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A UA U L A
     L A

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             As baleias da
             economia mundial

                                              N  esta aula vamos conhecer a Índia e a
             República Popular da China dois países que apresentaram rápido cresci-
                                      China,
             mento econômico na última década. Juntos, os dois países reúnem mais de um
             terço dos habitantes do planeta.
                 Vamos verificar que o extenso território nacional e a numerosa população,
             características comuns aos dois países, representam ao mesmo tempo um
             potencial importante e um fator de restrição ao seu desenvolvimento.




                  Ana está preparando uma reportagem sobre as rivalidades religiosas na
             Índia, onde os conflitos entre a maioria hindu e a minoria muçulmana já
             provocaram milhares de mortos.
                  Para definir a linha a ser seguida no texto, Ana vai até a sala de Rosa.
                  - Rosa, nessa matéria sobre a Índia, vamos explorar apenas os aspectos
             religiosos do conflito entre hindus e muçulmanos?
                  - Acho que podemos ampliar um pouco o texto e mostrar como a Índia
             possui uma face moderna, com indústrias avançadas e até bomba atômica, e
             também uma sociedade tradicional, baseada no sistema de castas. Vamos
             mostrar que a posição social das pessoas na Índia está definida desde o dia de seu
             nascimento - sugere Rosa.
                  - Índia e China são verdadeiros mistérios para mim. São nações com
             população numerosa, diversas religiões, línguas e culturas, e hoje se destacam
             pelo rápido crescimento de suas economias. Não é fácil de entender como isso
             acontece - sai Ana, pensando alto.




                 A República Popular da China e a Índia, junto com o Brasil, foram chamadas
             recentemente de “baleias da economia mundial”. As “baleias” são nações de
             grande extensão territorial e população numerosa, marcadas por profundos
             constrastes internos. Isso tudo as diferencia dos Tigres Asiáticos, que são países
             pequenos, muito ágeis e agressivos na disputa de posições no mercado interna-
             cional, conforme vimos na Aula 44.
A China continental (assim a diferenciamos da China de Formosa, que é uma       A U L A
ilha) conta com uma superfície territorial de cerca de 9,6 milhões de quilômetros
quadrados e uma população de 1 bilhão e cem milhões de habitantes. É, de longe,
o país mais populoso do planeta.                                                    46
    Mas a Índia não fica muito atrás. Tem 3,3 milhões de quilômetros quadrados
e abriga uma população estimada em cerca de 810 milhões de pessoas.
    Juntas, China e Índia abrigam cerca de um terço dos habitantes do
planeta Terra.
    Apesar das políticas de controle da natalidade postas em prática pelos
dois países, a numerosa população ainda é predominantemente rural. Três
entre cada quatro habitantes da China e da Índia retiram o seu sustento da
agricultura, plantando predominantemente arroz irrigado, que é base de sua
alimentação.

   A China é o primeiro produtor mundial de arroz, seguida pela Índia, que
ocupa o segundo lugar.




    China e Índia apresentam fortes restrições naturais, tanto no relevo como
no clima. Os dois países são separados pela cordilheira do Himalaia, o “teto do
mundo”. Lá fica o monte Everest, o lugar de maior altitude do planeta.


    Grande parte da superfície dos dois países é montanhosa, o que isola vastas
porções do interior das influências do mar.

    O mar é o grande responsável pelo clima das monções, que são ventos que
se alternam durante as estações do ano. Esses ventos trazem chuvas quando
vêm do oceano, no verão, e seca quando vêm do continente, no inverno.
A U L A


       46




                          Praticando uma agricultura milenar, na qual o trabalho humano ainda é o
                      principal insumo utilizado na produção, a China e a Índia passaram por radicais
                      transformações no período posterior à Segunda Guerra Mundial.
                          A República Popular da China foi proclamada em 1949. A Índia tornou-se
                      independente em 1947. Devido a conflitos religiosos, essa antiga colônia britâ-
                      nica foi dividida em dois Estados: a Índia e o Paquistão mulçumano.


                                                                A industrialização pesada das duas
                                                           nações é conseqüência direta da conquista
                                                           da autonomia política. Na China, por exem-
                                                           plo, embora ainda empregue a maioria da
                                                           população, a agricultura, que representa-
                                                           va dois terços do Produto Interno Bruto
                                                           (PIB) em 1949, caiu para um terço disso no
                                                           final dos anos 80. Isso se deve à rápida
                                                           industrialização, que privilegiou, até ago-
                                                           ra, os setores de bens de produção, como a
                                                           siderurgia e a metalurgia.


        Agricultura        Na Índia, a chamada Revolução Verde - uma proposta de mudança
   implantada em      tecnológica da produção agrícola, com emprego de sementes melhoradas e
    terraços, para    fertilizantes químicos - revelou a verdadeira face do campo indiano. Só os
o aproveitamento      grandes proprietários se beneficiaram da modernização: os pequenos produ-
        do terreno.   tores das aldeias mantiveram sua situação antiga, de dependência dos pode-
                      rosos locais.
                            A indústria indiana também atravessou um processo de modernização. O
                      melhor exemplo dessa modernização é o centro siderúrgico de Tatanagar (ou
                      “cidade dos Tatas”), uma das maiores concentrações siderúrgicas do mundo
                      pertencente a um grupo privado: o grupo Tata.
As diferenças entre a China e a India aparecem quanto à forma assumida             A U L A
pelo Estado no processo de industrialização.
    Nos dois países o governo desempenhou um papel fundamental, por meio
da elaboração de planos de desenvolvimento. Mas, na China, o regime socialista         46
conferiu ao Estado o papel de principal investidor, enquanto na Índia se
consolidaram grandes grupos privados nos mais diversos setores da economia.
    Outra diferença importante aparece no que diz respeito ao acesso aos
serviços coletivos, isto é, saúde, educação e habitação. Na China, o Estado
garante o acesso aos serviços essenciais; na Índia, a estrutura de castas que
                                                                     castas,
ainda prevalece, é um obstáculo ao pleno exercício da cidadania.
    Existem cerca de 2.000 castas na Índia, mas quatro são mais importantes:
os sacerdotes os guerreiros os comerciantes e os servidores Os servidores
   sacerdotes, guerreiros,                           servidores.
são os trabalhadores que devem atender às ordens das três castas superiores.
    Existem também os párias que exercem as funções “impuras”: cuidam dos
                         párias,
animais, da limpeza ou têm contato com os restos do gado bovino, já que a vaca
é um animal sagrado da cultura hindú. Existem mais de 90 milhões de pessoas
como párias na Índia moderna!
    As diferenças entre os dois países também são visíveis nas cidades. A maior
cidade chinesa é Xangai, com cerca de 8 milhões de habitantes, que é também seu
principal porto de exportação e a porta aberta do comércio chinês ao exterior.
Xangai enfrenta os problemas de todas as grandes cidades mundiais, como
poluição, pobreza e engarrafamentos.
    Calcutá, que é a grande cidade da Índia, apresenta um quadro de pobreza
assustador. Segundo dados da Organização Mundial de Saúde, metade dos
habitantes pobres da cidade estão contaminados pela tuberculose.




                                                                          Calcutá

     Os grandes desafios da China atual são a abertura para o mercado mundial
e a conquista dos direitos democráticos pela população. A abertura econômica,
iniciada na década de 70 e acelerada nos anos 80, se faz por meio de Zonas
Econômicas Especiais (ZEEs). As ZEEs são áreas sujeitas a regime econômico
diferenciado. Funcionam como zonas francas de grandes extensões, abertas ao
investimento estrangeiro. O restante do país permanece submetido à mesma
situação anterior, com uma economia fechada.
     Diz-se hoje que a República Popular da China é um país onde convivem dois
sistemas de governo: o socialista, na maioria do territorio nacional, e o capitalis-
ta, nas Zonas Econômicas Especiais.
     Entre as zonas especiais destaca-se a de Cantão, próxima a Hong Kong.
Cantão é hoje um centro tão importante, em termos econômicos, quanto Beijing
(Pequim), a capital política do país.
A U L A       China e Índia apresentaram na última década um desempenho econômico
          impressionante, com indicadores de crescimento superiores aos dos Tigres

46        Asiáticos. A solução de seus grandes problemas sociais e políticos internos,
          porém, pode exigir a superação das antigas rivalidades que separam as duas
          “baleias”. Juntas, elas poderiam buscar o caminho da cooperação diante da
          expansão do poderio japonês na área do Pacífico.




           Rivalidades religiosas nutrem caos indiano
           Violência entre hindus e muçulmanos, que esta semana matou mil pessoas,
                         desafia a democracia mais populosa do mundo
           Bem ou mal, a Índia secular e pluralista sonha-     principalmente para os Estados Unidos e a
           da pelo Mahatma Gandhi sobreviveu a essas           Grã-Bretanha -, e um país de excelente taxa de
           explosões cíclicas de intolerância religiosa gra-   produtividade agrícola. Seu exército é o tercei-
           ças à hegemonia de uma família e ao poder           ro do mundo. Já explodiu uma bomba atômica
           centralizador do Partido do Congresso, sua          no deserto de Rajastão, desenvolve um progra-
           base política. Entretanto, os distúrbios desta      ma de mísseis, administra bem sua dívida
           semana, pela espantosa rapidez com que se           externa. Dispõe, igualmente, de um reservató-
           propagaram por todo o país e ultrapassaram          rio de cientistas que rivaliza com os dos EUA
           suas fronteiras, parecem apontar para um fenô-      e da Rússia, sobretudo nos setores da física e
           meno novo nos anais da violência político-          matemática.
           religiosa da Índia - uma nova encruzilhada na       Mas é também uma nação em que exigências e
           vida do maior país democrático do mundo.            interesses contraditórios decorrentes do pro-
           (...) A Índia é hoje o paraíso de pequenas e        gresso econômico ameaçam pôr em xeque sua
           médias indústrias, do artesanato - exportado        estabilidade.

              Jornal do Brasil, 13 de dezembro de 1992




              Nesta aula, vimos que as “baleias” são nações de grande extensão territorial
          e população numerosa, marcadas por profundos constrastes internos.
              A República Popular da China é, de longe, o país mais populoso do
          planeta. A Índia não fica atrás, o que significa que essa parte do planeta Terra
          abriga cerca de um terço de seus habitantes.
              A numerosa população de ambos ainda é predominantemente rural, plan-
          tando predominantemente arroz irrigado, que é base de sua alimentação.
              Os dois países são separados pela cordilheira do Himalaia. Grande parte da
          superfície deles países é montanhosa, o que provoca fortes restrições naturais, de
          relevo e também climáticas. O clima das monções caracteriza a região e é
          marcado pela alternância das estações seca e úmida.
              As diferenças entre a China e a Índia aparecem quanto à forma assumida
          pelo Estado no processo de industrialização: na China, o regime socialista
          conferiu ao Estado o papel de principal investidor, enquanto na Índia se
          consolidaram grandes grupos privados nos diversos setores da economia.
              As duas “baleias” precisam superar seus problemas internos em busca do
          desenvolvimento e do caminho da cooperação diante da expansão do poderio
          japonês na área do Pacífico.
Exercício 1                                                                                             A U L A
   a) Explique por que a China e a Índia são denominadas “baleias da
      economia mundial”.
                                                                                                        46
    b) O que foi a chamada Revolução Verde, na Índia?


Exercício 2
   Complete a segunda coluna de acordo com a primeira:

    a)   Estrutura de classes na sociedade indiana.                             (   )   Fatanagar
    b)   Principal cidade e porto exportador da China.                          (   )   Calcutá
    c)   Centro siderúrgico mais importante da Índia.                           (   )   Xangai
    d)   Principal cidade da Índia com alto índice de pobreza.                  (   )   Castas


Exercício 3
   Complete a frase:

    Índia e China são dois países que apresentam algumas semelhanças:
    ambos são separados pela cordilheira (a) ........................... e recebem o regime
    de ventos de (b) ........................... . Com uma população predominantemente
    (c) ..........................., a base de sua alimentação é (d) ........................... . Em
    ambos, também, a independência e a autonomia política determinaram o
    início do processo de (e) ........................... .


Exercício 4
   Explique o que determina as maiores diferenças entre os dois países. Por quê?


Exercício 5
   O Brasil, assim como a China e a Índia, também é chamado de “baleia da
   economia mundial”. Encontre características semelhantes entre os três
   países e explique-as.

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As baleias da economia mundial: China e Índia

  • 1. A UA U L A L A 46 46 As baleias da economia mundial N esta aula vamos conhecer a Índia e a República Popular da China dois países que apresentaram rápido cresci- China, mento econômico na última década. Juntos, os dois países reúnem mais de um terço dos habitantes do planeta. Vamos verificar que o extenso território nacional e a numerosa população, características comuns aos dois países, representam ao mesmo tempo um potencial importante e um fator de restrição ao seu desenvolvimento. Ana está preparando uma reportagem sobre as rivalidades religiosas na Índia, onde os conflitos entre a maioria hindu e a minoria muçulmana já provocaram milhares de mortos. Para definir a linha a ser seguida no texto, Ana vai até a sala de Rosa. - Rosa, nessa matéria sobre a Índia, vamos explorar apenas os aspectos religiosos do conflito entre hindus e muçulmanos? - Acho que podemos ampliar um pouco o texto e mostrar como a Índia possui uma face moderna, com indústrias avançadas e até bomba atômica, e também uma sociedade tradicional, baseada no sistema de castas. Vamos mostrar que a posição social das pessoas na Índia está definida desde o dia de seu nascimento - sugere Rosa. - Índia e China são verdadeiros mistérios para mim. São nações com população numerosa, diversas religiões, línguas e culturas, e hoje se destacam pelo rápido crescimento de suas economias. Não é fácil de entender como isso acontece - sai Ana, pensando alto. A República Popular da China e a Índia, junto com o Brasil, foram chamadas recentemente de “baleias da economia mundial”. As “baleias” são nações de grande extensão territorial e população numerosa, marcadas por profundos constrastes internos. Isso tudo as diferencia dos Tigres Asiáticos, que são países pequenos, muito ágeis e agressivos na disputa de posições no mercado interna- cional, conforme vimos na Aula 44.
  • 2. A China continental (assim a diferenciamos da China de Formosa, que é uma A U L A ilha) conta com uma superfície territorial de cerca de 9,6 milhões de quilômetros quadrados e uma população de 1 bilhão e cem milhões de habitantes. É, de longe, o país mais populoso do planeta. 46 Mas a Índia não fica muito atrás. Tem 3,3 milhões de quilômetros quadrados e abriga uma população estimada em cerca de 810 milhões de pessoas. Juntas, China e Índia abrigam cerca de um terço dos habitantes do planeta Terra. Apesar das políticas de controle da natalidade postas em prática pelos dois países, a numerosa população ainda é predominantemente rural. Três entre cada quatro habitantes da China e da Índia retiram o seu sustento da agricultura, plantando predominantemente arroz irrigado, que é base de sua alimentação. A China é o primeiro produtor mundial de arroz, seguida pela Índia, que ocupa o segundo lugar. China e Índia apresentam fortes restrições naturais, tanto no relevo como no clima. Os dois países são separados pela cordilheira do Himalaia, o “teto do mundo”. Lá fica o monte Everest, o lugar de maior altitude do planeta. Grande parte da superfície dos dois países é montanhosa, o que isola vastas porções do interior das influências do mar. O mar é o grande responsável pelo clima das monções, que são ventos que se alternam durante as estações do ano. Esses ventos trazem chuvas quando vêm do oceano, no verão, e seca quando vêm do continente, no inverno.
  • 3. A U L A 46 Praticando uma agricultura milenar, na qual o trabalho humano ainda é o principal insumo utilizado na produção, a China e a Índia passaram por radicais transformações no período posterior à Segunda Guerra Mundial. A República Popular da China foi proclamada em 1949. A Índia tornou-se independente em 1947. Devido a conflitos religiosos, essa antiga colônia britâ- nica foi dividida em dois Estados: a Índia e o Paquistão mulçumano. A industrialização pesada das duas nações é conseqüência direta da conquista da autonomia política. Na China, por exem- plo, embora ainda empregue a maioria da população, a agricultura, que representa- va dois terços do Produto Interno Bruto (PIB) em 1949, caiu para um terço disso no final dos anos 80. Isso se deve à rápida industrialização, que privilegiou, até ago- ra, os setores de bens de produção, como a siderurgia e a metalurgia. Agricultura Na Índia, a chamada Revolução Verde - uma proposta de mudança implantada em tecnológica da produção agrícola, com emprego de sementes melhoradas e terraços, para fertilizantes químicos - revelou a verdadeira face do campo indiano. Só os o aproveitamento grandes proprietários se beneficiaram da modernização: os pequenos produ- do terreno. tores das aldeias mantiveram sua situação antiga, de dependência dos pode- rosos locais. A indústria indiana também atravessou um processo de modernização. O melhor exemplo dessa modernização é o centro siderúrgico de Tatanagar (ou “cidade dos Tatas”), uma das maiores concentrações siderúrgicas do mundo pertencente a um grupo privado: o grupo Tata.
  • 4. As diferenças entre a China e a India aparecem quanto à forma assumida A U L A pelo Estado no processo de industrialização. Nos dois países o governo desempenhou um papel fundamental, por meio da elaboração de planos de desenvolvimento. Mas, na China, o regime socialista 46 conferiu ao Estado o papel de principal investidor, enquanto na Índia se consolidaram grandes grupos privados nos mais diversos setores da economia. Outra diferença importante aparece no que diz respeito ao acesso aos serviços coletivos, isto é, saúde, educação e habitação. Na China, o Estado garante o acesso aos serviços essenciais; na Índia, a estrutura de castas que castas, ainda prevalece, é um obstáculo ao pleno exercício da cidadania. Existem cerca de 2.000 castas na Índia, mas quatro são mais importantes: os sacerdotes os guerreiros os comerciantes e os servidores Os servidores sacerdotes, guerreiros, servidores. são os trabalhadores que devem atender às ordens das três castas superiores. Existem também os párias que exercem as funções “impuras”: cuidam dos párias, animais, da limpeza ou têm contato com os restos do gado bovino, já que a vaca é um animal sagrado da cultura hindú. Existem mais de 90 milhões de pessoas como párias na Índia moderna! As diferenças entre os dois países também são visíveis nas cidades. A maior cidade chinesa é Xangai, com cerca de 8 milhões de habitantes, que é também seu principal porto de exportação e a porta aberta do comércio chinês ao exterior. Xangai enfrenta os problemas de todas as grandes cidades mundiais, como poluição, pobreza e engarrafamentos. Calcutá, que é a grande cidade da Índia, apresenta um quadro de pobreza assustador. Segundo dados da Organização Mundial de Saúde, metade dos habitantes pobres da cidade estão contaminados pela tuberculose. Calcutá Os grandes desafios da China atual são a abertura para o mercado mundial e a conquista dos direitos democráticos pela população. A abertura econômica, iniciada na década de 70 e acelerada nos anos 80, se faz por meio de Zonas Econômicas Especiais (ZEEs). As ZEEs são áreas sujeitas a regime econômico diferenciado. Funcionam como zonas francas de grandes extensões, abertas ao investimento estrangeiro. O restante do país permanece submetido à mesma situação anterior, com uma economia fechada. Diz-se hoje que a República Popular da China é um país onde convivem dois sistemas de governo: o socialista, na maioria do territorio nacional, e o capitalis- ta, nas Zonas Econômicas Especiais. Entre as zonas especiais destaca-se a de Cantão, próxima a Hong Kong. Cantão é hoje um centro tão importante, em termos econômicos, quanto Beijing (Pequim), a capital política do país.
  • 5. A U L A China e Índia apresentaram na última década um desempenho econômico impressionante, com indicadores de crescimento superiores aos dos Tigres 46 Asiáticos. A solução de seus grandes problemas sociais e políticos internos, porém, pode exigir a superação das antigas rivalidades que separam as duas “baleias”. Juntas, elas poderiam buscar o caminho da cooperação diante da expansão do poderio japonês na área do Pacífico. Rivalidades religiosas nutrem caos indiano Violência entre hindus e muçulmanos, que esta semana matou mil pessoas, desafia a democracia mais populosa do mundo Bem ou mal, a Índia secular e pluralista sonha- principalmente para os Estados Unidos e a da pelo Mahatma Gandhi sobreviveu a essas Grã-Bretanha -, e um país de excelente taxa de explosões cíclicas de intolerância religiosa gra- produtividade agrícola. Seu exército é o tercei- ças à hegemonia de uma família e ao poder ro do mundo. Já explodiu uma bomba atômica centralizador do Partido do Congresso, sua no deserto de Rajastão, desenvolve um progra- base política. Entretanto, os distúrbios desta ma de mísseis, administra bem sua dívida semana, pela espantosa rapidez com que se externa. Dispõe, igualmente, de um reservató- propagaram por todo o país e ultrapassaram rio de cientistas que rivaliza com os dos EUA suas fronteiras, parecem apontar para um fenô- e da Rússia, sobretudo nos setores da física e meno novo nos anais da violência político- matemática. religiosa da Índia - uma nova encruzilhada na Mas é também uma nação em que exigências e vida do maior país democrático do mundo. interesses contraditórios decorrentes do pro- (...) A Índia é hoje o paraíso de pequenas e gresso econômico ameaçam pôr em xeque sua médias indústrias, do artesanato - exportado estabilidade. Jornal do Brasil, 13 de dezembro de 1992 Nesta aula, vimos que as “baleias” são nações de grande extensão territorial e população numerosa, marcadas por profundos constrastes internos. A República Popular da China é, de longe, o país mais populoso do planeta. A Índia não fica atrás, o que significa que essa parte do planeta Terra abriga cerca de um terço de seus habitantes. A numerosa população de ambos ainda é predominantemente rural, plan- tando predominantemente arroz irrigado, que é base de sua alimentação. Os dois países são separados pela cordilheira do Himalaia. Grande parte da superfície deles países é montanhosa, o que provoca fortes restrições naturais, de relevo e também climáticas. O clima das monções caracteriza a região e é marcado pela alternância das estações seca e úmida. As diferenças entre a China e a Índia aparecem quanto à forma assumida pelo Estado no processo de industrialização: na China, o regime socialista conferiu ao Estado o papel de principal investidor, enquanto na Índia se consolidaram grandes grupos privados nos diversos setores da economia. As duas “baleias” precisam superar seus problemas internos em busca do desenvolvimento e do caminho da cooperação diante da expansão do poderio japonês na área do Pacífico.
  • 6. Exercício 1 A U L A a) Explique por que a China e a Índia são denominadas “baleias da economia mundial”. 46 b) O que foi a chamada Revolução Verde, na Índia? Exercício 2 Complete a segunda coluna de acordo com a primeira: a) Estrutura de classes na sociedade indiana. ( ) Fatanagar b) Principal cidade e porto exportador da China. ( ) Calcutá c) Centro siderúrgico mais importante da Índia. ( ) Xangai d) Principal cidade da Índia com alto índice de pobreza. ( ) Castas Exercício 3 Complete a frase: Índia e China são dois países que apresentam algumas semelhanças: ambos são separados pela cordilheira (a) ........................... e recebem o regime de ventos de (b) ........................... . Com uma população predominantemente (c) ..........................., a base de sua alimentação é (d) ........................... . Em ambos, também, a independência e a autonomia política determinaram o início do processo de (e) ........................... . Exercício 4 Explique o que determina as maiores diferenças entre os dois países. Por quê? Exercício 5 O Brasil, assim como a China e a Índia, também é chamado de “baleia da economia mundial”. Encontre características semelhantes entre os três países e explique-as.