O documento discute o conceito de autossuficiência em petróleo, argumentando que ela está ligada ao consumo e não à produção. Calcula o Índice de Desenvolvimento de países usando a fórmula que relaciona o consumo de petróleo per capita à riqueza de uma nação. Conclui que o Brasil precisa importar mais petróleo para aumentar seu desenvolvimento industrial e de vida, em vez de reprimir o consumo.
1. Autossuficiência em Petról
Autossuficiência em Petróleo
Autossuficiência em petróleo é um assunto que está ligado umbilicalmente com o desenvol-
vimento das sociedades.
Atualmente, o desenvolvimento de um país é uma dependência direta da quantidade de pe-
tróleo consumida pela sua população.
Entre políticos, jornalistas e até mesmo técnicos é empregado o conceito de autossuficiência
como sendo a igualdade entre o número de barris de petróleo consumidos diariamente e o número da
produção diária da Estatal brasileira. Este empate dos números consumo X produção não significa,
de fato, autossuficiência.
Conceito de Autossuficiência em Petróleo
Autossuficiência é um termo socioeconômico aplicado quando o país alcança um nível de
progresso, que o coloca entre as nações mais desenvolvidas e ricas do mundo. Este nível só é alcan-
çado pelo consumo de grandes quantidades de petróleo. Esta é a condição sine qua, para que haja
autossuficiência. Veremos adiante a aplicação prática da afirmativa.
Parte-se de uma premissa básica: nada, absolutamente nada, se faz sem petróleo atualmente.
Assim, a tese central da autossuficiência é definida como:
A quantidade de petróleo consumida por um país de maneira que ele alcance e
sustente um nível social compatível com os padrões internacionais de riqueza e
desenvolvimento.
Disso se conclui que o fator que determina o nível de desenvolvimento de uma nação é a
quantidade de petróleo que ela consome, pois resulta em trabalho e conforto para os seus habitantes.
Isto é muito diferente de igualar a produção com o consumo. É fácil provar a verdade da sentença de
forma lógica e prática com fatos do cotidiano. Vejamos a argumentação lógica.
O que é Índice de Desenvolvimento (ID).
Na Civilização do Petróleo, aquela que depende de máquinas e indústrias para progredir,
deve ser providenciado em primeiro lugar os combustíveis.
Vejamos a demonstração prática da Relação Consumo de Petróleo e Desenvolvimento
com os dados referentes aos países16 relacionados nas tabelas I e II.
Aplicando os dados das tabelas na fórmula geral:
Consumo x 159 dividido pelo nº de habitantes resulta o Índice de Desenvolvimento (ID).
63
2. Petróleo e Ecologia: Uma Contestação à Ciência Ortodoxa
Observação: o número 159 é o fator da relação barril / litros.
O Índice encontrado (em litros de petróleo/habitante/dia) organizado em ordem decres-
cente, não deixa dúvidas para qualquer analista que há uma relação estreita, entre o grau de desen-
volvimento do país e a quantidade de produtos de petróleo que a população consome diariamente.
Quanto maior o número de litros de petróleo consumidos, maior o desenvolvimento e vice-versa.
Fica evidente no estudo das tabelas que:
• O grau de desenvolvimento de cada país fica desvinculado de fatores subjetivos (geogra-
fias, raças e religiões).
• Os países ficam agrupados em duas partes tendo como limite o índice 4. Acima deste
índice situam-se os chamados países desenvolvidos ou industrializados, e abaixo, os
subdesenvolvidos ou emergentes.
Como Calcular o ID
A fórmula geral (ID = Consumo X 159 / população) pode determinar:
• O estado de desenvolvimento de um país.
• Quanto petróleo é necessário consumir para galgar determinada posição na escala do de-
senvolvimento.
A título de exercício vejamos o caso do Brasil, que consome, em 2008, somente 2,4 milhões
de barris. O índice de desenvolvimento na tabela II é de 1,89. Este índice significa que o país é subde-
senvolvido e as suas características sociais confirmam isto: analfabetismo, corrupção generalizada,
violência, prostituição, justiça lenta, fome, falta de escola, ensino de segunda classe, saúde pública
deficitária, etc. Pergunta-se então: que fazer para acabar com este problema? É evidente a resposta:
dar trabalho e educação para a população. Como fazer isso? Consumindo mais petróleo (combustí-
veis), aumentando assim a industrialização do país através de uma política de preços baixos, mesmo
a custa da importação de maiores quantidades de petróleo.
Optando pelo caminho da importação, qual a quantidade de petróleo necessária para o Bra-
sil ser promovido ao grupo dos desenvolvidos? Se quisermos o Brasil no limite inferior da tabela I,
deveríamos gastar no mínimo 4 l/h/d (litros/habitante/dia), sustentando um padrão de vida abaixo do
do Panamá.
Aplicando na fórmula os dados do Brasil:
População= 199 milhões
Índice de desenvolvimento= 4
Consumo= 4 X 199.000.000/159
O resultado indica que o consumo do país deveria ser de 5 milhões de barris de petróleo por
dia! Logo, estão faltando 2,6 milhões de barris para chegarmos ao grupo dos industrializados.
Estaremos completando setenta e um anos de pesquisa de petróleo, a partir da fundação do
Conselho Nacional do Petróleo, em 1938, quando foram descobertos vários campos de petróleo no
Recôncavo baiano, e completando 56 anos de pesquisa, contando o tempo a partir da fundação da
Petrobras, em 1953, para alcançar a produção atual de 2 milhões de barris. Isto significa que pode-
remos levar mais 50 anos para chegarmos aos 5 milhões que seriam necessários para impulsionar o
64
3. Autossuficiência em Petról
desenvolvimento dos199 milhões de brasileiros.
Mas, em cinquenta anos a população do Brasil estará de novo dobrada e o objetivo, de
novo, não seria alcançado o que levaria o país a situações piores que as atuais.
Fazendo novo exercício com a fórmula, vamos deslocar o Brasil para o nível da Espanha
(índice=6,32). Feitas as contas, determinamos que precisaremos consumir quase 8 milhões de bar-
ris, quantidade de petróleo que jamais a Estatal poderá produzir sozinha. Ela precisaria de um tempo
muito longo, quando a população já teria aumentado, e a produção estaria de novo deficitária, conti-
nuando o Brasil na miséria.
Observe-se na tabela I: países que nada ou pouco produzem de petróleo, mas desfrutam
posição invejável no clube dos ricos. É o caso de Luxemburgo, Hong-Kong, Panamá, Cingapura,
Bélgica, Finlândia e outros.
Na tabela II: países que produzem muito, chegando a ser exportadores de petróleo, caso do
Iran, Iraque, Angola, Nigéria e Argélia, entretanto são países do grupo de subdesenvolvidos.
Com estas observações queremos enfatizar:
• Autossuficiência nada tem a ver com produção, mas com consumo de petróleo.
• Essa esperança de chegar ao autoabastecimento é antiga, e vem desde a fundação da
Companhia17.
• O Brasil não é, nem será autossuficiente quando a produção feita pela Estatal alcançar o
número do atual consumo do povo brasileiro, porque a população do Brasil cresce a uma
taxa maior do que a taxa de novas descobertas feitas pela Estatal.
O Índice de Desenvolvimento (ID) apresentado na tabela é um valor que traduz melhor a
realidade do desenvolvimento de um país, se comparado com o resultado obtido quando se usa o Pro-
duto Interno Bruto da Economia, o qual revela uma realidade distorcida, por conta da concentração
de renda, além de não revelar a causa do desenvolvimento ou da pobreza de um país.
Não se consome petróleo porquê se é desenvolvido, mas ao contrário, só se alcança o status
de desenvolvido se, e somente se, o consumo de petróleo for abundante.
A autossuficiência como divulgada nos dias de hoje (igualar os números da produção com os
do consumo), poderá ser alcançada de duas maneiras:
• A primeira é impedindo o crescimento da população, solução descartada por ser impossí-
vel de realizar, desde que é artificial.
• A segunda vem sendo posta em prática e consiste em frear o consumo de petróleo via
aumento de preço dos combustíveis: prática do consumo reprimido.
Como consequência de uma política que reprime o consumo de combustíveis, continua-
remos com os índices de criminalidade, de violência e outras mazelas crescendo.
Esta política do governo está em desacordo com o objetivo para o qual a Estatal foi criada:
abastecer o Brasil de combustíveis.
A tabela III mostra os números da produção18 e do consumo19, destacando que vem dimi-
nuindo a diferença entre eles, ao longo de dez anos, forçando a “autossuficiência” conveniente aos
desígnios da propaganda do governo. Sendo o item consumo o regulador da relação Desenvolvimen-
to x Subdesenvolvimento, a repressão do consumo só contribui para a situação de miséria do Brasil.
65
4. Petróleo e Ecologia: Uma Contestação à Ciência Ortodoxa
Tabela III – Números da produção e consumo de petróleo no Brasil.
ANO PRODUÇÃO EM BPD CONSUMO EM BPD DIFERENÇA
1998 1.004.000 2.034.000 -1.030.000
1999 1.132.000 2.114.000 -982.000
2000 1.271.000 2.056.000 -720.000
2001 1.336.000 2.082.000 -746.000
2002 1.500.100 2.063.000 -562.900
2003 1.540.100 1.985.000 -444.900
2004 1.492.600 1.999.000 -506.400
2005 1.684.100 2.048.000 -363.900
2006 1.777.700 2.102.000 -324.300
2007 1.792.100 2.274.000 -481.900
2008 1.854.700 2.397.000 -542.300
Fontes – Produção: Petrobras
Consumo: BP Statistical Review of World Energy 2009
Finalmente, cinco itens devem compor um Programa Básico para o Desenvolvimento do
Brasil:
1. Importar o petróleo necessário para impulsionar a indústria brasileira, barateando os pre-
ços dos combustíveis internamente.
2. Modificar as leis impostas pelos organismos regulatórios (ANP e IBAMA), de maneira
encorajar os empresários a entrarem na atividade exploratória, aumentando as chances de
novas descobertas.
3. Deve-se direcionar a pesquisa na parte continental do País, onde fica a principal forma-
ção armazenadora de petróleo, que é ainda desconhecida. Temos, em fevereiro de 2008,
apenas 46 sondas em operação, enquanto os EUA têm 1.76520, o que representa 38 vezes
mais do que o Brasil. Das 46 sondas em operação no Brasil, 25 operavam offshore, lugar
difícil e muito oneroso.
4. Remapear todo o território brasileiro, para determinar os limites da formação geológica
portadora de petróleo.
5. Aplicar novas idéias na exploração das bacias brasileiras, que implicam na diminuição
dos custos desta atividade.
66
5. Autossuficiência em Petról
Tabela I – Países Desenvolvidos ou Industrializados
O Índice de Desenvolvimento representa litros de petróleo/habitante /dia.
Produção Consumo Consumo ID PIB/capta
Países População
bbl/dia bbl/dia litros l/hab US$
Cingapura 8.550 916.000 145.644.000 4.657.542 31,27 52.000
Luxemburgo 0 60.640 9.641.760 491.775 19,60 81.100
Canadá 3.425.000 2.371.000 376.989.000 33.487.208 11,25 39.300
USA 8.457.000 20.680.000 3.288.120.000 307.212.123 10,70 47.000
Bélgica 8.671 628.500 99.931.500 10.414.336 9,60 37.500
Holanda 88.950 984.200 156.487.800 16.715.999 9,36 40.300
Noruega 2.565.000 224.500 35.695.500 4.660.539 7,66 55.200
Austrália 600.000 966.200 153.625.800 21.262.641 7,22 38.100
Hong Kong 0 315.400 50.148.600 7.055.071 7,11 43.800
Korea do Sul 20.970 2.080.000 330.720.000 48.508.972 6,81 26.000
Finlândia 8.951 217.500 34.582.500 5.250.275 6,58 37.200
Grécia 4.265 441.400 70.182.600 10.737.428 6,53 32.000
Espanha 29.000 1.611.000 256.149.000 40.525002 6,32 34.600
Japão 132.400 5.007.000 796.113.000 127.078.679 6,26 34.200
Suécia 2.350 353.700 56.238.300 9.059.651 6,20 38.500
N. Zelândia 47.850 158.400 25.185.600 4.213.418 5,97 27.900
Áustria 24.920 289.400 46.014.600 8.210.281 5,60 39.200
Dinamarca 313.800 190.600 30.305.400 5.500.510 5,50 37.400
Suíça 3.202 244.900 38.939.100 7.604.467 5,12 40.900
Israel 5.966 232.300 36.935.700 7.233.701 5,10 28.200
França 71.400 1.950.000 310.050.000 64.057.792 4,84 32.700
Alemanha 148.100 2.456.000 390.504.000 82.329.758 4,74 34.800
Itália 166.600 1.702.000 270.618.000 58.126.212 4,65 31.000
Reino Unido 1.690.000 1.763.000 280.317.000 61.113.205 4,58 36.600
Portugal 6.281 301.000 47.859.000 10.707.924 4,47 22.000
Panamá 0 92.790 14.753.610 3.360.474 4,39 11.700
Fonte sobre produção, consumo em bbl, população e PIB: Central Intelligence Agency. The World
Factbook 2009.
Nota: O Índice 4 separa os países conforme o consumo de petróleo.
67
6. Petróleo e Ecologia: Uma Contestação à Ciência Ortodoxa
Tabela II – Países Subdesenvolvidos ou Emergentes
O Índice de Desenvolvimento representa litros de petróleo/habitante /dia.
Produção Consumo Consumo ID PIB/capta
Países População
bbl/dia bbl/dia litros/dia l/hab US$
Croácia 17.580 101.200 16.090.800 4.489.409 3,58 16.100
Gabão 243.900 13.170 2.094.030 1.514.993 1,38 14.400
México 3.501.000 2.119.000 336.921.000 111.211.789 3,03 14.200
Argentina 790.800 440.000 69.960.000 40.913.584 1,71 14.200
Botswana 0.0 11.640 1.850.760 1.990.876 0,93 13.300
Bulgária 3.520 142.400 22.641.600 7.204.687 3,14 12.900
Iran 4.700.000 1.600.000 254.400.000 66.429.284 3,82 12.800
Brasil 1.854.700 2.372.000 377.148.000 198.739.269 1,89 10.100
Azerbaijão 1.099.000 160.000 25.440.000 8.238.672 3,08 9.000
Colômbia 588.000 267.000 42.453.000 45.644.023 0,93 8.900
Angola 1.910.000 55.640 8.846.760 12.799.293 0,69 8.800
Peru 110.800 170.000 27.030.000 29.546.963 0,91 8.400
Argélia 2.173.000 279.800 44.488.200 34.178.188 1,3 7.000
Armênia 0.0 41.090 6.533.310 2.967.004 2,2 6.400
Albânia 6.425 30.900 4.913.100 3.639.453 1,35 6.000
Bolívia 61.790 31.500 5.008.500 9.775.246 0,51 4.500
Iraque 2.420.000 295.000 46.905.000 28.945.657 1,62 4.000
Índia 880.500 2.722.000 432.798.000 1.166.079.217 0,37 2.800
Nigéria 2.352.000 312.000 49.608.000 149.229.090 0,33 2.300
Benin 0.0 9.232 1.467.888,00 8.791.832 0,16 1.500
Bangladesh 6.746 89.940 14.300.460 156.050.883 0,09 1.500
Myanmar 21.900 43.140 6.859.260 48.137.741 0,14 1.200
Uganda 0.0 11.570 1.839.630 32.369.558 0,05 1.100
Afeganistão 0.0 5.036 800.724 33.609.937 0,02 800
Fonte sobre produção, consumo em bbl, população e PIB: Central Intelligence Agency. The World
Factbook 2009.
68