Nesse curso, Professor Vincenzo Di Nicola vai expor a situação do terapeuta face à família e a família face ao trauma depois do desastre. Utilizando idéias do seu modelo de terapia familiar cultural (Di Nicola, 1998), do seu trabalho em trauma no Harvard Program in Refugee Trauma (Mollica, 2008) no Haiti e das suas investigações em Filosofia sobre trauma, Di Nicola apresenta um novo modelo de trauma e de terapia depois de trauma com um novo conceito de mudança em terapia baseado sobre a filosofia do Evento (ou Acontecimento) de Alain Badiou (1994).
Conceitos e estratégias chaves desse modelo incluem: o encontro face a face (Lévinas, 1997) e o diálogo relacional (Di Nicola, 2012) para ouvir a estória de trauma (Mollica, 2008). Isto constrói o terapeuta como testemunha e a terapia como relato de trauma. Só depois que a trauma seja resolvida é que famílias podem mudar através da possibilidade do Evento. O Evento significa mudança que surge da novidade – uma alteridade radical que abre espaço para novas possibilidades – que chega através de verdade e cria sujeitos. Trauma (que impõe limites) e Evento (que abre possibilidades) são então radicalmente separados – ou seja incomunicáveis e irreconciliáveis. A terapia depois de trauma ajuda famílias para enfrentar o desastre com coragem e preparar-se para a possibilidade do Evento. Esse novo modelo será ilustrado com estórias clinicas de famílias em tratamento depois de desastres naturais ou humanos.
Referências:
Alain Badiou, Verdade e sujeito. Estudos Avançados, vol.8 no.21, São Paulo, May/Aug. 1994. http://dx.doi.org/10.1590/S0103-40141994000200011
Vincenzo Di Nicola, Um Estranho na Familia: Cultura, Familias e Terapia (Tradução: Maria Adriana Ve¬rissimo Veronese. Apresentação à edição brasileira: Luiz Carlos Osorio, MD.) 345 pp. Porto Alegre, RS: Editora Artes Medicas, 1998.
Vincenzo Di Nicola, Carta a um Jovem Terapeuta: “Pessoas Iniciam Terapia para Não Mudar” [Letter to a Young Therapist: “People Come into Therapy in Order Not to Change”]. Revista Pensando Famílias, 16(1), julho 2012, 15-27.
http://www.domusterapia.com.br/site/principal/conteudo_nivel3.asp?codConteudo=420
Emmanuel Lévinas, Entre Nós: Ensaio Sobre a Alteridade (Tradução: Pergentino Stefano Pivatto, et al.). Petrópolis, RS: Vozes, 1997.
https://olimpiadadefilosofiasp.files.wordpress.com/2012/03/entre-nos-ensaios-sobre-a-alteridade-emmanuel-levinas.pdf
Richard F. Mollica. Healing Invisible Wounds: Pathways to Hope and Recovery in a Violent World. Nashville, TN: Vanderbilt University Press, 2008.
1. CURSO
DEPOIS DO DESASTRE:
FACE À FAMÍLIA FACE AO TRAUMA
VINCENZO DI NICOLA
MPhil, MD, PhD, FRCPC, FAPA
XII Congresso Brasileiro de Terapia Familiar
10 de junho de 2016 – 8h30 às 10h30
Gramado/RS – Brasil
5. Vincenzo Di Nicola
MPhil, MD, PhD, FRCPC, FAPA
vincenzodinicola@gmail.com
Professor titular de psiquiatria,
Universidade de Montreal
Diretor, Psiquatria infantil, Instituto Universitário
de Saúde Mental de Montreal
Presidente e Fundador do Grupo de Saúde Mental
Global, Associação Americana de Psiquiatria
6. Agradecimentos
XII Congresso Brasileiro de
Terapia Familiar
Helena Centeno Hintz
Presidente, ABRATEF,
AGATEF
Luis Carlos Prado
Presidente do Congresso
Mara Lúcia Rossato
Coordenadora da
Comissão Cientifica
Porto Alegre, RS Photo : V Di Nicola
7. Museu Porto Alegre, RS Photo : V Di Nicola
Terapia Familiar
Maurizio Andolfi
Accademia di Psicoterapia
della Famiglia - Roma, Itália
Psiquiatria Cultural
Richard Mollica
Harvard Program in Refugee
Trauma - Cambridge, MA, EUA
Filosofia
Alain Badiou
École Normale Supérieure
- Paris, France
Agradecimentos
8. Depois do Desastre
Resumo do Curso
Nesse curso, Vincenzo Di Nicola vai expor a
situação do terapeuta face à família e a família
face ao trauma depois do desastre.
Di Nicola apresenta um novo modelo de trauma
e de terapia depois de trauma com um novo
conceito de mudança em terapia baseado sobre
a filosofia do Evento (ou Acontecimento) de
Alain Badiou (1994).
9. Conceitos e estratégias chaves desse modelo
incluem: o encontro face a face (Lévinas,
1997) e o diálogo relacional (Di Nicola, 2012)
para ouvir a estória de trauma (Mollica, 2008).
Isto constrói o terapeuta como testemunha e
a terapia como relato de trauma.
Só depois que a trauma seja resolvida é que
famílias podem mudar através da
possibilidade do Evento.
10. A terapia depois de trauma ajuda famílias para
enfrentar o desastre com coragem e preparar-
se para a possibilidade do Evento.
Esse novo modelo será ilustrado com estórias
clinicas de famílias em tratamento depois de
desastres naturais ou humanos.
11. Objectivos
Na conclusão do curso, os participantes devem
entender, definir e saber como …
(Você escolhe …)
20. UM ESTRANHO NA FAMÍLIAUM ESTRANHO NA FAMÍLIA
Cultura, Famílias eCultura, Famílias e
TerapiaTerapia
Vincenzo Di Nicola
(Porto Alegre:
Artmed, 1998)
21. Determinantes sociais da saúde
e crescimento econômico
WHO Commission on Social Determinants of
Health – A Comissão sobre os Determinantes
Sociais da Saúde da OMS liga a noção chave
da ladeira social da saúde à justiça social
O desenvolvimento implica um laço entre
crescimento econômico e políticas sociais
para criar a saúde eqüitativa
22. A Comissão sobre os
Determinantes Sociais da Saúde
Os três princípios chaves são:
Melhorar as condições cotidianas da vida
Remediar a distribuição não eqüitativa das
causas estruturais das condições cotidianas da
vida
Avaliar a ação
23. – A Comissão sobre os Determinantes Sociais
da Saúde (OMS, 2008)
“A justiça social é uma questão de morta e de
vida. Ela afeta a maneira que pessoas vivem, as
chances delas adoecer em consequência, e o
risco de uma morta prematura.”
25. Reflexão
A infância é uma faca
plantada na garganta.
Não é tão facil retirá-
la.
– Wajdi Mouawad,
dramaturgo
26. “Adverse Childhood Events”
(ACE Study)
Adversidade durante a infância e a
adolescência – Vincent Felitti e colegas –
EUA
Exposição ao abuso emocional, físico ou
sexual na infância é associado com hábitos
de risco e doenças na vida adulta
27. “Adverse Childhood Events”
(ACE Study)
70.5% de 9,508 pacientes completaram o
estudo sobre 7 categorias de adversidade
> 50% tinham 1/+ evento
25% tinham 2/+ eventos
Uma ladeira entre o numero de eventos e
os riscos mais tarde na vida adulta
29. Conceito de traumatismo
(Sigmund Freud, 1926)
Idéias conscientes que ultrapassem o ego
A emergência de impulsões inaceitáveis
Uma situação intolerável gerando afetos
impossiveis de lidar
Sentimentos de impôtencia traumática
31. Types de traumatisme
Lenore Terr
TRAUMATISME
TYPE I
Description : Évènement singulier,
dangereux, subit, isolé
Réponse : Souvenirs intensément
vécus, récupération plus
rapide,
meilleur pronostic
Exemples : Accident de voiture,
témoin d’homicide ou de suicide
TRAUMATISME
TYPE II
Description : Multiples,
chroniques, répétés
Réponse : Souvenirs vagues,
impuissance, dissociation,
changement de caractère, les
problèmes persistent
Exemples : Institutionalisation,
abus physique ou sexuel,
guerre, attentat, violence
sociale
32. Definições do conceito
de traumatismo
“Traumatismo como um evento além da
gama das experiências humanas
habituais” (DSM-III, 1980)
“Um evento tal que a morte, real ou
ameaçada, ou uma ferida séria ou uma
ameaça à integridade física de si
mesmo ou de outros” (DSM-IV, 1994)
34. O Evento significa mudança que surge da
novidade – uma alteridade radical que abre
espaço para novas possibilidades – que chega
através de verdade e cria sujeitos.
Trauma (que impõe limites) e Evento (que
abre possibilidades) são então radicalmente
separados – ou seja incomunicáveis e
irreconciliáveis.
35. Um evento …
• Um evento é quando a vida muda …
• Não estamos mais na soleira, mas já
entramos e ficamos
• O evento é a vida depois da jornada,
quando chegamos e ficamos e
vivemos com fidelidade (ao evento) e
integridade (com se mesmo) …
36. Reflexão
Na soleira entre países, culturas, famíilas,
realidades e epistemologias, o que significam
identidade, família e saúde mental?
Referência: Boaventura de Sousa Santos -
“epistemologías do sul”
37. Epistemologías do sul
Uma epistemología do Sul assenta em
três orientações:
Aprender que existe o Sul
Aprender a ir para o Sul
Aprender a partir do Sul e com o Sul
Referência: Boaventura de Sousa Santos, Toward a New Common
Sense: Law, Science and Politics in the Paradigmatic Transition.
New York: Routledge, 1995.
Citado por Maria Paula Meneses, “Introdução: Epistemologías
do Sul.” Revista Crítica de Ciências Sociais, 80, Março 2008: 5-
10.
38. Conceitos chaves
Conceitos e estratégias chaves desse
modelo incluem:
o encontro face a face (Lévinas, 1997)
o diálogo relacional (Di Nicola, 2012)
a estória de trauma (Mollica, 2008)
40. Letters to a
Young Therapist
Relational Practices for
the Coming Community
(New York & Dresden:
Atropos Press 2011)
Primeiro capítulo:
Revista Pensado Famílias
(Julho 2012)
43. Reflexão
Trauma e Evento
Trauma cultural
(transformação – “trauma como evento”)
Transtorno pos-traumático
(destrução – “evento como trauma”)
44. Conceitos chaves
Mudança ...
Só depois que a trauma seja
resolvida é que famílias podem
mudar através da possibilidade do
Evento
45. Conclusões
A terapia familiar propõe tratamentos para
problemas psiquiátricos de crianças e famílias
A terapia familiar cultural oferece um
paradigma para tratamentos que levam em
consideração a cultura
A terapia evental …
46. Conclusões
A terapia evental …
A terapia depois de trauma ajuda famílias
para enfrentar o desastre com coragem e
preparar-se para a possibilidade do Evento
49. Um caso clínico:
“A loucura lúcida de Renata”
Uma adolescente da America Latina (Chile)
As experiências perturbantes só aparecem
psicóticas fora do contexto familiar e cultural
50. Renata – 16 anos, morando em Montreal
Mora com a mãe, a irmã de 15 anos e o padastro
depois de 3 anos
Diagnóstico de esquizofrenia à idade de 14 anos
por causa das “vozes”
As “vozes” tem um signficado relacional
Ela entendia “vozes”, mas ninguém estava
escutindo ela
Um caso clínico:
“A loucura lúcida de Renata”
51. Uma jovem mulher de uma família
multicultural com pais vivendo em duas países
– Canadá e Haiti
O flutuante sentimento de pertença falta uma
âncora, mudando com seus sintomas ansiosos
e depressivos
Um caso clínico:
“Pele negra, máscara branca”
52.
53. Cassandra, 18 anos, voltou de novo para visitar seu
pai negro e francófono no Haiti
A mãe, branca, anglófona das origens americano
polonês, mora em Montreal com suas duas filhas
A consulta foi para depressão e controle fraco do
diabetes
Ela é aflita com estresse, tem um rede social mínimo
e não mantém com terapia, amigos, escola
Rivalidade com a irmã, pressão da família
Um caso clínico:
“Pele negra, máscara branca”
61. Apesar das ruínas e da morte
Apesar das ruínas e da morte,
Onde sempre acabou cada ilusão,
A força dos meus sonhos é tão forte,
Que de tudo renasce a exaltação
E nunca as minhas mãos ficam vazias.
—Sophia de Mello Breyner Andresen,
“Poesia” (1944)
Obra poética. Lisboa: Caminho, 2011.
62. Amor à primeira vista
Porque cada início
é só continuação,
e o livro das ocorrências
está sempre aberto ao meio.
—Wysława Szymborska
Tradução de Júlio Sousa Gomes, em
Paisagem com Grão de Areia, Lisboa: Relógio d’água, 1996.
63. Referências
• Alain Badiou, Verdade e sujeito. Estudos Avançados, vol.8 no.21, São
Paulo, May/Aug. 1994. http://dx.doi.org/10.1590/S0103-40141994000200011
• Vincenzo Di Nicola, Um Estranho na Familia: Cultura, Familias e Terapia (Tradução:
Maria Adriana Ve-rissimo Veronese. Apresentação à edição brasileira: Luiz Carlos
Osorio, MD.) 345 pp. Porto Alegre, RS: Editora Artes Medicas, 1998.
• Vincenzo Di Nicola, Carta a um Jovem Terapeuta: “Pessoas Iniciam Terapia para
Não Mudar.” Revista Pensando Famílias, 16(1), julho 2012, 15-27.
http://www.domusterapia.com.br/site/principal/conteudo_nivel3.asp?
codConteudo=420
• Emmanuel Lévinas, Entre Nós: Ensaio Sobre a Alteridade (Tradução: Pergentino
Stefano Pivatto, et al.). Petrópolis, RS: Vozes, 1997.
https://olimpiadadefilosofiasp.files.wordpress.com/2012/03/entre-nos-ensaios-sobre-a
• Richard F. Mollica. Healing Invisible Wounds: Pathways to Hope and Recovery in a
Violent World. Nashville, TN: Vanderbilt University Press, 2008.