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O CORPO DA MODA:
HOMENS, MULHERES E DISCURSOS SOBRE A BELEZA NO RECIFE DOS ANOS
                             1920

                                                               Natália Conceição Silva Barros*

RESUMO:

Pretendendo contribuir com a história do corpo e do cuidado de si no Brasil, este artigo se
propõe a analisar, por meio da abordagem de gênero, os discursos da imprensa e dos médicos
sobre os ideais de beleza considerados ideais no Recife da década de 1920.


Palavras-Chaves: História; Corpo; Gênero.


ABSTRACT:

Desiring to contribute to the history of the body and self-care in Brazil, this article aims to
analyze, through the gender approach, the discourse of the press and physicians about the
ideals of beauty considered ideal Recife in the 1920s.


Keywords: History; Body; Gender.



          Ao investigar as práticas de embelezamento feminino nos anos 1920 e as
representações em torno dessas práticas, conheceremos como neste período os moradores e
moradoras do Recife criaram maneiras de conhecer e controlar seus corpos e como
fomentaram a invenção de corpos femininos e masculinos assimétricos socialmente. Analisar
fragmentos da história do corpo é entendê-lo, segundo Terry Eagleton, como o signo mais
palpável que temos da existência humana e como uma linguagem, uma maneira de ser em
meio a um mundo. O corpo aqui então não é entendido como um tanque ou uma prisão, onde
haveria uma separação entre subjetividade e materialidade, porque “quem seria esse “eu”
desencarnado dentro dele?” (EAGLETON, 2005: 225). Corpo e gênero são aqui observados

*
    Universidade Federal de Pernambuco. Doutora em História.
como elementos que se inter-relacionam por intermédio da cultura e da história e que não são,
portanto, de forma alguma fixos ou imutáveis.

       O corpo, mais particularmente o feminino, foi alvo de insistente atenção nas primeiras
décadas do século XX, momento de transição de um cenário rural para um cenário urbano, de
reordenação de relações sociais. Nesse cenário que começava se delinear, à mulher foi
atribuída, mais uma vez, a tarefa de zelar pelo bem-estar e saúde não só de seu corpo mais de
todos na família (COSTA, 2004: 255-. 274) Enquanto as mulheres são convidadas a
apresentarem corpos delicados, suaves e graciosos, os homens são incentivados a
apresentarem e a representarem, através de seus corpos, a força e a robustez, tidos como
elementos masculinos. Certamente que esta relação não é algo linear ou constante. Na
verdade, como destaca Núcia Alexandra Oliveira, os discursos articulados em torno da beleza
estão permeados de relações de gênero, que ora são mais intensas, ora são mais tênues.
Naturalidade e encanto para as mulheres. Discrição e elegância para os homens (OLIVEIRA,
2005: 17).


O corpo da moda


       “Qual será o verdadeiro tipo feminino da beleza moderna?” (DIÁRIO DE
PRNAMBUCO. 10/07/1927 ) interrogava-se Peregrino Júnior nos anos 1920 no Diário de
Pernambuco. Afinal, a segunda década do século XX foi crucial na formulação de um novo
ideal físico, tendo a imagem cinematográfica interferido significativamente nessa
construção. Ao longo dessa década, mulheres, sob o impacto combinado das indústrias de
cosmético, da moda, da publicidade e de Hollywood, incorporaram o uso da maquiagem,
principalmente o batom (PRIORE, 2000:9), e passaram a valorizar o corpo esbelto, esguio.
Segundo Ana Lúcia de Castro, a combinação destas quatro indústrias foi fundamental para a
vitória do corpo magro sobre o gordo no decorrer do século XX (CASTRO, 2005:138).
Porém, o papel da imprensa na construção de um ideal estético merece também ser
destacado. Era – é - ampla a interferência da imprensa, uma vez que se constituía como
espaço de visualização dos produtos de beleza, com moças insinuando pele, bocas e colos;
lugar de divulgação da programação de filmes, com atrizes exalando sensualidade com
cabelos loiros, olhos carregados de maquiagem e corpos esbeltos; e, além disso, era
constante a presença de conselheiros de beleza nas colunas de jornais e revistas, controlando
diretamente a construção dos “corpos modernos”.
       Importa destacar que durante décadas, a maior parte dos conselheiros de beleza era
formada pelo sexo masculino. Antes dos anos 1950, eles eram, sobretudo, médicos e
escritores moralistas, para quem a aparência feminina deveria revelar a beleza de uma alma
pura, condição para se manter o corpo lindo, belo e fecundo (SANT’ANNA, 1995: 121-139).
Ilustrativa deste lugar de poder ocupado por estes conselheiros é a matéria de junho de 1927,
publicada na Seção Femina sobre “O Maquillage” escrita por Peregrino Júnior, um de seus
colaboradores que atuava como conselheiro de beleza e de comportamento para as leitoras.
Numa linguagem coloquial, humorada e próxima das mulheres, abordava entre dicas de
cores de sombra, sugestões de livros e de comportamentos, a reação masculina a pintura
feminina e os atributos de cada gênero que deveriam ser valorizados. Segundo ele, embora
os homens tivessem uma grande prevenção contra a pintura feminina, por mais ranzinza e
falador que fossem, eles não gostavam de mulher amarela e feia, por isso incentiva suas
leitoras a se maquiarem. Ainda em seu texto defende a justeza e a naturalidade da prática de
embelezamento por parte das mulheres, porque seria este “o caminho instintivo de
conservarem a parcela de beleza que os deuses lhe concederam” (DIÁRIO DE
PERNAMBUCO (02/10/1927). A beleza então aparece em seu texto como algo natural e
dado, que apenas deveria ser conservado pelas mulheres. Seria um atributo essencialmente
feminino, enquanto a inteligência, a saúde e a força aparecem como atributos masculinos,
que também eles deveriam conservar e melhorar. Porém, embora natural, a beleza precisava
segundo este conselheiro de um investimento constante e sua função não seria outra senão a
de seduzir e agradar aos homens. De toda forma, era um discurso diferente dos proferidos
pelos consultores de beleza das décadas seguintes, pois, conforme Núcia Alexandra, a partir
dos anos 50 e 60, as mulheres passaram a ser convidadas ao prazer de cuidar de si,
“construindo” o seu próprio corpo, a sua própria aparência, a sua “beleza”(OLIVEIRA,
2005:48).
O culto a beleza para Peregrino Júnior não era mera vaidade feminina, era uma
habilidade necessária à mulher civilizada; em seu texto essa prática não é recriminada. Esta
postura tolerante e até incentivadora do embelezamento feminino adensa-se na década de
1920. A partir dessa década, para uma minoria abastada de jovens que perseguiam o último
grito da moda, as aparências pálidas e doentias, os rostos que nunca receberam o rouge ou os
traços do lápis, vão, pouco a pouco, denotar uma personalidade avessa a mudanças, revelando
uma ausência de refinamento para com os tempos julgados modernos (SANT’ANNA,
2003:147) Nos “anos loucos”, a moça pintada emitia os sinais do progresso. Multiplicam-se
as recomendações referentes à aparência física. E como é feita de continuidades, mas também
de rupturas e deslocamentos de significados, esta história do embelezamento nos mostra
quanto os valores e concepções morais são históricos e bem situados no tempo e no espaço.




Ginástica e a busca da beleza

       As revistas prescreviam às mulheres fazer ginástica todas as manhãs, tomar refeições
leves para permanecer esbeltas, utilizar óleos para bronzear, maquiar os olhos e os lábios,
depilar as sobrancelhas, passar esmaltes nas unhas das mãos e dos pés. Tudo era prescrito:
“As pestanas também devem ser pintadas com “Rimel”. Ficam duras e perdem em geral a
beleza natural. Mas isto não tem a mínima importância. A arte é a arte e, sobretudo... a moda
é a moda!” ( DIÁRIO DE PERNAMBUCO 02/10/1927). Deixando de estar associados à
imagem das coquetes e das mulheres de reputação duvidosa, os artifícios cosméticos são
apresentados como o remate legitimo da beleza: não mais uma prática condenável mas uma
obrigação para toda mulher conservar o marido; não mais um sinal de mau gosto mas um
imperativo de civilizada (.LIPOVETSKY , 2000: 128-168) Segundo Denise Sant’Anna, a
aversão a pintura do rosto tendia, nas primeiras décadas do século, a se tornar menos
triunfante no plano moral, na medida em que a propaganda e a venda de cosméticos
adquiriam importância comercial e que os costumes se urbanizavam. Pintar o rosto, passar o
Pó Cygana ou o Pó Mimosa, deixando a pele aveludada tornava-se uma prática cotidiana
essencial na manutenção de um sentido coerente de auto-identidade, pois, a aparência
assume um importante papel na forma das pessoas tratarem umas as outras, sobretudo, nos
espaços urbanos. Conforme Anthony Giddens, modos de adorno facial ou de se vestir,
sempre foram até certo ponto meios de individualização (GIDDENS,2002). No entanto,
nesse momento não predomina uma forma de identificação social, mas sim de identificação
pessoal, sobretudo de gênero. A publicidade se dirigia “às senhoras elegantes e
encantadoras”, difundindo um modelo de feminilidade e estimulando o consumo.
Colaboradores do Diário de Pernambuco bradavam os efeitos da ginástica e dos esportes
como os “verdadeiros fatores da beleza”:


                        Infelizmente, a mulher brasileira ainda não compreendeu as vantagens dos sports
                        e da ginástica como fatores de beleza. Tanto isso é verdade, que as nossas
                        mulheres detém o record universal da “maquillage”. As nossas avenidas e ruas,
                        cheias de mulheres excessivamente pintadas, são um espetáculo edificante – mas
                        que entristece. (...) Mas dia há de chegar, Deus louvado, em que o sport, a
                        ginástica e o ar-livre, numa salutar conspiração, decretarão a falência entre nós do
                        “rouge” (DIÁRIO DE PERNAMBUCO, 20/11/1927) .



       Será que a preocupação é apenas com a saúde ou a campanha contra o rouge e a
maquiagem feminina não estava de fato sendo movida por outros motivos? Não fazia o rouge
com que a mulher parecesse mais sedutora? Pintada não estavam elas socialmente associadas
à lasciva? Talvez a maquiagem fosse vista como um importante artifício de sedução feminino
a ser combatido. Pintar-se não era aderir a uma beleza artificial? Bem, o certo é que esporte,
ginástica e ar-livre emergem como caminho para aquelas que almejavam uma beleza natural e
o uso do rouge nesse trecho é visto como artificialidade e, embora não explicitado,
provavelmente associado ainda a valores morais. A conquista da beleza surge não como um
trabalho laico e ordinário sobre si, mas muito mais como algo divino e extraordinário.

       Ser bela era ser jovem. Por isso, mulheres, homens e crianças eram submetidos aos
exercícios para flexibilizar, fortalecer e até rejuvenescer o corpo e muitos destes discursos
foram subjetivados e reproduzidos por parcela significativa da população. Seu Bianor de
Oliveira - pai do futuro médico, jornalista e ator Valdemar de Oliveira - foi um dos que
acatou o discurso pró-ginástica. Com o intuito de fortalecer o filho e afastar-lhe “todas as
mazelas” o matriculou em 1908 no seu “Ginásio Brasileiro-Centro de Cultura Física”, na
esquina da Rua do Hospício com a Rua Formosa, no centro do Recife. “Quando eu botar
esse bicho na ginástica, ele melhora!” repetia seu Bianor para o pequeno Valdemar. Em suas
memórias Valdemar de Oliveira destaca que o pai era um defensor ardente da ginástica e um
crente de seus benefícios não só para o corpo, mas também para o espírito, tendo publicado
no Recife em 1916, “A Ginástica Sueca e a Música” e anteriormente em 1909 “ABC da
Ginástica Sueca. 1
        Segundo o historiador da beleza, Georges Vigarello, desde o fim do século XIX a
ginástica começou a ser proclamada em todo o mundo como uma forma de combater “das
angústias do enfraquecimento da espécie às causas da degeneração dos povos civilizados”
(VIGARELLO, 2006: 128). Para ele, a ginástica, exaltada nas primeiras décadas do século
XX, era produto de uma cultura elaborada desde o XIX, misturando referências biológicas
com as das máquinas, dos motores e das zootecnias. Para Jurandir Freire Costa, no Brasil, a
educação física defendida pelos médicos higienistas desde o século XIX criou, de fato, o
corpo saudável. Corpo robusto e harmonioso, organicamente oposto ao corpo relapso,
flácido e doentio do indivíduo colonial. Mas, no seu entendimento, foi este corpo que, “eleito
representante de uma classe e de uma raça, serviu para incentivar o racismo e os
preconceitos sociais a ele ligados, para explorar e manter explorados, em nome da
superioridade racial e social da burguesia branca, todos os que, não logravam-se conformar-
se ao modelo anatômico construído pela higiene” (COSTA, 2004:13).
        Incidindo sobre o corpo feminino, a ginástica regularmente evocada nas colunas de
moda dos anos vinte, defende uma imagem nova: posturas não arqueadas, costas eretas,
pernas longas e finas. Proclamava Peregrino Júnior que a nova expressão da beleza moderna
era mrs. Farrester Agar, que os ingleses e americanos consideravam “a typical modern
beauty”, uma criatura elástica e fina, de formas longas e retas quase assexuada”(DIÁRIO
DE PERNAMBUCO. 10/07/1927). O corpo remodelado, reto, fino, alongado parecia
dificultar as marcas de gênero, “quase assexuada”, uma vez que a mulher de gestos
1
 Seu Bianor de Oliveira exerceu ainda a atividade docente no Colégio Pritaneu, de sua esposa D. Clotilde, como
professor de educação física. Cf. OLIVEIRA, Valdemar. Mundo Submerso: memórias. 3ª edição. Recife. FCCR,
1985. p. 24.
aligeirados, sem os vestidos balões do século XIX, livre, deixando de ser mero ornamento,
parecia estender-se no espaço público. Suas roupas deveriam ser leves e seu corpo liberto
dos espartilhos, esses algozes do passado.
       Entretanto, o cuidado de si e os investimentos na construção de um “corpo saudável”
poderiam ser aprendidos para além das recomendações dos médicos e dos conselheiros de
beleza. Pois, como qualquer outra linguagem, o corpo aprende a se expressar dentro de
relações sociais, com a troca de códigos e normas entre amigos e familiares As memórias do
escritor Gilberto Amado nos conduzem pelas descobertas do cuidado de si, porque foi
através da amizade com o poeta Carlos D. Fernandes que este, à época, articulista do Diário
e estudante da Faculdade de Direito, aprendeu a valorizar e cuidar de seu corpo. O amigo
italiano, mais velho que ele, costumava trajar em vez de fraque ou cartola um blusão de
fazenda leve azul vivíssimo, e em vez de sapatos, usava sandálias em forma de alpercatas e
chapéu panamá de abas largas. Ao percorrer a Rua Nova, cumprimentando um e outro, esse
tipo despertou sua atenção. Mas, não só a sua, pois, segundo relata, voltavam-se na direção
em que ele partia e “uns abanavam a cabeça, como se quisessem dizer: Maluco!” (AMADO,
1995: 300). Entretanto, Carlos Fernandes não emerge nas lembranças de Gilberto Amado
apenas pela diferença no seu vestuário. Ele surge, colorido pelo tempo, como o companheiro
de idas à Casa de Banhos ou às praias em Olinda e como aquele que o ensinou que os
cuidados com o intelecto devem estender-se ao corpo:


                        Quando íamos de noite [ à praia em Olinda], demorávamos, mas não além de certa
                        hora, jamais até de madrugada, pois, dormir cedo é dever do atleta e condição de
                        higidez, dos quais não se afastava ele. Não bebia, não fumava. Se me
                        perguntassem qual a nota marcante, que domina nas minhas recordações, da
                        presença de Carlos D. Fernandes nesse período de minha formação em
                        Pernambuco, eu diria – essa que chamarei de naturista, de preocupação de corpo e
                        de cuidado com a saúde. Até aí nenhuma voz me atraíra para esse caminho. Meu
                        dever era estudar, aprender, desenvolver o intelecto, enriquecer o espírito. (...)
                        Carlos D. Fernandes punha os deveres relativos ao corpo no plano dos únicos
                        deveres sagrados. Dava, sem pedantismo, sem o estragar, caráter cientifico ao
                        prazer. Não admitia em sua roda enfermos voluntários. Doente, diante dele, devia
                        deixar de o ser. (AMADO, 1955: 302).
O corpo masculino vai sendo assim construído, nesse inicio de século, por outros
discursos, de uma forma mais difusa, menos incisiva, porém não menos normativa. No
entanto, quando o alvo é o corpo feminino, nos anos vinte, há um discurso ecoando nas
revistas, jornais e consultórios da cidade, estimulando a vida das mulheres ao ar livre, menos
cobertas e mais fortificadas. As preocupações em relação ao corpo feminino iam além das
pernas, dos cabelos e do vestuário. E se ocorria uma dessofisticação do vestuário dos anos
vinte, com a eliminação dos franzidos e fanfreluches em proveito das formas sóbrias e limpas,
isso ocorria como resposta a um novo ideal de esporte, de leveza, de dinamismo. Porque os
esportes contribuíram para modificar o vestuário feminino e criar um novo ideal estético de
feminilidade (LIPOVETSKY, 2000: 70-79) No Recife, no Diário de Pernambuco, Guilherme
d’Azevedo, chefe-escoteiro de terra e mar, trazia os preceitos para as roupas e para a
educação física das mulheres: As meninas e moças poderão fazer os exercícios mais
simplesmente vestidas. O vestuário deve, em uma palavra, ser tão leve, que não traga
obstáculo algum aos movimentos e ao desenvolvimento da caixa torácica (DIÁRIO DE
PERNAMBUCO, 22/10/1927). No entanto, ao longo do seu texto, deixa explícitas suas
preocupações com o tipo de exercício executado pelas moças. E nesse momento percebemos
como a cultura do corpo ensinada a moças e rapazes era recortada por entendimentos sobre os
gêneros:

                        É preciso notar que os exercícios para a mulher (porque a estrutura
                        da mulher é mais fraca e mais delicada do que a do homem) devem
                        ser menos enérgicos e ter menos duração. É contra-indicado todo e
                        qualquer exercício que exigir dispêndio muscular intenso e
                        prolongado. Os exercícios em minha opinião, que mais convêm à
                        mulher, são aqueles que aumentam a destreza e a flexibilidade da
                        coluna vertebral, isto é, os movimentos que, sujeitos a lei da
                        cadencia e do ritmo se tornam, por assim dizer, a poesia da
                        locomoção. É que da flexibilidade do tronco e da harmonia dos
movimentos depende um dos maiores encantos das mulheres: a
                         graça (IDEM).


          Das mulheres, segundo o trecho, espera-se que elas exercitem-se fisicamente na
medida do estritamente necessário para a manutenção da beleza e da saúde. Bem diferente
dos homens que devem uma parte de sua identidade social à sua relação com o mundo dos
esportes. Nesse sentido, a divisão do esporte em atividades adequadas à condição feminina,
como a dança e a ginástica, e aos atributos masculinos como o futebol e o atletismo,
promovem diferenças de “natureza” existentes entre homens e mulheres, corroborando com
os discursos sociais (SCHPUN,1997: 45). Ainda é significativo que o colaborador do jornal
ressalte a graça da locomoção feminina, pois, num momento em que o corpo das mulheres
desfila mais diante do olhar dos homens, nas ruas, lojas e espaços de lazer, é necessário que
elas invistam no seu andar, alvo de novas atenções e, portanto, de novas vigilâncias.

BIBLIOGRAFIA


COSTA, Jurandir Freire. Ordem Médica e Norma Familiar. 5ª ed. Rio de Janeiro:
Edições Graal, 2004.
CASTRO, Ana Lúcia de. (Org.) Corpo, território da cultura. São Paulo: Annablume,
2005.
EAGLETON, Terry. Depois da Teoria: um olhar sobre os Estudos Culturais e o
pósmodernismo. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2005.
GIDDENS, Anthony. Modernidade e Identidade. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2002
LIPOVETSKY. A Terceira Mulher: permanência e revolução do feminino. São Paulo:
Companhia das Letras, 2000.
OLIVEIRA, Waldemar de. O Exame Médico Pré-Nupcial. Recife: Officinas Graphicas
da SS. 1928. Tese de concurso à livre-docência de Higiene na Faculdade de Medicina do
Recife.
OLIVEIRA, Núcia Alexandra Silva de. Corpo, beleza e gênero: rupturas e continuidades na
instituição das diferenças entre homens e mulheres. Uma leitura a partir da imprensa (1950 -
1980). Tese de doutorado em História SC:UFSC,2005.
SANT’ANNA, Denise Bernuzzi de. Políticas do corpo. São Paulo: Estação Liberdade, 1995.
SANT’ANNA, Denise Bernuzzi de. Corpo e embelezamento feminino no Brasil. In: Revista
Iberoamericana, III, 10, 2003.

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O corpo da moda

  • 1. O CORPO DA MODA: HOMENS, MULHERES E DISCURSOS SOBRE A BELEZA NO RECIFE DOS ANOS 1920 Natália Conceição Silva Barros* RESUMO: Pretendendo contribuir com a história do corpo e do cuidado de si no Brasil, este artigo se propõe a analisar, por meio da abordagem de gênero, os discursos da imprensa e dos médicos sobre os ideais de beleza considerados ideais no Recife da década de 1920. Palavras-Chaves: História; Corpo; Gênero. ABSTRACT: Desiring to contribute to the history of the body and self-care in Brazil, this article aims to analyze, through the gender approach, the discourse of the press and physicians about the ideals of beauty considered ideal Recife in the 1920s. Keywords: History; Body; Gender. Ao investigar as práticas de embelezamento feminino nos anos 1920 e as representações em torno dessas práticas, conheceremos como neste período os moradores e moradoras do Recife criaram maneiras de conhecer e controlar seus corpos e como fomentaram a invenção de corpos femininos e masculinos assimétricos socialmente. Analisar fragmentos da história do corpo é entendê-lo, segundo Terry Eagleton, como o signo mais palpável que temos da existência humana e como uma linguagem, uma maneira de ser em meio a um mundo. O corpo aqui então não é entendido como um tanque ou uma prisão, onde haveria uma separação entre subjetividade e materialidade, porque “quem seria esse “eu” desencarnado dentro dele?” (EAGLETON, 2005: 225). Corpo e gênero são aqui observados * Universidade Federal de Pernambuco. Doutora em História.
  • 2. como elementos que se inter-relacionam por intermédio da cultura e da história e que não são, portanto, de forma alguma fixos ou imutáveis. O corpo, mais particularmente o feminino, foi alvo de insistente atenção nas primeiras décadas do século XX, momento de transição de um cenário rural para um cenário urbano, de reordenação de relações sociais. Nesse cenário que começava se delinear, à mulher foi atribuída, mais uma vez, a tarefa de zelar pelo bem-estar e saúde não só de seu corpo mais de todos na família (COSTA, 2004: 255-. 274) Enquanto as mulheres são convidadas a apresentarem corpos delicados, suaves e graciosos, os homens são incentivados a apresentarem e a representarem, através de seus corpos, a força e a robustez, tidos como elementos masculinos. Certamente que esta relação não é algo linear ou constante. Na verdade, como destaca Núcia Alexandra Oliveira, os discursos articulados em torno da beleza estão permeados de relações de gênero, que ora são mais intensas, ora são mais tênues. Naturalidade e encanto para as mulheres. Discrição e elegância para os homens (OLIVEIRA, 2005: 17). O corpo da moda “Qual será o verdadeiro tipo feminino da beleza moderna?” (DIÁRIO DE PRNAMBUCO. 10/07/1927 ) interrogava-se Peregrino Júnior nos anos 1920 no Diário de Pernambuco. Afinal, a segunda década do século XX foi crucial na formulação de um novo ideal físico, tendo a imagem cinematográfica interferido significativamente nessa construção. Ao longo dessa década, mulheres, sob o impacto combinado das indústrias de cosmético, da moda, da publicidade e de Hollywood, incorporaram o uso da maquiagem, principalmente o batom (PRIORE, 2000:9), e passaram a valorizar o corpo esbelto, esguio. Segundo Ana Lúcia de Castro, a combinação destas quatro indústrias foi fundamental para a vitória do corpo magro sobre o gordo no decorrer do século XX (CASTRO, 2005:138). Porém, o papel da imprensa na construção de um ideal estético merece também ser destacado. Era – é - ampla a interferência da imprensa, uma vez que se constituía como espaço de visualização dos produtos de beleza, com moças insinuando pele, bocas e colos;
  • 3. lugar de divulgação da programação de filmes, com atrizes exalando sensualidade com cabelos loiros, olhos carregados de maquiagem e corpos esbeltos; e, além disso, era constante a presença de conselheiros de beleza nas colunas de jornais e revistas, controlando diretamente a construção dos “corpos modernos”. Importa destacar que durante décadas, a maior parte dos conselheiros de beleza era formada pelo sexo masculino. Antes dos anos 1950, eles eram, sobretudo, médicos e escritores moralistas, para quem a aparência feminina deveria revelar a beleza de uma alma pura, condição para se manter o corpo lindo, belo e fecundo (SANT’ANNA, 1995: 121-139). Ilustrativa deste lugar de poder ocupado por estes conselheiros é a matéria de junho de 1927, publicada na Seção Femina sobre “O Maquillage” escrita por Peregrino Júnior, um de seus colaboradores que atuava como conselheiro de beleza e de comportamento para as leitoras. Numa linguagem coloquial, humorada e próxima das mulheres, abordava entre dicas de cores de sombra, sugestões de livros e de comportamentos, a reação masculina a pintura feminina e os atributos de cada gênero que deveriam ser valorizados. Segundo ele, embora os homens tivessem uma grande prevenção contra a pintura feminina, por mais ranzinza e falador que fossem, eles não gostavam de mulher amarela e feia, por isso incentiva suas leitoras a se maquiarem. Ainda em seu texto defende a justeza e a naturalidade da prática de embelezamento por parte das mulheres, porque seria este “o caminho instintivo de conservarem a parcela de beleza que os deuses lhe concederam” (DIÁRIO DE PERNAMBUCO (02/10/1927). A beleza então aparece em seu texto como algo natural e dado, que apenas deveria ser conservado pelas mulheres. Seria um atributo essencialmente feminino, enquanto a inteligência, a saúde e a força aparecem como atributos masculinos, que também eles deveriam conservar e melhorar. Porém, embora natural, a beleza precisava segundo este conselheiro de um investimento constante e sua função não seria outra senão a de seduzir e agradar aos homens. De toda forma, era um discurso diferente dos proferidos pelos consultores de beleza das décadas seguintes, pois, conforme Núcia Alexandra, a partir dos anos 50 e 60, as mulheres passaram a ser convidadas ao prazer de cuidar de si, “construindo” o seu próprio corpo, a sua própria aparência, a sua “beleza”(OLIVEIRA, 2005:48).
  • 4. O culto a beleza para Peregrino Júnior não era mera vaidade feminina, era uma habilidade necessária à mulher civilizada; em seu texto essa prática não é recriminada. Esta postura tolerante e até incentivadora do embelezamento feminino adensa-se na década de 1920. A partir dessa década, para uma minoria abastada de jovens que perseguiam o último grito da moda, as aparências pálidas e doentias, os rostos que nunca receberam o rouge ou os traços do lápis, vão, pouco a pouco, denotar uma personalidade avessa a mudanças, revelando uma ausência de refinamento para com os tempos julgados modernos (SANT’ANNA, 2003:147) Nos “anos loucos”, a moça pintada emitia os sinais do progresso. Multiplicam-se as recomendações referentes à aparência física. E como é feita de continuidades, mas também de rupturas e deslocamentos de significados, esta história do embelezamento nos mostra quanto os valores e concepções morais são históricos e bem situados no tempo e no espaço. Ginástica e a busca da beleza As revistas prescreviam às mulheres fazer ginástica todas as manhãs, tomar refeições leves para permanecer esbeltas, utilizar óleos para bronzear, maquiar os olhos e os lábios, depilar as sobrancelhas, passar esmaltes nas unhas das mãos e dos pés. Tudo era prescrito: “As pestanas também devem ser pintadas com “Rimel”. Ficam duras e perdem em geral a beleza natural. Mas isto não tem a mínima importância. A arte é a arte e, sobretudo... a moda é a moda!” ( DIÁRIO DE PERNAMBUCO 02/10/1927). Deixando de estar associados à imagem das coquetes e das mulheres de reputação duvidosa, os artifícios cosméticos são apresentados como o remate legitimo da beleza: não mais uma prática condenável mas uma obrigação para toda mulher conservar o marido; não mais um sinal de mau gosto mas um imperativo de civilizada (.LIPOVETSKY , 2000: 128-168) Segundo Denise Sant’Anna, a aversão a pintura do rosto tendia, nas primeiras décadas do século, a se tornar menos triunfante no plano moral, na medida em que a propaganda e a venda de cosméticos adquiriam importância comercial e que os costumes se urbanizavam. Pintar o rosto, passar o Pó Cygana ou o Pó Mimosa, deixando a pele aveludada tornava-se uma prática cotidiana
  • 5. essencial na manutenção de um sentido coerente de auto-identidade, pois, a aparência assume um importante papel na forma das pessoas tratarem umas as outras, sobretudo, nos espaços urbanos. Conforme Anthony Giddens, modos de adorno facial ou de se vestir, sempre foram até certo ponto meios de individualização (GIDDENS,2002). No entanto, nesse momento não predomina uma forma de identificação social, mas sim de identificação pessoal, sobretudo de gênero. A publicidade se dirigia “às senhoras elegantes e encantadoras”, difundindo um modelo de feminilidade e estimulando o consumo. Colaboradores do Diário de Pernambuco bradavam os efeitos da ginástica e dos esportes como os “verdadeiros fatores da beleza”: Infelizmente, a mulher brasileira ainda não compreendeu as vantagens dos sports e da ginástica como fatores de beleza. Tanto isso é verdade, que as nossas mulheres detém o record universal da “maquillage”. As nossas avenidas e ruas, cheias de mulheres excessivamente pintadas, são um espetáculo edificante – mas que entristece. (...) Mas dia há de chegar, Deus louvado, em que o sport, a ginástica e o ar-livre, numa salutar conspiração, decretarão a falência entre nós do “rouge” (DIÁRIO DE PERNAMBUCO, 20/11/1927) . Será que a preocupação é apenas com a saúde ou a campanha contra o rouge e a maquiagem feminina não estava de fato sendo movida por outros motivos? Não fazia o rouge com que a mulher parecesse mais sedutora? Pintada não estavam elas socialmente associadas à lasciva? Talvez a maquiagem fosse vista como um importante artifício de sedução feminino a ser combatido. Pintar-se não era aderir a uma beleza artificial? Bem, o certo é que esporte, ginástica e ar-livre emergem como caminho para aquelas que almejavam uma beleza natural e o uso do rouge nesse trecho é visto como artificialidade e, embora não explicitado, provavelmente associado ainda a valores morais. A conquista da beleza surge não como um trabalho laico e ordinário sobre si, mas muito mais como algo divino e extraordinário. Ser bela era ser jovem. Por isso, mulheres, homens e crianças eram submetidos aos exercícios para flexibilizar, fortalecer e até rejuvenescer o corpo e muitos destes discursos foram subjetivados e reproduzidos por parcela significativa da população. Seu Bianor de Oliveira - pai do futuro médico, jornalista e ator Valdemar de Oliveira - foi um dos que
  • 6. acatou o discurso pró-ginástica. Com o intuito de fortalecer o filho e afastar-lhe “todas as mazelas” o matriculou em 1908 no seu “Ginásio Brasileiro-Centro de Cultura Física”, na esquina da Rua do Hospício com a Rua Formosa, no centro do Recife. “Quando eu botar esse bicho na ginástica, ele melhora!” repetia seu Bianor para o pequeno Valdemar. Em suas memórias Valdemar de Oliveira destaca que o pai era um defensor ardente da ginástica e um crente de seus benefícios não só para o corpo, mas também para o espírito, tendo publicado no Recife em 1916, “A Ginástica Sueca e a Música” e anteriormente em 1909 “ABC da Ginástica Sueca. 1 Segundo o historiador da beleza, Georges Vigarello, desde o fim do século XIX a ginástica começou a ser proclamada em todo o mundo como uma forma de combater “das angústias do enfraquecimento da espécie às causas da degeneração dos povos civilizados” (VIGARELLO, 2006: 128). Para ele, a ginástica, exaltada nas primeiras décadas do século XX, era produto de uma cultura elaborada desde o XIX, misturando referências biológicas com as das máquinas, dos motores e das zootecnias. Para Jurandir Freire Costa, no Brasil, a educação física defendida pelos médicos higienistas desde o século XIX criou, de fato, o corpo saudável. Corpo robusto e harmonioso, organicamente oposto ao corpo relapso, flácido e doentio do indivíduo colonial. Mas, no seu entendimento, foi este corpo que, “eleito representante de uma classe e de uma raça, serviu para incentivar o racismo e os preconceitos sociais a ele ligados, para explorar e manter explorados, em nome da superioridade racial e social da burguesia branca, todos os que, não logravam-se conformar- se ao modelo anatômico construído pela higiene” (COSTA, 2004:13). Incidindo sobre o corpo feminino, a ginástica regularmente evocada nas colunas de moda dos anos vinte, defende uma imagem nova: posturas não arqueadas, costas eretas, pernas longas e finas. Proclamava Peregrino Júnior que a nova expressão da beleza moderna era mrs. Farrester Agar, que os ingleses e americanos consideravam “a typical modern beauty”, uma criatura elástica e fina, de formas longas e retas quase assexuada”(DIÁRIO DE PERNAMBUCO. 10/07/1927). O corpo remodelado, reto, fino, alongado parecia dificultar as marcas de gênero, “quase assexuada”, uma vez que a mulher de gestos 1 Seu Bianor de Oliveira exerceu ainda a atividade docente no Colégio Pritaneu, de sua esposa D. Clotilde, como professor de educação física. Cf. OLIVEIRA, Valdemar. Mundo Submerso: memórias. 3ª edição. Recife. FCCR, 1985. p. 24.
  • 7. aligeirados, sem os vestidos balões do século XIX, livre, deixando de ser mero ornamento, parecia estender-se no espaço público. Suas roupas deveriam ser leves e seu corpo liberto dos espartilhos, esses algozes do passado. Entretanto, o cuidado de si e os investimentos na construção de um “corpo saudável” poderiam ser aprendidos para além das recomendações dos médicos e dos conselheiros de beleza. Pois, como qualquer outra linguagem, o corpo aprende a se expressar dentro de relações sociais, com a troca de códigos e normas entre amigos e familiares As memórias do escritor Gilberto Amado nos conduzem pelas descobertas do cuidado de si, porque foi através da amizade com o poeta Carlos D. Fernandes que este, à época, articulista do Diário e estudante da Faculdade de Direito, aprendeu a valorizar e cuidar de seu corpo. O amigo italiano, mais velho que ele, costumava trajar em vez de fraque ou cartola um blusão de fazenda leve azul vivíssimo, e em vez de sapatos, usava sandálias em forma de alpercatas e chapéu panamá de abas largas. Ao percorrer a Rua Nova, cumprimentando um e outro, esse tipo despertou sua atenção. Mas, não só a sua, pois, segundo relata, voltavam-se na direção em que ele partia e “uns abanavam a cabeça, como se quisessem dizer: Maluco!” (AMADO, 1995: 300). Entretanto, Carlos Fernandes não emerge nas lembranças de Gilberto Amado apenas pela diferença no seu vestuário. Ele surge, colorido pelo tempo, como o companheiro de idas à Casa de Banhos ou às praias em Olinda e como aquele que o ensinou que os cuidados com o intelecto devem estender-se ao corpo: Quando íamos de noite [ à praia em Olinda], demorávamos, mas não além de certa hora, jamais até de madrugada, pois, dormir cedo é dever do atleta e condição de higidez, dos quais não se afastava ele. Não bebia, não fumava. Se me perguntassem qual a nota marcante, que domina nas minhas recordações, da presença de Carlos D. Fernandes nesse período de minha formação em Pernambuco, eu diria – essa que chamarei de naturista, de preocupação de corpo e de cuidado com a saúde. Até aí nenhuma voz me atraíra para esse caminho. Meu dever era estudar, aprender, desenvolver o intelecto, enriquecer o espírito. (...) Carlos D. Fernandes punha os deveres relativos ao corpo no plano dos únicos deveres sagrados. Dava, sem pedantismo, sem o estragar, caráter cientifico ao prazer. Não admitia em sua roda enfermos voluntários. Doente, diante dele, devia deixar de o ser. (AMADO, 1955: 302).
  • 8. O corpo masculino vai sendo assim construído, nesse inicio de século, por outros discursos, de uma forma mais difusa, menos incisiva, porém não menos normativa. No entanto, quando o alvo é o corpo feminino, nos anos vinte, há um discurso ecoando nas revistas, jornais e consultórios da cidade, estimulando a vida das mulheres ao ar livre, menos cobertas e mais fortificadas. As preocupações em relação ao corpo feminino iam além das pernas, dos cabelos e do vestuário. E se ocorria uma dessofisticação do vestuário dos anos vinte, com a eliminação dos franzidos e fanfreluches em proveito das formas sóbrias e limpas, isso ocorria como resposta a um novo ideal de esporte, de leveza, de dinamismo. Porque os esportes contribuíram para modificar o vestuário feminino e criar um novo ideal estético de feminilidade (LIPOVETSKY, 2000: 70-79) No Recife, no Diário de Pernambuco, Guilherme d’Azevedo, chefe-escoteiro de terra e mar, trazia os preceitos para as roupas e para a educação física das mulheres: As meninas e moças poderão fazer os exercícios mais simplesmente vestidas. O vestuário deve, em uma palavra, ser tão leve, que não traga obstáculo algum aos movimentos e ao desenvolvimento da caixa torácica (DIÁRIO DE PERNAMBUCO, 22/10/1927). No entanto, ao longo do seu texto, deixa explícitas suas preocupações com o tipo de exercício executado pelas moças. E nesse momento percebemos como a cultura do corpo ensinada a moças e rapazes era recortada por entendimentos sobre os gêneros: É preciso notar que os exercícios para a mulher (porque a estrutura da mulher é mais fraca e mais delicada do que a do homem) devem ser menos enérgicos e ter menos duração. É contra-indicado todo e qualquer exercício que exigir dispêndio muscular intenso e prolongado. Os exercícios em minha opinião, que mais convêm à mulher, são aqueles que aumentam a destreza e a flexibilidade da coluna vertebral, isto é, os movimentos que, sujeitos a lei da cadencia e do ritmo se tornam, por assim dizer, a poesia da locomoção. É que da flexibilidade do tronco e da harmonia dos
  • 9. movimentos depende um dos maiores encantos das mulheres: a graça (IDEM). Das mulheres, segundo o trecho, espera-se que elas exercitem-se fisicamente na medida do estritamente necessário para a manutenção da beleza e da saúde. Bem diferente dos homens que devem uma parte de sua identidade social à sua relação com o mundo dos esportes. Nesse sentido, a divisão do esporte em atividades adequadas à condição feminina, como a dança e a ginástica, e aos atributos masculinos como o futebol e o atletismo, promovem diferenças de “natureza” existentes entre homens e mulheres, corroborando com os discursos sociais (SCHPUN,1997: 45). Ainda é significativo que o colaborador do jornal ressalte a graça da locomoção feminina, pois, num momento em que o corpo das mulheres desfila mais diante do olhar dos homens, nas ruas, lojas e espaços de lazer, é necessário que elas invistam no seu andar, alvo de novas atenções e, portanto, de novas vigilâncias. BIBLIOGRAFIA COSTA, Jurandir Freire. Ordem Médica e Norma Familiar. 5ª ed. Rio de Janeiro: Edições Graal, 2004. CASTRO, Ana Lúcia de. (Org.) Corpo, território da cultura. São Paulo: Annablume, 2005. EAGLETON, Terry. Depois da Teoria: um olhar sobre os Estudos Culturais e o pósmodernismo. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2005. GIDDENS, Anthony. Modernidade e Identidade. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2002 LIPOVETSKY. A Terceira Mulher: permanência e revolução do feminino. São Paulo: Companhia das Letras, 2000. OLIVEIRA, Waldemar de. O Exame Médico Pré-Nupcial. Recife: Officinas Graphicas da SS. 1928. Tese de concurso à livre-docência de Higiene na Faculdade de Medicina do Recife.
  • 10. OLIVEIRA, Núcia Alexandra Silva de. Corpo, beleza e gênero: rupturas e continuidades na instituição das diferenças entre homens e mulheres. Uma leitura a partir da imprensa (1950 - 1980). Tese de doutorado em História SC:UFSC,2005. SANT’ANNA, Denise Bernuzzi de. Políticas do corpo. São Paulo: Estação Liberdade, 1995. SANT’ANNA, Denise Bernuzzi de. Corpo e embelezamento feminino no Brasil. In: Revista Iberoamericana, III, 10, 2003.