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PAINEL
                             CINE ARTE & CULTURA EDUCATIVA

                          Aline S. Cerutti -Mestrado em História/UFGD- Docente/Artes Visuais
                                    Pamela Aparecida S. de Oliveira - Acadêmica/Artes Visuais
                                            Universidade Federal de Mato Grosso do Sul – UFMS

Resumo
O Projeto de extensão: Cine Arte & Cultura Educativa, proposta do Curso de Artes Visuais/CCHS/UFMS faz
parte do Programa do Arte na Escola-Pólo UFMS, está aberto à participação da comunidade interna e externa do
campus. O objetivo é promover diálogos culturais e visuais, a partir da apresentação de filmes e, incluem os
DVDs do Programa Arte na Escola. A mediação dos filmes é realizada, após as sessões, pelas acadêmicas do
Curso de Artes Visuais. Para a execução do projeto foram selecionados filmes, realizado o planejamento da ação
pedagógica e a leitura fílmica e bibliográfica dos autores e textos que proporcionam o embasamento dos diálogos
para promoção dos debates sobre arte, cultura e educação. E, foi realizada a sistematização dos resultados, do
primeiro semestre, para avaliação, produção teórica e publicação.
De abril a setembro de 2011 foram realizadas 21 exibições de vídeos, para 350 pessoas, promovendo diálogos
sobre arte, cultura, tecnologia e educação. Os filmes exibidos contemplam os discursos sobre as artes visuais
brasileiras e estrangeiras, também permeiam universos interculturais, a partir de documentários que abordam
sobre as diversidades étnicas culturais, as identidades e diversidades brasileiras e sul – mato-grossense. Podemos
citar alguns filmes exibidos como: A poeira, uma história no Pantanal, Lixo Extraordinário de Vik Muniz e
Rubem Valentim Geometria do Sagrado, DVD do Arte na Escola. A discussão sobre a cultura digital foi
introduzida com o filme Avatar assistido em 3D. O projeto acontece nas segundas- feiras, às 13h, no anfiteatro
do Curso de Artes Visuais /CCHS/UFMS.

PALAVRAS-CHAVE: diálogos artísticos culturais; filmes; interculturalidade.


1. Introdução
         O projeto de extensão intitulado Cine Arte & Cultura Educativa, foi elaborado
atendendo a solicitação das acadêmicas do Curso de Artes Visuais, Pamela A. S. de Oliveira,
Vanessa Aparecida da Silva Sá que neste momento, junto Nelly Stefany e Amanda Sandin,
atuam na execução desta proposta, realizando a mediação dos debates após os filmes nos
encontros semanais, sob a orientação e coordenação da Profa Ma. Aline Sesti Cerutti
         O objetivo principal do projeto refere-se à promoção de diálogos visuais e
interculturais, a partir de filmes, os quais são indicados pelos professores e acadêmicos do
Curso de Artes Visuais/UFMS. Possibilitam também diálogos interdisciplinares, à medida que
os conhecimentos são referenciados em sala de aula. Há participação com sugestão de filmes,
por outras pessoas da comunidade, como os professores das escolas públicas.
         Outra intenção do projeto é a ampliação do acervo de DVDs do Arte na Escola pólo
UFMS, que contempla uma boa relação de documentários referentes à História da Arte de
artistas brasileiros. Outros DVDs de arte e cultura são, no entanto, locados pelos professores
e, utilizados nas aulas do Curso de Artes Visuais.
         O método utilizado no desenvolvimento do projeto parte de um planejamento da ação
pedagógica que inclui a seleção, aquisição ou locação de filmes. A leitura fílmica e discussão
a partir dos referenciais bibliográficos, para promoção dos debates sobre arte, cultura e
educação. Há divulgação do projeto e dos filmes semanais através do site 1 e de cartazes pelo
campus UFMS.
         No planejamento destas ações, a elaboração da produção teórica, com publicação de
artigos sobre o tema proposto foi considerada uma forma importante de sistematização,
avaliação, divulgação e aprendizagem sobre o diálogo entre a arte e cultura desenvolvido no
projeto.
1
. Site do Projeto Cine Arte &Cultura Educativa: HTTP://cinearteecultura.blogspt.com/p/o-projeto_01.html


                                                                                                                1
2. A produção fílmica: arte e cultura e suas possibilidades pedagógicas
        A produção fílmica inicialmente restrita ao cinema, com o passar do tempo,
conquistou outros espaços através da televisão, do vídeo e da multimídia. Tornou-se uma
linguagem visual que poder ser utilizada como entretenimento e lazer, informação e
principalmente formação. Desta forma, ganha dimensões pedagógicas e, penetra o espaço das
escolas e universidades brasileiras através de projetos e iniciativas que utilizam da linguagem
do cinema e, através do uso de filmes e documentários com fins educativos.
        A opção pelo filme, não como uma linguagem, mas como material didático
pedagógico sob a forma do projeto Cine Arte & Cultura Educativa, se deve ao fato do cinema,
condensar através do filme, imagens e informações sobre artes visuais e cultura, propiciando
assim, um diálogo frutífero.
        Os filmes com temáticas artísticas visuais possibilitam a compreensão do processo de
construção da obra pelo artista e se abre para diferentes leituras e interpretações das
produções artísticas em diferentes contextos em que foram concebidas.
        O acesso democrático à informação artística cultural e a educação estética, leva os
indivíduos a compreensão da gramática visual e a apropriação dos códigos culturais de
diferentes grupos, possibilitando uma reflexão a cerca das imagens tanto da arte como da
cultura visual presente no cotidiano.
        No Curso de Artes Visuais/UFMS, contamos com um acervo de DVDs do Programa
Arte na Escola referente às artes visuais no cenário nacional. Funcionam no sistema de
empréstimos para os professores da rede pública e privada de ensino e para os docentes e
discentes do Curso. Estes últimos utilizam em sala de aula, além destes DVDs, outros filmes
sobre a vida e obra de artistas nacionais e internacionais e documentários com temáticas com
discussões sócio-culturais, que não são encontrados no Arte na Escola, são alugados em
vídeos-locadora da cidade.
        O projeto: Cine Arte & Cultura Educativa, no período de abril a setembro de 2011, foi
possível exibir 21 filmes, promovendo debates sobre arte e cultura com aproximadamente 350
participantes.
        Após a análise dos resultados obtidos no projeto, podemos apontar algumas reflexões
como, a seleção dos filmes, que não ocorreu com base exclusiva na História da Arte e, de
forma linear, mas, observando o sentido proposto, evidenciando os diálogos possíveis da
obra /artista e aspectos contextuais, tecendo uma variedade de relações interculturais.
        Segundo Barbosa (2006, p. 206) “o currículo intercultural deve incluir o estudo
contínuo das culturas, as experiências históricas, as realidades sócias, as condições
existenciais dos grupo étnicos e culturais, incluindo uma variedade de composições raciais”.
        Muitos filmes sobre artistas e obras, foram sugeridos pelos docentes do Curso de Artes
Visuais/UFMS, por serem importantes nas disciplinas. Contemplam discursos de produção
visual cultural européia, de diferentes períodos históricos. Também permeiam diferentes
diálogos visuais e culturais brasileiros e estrangeiros contemporâneos.
        Dos filmes selecionados até o momento no projeto, 07 tratam o universo da História
da Arte, abordando vida e obras dos artistas das artes visuais, estrangeiros como: “Frida
Kahlo” 2, “Goya em Burdeos” 3, “Caravágio” 4 e “A Sede de Viver” (Van Gogh)5. E,

2
 . Frida. Direção de Julie Taymor. 2002. Disponível em: <http://www.miramax.com/.> Acesso em: 18/09/2011.
3
 .     Goya     em      Burdeos.     Direção:     Carlos    Saura.   Atores:    1999.    Disponível    em:
<http://www.spe.sony.com/classics/go yainbordeaux.> Acesso em: 18/09/2011.
4
 . Caravágio. Direção de Derek Jarman. 1986. Disponível em: <http://www.zeitgeistfilms.com/curre
nt/caravaggio/caravaggio.html> Acesso em: 15/09/2011.
5
 .     A      Sede      de    Viver.     Direção:      Vincente    Minnelli.   1956.    Disponível     em:
<http://www.interfilmes.com/filme_17117_sede.de.viver.html>Acesso em: 15/09/2011.

                                                                                                        2
nacionais da contemporaneidade como: “Rubem Valentim Geometria Sagrada” 6 e “A Herança
de Mestre Vitalino”7, ambos da coleção de DVDs do Instituto Arte na Escola, e o filme “Lixo
Extraordinário” 8 produzido por Vik Muniz.
        As visualidades presentes no nosso cotidiano e as obras de arte constituem um
universo de sentido produzido por diferentes contextos históricos culturais. São criações
promovidas a partir do exercício da formatividade e materialidade, que envolvem a
percepção, a intuição e o conhecimento sobre o mundo e em especial sobre a natureza, a
cultura e a arte. Apreender mais sobre estes aspectos, pode proporcionar uma melhor
produção e compreensão das mensagens visuais e das relações interpessoais.
        Com relação à arte se percebe que, forma e conteúdo podem se relacionar na busca da
interpretação e criação de sentido. Segundo Pareyson (1997, p.56) “o conteúdo nasce como tal
no próprio ato em que nasce a forma, e a forma não é mais que a expressão acabada do
conteúdo”. Analisando bem, nesta concepção, fazer arte significa “formar” conteúdos
espirituais, dar uma “configuração” à espiritualidade, traduzir o sentimento em imagem,
exprimir sentimentos.
        Neste sentido, tornou-se muito interessante o debate no Cine Arte &Cultura Educativa,
após a exibição do filme-documentário “Lixo Extraordinário’ produzido por Vik Muniz. Os
diálogos interculturais foram promovidos entre a arte contemporânea e as problemáticas
sócio-ambientais. Neste dia de exibição do filme, houve participação dos alunos e professora
de Artes da escola pública, abrindo assim, o projeto para diálogos além das fronteiras
universitárias.
        O debate propiciou ótima discussão sobre a produção do artista Vik Muniz, e do
universo da produção artística contemporânea, pelo uso dos novos materiais, que de certa
forma não são considerados tradicionais e muitas vezes perecíveis. A reprodutibilidade e
apropriação da imagem. Já que o artista faz referência a imagens de autoria de outros para sua
re-elaboração artística. E, principalmente, como a arte contemporânea, propicia uma
discussão sobre a própria arte, seus elementos, enfim, se auto-refere, impondo ao observador a
decodificação do conceito que está sendo discutido na obra.
        No processo de criação desta a obra “Lixo Extraordinário” foi possível realizar
relações e reflexões, contextualizando sobre o meio ambiente e sustentabilidade.
        Em constante estado de pesquisa e abordagens interdisciplinares a arte contemporânea
romove inter-relações com outras linguagens da arte como a música, as artes cênicas e a
dança. Também possibilita relações com a ciência, a tecnologia, a matemática, antropologia e
a ecologia.
        A arte amplia o campo de referenciais híbridos aliados a sociologia propicia reflexão
estética sobre questões sócio-políticas culturais, temas importantes para criações visuais
considerando os processos da globalização e as miscigenações culturais, intercambiando
singularidades. Assim, artistas tornam universais suas problemáticas regionais. Como




6
 . Rubem Valentim Geometria Sagrada/Instituto Arte na Escola: autoria de Solange Utuari; coordenação de
Miriam Celeste Martins e Gisa Picosque. São Paulo: Instituto Arte na Escola. 2006. Disponível em:
<http://www.artenaescola.org.br/dvdteca/pdf/arq_pdf_24.pdf.> Acesso em: 15/09/2011.
7
 . A Herança de Mestre Vitalino/Instituto Arte na Escola: autoria de Elaine Shimidlin; coordenação de Miriam
Celeste Martins e Gisa Picosque. São Paulo: Instituto Arte na Escola. 2006. Disponível em:
<http://www.artenaescola.org.br/dvdteca/pdf/arq_pdf_67.pdf.> Acesso em: 17/09/2011.
8
  . Lixo Extraordinário. Direção: Lucy Walker, João Jardim e Karen Harley. 2010. Disponível em:
<http://www.cinemaemcena.com.br> Acesso em: 17/09/2011.


                                                                                                          3
podemos observar em outros filmes como: “A Poeira: uma história do Pantanal9”, dirigido por
Augusto C. Proença e Hélio Godoy.
       Outros filmes brasileiros e estrangeiros exibidos no Cine Arte e Cultura Educativa
promoveram os diálogos entre a arte e a diversidade cultural. Entre eles, podemos citar:
“Abril Despedaçado10”, “Vida Maria11”, “Invictus12”. E, o filme “Avatar13”, assistido em 3D,
com a tecnologia do Laboratório de Pesquisa em Imagem e Som.
       Promovendo diálogos interdisciplinares com a cultura digital e a produção 3D, sob a
mediação do Prof Me. Joaquim Sérgio Borgato, professor de tecnologia e cinema, do Curso
de Artes Visuais/UFMS, junto ao mestrando Renan Kubota, cujo filme exibido, Avatar, é seu
objeto de estudos no Programa de Mestrando em Estudos de Linguagens/UFMS.
       Desta forma, é possível compreender que formar apreciadores e leitores críticos da
linguagem fílmica pode ser uma opção a mais, visa mais que o entretenimento, uma escolha
pessoal, abrange uma ação maior, como afirma Duarte:

             (...) ir ao cinema, gostar de determinadas cinematografias, desenvolve os recursos necessários para
             apreciar os mais diferentes tipos de filmes etc., longe de ser apenas uma escolha de caráter
             exclusivamente pessoal, constitui uma prática social importante que atua na formação geral das
             pessoas e contribui para distingui-las socialmente. Em sociedades audiovisuais como a nossa, o
             domínio dessa linguagem é requisito fundamental para se transitar bem pelos mais diferentes
             campos sociais (DUARTE, 2002, p. 14).

        Como se pode perceber, no projeto Cine Arte & Cultura Educativa, dois aspectos
principais foram levados em consideração na elaboração e execução da proposta: a
importância da leitura fílmica e a utilização de filmes possibilitando o diálogo entre arte e
interculturalidade. Tornando-se importante realizar uma maior reflexão sobre o assunto.

3. A leitura das produções fílmicas
        O uso da imagem e som na sala de aula tem se realizado no ensino. Porém muitas
vezes a atividade se resume em olhar ou apreciar o material sem a devida reflexão, discussão
e produção textual ou visual como devolutiva do que foi visto e supostamente apreendido.
        Um filme, uma imagem, um slide, um programa multimídia e outros possibilitam
informações e conhecimentos codificados, cuja leitura e reflexão crítica se faz necessária para
que ocorra a decodificação da mensagem sócio-cultural.
        Segundo Kossoy (2001) uma imagem fornece muitas informações, desta forma deve-
se construir através de análises a sua interpretação. O autor propõe a utilização da Iconografia
e a Iconologia.



9
 . A Poeira: uma história do Pantanal. DVD. Duração 14 min. Sistema NTSC. Formato XDCAM HIGHT DEF.
16:9. Roteiro e direção geral: Augusto Cesar Proença. Produção e dir. associada: Hélio Godoy. 2008. O filme foi
concebido originalmente para o público infanto-juvenil.
10
  .          Abril           Despedaçado.         Direção:      Walter       Salles.   2001.     Disponível em: <
http://www.abrildespedacado.com.br/pt/entrada_pt.htm Acesso em: 17/09/2011.
11
   .Vida Maria. Diretor Márcio Ramos. Animação. 2006. Disponível em: <http://portacurtas.org.br/Filme.asp?
Cod=4910.> Acesso em: 21/09/2011.
12
  . Invictus. Diretor: Clint Eastwood. 2009. Disponível em: <.http://www.cineweb.com.br> Acesso em:
17/09/2011.
13. Avatar. Direção: James Cameron.
                                    2009. Disponível em: <http://interfilmes.com> Acesso em: 17/09/2011.




                                                                                                               4
A análise iconográfica tem o intuito de detalhar sistematicamente e inventariar o conteúdo das
           imagens em seus elementos icônicos formativos; o aspecto literal e descritivo prevalece, o assunto
           registrado é perfeitamente situado no espaço e no tempo, além de corretamente identificado. A
           análise iconográfica, entretanto situa-se ao nível da descrição, e não da interpretação (KOSSOY,
           2001, p.95).

        De certa forma, a análise iconográfica é realizada quase sempre e de forma mais
imediata ao assistirmos, por exemplo, um filme, falamos sobre a sinopse, descrevemos as
cenas, falamos dos atores suas atuações e até emitimos um parecer se gostamos ou não do que
vimos relacionando às nossas primeiras impressões e até ao gosto pessoal.
        A iconologia, no entanto, segundo Kossoy:

           Cumpre desvendar agora, através do assunto registrado no documento (segunda realidade), a
           situação que envolveu o referente que originou no contexto da vida passada (primeira realidade).
           Aqui, busca-se o significado do interior do conteúdo, no plano da interpretação iconológica,
           tomando emprestado o termo de Panofsky. Para tal busca, a reflexão foi centrada, de início, no
           indivíduo enquanto interprete de sua própria história. (KOSSOY, 2001, p.99).


        Para tanto, somente através da análise iconológica se percebe os detalhes e meandros,
o que há por trás da imagem, nas entrelinhas, para compreender como o tema ou assunto foi
elaborado e quais as interpretações possíveis. Faz-se necessário compreender o contexto
histórico, ao qual foi produzido estabelecendo a relação entre fatos, conceitos e significações,
sem esquecer-se da percepção sobre as intenções do autor que produziu a obra.
        Um documentário ou uma fotografia sempre é um recorte fragmentado de uma
realidade, passa pelo olhar e escolhas do autor e de quem encomendou a obra, com inúmeras
intenções, assim, outras fontes de informações devem ser tomadas para aprofundar e dar a
conhecer determinado fato, tema, conteúdo das imagens propostas para leitura.
        O mediador deve saber que ao utilizar de recursos áudios visuais como um
documentário, além de compreender os aspectos culturais no qual foi concebida a obra que
vai ser exibida, necessita conhecer o grupo de sujeitos que irão apreciar a mesma e o modo
como deverá interagir lidando com as identidades e alteridades.
        Ver e construir um roteiro exploratório sobre o filme ou documentário segundo Me.
Claudemir Ferreira (2011), no artigo publicado no site do Arte na Escola, começa pela
indicação dos dados referenciais ou créditos do filme como o título, diretor, atores, gênero,
escola a que possa ser associado (Neo-realismo, Cinema Novo ou Nouvelle Vague e outras), e
a sinopse da história. Logo após devemos passar para uma descrição analítica dos
personagens e suas narrativas. A análise vem a seguir, observando a ideia principal e a
temática em discussão.
        Acrescentaria que, após apreciar o filme, realizar a leitura fílmica, deve-se promover
os diálogos enriquecedores entre os participantes, já que o ato de ver é ampliado com olhar do
outro, considerando suas subjetividades e vivências. Proposta que vem sendo realizada no
Projeto Cine Arte & Cultura educativa.

4. A produção fílmica: Promovendo Diálogos interculturais
        O trabalho pedagógico com as imagens relacionadas à produção visual artística e
cultural instiga e forma nossas identidades culturais e ampliam nossos conhecimentos.
Segundo Martins:

           O papel que as imagens desempenham na cultura e nas instituições culturais não é o de refletir a
           realidade ou torná-la mais real, mas de articular e colocar em cena a diversidade de sentidos e
           significados. Embora indivíduos de um mesmo grupo ou comunidade convivam com as mesmas
           imagens, cada um as vive e interpreta de maneira diferente, distinta, criando brechas e espaços de

                                                                                                           5
diversidade. O problema é que grupos hegemônicos aspiram impor e autorizar suas interpretações,
           seu nível de verdade, constrangendo os outros a aceitar esta interpretação ou a lutar para libertar as
           imagens do humo imobilizador do habitus acadêmico ou mercadológico. (MARTINS, 2007, p. 5).

        Selecionar filmes e documentários promovendo o encontro entre os aspectos artísticos
e culturais, como forma educativa, torna maior a responsabilidade da mediação e o trabalho
pedagógico da análise fílmica. Devem estar comprometidos com a ampliação dos referenciais
imagéticos culturais, nacionais e internacionais da contemporaneidade e, principalmente dos
continentes muito pouco conhecidos e como a Ásia e África e, principalmente da América
Latina, promovendo a dissipação dos estereótipos, das representações, promovendo os
diálogos interculturais.
        Segundo Ana Mae Barbosa (1998, p. 14) “a identidade cultural não é uma forma fixa e
congelada, mas um processo dinâmico, enriquecido através do diálogo e trocas com outras
culturas”. Isto pode ser percebido com a promoção da interculturais em arte, para tanto é
necessário reconhecer e celebrar a diversidade cultural em arte em nossa sociedade, enquanto
também se potencializa o orgulho pela herança cultural em cada indivíduo.
        Discussões sobre a formação identitária cultural nacional e regional foram
contemplados nos diálogos sobre arte e cultura nos filmes exibidos no projeto Cine Arte &
Cultura Educativa como podemos observar nos três filmes citados a seguir.
        Podemos iniciar com a reflexão sobre o filme nacional “Abril Despedaçado” dirigido
por Walter Salles, nele se percebe um universo das tradições culturais épicas organizadas
sobre a econômica com base na monocultura, latifúndio e escravidão, no sertão nordestino no
começo do século XX. Conclui-se que a supremacia dos laços de sangue, a força das tradições
e o poder patriarcal criam representações sobre os valores da civilidade social, produzindo a
vingança, a repressão e a violência.
        Romper com certas tradições sócio-culturais possibilita repensar valores e dar novo
sentido a vida e as relações sociais. Desfazer os estereótipos sobre as questões de classe,
gênero e raça, refletir sobre o poder que passa a se constituir como “verdades” necessárias a
manutenção do próprio poder de uns sobre os outros, personificam discriminações. Segundo
Bhabha (1998, p.110) “uma confiança limitadora e tradicional” são estereótipos capazes de
construir posições de sujeito sustentadas na arbitrariedade “de um ponto seguro de
identificação”.
        Estas e outras relações podem estabelecer um diálogo educativo e a reflexão artística
cultural sobre questões como a Africanidades a partir dos filmes e documentários exibidos no
Cine Arte e Cultura Educativa, como: “Invíctus” e “Rubem Valentim Geometria Sagrada” da
coleção de DVDs Arte na Escola/pólo UFMS.
        O filme Invíctus, trata sobre a luta contra o apartheid, empreita realizada pelo
presidente da África do Sul, onde Nelson Mandela, apropria-se de um esporte de origem
européia - o rugby, que se torna tradição, com a neo-colonização, com a finalidade de refazer
uma relação multicultural crítica e anti-racista entre as diferentes etnias para reconstrução da
nação.
        Segundo Foucault (1979, p.8) “os jogos de poder que as imagens insinuam, são
capazes de produzir coisas, induzir ao prazer, formar saber, produzir discurso”. Perceber o
fetiche do tipo idealizado nas identidades que se constituem como, por exemplo, na etnia
branca européia, dócil, feliz e pacificada de padrão sócio cultural hegemônico, diferente,
porém, da realidade, que se concretiza hoje cada vez mais diversificada e híbrida se constitui
na chave para desvelar estereótipos.
        A sociedade herdou teorias culturais que explicavam o mundo idealizado, porém
encobriam representações sobre o “outro” “inventado” divulgado sob a forma de livros, filmes
e outros recursos. Hoje estes veículos de formação e informações áudios-visuais são utilizados


                                                                                                               6
também como fontes importantes para reflexão cultural desmitificando as representações
sociais.
        Conhecer sobre a África Tradicional e contemporânea através da leitura de textos e
filmes, perceber como códigos artísticos culturais ora permanecem, ora se re- criam na arte e
cultura dos afro-descendentes brasileiros foi fundamental na compreensão do documentário
exibido intitulado: “Rubem Valentim Geometria Sagrada” da coleção de DVDs do Instituto
Arte na Escola. Uma reflexão sobre a criação artística a partir das investigações da arte afro-
brasileira, sistema simbólicas, sincretismo religioso e interculturalidade. No olhar do artista
Valentim a brasilidade se concretiza através das cores e formas e do tema afro.
        Percebe-se no mundo atual que as identidades e as alteridades são produto das
representações construídas na comunicação, pelos grupos que interagem fortalecendo ou
rompendo estruturas sócio-culturais. Desta forma, o filme, relacionando a arte e a cultura,
pode criar possibilidade de encontros e diálogos interculturais e visuais reconhecendo as
diferenças e similaridades, celebrando as diversidades raciais e culturais.
        Outro filme bem interessante para discutir a formação identitário na relação regional e
universal, pode se tornar objeto de reflexão foi: “A Poeira: uma história do Pantanal”
(Coleção de DVDs do pólo Arte na Escola/UFMS), dirigido pelo poeta e escritor Augusto C.
Proença e o diretor Hélio Godoy.
        Em Poeira, são produzidas representações do homem pantaneiro - o mestiço forte e
valente, retomando a formação identitária do brasileiro do inicio do sec. XX produto das
mestiçagens a partir das três raças, o branco, o negro e o índio, transformando-o em um herói
da região que vive em “harmonia” com o meio ambiente paradisíaco- o pantanal sul - mato-
grossense.
        No Mato Grosso do Sul, a construção identitária cultural pode ser citada como um
bom exemplo para se pensar a cultura como dinâmica, onde os signos, por vezes reduzidos a
estereótipos como a Seriema, ave símbolo do pantanal ou o “índio” visto de forma
generalizada, passam a ser eleitos por uma minoria, representativa do poder local, tornando
homogênea ou simplista as identidades culturais regionais que estão em constante movimento
e reconstrução cultural.
        E, assim não contemplam o caldeirão cultural regional de MS e sua relação com o
universal, principalmente por ser uma região fronteiriça com o Paraguai e a Bolívia, além da
contribuição sócio-cultural a partir da vinda de migrantes e imigrantes de diversas nações e
partes do país. Gruzinski (2001) diz que isso é possível a partir do intercambio cultural
através da migração de pessoas e mercadorias, onde as fronteiras são fronteiriças, favorecendo
as hibridizações e mestiçagens através de ricos diálogos.
        No mundo atual as identidades e as alteridades são produto das representações
construídas pela comunicação, pelos grupos que interagem fortalecendo ou rompendo
estruturas sócio-culturais.
        O fluxo cultural, o estreitamento dos laços entre as nações, e o consumismo global,
possibilitam identificações partilhadas, consumidores para os mesmos bens. Segundo Hall
(2003) embora exista uma força dominante de homogeneização cultural americana, que tem
se chamado de MacDonal-dização de tudo, tentando subjugar as outras culturas, os produtos
culturais de países menos favorecidos estão se fortalecendo pela diversidade, pelo turismo.
        Canclini (1987, p.348) comenta que: “as artes se desenvolvem em relação a outras
visualidades, como o artesanato que passa do campo às produções da cidade. Nos
intercâmbios, fortalecemos identidades e alteridades entre os povos”, assim signos vindos de
diversas classes e nações e constituem a dinâmica cultural.

Considerações finais


                                                                                             7
Os resultados obtidos, com o desenvolvimento do projeto Cine Arte e Cultura
Educativa, de abril a setembro de 2011, foram considerados muito bons. Exibidos 21 filmes
em DVD, com a participação de aproximadamente 350 pessoas, entre discentes, docentes
comunidade externa e interna, participação em especial da rede de ensino pública.
        A participação dos professores do Curso de Artes Visuais, das diferentes áreas,
possibilitou adquirir outros conhecimentos e aprofundar os debates, promovendo a
interdisciplinaridade no currículo, através da linguagem fílmica.
        Os diálogos interculturais com a arte, tecnologia e educação, após os filmes, foram
intensos e proveitosos. Possibilitando questionamentos importantes sobre o artista, sua
produção, a proposta intercultural, possibilitando ampliar o olhar para conhecer diferentes
culturas e contextos contemporâneos. A Produção teórica escrita e a proposta de publicação
sobre o Cine Arte & Cultura Educativa, aconteceram em setembro no I Seminário Diálogos
Visuais e Culturais no Cenário da Pesquisa em MS/UFMS e acontecerá em novembro no
CONFAEB 2011.

Referências

ARCHER, Michael. Arte contemporânea: uma história concisa. São Paulo: M. Fontes, 2001.

BARBOSA, Ana Mae. Tópicos Utópicos. Belo Horizonte: C/Arte, 1998.

__________ . Arte/Educação Contemporânea: Consonâncias Internacionais. São Paulo:
Cortez, 2005.

HALL, Stuart. Da diáspora-Identidades e Medicações Culturais. UFMG, 2003.

CANCLINI, Nestor Garcia. Culturas Híbridas. Estratégias para entrar e sair da
modernidade. São Paulo: EDUSP, 1998.

_________Diferentes, desiguales y desconectados. Mapas de la interculturalidad. Barcelona,
Gedisa Editorial 2004.

DUARTE, Rosália. Cinema e educação. Belo Horizonte: Autêntica, 2002.

FERREIRA, Claudemir. O cinema e a sala: apreciação e                       leitura   fílmica.
Disponível em: <http://www.artenaescola.org.br> Acesso em 10/03/2011.

FOUCAULT, Michel. Microfísica do poder. Rio de Janeiro: Graal, 1979.

HALL, Stuart. Da diáspora-Identidades e Medicações Culturais. UFMG, 2003.

GRUZINSKI, Serge. O pensamento mestiço. São Paulo: Companhia das Letras, 2001.

KOSSOY, Boris. Fotografia e História. São Paulo: Ateliê Editorial, 2001.

MARTINS, Raimundo. Temporalidades múltiplas da imagem como pedagogias da
interpretação. In: CONGRESSO EDUCAÇÃO ARTE CULTURAL, 1. Santa Maria. Anais
eletrônicos. Santa Maria, RS. 2007.

PAREYSON, L. Os problemas de estética. São Paulo: Martins Fontes, 1984.

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  • 1. PAINEL CINE ARTE & CULTURA EDUCATIVA Aline S. Cerutti -Mestrado em História/UFGD- Docente/Artes Visuais Pamela Aparecida S. de Oliveira - Acadêmica/Artes Visuais Universidade Federal de Mato Grosso do Sul – UFMS Resumo O Projeto de extensão: Cine Arte & Cultura Educativa, proposta do Curso de Artes Visuais/CCHS/UFMS faz parte do Programa do Arte na Escola-Pólo UFMS, está aberto à participação da comunidade interna e externa do campus. O objetivo é promover diálogos culturais e visuais, a partir da apresentação de filmes e, incluem os DVDs do Programa Arte na Escola. A mediação dos filmes é realizada, após as sessões, pelas acadêmicas do Curso de Artes Visuais. Para a execução do projeto foram selecionados filmes, realizado o planejamento da ação pedagógica e a leitura fílmica e bibliográfica dos autores e textos que proporcionam o embasamento dos diálogos para promoção dos debates sobre arte, cultura e educação. E, foi realizada a sistematização dos resultados, do primeiro semestre, para avaliação, produção teórica e publicação. De abril a setembro de 2011 foram realizadas 21 exibições de vídeos, para 350 pessoas, promovendo diálogos sobre arte, cultura, tecnologia e educação. Os filmes exibidos contemplam os discursos sobre as artes visuais brasileiras e estrangeiras, também permeiam universos interculturais, a partir de documentários que abordam sobre as diversidades étnicas culturais, as identidades e diversidades brasileiras e sul – mato-grossense. Podemos citar alguns filmes exibidos como: A poeira, uma história no Pantanal, Lixo Extraordinário de Vik Muniz e Rubem Valentim Geometria do Sagrado, DVD do Arte na Escola. A discussão sobre a cultura digital foi introduzida com o filme Avatar assistido em 3D. O projeto acontece nas segundas- feiras, às 13h, no anfiteatro do Curso de Artes Visuais /CCHS/UFMS. PALAVRAS-CHAVE: diálogos artísticos culturais; filmes; interculturalidade. 1. Introdução O projeto de extensão intitulado Cine Arte & Cultura Educativa, foi elaborado atendendo a solicitação das acadêmicas do Curso de Artes Visuais, Pamela A. S. de Oliveira, Vanessa Aparecida da Silva Sá que neste momento, junto Nelly Stefany e Amanda Sandin, atuam na execução desta proposta, realizando a mediação dos debates após os filmes nos encontros semanais, sob a orientação e coordenação da Profa Ma. Aline Sesti Cerutti O objetivo principal do projeto refere-se à promoção de diálogos visuais e interculturais, a partir de filmes, os quais são indicados pelos professores e acadêmicos do Curso de Artes Visuais/UFMS. Possibilitam também diálogos interdisciplinares, à medida que os conhecimentos são referenciados em sala de aula. Há participação com sugestão de filmes, por outras pessoas da comunidade, como os professores das escolas públicas. Outra intenção do projeto é a ampliação do acervo de DVDs do Arte na Escola pólo UFMS, que contempla uma boa relação de documentários referentes à História da Arte de artistas brasileiros. Outros DVDs de arte e cultura são, no entanto, locados pelos professores e, utilizados nas aulas do Curso de Artes Visuais. O método utilizado no desenvolvimento do projeto parte de um planejamento da ação pedagógica que inclui a seleção, aquisição ou locação de filmes. A leitura fílmica e discussão a partir dos referenciais bibliográficos, para promoção dos debates sobre arte, cultura e educação. Há divulgação do projeto e dos filmes semanais através do site 1 e de cartazes pelo campus UFMS. No planejamento destas ações, a elaboração da produção teórica, com publicação de artigos sobre o tema proposto foi considerada uma forma importante de sistematização, avaliação, divulgação e aprendizagem sobre o diálogo entre a arte e cultura desenvolvido no projeto. 1 . Site do Projeto Cine Arte &Cultura Educativa: HTTP://cinearteecultura.blogspt.com/p/o-projeto_01.html 1
  • 2. 2. A produção fílmica: arte e cultura e suas possibilidades pedagógicas A produção fílmica inicialmente restrita ao cinema, com o passar do tempo, conquistou outros espaços através da televisão, do vídeo e da multimídia. Tornou-se uma linguagem visual que poder ser utilizada como entretenimento e lazer, informação e principalmente formação. Desta forma, ganha dimensões pedagógicas e, penetra o espaço das escolas e universidades brasileiras através de projetos e iniciativas que utilizam da linguagem do cinema e, através do uso de filmes e documentários com fins educativos. A opção pelo filme, não como uma linguagem, mas como material didático pedagógico sob a forma do projeto Cine Arte & Cultura Educativa, se deve ao fato do cinema, condensar através do filme, imagens e informações sobre artes visuais e cultura, propiciando assim, um diálogo frutífero. Os filmes com temáticas artísticas visuais possibilitam a compreensão do processo de construção da obra pelo artista e se abre para diferentes leituras e interpretações das produções artísticas em diferentes contextos em que foram concebidas. O acesso democrático à informação artística cultural e a educação estética, leva os indivíduos a compreensão da gramática visual e a apropriação dos códigos culturais de diferentes grupos, possibilitando uma reflexão a cerca das imagens tanto da arte como da cultura visual presente no cotidiano. No Curso de Artes Visuais/UFMS, contamos com um acervo de DVDs do Programa Arte na Escola referente às artes visuais no cenário nacional. Funcionam no sistema de empréstimos para os professores da rede pública e privada de ensino e para os docentes e discentes do Curso. Estes últimos utilizam em sala de aula, além destes DVDs, outros filmes sobre a vida e obra de artistas nacionais e internacionais e documentários com temáticas com discussões sócio-culturais, que não são encontrados no Arte na Escola, são alugados em vídeos-locadora da cidade. O projeto: Cine Arte & Cultura Educativa, no período de abril a setembro de 2011, foi possível exibir 21 filmes, promovendo debates sobre arte e cultura com aproximadamente 350 participantes. Após a análise dos resultados obtidos no projeto, podemos apontar algumas reflexões como, a seleção dos filmes, que não ocorreu com base exclusiva na História da Arte e, de forma linear, mas, observando o sentido proposto, evidenciando os diálogos possíveis da obra /artista e aspectos contextuais, tecendo uma variedade de relações interculturais. Segundo Barbosa (2006, p. 206) “o currículo intercultural deve incluir o estudo contínuo das culturas, as experiências históricas, as realidades sócias, as condições existenciais dos grupo étnicos e culturais, incluindo uma variedade de composições raciais”. Muitos filmes sobre artistas e obras, foram sugeridos pelos docentes do Curso de Artes Visuais/UFMS, por serem importantes nas disciplinas. Contemplam discursos de produção visual cultural européia, de diferentes períodos históricos. Também permeiam diferentes diálogos visuais e culturais brasileiros e estrangeiros contemporâneos. Dos filmes selecionados até o momento no projeto, 07 tratam o universo da História da Arte, abordando vida e obras dos artistas das artes visuais, estrangeiros como: “Frida Kahlo” 2, “Goya em Burdeos” 3, “Caravágio” 4 e “A Sede de Viver” (Van Gogh)5. E, 2 . Frida. Direção de Julie Taymor. 2002. Disponível em: <http://www.miramax.com/.> Acesso em: 18/09/2011. 3 . Goya em Burdeos. Direção: Carlos Saura. Atores: 1999. Disponível em: <http://www.spe.sony.com/classics/go yainbordeaux.> Acesso em: 18/09/2011. 4 . Caravágio. Direção de Derek Jarman. 1986. Disponível em: <http://www.zeitgeistfilms.com/curre nt/caravaggio/caravaggio.html> Acesso em: 15/09/2011. 5 . A Sede de Viver. Direção: Vincente Minnelli. 1956. Disponível em: <http://www.interfilmes.com/filme_17117_sede.de.viver.html>Acesso em: 15/09/2011. 2
  • 3. nacionais da contemporaneidade como: “Rubem Valentim Geometria Sagrada” 6 e “A Herança de Mestre Vitalino”7, ambos da coleção de DVDs do Instituto Arte na Escola, e o filme “Lixo Extraordinário” 8 produzido por Vik Muniz. As visualidades presentes no nosso cotidiano e as obras de arte constituem um universo de sentido produzido por diferentes contextos históricos culturais. São criações promovidas a partir do exercício da formatividade e materialidade, que envolvem a percepção, a intuição e o conhecimento sobre o mundo e em especial sobre a natureza, a cultura e a arte. Apreender mais sobre estes aspectos, pode proporcionar uma melhor produção e compreensão das mensagens visuais e das relações interpessoais. Com relação à arte se percebe que, forma e conteúdo podem se relacionar na busca da interpretação e criação de sentido. Segundo Pareyson (1997, p.56) “o conteúdo nasce como tal no próprio ato em que nasce a forma, e a forma não é mais que a expressão acabada do conteúdo”. Analisando bem, nesta concepção, fazer arte significa “formar” conteúdos espirituais, dar uma “configuração” à espiritualidade, traduzir o sentimento em imagem, exprimir sentimentos. Neste sentido, tornou-se muito interessante o debate no Cine Arte &Cultura Educativa, após a exibição do filme-documentário “Lixo Extraordinário’ produzido por Vik Muniz. Os diálogos interculturais foram promovidos entre a arte contemporânea e as problemáticas sócio-ambientais. Neste dia de exibição do filme, houve participação dos alunos e professora de Artes da escola pública, abrindo assim, o projeto para diálogos além das fronteiras universitárias. O debate propiciou ótima discussão sobre a produção do artista Vik Muniz, e do universo da produção artística contemporânea, pelo uso dos novos materiais, que de certa forma não são considerados tradicionais e muitas vezes perecíveis. A reprodutibilidade e apropriação da imagem. Já que o artista faz referência a imagens de autoria de outros para sua re-elaboração artística. E, principalmente, como a arte contemporânea, propicia uma discussão sobre a própria arte, seus elementos, enfim, se auto-refere, impondo ao observador a decodificação do conceito que está sendo discutido na obra. No processo de criação desta a obra “Lixo Extraordinário” foi possível realizar relações e reflexões, contextualizando sobre o meio ambiente e sustentabilidade. Em constante estado de pesquisa e abordagens interdisciplinares a arte contemporânea romove inter-relações com outras linguagens da arte como a música, as artes cênicas e a dança. Também possibilita relações com a ciência, a tecnologia, a matemática, antropologia e a ecologia. A arte amplia o campo de referenciais híbridos aliados a sociologia propicia reflexão estética sobre questões sócio-políticas culturais, temas importantes para criações visuais considerando os processos da globalização e as miscigenações culturais, intercambiando singularidades. Assim, artistas tornam universais suas problemáticas regionais. Como 6 . Rubem Valentim Geometria Sagrada/Instituto Arte na Escola: autoria de Solange Utuari; coordenação de Miriam Celeste Martins e Gisa Picosque. São Paulo: Instituto Arte na Escola. 2006. Disponível em: <http://www.artenaescola.org.br/dvdteca/pdf/arq_pdf_24.pdf.> Acesso em: 15/09/2011. 7 . A Herança de Mestre Vitalino/Instituto Arte na Escola: autoria de Elaine Shimidlin; coordenação de Miriam Celeste Martins e Gisa Picosque. São Paulo: Instituto Arte na Escola. 2006. Disponível em: <http://www.artenaescola.org.br/dvdteca/pdf/arq_pdf_67.pdf.> Acesso em: 17/09/2011. 8 . Lixo Extraordinário. Direção: Lucy Walker, João Jardim e Karen Harley. 2010. Disponível em: <http://www.cinemaemcena.com.br> Acesso em: 17/09/2011. 3
  • 4. podemos observar em outros filmes como: “A Poeira: uma história do Pantanal9”, dirigido por Augusto C. Proença e Hélio Godoy. Outros filmes brasileiros e estrangeiros exibidos no Cine Arte e Cultura Educativa promoveram os diálogos entre a arte e a diversidade cultural. Entre eles, podemos citar: “Abril Despedaçado10”, “Vida Maria11”, “Invictus12”. E, o filme “Avatar13”, assistido em 3D, com a tecnologia do Laboratório de Pesquisa em Imagem e Som. Promovendo diálogos interdisciplinares com a cultura digital e a produção 3D, sob a mediação do Prof Me. Joaquim Sérgio Borgato, professor de tecnologia e cinema, do Curso de Artes Visuais/UFMS, junto ao mestrando Renan Kubota, cujo filme exibido, Avatar, é seu objeto de estudos no Programa de Mestrando em Estudos de Linguagens/UFMS. Desta forma, é possível compreender que formar apreciadores e leitores críticos da linguagem fílmica pode ser uma opção a mais, visa mais que o entretenimento, uma escolha pessoal, abrange uma ação maior, como afirma Duarte: (...) ir ao cinema, gostar de determinadas cinematografias, desenvolve os recursos necessários para apreciar os mais diferentes tipos de filmes etc., longe de ser apenas uma escolha de caráter exclusivamente pessoal, constitui uma prática social importante que atua na formação geral das pessoas e contribui para distingui-las socialmente. Em sociedades audiovisuais como a nossa, o domínio dessa linguagem é requisito fundamental para se transitar bem pelos mais diferentes campos sociais (DUARTE, 2002, p. 14). Como se pode perceber, no projeto Cine Arte & Cultura Educativa, dois aspectos principais foram levados em consideração na elaboração e execução da proposta: a importância da leitura fílmica e a utilização de filmes possibilitando o diálogo entre arte e interculturalidade. Tornando-se importante realizar uma maior reflexão sobre o assunto. 3. A leitura das produções fílmicas O uso da imagem e som na sala de aula tem se realizado no ensino. Porém muitas vezes a atividade se resume em olhar ou apreciar o material sem a devida reflexão, discussão e produção textual ou visual como devolutiva do que foi visto e supostamente apreendido. Um filme, uma imagem, um slide, um programa multimídia e outros possibilitam informações e conhecimentos codificados, cuja leitura e reflexão crítica se faz necessária para que ocorra a decodificação da mensagem sócio-cultural. Segundo Kossoy (2001) uma imagem fornece muitas informações, desta forma deve- se construir através de análises a sua interpretação. O autor propõe a utilização da Iconografia e a Iconologia. 9 . A Poeira: uma história do Pantanal. DVD. Duração 14 min. Sistema NTSC. Formato XDCAM HIGHT DEF. 16:9. Roteiro e direção geral: Augusto Cesar Proença. Produção e dir. associada: Hélio Godoy. 2008. O filme foi concebido originalmente para o público infanto-juvenil. 10 . Abril Despedaçado. Direção: Walter Salles. 2001. Disponível em: < http://www.abrildespedacado.com.br/pt/entrada_pt.htm Acesso em: 17/09/2011. 11 .Vida Maria. Diretor Márcio Ramos. Animação. 2006. Disponível em: <http://portacurtas.org.br/Filme.asp? Cod=4910.> Acesso em: 21/09/2011. 12 . Invictus. Diretor: Clint Eastwood. 2009. Disponível em: <.http://www.cineweb.com.br> Acesso em: 17/09/2011. 13. Avatar. Direção: James Cameron. 2009. Disponível em: <http://interfilmes.com> Acesso em: 17/09/2011. 4
  • 5. A análise iconográfica tem o intuito de detalhar sistematicamente e inventariar o conteúdo das imagens em seus elementos icônicos formativos; o aspecto literal e descritivo prevalece, o assunto registrado é perfeitamente situado no espaço e no tempo, além de corretamente identificado. A análise iconográfica, entretanto situa-se ao nível da descrição, e não da interpretação (KOSSOY, 2001, p.95). De certa forma, a análise iconográfica é realizada quase sempre e de forma mais imediata ao assistirmos, por exemplo, um filme, falamos sobre a sinopse, descrevemos as cenas, falamos dos atores suas atuações e até emitimos um parecer se gostamos ou não do que vimos relacionando às nossas primeiras impressões e até ao gosto pessoal. A iconologia, no entanto, segundo Kossoy: Cumpre desvendar agora, através do assunto registrado no documento (segunda realidade), a situação que envolveu o referente que originou no contexto da vida passada (primeira realidade). Aqui, busca-se o significado do interior do conteúdo, no plano da interpretação iconológica, tomando emprestado o termo de Panofsky. Para tal busca, a reflexão foi centrada, de início, no indivíduo enquanto interprete de sua própria história. (KOSSOY, 2001, p.99). Para tanto, somente através da análise iconológica se percebe os detalhes e meandros, o que há por trás da imagem, nas entrelinhas, para compreender como o tema ou assunto foi elaborado e quais as interpretações possíveis. Faz-se necessário compreender o contexto histórico, ao qual foi produzido estabelecendo a relação entre fatos, conceitos e significações, sem esquecer-se da percepção sobre as intenções do autor que produziu a obra. Um documentário ou uma fotografia sempre é um recorte fragmentado de uma realidade, passa pelo olhar e escolhas do autor e de quem encomendou a obra, com inúmeras intenções, assim, outras fontes de informações devem ser tomadas para aprofundar e dar a conhecer determinado fato, tema, conteúdo das imagens propostas para leitura. O mediador deve saber que ao utilizar de recursos áudios visuais como um documentário, além de compreender os aspectos culturais no qual foi concebida a obra que vai ser exibida, necessita conhecer o grupo de sujeitos que irão apreciar a mesma e o modo como deverá interagir lidando com as identidades e alteridades. Ver e construir um roteiro exploratório sobre o filme ou documentário segundo Me. Claudemir Ferreira (2011), no artigo publicado no site do Arte na Escola, começa pela indicação dos dados referenciais ou créditos do filme como o título, diretor, atores, gênero, escola a que possa ser associado (Neo-realismo, Cinema Novo ou Nouvelle Vague e outras), e a sinopse da história. Logo após devemos passar para uma descrição analítica dos personagens e suas narrativas. A análise vem a seguir, observando a ideia principal e a temática em discussão. Acrescentaria que, após apreciar o filme, realizar a leitura fílmica, deve-se promover os diálogos enriquecedores entre os participantes, já que o ato de ver é ampliado com olhar do outro, considerando suas subjetividades e vivências. Proposta que vem sendo realizada no Projeto Cine Arte & Cultura educativa. 4. A produção fílmica: Promovendo Diálogos interculturais O trabalho pedagógico com as imagens relacionadas à produção visual artística e cultural instiga e forma nossas identidades culturais e ampliam nossos conhecimentos. Segundo Martins: O papel que as imagens desempenham na cultura e nas instituições culturais não é o de refletir a realidade ou torná-la mais real, mas de articular e colocar em cena a diversidade de sentidos e significados. Embora indivíduos de um mesmo grupo ou comunidade convivam com as mesmas imagens, cada um as vive e interpreta de maneira diferente, distinta, criando brechas e espaços de 5
  • 6. diversidade. O problema é que grupos hegemônicos aspiram impor e autorizar suas interpretações, seu nível de verdade, constrangendo os outros a aceitar esta interpretação ou a lutar para libertar as imagens do humo imobilizador do habitus acadêmico ou mercadológico. (MARTINS, 2007, p. 5). Selecionar filmes e documentários promovendo o encontro entre os aspectos artísticos e culturais, como forma educativa, torna maior a responsabilidade da mediação e o trabalho pedagógico da análise fílmica. Devem estar comprometidos com a ampliação dos referenciais imagéticos culturais, nacionais e internacionais da contemporaneidade e, principalmente dos continentes muito pouco conhecidos e como a Ásia e África e, principalmente da América Latina, promovendo a dissipação dos estereótipos, das representações, promovendo os diálogos interculturais. Segundo Ana Mae Barbosa (1998, p. 14) “a identidade cultural não é uma forma fixa e congelada, mas um processo dinâmico, enriquecido através do diálogo e trocas com outras culturas”. Isto pode ser percebido com a promoção da interculturais em arte, para tanto é necessário reconhecer e celebrar a diversidade cultural em arte em nossa sociedade, enquanto também se potencializa o orgulho pela herança cultural em cada indivíduo. Discussões sobre a formação identitária cultural nacional e regional foram contemplados nos diálogos sobre arte e cultura nos filmes exibidos no projeto Cine Arte & Cultura Educativa como podemos observar nos três filmes citados a seguir. Podemos iniciar com a reflexão sobre o filme nacional “Abril Despedaçado” dirigido por Walter Salles, nele se percebe um universo das tradições culturais épicas organizadas sobre a econômica com base na monocultura, latifúndio e escravidão, no sertão nordestino no começo do século XX. Conclui-se que a supremacia dos laços de sangue, a força das tradições e o poder patriarcal criam representações sobre os valores da civilidade social, produzindo a vingança, a repressão e a violência. Romper com certas tradições sócio-culturais possibilita repensar valores e dar novo sentido a vida e as relações sociais. Desfazer os estereótipos sobre as questões de classe, gênero e raça, refletir sobre o poder que passa a se constituir como “verdades” necessárias a manutenção do próprio poder de uns sobre os outros, personificam discriminações. Segundo Bhabha (1998, p.110) “uma confiança limitadora e tradicional” são estereótipos capazes de construir posições de sujeito sustentadas na arbitrariedade “de um ponto seguro de identificação”. Estas e outras relações podem estabelecer um diálogo educativo e a reflexão artística cultural sobre questões como a Africanidades a partir dos filmes e documentários exibidos no Cine Arte e Cultura Educativa, como: “Invíctus” e “Rubem Valentim Geometria Sagrada” da coleção de DVDs Arte na Escola/pólo UFMS. O filme Invíctus, trata sobre a luta contra o apartheid, empreita realizada pelo presidente da África do Sul, onde Nelson Mandela, apropria-se de um esporte de origem européia - o rugby, que se torna tradição, com a neo-colonização, com a finalidade de refazer uma relação multicultural crítica e anti-racista entre as diferentes etnias para reconstrução da nação. Segundo Foucault (1979, p.8) “os jogos de poder que as imagens insinuam, são capazes de produzir coisas, induzir ao prazer, formar saber, produzir discurso”. Perceber o fetiche do tipo idealizado nas identidades que se constituem como, por exemplo, na etnia branca européia, dócil, feliz e pacificada de padrão sócio cultural hegemônico, diferente, porém, da realidade, que se concretiza hoje cada vez mais diversificada e híbrida se constitui na chave para desvelar estereótipos. A sociedade herdou teorias culturais que explicavam o mundo idealizado, porém encobriam representações sobre o “outro” “inventado” divulgado sob a forma de livros, filmes e outros recursos. Hoje estes veículos de formação e informações áudios-visuais são utilizados 6
  • 7. também como fontes importantes para reflexão cultural desmitificando as representações sociais. Conhecer sobre a África Tradicional e contemporânea através da leitura de textos e filmes, perceber como códigos artísticos culturais ora permanecem, ora se re- criam na arte e cultura dos afro-descendentes brasileiros foi fundamental na compreensão do documentário exibido intitulado: “Rubem Valentim Geometria Sagrada” da coleção de DVDs do Instituto Arte na Escola. Uma reflexão sobre a criação artística a partir das investigações da arte afro- brasileira, sistema simbólicas, sincretismo religioso e interculturalidade. No olhar do artista Valentim a brasilidade se concretiza através das cores e formas e do tema afro. Percebe-se no mundo atual que as identidades e as alteridades são produto das representações construídas na comunicação, pelos grupos que interagem fortalecendo ou rompendo estruturas sócio-culturais. Desta forma, o filme, relacionando a arte e a cultura, pode criar possibilidade de encontros e diálogos interculturais e visuais reconhecendo as diferenças e similaridades, celebrando as diversidades raciais e culturais. Outro filme bem interessante para discutir a formação identitário na relação regional e universal, pode se tornar objeto de reflexão foi: “A Poeira: uma história do Pantanal” (Coleção de DVDs do pólo Arte na Escola/UFMS), dirigido pelo poeta e escritor Augusto C. Proença e o diretor Hélio Godoy. Em Poeira, são produzidas representações do homem pantaneiro - o mestiço forte e valente, retomando a formação identitária do brasileiro do inicio do sec. XX produto das mestiçagens a partir das três raças, o branco, o negro e o índio, transformando-o em um herói da região que vive em “harmonia” com o meio ambiente paradisíaco- o pantanal sul - mato- grossense. No Mato Grosso do Sul, a construção identitária cultural pode ser citada como um bom exemplo para se pensar a cultura como dinâmica, onde os signos, por vezes reduzidos a estereótipos como a Seriema, ave símbolo do pantanal ou o “índio” visto de forma generalizada, passam a ser eleitos por uma minoria, representativa do poder local, tornando homogênea ou simplista as identidades culturais regionais que estão em constante movimento e reconstrução cultural. E, assim não contemplam o caldeirão cultural regional de MS e sua relação com o universal, principalmente por ser uma região fronteiriça com o Paraguai e a Bolívia, além da contribuição sócio-cultural a partir da vinda de migrantes e imigrantes de diversas nações e partes do país. Gruzinski (2001) diz que isso é possível a partir do intercambio cultural através da migração de pessoas e mercadorias, onde as fronteiras são fronteiriças, favorecendo as hibridizações e mestiçagens através de ricos diálogos. No mundo atual as identidades e as alteridades são produto das representações construídas pela comunicação, pelos grupos que interagem fortalecendo ou rompendo estruturas sócio-culturais. O fluxo cultural, o estreitamento dos laços entre as nações, e o consumismo global, possibilitam identificações partilhadas, consumidores para os mesmos bens. Segundo Hall (2003) embora exista uma força dominante de homogeneização cultural americana, que tem se chamado de MacDonal-dização de tudo, tentando subjugar as outras culturas, os produtos culturais de países menos favorecidos estão se fortalecendo pela diversidade, pelo turismo. Canclini (1987, p.348) comenta que: “as artes se desenvolvem em relação a outras visualidades, como o artesanato que passa do campo às produções da cidade. Nos intercâmbios, fortalecemos identidades e alteridades entre os povos”, assim signos vindos de diversas classes e nações e constituem a dinâmica cultural. Considerações finais 7
  • 8. Os resultados obtidos, com o desenvolvimento do projeto Cine Arte e Cultura Educativa, de abril a setembro de 2011, foram considerados muito bons. Exibidos 21 filmes em DVD, com a participação de aproximadamente 350 pessoas, entre discentes, docentes comunidade externa e interna, participação em especial da rede de ensino pública. A participação dos professores do Curso de Artes Visuais, das diferentes áreas, possibilitou adquirir outros conhecimentos e aprofundar os debates, promovendo a interdisciplinaridade no currículo, através da linguagem fílmica. Os diálogos interculturais com a arte, tecnologia e educação, após os filmes, foram intensos e proveitosos. Possibilitando questionamentos importantes sobre o artista, sua produção, a proposta intercultural, possibilitando ampliar o olhar para conhecer diferentes culturas e contextos contemporâneos. A Produção teórica escrita e a proposta de publicação sobre o Cine Arte & Cultura Educativa, aconteceram em setembro no I Seminário Diálogos Visuais e Culturais no Cenário da Pesquisa em MS/UFMS e acontecerá em novembro no CONFAEB 2011. Referências ARCHER, Michael. Arte contemporânea: uma história concisa. São Paulo: M. Fontes, 2001. BARBOSA, Ana Mae. Tópicos Utópicos. Belo Horizonte: C/Arte, 1998. __________ . Arte/Educação Contemporânea: Consonâncias Internacionais. São Paulo: Cortez, 2005. HALL, Stuart. Da diáspora-Identidades e Medicações Culturais. UFMG, 2003. CANCLINI, Nestor Garcia. Culturas Híbridas. Estratégias para entrar e sair da modernidade. São Paulo: EDUSP, 1998. _________Diferentes, desiguales y desconectados. Mapas de la interculturalidad. Barcelona, Gedisa Editorial 2004. DUARTE, Rosália. Cinema e educação. Belo Horizonte: Autêntica, 2002. FERREIRA, Claudemir. O cinema e a sala: apreciação e leitura fílmica. Disponível em: <http://www.artenaescola.org.br> Acesso em 10/03/2011. FOUCAULT, Michel. Microfísica do poder. Rio de Janeiro: Graal, 1979. HALL, Stuart. Da diáspora-Identidades e Medicações Culturais. UFMG, 2003. GRUZINSKI, Serge. O pensamento mestiço. São Paulo: Companhia das Letras, 2001. KOSSOY, Boris. Fotografia e História. São Paulo: Ateliê Editorial, 2001. MARTINS, Raimundo. Temporalidades múltiplas da imagem como pedagogias da interpretação. In: CONGRESSO EDUCAÇÃO ARTE CULTURAL, 1. Santa Maria. Anais eletrônicos. Santa Maria, RS. 2007. PAREYSON, L. Os problemas de estética. São Paulo: Martins Fontes, 1984. 8