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Asininos e Muares
Osler Desouzart
osler@odconsulting.com.br
Minha intenção ao escrever esse artigo era a de dar uma rápida visão sobre asininos e
muares, como forma de homenagem a Feimuares. Muitas pessoas ainda têm a dúvida do
que é um burro, um jumento, uma mula, um jegue e um asno. Jumento, jegue e asno são
os mesmos animais, recebem apenas diferentes nomes dependendo da região que se
encontra, mas todos são Equus asininus, quando considerada a espécie, ou Equus
africanus asinus, quando considerada a subespécie1
.
Domesticados em torno de 3000 A.C., os asininos são famosos por sua resistência, e são
usados para tração, carga e sela. Há milênios o homem o usa na agricultura, no transporte
e na perpetuação da herança de Caim, as guerras. Tendo um instinto de preservação mais
acurado que o cavalo, o asno adquiriu a fama de teimoso, pois é muito difícil obrigá-lo a
fazer qualquer coisa que ele pressente ser perigosa.
Os asininos podem ser cruzados com outros membros da família dos equídeos. Os muares,
a mula e o burro, foram originados do cruzamento entre o jumento e a égua. A mula é o
individuo fêmea resultante do cruzamento entre o jumento e a égua e é obrigatoriamente
estéril. O burro é o indivíduo masculino desse cruzamento e também é estéril. Outro muar
conhecido é o bardoto, é o cruzamento da jumenta (Equus asininus) com o cavalo (Equus
caballus) é também é estéril. Todos esses são animais de grande importância rural, devido
sua resistência e docilidade.
Acreditou-se que quando da popularização do caminhão, da caminhonete e do trator que
os asininos e muares perderiam sua utilidade após 5.000 anos de bons serviços prestados
ao homem na paz e na guerra. Entretanto, mesmo nestes tempos de 4x4 os asininos
seguem tendo seu lugar em várias regiões do mundo, ainda que na medida em que a
renda aumente haja casos frequentes de abandono de animais que eram usados,
sobretudo para o transporte. No próprio Brasil, o aumento de renda e a facilidade de
compra de motocicletas financiadas a largo prazo geraram casos de abandono desses
animais.
Em países ricos, estão se tornando frequentes organizações não governamentais que se
dedicam ao resgate, construção de santuários para abrigar esses animais e que financiam
projetos de bem-estar em países menos prósperos.
1
Fonte: http://iczn.org/content/about-iczn The International Commission on Zoological Nomenclature
(ICZN)
Apesar desses aspectos, o Sistema de Informações sobre Diversidade de Animais
Domésticos (DAD-IS) registrava em maio deste ano 190 raças de asininos no mundo,
incluindo 5 delas como brasileiras.
Tabela I – Raças de Asininos no Mundo
África
Ásia e
Pacífico
Europa
América
Latina e
Caribe
Oriente
Médio
América
do Norte
Mundo
Raças de
Asininos
26 32 55 25 47 5 190
2
Além disso, o rebanho mundial de asininos tem se mantido em torno de 41,5 milhões de
cabeças desde 2000, quando a expectativa era de decréscimo acentuado.
Gráfico I
3
2
Fonte: http://dad.fao.org/
3
Fonte: Elaborado por ODConsulting com base em dados da FAOSTAT. Animais vivos aseninos e muares 95-2011
Gráfico II
4
Os aspectos históricos dos asininos e muares mereceriam um artigo em si, e apenas posso indicar
o fascinante que é e recomendar ao leitor que a pesquise. Não ousarei entrar nessa seara que não
me pertence. Tenho como hobby história militar com foco na Guerra Civil American e na 2ª
Guerra Mundial e sempre me chamou a atenção o quanto o homem dependia dos equídeos em
suas guerras. Nos séculos que antecederam à motorização generalizada do século XX era fácil
entender as razões. Entretanto, até o dia de hoje os asininos seguem sendo empregados em
atividades militares, sendo usados onde até o melhor fora-terreno 4x4 não pensaria ir nem em
filme comercial da marca. Além de suas funções para carga e para a monta, os equídeos sempre
constituíram uma reserva de alimentos em situações extremas.
Em várias partes do mundo os asininos seguem sendo usados como nos últimos 5000 anos, mas
hoje também surgem como coadjuvantes nas atividades de turismo rural. Há também um
interessante uso do asinino, desde que solitário, na guarda de rebanhos caprinos e ovinos, dada à
sua total incompatibilidade com cães e lobos. Nunca deixe um cão em um espaço confinado com
um asinino, nem por experiência.
Resgato aqui o exemplo da Ilha de Hidra na Grécia onde o único veículo motorizado permitido são
os caminhões de coleta de lixo, sendo todo o transporte público terrestre dependente de
bicicletas e de asnos. Este parágrafo foi incluído depois que levei 45’ para percorrer 6 quilômetros
na Marginal Pinheiros em São Paulo, que deve ser a mesma velocidade obtida pela carroças
tracionadas pelos asnos usadas no transporte em Hidra.
4
Idem #3
Em 2011, segundo as estatísticas da FAO, 98,92% do rebanho mundial de asininos e 97,93% do
rebanho mundial de muares encontravam-se em países em desenvolvimento. A razão é que os
asininos e muares são o insumo mais econômico em atividade agrícola, com a exceção talvez ao
trabalho humano 5
. São usados para transporte, tração, para debulhar, movimentar moinhos de
água e moinhos de grãos e inúmeras outras atividades.
Nos países desenvolvidos seus usos hoje ficam restrito a turismo, lazer, guarda de rebanhos de
ovinos e mesmo como animais de companhia. Sua capacidade de transportar até 20% do seu peso
corporal em carga fazem com que sigam sendo usados em zonas de guerra, como o Afeganistão.
Há 100 anos atrás eu comandei como Aspirante R2 um pelotão de morteiros 81 e não podem
imaginar o quanto sei da utilidade de um asno ou uma mula para transportar os tubos e as bases
dos morteiros, ainda que deles não dispuséssemos. E seus instintos de sobrevivência fazem-no
uma escolha natural para lazer em trilhas e áreas montanhosas.
Arrisco-me a cansar o leitor com estatísticas, mas creio que é raro que se aborde o tema desses
animais fascinantes, os asininos e muares, e, portanto encontrarão vocês os dados sobre os
rebanhos de asininos de 1995 a 2011 para os 60 maiores países produtores. A Tabela VI completa
esse quadro com os rebanhos dos 104 países que em 2011 registravam mais de um milhar de
cabeças.
5
Fonte: • ^ Pearson, R.A.; E. Nengomasha; R. Krecek (1999) "The challenges in using donkeys for work in
Africa", in P. Starkey; P. Kaumbutho Meeting the challenges of animal traction. Resource book of the Animal
Traction Network of Southern Africa, Harare, Zimbabwe. London: Intermediate Technology Publications.
http://www.fao.org/docs/eims/upload/agrotech/1912/R5926-challenges-pearson-donkeys.pdf
Tabela II – Asininos – Rebanho em cabeças
6
6
As Tabelas II a VI foram elaboradas por ODConsulting com base em dados da FAOSTAT.
Tabela III – Asininos – Rebanho em cabeças
Tabela IV – Asininos – Rebanho em cabeças
Tabela V – Asininos – Rebanho em cabeças
Tabela VI
Já que coloquei a teste a paciência do leitor, segue a Tabela VII com os 62 maiores rebanhos de
muares em 2011.
Tabela VII – Muares – Rebanho em cabeças
7
Há naturalmente o consumo de carnes de asininos e muares, mas infelizmente as estatísticas são
limitadas. Surge o Planeta China como o grande produtor e consumidor dessas carnes, onde são
consideradas uma delikatessen.
7
Idem #6
Tabela VIII – Produção Mundial de Carne de Asininos
Tabela IX - Produção Mundial de Carne de Muares
Nas Tabelas VIII e IX listamos os dados sobre a produção de carnes, mas temos consciência de que
há faltas severas. A título exemplificativo citamos a Itália, país cuja culinária abrange o uso dessas
carnes em vários pratos e embutidos típicos. A Tabela X apresenta o número de abate de cabeças
de ambas as espécies e a quantidade de carne produzida, valores que não constam das estatísticas
da FAO, mas que estão nas estatísticas oficiais italianas.
Tabela X - Itália – Abate de Muares e Asininos e Produção de Carnes.
8
Parece ser que a previsão que os asininos e muares estariam condenados a se tornarem
curiosidades zoológicas diante dos tratores, caminhonetes, 4x4 de última geração e motocicletas,
previsão esta que a estatísticas não confirmam, fez com que houvesse menor foco da parte oficial
para esses companheiros de trabalho e de luta, no sentido literal do termo, que nos acompanham
há 5000 anos.
As tabelas II e VII mostram que o Brasil tem o 11º rebanho de asininos e o 3º maior rebanho de
muares no mundo. A Tabela XI mostra o rebanho brasileiro das duas espécies segundo o Censo
Agropecuário e a Pesquisa Pecuária Municipal (PPM), ambos conduzidos pelo IBGE. Causa-me
espécie os resultados do Censo Agropecuário de 2006, que parecem estar fora de linha com os
8
Fonte: Istat - Istituto Nazionale di Statistica
http://agri.istat.it/sag_is_pdwout/jsp/dwExcel.jsp?q=plAMR0000010000010000&an=2011&ig=1&ct=603&id
=8A|10A|51A|71A
rebanhos da PPM e aqueles relatados pela FAO que tem seus números baseados em fontes oficiais
brasileiras.
Tabela XI
9
Poderíamos nos estender enormemente se incluíssemos referências religiosas e jocosas a este
pequeno escrito sobre os asininos e muares. Eles acompanham a história brasileira, inclusive o
grito da independência, pois ao contrário da visão ufanista e heroica do quadro Independência ou
Morte de Pedro Américo, D.Pedro montava uma mula como era o hábito para as viagens longas da
época. E seguramente não fazia longas viagens em uniforme de gala.
Mais uma injustiça que se comete aos jumentos e mulas? Possivelmente, mas também havia que
dar ao povo uma visão romântica daquele momento que marcou o início de nossa história como
país independente. Injustiça maior estaria se não reconhecêssemos o quanto esses animais
contribuíram e contribuem para a economia deste país. E com o perdão de contrariar previsões,
ainda muito contribuirão para a agropecuária brasileira.
Boa II Feimuares e bons negócios para todos vocês.
9
Fonte: IBGE
http://www.sidra.ibge.gov.br/bda/pecua/default.asp?t=2&z=t&o=24&u1=1&u2=1&u3=1&u4=1&u5=1&u6=
1&u7=1

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Asininos e Muares: Companheiros de 5 mil anos

  • 1. Asininos e Muares Osler Desouzart osler@odconsulting.com.br Minha intenção ao escrever esse artigo era a de dar uma rápida visão sobre asininos e muares, como forma de homenagem a Feimuares. Muitas pessoas ainda têm a dúvida do que é um burro, um jumento, uma mula, um jegue e um asno. Jumento, jegue e asno são os mesmos animais, recebem apenas diferentes nomes dependendo da região que se encontra, mas todos são Equus asininus, quando considerada a espécie, ou Equus africanus asinus, quando considerada a subespécie1 . Domesticados em torno de 3000 A.C., os asininos são famosos por sua resistência, e são usados para tração, carga e sela. Há milênios o homem o usa na agricultura, no transporte e na perpetuação da herança de Caim, as guerras. Tendo um instinto de preservação mais acurado que o cavalo, o asno adquiriu a fama de teimoso, pois é muito difícil obrigá-lo a fazer qualquer coisa que ele pressente ser perigosa. Os asininos podem ser cruzados com outros membros da família dos equídeos. Os muares, a mula e o burro, foram originados do cruzamento entre o jumento e a égua. A mula é o individuo fêmea resultante do cruzamento entre o jumento e a égua e é obrigatoriamente estéril. O burro é o indivíduo masculino desse cruzamento e também é estéril. Outro muar conhecido é o bardoto, é o cruzamento da jumenta (Equus asininus) com o cavalo (Equus caballus) é também é estéril. Todos esses são animais de grande importância rural, devido sua resistência e docilidade. Acreditou-se que quando da popularização do caminhão, da caminhonete e do trator que os asininos e muares perderiam sua utilidade após 5.000 anos de bons serviços prestados ao homem na paz e na guerra. Entretanto, mesmo nestes tempos de 4x4 os asininos seguem tendo seu lugar em várias regiões do mundo, ainda que na medida em que a renda aumente haja casos frequentes de abandono de animais que eram usados, sobretudo para o transporte. No próprio Brasil, o aumento de renda e a facilidade de compra de motocicletas financiadas a largo prazo geraram casos de abandono desses animais. Em países ricos, estão se tornando frequentes organizações não governamentais que se dedicam ao resgate, construção de santuários para abrigar esses animais e que financiam projetos de bem-estar em países menos prósperos. 1 Fonte: http://iczn.org/content/about-iczn The International Commission on Zoological Nomenclature (ICZN)
  • 2. Apesar desses aspectos, o Sistema de Informações sobre Diversidade de Animais Domésticos (DAD-IS) registrava em maio deste ano 190 raças de asininos no mundo, incluindo 5 delas como brasileiras. Tabela I – Raças de Asininos no Mundo África Ásia e Pacífico Europa América Latina e Caribe Oriente Médio América do Norte Mundo Raças de Asininos 26 32 55 25 47 5 190 2 Além disso, o rebanho mundial de asininos tem se mantido em torno de 41,5 milhões de cabeças desde 2000, quando a expectativa era de decréscimo acentuado. Gráfico I 3 2 Fonte: http://dad.fao.org/ 3 Fonte: Elaborado por ODConsulting com base em dados da FAOSTAT. Animais vivos aseninos e muares 95-2011
  • 3. Gráfico II 4 Os aspectos históricos dos asininos e muares mereceriam um artigo em si, e apenas posso indicar o fascinante que é e recomendar ao leitor que a pesquise. Não ousarei entrar nessa seara que não me pertence. Tenho como hobby história militar com foco na Guerra Civil American e na 2ª Guerra Mundial e sempre me chamou a atenção o quanto o homem dependia dos equídeos em suas guerras. Nos séculos que antecederam à motorização generalizada do século XX era fácil entender as razões. Entretanto, até o dia de hoje os asininos seguem sendo empregados em atividades militares, sendo usados onde até o melhor fora-terreno 4x4 não pensaria ir nem em filme comercial da marca. Além de suas funções para carga e para a monta, os equídeos sempre constituíram uma reserva de alimentos em situações extremas. Em várias partes do mundo os asininos seguem sendo usados como nos últimos 5000 anos, mas hoje também surgem como coadjuvantes nas atividades de turismo rural. Há também um interessante uso do asinino, desde que solitário, na guarda de rebanhos caprinos e ovinos, dada à sua total incompatibilidade com cães e lobos. Nunca deixe um cão em um espaço confinado com um asinino, nem por experiência. Resgato aqui o exemplo da Ilha de Hidra na Grécia onde o único veículo motorizado permitido são os caminhões de coleta de lixo, sendo todo o transporte público terrestre dependente de bicicletas e de asnos. Este parágrafo foi incluído depois que levei 45’ para percorrer 6 quilômetros na Marginal Pinheiros em São Paulo, que deve ser a mesma velocidade obtida pela carroças tracionadas pelos asnos usadas no transporte em Hidra. 4 Idem #3
  • 4. Em 2011, segundo as estatísticas da FAO, 98,92% do rebanho mundial de asininos e 97,93% do rebanho mundial de muares encontravam-se em países em desenvolvimento. A razão é que os asininos e muares são o insumo mais econômico em atividade agrícola, com a exceção talvez ao trabalho humano 5 . São usados para transporte, tração, para debulhar, movimentar moinhos de água e moinhos de grãos e inúmeras outras atividades. Nos países desenvolvidos seus usos hoje ficam restrito a turismo, lazer, guarda de rebanhos de ovinos e mesmo como animais de companhia. Sua capacidade de transportar até 20% do seu peso corporal em carga fazem com que sigam sendo usados em zonas de guerra, como o Afeganistão. Há 100 anos atrás eu comandei como Aspirante R2 um pelotão de morteiros 81 e não podem imaginar o quanto sei da utilidade de um asno ou uma mula para transportar os tubos e as bases dos morteiros, ainda que deles não dispuséssemos. E seus instintos de sobrevivência fazem-no uma escolha natural para lazer em trilhas e áreas montanhosas. Arrisco-me a cansar o leitor com estatísticas, mas creio que é raro que se aborde o tema desses animais fascinantes, os asininos e muares, e, portanto encontrarão vocês os dados sobre os rebanhos de asininos de 1995 a 2011 para os 60 maiores países produtores. A Tabela VI completa esse quadro com os rebanhos dos 104 países que em 2011 registravam mais de um milhar de cabeças. 5 Fonte: • ^ Pearson, R.A.; E. Nengomasha; R. Krecek (1999) "The challenges in using donkeys for work in Africa", in P. Starkey; P. Kaumbutho Meeting the challenges of animal traction. Resource book of the Animal Traction Network of Southern Africa, Harare, Zimbabwe. London: Intermediate Technology Publications. http://www.fao.org/docs/eims/upload/agrotech/1912/R5926-challenges-pearson-donkeys.pdf
  • 5. Tabela II – Asininos – Rebanho em cabeças 6 6 As Tabelas II a VI foram elaboradas por ODConsulting com base em dados da FAOSTAT.
  • 6. Tabela III – Asininos – Rebanho em cabeças
  • 7. Tabela IV – Asininos – Rebanho em cabeças
  • 8. Tabela V – Asininos – Rebanho em cabeças
  • 9. Tabela VI Já que coloquei a teste a paciência do leitor, segue a Tabela VII com os 62 maiores rebanhos de muares em 2011.
  • 10. Tabela VII – Muares – Rebanho em cabeças 7 Há naturalmente o consumo de carnes de asininos e muares, mas infelizmente as estatísticas são limitadas. Surge o Planeta China como o grande produtor e consumidor dessas carnes, onde são consideradas uma delikatessen. 7 Idem #6
  • 11. Tabela VIII – Produção Mundial de Carne de Asininos Tabela IX - Produção Mundial de Carne de Muares Nas Tabelas VIII e IX listamos os dados sobre a produção de carnes, mas temos consciência de que há faltas severas. A título exemplificativo citamos a Itália, país cuja culinária abrange o uso dessas carnes em vários pratos e embutidos típicos. A Tabela X apresenta o número de abate de cabeças de ambas as espécies e a quantidade de carne produzida, valores que não constam das estatísticas da FAO, mas que estão nas estatísticas oficiais italianas. Tabela X - Itália – Abate de Muares e Asininos e Produção de Carnes. 8 Parece ser que a previsão que os asininos e muares estariam condenados a se tornarem curiosidades zoológicas diante dos tratores, caminhonetes, 4x4 de última geração e motocicletas, previsão esta que a estatísticas não confirmam, fez com que houvesse menor foco da parte oficial para esses companheiros de trabalho e de luta, no sentido literal do termo, que nos acompanham há 5000 anos. As tabelas II e VII mostram que o Brasil tem o 11º rebanho de asininos e o 3º maior rebanho de muares no mundo. A Tabela XI mostra o rebanho brasileiro das duas espécies segundo o Censo Agropecuário e a Pesquisa Pecuária Municipal (PPM), ambos conduzidos pelo IBGE. Causa-me espécie os resultados do Censo Agropecuário de 2006, que parecem estar fora de linha com os 8 Fonte: Istat - Istituto Nazionale di Statistica http://agri.istat.it/sag_is_pdwout/jsp/dwExcel.jsp?q=plAMR0000010000010000&an=2011&ig=1&ct=603&id =8A|10A|51A|71A
  • 12. rebanhos da PPM e aqueles relatados pela FAO que tem seus números baseados em fontes oficiais brasileiras. Tabela XI 9 Poderíamos nos estender enormemente se incluíssemos referências religiosas e jocosas a este pequeno escrito sobre os asininos e muares. Eles acompanham a história brasileira, inclusive o grito da independência, pois ao contrário da visão ufanista e heroica do quadro Independência ou Morte de Pedro Américo, D.Pedro montava uma mula como era o hábito para as viagens longas da época. E seguramente não fazia longas viagens em uniforme de gala. Mais uma injustiça que se comete aos jumentos e mulas? Possivelmente, mas também havia que dar ao povo uma visão romântica daquele momento que marcou o início de nossa história como país independente. Injustiça maior estaria se não reconhecêssemos o quanto esses animais contribuíram e contribuem para a economia deste país. E com o perdão de contrariar previsões, ainda muito contribuirão para a agropecuária brasileira. Boa II Feimuares e bons negócios para todos vocês. 9 Fonte: IBGE http://www.sidra.ibge.gov.br/bda/pecua/default.asp?t=2&z=t&o=24&u1=1&u2=1&u3=1&u4=1&u5=1&u6= 1&u7=1