida- de produzida aumentará, o que tende a aumentar a oferta, deslocando sua curva para a direita, passando de O1 para O2. Ao antigo preço de equilíbrio (PE1) passa a existir excesso de oferta, já que os produtores passaram a produzir mais, mas os consumidores permanecem desejando consumir a mesma quantidade. O excesso de oferta pressiona o preço para baixo até que o novo equilíbrio seja alcançado (E2) com um preço menor e uma quantidade maior. P QE1 PE2 PE1 QE2 01 02 E2 E1 D Q No caso de fatores que reduzam a oferta, teríamos o movimento inverso. Por exemplo, uma geada destrói a plan- tação de milho. A oferta do produto sofreria uma redução, deslocando a curva para a esquerda (de O2 para O1). Ao antigo preço passa a existir um excesso de demanda, visto que os consumidores desejam adquirir a mesma quantidade de milho, mas os produtores não possuem essa quantidade para ofertar. Ocorrerá uma pressão para a elevação do preço até que o novo equilíbrio seja atingido (E1) com preço supe- rior e a quantidade menor que a situação inicial. Esses são apenas alguns exemplos. Com essa
  • 30. Mecanismosdemercado: demanda,ofertaeequilíbrio 63 abordagem, podemos explicar o movimento dos preços de diversos mercados. Você é capaz de usá-la para descrever situ- ações do nosso cotidiano, como, por exemplo: para descrever porque os celulares e as TVs de LCD inicialmente apresenta- ram um preço elevado e hoje são mais acessíveis ou porque no verão os imóveis do litoral apresentam um aluguel mais elevado ou, ainda, porque o comércio é aquecido na época do Natal, entre outros. Imagine uma situação e tente explicá-la usando as ferramentas da oferta e da demanda. Você já sabe traçar tendências sobre o comportamento dos preços, mas não temos ferramentas suficientes para dimensionar o tamanho das mudanças. Sabemos que pela Lei da Demanda um aumento do preço provoca uma redução na quantidade demandada, mas de quanto é essa redução? Será uma redução pequena ou expressiva? Para conseguir- mos responder esse tipo de indagação, precisamos conhecer mais uma ferramenta: a elasticidade. Assunto para nossa pró- xima unidade. Nos encontramos lá!! Referência BOYES, W.; MELVIN, M. Introdução à Economia. São Paulo: Ática, 2006. HALL, R. E.; LIEBERMAN, M. Microeconomia: princípios e aplicações. São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2003. MANKIW, G. N. Introdução à Economia: princípios de mi- cro e macroeconomia. 2. ed. Rio de Janeiro: Campus, 2001. MOCHÓN, F. Economia: teoria e política. 5. ed. São Paulo: Mc Graw Hill, 2006.
  • 31. 64 PASSOS, C. R. M.; NOGAMI, O. Princípios de Economia. 4. ed. São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2003. MONTORO FILHO, A. F. Teoria Elementar do Funciona- mento do Mercado. In: PINHO, D. B.; VASCONCELLOS, M. A. S. (org.) Manual de Economia. Equipe de Professores da USP. 5. ed. São Paulo: Saraiva, 2005. p. 133-159. VASCONCELLOS, M. A. S.; GARCIA, M. E. Fundamentos de Economia. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2004.