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REVISTA
BRASILEIRA   SAÚDE DA FAMÍLIA 32
             Publicação do Ministério da Saúde - Ano XIII - maio a agosto de 2012 – ISSN 1518-2355




PMAQ-AB                                              ENTREVISTA
                                                     Maya Takagi e o desafio da
ciclo virtuoso que                                   intersetorialidade para a
alcança todo o Brasil                                alimentação saudável

SORRISO                                              BRASIL CARINHOSO
a amplitude terapêutica                              promove crescimento e
do NASF                                              desenvolvimento sadios



ENCARTE                                               SAÚDE NAS PRISÕES
originalidade dos                                     Universalidade no SUS
ACS chega a Angola
Revista Brasileira Saúde da Família
Ano XIII, número 32, mai./ago. 2012

Coordenação, Distribuição e informações
MINISTÉRIO DA SAÚDE
Secretaria de Atenção à Saúde
Departamento de Atenção Básica
Edifício Premium SAF Sul – Quadra 2 – Lotes 5/6
Bloco II – Subsolo
CEP: 70.070-600, Brasília - DF
Telefone: (0xx61) 3315-9044
Home Page: www.saude.gov.br/dab

Editor Chefe:
Hêider Aurélio Pinto                                           Equipe de Comunicação:
                                                               Déborah Proença
Jornalista Responsável/ Editor:                                Fernando Ladeira
Fernando Ladeira de Oliveira (MTB 1476/DF)                     Luciana Melo
                                                               Marcos Botelho
Coordenação Técnica:                                           Raphael Gomes
Patricia Sampaio Chueiri                                       Tiago Souza
Alexandre de Souza Ramos
Mariana Carvalho Pinheiro                                      Diagramação e ilustrações:
                                                               Roosevelt Ribeiro Teixeira
Secretária de Redação
Déborah Proença                                                Revisão:
                                                               Ana Paula Reis
Conselho Editorial:
Alexandre de Souza Ramos                                       Normalização:
Angelo Giovani Rodrigues                                       Marjorie Fernandes Gonçalves
Antonio Neves Ribas
Déborah Proença                                                Fotografias:
Felipe Cavalcanti                                              Ana Nascimento/ MDS, Radilson Carlos Gomes
Fernanda Ferreira Marcolino                                    (RCG), Déborah Proença, Fernando Ladeira (FL),
Fernando Ladeira                                               Camila Giugliani, Carlile Lavor, D. Borges. Acervos:
Hêider Aurélio Pinto                                           SMS Sorriso, UBS Alice Tibiriçá, Projeto Uhayele
Kimielle Cristina Silva                                        Angola, Telessaúde RS/SC, Conasems, Agência
Larissa Menezes Silva                                          Brasil, Ministério da Saúde, Peter Illicciev - Fiocruz
Marcelo Pedra Machado                                          Multimagens, SES-AC. Capa: Fernando Ladeira
Marco Aurélio Santana da Silva
Mariana Carvalho Pinheiro                                      Colaboração:
Patricia Sampaio Chueiri                                       Marcos Nascimento, Patrícia Jaime, Eduardo Melo,
Patrícia Tiemi Cawahisa                                        Marcos Botelho, Fábio Vieira, Andrigo Wiebling.
Paulynne Cavalcanti


Impresso no Brasil / Printed in Brazil
Distribuição gratuita



           Revista Brasileira Saúde da Família / Ministério da Saúde – Ano 13, n. 32
              (mai. / ago. 2012). – Brasília : Ministério da Saúde, 2012.
              Quadrimestral.
              Ano 13, n. 32, publicada pela Gráfica do Ministério da Saúde.

               ISSN: 1518 2355


               1. Saúde da Família - Periódico. I. Brasil. II. Ministério da saúde. III. Título. IV. Série.
                                                                                                   CDU 614
SUMÁRIO


                 CAPA
                        28	 PMAQ-AB e censo: rotas de avaliação pelo Brasil afora




              CARTAS
                     04
           EDITORIAL 05 Por um Brasil saudável

       ESF EM FOCO
                     06	 Envelhecimento é pauta da 65ª Assembleia Mundial da Saúde
                     19	 Congresso Nacional Conasems
         ENTREVISTA
                     08 Maya Takagi
              BRASIL
                     13	 Rio +20
                     20	 Saúde no sistema prisional
                     40 Brasil Carinhoso
                     44	 Avaliação do Plano de Crônicas
EXPERIÊNCIA EXITOSA
                     16 Atenção integral a saúde do idoso
                     46 Sorriso/NASF
           CARREIRA 24 Daiani de Bem Borges, farmacêutica

        PELO MUNDO 49	 Família

    DE OLHO NO DAB 36 	 VI Congresso Internacional de AB

                     39	 World Nutrition
             ARTIGO 52 Saúde e trabalho: condições de trabalho do
                         agente comunitário de Saúde



                          Departamento de Atenção Básica
                          Edifício Premium -SAF Sul- Quadra 2 –
                                                                          Revista Brasileira
                          Lotes 5/6 –Bloco II –Subsolo                    Saúde da Família
                          Brasília- DF – CEP – 70070-600                  Nº 32
                          Fone: (61) 3315-9044
                          http://dab.saude.gov.br/portaldab/
CARTAS


       Sou médico com título de especialista em Medicina de Fa-        se o Ministério tem protocolos sobre o assunto e, se
       mília e Comunidade e soube que nas equipes da Estraté-          tem, poderiam encaminhá-los. Obrigada.
       gia Saúde da Família em que há presença do médico com
       residência médica em Medicina de Família e Comunidade,          Sabrina Teixeira (por e-mail)
       ou título de especialista na área, haveria direito ao repasse
       de mil reais a mais no orçamento mensal da equipe, mas          Prezada Sabrina,
       não estou conseguindo. Segundo a Secretaria de Saúde
       do município em que trabalho, o incentivo ainda não esta-       O Ministério da Saúde não adota protocolos específicos
       ria vigorando. Gostaria de saber se a informação procede        para a prescrição de medicamentos pelo enfermeiro
                                                                       que atua no PSF.
       e o que é necessário para receber tal benefício.
                                                                       De acordo com a Lei nº 7.498/86, que regulamenta o
       Agradeço a informação.
                                                                       exercício profissional da enfermagem, está entre as
                                                                       atribuições privativas do enfermeiro a “prescrição de
       Marcello Macedo (por e-mail)                                    medicamentos estabelecidos em programas de saúde
                                                                       pública e em rotina aprovada pela instituição de saú-
       Prezado Marcello,                                               de”. A Política Nacional de Atenção Básica define como
                                                                       competências do enfermeiro a prescrição de medica-
       Já tivemos uma portaria que trazia esse incentivo, mas foi      mentos e a solicitação de exames complementares, de
       revogada. Isso se deve ao advento do Programa Nacional          acordo com protocolos ou outras normativas técnicas
       de Melhoria do Acesso e da Qualidade e à criação do             estabelecidas pelo gestor federal, estadual, municipal
       adicional de “melhoria do acesso e qualidade”, que in-          ou do Distrito Federal. Assim, essa é uma discussão que
       clui toda a equipe e leva em consideração o trabalho de-        cada Estado ou município precisa fazer de acordo com
                                                                       as políticas de saúde da atenção básica.
       senvolvido, além da organização do processo de traba-
                                                                       No contexto da Estratégia Saúde da Família, o enfermei-
       lho e das diretrizes da Nova Política Nacional de Atenção
                                                                       ro possui autonomia para exercer algumas atividades
       Básica (Portaria GM/ MS nº 2.488/2011). Qualquer dúvida,        que visam à continuidade do cuidado, lembrando que
       por favor, nos retorne!                                         a prescrição medicamentosa deve estar devidamente
                                                                       estabelecida em protocolo estadual ou municipal, res-
                                                                       peitando o sentido de continuidade do cuidado e os sa-
                                          •••                          beres e competências da profissão.
                                                                       Segue o link do Manual de Enfermagem do Programa
       Estou terminando o curso de Enfermagem e meu tra-               Saúde da Família – Ministério da Saúde para ajudar com
       balho de conclusão de curso (TCC) tem como tema a               a sua pesquisa:
       prescrição medicamentosa e a solicitação de exames              http://pt.scribd.com/doc/34807294/Livro-Manual-de-En-
       pelo enfermeiro que trabalha no PSF. Gostaria de saber          fermagem-USP-Ministerio-Da-Saude




                           Esta seção foi feita para você se comunicar conosco.
          Para sugestões e críticas, entre em contato com a redação: comunica.dab@saude.gov.br
           A Revista Brasileira Saúde da Família reserva-se ao direito de publicar as cartas edita-
                               das ou resumidas conforme espaço disponível.
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    Revista Brasileira Saúde da Família
EDITORIAL


                                      Por um Brasil saudável

   Setenta por cento das equipes que aderiram ao Programa Nacional de Melhoria do Acesso e da Qualidade
da Atenção Básica (PMAQ-AB) já foram avaliadas. Os números são surpreendentes: de maio ao final de agosto,
12.165 equipes de atenção básica foram avaliadas e 47.000 usuários entrevistados. Em 1.810 municípios, 7.236
equipes já estavam com a certificação de qualidade definida e passam a receber a certificação de qualidade, a
partir da qual o município pode garantir até o dobro do recurso repassado por equipe sem adesão ao programa.
Os números foram apresentados na reunião ordinária da Comissão Intergestores Tripartite (CIT), realizada em
30 de agosto, em Campo Grande, Mato Grosso do Sul.
   O primeiro ciclo do PMAQ-AB, previsto para terminar na segunda quinzena de setembro, inclui a avaliação
externa de 17.304 equipes de atenção básica nos 3.972 municípios aderidos. Quase 70 mil usuários dos serviços
de saúde foram convidados a opinar sobre o acesso e qualidade da atenção básica à saúde brasileira. São núme-
ros expressivos que puderam ser concretizados pela ação conjunta e parceira entre o Departamento de Atenção
Básica (Secretaria de Atenção à Saúde/ Ministério da Saúde) e 45 instituições de ensino superior e de pesquisa,
que iniciaram os trabalhos em maio e finalizam o primeiro ciclo de avaliação agora, cumprindo os prazos pactu-
ados com o Ministério da Saúde. A divulgação dos dados deve ser feita até o final do ano pelo ministro.
   Serão milhões de dados processados que servirão de base para futuras ações do Ministério da Saúde, dos
governos estaduais e municipais e das próprias equipes de saúde, que terão possibilidade de acessar os dados e
continuar o movimento pela melhoria da atenção à saúde dos usuários do Sistema Único de Saúde. A essas in-
formações serão acrescidos os resultados do censo de infraestrutura, que atinge todas as quase 39 mil Unidades
Básicas de Saúde em atividade no País. A realização do censo está prevista para terminar em outubro.
   Com a certificação das 17.304 equipes e o encerramento dessa etapa do programa, será iniciado um novo
ciclo, renovando o movimento pela melhoria do acesso e da qualidade da atenção básica. Mais do que a trans-
parência na gestão, o compromisso das equipes de atenção básica, de saúde bucal, dos municípios e dos Estados
por um Brasil saudável. Usuários do SUS satisfeitos!
   Além do PMAQ-AB, que é matéria de capa nesta edição, contamos com matérias que tratam do Programa
Brasil Carinhoso, do Plano de Ações Estratégicas para Enfrentamento das Doenças Crônicas, da experiência exi-
tosa com o Núcleo de Apoio à Saúde da Família (NASF) em Sorriso (MT) e a entrevista com a secretária Nacional
de Segurança Alimentar e Nutricional do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS), Maya
Takagi, entre outras. No encarte, a atuação dos agentes comunitários de saúde em Angola (África) e a formação
possibilitada pelo Telessaúde Redes Brasil aos ACS.


Desejamos a você uma boa leitura.




                                       Departamento de Atenção Básica
                                         Secretaria de Atenção à Saúde
                                              Ministério da Saúde
                                                                                                                  5
Envelhecimento é pauta da 65ª
ESF EM
 FOCO




                        Assembleia Mundial da Saúde
                                                                                  Por: Luciana Melo / Fotos: Agência Brasil




            “E
                        nvelhecimento e saúde: uma     dicamentos genéricos e propriedade          de um mecanismo de resolução, dentro
                        boa saúde aumenta os anos      intelectual foi um dos destaques das        da OMS, para que os países membros
                        de vida” foi o tema da 65ª     discussões. A pauta foi liderada pelos      tenham maior autonomia para decidir
            Assembleia Mundial da Saúde, realiza-      membros do BRICS (Brasil, Rússia, Ín-       políticas acerca desse assunto.
            da em Genebra (Suíça), de 21 a 26 de       dia, China e África do Sul). Capacitar as       Outro tema relevante, e consenso
            maio. Entre os subtemas abordados es-      agências reguladoras nacionais e pro-       entre os 194 delegados presentes na
            tiveram o monitoramento das Metas de       mover a cooperação sustentável entre        Assembleia, foi a adoção das recomen-
            Desenvolvimento do Milênio; prevenção      elas foram apontados como cruciais          dações da Declaração Política do Rio
            e controle de doenças crônicas; sis-       para haver maior acesso aos medica-         sobre Determinantes Sociais da Saúde
            temas de saúde e cobertura universal;      mentos e à eficiência de produção e         (DSS), que enfatizam a questão dos de-
            pesquisa e desenvolvimento; regula-        distribuição deles.                         terminantes sociais, econômicos e am-
            mento sanitário internacional; erradica-       A União das Nações Sul-Americanas       bientais da saúde. Fruto da Conferência
            ção da poliomielite; saúde dos adoles-     (UNASUL, que integra o Mercosul e a         Mundial de DSS, realizada no Rio de Ja-
            centes; tuberculose; HIV/aids; nutrição;   Comunidade Andina de Nações – CAN)          neiro em outubro de 2011, o documento
            e vigilância sanitária.                    defendeu a livre circulação de medica-      final prevê a boa saúde, que, segundo
                A transferência de tecnologia, me-     mentos genéricos e propôs a criação         o documento, exige a existência de um
6




         Revista Brasileira Saúde da Família
sistema de saúde universal, abrangen-        sobre a gestão da atenção básica. O        mostram que o modelo adotado em
te, equitativo, efetivo, ágil e acessível.   termo de cooperação prevê ações nas        que o sistema de saúde vai até o usu-
     A posição defendida pelo Brasil é de    áreas da saúde indígena, de enfrenta-      ário tem melhores resultados do que a
que saúde e desenvolvimento sustentá-        mento às doenças crônicas transmissí-      forma mais tradicional de assistência.
vel estão interligados, e que o bem-es-                                                 Observou-se, por exemplo, a redução
tar de todos os povos deve ser a força                                                  de 47% da mortalidade infantil (dados
motriz das estratégias de saúde, e não a        “...A posição de-                       do Censo 2010 do Instituto Brasileiro
doença. O ministro da Saúde, Alexandre
Padilha, em seu discurso no primeiro
                                              fendida pelo Brasil                       de Geografia e Estatística – IBGE) e da
                                                                                        hospitalização por doenças cardiovas-
dia da Assembleia, falou da importância
da consolidação de uma nova visão so-
                                               é de que saúde e                         culares e respiratórias.
                                                                                             “O sucesso da Estratégia Saúde
bre a saúde como fator fundamental de          desenvolvimento                          da Família nos mostrou que essa é a
desenvolvimento e justiça social, capaz                                                 melhor forma de dar à população bra-
de promover a ideia de que o acesso é          sustentável estão                        sileira acesso aos serviços de atenção
parte dos direitos humanos, e não uma
mera relação de consumo.                      interligados, e que                       básica e à rede de atenção à saúde.
                                                                                        Por isso, tornou-se uma das prioridades
     Alexandre Padilha também des-
tacou o sucesso do programa de dis-
                                              o bem-estar de to-                        do Ministério da Saúde consolidar esse
                                                                                        modelo junto às gestões municipais
tribuição gratuita de medicamentos
“Saúde Não Tem Preço”, que já bene-
                                               dos os povos deve                        e estaduais”, declarou o secretário. O
                                                                                        percentual de cobertura da população
ficiou mais de 10 milhões de brasileiros       ser a força motriz                       pelas equipes de Saúde da Família é de
e, recentemente, priorizou o controle
das doenças crônicas no Brasil. Parte          das estratégias de                       53,9%, segundo dados do Ministério da
                                                                                        Saúde, de junho deste ano.
do programa, de medicamentos para o
tratamento de hipertensão e diabetes              saúde, e não                               A Assembleia Mundial da Saúde,
                                                                                        principal órgão controlador da OMS,
nas farmácias populares, foi uma das
principais ações de enfrentamento às               a doença...”                         se reúne anualmente em Genebra (Su-
doenças crônicas não transmissíveis                                                     íça) para estabelecer as políticas da
no Brasil em 2011. “Em nosso país,           veis e não transmissíveis, de telemedi-    Organização, que definem as questões
72% dos óbitos decorrem dessas enfer-        cina e telessaúde.                         prioritárias da saúde mundial. As reso-
midades. Com o apoio e liderança da              Indicado para apresentar as experi-    luções da Assembleia são adotadas
OMS, temos que sair daqui com con-           ências brasileiras do Ministério da Saú-   pelos delegados dos países membros,
senso sobre metas e indicadores para         de, o secretário de Vigilância em Saúde    que, atualmente, somam 194 (incluindo
monitorar os avanços nas ações a se-         do MS, Jarbas Barbosa, destacou os         o Brasil), e por organizações não gover-
rem adotadas ao enfrentamento desse          avanços do modelo brasileiro de aten-      namentais. Além de discutir o processo
grande desafio”, afirmou o ministro.         ção básica, orientado pela Estratégia      de reforma da OMS, o mais importante
     A atuação do governo brasileiro em      Saúde da Família (ESF) e o Programa        evento da saúde pública internacional
Genebra incluiu ainda a assinatura de        Nacional de Melhoria do Acesso e da        tem por objetivo fomentar o intercâmbio
novo termo de cooperação técnica en-         Qualidade da Atenção Básica (PMAQ).        de informações e compartilhar experiên-
tre o Brasil e o Canadá e discussões             Jarbas mencionou estudos que           cias de regulação sanitária mundial.
                                                                                                                                   7
ENTREVISTA




                       MAYA TAKAGI
                                                                       Por: Fernando Ladeira / Fotos: Ana Nascimento (MDS)




                                                                 Formada em Piracicaba, a engenheira-agrônoma Maya Taka-
                                                                 gi destacou-se como uma das coordenadoras do projeto Fome
                                                                 Zero, desenvolvido e apresentado à sociedade pelo Instituto Ci-
                                                                 dadania, entre os anos de 2001 e 2002, e incorporado ao Governo
                                                                 Lula pelo então Ministério Extraordinário de Segurança Alimentar
                                                                 e Combate à Fome, entre 2003/4, onde atuou como assessora
                                                                 especial. Em 2004, ingressou na Embrapa como pesquisadora e,
                                                                 no ano seguinte, começou a trabalhar no Gabinete Adjunto de In-
                                                                 formações da Presidência da República.
                                                                 Seus tempos de sovar massa de pão com as mãos e fazer cami-
                                                                 nhadas com tranquilidade se foram, e os momentos de lazer estão
                                                                 reservados para a família e cuidados com os filhos de 7 e 4 anos
                                                                 de idade. Especialmente após assumir o cargo de secretária na-
                                                                 cional de Segurança Alimentar e Nutricional (Sesan), desde feve-
                                                                 reiro de 2011, no Ministério do Desenvolvimento Social e Combate
                                                                 à Fome (MDS), onde tem tido importante participação na costura
                                                                 de ações interministeriais em prol da segurança alimentar e nutri-
                                                                 cional no País.
                                                                 Maya Takagi conversa com a Revista Brasileira Saúde da Família
                                                                 (RBSF) a respeito das ações do governo federal que evoluem para
                                                                 um pacto nacional em favor da retirada de 16 milhões de famílias
                                                                 da extrema pobreza. Além de medidas que garantam a produção
                                                                 de alimentos em quantidade e qualidade, com melhor e estraté-
                                                                 gica distribuição.

                RBSF – Como está inserido o          sião, foi constituído o Conselho       çando a visão de que a segurança
                tema da segurança alimentar,         Nacional de Segurança Alimentar        alimentar deve ser garantida pelo
                hoje, dentro do governo federal?     e Nutricional (Consea), vinculado      Estado brasileiro, União, Estados,
                Maya: O tema da segurança ali-       à Presidência da República. Ele é      municípios e pela sociedade civil,
                mentar e nutricional está inserido   composto por dois terços da so-        de forma participativa.
                com peso estratégico de política     ciedade civil e um terço do gover-     RBSF – Em que ponto o tema e
                de Estado desde 2003, quan-          no, e esse um terço é formado por      a prática caminham, hoje, den-
                do foi fortalecido com o projeto     19 ministérios. A secretaria-geral     tro das ações de governo?
                Fome Zero e com a meta do ex-        é de responsabilidade do MDS,          Maya: Lançamos a política, essa
                -presidente Lula de garantir pelo    mas todos os ministérios têm par-      institucionalidade que lhe dá con-
                menos três refeições ao dia para     ticipação importante, ressaltando,     cretude, e ainda a Câmara Intermi-
                todos os brasileiros. A discussão    fundamentalmente, os da Saúde,         nisterial de Segurança Alimentar
                do Fome Zero foi alçada ao cará-     do Desenvolvimento Agrário, da         e Nutricional (Cisan), o Consea,
                ter de política pública dentro do    Agricultura, Pecuária e Abasteci-      e já tivemos quatro conferências,
                conceito de Política de Segurança    mento e o da Educação. Parceiros       sendo a quarta no ano passado.
                Alimentar e Nutricional e, na oca-   que conseguem trabalhar refor-         Antes, garantimos o direito à ali-



             Revista Brasileira Saúde da Família
8
mentação na Constituição Fe-           outras políticas. Por exemplo, na     mentação. Como estão sendo
    deral, em mobilização forte da         rede escolar, como levar o tema       trabalhados? Pois o Consea
    sociedade civil. Então, acho que       para as crianças, ou como abor-       é formado por dois terços da
    um dos principais desafios atuais      dar com as famílias que recebem       sociedade, e o governo fede-
    é fortalecer a noção de direito à      o Bolsa-Família que estão melho-      ral tem limites na capilaridade,
    alimentação adequada e saudá-          rando o acesso à alimentação,         já que depende dos Estados e
    vel, que é o cerne da política hoje.   mas não necessariamente com           municípios.
    Avançamos no acesso à alimenta-        uma alimentação diversificada e       Maya: Nossa ideia é de que os
    ção, de 2003 para cá, e os índices     saudável. Melhoramos a condição       programas e ações associados à
    de desnutrição infantil caíram bas-    alimentar, no sentido quantitativo,   alimentação incorporem o concei-
    tante, em razão de um conjunto de      mas precisamos fortalecer ações       to do direito a uma alimentação de
    fatores de evolução da sociedade,                                            qualidade, e que o controle social,
    tais como o crescimento com dis-                                             a sociedade, os monitorem. Na Lei
    tribuição de renda, a geração de                                             Orgânica de Segurança Alimentar
                                              “...garantimos o direi-
    empregos, o aumento do salário                                               e Nutricional e no decreto que a
    mínimo, e o Bolsa-Família teve              to à alimentação na              regulamentou,       estabelecemos
    papel fundamental associado a             Constituição Federal,              a meta de adesão de Estados e
    esses fatores. Temos que avançar                                             municípios ao Sistema Nacional
                                               em mobilização forte
    bastante no fortalecimento da no-                                            de Segurança Alimentar, Sisan,
    ção do direito, superar a noção da           da sociedade civil.             que articule a União a essas esfe-
    alimentação como favor ou algo              Então, acho que um               ras de governo e sociedade civil.
9   que está sujeito a uso político. Um                                          Os Estados e municípios aderem
    segundo ponto fundamental é a
                                              dos principais desafios
                                                                                 ao Sisan, estabelecem um rol de
    alimentação adequada e saudá-               atuais é fortalecer a            compromissos e os incentivamos
    vel. Melhoramos o acesso quan-            noção de direito à ali-            a aderir ao pacto pelo direito hu-
    titativo, mas estamos perdendo a                                             mano à alimentação adequada,
    batalha da qualidade dos alimen-
                                              mentação adequada e
                                                                                 para fortalecer o conceito de di-
    tos que os brasileiros consomem                saudável, que é               reito e universalizá-lo. No âmbito
    todos os dias, que se reflete no                 o cerne da                  do Sisan, criamos e conseguimos,
    aumento exponencial do sobre-                                                com os 19 ministérios e uma con-
    peso e da obesidade nos últimos
                                                   política hoje...”
                                                                                 sulta ao Consea, lançar o primeiro
    10, 20 anos, com olhar especial                                              Plano Nacional de Segurança Ali-
    nas crianças, que vão se tornar os                                           mentar e Nutricional com metas
    adultos do futuro com uma série        de promoção da alimentação ade-       para os próximos quatro anos, ba-
    de problemas de saúde.                 quada e saudável, que está asso-      seado no PPA, o Plano Plurianual.
    RBSF – Com impacto nos servi-          ciada à maior oferta e ao melhor      Essas ações serão apresentadas
    ços públicos?                          acesso a esses alimentos, a ques-     em próxima plenária, na primeira
    Maya: Tem um impacto especial          tões de regulação, de campanhas,      devolutiva de nossos principais
    na rede de saúde pública, por isso     de educação para o consumo,           objetivos, metas e iniciativas, de
    a garantia do direito humano à ali-    pois, muitas vezes, as famílias não   forma regular, periódica, junto à
    mentação adequada e saudável           têm a percepção do quanto uma         adesão de Estados e municípios
    só pode ser realizada de forma in-     alimentação adequada afeta posi-      – etapa que já estamos iniciando.
    tersetorial, porque a ação de um       tivamente a sua saúde.                Vinte e quatro Estados já aderiram
    ministério isoladamente e suas         RBSF – Volto aos temas do             ao Sisan, com o compromisso de
    políticas públicas se estendem a       direito e da qualidade da ali-        em um ano elaborar planos es-
                                                                                                                       9
taduais de segurança alimentar,        e pretendemos chegar a 750 mil.       obesidade causados por aspectos
       com metas e iniciativas para a ga-     Em situações em que não ocorre        em comum, em especial o exces-
       rantia do direito de uma alimenta-     chuva, a cisterna fornece abasteci-   so de consumo de produtos ul-
       ção adequada e saudável. A etapa       mento de água à família para que      traprocessados, com quantidade
       seguinte será a de adesão dos          possa suportar bem esse período.      elevada de açúcar, de gorduras
       municípios. Queremos atuar de                                                e de sal. É fundamental envolver
                                              Além disso, benefícios e serviços
       forma articulada, no nível federal e                                         também outros atores sociais, as-
                                              estruturados tais como o progra-
       junto a Estados e municípios.                                                sim como o Ministério da Saúde já
                                              ma Bolsa-Família, a garantia da
       Estamos agora na fase de constru-                                            tem dialogado e pactuado com as
                                              safra e a atuação dos profissionais
       ção desse sistema, que não será,                                             indústrias de alimentos em rela-
                                              da saúde na Estratégia Saúde da       ção ao sal e à gordura trans. O im-
       certamente, como o SUS porque
                                              Família servem como anteparos         portante é que todos os atores so-
       não haverá repasse de recursos,
       já que não é uma prestação de          importantes para alcançar o direi-    ciais tenham consciência de seu
       serviços. É mais um estabeleci-        to à alimentação.                     papel e colaborem na construção
       mento de conceitos e regulações,                                             de modos de vida saudáveis para
       marcos regulatórios e práticas que                                           a população brasileira.
       queremos fortalecer dentro do ter-           “...Temos que olhar             RBSF – E na questão da agri-
       ritório brasileiro, de forma articu-                                         cultura? Como tem sido fazer
                                                  para o direito à saúde,           o acerto entre ministérios para
       lada. É um desafio que temos em
       construção, faremos oficinas com              o direito à alimen-            chegar à questão comum da
       os Estados pensando na adesão               tação, e não dá para             segurança alimentar?
       dos municípios e em como estru-                                              Maya: O Brasil é um caso emble-
                                                   negligenciar o cresci-           mático de convivência de uma
       turaremos uma comissão tripartite
       de pactuação.
                                                  mento do sobrepeso e              classe produtora empresarial al-
       RBSF – Sente que há uma cons-               da obesidade causa-              tamente tecnificada, voltada para
       ciência maior da questão da ga-                                              exportação, com uma agricultura
                                                   dos por aspectos em              familiar bastante consolidada, fru-
       rantia do direito à alimentação?
       Maya: – Sim, na situação da seca
                                                  comum, em especial o              to de um processo de construção
       no Nordeste, pelos relatos mu-             excesso de consumo de             que contou com uma sociedade
       nicipais e estaduais e da própria                                            civil bastante mobilizada. Temos
                                                  produtos ultraproces-
       sociedade civil que atua na região                                           movimentos sociais fortemente
       de que a situação de carência
                                                  sados, com quantida-              atuantes e mobilizados no País
       absoluta e do uso político muito            de elevada de açúcar,            que fazem a diferença, no senti-
       forte de distribuição de alimentos                                           do de avançar na consolidação
                                                  de gorduras e de sal...”
       está diferente hoje, por uma sé-                                             de políticas voltadas para a agri-
       rie de motivos: o Brasil avançou                                             cultura familiar. Ao olhar para os
       muito na garantia de direitos, nas                                           dados da agricultura familiar que
                                              RBSF – Na questão da qualida-
       políticas públicas de saúde e na                                             o Ministério do Desenvolvimento
                                              de da alimentação, por exemplo,
       agricultura familiar, por exemplo.                                           Agrário divulga, vemos que ela é
                                              o Programa Saúde na Escola
       Atualmente, temos quase 450 mil                                              responsável por 70% da produção
       cisternas construídas em parce-        (PSE) tem atuado?                     de alimentos que ficam no Brasil,
       ria com a sociedade civil no se-       Maya: Temos que olhar para o di-      mas exporta também. Acredito
       miárido nordestino, que servem         reito à saúde, o direito à alimen-    que o Brasil já superou a questão
       como um instrumento importante         tação, e não dá para negligenciar     da falta de alimentos para consu-
       de convivência com o ambiente,         o crescimento do sobrepeso e da       mo interno. Temos condições e
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     Revista Brasileira Saúde da Família
conseguimos atender à demanda
interna, não temos problema de
insuficiência de produção, e sim
de distribuição, pois há concen-
tração muito grande, por exemplo,
do arroz e do leite em pó no Sul
e, quando é preciso levar estes ali-
mentos para o Norte e Nordeste,
o custo é enorme. É fundamental
desconcentrar e estimular a pro-
dução local, principalmente de ali-
mentos frescos.
RBSF – Como tem sido a rela-
ção com o setor saúde? Como
é a participação e qual o grau
de importância?
Maya: O Ministério da Saúde
tem sido um grande parceiro, um
grande ator na política de segu-
rança alimentar e nutricional. No
ano passado, um dos eixos impor-
tantes anunciados na Conferência
de Segurança Alimentar e Nutri-
cional foi a revisão da Política Na-
cional de Alimentação e Nutrição
(PNAN), publicada no final da dé-
cada de 90. Ele tem sido um par-
ceiro importante no Plano de Pre-
venção e Controle da Obesidade
e articulamos para que esse Plano
fizesse parte do Plano de Ações
Estratégicas para o Enfrentamen-
to das Doenças Crônicas, lançado
no ano passado pelo Ministério da
Saúde. Discutimos e convocamos
consulta pública para o marco
teórico conceitual em educação         uma equipe médica tradicional,       a carência nutricional, mas outros
alimentar e nutricional, em parce-     pode participar ou colaborar         tipos de necessidades que per-
ria com os setores da saúde e da       com essa questão?                    mitam seu encaminhamento aos
educação, que sirva de referência      Maya:– A equipe de Saúde da          serviços de assistência social para
para a atuação dos gestores de         Família se insere, primeiro, na      inclusão em políticas públicas,
todos os níveis de governo dessas      identificação das problemáticas      especialmente os programas de
áreas.                                 múltiplas das famílias que afetam    transferência de renda. A equipe é
RBSF – Na prática, como uma            a sua segurança alimentar e nutri-   um dos canais essenciais para a
equipe de Saúde da Família, ou         cional, em que se incluem não só     busca ativa das famílias em situa-
                                                                                                                  11
ção de vulnerabilidade social, por                                        de vulnerabilidade social do ca-
         isso foi inserida como ação a ser                                         dastro único, e certamente envol-
         fortalecida no Brasil sem Miséria.          “...trabalhávamos             ve os ACS, permitindo o acesso
         Até o início do ano, trabalhávamos                                        a esses complementos e suple-
                                                   com uma estimativa              mentos alimentares.
         com uma estimativa do governo
         de 800 mil famílias, que nem se-            do governo de 800             RRBSF – E como se espera reti-
         quer são identificadas, para se-         mil famílias, que nem            rar os 16 milhões de famílias da
         rem beneficiadas por políticas.                                           situação de miséria?
                                                  sequer são identifica-
         Dessas, já inserimos 500 mil no                                           Maya: – Os 16 milhões de famí-
         cadastro único, e a rede de saúde
                                                  das, para serem bene-            lias estão na situação de extrema
         é uma porta de identificação muito       ficiadas por políticas.          pobreza, e trazê-los para uma
         importante. A educação alimentar                                          melhor condição é o grande obje-
                                                   Dessas, já inserimos
         e nutricional pode ajudar bastante                                        tivo do Plano Brasil sem Miséria,
                                                   500 mil no cadastro             e temos expectativa plena disso.
         na orientação da gestante, incen-
         tivar a amamentação e a alimen-              único, e a rede de           Um dos meios é a transferência
         tação adequada e saudável. O             saúde é uma porta de             de renda, para a qual foram fei-
         Ministério da Saúde iniciou, recen-                                       tos ajustes no Bolsa-Família, com
                                                    identificação muito            suplementação de recursos per
         temente, uma parceria para forta-
         lecer as ações de suplementação
                                                        importante...”             capita para as famílias na faixa de
         de ferro e de vitaminas, que é um                                         extrema pobreza e com crianças
         fator de risco, pois a criança pode                                       abaixo de seis anos. Outros dois
         ter peso e altura adequados, mas      Brasil Carinhoso complementa o      eixos são essenciais, o da univer-
         apresentar carências nutricionais     Brasil sem Miséria e é voltado às   salização do acesso aos serviços
         importantes. Parte do Programa        crianças de famílias em situação    das redes de saúde, de educação
                                                                                   e de assistência social, e o da in-
                                                                                   clusão produtiva, promovendo
                                                                                   ações para melhorar a capacita-
                                                                                   ção e oportunidades para que as
                                                                                   famílias tenham maior autonomia
                                                                                   de renda. Quer dizer não só ofer-
                                                                                   tar renda, transferência de renda,
                                                                                   mas também condições para que
                                                                                   ela melhore as condições de in-
                                                                                   serção no trabalho e melhore a
                                                                                   renda. Pela primeira vez, temos
                                                                                   um conjunto de Estados com-
                                                                                   plementando a transferência de
                                                                                   renda do governo federal para
                                                                                   esse público, mostrando que é
                                                                                   uma ação de Estado, de todo o
                                                                                   Brasil, e não de um governo. To-
                                                                                   dos ganham com essa melhoria
                                                                                   da condição de vida da camada
                                                                                   mais pobre do Brasil.
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      Revista Brasileira Saúde da Família
      Revista Brasileira Saúde da Família
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Saúde ganha espaço na Rio+20




                                                                                                                     BRASIL
                           Por: Luciana Melo / Fotos: Agência Brasil e Peter Illicciev - Fiocruz Multimagens




 O
          s riscos que as atuais e    futuro que queremos”, com 49           ção de poderes do Programa das
          futuras gerações pas-       páginas, e uma da Cúpula dos Po-       Nações Unidas para o Meio Am-
          sam com o descaso pelo      vos, além do mar de gente, ideias,     biente (PNUMA). As ausências
 planeta Terra podem ser ameni-       manifestações e reivindicações         de Barack Obama (EUA), Ângela
 zados por meio de conferências,      por um planeta mais sustentável,       Merkel (Alemanha) e David Ca-
 tratados e protocolos? Depois de     foram o saldo da Rio+20, que ter-      meron (Reino Unido) também fo-
 20 anos da Eco 92 e há poucos        minou com opiniões divididas. A        ram alvo de críticas.
 meses da Rio+20, muitos são os       erradicação da pobreza, atrelada           A conferência da Organização
 desafios a serem ainda soluciona-    ao desenvolvimento sustentável,        das Nações Unidas (ONU) sobre
 dos e lacunas a serem preenchi-      citada no documento oficial, foi       desenvolvimento sustentável, que
 das, porém não há dúvida de que      considerada um grande avanço e         aconteceu entre 13 e 22 de junho
 houve muitos avanços nas discus-     diferencial nos debates da Rio+20.     no Rio de Janeiro (RJ), teve a par-
 sões dos modelos de produção                                                ticipação de quase 45 mil pessoas
                                      O tema introduziu a preocupação
                                                                             e foi a maior da ONU já realiza-
 e consumo da sociedade, e das        com a miséria, numa discussão
                                                                             da. O encontro dos mais de 100
 relações entre meio ambiente e       que era, anteriormente, direcio-
                                                                             chefes de Estado e, aproximada-
 saúde. Também passamos a ter         nada a aspectos econômicos.
                                                                             mente, 12 mil delegados teve con-
 maior consciência dos impactos           Houve críticas ao documento
                                                                             traponto político na Cúpula dos
 que causamos com nossos atos,        final, e as principais foram as in-    Povos, evento paralelo que reuniu
 modos de consumo e padrões de        definições para responsabilidades      300 mil pessoas no Aterro do Fla-
 uso dos recursos ambientais.         específicas, incentivos financeiros,   mengo. Nessa última, a sociedade
    Duas declarações finais, a da     discriminação de prazos para a         civil e as universidades estiveram
 conferência oficial, intitulada “O   adoção de medidas e a amplia-          à frente de discussões e mobiliza-
                                                                                                                      13
Após negociações, saúde é incluída
             A luta pela inclusão da saúde, iniciada pelos brasilei-   “Saúde, Ambiente e Sustentabilidade”, da Cúpula dos
         ros, no documento da conferência foi vencedora, e nove        Povos. Os determinantes sociais e ambientais da saúde,
         parágrafos (138 a 146) foram aprovados pelos chefes de        os padrões de consumo e meio ambiente, e o desenvol-
         Estado. Veja, a seguir, a síntese dos parágrafos e o link     vimento sustentável tiveram lugar de discussão no gra-
         do documento na íntegra no Saiba Mais:                        mado oficial dos movimentos sociais.
                                                                           Um dos debates mais importantes ocorridos na ten-
         • O reconhecimento da importância dos determinantes           da foi o de segurança alimentar, colocada como um dos
           sociais e ambientais da saúde;                              elementos-chave para a tão almejada transição para um
                                                                       futuro sustentável. Foi salientada a importância de mu-
         • O compromisso com os sistemas universais de saúde;
                                                                       darmos os sistemas de governança de alimentos e agri-
         • Os signatários pedem que todos os agentes pertinen-         cultura, e sairmos do modelo da monocultura de lógica
           tes participem de ações multissetoriais coordenadas,        agroexportadora com elevado uso de agrotóxicos (veja
           de forma a atender às necessidades de saúde da po-          link para relatório sobre agrotóxicos no Saiba Mais),
           pulação mundial;                                            para um modelo agroecológico. Temas como o uso de
                                                                       transgênicos, o impacto de grandes empreendimentos
         • O compromisso em redobrar os esforços no enfren-
                                                                       sobre o meio ambiente e a saúde e a segurança química
           tamento ao HIV/aids, malária, tuberculose, gripe,
           poliomielite e outras doenças transmissíveis que            também foram abordados.
           continuam sendo motivo de grande preocupação
           mundial;                                                    Objetivos de Desenvolvimento
         • O reforço de políticas multissetoriais para a prevenção     Sustentável (ODS)
           e o controle de doenças crônicas não transmissíveis,            No lugar de tratados e protocolos com medidas
           como o câncer, as doenças cardiovasculares, o diabe-
                                                                       mandatórias, estabeleceu-se, durante a conferência,
           tes e as doenças respiratórias;
                                                                       para setembro de 2013, um grupo de trabalho com
         • O direito de usar as legislações referentes à proprie-      30 integrantes que decidirá um plano de trabalho
           dade intelectual para promover o acesso universal a         e uma proposta para os ODS à Assembleia-Geral da
           medicamentos;
                                                                       ONU. Ficou previsto no acordo o lançamento, até
         • O estabelecimento de compromissos relativos à saúde         2015, dos ODS que provavelmente irão substituir as
           sexual e reprodutiva, garantindo o planejamento fa-         atuais metas de desenvolvimento do milênio.
           miliar nas estratégias e nos programas nacionais;
                                                                           Para além dos acordos, fica a pergunta: quem fis-
         • O compromisso em reduzir a mortalidade materna e            caliza quem? Esta talvez seja uma das maiores ques-
           infantil e melhorar a saúde das mulheres, dos jovens        tões relacionadas ao pós-conferências. Estados, orga-
           e crianças.                                                 nismos internacionais ou movimentos sociais seriam
                                                                       os responsáveis por fiscalizar e impor cobranças reais
         Saúde, Ambiente e Sustentabilidade                            e punições, caso os objetivos e metas não sejam cum-
            Além de garantir espaço no documento oficial, o de-        pridos? Finda mais uma conferência e fica a lacuna,
         bate sobre a saúde também marcou presença na tenda            ainda sem solução.
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      Revista Brasileira Saúde da Família
      Revista Brasileira Saúde da Família
ções em torno dos grandes temas       Entrevista:
e desafios da crise planetária.
                                      Paulo Buss




                                                                                                                Foto: Peter Ilicciev
    Outro ponto de encontro da
Rio+20 foi o Forte de Copacaba-       Coordenador do Centro de Relações
na, onde o Projeto Humanidade         Internacionais em Saúde – CRIS/Fiocruz
2012 ficou instalado e fez enor-
me sucesso de público. De acordo
com dados da prefeitura do Rio
de Janeiro, mais de um milhão de
                                      1) Como foi o processo para in-      até vir a ser fatal, pois a crise
                                      cluir o tema saúde na Rio+20?        ambiental vai se aprofundando
pessoas participou dos eventos                                             e há um momento de “não re-
paralelos da Rio+20.                  Foi longo e difícil, pois começou    torno”, do qual acho que esta-
    Para Ary Carvalho de Miranda,     ainda em novembro de 2011,           mos muito perto.
                                      quando foi divulgado o draft         O documento da Rio+20 afirma
médico e pesquisador da Escola
                                      zero do documento “O futuro          que a saúde é uma pré-condição
Nacional de Saúde Pública Sérgio      que queremos”, e não havia se-       e um resultado importante e in-
Arouca e participante dos debates     quer menção ao tema da saúde         dicador da consecução dos três
sobre saúde e meio ambiente na        humana. O Brasil logo se movi-       pilares do desenvolvimento sus-
Cúpula dos Povos, refletir se as      mentou e o tema passou a ser         tentável (DS). Assume que ações
                                      considerado para os debates em       para doenças transmissíveis (en-
resoluções de encontros como a        Nova York em março. A contri-        tre as quais aids, tuberculose e
Rio+20 correspondem com a rea-        buição brasileira foi, então, le-    malária) e não transmissíveis
lidade é fundamental, pois para       vada ao debate e incorporada         (diabetes e hipertensão) são ne-
ele “essas conferências estão dis-    como proposta do G77 – os 130        cessárias para reduzi-las e alcan-
                                      países que compõem o Grupo           çar os indicadores. Defende a
sociadas da vida real”. Segundo       dos Não Alinhados. Finalmen-         cobertura universal em saúde e
Ary, os interesses hegemônicos do     te, o texto foi tomando corpo        a cooperação internacional para
grande capital transnacional são      e acabou sendo assumido pela         o fortalecimento dos sistemas
os verdadeiros protagonistas da       Rio+20 na versão final, com nove     de saúde.
                                      parágrafos, um dos mais longos
crise socioambiental e geram uma      temas específicos do documento.      3) O debate sobre os temas re-
contradição insolúvel, pois bus-
                                                                           lacionados à saúde na tenda
cam a solução para a crise criada     2) Qual é a sua leitura do que
                                                                           “Saúde, Ambiente e Sustenta-
pelo próprio capital. Além de os      foi incluído sobre o tema no do-
                                                                           bilidade” foi produtivo?
Estados não cumprirem os com-         cumento final da conferência?
promissos firmados e haver uma        Como muitos, eu esperava muito       Foi excepcionalmente produtivo
piora mundial nos indicadores de      mais da Rio+20, com metas con-       e criativo, elaborando inúmeras
fome, índices de desemprego e         cretas ecompromissos explícitos      propostas que agora os movi-
                                      dos governantes. No entanto,         mentos sociais deverão transfor-
acesso adequado à agua.                                                    mar em bandeiras permanentes
                                      muitos dos países mais podero-
    O Brasil saiu à frente na lide-   sos do mundo estão em crise eco-     nas esferas nacionais e global.
rança pela inclusão do tema saúde     nômica – gerada, aliás, nos paí-     O movimento social será fun-
no documento final da conferên-       ses centrais do capitalismo global   damental para que o legado da
                                      pelo capital financeiro interna-     Rio+20 se concretize. Sem uma
cia e nas discussões que antecede-
                                      cional, de forma irresponsável       sociedade civil forte, cobrando
ram o evento. Em março, quando        – e não quiseram assumir com-        dos governos e das Nações Uni-
foi divulgado o rascunho zero, o      promissos que implicassem de-        das, todas as promessas ficarão
tema saúde não constava e, de-        sembolsos financeiros. Isso pode     na retórica. É hora de ação!
vido ao esforço conjunto da Fio-
cruz, Ministério da Saúde, Orga-
nização Pan-Americana da Saúde         Saiba mais
e parceiros como o Centro Brasi-
                                       Leia o documento oficial da Rio+20, em espanhol:
leiro de Estudos de Saúde (Cebes)      http://daccess-dds-ny.un.org/doc/UNDOC/LTD/N12/436/91/PDF/N1243691.
e a Associação Brasileira de Saúde     pdf?OpenElement
Coletiva (Abrasco), o tema acabou
ocupando nove parágrafos do do-
                                       Leia o relatório da Abrasco a respeito do uso de agrotóxicos:
cumento final.                         www.abrasco.org.br/UserFiles/File/ABRASCODIVULGA/2012/DossieAGT.pdf
                                                                                                                                       15
EXPERIÊNCIA



                         Rio Negro, amigo do idoso
  EXITOSA




                                                                                                Texto e fotos: Déborah Proença




                 A
                            19 horas de lancha ex-     tigos. É o Centro de Convivência        pequena e fundamentalmente fe-
                            presso de Manaus, Santa    do Idoso (CCI).                         minina. Foi quando Rogério propôs
                            Isabel do Rio Negro, lo-      O Centro de Convivência nasceu       mudança gerencial na saúde do
                 calizada no meio da Calha do Rio      da vontade de se fazer mais, fazer      município, devido à expressiva par-
                 Negro, impressiona. Com IDH de        diferente e de melhorar o que já        ticipação de idosos na formação po-
                 0,548 e 95% de sua população          existe. Rogério de Souza Loredo,        pulacional da cidade e à demanda
                 com origem indígena (14 etnias),      um médico de Família e Comunida-        diferenciada que este público exige.
                 no quesito saúde do idoso, Santa      de acriano que adora desafios, che-     “O posto estava sempre congestio-
                 Isabel vem desbancando muita          gou a Santa Isabel em 2009. O Cen-      nado. Cuidar de idoso é diferente,
                 cidade grande por aí. Atividade       tro já existia há um ano sob a batuta   requer atenção especial e paciên-
                 física, artesanato, educação bási-    de Alzenira de Lima, a Dona Nira.       cia”, lembra o médico.
                 ca, massagem, transporte e me-           Até então, o CCI restringia-se a        Assim, direcionou-se a deman-
                 dicamento gratuito e muito mais       promover algumas atividades físi-       da de cuidado da saúde dos ido-
                 serviços em benefício dos mais an-    cas e artesanato. A frequência era      sos, que era dividida entre as duas
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         Revista Brasileira Saúde da Família
         Revista Brasileira Saúde da Família
Unidades Básicas de Saúde (UBS),        Dona Angelina, 54 anos.                  anos de idade, sofreu uma paralisia
para uma UBS construída dentro             Dona Angelina, aliás, é um caso       e é atendido no CCI. “Não é idoso,
do Centro de Convivência, em que,       à parte. Uma das poucas usuárias         mas precisa de reabilitação, então
além dos atendimentos às terças e       do Centro com menos de 60 anos,          vem para o CCI”, diz o médico.
quintas pela manhã, também se           integra a nova estratégia de enve-       Na estratégia de integralidade do
fornece medicação prescrita.            lhecimento ativo, também adotada         atendimento, Rogério considera a
   Três vezes por semana, os ido-       pelo médico. “A tendência é essa.        medicina tradicional chinesa e as
sos se reúnem para praticar cami-       Hoje o foco não é o envelhecimen-        massagens     como   fundamentais.
nhada, alongamento e ginástica,         to, puro e simplesmente, e sim en-       Acupuntura,       eletroacupuntura,
depois de um reforçado café da          velhecer com saúde. Esse é o novo        eletroestimulação e massoterapia
manhã. Na volta da atividade fí-        paradigma. Vou esperar o paciente        são algumas das técnicas utilizadas
sica, feita na praça, é dada pausa      ter 60 anos com uma gastrite que         para reabilitar e tratar dos idosos.
para a merenda, um verdadeiro           eu poderia tratar antes? Não. Faço          Dona Maria Peti, 72 anos, é um
almoço às 10h30 da manhã. De-           a sondagem no posto. Quando vejo         exemplo de envelhecimento ativo.
pois, quem desejar pode fazer           alguém muito complicadinho, enca-        É uma das poucas moradoras da
artesanato, participar das aulas        minho para o CCI. Eu mesmo me en-        área rural, e não perde nenhuma
de alfabetização, ser atendido          carrego de trazer o fluxograma dele      aula. “A atividade física dela come-
pelo médico na UBS ou ser levado        pra cá, pois trabalhamos, aqui, com      ça ainda em casa, quando pega a
para casa pela Kombi do CCI (que        uma estratégia mais integral”.           canoinha, atravessa o rio e caminha
busca e deixa todos na porta de            Outra situação diferenciada são       até aqui. Ela não pede o transpor-
casa). “Ah, melhorou demais. Tem        os usuários que necessitam de rea-       te”, conta Dona Nira. “No come-
até transporte pra gente”, conta        bilitação. Vitor, com apenas quatro      ço, meu marido ficava com ciúme,




                               Prêmio em Portugal
      Pensando grande, como dizem        conhecer o Centro de Convivência.       para todos os idosos, inclusive os
  os caboclos amazonenses, a equi-       Ficaram admirados com a experi-         que estão frágeis, fisicamente in-
  pe do Centro de Convivência do         ência”, lembra o médico Rogério.        capacitados e/ou que requerem
  Idoso (CCI) está sempre antenada           No ano europeu do envelheci-        cuidados especiais. Nesse sentido,
  em oportunidades. Foi assim que        mento ativo, o prêmio foi entre-        as pessoas com mais de 60 anos
  conquistou uma Menção Honrosa          gue no 1º Congresso Internacional       podem ser uma presença e partici-
  no prêmio “Inovação no Envelhe-        do Envelhecimento, que faz parte        pação valiosa para suas famílias e
  cimento”, edição 2011, promovido       de uma série de ações integradas        sociedade, desde que o ambiente
  pela associação portuguesa “Ami-       para disseminar o conceito de           possibilite.
  gos da Grande Idade”. A inten-         que o envelhecimento precisa ser            Assim, em 2005, surgiu a ideia
  ção era incentivar pesquisadores       encarado como uma experiência           do projeto mundial “Cidade Ami-
  e instituições sociais e de saúde a    positiva, em que uma vida mais          ga do Idoso”, desenvolvido pelos
  refletirem sobre o envelhecimento      longa pode ser acompanhada de           médicos Alexandre Kalache e Lou-
  em Portugal (especialmente) e no       oportunidades contínuas de saú-         ise Plouffe, com apoio da Organi-
  mundo e seus possíveis projetos.       de, segurança e participação nas        zação Mundial da Saúde (OMS),
      “Foi show lá! Nós fomos os úni-    questões sociais, econômicas, cul-      em 33 cidades de todo o mundo.
  cos brasileiros a ganhar uma men-      turais, religiosas e civis, e não so-       Segundo o guia deste projeto,
  ção honrosa. O diretor do Instituto    mente como a capacidade de estar        “em termos práticos, uma cidade
  do Envelhecimento e professores        fisicamente ativo ou de fazer par-      amiga do idoso adapta suas es-
  da Universidade de Lisboa, e os do     te da força de trabalho.                truturas e serviços para que sejam
  Centro de Reabilitação de referên-         O objetivo do envelhecimento        acessíveis e promovam a inclusão
  cia de Lisboa, e que atende o país     ativo é aumentar a expectativa de       de idosos com diferentes necessi-
  todo, estão doidos para vir aqui e     uma vida com saúde e qualidade          dades e graus de capacidade”.
                                                                                                                        17
mas depois ele viu que eu melhorei,        O Brasil em branco e preto           envelhecer. Se você pensar, no sé-
        fiquei mais feliz, voltei a rir e a con-                                        culo passado só se conhecia um
        versar. Ele é apaixonado por mim!”,           Com uma população estima-         dos quatro avós. Hoje, a criança
        entusiasma-se Dona Peti.                   da em 21 milhões de pessoas com      que nasce conhece os quatro”.
            Para o pleno funcionamento des-        mais de 60 anos, a expectativa de       Com um perfil cada vez mais
                                                   vida dos brasileiros cresce a cada   ativo, é preciso (re)pensar estra-
        te modelo de gerenciamento espe-
                                                   geração. Se na década de 70 a        tégias que abranjam as necessida-
        cífico para o idoso, Rogério destaca
                                                   proporção de idoso não extrapo-      des desse grupo. Acompanhando
        que se devem abranger socialização                                              esta evolução, o Ministério da
                                                   lava 4%, hoje passa de 11%. E, de
        e abordagem educativa. “Essa es-           acordo com projeções do IBGE,        Saúde (MS) lançou, em 2003, a
        tratégia é muito importante, ainda         essa porcentagem crescerá para       Política Nacional de Saúde do Ido-
        mais pra comunidade indígena, que          18% em 2030 e 29% em 2050, ul-       so, estabelecendo diretrizes para
        a informação deles é mais oral”.           trapassando a casa dos 60 milhões    o cuidado e focando sua atua-
            “Trabalho com metas e a minha          de pessoas. É a faixa da popula-     ção junto a Estados e municípios,
                                                   ção que mais cresce atualmente       principalmente em capacitações
        primeira foi fazer o modelo de ge-
                                                   no País, tanto pela expectativa de   profissionais.
        renciamento específico pro idoso.
                                                   vida, que aumentou, quanto pela
        Um modelo de atenção para atu-
                                                   taxa de natalidade, que diminuiu.     Saiba mais
        ar na prevenção, no tratamento e
                                                      Karla Cristina Giacomin, presi-   Do que o Ministério da Saúde faz para
        na reabilitação. A gente consegue          dente do Conselho Nacional dos       o idoso!
        fazer isso aqui. A gente previne, a        Direitos do Idoso (CNDI), garante    http://portal.saude.gov.br/portal/saude/
        gente trata e a gente reabilita”,          que essa é uma grande conquista.     area.cfm?id_area=153
        orgulha-se o médico.                       “Nunca a humanidade conseguiu
18




     Revista Brasileira Saúde da Família
Congresso Nacional Conasems




                                                                                                                         ESF EM
                                                                                                                          FOCO
XXVIII Congresso expande participação e
importância de atores do SUS
                                                               Por: Fernando Ladeira/ Fotos: Acervo Conasems




 A
          “Sustentabilidade do SUS”      plantação do Decreto nº 7.508/2011          Durante o congresso, em acor-
          foi o tema escolhido para o    e a minuta de portaria das diretrizes   do com o tema Sustentabilidade
          XXVIII Congresso do Conse-     para regulação do acesso a ações e      do SUS, foram abordadas questões
 lho Nacional de Secretarias Munici-     serviços de saúde na implementação      como a adesão e participação da
 pais de Saúde (Conasems), realizado     da Política Nacional de Regulação.      população, a Ouvidoria, o financia-
 entre 11 e 14 de junho, em Maceió           O ministro da Saúde, Alexandre      mento da saúde, os consórcios pú-
 (AL). Evento anual de porte já con-     Padilha, na cerimônia de abertu-        blicos, a formação dos profissionais,
 solidado, reuniu aproximadamente        ra do XXVIII Congresso, agradeceu       a atenção básica e as redes de aten-
 4.850 pessoas entre gestores munici-    aos presentes os bons resultados        ção à saúde, a assistência farmacêu-
 pais, estaduais e federais, represen-   que vêm sendo obtidos na saúde da       tica, a rede de urgência e emergên-
 tantes de conselhos estaduais e mu-     população. Citou, por exemplo, em
                                                                                 cia, a saúde na fronteira e a saúde
 nicipais e pesquisadores do Sistema     relação à saúde bucal, que este ano
                                                                                 indígena, entre tantos outros.
 Único de Saúde (SUS). Eles também       serão entregues pelo SUS, aproxima-
                                                                                     O presidente do Conasems, An-
 participaram de duas realizações pa-    damente, 400 mil próteses, o que re-
                                                                                 tônio Carlos Nardi, satisfeito ao
 ralelas: o Seminário do Observatório    presenta um aumento de quase 18%
                                                                                 final do encontro, ressaltou a im-
 Internacional de Políticas e Sistemas   em relação a 2011. Informou, tam-
                                                                                 portância da mesa que envolveu
 de Saúde e o IX Congresso da Cultu-     bém, que a mortalidade materna,
                                                                                 a Frente Nacional de Prefeitos,
 ra de Paz e Não Violência.              com 1.317 casos registrados entre
                                                                                 em que foi aprovada uma carta-
     Os participantes puderam ain-       janeiro e setembro de 2010, baixou
 da presenciar, no dia 12, a primeira    21% no mesmo período em 2011, re-       -compromisso com o SUS enquanto
 reunião da Comissão Intergestores       gistrando 1.038 mortes. E a dengue,     bandeira perene dos municípios.
 Tripartite (CIT) – formada por repre-   que nos quatro primeiros meses de       Segundo Nardi, “a cada congresso,
 sentantes do Ministério da Saúde        2010 provocou 467 mortes pelo País,     temos mostrado que o evento dei-
 (7), Conselho Nacional de Secretá-      além de 11.845 casos notificados,       xou de ser exclusivo de Secretarias
 rios de Saúde (Conass, 7) e do Co-      caiu no mesmo período de 2012 para      Municipais de Saúde para tornar-se
 nasems (7), fora de Brasília após seu   74 mortes e 1.083 casos registrados.    um congresso do Sistema Único de
 reconhecimento e institucionaliza-      Outros agradecimentos foram feitos      Saúde, de todos que lutam por uma
 ção pela Lei nº 12.466/2011. Entre os   pelas ações em cirurgias eletivas e     saúde de acesso e qualidade, equi-
 tópicos da pauta apreciada, estavam     a ampliação de cuidados pela Rede       dade e decência, que são os pilares
 a situação atual do processo de im-     Cegonha, entre outros.                  de sustentação do SUS”.
                                                                                                                            19
PNSSP – o SUS para quem não tem liberdade
BRASIL




                                                Por: Fernando Ladeira / Fotos: Radilson Carlos Gomes e Déborah Proença




            A
                    população carcerária do Brasil é estimada     sentenciada com a perda da liberdade estão sen-
                    em 520 mil habitantes, equivalente a de       do implementadas no formato de Unidades Bá-
                    uma capital como Porto Velho (RO) ou às       sicas de Saúde, que ofertam ações e serviços de
            populações de municípios de grande porte como         atenção básica. Assim, hoje, 159.588 homens e
            Juiz de Fora (MG) e Londrina (PR). Homens repre-      mulheres encarcerados, 30,69% do total, já estão
            sentam 93% desse universo, e as mulheres ape-         sob os cuidados do Sistema Único de Saúde (SUS)
            nas 7%, mas os tempos mudam e o crescimento           em 25 Estados (Quadro 1).
            demográfico anual feminino em penitenciárias,            Até então, a Lei de Execução Penal (LEP nº
            presídios, colônias agrícolas e hospitais de custó-   7.210/1984), anterior à Constituição Federal de
            dia é duas vezes maior que o masculino.               1988, regeu o acesso à saúde para os cidadãos
               Desde setembro de 2003, quando foi institu-        privados de liberdade, e foram criados departa-
            ído o Plano Nacional de Saúde no Sistema Pe-          mentos ou coordenações de saúde nas Secreta-
            nitenciário (PNSSP), as estruturas de saúde es-       rias Estaduais de Administração Penitenciária, de
            taduais criadas para atender essa população           Segurança ou de Justiça.
20




         Revista Brasileira Saúde da Família
1 – Estados qualificados ao PNSSP




Critérios de
qualificação (PNSSP)

Para um Estado se qualificar ao Pla-
no Nacional de Saúde no Sistema
Penitenciário, são necessários:

• Enviar ao Ministério da Saúde o
  termo de adesão assinado pelos
  secretários estaduais de Saúde e
  de Justiça (ou correspondentes);

• Apresentar, para aprovação, o          Cadastro Nacional de Estabeleci-    Se os municípios assumirem as ações
  Plano Operativo Estadual (POE)         mentos de Saúde (CNES);             e serviços de saúde no sistema pe-
  no Conselho Estadual de Saúde e                                            nitenciário, por meio de pacto com
  na Comissão Intergestores Bipar-      • Encaminhar a documentação para
  tite, e enviar as respectivas reso-     que Estados e municípios recebam   os Estados, conforme o §2º do art.
  luções e o Plano Operativo para o       o Incentivo para Atenção à Saúde   2º da Portaria Interministerial nº
  Ministério da Saúde apreciar;           no Sistema Penitenciário;          1.777/2003, é necessária a anuência
                                                                             do Conselho Municipal de Saúde,
• Registrar os estabelecimentos e       • Aguardar a publicação no Diário
  os profissionais de saúde das uni-      Oficial da União da portaria de    expressa em ata, e envio desta ao
  dades prisionais no Sistema de          qualificação.                      Ministério da Saúde.




    Depois de lançado o Plano,          242 estabelecimentos prisionais,     Marden Marques, a política pre-
por meio do Decreto Intermi-            dos 1.211 existentes no País.        tende ampliar os recursos des-
nisterial nº 1.777/2003, o acesso          Até o final do ano, a Área        tinados aos Estados e municí-
dos encarcerados ao SUS se deu          Técnica de Saúde no Sistema Pri-     pios e se ajustará ao Decreto nº
por meio de equipes multipro-           sional (SISP), do Departamento       7.508/2011, que instituiu – entre
fissionais (médico, enfermeiro,         de Ações Programáticas Estraté-      outros – as regiões de saúde e o
psicólogo, assistente social, den-      gicas (DAPES/SAS/MS), pretende       Contrato Organizativo de Ação
tista e técnico de enfermagem),         aprovar pela Comissão Interges-      Pública (COAP), que funcionam
substituindo, aos poucos, o for-        tores Tripartite (CIT) uma políti-   sob a ótica de relação interfede-
mato médico-centrado em vigor           ca nacional de saúde prisional       rativa, com o compromisso legal
na LEP. De 2004 para cá (Quadro         que dê amplitude e maleabili-        firmado entre União, Estados e
2), já trabalham 269 equipes de         dade ao PNSSP. Segundo o co-         municípios.
saúde penitenciária (EPEN) em           ordenador da SISP, o psicólogo          Atualmente, na medida em
                                                                                                                   21
que os estabelecimentos e as                pessoas presas têm atendimento           lecimentos penitenciários para
        equipes se registram no Cadas-              mínimo da equipe de saúde de             instituir um observatório epide-
        tro Nacional de Estabelecimen-              quatro horas semanais. Acima             miológico em saúde prisional.
        tos de Saúde (CNES), os Ministé-            de 100 presos, têm carga horária         Com isso, poderá direcionar me-
        rios da Justiça (MJ) e da Saúde             de 20 horas semanais. Para cada          lhor os recursos e definir metas
        (MS) repassam os incentivos para            500 presos, é definida pelo me-          de redução de agravos à saúde
        o custeio das ações que desen-              nos uma equipe.                          necessárias para ação das equi-
        volvem junto à população car-                  O Ministério da Saúde está            pes e atendimento aos usuários
        cerária. Unidades com até 100               realizando pesquisa nos estabe-          encarcerados.


                                                        2 – Saúde no Sistema Penitenciário

                                                     Evolução do número de equipes
                                                          cadastradas no Plano
                                                2004                                         76
                                                2005                                         171
                                               2006/7                                        174
                                                2008                                         199
                                                2009                                         215
                                                2010                                         247
                                                2011                                         269
                                Número de unidades penitenciárias com equipes: 242.




                                                                                      O presídio estadual
                                                                                      de Três Passos
                                                                                       Texto e foto: Déborah Proença

                                                                                          Em funcionamento desde 15 de setembro
                                                                                      de 2011, a Unidade Básica de Saúde Prisional
                                                                                      era uma demanda urgente para os detentos
                                                                                      de Três Passos, município do noroeste do Rio
                                                                                      Grande do Sul. Com média de 10 a 11 presos
                                                                                      em cada uma das 25 celas (a capacidade é para,
                                                                                      no máximo, quatro), o Presídio Estadual de Três
                                                                                      Passos recebe homens e mulheres de todos os
                                                                                      21 municípios que compõem a região celeiro.
                                                                                      Todavia, grande parte dos 230 presos (cerca de
                                                                                      60%) é de Três Passos e apresenta diferença no-
                                                                                      tória para a equipe de saúde.
                                                                                          “Os detentos do próprio município já esta-
                                                                                      vam em tratamento ou receberam atendimento
                                                                                      nas unidades, são diferenciados. Os demais, mui-
                                                                                      tas vezes, nunca receberam qualquer tipo de as-
                                                                                      sistência em saúde quando estavam vivendo na
                                                                                      sociedade”, afirma Moisés Scherer, dentista da
                                                                                      UBS, membro da equipe e também funcionário
                                                                                      da Superintendência dos Serviços Penitenciários
                                                                                      (Susep). Diego, um dos detentos, é natural de
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     Revista Brasileira Saúde da Família
Direitos humanos
       Segundo Marden, o Ministério da
   Saúde tem como propósito alcançar
   a cobertura total da população car-
   cerária, os 520 mil cidadãos que es-
   tão sentenciados, ou são provisórios,
   e perderam o direito à liberdade,
   mas não perderam o de acesso à saú-
   de, à alimentação e à educação, en-
   tre outros. As equipes de saúde exe-
   cutam ações de atenção básica que
   transversalizam temas como racismo
   institucional, gênero, identidade de
   gênero, orientação sexual, além das
   voltadas a gestantes.
       Quando questionados, os dire-
   tores informam que nos estabeleci-
   mentos prisionais os maiores agravos
   à saúde são: 1) Saúde mental (proble-
   mas vinculados à depressão devido
   ao confinamento); 2) Tuberculose; 3)
   DSTs e hepatites virais; 4) Dermato-
   ses; e 5) Hipertensão e diabetes.




Portela, outro município, e diz que     levantamento da situação da saúde.      das 269 equipes de saúde peni-
ficou impressionado com a saúde         Antes da inauguração da unidade,        tenciária (EPENs) que atendem a
de Três Passos. “Estou com 31 anos      não era possível fazer, e hoje é pro-   população carcerária brasileira em
e nunca fui ao médico. Aqui, tenho      tocolo”, conta o médico Ivo Weis.       242 unidades prisionais que aderi-
recebido acompanhamento”. Eliza-            O apoio psicológico e da assis-     ram ao Plano. A unidade prisional
beth, por sua vez, detida há quatro     tência social, agora inseridos inte-    possibilita o atendimento dentro
meses por tráfico de drogas e natu-     gralmente no presídio, são funda-       da carceragem, com todos os dis-
ral de Três Passos, sempre teve acom-   mentais, pois, embora as infecções      positivos para segurança da equipe
panhamento pelas eSF do município.      e problemas respiratórios sejam         de saúde e dos agentes penitenciá-
No Presídio não sentiu diferença al-    muito frequentes, a depressão é o       rios. Além disso, Marden Marques,
guma no tratamento, “não fui tra-       maior problema, principalmente          coordenador nacional do Plano
tada de forma diferente por estar       entre as mulheres. A maior queixa é     Nacional de Saúde no Sistema Pri-
presa”, diz ela.                        a insônia. “A fala ‘doutor, não con-    sional (PNSSP), informa que a cons-
    Com a inauguração da unidade        sigo dormir’ é muito comum”, afir-      trução de uma unidade de saúde
dentro do perímetro de segurança,       ma o médico.                            dentro do presídio tem menos des-
o trabalho em saúde foi reestrutu-          Vinculada ao Sistema Único de       pesas, pois diminui os gastos com
rado e organizado para atender a        Saúde, a Unidade Básica de Saúde        o acompanhamento armado dos
todos os detentos, e não somente à      Prisional (UBS-P) é regulada pelo       detentos às unidades de saúde fora
demanda espontânea. Todas as mu-        município tal qual as outras UBS,       da detenção. “Gasta-se menos com
lheres, então, realizaram exame pre-    com o mesmo padrão de atendimen-        escolta, pois diminui-se a quantida-
ventivo; e a triagem e a anamnese       to e qualidade. Resulta de uma par-     de, lá fora, de presos e de agentes.
de novos presos são feitas rigorosa-    ceria entre o município, o Estado e a   O constrangimento é amenizado
mente no dia seguinte à detenção.       União na medida em que cada um          com os policiais e os presos dentro
“Os que entram ficam numa cela          dá a sua contrapartida, tanto pela      das unidades e, com uma boa aten-
provisória, na primeira noite, e no     Secretaria de Saúde quanto pela         ção básica, reduzem-se os gastos
dia seguinte seguem para avaliação      Saúde da Segurança Pública.             com referência e contrarreferência
do médico e do dentista, para um            Hoje, Três Passos detém uma         para média e alta complexidade”.
                                                                                                                       23
Daiani de Bem Borges
                                                                                        Por: Luciana Melo Fotos: D. Borges




                                                              A adolescente que gostava de química na escola e ficava se pergun-
                                                          tando por que tal medicamento aliviava a dor, ou por que a bombinha de
                                                          asma diminuía a falta de ar, é hoje uma atuante farmacêutica do Núcleo de
                                                          Apoio à Saúde da Família (NASF), no Distrito Sanitário Sul de Florianópolis.
                                                          Daiani de Bem Borges é natural de Criciúma (SC), mas foi para Florianópolis
                                                          estudar e nunca mais voltou. Formou-se em Farmácia, em 2004, e fez mes-
                                                          trado na mesma área, em 2006, na Universidade Federal de Santa Catarina
                                                          (UFSC). Foi no mestrado que Daiani decidiu tornar-se uma profissional atu-
                                                          ante na área: “Eu queria saber como é ser farmacêutica na prática!”, e
                                                          em 2007 obteve seu primeiro trabalho na Prefeitura de Florianópolis. No
                                                          mesmo ano, fez a especialização multiprofissional em Saúde da Família, na
                                                          UFSC, o que ampliou ainda mais seu interesse pela atenção básica.
                                                              Em outubro de 2010, Daiani começou a atuar no NASF e viu a oportu-
                                                          nidade de desenvolver um trabalho diferente do que vinha fazendo. Ficou
                                                          fascinada por trabalhar a saúde na perspectiva do cuidado integral, conhe-
                                                          cer o usuário em seu território, estabelecer vínculo e trabalhar com a edu-
                                                          cação em saúde.
                                                              Fora do trabalho, Daiani gosta mesmo é de estar com a família, cozi-
                                                          nhar, viajar, escutar uma boa música e ler. Estar em contato com a natureza
                                                          e andar de bicicleta também são obrigatórios para o bem-estar dessa far-
                                                          macêutica de Criciúma que adora desafios!




        RBSF: Como e quando desco-             as atividades que desenvolvo, estão        conclusão de curso em uma UBS,
        briu sua vocação profissional?         a participação mensal nas reuniões         onde tive o primeiro contato com
        Daiani Borges: Sempre gostei de        de equipes de Saúde da Família;            as equipes de Saúde da Família
        lidar com pessoas e, por isso, de-     atendimentos individuais, na UBS           (eSF). Antes de começar a trabalhar
        cidi fazer o curso de Farmácia. No     ou em visita domiciliar e intercon-        no NASF, eu era farmacêutica res-
        início, minha inclinação era mais      sultas. Também participo do apoio          ponsável técnica pela farmácia de
        pela manipulação, mas no final         à gestão das farmácias locais; de          referência do Distrito Sanitário Sul,
        da graduação tive a oportunidade       atividades coletivas, tais como gru-       onde são dispensados os medica-
        de participar de várias discussões     pos de hipertensos, diabéticos,            mentos sujeitos a controle especial.
        sobre saúde pública e assistência      adolescentes e de usuários de me-          Na época, em função da grande
        farmacêutica, temas que na época       dicamentos controlados; e oficinas         demanda, eu não tinha tempo para
        eram recentes e, simplesmente, me      de boas práticas em farmácia com           conversar com o usuário e explicar
        encantei. Outro universo se abriu      os técnicos de enfermagem. Além            todas as orientações para o trata-
        diante de mim!                         disso, estou envolvida no projeto          mento prescrito. Muitas vezes me
        RBSF: Fale um pouco sobre seu          Horta na Escola, em que, além de           sentia uma mera entregadora de
        ambiente de trabalho e da práti-       verduras e leguminosas, introduzi-         medicamentos, e isso me angustia-
        ca profissional.                       mos algumas plantas medicinais.            va muito. Daí, em 2008, foi publica-
        Daiani Borges: Eu matricio 14          RBSF: O que a levou à Saúde da             da a portaria que instituiu o NASF e
        equipes, distribuídas em oito Unida-   Família?                                   eu a vi como uma oportunidade de
        des Básicas de Saúde (UBS). Entre      Daiani Borges: Fiz meu estágio de          contribuir para a promoção do uso
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     Revista Brasileira Saúde da Família
racional de medicamentos. Acredito                                          etc.) junto às equipes SF possibilita
que, quando uma pessoa tem co-                                              a ampliação das ações de saúde na
nhecimento a respeito de sua doen-         “...o farmacêutico               atenção básica, por meio de uma
ça, e sabe por que e para que toma                                          rede de cuidados. O último motivo,
os medicamentos prescritos, pode             pode ajudar no                 mas não menos importante, é que
reforçar sua adesão e colaborar na        aumento da adesão                 para mim o trabalho multiprofissio-
resolutividade do seu tratamento.                                           nal é desafiador e enriquecedor.
RBSF: Foi uma opção mais ra-
                                             aotratamento,                  dobramentos. Hoje, mesmo tendo
cional ou emocional?                      tornandoas ações de               descoberto outra doença grave e
Daiani Borges: Foram as duas coi-                                           apresentando outro prolapso, agora
sas. Não tem como negar que ter es-
                                                 saúde na                   vaginal, ela está comprometida com
tabilidade financeira somada à pos-          atenção básica                 os tratamentos, diminuiu o uso de
sibilidade de maior reconhecimento                                          álcool e estabeleceu residência fixa
                                               mais amplas
profissional foram importantes. No                                          ao conseguir um quarto em uma
entanto, a oportunidade de realizar         e resolutivas...”               ocupação.
um trabalho diferente daquele que                                           RBSF: Qual a importância do far-
vinha fazendo foi o grande desafio                                          macêutico na equipe do NASF?
que me motivou.                                                             Daiani Borges: O profissional far-
RBSF: Dê três motivos para ser        dito que os profissionais do Núcleo   macêutico, ao trabalhar com orien-
uma profissional do NASF?             dão um “plus” às eSF. A presença      tação ao usuário, com educação
Daiani Borges: A possibilidade de     dos profissionais do NASF (farma-     em saúde e com educação perma-
trabalhar a saúde na perspectiva do   cêutico, nutricionista, psicólogo,    nente, pode ajudar no aumento da
cuidado integral. Eu também acre-     educador físico, assistente social    adesão ao tratamento, tornando as




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  • 1. REVISTA BRASILEIRA SAÚDE DA FAMÍLIA 32 Publicação do Ministério da Saúde - Ano XIII - maio a agosto de 2012 – ISSN 1518-2355 PMAQ-AB ENTREVISTA Maya Takagi e o desafio da ciclo virtuoso que intersetorialidade para a alcança todo o Brasil alimentação saudável SORRISO BRASIL CARINHOSO a amplitude terapêutica promove crescimento e do NASF desenvolvimento sadios ENCARTE SAÚDE NAS PRISÕES originalidade dos Universalidade no SUS ACS chega a Angola
  • 2. Revista Brasileira Saúde da Família Ano XIII, número 32, mai./ago. 2012 Coordenação, Distribuição e informações MINISTÉRIO DA SAÚDE Secretaria de Atenção à Saúde Departamento de Atenção Básica Edifício Premium SAF Sul – Quadra 2 – Lotes 5/6 Bloco II – Subsolo CEP: 70.070-600, Brasília - DF Telefone: (0xx61) 3315-9044 Home Page: www.saude.gov.br/dab Editor Chefe: Hêider Aurélio Pinto Equipe de Comunicação: Déborah Proença Jornalista Responsável/ Editor: Fernando Ladeira Fernando Ladeira de Oliveira (MTB 1476/DF) Luciana Melo Marcos Botelho Coordenação Técnica: Raphael Gomes Patricia Sampaio Chueiri Tiago Souza Alexandre de Souza Ramos Mariana Carvalho Pinheiro Diagramação e ilustrações: Roosevelt Ribeiro Teixeira Secretária de Redação Déborah Proença Revisão: Ana Paula Reis Conselho Editorial: Alexandre de Souza Ramos Normalização: Angelo Giovani Rodrigues Marjorie Fernandes Gonçalves Antonio Neves Ribas Déborah Proença Fotografias: Felipe Cavalcanti Ana Nascimento/ MDS, Radilson Carlos Gomes Fernanda Ferreira Marcolino (RCG), Déborah Proença, Fernando Ladeira (FL), Fernando Ladeira Camila Giugliani, Carlile Lavor, D. Borges. Acervos: Hêider Aurélio Pinto SMS Sorriso, UBS Alice Tibiriçá, Projeto Uhayele Kimielle Cristina Silva Angola, Telessaúde RS/SC, Conasems, Agência Larissa Menezes Silva Brasil, Ministério da Saúde, Peter Illicciev - Fiocruz Marcelo Pedra Machado Multimagens, SES-AC. Capa: Fernando Ladeira Marco Aurélio Santana da Silva Mariana Carvalho Pinheiro Colaboração: Patricia Sampaio Chueiri Marcos Nascimento, Patrícia Jaime, Eduardo Melo, Patrícia Tiemi Cawahisa Marcos Botelho, Fábio Vieira, Andrigo Wiebling. Paulynne Cavalcanti Impresso no Brasil / Printed in Brazil Distribuição gratuita Revista Brasileira Saúde da Família / Ministério da Saúde – Ano 13, n. 32 (mai. / ago. 2012). – Brasília : Ministério da Saúde, 2012. Quadrimestral. Ano 13, n. 32, publicada pela Gráfica do Ministério da Saúde. ISSN: 1518 2355 1. Saúde da Família - Periódico. I. Brasil. II. Ministério da saúde. III. Título. IV. Série. CDU 614
  • 3. SUMÁRIO CAPA 28 PMAQ-AB e censo: rotas de avaliação pelo Brasil afora CARTAS 04 EDITORIAL 05 Por um Brasil saudável ESF EM FOCO 06 Envelhecimento é pauta da 65ª Assembleia Mundial da Saúde 19 Congresso Nacional Conasems ENTREVISTA 08 Maya Takagi BRASIL 13 Rio +20 20 Saúde no sistema prisional 40 Brasil Carinhoso 44 Avaliação do Plano de Crônicas EXPERIÊNCIA EXITOSA 16 Atenção integral a saúde do idoso 46 Sorriso/NASF CARREIRA 24 Daiani de Bem Borges, farmacêutica PELO MUNDO 49 Família DE OLHO NO DAB 36 VI Congresso Internacional de AB 39 World Nutrition ARTIGO 52 Saúde e trabalho: condições de trabalho do agente comunitário de Saúde Departamento de Atenção Básica Edifício Premium -SAF Sul- Quadra 2 – Revista Brasileira Lotes 5/6 –Bloco II –Subsolo Saúde da Família Brasília- DF – CEP – 70070-600 Nº 32 Fone: (61) 3315-9044 http://dab.saude.gov.br/portaldab/
  • 4. CARTAS Sou médico com título de especialista em Medicina de Fa- se o Ministério tem protocolos sobre o assunto e, se mília e Comunidade e soube que nas equipes da Estraté- tem, poderiam encaminhá-los. Obrigada. gia Saúde da Família em que há presença do médico com residência médica em Medicina de Família e Comunidade, Sabrina Teixeira (por e-mail) ou título de especialista na área, haveria direito ao repasse de mil reais a mais no orçamento mensal da equipe, mas Prezada Sabrina, não estou conseguindo. Segundo a Secretaria de Saúde do município em que trabalho, o incentivo ainda não esta- O Ministério da Saúde não adota protocolos específicos ria vigorando. Gostaria de saber se a informação procede para a prescrição de medicamentos pelo enfermeiro que atua no PSF. e o que é necessário para receber tal benefício. De acordo com a Lei nº 7.498/86, que regulamenta o Agradeço a informação. exercício profissional da enfermagem, está entre as atribuições privativas do enfermeiro a “prescrição de Marcello Macedo (por e-mail) medicamentos estabelecidos em programas de saúde pública e em rotina aprovada pela instituição de saú- Prezado Marcello, de”. A Política Nacional de Atenção Básica define como competências do enfermeiro a prescrição de medica- Já tivemos uma portaria que trazia esse incentivo, mas foi mentos e a solicitação de exames complementares, de revogada. Isso se deve ao advento do Programa Nacional acordo com protocolos ou outras normativas técnicas de Melhoria do Acesso e da Qualidade e à criação do estabelecidas pelo gestor federal, estadual, municipal adicional de “melhoria do acesso e qualidade”, que in- ou do Distrito Federal. Assim, essa é uma discussão que clui toda a equipe e leva em consideração o trabalho de- cada Estado ou município precisa fazer de acordo com as políticas de saúde da atenção básica. senvolvido, além da organização do processo de traba- No contexto da Estratégia Saúde da Família, o enfermei- lho e das diretrizes da Nova Política Nacional de Atenção ro possui autonomia para exercer algumas atividades Básica (Portaria GM/ MS nº 2.488/2011). Qualquer dúvida, que visam à continuidade do cuidado, lembrando que por favor, nos retorne! a prescrição medicamentosa deve estar devidamente estabelecida em protocolo estadual ou municipal, res- peitando o sentido de continuidade do cuidado e os sa- ••• beres e competências da profissão. Segue o link do Manual de Enfermagem do Programa Estou terminando o curso de Enfermagem e meu tra- Saúde da Família – Ministério da Saúde para ajudar com balho de conclusão de curso (TCC) tem como tema a a sua pesquisa: prescrição medicamentosa e a solicitação de exames http://pt.scribd.com/doc/34807294/Livro-Manual-de-En- pelo enfermeiro que trabalha no PSF. Gostaria de saber fermagem-USP-Ministerio-Da-Saude Esta seção foi feita para você se comunicar conosco. Para sugestões e críticas, entre em contato com a redação: comunica.dab@saude.gov.br A Revista Brasileira Saúde da Família reserva-se ao direito de publicar as cartas edita- das ou resumidas conforme espaço disponível. 4 Revista Brasileira Saúde da Família
  • 5. EDITORIAL Por um Brasil saudável Setenta por cento das equipes que aderiram ao Programa Nacional de Melhoria do Acesso e da Qualidade da Atenção Básica (PMAQ-AB) já foram avaliadas. Os números são surpreendentes: de maio ao final de agosto, 12.165 equipes de atenção básica foram avaliadas e 47.000 usuários entrevistados. Em 1.810 municípios, 7.236 equipes já estavam com a certificação de qualidade definida e passam a receber a certificação de qualidade, a partir da qual o município pode garantir até o dobro do recurso repassado por equipe sem adesão ao programa. Os números foram apresentados na reunião ordinária da Comissão Intergestores Tripartite (CIT), realizada em 30 de agosto, em Campo Grande, Mato Grosso do Sul. O primeiro ciclo do PMAQ-AB, previsto para terminar na segunda quinzena de setembro, inclui a avaliação externa de 17.304 equipes de atenção básica nos 3.972 municípios aderidos. Quase 70 mil usuários dos serviços de saúde foram convidados a opinar sobre o acesso e qualidade da atenção básica à saúde brasileira. São núme- ros expressivos que puderam ser concretizados pela ação conjunta e parceira entre o Departamento de Atenção Básica (Secretaria de Atenção à Saúde/ Ministério da Saúde) e 45 instituições de ensino superior e de pesquisa, que iniciaram os trabalhos em maio e finalizam o primeiro ciclo de avaliação agora, cumprindo os prazos pactu- ados com o Ministério da Saúde. A divulgação dos dados deve ser feita até o final do ano pelo ministro. Serão milhões de dados processados que servirão de base para futuras ações do Ministério da Saúde, dos governos estaduais e municipais e das próprias equipes de saúde, que terão possibilidade de acessar os dados e continuar o movimento pela melhoria da atenção à saúde dos usuários do Sistema Único de Saúde. A essas in- formações serão acrescidos os resultados do censo de infraestrutura, que atinge todas as quase 39 mil Unidades Básicas de Saúde em atividade no País. A realização do censo está prevista para terminar em outubro. Com a certificação das 17.304 equipes e o encerramento dessa etapa do programa, será iniciado um novo ciclo, renovando o movimento pela melhoria do acesso e da qualidade da atenção básica. Mais do que a trans- parência na gestão, o compromisso das equipes de atenção básica, de saúde bucal, dos municípios e dos Estados por um Brasil saudável. Usuários do SUS satisfeitos! Além do PMAQ-AB, que é matéria de capa nesta edição, contamos com matérias que tratam do Programa Brasil Carinhoso, do Plano de Ações Estratégicas para Enfrentamento das Doenças Crônicas, da experiência exi- tosa com o Núcleo de Apoio à Saúde da Família (NASF) em Sorriso (MT) e a entrevista com a secretária Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS), Maya Takagi, entre outras. No encarte, a atuação dos agentes comunitários de saúde em Angola (África) e a formação possibilitada pelo Telessaúde Redes Brasil aos ACS. Desejamos a você uma boa leitura. Departamento de Atenção Básica Secretaria de Atenção à Saúde Ministério da Saúde 5
  • 6. Envelhecimento é pauta da 65ª ESF EM FOCO Assembleia Mundial da Saúde Por: Luciana Melo / Fotos: Agência Brasil “E nvelhecimento e saúde: uma dicamentos genéricos e propriedade de um mecanismo de resolução, dentro boa saúde aumenta os anos intelectual foi um dos destaques das da OMS, para que os países membros de vida” foi o tema da 65ª discussões. A pauta foi liderada pelos tenham maior autonomia para decidir Assembleia Mundial da Saúde, realiza- membros do BRICS (Brasil, Rússia, Ín- políticas acerca desse assunto. da em Genebra (Suíça), de 21 a 26 de dia, China e África do Sul). Capacitar as Outro tema relevante, e consenso maio. Entre os subtemas abordados es- agências reguladoras nacionais e pro- entre os 194 delegados presentes na tiveram o monitoramento das Metas de mover a cooperação sustentável entre Assembleia, foi a adoção das recomen- Desenvolvimento do Milênio; prevenção elas foram apontados como cruciais dações da Declaração Política do Rio e controle de doenças crônicas; sis- para haver maior acesso aos medica- sobre Determinantes Sociais da Saúde temas de saúde e cobertura universal; mentos e à eficiência de produção e (DSS), que enfatizam a questão dos de- pesquisa e desenvolvimento; regula- distribuição deles. terminantes sociais, econômicos e am- mento sanitário internacional; erradica- A União das Nações Sul-Americanas bientais da saúde. Fruto da Conferência ção da poliomielite; saúde dos adoles- (UNASUL, que integra o Mercosul e a Mundial de DSS, realizada no Rio de Ja- centes; tuberculose; HIV/aids; nutrição; Comunidade Andina de Nações – CAN) neiro em outubro de 2011, o documento e vigilância sanitária. defendeu a livre circulação de medica- final prevê a boa saúde, que, segundo A transferência de tecnologia, me- mentos genéricos e propôs a criação o documento, exige a existência de um 6 Revista Brasileira Saúde da Família
  • 7. sistema de saúde universal, abrangen- sobre a gestão da atenção básica. O mostram que o modelo adotado em te, equitativo, efetivo, ágil e acessível. termo de cooperação prevê ações nas que o sistema de saúde vai até o usu- A posição defendida pelo Brasil é de áreas da saúde indígena, de enfrenta- ário tem melhores resultados do que a que saúde e desenvolvimento sustentá- mento às doenças crônicas transmissí- forma mais tradicional de assistência. vel estão interligados, e que o bem-es- Observou-se, por exemplo, a redução tar de todos os povos deve ser a força de 47% da mortalidade infantil (dados motriz das estratégias de saúde, e não a “...A posição de- do Censo 2010 do Instituto Brasileiro doença. O ministro da Saúde, Alexandre Padilha, em seu discurso no primeiro fendida pelo Brasil de Geografia e Estatística – IBGE) e da hospitalização por doenças cardiovas- dia da Assembleia, falou da importância da consolidação de uma nova visão so- é de que saúde e culares e respiratórias. “O sucesso da Estratégia Saúde bre a saúde como fator fundamental de desenvolvimento da Família nos mostrou que essa é a desenvolvimento e justiça social, capaz melhor forma de dar à população bra- de promover a ideia de que o acesso é sustentável estão sileira acesso aos serviços de atenção parte dos direitos humanos, e não uma mera relação de consumo. interligados, e que básica e à rede de atenção à saúde. Por isso, tornou-se uma das prioridades Alexandre Padilha também des- tacou o sucesso do programa de dis- o bem-estar de to- do Ministério da Saúde consolidar esse modelo junto às gestões municipais tribuição gratuita de medicamentos “Saúde Não Tem Preço”, que já bene- dos os povos deve e estaduais”, declarou o secretário. O percentual de cobertura da população ficiou mais de 10 milhões de brasileiros ser a força motriz pelas equipes de Saúde da Família é de e, recentemente, priorizou o controle das doenças crônicas no Brasil. Parte das estratégias de 53,9%, segundo dados do Ministério da Saúde, de junho deste ano. do programa, de medicamentos para o tratamento de hipertensão e diabetes saúde, e não A Assembleia Mundial da Saúde, principal órgão controlador da OMS, nas farmácias populares, foi uma das principais ações de enfrentamento às a doença...” se reúne anualmente em Genebra (Su- doenças crônicas não transmissíveis íça) para estabelecer as políticas da no Brasil em 2011. “Em nosso país, veis e não transmissíveis, de telemedi- Organização, que definem as questões 72% dos óbitos decorrem dessas enfer- cina e telessaúde. prioritárias da saúde mundial. As reso- midades. Com o apoio e liderança da Indicado para apresentar as experi- luções da Assembleia são adotadas OMS, temos que sair daqui com con- ências brasileiras do Ministério da Saú- pelos delegados dos países membros, senso sobre metas e indicadores para de, o secretário de Vigilância em Saúde que, atualmente, somam 194 (incluindo monitorar os avanços nas ações a se- do MS, Jarbas Barbosa, destacou os o Brasil), e por organizações não gover- rem adotadas ao enfrentamento desse avanços do modelo brasileiro de aten- namentais. Além de discutir o processo grande desafio”, afirmou o ministro. ção básica, orientado pela Estratégia de reforma da OMS, o mais importante A atuação do governo brasileiro em Saúde da Família (ESF) e o Programa evento da saúde pública internacional Genebra incluiu ainda a assinatura de Nacional de Melhoria do Acesso e da tem por objetivo fomentar o intercâmbio novo termo de cooperação técnica en- Qualidade da Atenção Básica (PMAQ). de informações e compartilhar experiên- tre o Brasil e o Canadá e discussões Jarbas mencionou estudos que cias de regulação sanitária mundial. 7
  • 8. ENTREVISTA MAYA TAKAGI Por: Fernando Ladeira / Fotos: Ana Nascimento (MDS) Formada em Piracicaba, a engenheira-agrônoma Maya Taka- gi destacou-se como uma das coordenadoras do projeto Fome Zero, desenvolvido e apresentado à sociedade pelo Instituto Ci- dadania, entre os anos de 2001 e 2002, e incorporado ao Governo Lula pelo então Ministério Extraordinário de Segurança Alimentar e Combate à Fome, entre 2003/4, onde atuou como assessora especial. Em 2004, ingressou na Embrapa como pesquisadora e, no ano seguinte, começou a trabalhar no Gabinete Adjunto de In- formações da Presidência da República. Seus tempos de sovar massa de pão com as mãos e fazer cami- nhadas com tranquilidade se foram, e os momentos de lazer estão reservados para a família e cuidados com os filhos de 7 e 4 anos de idade. Especialmente após assumir o cargo de secretária na- cional de Segurança Alimentar e Nutricional (Sesan), desde feve- reiro de 2011, no Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS), onde tem tido importante participação na costura de ações interministeriais em prol da segurança alimentar e nutri- cional no País. Maya Takagi conversa com a Revista Brasileira Saúde da Família (RBSF) a respeito das ações do governo federal que evoluem para um pacto nacional em favor da retirada de 16 milhões de famílias da extrema pobreza. Além de medidas que garantam a produção de alimentos em quantidade e qualidade, com melhor e estraté- gica distribuição. RBSF – Como está inserido o sião, foi constituído o Conselho çando a visão de que a segurança tema da segurança alimentar, Nacional de Segurança Alimentar alimentar deve ser garantida pelo hoje, dentro do governo federal? e Nutricional (Consea), vinculado Estado brasileiro, União, Estados, Maya: O tema da segurança ali- à Presidência da República. Ele é municípios e pela sociedade civil, mentar e nutricional está inserido composto por dois terços da so- de forma participativa. com peso estratégico de política ciedade civil e um terço do gover- RBSF – Em que ponto o tema e de Estado desde 2003, quan- no, e esse um terço é formado por a prática caminham, hoje, den- do foi fortalecido com o projeto 19 ministérios. A secretaria-geral tro das ações de governo? Fome Zero e com a meta do ex- é de responsabilidade do MDS, Maya: Lançamos a política, essa -presidente Lula de garantir pelo mas todos os ministérios têm par- institucionalidade que lhe dá con- menos três refeições ao dia para ticipação importante, ressaltando, cretude, e ainda a Câmara Intermi- todos os brasileiros. A discussão fundamentalmente, os da Saúde, nisterial de Segurança Alimentar do Fome Zero foi alçada ao cará- do Desenvolvimento Agrário, da e Nutricional (Cisan), o Consea, ter de política pública dentro do Agricultura, Pecuária e Abasteci- e já tivemos quatro conferências, conceito de Política de Segurança mento e o da Educação. Parceiros sendo a quarta no ano passado. Alimentar e Nutricional e, na oca- que conseguem trabalhar refor- Antes, garantimos o direito à ali- Revista Brasileira Saúde da Família 8
  • 9. mentação na Constituição Fe- outras políticas. Por exemplo, na mentação. Como estão sendo deral, em mobilização forte da rede escolar, como levar o tema trabalhados? Pois o Consea sociedade civil. Então, acho que para as crianças, ou como abor- é formado por dois terços da um dos principais desafios atuais dar com as famílias que recebem sociedade, e o governo fede- é fortalecer a noção de direito à o Bolsa-Família que estão melho- ral tem limites na capilaridade, alimentação adequada e saudá- rando o acesso à alimentação, já que depende dos Estados e vel, que é o cerne da política hoje. mas não necessariamente com municípios. Avançamos no acesso à alimenta- uma alimentação diversificada e Maya: Nossa ideia é de que os ção, de 2003 para cá, e os índices saudável. Melhoramos a condição programas e ações associados à de desnutrição infantil caíram bas- alimentar, no sentido quantitativo, alimentação incorporem o concei- tante, em razão de um conjunto de mas precisamos fortalecer ações to do direito a uma alimentação de fatores de evolução da sociedade, qualidade, e que o controle social, tais como o crescimento com dis- a sociedade, os monitorem. Na Lei tribuição de renda, a geração de Orgânica de Segurança Alimentar “...garantimos o direi- empregos, o aumento do salário e Nutricional e no decreto que a mínimo, e o Bolsa-Família teve to à alimentação na regulamentou, estabelecemos papel fundamental associado a Constituição Federal, a meta de adesão de Estados e esses fatores. Temos que avançar municípios ao Sistema Nacional em mobilização forte bastante no fortalecimento da no- de Segurança Alimentar, Sisan, ção do direito, superar a noção da da sociedade civil. que articule a União a essas esfe- alimentação como favor ou algo Então, acho que um ras de governo e sociedade civil. 9 que está sujeito a uso político. Um Os Estados e municípios aderem segundo ponto fundamental é a dos principais desafios ao Sisan, estabelecem um rol de alimentação adequada e saudá- atuais é fortalecer a compromissos e os incentivamos vel. Melhoramos o acesso quan- noção de direito à ali- a aderir ao pacto pelo direito hu- titativo, mas estamos perdendo a mano à alimentação adequada, batalha da qualidade dos alimen- mentação adequada e para fortalecer o conceito de di- tos que os brasileiros consomem saudável, que é reito e universalizá-lo. No âmbito todos os dias, que se reflete no o cerne da do Sisan, criamos e conseguimos, aumento exponencial do sobre- com os 19 ministérios e uma con- peso e da obesidade nos últimos política hoje...” sulta ao Consea, lançar o primeiro 10, 20 anos, com olhar especial Plano Nacional de Segurança Ali- nas crianças, que vão se tornar os mentar e Nutricional com metas adultos do futuro com uma série de promoção da alimentação ade- para os próximos quatro anos, ba- de problemas de saúde. quada e saudável, que está asso- seado no PPA, o Plano Plurianual. RBSF – Com impacto nos servi- ciada à maior oferta e ao melhor Essas ações serão apresentadas ços públicos? acesso a esses alimentos, a ques- em próxima plenária, na primeira Maya: Tem um impacto especial tões de regulação, de campanhas, devolutiva de nossos principais na rede de saúde pública, por isso de educação para o consumo, objetivos, metas e iniciativas, de a garantia do direito humano à ali- pois, muitas vezes, as famílias não forma regular, periódica, junto à mentação adequada e saudável têm a percepção do quanto uma adesão de Estados e municípios só pode ser realizada de forma in- alimentação adequada afeta posi- – etapa que já estamos iniciando. tersetorial, porque a ação de um tivamente a sua saúde. Vinte e quatro Estados já aderiram ministério isoladamente e suas RBSF – Volto aos temas do ao Sisan, com o compromisso de políticas públicas se estendem a direito e da qualidade da ali- em um ano elaborar planos es- 9
  • 10. taduais de segurança alimentar, e pretendemos chegar a 750 mil. obesidade causados por aspectos com metas e iniciativas para a ga- Em situações em que não ocorre em comum, em especial o exces- rantia do direito de uma alimenta- chuva, a cisterna fornece abasteci- so de consumo de produtos ul- ção adequada e saudável. A etapa mento de água à família para que traprocessados, com quantidade seguinte será a de adesão dos possa suportar bem esse período. elevada de açúcar, de gorduras municípios. Queremos atuar de e de sal. É fundamental envolver Além disso, benefícios e serviços forma articulada, no nível federal e também outros atores sociais, as- estruturados tais como o progra- junto a Estados e municípios. sim como o Ministério da Saúde já ma Bolsa-Família, a garantia da Estamos agora na fase de constru- tem dialogado e pactuado com as safra e a atuação dos profissionais ção desse sistema, que não será, indústrias de alimentos em rela- da saúde na Estratégia Saúde da ção ao sal e à gordura trans. O im- certamente, como o SUS porque Família servem como anteparos portante é que todos os atores so- não haverá repasse de recursos, já que não é uma prestação de importantes para alcançar o direi- ciais tenham consciência de seu serviços. É mais um estabeleci- to à alimentação. papel e colaborem na construção mento de conceitos e regulações, de modos de vida saudáveis para marcos regulatórios e práticas que a população brasileira. queremos fortalecer dentro do ter- “...Temos que olhar RBSF – E na questão da agri- ritório brasileiro, de forma articu- cultura? Como tem sido fazer para o direito à saúde, o acerto entre ministérios para lada. É um desafio que temos em construção, faremos oficinas com o direito à alimen- chegar à questão comum da os Estados pensando na adesão tação, e não dá para segurança alimentar? dos municípios e em como estru- Maya: O Brasil é um caso emble- negligenciar o cresci- mático de convivência de uma turaremos uma comissão tripartite de pactuação. mento do sobrepeso e classe produtora empresarial al- RBSF – Sente que há uma cons- da obesidade causa- tamente tecnificada, voltada para ciência maior da questão da ga- exportação, com uma agricultura dos por aspectos em familiar bastante consolidada, fru- rantia do direito à alimentação? Maya: – Sim, na situação da seca comum, em especial o to de um processo de construção no Nordeste, pelos relatos mu- excesso de consumo de que contou com uma sociedade nicipais e estaduais e da própria civil bastante mobilizada. Temos produtos ultraproces- sociedade civil que atua na região movimentos sociais fortemente de que a situação de carência sados, com quantida- atuantes e mobilizados no País absoluta e do uso político muito de elevada de açúcar, que fazem a diferença, no senti- forte de distribuição de alimentos do de avançar na consolidação de gorduras e de sal...” está diferente hoje, por uma sé- de políticas voltadas para a agri- rie de motivos: o Brasil avançou cultura familiar. Ao olhar para os muito na garantia de direitos, nas dados da agricultura familiar que RBSF – Na questão da qualida- políticas públicas de saúde e na o Ministério do Desenvolvimento de da alimentação, por exemplo, agricultura familiar, por exemplo. Agrário divulga, vemos que ela é o Programa Saúde na Escola Atualmente, temos quase 450 mil responsável por 70% da produção cisternas construídas em parce- (PSE) tem atuado? de alimentos que ficam no Brasil, ria com a sociedade civil no se- Maya: Temos que olhar para o di- mas exporta também. Acredito miárido nordestino, que servem reito à saúde, o direito à alimen- que o Brasil já superou a questão como um instrumento importante tação, e não dá para negligenciar da falta de alimentos para consu- de convivência com o ambiente, o crescimento do sobrepeso e da mo interno. Temos condições e 10 Revista Brasileira Saúde da Família
  • 11. conseguimos atender à demanda interna, não temos problema de insuficiência de produção, e sim de distribuição, pois há concen- tração muito grande, por exemplo, do arroz e do leite em pó no Sul e, quando é preciso levar estes ali- mentos para o Norte e Nordeste, o custo é enorme. É fundamental desconcentrar e estimular a pro- dução local, principalmente de ali- mentos frescos. RBSF – Como tem sido a rela- ção com o setor saúde? Como é a participação e qual o grau de importância? Maya: O Ministério da Saúde tem sido um grande parceiro, um grande ator na política de segu- rança alimentar e nutricional. No ano passado, um dos eixos impor- tantes anunciados na Conferência de Segurança Alimentar e Nutri- cional foi a revisão da Política Na- cional de Alimentação e Nutrição (PNAN), publicada no final da dé- cada de 90. Ele tem sido um par- ceiro importante no Plano de Pre- venção e Controle da Obesidade e articulamos para que esse Plano fizesse parte do Plano de Ações Estratégicas para o Enfrentamen- to das Doenças Crônicas, lançado no ano passado pelo Ministério da Saúde. Discutimos e convocamos consulta pública para o marco teórico conceitual em educação uma equipe médica tradicional, a carência nutricional, mas outros alimentar e nutricional, em parce- pode participar ou colaborar tipos de necessidades que per- ria com os setores da saúde e da com essa questão? mitam seu encaminhamento aos educação, que sirva de referência Maya:– A equipe de Saúde da serviços de assistência social para para a atuação dos gestores de Família se insere, primeiro, na inclusão em políticas públicas, todos os níveis de governo dessas identificação das problemáticas especialmente os programas de áreas. múltiplas das famílias que afetam transferência de renda. A equipe é RBSF – Na prática, como uma a sua segurança alimentar e nutri- um dos canais essenciais para a equipe de Saúde da Família, ou cional, em que se incluem não só busca ativa das famílias em situa- 11
  • 12. ção de vulnerabilidade social, por de vulnerabilidade social do ca- isso foi inserida como ação a ser dastro único, e certamente envol- fortalecida no Brasil sem Miséria. “...trabalhávamos ve os ACS, permitindo o acesso Até o início do ano, trabalhávamos a esses complementos e suple- com uma estimativa mentos alimentares. com uma estimativa do governo de 800 mil famílias, que nem se- do governo de 800 RRBSF – E como se espera reti- quer são identificadas, para se- mil famílias, que nem rar os 16 milhões de famílias da rem beneficiadas por políticas. situação de miséria? sequer são identifica- Dessas, já inserimos 500 mil no Maya: – Os 16 milhões de famí- cadastro único, e a rede de saúde das, para serem bene- lias estão na situação de extrema é uma porta de identificação muito ficiadas por políticas. pobreza, e trazê-los para uma importante. A educação alimentar melhor condição é o grande obje- Dessas, já inserimos e nutricional pode ajudar bastante tivo do Plano Brasil sem Miséria, 500 mil no cadastro e temos expectativa plena disso. na orientação da gestante, incen- tivar a amamentação e a alimen- único, e a rede de Um dos meios é a transferência tação adequada e saudável. O saúde é uma porta de de renda, para a qual foram fei- Ministério da Saúde iniciou, recen- tos ajustes no Bolsa-Família, com identificação muito suplementação de recursos per temente, uma parceria para forta- lecer as ações de suplementação importante...” capita para as famílias na faixa de de ferro e de vitaminas, que é um extrema pobreza e com crianças fator de risco, pois a criança pode abaixo de seis anos. Outros dois ter peso e altura adequados, mas Brasil Carinhoso complementa o eixos são essenciais, o da univer- apresentar carências nutricionais Brasil sem Miséria e é voltado às salização do acesso aos serviços importantes. Parte do Programa crianças de famílias em situação das redes de saúde, de educação e de assistência social, e o da in- clusão produtiva, promovendo ações para melhorar a capacita- ção e oportunidades para que as famílias tenham maior autonomia de renda. Quer dizer não só ofer- tar renda, transferência de renda, mas também condições para que ela melhore as condições de in- serção no trabalho e melhore a renda. Pela primeira vez, temos um conjunto de Estados com- plementando a transferência de renda do governo federal para esse público, mostrando que é uma ação de Estado, de todo o Brasil, e não de um governo. To- dos ganham com essa melhoria da condição de vida da camada mais pobre do Brasil. 12 12 Revista Brasileira Saúde da Família Revista Brasileira Saúde da Família
  • 13. ABr Saúde ganha espaço na Rio+20 BRASIL Por: Luciana Melo / Fotos: Agência Brasil e Peter Illicciev - Fiocruz Multimagens O s riscos que as atuais e futuro que queremos”, com 49 ção de poderes do Programa das futuras gerações pas- páginas, e uma da Cúpula dos Po- Nações Unidas para o Meio Am- sam com o descaso pelo vos, além do mar de gente, ideias, biente (PNUMA). As ausências planeta Terra podem ser ameni- manifestações e reivindicações de Barack Obama (EUA), Ângela zados por meio de conferências, por um planeta mais sustentável, Merkel (Alemanha) e David Ca- tratados e protocolos? Depois de foram o saldo da Rio+20, que ter- meron (Reino Unido) também fo- 20 anos da Eco 92 e há poucos minou com opiniões divididas. A ram alvo de críticas. meses da Rio+20, muitos são os erradicação da pobreza, atrelada A conferência da Organização desafios a serem ainda soluciona- ao desenvolvimento sustentável, das Nações Unidas (ONU) sobre dos e lacunas a serem preenchi- citada no documento oficial, foi desenvolvimento sustentável, que das, porém não há dúvida de que considerada um grande avanço e aconteceu entre 13 e 22 de junho houve muitos avanços nas discus- diferencial nos debates da Rio+20. no Rio de Janeiro (RJ), teve a par- sões dos modelos de produção ticipação de quase 45 mil pessoas O tema introduziu a preocupação e foi a maior da ONU já realiza- e consumo da sociedade, e das com a miséria, numa discussão da. O encontro dos mais de 100 relações entre meio ambiente e que era, anteriormente, direcio- chefes de Estado e, aproximada- saúde. Também passamos a ter nada a aspectos econômicos. mente, 12 mil delegados teve con- maior consciência dos impactos Houve críticas ao documento traponto político na Cúpula dos que causamos com nossos atos, final, e as principais foram as in- Povos, evento paralelo que reuniu modos de consumo e padrões de definições para responsabilidades 300 mil pessoas no Aterro do Fla- uso dos recursos ambientais. específicas, incentivos financeiros, mengo. Nessa última, a sociedade Duas declarações finais, a da discriminação de prazos para a civil e as universidades estiveram conferência oficial, intitulada “O adoção de medidas e a amplia- à frente de discussões e mobiliza- 13
  • 14. Após negociações, saúde é incluída A luta pela inclusão da saúde, iniciada pelos brasilei- “Saúde, Ambiente e Sustentabilidade”, da Cúpula dos ros, no documento da conferência foi vencedora, e nove Povos. Os determinantes sociais e ambientais da saúde, parágrafos (138 a 146) foram aprovados pelos chefes de os padrões de consumo e meio ambiente, e o desenvol- Estado. Veja, a seguir, a síntese dos parágrafos e o link vimento sustentável tiveram lugar de discussão no gra- do documento na íntegra no Saiba Mais: mado oficial dos movimentos sociais. Um dos debates mais importantes ocorridos na ten- • O reconhecimento da importância dos determinantes da foi o de segurança alimentar, colocada como um dos sociais e ambientais da saúde; elementos-chave para a tão almejada transição para um futuro sustentável. Foi salientada a importância de mu- • O compromisso com os sistemas universais de saúde; darmos os sistemas de governança de alimentos e agri- • Os signatários pedem que todos os agentes pertinen- cultura, e sairmos do modelo da monocultura de lógica tes participem de ações multissetoriais coordenadas, agroexportadora com elevado uso de agrotóxicos (veja de forma a atender às necessidades de saúde da po- link para relatório sobre agrotóxicos no Saiba Mais), pulação mundial; para um modelo agroecológico. Temas como o uso de transgênicos, o impacto de grandes empreendimentos • O compromisso em redobrar os esforços no enfren- sobre o meio ambiente e a saúde e a segurança química tamento ao HIV/aids, malária, tuberculose, gripe, poliomielite e outras doenças transmissíveis que também foram abordados. continuam sendo motivo de grande preocupação mundial; Objetivos de Desenvolvimento • O reforço de políticas multissetoriais para a prevenção Sustentável (ODS) e o controle de doenças crônicas não transmissíveis, No lugar de tratados e protocolos com medidas como o câncer, as doenças cardiovasculares, o diabe- mandatórias, estabeleceu-se, durante a conferência, tes e as doenças respiratórias; para setembro de 2013, um grupo de trabalho com • O direito de usar as legislações referentes à proprie- 30 integrantes que decidirá um plano de trabalho dade intelectual para promover o acesso universal a e uma proposta para os ODS à Assembleia-Geral da medicamentos; ONU. Ficou previsto no acordo o lançamento, até • O estabelecimento de compromissos relativos à saúde 2015, dos ODS que provavelmente irão substituir as sexual e reprodutiva, garantindo o planejamento fa- atuais metas de desenvolvimento do milênio. miliar nas estratégias e nos programas nacionais; Para além dos acordos, fica a pergunta: quem fis- • O compromisso em reduzir a mortalidade materna e caliza quem? Esta talvez seja uma das maiores ques- infantil e melhorar a saúde das mulheres, dos jovens tões relacionadas ao pós-conferências. Estados, orga- e crianças. nismos internacionais ou movimentos sociais seriam os responsáveis por fiscalizar e impor cobranças reais Saúde, Ambiente e Sustentabilidade e punições, caso os objetivos e metas não sejam cum- Além de garantir espaço no documento oficial, o de- pridos? Finda mais uma conferência e fica a lacuna, bate sobre a saúde também marcou presença na tenda ainda sem solução. 14 14 Revista Brasileira Saúde da Família Revista Brasileira Saúde da Família
  • 15. ções em torno dos grandes temas Entrevista: e desafios da crise planetária. Paulo Buss Foto: Peter Ilicciev Outro ponto de encontro da Rio+20 foi o Forte de Copacaba- Coordenador do Centro de Relações na, onde o Projeto Humanidade Internacionais em Saúde – CRIS/Fiocruz 2012 ficou instalado e fez enor- me sucesso de público. De acordo com dados da prefeitura do Rio de Janeiro, mais de um milhão de 1) Como foi o processo para in- até vir a ser fatal, pois a crise cluir o tema saúde na Rio+20? ambiental vai se aprofundando pessoas participou dos eventos e há um momento de “não re- paralelos da Rio+20. Foi longo e difícil, pois começou torno”, do qual acho que esta- Para Ary Carvalho de Miranda, ainda em novembro de 2011, mos muito perto. quando foi divulgado o draft O documento da Rio+20 afirma médico e pesquisador da Escola zero do documento “O futuro que a saúde é uma pré-condição Nacional de Saúde Pública Sérgio que queremos”, e não havia se- e um resultado importante e in- Arouca e participante dos debates quer menção ao tema da saúde dicador da consecução dos três sobre saúde e meio ambiente na humana. O Brasil logo se movi- pilares do desenvolvimento sus- Cúpula dos Povos, refletir se as mentou e o tema passou a ser tentável (DS). Assume que ações considerado para os debates em para doenças transmissíveis (en- resoluções de encontros como a Nova York em março. A contri- tre as quais aids, tuberculose e Rio+20 correspondem com a rea- buição brasileira foi, então, le- malária) e não transmissíveis lidade é fundamental, pois para vada ao debate e incorporada (diabetes e hipertensão) são ne- ele “essas conferências estão dis- como proposta do G77 – os 130 cessárias para reduzi-las e alcan- países que compõem o Grupo çar os indicadores. Defende a sociadas da vida real”. Segundo dos Não Alinhados. Finalmen- cobertura universal em saúde e Ary, os interesses hegemônicos do te, o texto foi tomando corpo a cooperação internacional para grande capital transnacional são e acabou sendo assumido pela o fortalecimento dos sistemas os verdadeiros protagonistas da Rio+20 na versão final, com nove de saúde. parágrafos, um dos mais longos crise socioambiental e geram uma temas específicos do documento. 3) O debate sobre os temas re- contradição insolúvel, pois bus- lacionados à saúde na tenda cam a solução para a crise criada 2) Qual é a sua leitura do que “Saúde, Ambiente e Sustenta- pelo próprio capital. Além de os foi incluído sobre o tema no do- bilidade” foi produtivo? Estados não cumprirem os com- cumento final da conferência? promissos firmados e haver uma Como muitos, eu esperava muito Foi excepcionalmente produtivo piora mundial nos indicadores de mais da Rio+20, com metas con- e criativo, elaborando inúmeras fome, índices de desemprego e cretas ecompromissos explícitos propostas que agora os movi- dos governantes. No entanto, mentos sociais deverão transfor- acesso adequado à agua. mar em bandeiras permanentes muitos dos países mais podero- O Brasil saiu à frente na lide- sos do mundo estão em crise eco- nas esferas nacionais e global. rança pela inclusão do tema saúde nômica – gerada, aliás, nos paí- O movimento social será fun- no documento final da conferên- ses centrais do capitalismo global damental para que o legado da pelo capital financeiro interna- Rio+20 se concretize. Sem uma cia e nas discussões que antecede- cional, de forma irresponsável sociedade civil forte, cobrando ram o evento. Em março, quando – e não quiseram assumir com- dos governos e das Nações Uni- foi divulgado o rascunho zero, o promissos que implicassem de- das, todas as promessas ficarão tema saúde não constava e, de- sembolsos financeiros. Isso pode na retórica. É hora de ação! vido ao esforço conjunto da Fio- cruz, Ministério da Saúde, Orga- nização Pan-Americana da Saúde Saiba mais e parceiros como o Centro Brasi- Leia o documento oficial da Rio+20, em espanhol: leiro de Estudos de Saúde (Cebes) http://daccess-dds-ny.un.org/doc/UNDOC/LTD/N12/436/91/PDF/N1243691. e a Associação Brasileira de Saúde pdf?OpenElement Coletiva (Abrasco), o tema acabou ocupando nove parágrafos do do- Leia o relatório da Abrasco a respeito do uso de agrotóxicos: cumento final. www.abrasco.org.br/UserFiles/File/ABRASCODIVULGA/2012/DossieAGT.pdf 15
  • 16. EXPERIÊNCIA Rio Negro, amigo do idoso EXITOSA Texto e fotos: Déborah Proença A 19 horas de lancha ex- tigos. É o Centro de Convivência pequena e fundamentalmente fe- presso de Manaus, Santa do Idoso (CCI). minina. Foi quando Rogério propôs Isabel do Rio Negro, lo- O Centro de Convivência nasceu mudança gerencial na saúde do calizada no meio da Calha do Rio da vontade de se fazer mais, fazer município, devido à expressiva par- Negro, impressiona. Com IDH de diferente e de melhorar o que já ticipação de idosos na formação po- 0,548 e 95% de sua população existe. Rogério de Souza Loredo, pulacional da cidade e à demanda com origem indígena (14 etnias), um médico de Família e Comunida- diferenciada que este público exige. no quesito saúde do idoso, Santa de acriano que adora desafios, che- “O posto estava sempre congestio- Isabel vem desbancando muita gou a Santa Isabel em 2009. O Cen- nado. Cuidar de idoso é diferente, cidade grande por aí. Atividade tro já existia há um ano sob a batuta requer atenção especial e paciên- física, artesanato, educação bási- de Alzenira de Lima, a Dona Nira. cia”, lembra o médico. ca, massagem, transporte e me- Até então, o CCI restringia-se a Assim, direcionou-se a deman- dicamento gratuito e muito mais promover algumas atividades físi- da de cuidado da saúde dos ido- serviços em benefício dos mais an- cas e artesanato. A frequência era sos, que era dividida entre as duas 16 16 Revista Brasileira Saúde da Família Revista Brasileira Saúde da Família
  • 17. Unidades Básicas de Saúde (UBS), Dona Angelina, 54 anos. anos de idade, sofreu uma paralisia para uma UBS construída dentro Dona Angelina, aliás, é um caso e é atendido no CCI. “Não é idoso, do Centro de Convivência, em que, à parte. Uma das poucas usuárias mas precisa de reabilitação, então além dos atendimentos às terças e do Centro com menos de 60 anos, vem para o CCI”, diz o médico. quintas pela manhã, também se integra a nova estratégia de enve- Na estratégia de integralidade do fornece medicação prescrita. lhecimento ativo, também adotada atendimento, Rogério considera a Três vezes por semana, os ido- pelo médico. “A tendência é essa. medicina tradicional chinesa e as sos se reúnem para praticar cami- Hoje o foco não é o envelhecimen- massagens como fundamentais. nhada, alongamento e ginástica, to, puro e simplesmente, e sim en- Acupuntura, eletroacupuntura, depois de um reforçado café da velhecer com saúde. Esse é o novo eletroestimulação e massoterapia manhã. Na volta da atividade fí- paradigma. Vou esperar o paciente são algumas das técnicas utilizadas sica, feita na praça, é dada pausa ter 60 anos com uma gastrite que para reabilitar e tratar dos idosos. para a merenda, um verdadeiro eu poderia tratar antes? Não. Faço Dona Maria Peti, 72 anos, é um almoço às 10h30 da manhã. De- a sondagem no posto. Quando vejo exemplo de envelhecimento ativo. pois, quem desejar pode fazer alguém muito complicadinho, enca- É uma das poucas moradoras da artesanato, participar das aulas minho para o CCI. Eu mesmo me en- área rural, e não perde nenhuma de alfabetização, ser atendido carrego de trazer o fluxograma dele aula. “A atividade física dela come- pelo médico na UBS ou ser levado pra cá, pois trabalhamos, aqui, com ça ainda em casa, quando pega a para casa pela Kombi do CCI (que uma estratégia mais integral”. canoinha, atravessa o rio e caminha busca e deixa todos na porta de Outra situação diferenciada são até aqui. Ela não pede o transpor- casa). “Ah, melhorou demais. Tem os usuários que necessitam de rea- te”, conta Dona Nira. “No come- até transporte pra gente”, conta bilitação. Vitor, com apenas quatro ço, meu marido ficava com ciúme, Prêmio em Portugal Pensando grande, como dizem conhecer o Centro de Convivência. para todos os idosos, inclusive os os caboclos amazonenses, a equi- Ficaram admirados com a experi- que estão frágeis, fisicamente in- pe do Centro de Convivência do ência”, lembra o médico Rogério. capacitados e/ou que requerem Idoso (CCI) está sempre antenada No ano europeu do envelheci- cuidados especiais. Nesse sentido, em oportunidades. Foi assim que mento ativo, o prêmio foi entre- as pessoas com mais de 60 anos conquistou uma Menção Honrosa gue no 1º Congresso Internacional podem ser uma presença e partici- no prêmio “Inovação no Envelhe- do Envelhecimento, que faz parte pação valiosa para suas famílias e cimento”, edição 2011, promovido de uma série de ações integradas sociedade, desde que o ambiente pela associação portuguesa “Ami- para disseminar o conceito de possibilite. gos da Grande Idade”. A inten- que o envelhecimento precisa ser Assim, em 2005, surgiu a ideia ção era incentivar pesquisadores encarado como uma experiência do projeto mundial “Cidade Ami- e instituições sociais e de saúde a positiva, em que uma vida mais ga do Idoso”, desenvolvido pelos refletirem sobre o envelhecimento longa pode ser acompanhada de médicos Alexandre Kalache e Lou- em Portugal (especialmente) e no oportunidades contínuas de saú- ise Plouffe, com apoio da Organi- mundo e seus possíveis projetos. de, segurança e participação nas zação Mundial da Saúde (OMS), “Foi show lá! Nós fomos os úni- questões sociais, econômicas, cul- em 33 cidades de todo o mundo. cos brasileiros a ganhar uma men- turais, religiosas e civis, e não so- Segundo o guia deste projeto, ção honrosa. O diretor do Instituto mente como a capacidade de estar “em termos práticos, uma cidade do Envelhecimento e professores fisicamente ativo ou de fazer par- amiga do idoso adapta suas es- da Universidade de Lisboa, e os do te da força de trabalho. truturas e serviços para que sejam Centro de Reabilitação de referên- O objetivo do envelhecimento acessíveis e promovam a inclusão cia de Lisboa, e que atende o país ativo é aumentar a expectativa de de idosos com diferentes necessi- todo, estão doidos para vir aqui e uma vida com saúde e qualidade dades e graus de capacidade”. 17
  • 18. mas depois ele viu que eu melhorei, O Brasil em branco e preto envelhecer. Se você pensar, no sé- fiquei mais feliz, voltei a rir e a con- culo passado só se conhecia um versar. Ele é apaixonado por mim!”, Com uma população estima- dos quatro avós. Hoje, a criança entusiasma-se Dona Peti. da em 21 milhões de pessoas com que nasce conhece os quatro”. Para o pleno funcionamento des- mais de 60 anos, a expectativa de Com um perfil cada vez mais vida dos brasileiros cresce a cada ativo, é preciso (re)pensar estra- te modelo de gerenciamento espe- geração. Se na década de 70 a tégias que abranjam as necessida- cífico para o idoso, Rogério destaca proporção de idoso não extrapo- des desse grupo. Acompanhando que se devem abranger socialização esta evolução, o Ministério da lava 4%, hoje passa de 11%. E, de e abordagem educativa. “Essa es- acordo com projeções do IBGE, Saúde (MS) lançou, em 2003, a tratégia é muito importante, ainda essa porcentagem crescerá para Política Nacional de Saúde do Ido- mais pra comunidade indígena, que 18% em 2030 e 29% em 2050, ul- so, estabelecendo diretrizes para a informação deles é mais oral”. trapassando a casa dos 60 milhões o cuidado e focando sua atua- “Trabalho com metas e a minha de pessoas. É a faixa da popula- ção junto a Estados e municípios, ção que mais cresce atualmente principalmente em capacitações primeira foi fazer o modelo de ge- no País, tanto pela expectativa de profissionais. renciamento específico pro idoso. vida, que aumentou, quanto pela Um modelo de atenção para atu- taxa de natalidade, que diminuiu. Saiba mais ar na prevenção, no tratamento e Karla Cristina Giacomin, presi- Do que o Ministério da Saúde faz para na reabilitação. A gente consegue dente do Conselho Nacional dos o idoso! fazer isso aqui. A gente previne, a Direitos do Idoso (CNDI), garante http://portal.saude.gov.br/portal/saude/ gente trata e a gente reabilita”, que essa é uma grande conquista. area.cfm?id_area=153 orgulha-se o médico. “Nunca a humanidade conseguiu 18 Revista Brasileira Saúde da Família
  • 19. Congresso Nacional Conasems ESF EM FOCO XXVIII Congresso expande participação e importância de atores do SUS Por: Fernando Ladeira/ Fotos: Acervo Conasems A “Sustentabilidade do SUS” plantação do Decreto nº 7.508/2011 Durante o congresso, em acor- foi o tema escolhido para o e a minuta de portaria das diretrizes do com o tema Sustentabilidade XXVIII Congresso do Conse- para regulação do acesso a ações e do SUS, foram abordadas questões lho Nacional de Secretarias Munici- serviços de saúde na implementação como a adesão e participação da pais de Saúde (Conasems), realizado da Política Nacional de Regulação. população, a Ouvidoria, o financia- entre 11 e 14 de junho, em Maceió O ministro da Saúde, Alexandre mento da saúde, os consórcios pú- (AL). Evento anual de porte já con- Padilha, na cerimônia de abertu- blicos, a formação dos profissionais, solidado, reuniu aproximadamente ra do XXVIII Congresso, agradeceu a atenção básica e as redes de aten- 4.850 pessoas entre gestores munici- aos presentes os bons resultados ção à saúde, a assistência farmacêu- pais, estaduais e federais, represen- que vêm sendo obtidos na saúde da tica, a rede de urgência e emergên- tantes de conselhos estaduais e mu- população. Citou, por exemplo, em cia, a saúde na fronteira e a saúde nicipais e pesquisadores do Sistema relação à saúde bucal, que este ano indígena, entre tantos outros. Único de Saúde (SUS). Eles também serão entregues pelo SUS, aproxima- O presidente do Conasems, An- participaram de duas realizações pa- damente, 400 mil próteses, o que re- tônio Carlos Nardi, satisfeito ao ralelas: o Seminário do Observatório presenta um aumento de quase 18% final do encontro, ressaltou a im- Internacional de Políticas e Sistemas em relação a 2011. Informou, tam- portância da mesa que envolveu de Saúde e o IX Congresso da Cultu- bém, que a mortalidade materna, a Frente Nacional de Prefeitos, ra de Paz e Não Violência. com 1.317 casos registrados entre em que foi aprovada uma carta- Os participantes puderam ain- janeiro e setembro de 2010, baixou da presenciar, no dia 12, a primeira 21% no mesmo período em 2011, re- -compromisso com o SUS enquanto reunião da Comissão Intergestores gistrando 1.038 mortes. E a dengue, bandeira perene dos municípios. Tripartite (CIT) – formada por repre- que nos quatro primeiros meses de Segundo Nardi, “a cada congresso, sentantes do Ministério da Saúde 2010 provocou 467 mortes pelo País, temos mostrado que o evento dei- (7), Conselho Nacional de Secretá- além de 11.845 casos notificados, xou de ser exclusivo de Secretarias rios de Saúde (Conass, 7) e do Co- caiu no mesmo período de 2012 para Municipais de Saúde para tornar-se nasems (7), fora de Brasília após seu 74 mortes e 1.083 casos registrados. um congresso do Sistema Único de reconhecimento e institucionaliza- Outros agradecimentos foram feitos Saúde, de todos que lutam por uma ção pela Lei nº 12.466/2011. Entre os pelas ações em cirurgias eletivas e saúde de acesso e qualidade, equi- tópicos da pauta apreciada, estavam a ampliação de cuidados pela Rede dade e decência, que são os pilares a situação atual do processo de im- Cegonha, entre outros. de sustentação do SUS”. 19
  • 20. PNSSP – o SUS para quem não tem liberdade BRASIL Por: Fernando Ladeira / Fotos: Radilson Carlos Gomes e Déborah Proença A população carcerária do Brasil é estimada sentenciada com a perda da liberdade estão sen- em 520 mil habitantes, equivalente a de do implementadas no formato de Unidades Bá- uma capital como Porto Velho (RO) ou às sicas de Saúde, que ofertam ações e serviços de populações de municípios de grande porte como atenção básica. Assim, hoje, 159.588 homens e Juiz de Fora (MG) e Londrina (PR). Homens repre- mulheres encarcerados, 30,69% do total, já estão sentam 93% desse universo, e as mulheres ape- sob os cuidados do Sistema Único de Saúde (SUS) nas 7%, mas os tempos mudam e o crescimento em 25 Estados (Quadro 1). demográfico anual feminino em penitenciárias, Até então, a Lei de Execução Penal (LEP nº presídios, colônias agrícolas e hospitais de custó- 7.210/1984), anterior à Constituição Federal de dia é duas vezes maior que o masculino. 1988, regeu o acesso à saúde para os cidadãos Desde setembro de 2003, quando foi institu- privados de liberdade, e foram criados departa- ído o Plano Nacional de Saúde no Sistema Pe- mentos ou coordenações de saúde nas Secreta- nitenciário (PNSSP), as estruturas de saúde es- rias Estaduais de Administração Penitenciária, de taduais criadas para atender essa população Segurança ou de Justiça. 20 Revista Brasileira Saúde da Família
  • 21. 1 – Estados qualificados ao PNSSP Critérios de qualificação (PNSSP) Para um Estado se qualificar ao Pla- no Nacional de Saúde no Sistema Penitenciário, são necessários: • Enviar ao Ministério da Saúde o termo de adesão assinado pelos secretários estaduais de Saúde e de Justiça (ou correspondentes); • Apresentar, para aprovação, o Cadastro Nacional de Estabeleci- Se os municípios assumirem as ações Plano Operativo Estadual (POE) mentos de Saúde (CNES); e serviços de saúde no sistema pe- no Conselho Estadual de Saúde e nitenciário, por meio de pacto com na Comissão Intergestores Bipar- • Encaminhar a documentação para tite, e enviar as respectivas reso- que Estados e municípios recebam os Estados, conforme o §2º do art. luções e o Plano Operativo para o o Incentivo para Atenção à Saúde 2º da Portaria Interministerial nº Ministério da Saúde apreciar; no Sistema Penitenciário; 1.777/2003, é necessária a anuência do Conselho Municipal de Saúde, • Registrar os estabelecimentos e • Aguardar a publicação no Diário os profissionais de saúde das uni- Oficial da União da portaria de expressa em ata, e envio desta ao dades prisionais no Sistema de qualificação. Ministério da Saúde. Depois de lançado o Plano, 242 estabelecimentos prisionais, Marden Marques, a política pre- por meio do Decreto Intermi- dos 1.211 existentes no País. tende ampliar os recursos des- nisterial nº 1.777/2003, o acesso Até o final do ano, a Área tinados aos Estados e municí- dos encarcerados ao SUS se deu Técnica de Saúde no Sistema Pri- pios e se ajustará ao Decreto nº por meio de equipes multipro- sional (SISP), do Departamento 7.508/2011, que instituiu – entre fissionais (médico, enfermeiro, de Ações Programáticas Estraté- outros – as regiões de saúde e o psicólogo, assistente social, den- gicas (DAPES/SAS/MS), pretende Contrato Organizativo de Ação tista e técnico de enfermagem), aprovar pela Comissão Interges- Pública (COAP), que funcionam substituindo, aos poucos, o for- tores Tripartite (CIT) uma políti- sob a ótica de relação interfede- mato médico-centrado em vigor ca nacional de saúde prisional rativa, com o compromisso legal na LEP. De 2004 para cá (Quadro que dê amplitude e maleabili- firmado entre União, Estados e 2), já trabalham 269 equipes de dade ao PNSSP. Segundo o co- municípios. saúde penitenciária (EPEN) em ordenador da SISP, o psicólogo Atualmente, na medida em 21
  • 22. que os estabelecimentos e as pessoas presas têm atendimento lecimentos penitenciários para equipes se registram no Cadas- mínimo da equipe de saúde de instituir um observatório epide- tro Nacional de Estabelecimen- quatro horas semanais. Acima miológico em saúde prisional. tos de Saúde (CNES), os Ministé- de 100 presos, têm carga horária Com isso, poderá direcionar me- rios da Justiça (MJ) e da Saúde de 20 horas semanais. Para cada lhor os recursos e definir metas (MS) repassam os incentivos para 500 presos, é definida pelo me- de redução de agravos à saúde o custeio das ações que desen- nos uma equipe. necessárias para ação das equi- volvem junto à população car- O Ministério da Saúde está pes e atendimento aos usuários cerária. Unidades com até 100 realizando pesquisa nos estabe- encarcerados. 2 – Saúde no Sistema Penitenciário Evolução do número de equipes cadastradas no Plano 2004 76 2005 171 2006/7 174 2008 199 2009 215 2010 247 2011 269 Número de unidades penitenciárias com equipes: 242. O presídio estadual de Três Passos Texto e foto: Déborah Proença Em funcionamento desde 15 de setembro de 2011, a Unidade Básica de Saúde Prisional era uma demanda urgente para os detentos de Três Passos, município do noroeste do Rio Grande do Sul. Com média de 10 a 11 presos em cada uma das 25 celas (a capacidade é para, no máximo, quatro), o Presídio Estadual de Três Passos recebe homens e mulheres de todos os 21 municípios que compõem a região celeiro. Todavia, grande parte dos 230 presos (cerca de 60%) é de Três Passos e apresenta diferença no- tória para a equipe de saúde. “Os detentos do próprio município já esta- vam em tratamento ou receberam atendimento nas unidades, são diferenciados. Os demais, mui- tas vezes, nunca receberam qualquer tipo de as- sistência em saúde quando estavam vivendo na sociedade”, afirma Moisés Scherer, dentista da UBS, membro da equipe e também funcionário da Superintendência dos Serviços Penitenciários (Susep). Diego, um dos detentos, é natural de 22 Revista Brasileira Saúde da Família
  • 23. Direitos humanos Segundo Marden, o Ministério da Saúde tem como propósito alcançar a cobertura total da população car- cerária, os 520 mil cidadãos que es- tão sentenciados, ou são provisórios, e perderam o direito à liberdade, mas não perderam o de acesso à saú- de, à alimentação e à educação, en- tre outros. As equipes de saúde exe- cutam ações de atenção básica que transversalizam temas como racismo institucional, gênero, identidade de gênero, orientação sexual, além das voltadas a gestantes. Quando questionados, os dire- tores informam que nos estabeleci- mentos prisionais os maiores agravos à saúde são: 1) Saúde mental (proble- mas vinculados à depressão devido ao confinamento); 2) Tuberculose; 3) DSTs e hepatites virais; 4) Dermato- ses; e 5) Hipertensão e diabetes. Portela, outro município, e diz que levantamento da situação da saúde. das 269 equipes de saúde peni- ficou impressionado com a saúde Antes da inauguração da unidade, tenciária (EPENs) que atendem a de Três Passos. “Estou com 31 anos não era possível fazer, e hoje é pro- população carcerária brasileira em e nunca fui ao médico. Aqui, tenho tocolo”, conta o médico Ivo Weis. 242 unidades prisionais que aderi- recebido acompanhamento”. Eliza- O apoio psicológico e da assis- ram ao Plano. A unidade prisional beth, por sua vez, detida há quatro tência social, agora inseridos inte- possibilita o atendimento dentro meses por tráfico de drogas e natu- gralmente no presídio, são funda- da carceragem, com todos os dis- ral de Três Passos, sempre teve acom- mentais, pois, embora as infecções positivos para segurança da equipe panhamento pelas eSF do município. e problemas respiratórios sejam de saúde e dos agentes penitenciá- No Presídio não sentiu diferença al- muito frequentes, a depressão é o rios. Além disso, Marden Marques, guma no tratamento, “não fui tra- maior problema, principalmente coordenador nacional do Plano tada de forma diferente por estar entre as mulheres. A maior queixa é Nacional de Saúde no Sistema Pri- presa”, diz ela. a insônia. “A fala ‘doutor, não con- sional (PNSSP), informa que a cons- Com a inauguração da unidade sigo dormir’ é muito comum”, afir- trução de uma unidade de saúde dentro do perímetro de segurança, ma o médico. dentro do presídio tem menos des- o trabalho em saúde foi reestrutu- Vinculada ao Sistema Único de pesas, pois diminui os gastos com rado e organizado para atender a Saúde, a Unidade Básica de Saúde o acompanhamento armado dos todos os detentos, e não somente à Prisional (UBS-P) é regulada pelo detentos às unidades de saúde fora demanda espontânea. Todas as mu- município tal qual as outras UBS, da detenção. “Gasta-se menos com lheres, então, realizaram exame pre- com o mesmo padrão de atendimen- escolta, pois diminui-se a quantida- ventivo; e a triagem e a anamnese to e qualidade. Resulta de uma par- de, lá fora, de presos e de agentes. de novos presos são feitas rigorosa- ceria entre o município, o Estado e a O constrangimento é amenizado mente no dia seguinte à detenção. União na medida em que cada um com os policiais e os presos dentro “Os que entram ficam numa cela dá a sua contrapartida, tanto pela das unidades e, com uma boa aten- provisória, na primeira noite, e no Secretaria de Saúde quanto pela ção básica, reduzem-se os gastos dia seguinte seguem para avaliação Saúde da Segurança Pública. com referência e contrarreferência do médico e do dentista, para um Hoje, Três Passos detém uma para média e alta complexidade”. 23
  • 24. Daiani de Bem Borges Por: Luciana Melo Fotos: D. Borges A adolescente que gostava de química na escola e ficava se pergun- tando por que tal medicamento aliviava a dor, ou por que a bombinha de asma diminuía a falta de ar, é hoje uma atuante farmacêutica do Núcleo de Apoio à Saúde da Família (NASF), no Distrito Sanitário Sul de Florianópolis. Daiani de Bem Borges é natural de Criciúma (SC), mas foi para Florianópolis estudar e nunca mais voltou. Formou-se em Farmácia, em 2004, e fez mes- trado na mesma área, em 2006, na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Foi no mestrado que Daiani decidiu tornar-se uma profissional atu- ante na área: “Eu queria saber como é ser farmacêutica na prática!”, e em 2007 obteve seu primeiro trabalho na Prefeitura de Florianópolis. No mesmo ano, fez a especialização multiprofissional em Saúde da Família, na UFSC, o que ampliou ainda mais seu interesse pela atenção básica. Em outubro de 2010, Daiani começou a atuar no NASF e viu a oportu- nidade de desenvolver um trabalho diferente do que vinha fazendo. Ficou fascinada por trabalhar a saúde na perspectiva do cuidado integral, conhe- cer o usuário em seu território, estabelecer vínculo e trabalhar com a edu- cação em saúde. Fora do trabalho, Daiani gosta mesmo é de estar com a família, cozi- nhar, viajar, escutar uma boa música e ler. Estar em contato com a natureza e andar de bicicleta também são obrigatórios para o bem-estar dessa far- macêutica de Criciúma que adora desafios! RBSF: Como e quando desco- as atividades que desenvolvo, estão conclusão de curso em uma UBS, briu sua vocação profissional? a participação mensal nas reuniões onde tive o primeiro contato com Daiani Borges: Sempre gostei de de equipes de Saúde da Família; as equipes de Saúde da Família lidar com pessoas e, por isso, de- atendimentos individuais, na UBS (eSF). Antes de começar a trabalhar cidi fazer o curso de Farmácia. No ou em visita domiciliar e intercon- no NASF, eu era farmacêutica res- início, minha inclinação era mais sultas. Também participo do apoio ponsável técnica pela farmácia de pela manipulação, mas no final à gestão das farmácias locais; de referência do Distrito Sanitário Sul, da graduação tive a oportunidade atividades coletivas, tais como gru- onde são dispensados os medica- de participar de várias discussões pos de hipertensos, diabéticos, mentos sujeitos a controle especial. sobre saúde pública e assistência adolescentes e de usuários de me- Na época, em função da grande farmacêutica, temas que na época dicamentos controlados; e oficinas demanda, eu não tinha tempo para eram recentes e, simplesmente, me de boas práticas em farmácia com conversar com o usuário e explicar encantei. Outro universo se abriu os técnicos de enfermagem. Além todas as orientações para o trata- diante de mim! disso, estou envolvida no projeto mento prescrito. Muitas vezes me RBSF: Fale um pouco sobre seu Horta na Escola, em que, além de sentia uma mera entregadora de ambiente de trabalho e da práti- verduras e leguminosas, introduzi- medicamentos, e isso me angustia- ca profissional. mos algumas plantas medicinais. va muito. Daí, em 2008, foi publica- Daiani Borges: Eu matricio 14 RBSF: O que a levou à Saúde da da a portaria que instituiu o NASF e equipes, distribuídas em oito Unida- Família? eu a vi como uma oportunidade de des Básicas de Saúde (UBS). Entre Daiani Borges: Fiz meu estágio de contribuir para a promoção do uso 24 24 Revista Brasileira Saúde da Família
  • 25. racional de medicamentos. Acredito etc.) junto às equipes SF possibilita que, quando uma pessoa tem co- a ampliação das ações de saúde na nhecimento a respeito de sua doen- “...o farmacêutico atenção básica, por meio de uma ça, e sabe por que e para que toma rede de cuidados. O último motivo, os medicamentos prescritos, pode pode ajudar no mas não menos importante, é que reforçar sua adesão e colaborar na aumento da adesão para mim o trabalho multiprofissio- resolutividade do seu tratamento. nal é desafiador e enriquecedor. RBSF: Foi uma opção mais ra- aotratamento, dobramentos. Hoje, mesmo tendo cional ou emocional? tornandoas ações de descoberto outra doença grave e Daiani Borges: Foram as duas coi- apresentando outro prolapso, agora sas. Não tem como negar que ter es- saúde na vaginal, ela está comprometida com tabilidade financeira somada à pos- atenção básica os tratamentos, diminuiu o uso de sibilidade de maior reconhecimento álcool e estabeleceu residência fixa mais amplas profissional foram importantes. No ao conseguir um quarto em uma entanto, a oportunidade de realizar e resolutivas...” ocupação. um trabalho diferente daquele que RBSF: Qual a importância do far- vinha fazendo foi o grande desafio macêutico na equipe do NASF? que me motivou. Daiani Borges: O profissional far- RBSF: Dê três motivos para ser dito que os profissionais do Núcleo macêutico, ao trabalhar com orien- uma profissional do NASF? dão um “plus” às eSF. A presença tação ao usuário, com educação Daiani Borges: A possibilidade de dos profissionais do NASF (farma- em saúde e com educação perma- trabalhar a saúde na perspectiva do cêutico, nutricionista, psicólogo, nente, pode ajudar no aumento da cuidado integral. Eu também acre- educador físico, assistente social adesão ao tratamento, tornando as 25