O documento discute a hiperficção, um gênero literário produzido em meios digitais que perde dimensões lineares e espaço-temporais fixos, permitindo múltiplas continuações da história de acordo com a escolha do leitor. Exemplos incluem a obra "Tristessa", uma das primeiras hiperficções em português, e teorias sobre como a estrutura hipertextual desconstrói a linearidade da narrativa.
Sistema de Bibliotecas UCS - Cantos do fim do século
Hiperficção - Unioeste 2014 - Jaíne S. Batschke e Mônica G. Fagundes
1. Universidade do Oeste do Paraná- UNIOESTE
Campus de Marechal Cândido Rondon
Centro de Ciência Humanas, Educação e Letras –
CCHEL
Docente: Paulo Konzen
Discentes: Jaíne Suélen Batschke
Mônica Graziele Fagundes
LITERATURA BRASILEIRA II
3. Literatura brasileira no século XXI: a hiperficção
A época fértil para o surgimento e avanço da
hiperficção foi a partir da década de 90, devido a
difusão em massa do computador e da internet, bem
como das ciências da informação;
Hiperficção, ficção em hipertexto, ficção interativa,
são alguns nomes desta nova literatura produzida e
disponibilizada nos meios digitais, como a World
WideWeb, disquetes e CD-Roms.
O texto classificado como hiperficcional perde suas
dimensões e ordem espacial, não possuindo uma
lógica e compasso sequencial.
4. Nesses tipos de criações, são possíveis diversas
formas de continuação, não existindo regras
específicas para a linearidade ou até mesmo para
o fim do texto;
A hiperficção veiculada pela Web tem um texto
com várias opções de continuação, através de
links à escolha do leitor, que assim cria sua
própria história. A ficção em hipertexto
assemelha-se a um jogo, cuja estrutura é um
labirinto a ser decifrado. Não é à toa que muitas
hiperficções têm o símbolo do labirinto como
ilustração ou mesmo como parte de sua estrutura
de navegação;
5. Neitzel aponta que tais textos, devem ser lidos
apenas on line, pois, “ao serem impressos
perdem as estruturas textuais que a eles
estão conectadas e a leitura deixa de ser
materialmente multi-linear”.
Para esta leitura, são necessárias “agilidade”
e “desenvoltura”.
6. Michael Joyce foi coordenador do Centro de Narrativa e
Tecnologia do Jackson Community College e um dos
primeiros a escrever uma hiperficção, cuja foi intitulada
"afternoon, a story” e publicada no ano 1992 em
disquetes de computador.
Segundo Joyce, é o leitor que participa ativamente
neste “jogo” que é o hipertexto. Este “jogo” começa no
momento em que o hipertexto é disponibilizado na
Web, fazendo da sua leitura a continuação para o jogo.
Na verdade, o jogo não tem quaisquer regras, cabendo
ao leitor iniciar e terminar o texto onde quiser.
No Brasil, ainda são poucos os sites de
hiperficção, ao contrário dos exemplos em inglês.
A primeira hiperficção em português na Web,
segundo seus autores, é “TRISTESSA”, cuja está
disponibilizada pelo grupo QUATTRO desde 1996.
7. Tristessa está
estruturada em
três atos
lineares,
denominados
Corpo,
Fragmento e
Todo
e 5 planos
aleatórios,
chamados de:
Vida
Ensaio Vultos
Insight.
Matéria
Dentre desses atos e planos o leitor pode interagir com a
história na sequência em que bem entender.
8. Tristessa não é um jogo onde você brinca de mudar a
história e descobre múltiplos e infinitos finais. A história
é uma só, os diferentes caminhos é que o levarão por
diferentes estradas e durante a viagem as paisagens
montarão diferentes estórias na cabeça do leitor.
A Dama de Espadas – é outro exemplo de hiperficção em
português. O autor, Marcos Palácios, juntou uma série
de sites da Web relacionados com sua trama, sempre
com a opção de voltar ao mapa de links, através do
ícone do labirinto;
9. EXEMPLOS DE HIPERFICÇÃO - TRISTESSA
“Um pouco antes das seis chego no
Internet Café de Natasha. O ambiente é
high tech, decorado em tons escuros.
Cores azul metálicas se misturam com
escalas de cinza, tudo mais ou menos
nos tons e design usados nos browsers
da moda. Natasha vive exageradamente
a tecnologia, está sempre acelerada,
com a última marcha engatada.
As duas estão sentadas diante de
uma estação, tomando os famosos
cocktails da casa, navegando e
discutindo. Peço um drink também e me
sento junto a elas. O assunto parece ser
excesso de informação”...
“Enquanto espero por Roberta no
Great Balls me ocorre a frase de um
livro cujo nome não me vem à
lembrança:
"Sofre-se muito para matar um gato,
soubesse-o antes e não teria
começado. Os olhos foram os
primeiros a ficar em chamas".
Só que em meu caso está tudo em
chamas: o corpo, a alma, o tempo,
não apenas os olhos. As imagens
passam com violência pela minha
cabeça, como as imagens que vemos
através da janela de um trem em alta
velocidade. Lá fora a floresta está
toda em chamas, e o calor aqui dentro
é insuportável” ...
10. Para Ted Nelson (1992), o termo hipertexto é definido
como “...escritas associadas não-sequenciais, conexões
possíveis de se seguir, oportunidades de leituras em
diferentes direções”. Assim, o texto hipertextual
caracteriza-se por ser um documento digitalizado,
apresentar diversidade de “planos” – também conhecidos
como “blocos” – que contêm informações que se
interseccionam por meio de “elos” ou “links”
associativos, que dialogam coordenadamente, a fim de
compor novas estruturas narrativas conforme a
intencionalidade do leitor ou proposta estética do autor;
11. “Segundo Landow (1992), a hiperficção o hipertexto
desconstrói a rigidez das sequências fixas, rompe com o
princípio da linearidade em que há uma pré-definição do
começo e fim, e propõe uma estrutura esponjosa em que
estes não existem, mas aponta uma estrutura processual e
móvel, de acordo com as escolhas do leitor. Assim, não há
uma história ditada, definida, mas em devir”.
12. O hipertexto, como já foi explicado anteriormente,
não possui uma linearidade. Sobre este conceito,
Santos afirma que: “No livro impresso, as mãos
humanas movimentam as páginas linearmente,
seguindo uma lógica narrativa, ordenando
episódios numericamente por capítulos e
sequenciados pela paginação. O computador
modifica nossa relação com o texto.”
13. Resumidamente, a hiperficção pode ser definida como: "A
página se converte na tela, a tela substitui a página.
Poderíamos chamar a este movimento de substituição de
‘história’. Os textos eletrônicos se apresentam a si mesmos
em meio de sua dissolução: se lêem onde se escrevem, e se
escrevem enquanto se lêem" (Joyce, 1998, p. 280).
14. REFERÊNCIAS
DIGLITMEDIA . Literatura e Média na Era Digital. Novas fórmulas digitais: do
hipertexto à hiperficção. Disponível em:
<http://diglitmedia.blogspot.com.br/2007/05/novas-frmulas-digitais-do-hipertexto.
html>. Acesso em: 05 de outubro de 2014
DigLitMedia . Literatura e Média na Era Digital. Hiperficção. Disponível em: <
http://diglitmedia.blogspot.com.br/2007/05/hiperfico.html>. Acesso em: 12 de
outubro de 2014
LONGHI, Raquel Ritter . Hiperficção. Disponível em:
<http://www.pucsp.br/~cimid/4lit/longhi/hiperfic.htm>. Acesso em: 20 de outubro de
2014
GRUPO Quattro Digital Media. Tristessa. Disponível em:
http://www.quattro.com.br/tristessa/nave_main.htm. Acesso em: 29 de outubro de
2014
15. NEITZEL, Adair de Aguiar. nossa história literária virtual: um
balanço. Disponível em:< html://www.cce.ufsc.br/~neitzel/
literatura/ensaios.htm>. Acesso em: 10 de novembro de 2014
SANTOS, Marcelo Silva Araújo. HIPERFICÇÃO: Novas propostas para a
leitura literária do novo milênio. Revista Hipertextus. Universidade Estadual de
Feira de Santana (UEFS) p. 01 – 10. nº4. Janeiro de 2010. Disponível em:
<http://www.hipertextus.net/volume4/marcelo-silva-araujo-santos.pdf>. Acesso
em: 11 de novembro de 2014.
GATTO, Sonia Melchiori Galvão. Literatura brasileira e as novas tecnologias:
leitura e produção. Disponível em: < http://alb.com.br/arquivo-morto/
edicoes_anteriores/anais14/cohilile/h113.doc.>. Acesso em: 07 de
novembro de 2014