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A ESCOLHA
Passei o último mês inteiro pensando sobre minha
escolha, sobre quais classes irei ingressar. O Conselho exige
que os calouros escolham três matérias diferentes além das
tradicionais. Sinceramente, fico na dúvida entre as opções
que me permitem entrar para as tropas da cidade, e também
nas possibilidades que me permitem entrar para a equipe de
cientistas, como meus pais. Assim como eles, sou
simpatizante da causa da Resistência, e creio que as duas
escolhas me dão a chance de ajuda-los. Bom, por mais que
eu tenha pensado na escolha durante todo esse mês, não
decidi ainda o que fazer e a cerimônia de escolha é amanhã.
O que escolher? Força ou Inteligência?

É hoje, o dia da cerimônia em que vou decidir o resto
de minha vida, e como poderei auxiliar os rebeldes da
Resistência, decido se entro para as tropas do Governo ou
para o laboratório deles. Pelo aroma que entra através da
porta entreaberta, minha mãe já deve ter preparado o café
da manhã, e parece delicioso. Tomo meu banho e desço.
Na mesa, meus pais me esperavam, orgulhosos por eu
ter chegado nessa nova etapa. Cada um me olhava com uma
cara de extrema alegria, e quando me aproximei, se
levantaram e vieram me abraçar. Após isso, meus pais me
entregaram um pequeno embrulho branco preso num laço
prateado, e pediram para que eu abrisse:
- Vamos Jack querida! Abra o presente, e nos diga o
que acha!
Ao abrir, um pingente prateado apareceu em minhas
mãos, com uma esfera brilhante na ponta. A esfera tinha um
brilho azul-esbranquiçado, e percebi que havia uma
substância dentro que dava esse efeito. Meu pai então pegou
o pingente da minha mão, e minha mãe perguntou:
- E então Jack, o que achou? Gostou do pingente? –
Seus azuis claros combinavam com o pingente a medida que
brilhavam contra a luz da cozinha. – Venha, deixe seu pai
colocá-lo em você.
E então, enquanto meu pai o colocava em mim,
agradeci e falei:
- Pai, mãe, o que é este líquido dentro do pingente? –
Indaguei curiosa - Tem algum uso ou motivo?
Dessa vez quem falou foi meu pai:
- Jack, sim! Sim, o líquido tem uma utilidade, mas
você o saberá na hora certa. Por hora, apenas aceite nosso
presente querida.
- Ah, certo pai! Obrigado pelo pingente, mas...
Quando será essa hora certa?
- Veremos querida, agora coma seu café, e se apronte
para a cerimônia, você tem 40 minutos.
Tratei de tomar meu café rápido, havia pães
recheados, frutas e limonada. Comi uma fatia de pão, uma
maça, e tomei um copo de limonada e fui para o meu quarto
me trocar.
Na minha cama, encontrei outro presente. Uma blusa
branca, calça jeans e sapatos pretos. Era a vestimenta padrão
para todos os calouros na cerimônia, assim não haveria
diferenças. Assim, me troquei e desci, para ir então à
cerimônia, enquanto ainda pensava sobre a decisão que
definiria o resto de minha vida.

E então chegamos ao Breminger Hall, onde acontecia
a cerimônia todos os anos. O Breminger Hall era dividido
em dois prédios laterais, enquanto no centro, ficava o
edifício principal com sua face espelhada cumprimentando
os pais e filhos que chegavam com reflexos do sol que batia
nas várias janelas. Os dois prédios laterais tinham o metal
que formava as paredes, pintado de azul, e tinham dois
andares. O prédio principal era de uma tonalidade prata,
quase branca, mas ao contrários dos dois outros edifícios,
quase não se via outra coisa que não fosse vidro. E o jardim
que enfeitava o pátio da frente do Breminger Hall era bem
colorido, com rosas brnacas, tulipas, e um gramado. Na
frente do portão principal havia uma fonte de água onde
vários pássaros bebiam água ou se limpavam.
E então, as pessoas foram entrando, e eu, meu irmão
e meus pais seguimos a multidão. Na porta pro pátio
principal, as pessoas recebiam um bilhete com seus
respectivos lugares, e iam sentando. Pegamos a fileira S,
com os números de 18 à 21. O Auditório estava abarrotado
de pessoas vestidas de branco. Somente os pais e familiares
tinham permissão de se vestirem como quisessem na
cerimônia.
Depois que todos se sentaram, houve um silêncio,
enquanto esperávamos pelos líderes do Conselho, que se
sentariam na plataforma a nossa frente. Lá, nos verão
prestar nossos juramentos diante de nossas escolhas.
E então, enquanto esperamos, meu pai diz:
- Jack, Atom.... Independente da escolha de vocês,
estaremos apoiando. Apenas escolham sabiamente!
- Sim pai, eu e Atom agradecemos o apoio de vocês,
e prometo que vamos escolher o correto. Agora vamos ficar
quietos, a cerimônia está começando.
Vimos os líderes do Alto Conselho entrando no pátio,
e subindo para a plataforma, apenas John Beckmor não
subiu, ele foi o escolhido esse ano para discursar a favor dos
calouros. John subiu num pequeno, mas bonito altar que se
encontrava no centro do palco da cerimônia, e começou seu
discurso:
- Caros senhores e senhoras que aqui se encontram,
pais, filhos, membros do Conselho. É com grande alegria
que aceitei ser o escolhido para falar nessa data tão... tão...
memorável! Afinal de contas, algo como essa cerimônia só
acontece a cada um ano, não é mesmo meus queridos?
Hein? Bom, chega de papo furado, vamos começar o
discurso. – John deu uma pequena pausa, e se ajeitou no
altar, tirou um papel do bolso da túnica dourada e púrpura
que vestia, e depositou sobre o altar – Meu querido povo,
mais uma jornada se inicia para esses jovens! Esses jovens
serão o futuro da nação hoje, como você o foram no
passado. Esses jovens hoje, farão uma das escolhas mais
importantes de suas vidas, isso, se não for a mais
importante. E é por isso que fazemos essa cerimônia com
tanto carinho, e esperamos o mesmo de vocês sobre suas
escolhas! Esperamos que tenha pensado com delicadeza
sobre a escolha que mudará a vida de vocês! Quem sabe se
tornar um cientista no nosso laboratório? Ou se juntar a
nossa força militar? Virar um grande professor e ensinar
sobre as conquistas de nosso povo desde a criação do Alto
Conselho? Bom, suas escolhas hoje os encaminharão para
uma dessas ou de outras profissões! Espero sinceramente
que escolham sabiamente. Obrigado!
Quando Beckmor encerrou o discurso e se retirou para
a plataforma onde os demais líderes se encontravam, todos
do pátio se levantaram e começaram a aplaudir o discurso,
que para mim foi uma porcaria, mas mesmo assim aplaudo.
E então a euforia enfim acabou, todos se sentaram e
fizeram silêncio, para que o evento começasse. Na
cerimônia, os calouros são chamados pelos líderes, e então
sobem ao palco, lá devem escolher e dizer em voz alta as
três escolhas, e prestar juramento diante de todos.
A primeira pessoa a ser chamada foi uma garota
chamada Lillian Harper, uma loira magricela, de rosto
bonito. Lillian escolheu três opções que provavelmente a
levariam aos laboratórios para trabalhar com o governo.
Depois dela, Natasha Heather foi chamada, ela é bonita,
loira também, mas ao contrário de Lilian, tem um corpo
atlético por causa de nossas brincadeiras na rua. Acho que
ela é a única que não tomava o soro além de mim e meu
irmão. Natasha escolheu opções que provavelmente a
levarão para as tropas da cidade.
E enquanto outros calouros eram chamados, meus
pais começaram a conversar conosco:
- E então crianças, como se sentem? Preparados para
definirem seu futuro? Fiquem tranquilos, vai dar tudo certo!
– Disse meu pai.
- É, acho que sim! Espero que realmente de tudo certo
como você diz pai. Sabe que amamos vocês, não sabem?
- Claro que sabemos, não é Clarke?
- Sim, querido! Atom, vai lá, estão chamando seu
nome.
- Ah, sim! Claro mãe. – Atom se levantou e foi em
direção ao corredor – Amo vocês!
E então, Atom me cutucou e cochichou em meu
ouvido:
- Jack, estive pensando, e acho que vou escolher o que
me permite ingressar ao exército deles. O que você acha?
Papai e mamãe vão aceitar?
- Atom, claro que vão, talvez eles não gostem, mas
irão aceitar, afinal eles falaram pra gente escolher
sabiamente certo? Escolher o que nós fará bem. E é isso o
que vou fazer, só não sei o que me faz bem.
- Como assim não sabe Jack, no que você está
pensando? Acho que ambos devíamos escolher as matérias
que nos levam ao exército. Com papai e mamãe no
laboratório do governo, e nós na força militar deles, a
Resistência teria um grande apoio, não acha?
- É, acho que está certo! Vamos nos juntar ao exército,
certo? Eu e você?
- Sim. – Atom acenou para mim com a cabeça e sorriu.
É a vez dele agora, Atom me abraçou e se levantou,
abraçou meu pai e minha mãe, e caminhou para a rampa de
acesso para o palco. Lá, se apressou para o centro, onde
esperava a palavra do Conselho, e era visível que estava
nervoso pois não parava de tremer. Acho que está nervoso
por conta do que o pai e a mãe vão achar. E então John
Beckmor e Adam Olfitler, outro membro do Conselho, se
levantaram e vieram até a frente da plataforma, lá Beckmor
falou primeiro:
- Senhor... Atom Kaeggie correto? Bem, espero que
esteja preparado para fazer sua escolha e prestar seu
juramento diante do Conselho? Saiba que a decisão que
tomar hoje, terá resultado amanhã, então escolha
sabiamente!
Adam teve sua vez:
- E então Sr. Atom, qual é sua decisão?
Atom ficou branco, com certeza estava com receio do
que nossos pais iriam pensar a respeito de sua escolha, mas
mesmo assim falou:
- Bem, é, eu... eu... Eu gostaria de escolher as opções
de técnicas de combate, treino de armas e sobrevivência, Sr.
Olfitler.
- Certo Atom, e pode nos dizer o motivo da escolha?
- Claro. Eu escolhi essas opções, porque me permitem
ingressar as tropas do Governo.
- E porque deseja ingressar as tropas do Governo?
Ainda mais, porque acha que vai conseguir ingressar?
- Bem Sr. Olfitler, eu quero ajudar o Governo a
destruir a Resistência, e manter a paz de nosso povo, porque
sei que o que vocês fazem é o melhor para nós. – Nesse
momento, minha mãe começou a chorar, meu pai ficou
branco, e então cochicharam entre si algo que não consegui
escutar.
Beckmor pediu para que meu irmão fizesse o
juramento diante do Conselho, e o liberou, então chamou
meu nome. Me levantei, e quando passei por Atom, ele
piscou pra mim e sorriu, entendi tudo, ele apenas fingiu ser
contra a Resistência para que o Conselho apoiasse sua
entrada para as tropas. Então segui meu caminho até o
palco, e quando dei uma última olhada pros meus pais,
Atom estava conversando com eles, provavelmente
explicando o plano.
Me endireitei no centro do palco, e fiquei observando
a plataforma onde se encontrava os líderes do Conselho.
Meu coração quer sair pela garganta de tão nervosa que
estou, fecho os meus olhos, engulo em seco e respiro fundo
para me acalmar. Então ouço a pergunta, vinda de Beckmor:
- Srta. Jack, nome curioso o seu. Está preparada para
a cerimônia? Para escolher o que pode definir seu futuro?
Desejo toda a sabedoria, para que escolha o caminho
correto.
- Obrigada Sr. Beckmor, espero ter a sabedoria
necessária para escolher o correto.
Adam falou:
- Então Senhorita, nos diga sua escolha. – Apesar dos
38 anos, Adam tinha uma aparência jovial, seus cabelos
negros bem arrumados num elegante topete, seus brilhantes
olhos negros fitavam-me.
Fiquei pensando sobre o que escolher, sobre o plano
que meu irmão Atom propôs, sobre meus pais. Fechei os
olhos e esqueci tudo ao meu redor, só pensava em minha
escolha. De repente:
- Vamos Senhorita, não temos o dia todo, ainda há
outros calouros para participarem desta cerimônia, diga-nos
sua resposta, e faça o juramento. – Adam pareceu um pouco
irritado com a minha demora, dava para perceber no tom de
sua voz.
- Desculpe, eu...Eu escolho o mesmo de meu irmão
Atom. Quero me juntar futuramente aos soldados da cidade.
Acho que tenho capacidade de me tornar uma boa soldada
senhor.
- Muito bem Jack, vejo força de vontade em você, mas
esteja ciente que selecionamos apenas os melhores para
nossos esquadrões. – Adam falava num tom de
superioridade, mas nem me incomodei – Agora preste o
juramento.
Coloquei a mão em meu peito esquerdo, e comecei a
falar:
“Juro diante de todos os membros do Conselho aqui
presentes, e por todos aqueles que um dia já foram parte
dele. Juro diante das pessoas aqui presente, que farei o
melhor pelo nosso povo, e que não trairei nos líderes. A
partir de hoje, é meu dever dar meu melhor para honrar
minhas escolhas.”
Quando terminei, me dirigi de volta para meu assento,
e falei para meus pais:
- Pai, mãe, sinto muito, eu... eu...
- Minha filha, não precisa se desculpar, você tinha que
fazer a sua escolha, não a nossa. Não estamos chateados,
apoiamos sua decisão, amamos você Jack, amamos você e
seu irmão. - Mas era claro que meus pais estavam
chateados, os olhos da minha mãe estavam vermelhos e
molhados, e meu pai sequer falou alguma coisa, mas mesmo
assim, abracei-os e respondi:
- Também amo vocês.
Esperamos o resto dos calouros fazerem suas escolhas
e a cerimônia acabar, mas devido ao silêncio entre meus
pais e nós, isso parecia uma eternidade, por isso falei com
meu irmão:
- Ei, Atom! Acham que vão nos desculpar? Nosso pai
sequer falou algo.
- Jack, não sei, acho que vai ser difícil, mas vão
aceitar, eles tem que aceitar né? Somos os únicos filhos
deles. Além disso, eles mesmo disseram pra fazermos
nossas escolhas.
- Atom, você contou do plano?
- Não, achei melhor não, poderia piorar a situação.
A cerimônia durou mais umas duas horas, e quando
acabou alguns pais pulavam de alegria, outros não estavam
tão satisfeitos com as escolhas dos filhos. Fomos para fora
do edifício onde os transportes para nossas novas escolas
nos aguardavam. Os colégios são nossas casas agora,
ficamos lá até completarmos os estudos, e temos o direito
de ir pra casa a cada duas semanas.
Os estudantes que escolheram as opções militares
deveriam pegar o sistema de trem até a estação próxima ao
Colégio Bramshaw, e os calouros que escolheram as opções
cientificas, seguiriam até a estação próxima ao Laboratório
de Pesquisas do Governo. Os demais estudantes que
escolheram outras opções seguem pra outros colégios.

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  • 1. A ESCOLHA Passei o último mês inteiro pensando sobre minha escolha, sobre quais classes irei ingressar. O Conselho exige que os calouros escolham três matérias diferentes além das tradicionais. Sinceramente, fico na dúvida entre as opções que me permitem entrar para as tropas da cidade, e também nas possibilidades que me permitem entrar para a equipe de cientistas, como meus pais. Assim como eles, sou simpatizante da causa da Resistência, e creio que as duas escolhas me dão a chance de ajuda-los. Bom, por mais que eu tenha pensado na escolha durante todo esse mês, não decidi ainda o que fazer e a cerimônia de escolha é amanhã. O que escolher? Força ou Inteligência?  É hoje, o dia da cerimônia em que vou decidir o resto de minha vida, e como poderei auxiliar os rebeldes da Resistência, decido se entro para as tropas do Governo ou para o laboratório deles. Pelo aroma que entra através da porta entreaberta, minha mãe já deve ter preparado o café da manhã, e parece delicioso. Tomo meu banho e desço. Na mesa, meus pais me esperavam, orgulhosos por eu ter chegado nessa nova etapa. Cada um me olhava com uma cara de extrema alegria, e quando me aproximei, se levantaram e vieram me abraçar. Após isso, meus pais me entregaram um pequeno embrulho branco preso num laço prateado, e pediram para que eu abrisse:
  • 2. - Vamos Jack querida! Abra o presente, e nos diga o que acha! Ao abrir, um pingente prateado apareceu em minhas mãos, com uma esfera brilhante na ponta. A esfera tinha um brilho azul-esbranquiçado, e percebi que havia uma substância dentro que dava esse efeito. Meu pai então pegou o pingente da minha mão, e minha mãe perguntou: - E então Jack, o que achou? Gostou do pingente? – Seus azuis claros combinavam com o pingente a medida que brilhavam contra a luz da cozinha. – Venha, deixe seu pai colocá-lo em você. E então, enquanto meu pai o colocava em mim, agradeci e falei: - Pai, mãe, o que é este líquido dentro do pingente? – Indaguei curiosa - Tem algum uso ou motivo? Dessa vez quem falou foi meu pai: - Jack, sim! Sim, o líquido tem uma utilidade, mas você o saberá na hora certa. Por hora, apenas aceite nosso presente querida. - Ah, certo pai! Obrigado pelo pingente, mas... Quando será essa hora certa? - Veremos querida, agora coma seu café, e se apronte para a cerimônia, você tem 40 minutos. Tratei de tomar meu café rápido, havia pães recheados, frutas e limonada. Comi uma fatia de pão, uma maça, e tomei um copo de limonada e fui para o meu quarto me trocar. Na minha cama, encontrei outro presente. Uma blusa branca, calça jeans e sapatos pretos. Era a vestimenta padrão para todos os calouros na cerimônia, assim não haveria diferenças. Assim, me troquei e desci, para ir então à
  • 3. cerimônia, enquanto ainda pensava sobre a decisão que definiria o resto de minha vida.  E então chegamos ao Breminger Hall, onde acontecia a cerimônia todos os anos. O Breminger Hall era dividido em dois prédios laterais, enquanto no centro, ficava o edifício principal com sua face espelhada cumprimentando os pais e filhos que chegavam com reflexos do sol que batia nas várias janelas. Os dois prédios laterais tinham o metal que formava as paredes, pintado de azul, e tinham dois andares. O prédio principal era de uma tonalidade prata, quase branca, mas ao contrários dos dois outros edifícios, quase não se via outra coisa que não fosse vidro. E o jardim que enfeitava o pátio da frente do Breminger Hall era bem colorido, com rosas brnacas, tulipas, e um gramado. Na frente do portão principal havia uma fonte de água onde vários pássaros bebiam água ou se limpavam. E então, as pessoas foram entrando, e eu, meu irmão e meus pais seguimos a multidão. Na porta pro pátio principal, as pessoas recebiam um bilhete com seus respectivos lugares, e iam sentando. Pegamos a fileira S, com os números de 18 à 21. O Auditório estava abarrotado de pessoas vestidas de branco. Somente os pais e familiares tinham permissão de se vestirem como quisessem na cerimônia. Depois que todos se sentaram, houve um silêncio, enquanto esperávamos pelos líderes do Conselho, que se sentariam na plataforma a nossa frente. Lá, nos verão prestar nossos juramentos diante de nossas escolhas. E então, enquanto esperamos, meu pai diz:
  • 4. - Jack, Atom.... Independente da escolha de vocês, estaremos apoiando. Apenas escolham sabiamente! - Sim pai, eu e Atom agradecemos o apoio de vocês, e prometo que vamos escolher o correto. Agora vamos ficar quietos, a cerimônia está começando. Vimos os líderes do Alto Conselho entrando no pátio, e subindo para a plataforma, apenas John Beckmor não subiu, ele foi o escolhido esse ano para discursar a favor dos calouros. John subiu num pequeno, mas bonito altar que se encontrava no centro do palco da cerimônia, e começou seu discurso: - Caros senhores e senhoras que aqui se encontram, pais, filhos, membros do Conselho. É com grande alegria que aceitei ser o escolhido para falar nessa data tão... tão... memorável! Afinal de contas, algo como essa cerimônia só acontece a cada um ano, não é mesmo meus queridos? Hein? Bom, chega de papo furado, vamos começar o discurso. – John deu uma pequena pausa, e se ajeitou no altar, tirou um papel do bolso da túnica dourada e púrpura que vestia, e depositou sobre o altar – Meu querido povo, mais uma jornada se inicia para esses jovens! Esses jovens serão o futuro da nação hoje, como você o foram no passado. Esses jovens hoje, farão uma das escolhas mais importantes de suas vidas, isso, se não for a mais importante. E é por isso que fazemos essa cerimônia com tanto carinho, e esperamos o mesmo de vocês sobre suas escolhas! Esperamos que tenha pensado com delicadeza sobre a escolha que mudará a vida de vocês! Quem sabe se tornar um cientista no nosso laboratório? Ou se juntar a nossa força militar? Virar um grande professor e ensinar sobre as conquistas de nosso povo desde a criação do Alto Conselho? Bom, suas escolhas hoje os encaminharão para
  • 5. uma dessas ou de outras profissões! Espero sinceramente que escolham sabiamente. Obrigado! Quando Beckmor encerrou o discurso e se retirou para a plataforma onde os demais líderes se encontravam, todos do pátio se levantaram e começaram a aplaudir o discurso, que para mim foi uma porcaria, mas mesmo assim aplaudo. E então a euforia enfim acabou, todos se sentaram e fizeram silêncio, para que o evento começasse. Na cerimônia, os calouros são chamados pelos líderes, e então sobem ao palco, lá devem escolher e dizer em voz alta as três escolhas, e prestar juramento diante de todos. A primeira pessoa a ser chamada foi uma garota chamada Lillian Harper, uma loira magricela, de rosto bonito. Lillian escolheu três opções que provavelmente a levariam aos laboratórios para trabalhar com o governo. Depois dela, Natasha Heather foi chamada, ela é bonita, loira também, mas ao contrário de Lilian, tem um corpo atlético por causa de nossas brincadeiras na rua. Acho que ela é a única que não tomava o soro além de mim e meu irmão. Natasha escolheu opções que provavelmente a levarão para as tropas da cidade. E enquanto outros calouros eram chamados, meus pais começaram a conversar conosco: - E então crianças, como se sentem? Preparados para definirem seu futuro? Fiquem tranquilos, vai dar tudo certo! – Disse meu pai. - É, acho que sim! Espero que realmente de tudo certo como você diz pai. Sabe que amamos vocês, não sabem? - Claro que sabemos, não é Clarke? - Sim, querido! Atom, vai lá, estão chamando seu nome.
  • 6. - Ah, sim! Claro mãe. – Atom se levantou e foi em direção ao corredor – Amo vocês! E então, Atom me cutucou e cochichou em meu ouvido: - Jack, estive pensando, e acho que vou escolher o que me permite ingressar ao exército deles. O que você acha? Papai e mamãe vão aceitar? - Atom, claro que vão, talvez eles não gostem, mas irão aceitar, afinal eles falaram pra gente escolher sabiamente certo? Escolher o que nós fará bem. E é isso o que vou fazer, só não sei o que me faz bem. - Como assim não sabe Jack, no que você está pensando? Acho que ambos devíamos escolher as matérias que nos levam ao exército. Com papai e mamãe no laboratório do governo, e nós na força militar deles, a Resistência teria um grande apoio, não acha? - É, acho que está certo! Vamos nos juntar ao exército, certo? Eu e você? - Sim. – Atom acenou para mim com a cabeça e sorriu. É a vez dele agora, Atom me abraçou e se levantou, abraçou meu pai e minha mãe, e caminhou para a rampa de acesso para o palco. Lá, se apressou para o centro, onde esperava a palavra do Conselho, e era visível que estava nervoso pois não parava de tremer. Acho que está nervoso por conta do que o pai e a mãe vão achar. E então John Beckmor e Adam Olfitler, outro membro do Conselho, se levantaram e vieram até a frente da plataforma, lá Beckmor falou primeiro: - Senhor... Atom Kaeggie correto? Bem, espero que esteja preparado para fazer sua escolha e prestar seu juramento diante do Conselho? Saiba que a decisão que
  • 7. tomar hoje, terá resultado amanhã, então escolha sabiamente! Adam teve sua vez: - E então Sr. Atom, qual é sua decisão? Atom ficou branco, com certeza estava com receio do que nossos pais iriam pensar a respeito de sua escolha, mas mesmo assim falou: - Bem, é, eu... eu... Eu gostaria de escolher as opções de técnicas de combate, treino de armas e sobrevivência, Sr. Olfitler. - Certo Atom, e pode nos dizer o motivo da escolha? - Claro. Eu escolhi essas opções, porque me permitem ingressar as tropas do Governo. - E porque deseja ingressar as tropas do Governo? Ainda mais, porque acha que vai conseguir ingressar? - Bem Sr. Olfitler, eu quero ajudar o Governo a destruir a Resistência, e manter a paz de nosso povo, porque sei que o que vocês fazem é o melhor para nós. – Nesse momento, minha mãe começou a chorar, meu pai ficou branco, e então cochicharam entre si algo que não consegui escutar. Beckmor pediu para que meu irmão fizesse o juramento diante do Conselho, e o liberou, então chamou meu nome. Me levantei, e quando passei por Atom, ele piscou pra mim e sorriu, entendi tudo, ele apenas fingiu ser contra a Resistência para que o Conselho apoiasse sua entrada para as tropas. Então segui meu caminho até o palco, e quando dei uma última olhada pros meus pais, Atom estava conversando com eles, provavelmente explicando o plano. Me endireitei no centro do palco, e fiquei observando a plataforma onde se encontrava os líderes do Conselho.
  • 8. Meu coração quer sair pela garganta de tão nervosa que estou, fecho os meus olhos, engulo em seco e respiro fundo para me acalmar. Então ouço a pergunta, vinda de Beckmor: - Srta. Jack, nome curioso o seu. Está preparada para a cerimônia? Para escolher o que pode definir seu futuro? Desejo toda a sabedoria, para que escolha o caminho correto. - Obrigada Sr. Beckmor, espero ter a sabedoria necessária para escolher o correto. Adam falou: - Então Senhorita, nos diga sua escolha. – Apesar dos 38 anos, Adam tinha uma aparência jovial, seus cabelos negros bem arrumados num elegante topete, seus brilhantes olhos negros fitavam-me. Fiquei pensando sobre o que escolher, sobre o plano que meu irmão Atom propôs, sobre meus pais. Fechei os olhos e esqueci tudo ao meu redor, só pensava em minha escolha. De repente: - Vamos Senhorita, não temos o dia todo, ainda há outros calouros para participarem desta cerimônia, diga-nos sua resposta, e faça o juramento. – Adam pareceu um pouco irritado com a minha demora, dava para perceber no tom de sua voz. - Desculpe, eu...Eu escolho o mesmo de meu irmão Atom. Quero me juntar futuramente aos soldados da cidade. Acho que tenho capacidade de me tornar uma boa soldada senhor. - Muito bem Jack, vejo força de vontade em você, mas esteja ciente que selecionamos apenas os melhores para
  • 9. nossos esquadrões. – Adam falava num tom de superioridade, mas nem me incomodei – Agora preste o juramento. Coloquei a mão em meu peito esquerdo, e comecei a falar: “Juro diante de todos os membros do Conselho aqui presentes, e por todos aqueles que um dia já foram parte dele. Juro diante das pessoas aqui presente, que farei o melhor pelo nosso povo, e que não trairei nos líderes. A partir de hoje, é meu dever dar meu melhor para honrar minhas escolhas.” Quando terminei, me dirigi de volta para meu assento, e falei para meus pais: - Pai, mãe, sinto muito, eu... eu... - Minha filha, não precisa se desculpar, você tinha que fazer a sua escolha, não a nossa. Não estamos chateados, apoiamos sua decisão, amamos você Jack, amamos você e seu irmão. - Mas era claro que meus pais estavam chateados, os olhos da minha mãe estavam vermelhos e molhados, e meu pai sequer falou alguma coisa, mas mesmo assim, abracei-os e respondi: - Também amo vocês. Esperamos o resto dos calouros fazerem suas escolhas e a cerimônia acabar, mas devido ao silêncio entre meus pais e nós, isso parecia uma eternidade, por isso falei com meu irmão: - Ei, Atom! Acham que vão nos desculpar? Nosso pai sequer falou algo.
  • 10. - Jack, não sei, acho que vai ser difícil, mas vão aceitar, eles tem que aceitar né? Somos os únicos filhos deles. Além disso, eles mesmo disseram pra fazermos nossas escolhas. - Atom, você contou do plano? - Não, achei melhor não, poderia piorar a situação. A cerimônia durou mais umas duas horas, e quando acabou alguns pais pulavam de alegria, outros não estavam tão satisfeitos com as escolhas dos filhos. Fomos para fora do edifício onde os transportes para nossas novas escolas nos aguardavam. Os colégios são nossas casas agora, ficamos lá até completarmos os estudos, e temos o direito de ir pra casa a cada duas semanas. Os estudantes que escolheram as opções militares deveriam pegar o sistema de trem até a estação próxima ao Colégio Bramshaw, e os calouros que escolheram as opções cientificas, seguiriam até a estação próxima ao Laboratório de Pesquisas do Governo. Os demais estudantes que escolheram outras opções seguem pra outros colégios.