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EMPRESAS MULTINACIONAIS   E I NOVAÇÃO   TECNOLÓGICA   NO   BRASIL



          EMPRESAS MULTINACIONAIS E
       INOVAÇÃO TECNOLÓGICA NO BRASIL




                                                                       SÉRGIO QUEIROZ
                                                                 RUY   DEQUADROS CARVALHO




                   Resumo: O artigo discute o engajamento atual e potencial das empresas multinacionais em atividades
                   tecnológicas no Brasil. Argumenta que a maior propensão dessas empresas em realizar atividades de pesquisa
                   e desenvolvimento (P&D) fora de seus países de origem pode representar uma oportunidade para reforçar o
                   sistema nacional de inovação. A implementação de políticas públicas pertinentes é uma condição importante
                   para o sucesso dessa empreitada.
                   Palavras-chave: Empresas multinacionais. Globalização da tecnologia. Políticas de promoção e atração de
                   P&D.

                   Abstract: The article examines the technological efforts carried out – presently and prospectively – by
                   multinational enterprises in Brazil. It argues that these enterprises are willing to increase their R&D activities
                   abroad which may represent an opportunity to Brazil to develop its national system of innovation. However,
                   the adoption of appropriate policies is an important condition to succeed in this endeavour.
                   Key words: Multinational enterprises. Globalization of technology. Foreign Direct Investment related policies.




         os anos recentes, vem-se consolidando no Brasil                             O elevado grau de internacionalização da economia

N        a percepção de que é preciso corrigir um dese-
         quilíbrio existente em nosso sistema nacional de
inovação: sua excessiva dependência do setor público e
                                                                                 brasileira é tradicionalmente invocado como uma das
                                                                                 explicações para o baixo envolvimento das empresas com
                                                                                 P&D. O argumento é que as empresas multinacionais
dos gastos governamentais. O fraco engajamento das em-                           (EMNs) estrangeiras seriam essencialmente importadoras
presas em atividades tecnológicas, particularmente em                            de tecnologia desenvolvida em seus países de origem, e
pesquisa e desenvolvimento (P&D), é hoje visto como um                           assim não teriam por que realizar esforços de P&D local.
problema que a política de ciência, tecnologia e inovação                        Nesse caso, as firmas nacionais arcariam com a maior parte
(C,T&I) precisa resolver. Dados de pesquisas realizadas                          da responsabilidade pela promoção do desenvolvimento
recentemente, como a Pesquisa Industrial da Inovação                             tecnológico.
Tecnológica – Pintec (do Instituto Brasileiro de Geogra-                             Entretanto, como será mostrado adiante, o conjunto das
fia e Estatística – IBGE) e a Pesquisa de Atividade Eco-                         subsidiárias de EMNs responde por parcela significativa
nômica Paulista – Paep (da Fundação Sistema Estadual                             do esforço em P&D das empresas instaladas no país. Em
de Análise de Dados – Seade), revelam que apenas 14%                             alguns setores, essas subsidiárias têm hoje um papel mui-
das empresas inovadoras realizaram P&D contínuo em                               to destacado. Mais ainda, o que esse artigo pretende mos-
2000 (4,4% do total de empresas industriais da Pintec).                          trar é que elas podem ser induzidas a desempenhar um
Ou que apenas 180 empresas industriais empregavam mais                           papel ainda mais relevante no sistema nacional de inova-
de 10 empregados de nível superior em atividades perma-                          ção. Considerando as possibilidades de atrair para o Bra-
nentes de P&D, em 1996 (QUADROS et al., 2003).                                   sil mais investimento em tecnologia da parte dessas em-



SÃO PAULO EM PERSPECTIVA, v. 19, n. 2, p.51-59, abr./jun. 2005              51
SÉRGIO QUEIROZ / RUY   DE   QUADROS CARVALHO


presas, presume-se que elas poderão contribuir para a               desvalorização cambial do final de 1998, que resultou num
correção do desequilíbrio acima apontado.                           salto no movimento de aquisição de empresas brasileiras
   O texto está estruturado em cinco intens, além desta             por suas concorrentes multinacionais.
introdução. O primeiro mostra que há forte penetração das
EMNs na economia brasileira, especialmente em alguns                                                 TABELA 1
setores. O seguinte trata dos esforços tecnológicos dessas                         Fluxos de Investimento Direto Estrangeiro (IDE)
empresas. O terceiro discute o fenômeno da globalização                                             para o Brasil
                                                                                                 Brasil – 1992-2003
da tecnologia: como esta pode criar oportunidades de in-
vestimento em P&D no Brasil e a importância das políti-
cas públicas para o aproveitamento dessas oportunidades.            Ano                                            Em Milhões de Dólares

O último item traz as considerações finais.                         1992-1997 (Média Anual)                                 6.615
                                                                    1998                                                   28.865
A PRESENÇA DAS MULTINACIONAIS                                       1999                                                   28.578
NO BRASIL                                                           2000                                                   32.779
                                                                    2001                                                   22.457
   O fechamento ao comércio e a abertura ao capital são             2002                                                   16.590
características marcantes da industrialização brasileira. As        2003                                                   10.144
empresas estrangeiras assumiram um papel importante ao              Fonte: Unctad (2004a).

longo de nossa história, especialmente a partir da segun-
da metade dos anos 50, quando o Plano de Metas do go-                  Como resultado, o estoque de IDE no Brasil cresceu
verno Kubitschek configurou o tripé em que se apoiaria o            significativamente e representa hoje cerca de um quarto
pretendido “salto de cinqüenta anos em cinco”: governo,             do PIB (Tabela 2). Esse valor, embora abaixo da média
capital privado nacional e capital privado internacional.           dos países em desenvolvimento (31,4% do PIB em 2003),
Naquele momento, o investimento das empresas multina-               é elevado quando se compara com países recentemente
cionais impulsionou decisivamente certos segmentos da               industrializados da Ásia como Coréia do Sul e Taiwan
indústria – o setor automobilístico é o grande exemplo.             (7,8% e 11,9% do PIB, respectivamente). Em suma, o peso
Assim, em um padrão bastante típico da América Latina,              das subsidiárias de empresas multinacionais na economia
e em contraste com o que se observou em certos países do            brasileira cresceu bastante nos últimos anos e atingiu um
sudeste asiático, como a Coréia do Sul, as empresas de              valor expressivo.
capital estrangeiro instalaram-se solidamente no Brasil.
   Na segunda metade dos anos 90, ocorreu um cresci-                                                 TABELA 2
mento expressivo do investimento direto estrangeiro (IDE).                        Estoque de Investimento Direto Estrangeiro (IDE)
                                                                                                Brasil – 1980-2003
Como se vê na Tabela 1, o país recebeu US$ 28,9 bilhões
de IDE em 1998, versus uma média anual de US$ 6,6 bi-
lhões no período entre 1992-1997. Esses investimentos               Ano                          Em Milhões de Dólares              % do PIB

continuaram crescendo até 2000 e começaram a cair a                 1980                                17.480                        7,4
partir daí, quando a economia brasileira estagnou: em               1985                                25.664                       11,5
2001, em função da crise energética; em 2002, pelo cená-            1990                                37.143                        8,0
rio político; e em 2003, um ano de recessão. Os dados               1995                                41.696                        5,9
preliminares de 2004 indicam uma recuperação que deve               2000                               103.015                       17,2
continuar em 2005. Acrescente-se ainda que a excepcio-              2002                               100.847                       22,3
nal expansão do IDE, entre 1998 e 2000, esteve, em gran-            2003                               128.458                       25,8
de medida, relacionada com dois movimentos complemen-               Fonte: Unctad (2004a).

tares de desnacionalização patrimonial. De um lado, as
oportunidades criadas pelos programas de privatização                  Observando a presença das empresas de capital estran-
federal e estaduais, em especial nos setores de telecomu-           geiro por setores de atividade, constata-se uma variação
nicações e energia elétrica. De outro, a atração à aquisi-          muito grande. Somadas, elas representam 35% do VTI e
ção de ativos privados, decorrrente da súbita e intensa             apenas 3% do número total – o que indica um tamanho



                                                               52                    SÃO PAULO EM PERSPECTIVA, v. 19, n. 2, p.51-59, abr./jun. 2005
EMPRESAS MULTINACIONAIS   E I NOVAÇÃO     TECNOLÓGICA   NO   BRASIL


médio muito superior ao das nacionais (IBGE, 2002). En-                              responsabilidade das multinacionais (Tabela 3). Os seto-
tretanto, em setores como fabricação de produtos do fumo;                            res em que a participação dessas empresas é baixa (infe-
de máquinas para escritório e equipamentos de informática;                           rior a 20%) são poucos e de limitada importância: fabri-
de máquinas, aparelhos e materiais elétricos; de material                            cação de produtos têxteis; confecção de artigos do
eletrônico e de aparelhos e equipamentos de comunica-                                vestuário e acessórios; preparação de couros e fabricação
ções; e fabricação e montagem de veículos automotores,                               de artefatos de couro, artigos de viagem e calçados; fa-
reboques e carrocerias mais de dois terços do VTI são de                             bricação de produtos de madeira; edição, impressão e re-



                                                                           TABELA 3
                           Participação das Empresas de Capital Estrangeiro na Base da Pintec, por Número e VTI, segundo Setores da CNAE
                                                                             Brasil – 2000


                                                                                     Empresas Estrangeiras                             VTI
Setores da CNAE
                                                                               Nos Absolutos         % do Total         Em R$ 1.000               % do Total
Total                                                                               2.218                3,1              87.429.896                     35,0
Indústrias Extrativas                                                                 42                 2,4               1.860.218                     26,8
Indústrias de Transformação                                                         2.176                3,1              85.569.677                     35,3
Fabricação de Produtos Alimentícios e Bebidas                                        225                 2,2              11.046.507                     30,8
Fabricação de Produtos do Fumo                                                        17                32,3               1.941.530                     97,3
Fabricação de Produtos Têxteis                                                        75                 2,6                 995.540                     14,4
Confecção de Artigos do Vestuário e Acessórios                                        11                 0,1                 272.895                      5,9
Preparação de Couros e Fabricação de Artefatos de Couro,
Artigos de Viagem e Calçados                                                          30                 0,9                 203.266                      4,4
Fabricação de Produtos de Madeira                                                     20                 0,4                 314.410                     10,1
Fabricação de Celulose, Papel e Produtos de Papel                                     46                 3,4               3.650.515                     35,1
Edição, Impressão e Reprodução de Gravações                                           74                 2,2                 743.790                      7,8
Fabricação de Coque, Refino de Petróleo, Elaboração de
Combustíveis Nucleares e Produção de Álcool                                           19                10,0                 286.353                      0,8
Fabricação de Produtos Químicos                                                      372                12,3              16.244.219                     52,1
Fabricação de Artigos de Borracha e Plástico                                         166                 3,9               2.454.312                     30,0
Fabricação de Produtos de Minerais Não-Metálicos                                      64                 1,1               3.141.277                     34,7
Metalurgia Básica                                                                     37                 3,0               6.638.497                     43,3
Fabricação de Produtos de Metal                                                       88                 1,5               1.924.330                     26,2
Fabricação de Máquinas e Equipamentos                                                347                 8,9               7.398.514                     57,0
Fabricação de Máquinas para Escritório e Equipamentos de Informática                  20                12,9               2.186.754                     68,7
Fabricação de Máquinas, Aparelhos e Materiais Elétricos                              166                11,4               4.230.771                     73,0
Fabricação de Material Eletrônico e de Aparelhos e
Equipamentos de Comunicações                                                          64                11,9               6.051.749                     72,0
Fabricação de Equipamentos de Instrumentação Médico-Hospitalares,
Instrumentos de Precisão e Ópticos, Equipamentos para Automação
Industrial, Cronômetros e Relógios                                                    92                13,1                 810.873                     41,1
Fabricação e Montagem de Veículos Automotores, Reboques e Carrocerias                150                 8,6              12.802.864                     74,8
Fabricação de Outros Equipamentos de Transporte                                       23                 5,7               1.189.122                     30,3
Fabricação de Móveis e Indústrias Diversas                                            63                 1,0               1.005.384                     18,8
Reciclagem                                                                             5                 4,1                  36.208                     58,1
Fonte: IBGE (2002) Pintec 2000.




SÃO PAULO EM PERSPECTIVA, v. 19, n. 2, p.51-59, abr./jun. 2005                 53
SÉRGIO QUEIROZ / RUY     DE   QUADROS CARVALHO


produção de gravações; fabricação de móveis e indústri-                            possível identificar uma série de casos de filiais de
as diversas. A única e óbvia exceção é o setor de fabrica-                         multinacionais engajadas em atividades tecnológicas. O
ção de coque, refino de petróleo, elaboração de combus-                            setor automotivo ilustra bastante bem esse processo de
tíveis nucleares e produção de álcool – que é de grande                            acumulação gradativa de capacidades tecnológicas por
importância e tem baixa presença de multinacionais devi-                           parte de subsidiárias de empresas estrangeiras.
do à Petrobras.                                                                        Pode-se tomar como exemplo a General Motors do Bra-
                                                                                   sil – GMB, que começou nos anos 70 adquirindo a compe-
A ATUAÇÃO TECNOLÓGICA DAS EMNs                                                     tência de adaptar seus modelos às condições locais – os
                                                                                   automóveis lançados pela GMB eram projetados pela Opel,
    As recentes pesquisas de inovação realizadas no Bra-                           subsidiária alemã da corporação. No início dos anos 90, a
sil – Pintec (IBGE) e Paep (Seade) – mostraram que as                              filial brasileira já tinha avançado um pouco além desse pro-
filiais de EMNs, tomadas em conjunto, são bastante ati-                            cesso de adaptação, conhecido como “tropicalização” do
vas em P&D. Alguns estudos baseados nessas pesquisas                               veículo, e adquirido capacidades técnicas suficientes para
sugerem inclusive um esforço tecnológico dessas empre-                             a concepção local de derivativos baseados nos modelos Opel
sas, em média, mais intenso do que o das empresas de                               – como no caso do Corsa Sedan, do Corsa Picape e do Astra
capital nacional (COSTA; QUEIROZ, 2002).                                           Sedan. Em meados da década, a GMB iniciou o projeto
    Observando-se o gasto médio em atividades internas de                          “Arara Azul”, que resultou no modelo Celta, em que a equipe
P&D por classe de tamanho, constata-se que as companhias                           de desenvolvimento de produto foi envolvida em todas as
estrangeiras estão sempre à frente das nacionais (Tabela 4).                       suas fases. Por fim, no projeto da minivan compacta Meriva
No caso das grandes empresas (500 e mais empregados),                              o papel da GMB foi ainda mais proeminente. O conceito
essa diferença é a menor de todas, mas ainda assim o gasto                         foi proposto pela subsidiária brasileira e aceito pela
das estrangeiras é, em média, o dobro do das nacionais. Esse                       corporação como um derivativo global do novo Corsa. Pela
argumento precisa ser qualificado pelo fato de que o VTI                           primeira vez, o Brasil foi a base do desenvolvimento de um
médio das empresas estrangeiras é sistematicamente um                              projeto, de forma que a GMB assumiu a responsabilidade
múltiplo do VTI das nacionais do grupo equivalente: de 8                           pela coordenação de todos os seus estágios. Como resulta-
vezes no grupo das menores a 1,8, no das maiores. Assim,                           do, o carro foi lançado primeiramente no Brasil e só depois
mesmo não se podendo afirmar categoricamente que as                                na Europa, invertendo (também pela primeira vez) a seqüên-
empresas estrangeiras, descontado seu tamanho, despendam                           cia tradicional. Mesmo a Meriva não sendo uma nova pla-
em média mais em P&D do que as nacionais, pode-se pelo                             taforma, seu desenvolvimento implicou uma reengenharia
menos questionar o argumento convencional de que as                                significativa da plataforma do Corsa (CONSONI, 2004;
empresas multinacionais realizem esforço tecnológico in-                           CONSONI ; QUADROS, 2005).
ferior ao das empresas nacionais.                                                      Com ritmos e inflexões distintos, trajetórias semelhan-
    Saindo do panorama geral oferecido pelas pesquisas                             tes podem ser observadas em outras montadoras estabe-
de inovação para entrar em uma análise mais detalhada, é                           lecidas há mais tempo no país, como no caso da Volks-

                                                                         TABELA 4
                                  Atividades Internas de Pesquisa e Desenvolvimento, segundo Classes de Tamanho das Empresas
                                                                           Brasil – 2000


                                                       Nacional                                             Estrangeira
Classes de Tamanho                   Número de           Valor           Gasto Médio      Número de           Valor             Gasto Médio          B/A
                                     Empresas         (R$ 1.000)             (A)          Empresas          (R$ 1.000)               (B)
Total                                  6.655           2.019.779             303             757            1.721.793              2.274             7,5
De 10 a 99                             4.904            288.990               59             213                34.506               162             2,8
De 100 a 249                            832             169.241              203             182              111.908                615             3,0
De 250 a 499                            412             170.261              413             109              151.057              1.387             3,4
Com 500 e Mais                          507            1.391.287           2.745             254            1.424.322              5.618             2,0
Fonte: IBGE (2002) Pintec 2000.




                                                                             54                SÃO PAULO EM PERSPECTIVA, v. 19, n. 2, p.51-59, abr./jun. 2005
EMPRESAS MULTINACIONAIS      E I NOVAÇÃO   TECNOLÓGICA   NO   BRASIL


wagen, Fiat e Ford. Todas elas estão percorrendo esse                                primordialmente relacionadas com desenvolvimento ex-
caminho, esquematizado na Figura 1, que vai dos esfor-                               perimental (de produtos e processos) – em outros ter-
ços de tropicalização (limitada e avançada) à construção                             mos, o D da P&D. Raramente as funções de P&D de uma
de derivativos locais e por fim, de derivativos globais –                            subsidiária de empresa estrangeira no Brasil são diver-
nos quais o país assume a condição de sede de projeto                                sificadas o bastante para comportar atividade de pesqui-
dentro da corporação.                                                                sa tecnológica interna à empresa. Acrescente-se que a
   Em setores como o de telecomunicações e em certos                                 situação não é nada diferente na grande empresa indus-
segmentos da indústria de bens de capital, também exis-                              trial nacional que realiza P&D. E que essa situação é,
tem empresas estrangeiras que acumulam capacidades                                   em grande medida, responsável pela sempre sublinhada
tecnológicas relevantes. Por outro lado, em certos setores                           fragilidade de relacionamento das empresas industriais
amplamente dominados pelo capital estrangeiro, os esfor-                             brasileiras com universidades e outras instituições de
ços de P&D são muito limitados. O exemplo notório é o                                pesquisa. Quem não faz pesquisa não a demanda siste-
setor farmacêutico, em que pesem os recentes investimen-                             maticamente.
tos em pesquisa clínica realizados no país por diversas                                  De qualquer maneira, a partir dos casos comentados, o
multinacionais, esses esforços estão muito aquém do que                              argumento é que, quando a intenção é estimular o enga-
caracterizaria um engajamento mais substantivo em ativi-                             jamento das empresas estrangeiras em atividades de P&D
dades tecnológicas.                                                                  no país não se está partindo do zero. Oportunidades geradas
   Pelo lado dos limites, considere-se ainda que, nos ca-                            a partir do cenário internacional podem reforçar ainda mais
sos de maior engajamento, como o do setor automotivo                                 esse engajamento – mas também é preciso criar as condições
anteriormente comentado, as atividades tecnológicas são                              adequadas para aproveitar essas oportunidades.



                                                                            FIGURA 1
                                          Evolução das Capacidades das Subsidiárias Brasileiras de Montadoras de Automóveis



                   Capacidade de Tropicalização Limitada

                           Capacidade de Tropicalização Avançada

                                               Capacidade de Design de Derivativos



                                                              Capacidade de Sediar Projeto




Fonte: Adaptado de Consoni e Quadros (2003).




SÃO PAULO EM PERSPECTIVA, v. 19, n. 2, p.51-59, abr./jun. 2005                  55
SÉRGIO QUEIROZ / RUY   DE   QUADROS CARVALHO


A GLOBALIZAÇÃO DA TECNOLOGIA:                                                                                 GRÁFICO 1
OPORTUNIDADES PARA AMPLIAR AS                                                               Gasto em P&D de Filiais Estrangeiras
                                                                                            Países Selecionados – 1995-2001 (1)
ATIVIDADES DE P&D DAS EMNS

O Fenômeno da Globalização da Tecnologia

   A partir da década de 80, a expressão “globalização”
difundiu-se amplamente, designando um conjunto de fe-
nômenos nem sempre claramente interpretados. No âm-
bito das empresas, é possível observar um certo movimento
de integração mundial das funções corporativas. Partindo
da distinção entre indústrias multidomésticas e indústrias




                                                                                   Tch ública




                                                                                                                                nha
                                                                                                                  ido
                                                                                                 ália
                                                                                           ha




                                                                                                                                                         s
                                                                                                                                              da
                                                                       ia




                                                                                                                         á
                                                                             nda




                                                                                                                                       nça
                                                                                                         a




                                                                                                                                                                      cia
                                                                                                                                                        ido




                                                                                                                                                                             ão
                                                                                                                        nad
globais popularizada por Porter (1986), pode-se dizer que




                                                                                                        éci
                                                                      ngr




                                                                                       pan
                                                                                       eca




                                                                                                               Un




                                                                                                                                             lan




                                                                                                                                                               dia
                                                                                                                               ma
                                                                                                str




                                                                                                                                                                            Jap
                                                                                                                                                                     Gré
                                                                                                                                                       Un
                                                                                                                                      Fra
                                                                            Irla




                                                                                                        Su
                                                                                      p




                                                                                                                        Ca
                                                                     Hu




                                                                                                                                             Ho
                                                                                                Au
                                                                                    Es




                                                                                                                                                              lân
                                                                                                              ino




                                                                                                                              Ale
                                                                                   Re




                                                                                                                                                   os
a competição país a país, característica das indústrias




                                                                                                             Re




                                                                                                                                                            Fin
                                                                                                                                                  tad
                                                                                                                                                  Es
multidomésticas, passou a dar lugar à competição em es-
cala global, em que, para manter sua capacidade competi-           Fonte: OECD (2004). Base de dados AFA, maio 2004.
                                                                   (1) Ou ano mais próximo disponível.
tiva, as firmas são obrigadas a gerenciar suas atividades
internacionais de modo cada vez mais integrado. Para
Sachwald (1994), globalização é mais do que um aprofun-               Esses indicadores também revelam que, em alguns paí-
damento do processo de internacionalização das empre-              ses industrializados europeus que não exercem liderança
sas. Significa “a integração funcional de atividades geo-          tecnológica, como a Hungria, Irlanda e a República Tche-
graficamente dispersas das empresas multinacionais”. O             ca, os dispêndios em P&D das empresas estrangeiras é
resultado é que o todo é maior do que a soma das partes,           responsável pela maior parte do dispêndio total em P&D
isto é, as empresas globalmente integradas obtêm vanta-            no setor industrial.
gens competitivas frente àquelas que operam com filiais               Alguns trabalhos tratam da globalização da tecnologia
relativamente independentes e autônomas.                           com mais ceticismo. Primeiro, destacam o fato de que a
   Esse processo de integração abarca também as ativi-             função tecnológica é muito menos internacionalizada do que
dades tecnológicas – e, em particular, as de P&D, o que            outras corporativas, como produção ou vendas. Depois,
tem implicado tanto a maior articulação dessas atividades          sublinham a concentração do fenômeno nos países desenvol-
que estão dispersas por vários países, como também o               vidos, particularmente, na chamada “Tríade” – EUA, Japão
aumento da participação das filiais das EMNs no esforço            e Europa (PATEL; PAVITT, 1998; KUEMMERLE, 1999).
tecnológico global nos últimos anos, como apontam di-              De fato, dados de patentes de 359 das maiores empresas
versos trabalhos (OECD, 1998; DALTON; SERAPIO,                     mundiais no período de 1990-1994 mostram que as patentes
1999; KUEMMERLE, 1999; GRANSTRAND, 1999).                          registradas nos Estados Unidos, originárias das subsidiárias
   Dados do Bureau of Economic Analysis – BEA, do                  fora da “Tríade”, contabilizaram menos de 1% do total, ou
Departamento de Comércio dos EUA, registram que os                 7% da participação das filiais (MEYER-KRAHMER et al.,
gastos de P&D de filiais de empresas americanas no ex-             1998). Sendo assim, seria mais apropriado falar em
terior passaram de US$ 14,6 bilhões em 1998, para                  “triadização”, e não em “globalização” da tecnologia.
US$ 21,1 bilhões em 2002, portanto, houve um cresci-                  No entanto, cabe observar a grande velocidade com que
mento de 44%. Esses gastos também aumentaram como                  as mudanças têm ocorrido nos anos recentes. Os países
percentagem sobre as vendas das filiais, passando de               em desenvolvimento (PEDs), com destaque para China e
0,74%, em 1998, para 0,83%, em 2002.                               Índia, estão se tornando um destino privilegiado do in-
   O Gráfico 1 revela, para 15 países da Organisation for          vestimento direto estrangeiro (IDE) em tecnologia
Economic Co-operation and Development (OECD), uma                  (KUMAR, 2001; WALSH, 2003). De acordo com os da-
tendência quase generalizada de aumento da participação            dos do BEA, os gastos em P&D das filiais americanas de
da P&D das empresas estrangeiras no gasto total da P&D             EMNs fora do Canadá, Europa e Japão passaram de 10,7%
empresarial. Esse fato significa que, nesses países, a ati-        do total em 1998, para 15,0% em 1999, 17,8% no ano 2000
vidade de P&D das empresas estrangeiras cresce mais                e 20,3% em 2001. Assim, embora a parcela da P&D rea-
rapidamente do que a das empresas domésticas.                      lizada pelas EMNs fora da Tríade seja ainda relativamen-



                                                              56                       SÃO PAULO EM PERSPECTIVA, v. 19, n. 2, p.51-59, abr./jun. 2005
EMPRESAS MULTINACIONAIS   E I NOVAÇÃO   TECNOLÓGICA   NO   BRASIL


te pequena, ela é crescente, tendo praticamente dobrado                               Políticas Públicas para Atração de
no curto período 1998-2001.                                                           Atividades de P&D
   A intensidade da migração de atividades tecnológicas
para China e Índia nos últimos anos, originárias princi-                                 Análises sobre os determinantes da globalização da
palmente dos EUA, tem chamado a atenção para o fenô-                                  P&D apontam as políticas como fatores relevantes.
meno correlato da crescente subcontratação da P&D                                     Hakanson e Nobel (1993) destacam o papel dos incenti-
(BUSINESS WEEK, 2003; 2005). Os dois fenômenos –                                      vos políticos para atrair determinados tipos de P&D, prin-
o da realização de P&D no exterior (offshoring) e o da                                cipalmente aqueles relacionados a indústrias controladas
subcontratação da P&D (outsourcing) – muitas vezes apa-                               pelo governo, como telecomunicações ou equipamento
recem combinados.                                                                     militar. O próprio caso do Brasil sugere que os incentivos
   O Quadro 1 diferencia as questões de localização                                   da Política de Informática foram fundamentais na atração
geográfica e de externalização da P&D. Embora a                                       de investimentos em P&D de diversas EMNs nos setores
discussão sobre globalização da tecnologia esteja teorica-                            de telecomunicações e informática.
mente adstrita à situação do quarto quadrante (inferior à                                Entretanto, é preciso evitar o equívoco de reduzir as
esquerda), em que responsabilidades tecnológicas são                                  políticas de atração de atividades tecnológicas a incenti-
transferidas para filiais da própria empresa no exterior                              vos. Em certos casos, os incentivos são o fator decisivo,
(captive offshoring), a situação mostrada no terceiro                                 no sentido de promover o desempate na decisão de deter-
quadrante (inferior à direita), que combina offshoring com                            minado investimento entre este ou aquele país. Mas, iso-
outsourcing, também deve ser incluída na agenda, uma                                  ladamente, os incentivos não decidem a disputa – até por-
vez que, em termos dos efeitos sobre as economias                                     que são vistos como pouco estáveis, quando não são
hospedeiras (e sobre as economias de origem dos investi-                              explicitamente transitórios.
mentos), ambas são muito similares. Para um país inte-                                   Portanto, as políticas de atração devem ser abordadas
ressado em atrair investimentos tecnológicos de EMNs,                                 a partir de uma perspectiva ampla que vai da formação de
eles podem materializar-se tanto na forma de um centro                                recursos humanos de alto nível a incentivos eventuais,
de P&D da filial como na subcontratação de outras                                     passando por investimentos em infra-estrutura, pela polí-
empresas já estabelecidas localmente.                                                 tica de compras do Estado, pela divulgação e marketing
   Em suma, os fenômenos offshoring e outsourcing, com-                               do país, entre outros.
binados ou separadamente, criam oportunidades de inves-                                  Países como China, Índia, Taiwan, Irlanda, Israel,
timento em atividades tecnológicas também nos países em                               Cingapura, entre outros, têm sido bem-sucedidos nessa
desenvolvimento (PEDs). O Brasil tem boas condições                                   empreitada de atrair investimentos em P&D de EMNs em
para disputar esses investimentos. No entanto, é preciso                              boa medida por terem políticas nacionais focadas neste
promover permanentemente essas condições, tanto no sen-                               objetivo. O caso da China é exemplar de um país forte-
tido de melhorá-las cada vez mais como no de torná-las                                mente empenhado em atrair atividades corporativas mais
conhecidas entre os potenciais investidores.                                          avançadas para seu território. Venkitaramanan (2000)




                                                                           QUADRO 1
                                                        P&D Estabelecida em Outros Países e Subcontratada


Localização da P&D                                               Internalizada                                   Externalizada (Subcontratada)
País de Origem                                   P&D realizada dentro da empresa,                              P&D subcontratada de uma outra
                                                 no país de origem                                             empresa no país de origem
País Hospedeiro                                  P&D realizada pela filial de uma mesma                        P&D subcontratada de uma terceira
                                                 EMN, em outro país (chamado captive offshoring)                empresa no exterior:
                                                                                                               - para uma empresa local
                                                                                                               - para uma filial de outra EMN
Fonte: UNCTAD (2004b), adaptado de WIR (2004).




SÃO PAULO EM PERSPECTIVA, v. 19, n. 2, p.51-59, abr./jun. 2005                   57
SÉRGIO QUEIROZ / RUY   DE   QUADROS CARVALHO


mostra que os chineses vêm usando habilmente sua enor-             na o regime de propriedade intelectual – um fator certa-
me capacidade de atrair IDE produtivo para ampliar a               mente prioritário para empresas do setor farmacêutico –,
apropriação de tecnologias, negociando investimentos em            qual o melhor indicador para avaliar o grau de proteção
P&D como contrapartida do acesso a seu mercado. Polí-              oferecido pela legislação? Como avaliar a capacidade de
ticas de comércio, de compras governamentais e de                  fazer cumprir a lei, o chamado enforcement? E assim por
tecnologia são coordenadas com o sistema de aprovação              diante.
de investimento externo, de modo a desenvolver as capa-               Terceiro, deve-se acompanhar de perto o trabalho dos
cidades locais. Ao mesmo tempo, o país investe pesa-               “concorrentes”. Quais as políticas de promoção de ativi-
damente na formação de recursos humanos qualificados,              dades tecnológicas ou de atração de IDE que os países –
tanto internamente como no exterior.                               particularmente aqueles mais parecidos com o Brasil –
   Então, pergunta-se: no caso do Brasil, que pontos fun-          estão adotando?
damentais devem ser considerados por uma política que                 Quarto, a exemplo do que ocorre em relação à política
busque criar um ambiente favorável para que as EMNs                de informática, as demais políticas vigentes no país re-
possam investir em tecnologia?                                     querem avaliações periódicas e conclusivas sobre sua efi-
   Faltam estudos e conhecimento para responder ade-               cácia na atração de IDE em P&D, bem como de todos os
quadamente a essa questão. É preciso aprofundar o                  seus custos.
entendimento, por exemplo, da relação entre o compor-                 Enfim, esses pontos servem basicamente para iniciar
tamento das firmas e os fatores de atração de atividades           uma agenda de discussão sobre políticas de atração de IDE
tecnológicas para determinado país. O comportamento das            em P&D que precisa, antes de tudo, ser encampada pelo
firmas, por sua vez, está condicionado por características         poder público.
setoriais, associadas ao ambiente competitivo em que
atuam, e pelas estratégias globais de P&D, de caráter              CONSIDERAÇÕES FINAIS
individual. Esse conhecimento é essencial para orientar
corretamente sua política de atuação.                                  De modo geral, as políticas de promoção de atividades
   A despeito dessas dificuldades, é possível sugerir al-          tecnológicas nas empresas não tomam em consideração a
guns elementos que, à primeira vista, são importantes para         variável “origem do capital”. Esse artigo procura mostrar
uma política eficaz de atração de IDE em P&D.                      que os diversos fenômenos condicionantes do investimento
   Primeiro, a política deve atuar no nível da empresa –           em P&D das EMNs justificam um foco específico da po-
não no do setor e menos ainda em níveis mais agrega-               lítica de ação nessas empresas.
dos. É certo que algumas medidas de caráter amplo irão                 Evidentemente, não se trata de atribuir às empresas
favorecer genericamente os investimentos externos em               multinacionais a responsabilidade principal sobre o de-
atividades tecnológicas. Por exemplo, a formação de re-            senvolvimento tecnológico do país. Não lhes compete
cursos humanos de alto nível ou os investimentos em                substituir as empresas de capital nacional no que diz res-
infra-estrutura. Mas esse tipo de medida, embora neces-            peito ao esforço tecnológico. Estas, por sua vez, preci-
sário, é insuficiente. Situar a política no nível da empre-        sam assumir firmemente o objetivo de expandir suas ati-
sa significa identificar os alvos e definir ações sob me-          vidades de P&D – e isto, de certo modo, já está sendo
dida, estabelecendo, por exemplo, as áreas e subáreas              feito. A Embraer e a Petrobras talvez sejam os exemplos
em que é preciso investir na formação de doutores e                mais visíveis de sucesso ancorado em grande medida na
mestres, ou as estratégias de divulgação e marketing do            tecnologia desenvolvida internamente, mas existem mui-
país que sejam apropriadas para os alvos escolhidos.               tos outros casos de grandes empresas brasileiras engajadas
Afinal, cada empresa irá avaliar diferentemente a impor-           em crescentes esforços tecnológicos.
tância dos distintos fatores de atração, conforme as ne-               Mas a questão aqui é outra. Independentemente de qual-
cessidades ditadas pela concorrência que enfrenta e pe-            quer comparação entre a atividade tecnológica de empre-
las estratégias que adota.                                         sas nacionais e multinacionais, o que se argumenta é que
   Segundo, devem ser desenvolvidos indicadores apro-              as EMNs podem fazer mais do que já fazem. Políticas
priados para cada fator relevante de atração – seja para           adequadas permitiriam que o país aproveitasse melhor uma
avaliar seu estado atual, seja para estabelecer e acompa-          série de oportunidades surgidas em função do contexto
nhar metas de progresso. Por exemplo, quando se exami-             internacional. Por outro lado, as empresas estrangeiras



                                                              58              SÃO PAULO EM PERSPECTIVA, v. 19, n. 2, p.51-59, abr./jun. 2005
EMPRESAS MULTINACIONAIS   E I NOVAÇÃO   TECNOLÓGICA   NO   BRASIL


poderiam contribuir mais significativamente para refor-                  IBGE. Pesquisa Industrial – Inovação Tecnológica – Pintec 2000.
                                                                         Rio de Janeiro: 2002.
çar o sistema nacional de inovação, especialmente em
determinados setores nos quais já são um agente relevan-                 KUEMMERLE, W. Foreign direct investment in industrial research
                                                                         in the pharmaceutical and electronics industries – results from a
te. Por exemplo, poderiam diversificar suas funções de                   survey of multinational firms. Research Policy, v. 28, p. 179-193,
P&D de maneira a internalizar no Brasil uma parcela de                   1999.
sua demanda por conhecimento tecnológico novo.                           KUMAR, N. Developing country prospects for globalization of
    Para isso, é necessário que o governo se engaje na                   R&D. Science, Technology and Innovation. Viewpoint, 20 jun.
                                                                         2001. Disponível em:
disputa global pelo IDE em P&D atualmente em curso.                      <http://www.cid.harvard.edu/cidbiotech/comments/>.
As políticas nacionais têm um peso importante na definição               MEYER-KRAHMER, F. et al. Internationalisation of research and
dos resultados dessa disputa, especialmente em uma                       technology: Trends, issues and implications for science and
perspectiva de longo prazo em que haja empenho para                      technology policies in Europe. Brussels/ Luxembourg: OOPEC, July
                                                                         1998. 75p. (ETAN Working Paper, prepared for the European
transformar estruturalmente o ambiente favorável ao                      Commission).
investimento em tecnologia. Ademais, as políticas não                    OCDE. Science, Technology and Industry Outlook. Paris: OECD,
podem ser reduzidas a incentivos. Se, em determinados                    2004.
casos, os incentivos podem fazer a diferença frente a                    ________. Internationalisation of industrial R&D. Patterns and
concorrentes diretos, em outros, em que o país possui                    trends. Paris: OECD, 1998.
capacidades e vantagens para atrair investimentos em                     PATEL, P.; PAVITT, K. National systems of innovation under
tecnologia, uma política bem elaborada deverá conter a                   strain: the internationalisation of corporate R&D. Science Policy
                                                                         Research Unit, Brighton, University of Sussex, 1998 (draft).
oferta dos incentivos.
                                                                         PORTER, M.E. Competition in Global Industries: A Conceptual
                                                                         Framework. In: ________. Competition in global industries. Bos-
                                                                         ton: Harvard Business School Press, 1986.

                                                                         QUADROS, R.; FRANCO, E.; BERNARDES, R. Inovação
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS                                               tecnológica na indústria – Resultados da Paep e da Paer. In:
                                                                         VIOTTI, E.B.; MACEDO, M. (Org.). Indicadores de Ciência,
                                                                         Tecnologia e Inovação no Brasil. Campinas: Ed. da Unicamp, 2003.
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                                                                         SACHWALD, F. Mondialisation et systèmes nationaux. In:
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                                                                         the Chinese example. Business Line, 2000. Disponível em:
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QUIUM OF GERPISA – COMPANY ACTORS ON THE LOOK                            WALSH, K. Foreign High-Tech R&D in China: risks, rewards, and
OUT FOR NEW COMPROMISES: Developing GERPISA’s New                        implications for U.S.-China relations. The Henry L. Stimson Center,
Analytical Schema, 11., Paper… Paris, 11-13 June, 2003.                  2003. Disponível em:
                                                                         <http://www.stimson.org/techtransfer/pdf2Globalization.pdf>.
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                                                                         RUY DE QUADROs CARVALHO: Professor do Departamento de Política
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SÃO PAULO EM PERSPECTIVA, v. 19, n. 2, p.51-59, abr./jun. 2005      59

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As empresas multinacionais e a inovação tecnológica no Brasil

  • 1. EMPRESAS MULTINACIONAIS E I NOVAÇÃO TECNOLÓGICA NO BRASIL EMPRESAS MULTINACIONAIS E INOVAÇÃO TECNOLÓGICA NO BRASIL SÉRGIO QUEIROZ RUY DEQUADROS CARVALHO Resumo: O artigo discute o engajamento atual e potencial das empresas multinacionais em atividades tecnológicas no Brasil. Argumenta que a maior propensão dessas empresas em realizar atividades de pesquisa e desenvolvimento (P&D) fora de seus países de origem pode representar uma oportunidade para reforçar o sistema nacional de inovação. A implementação de políticas públicas pertinentes é uma condição importante para o sucesso dessa empreitada. Palavras-chave: Empresas multinacionais. Globalização da tecnologia. Políticas de promoção e atração de P&D. Abstract: The article examines the technological efforts carried out – presently and prospectively – by multinational enterprises in Brazil. It argues that these enterprises are willing to increase their R&D activities abroad which may represent an opportunity to Brazil to develop its national system of innovation. However, the adoption of appropriate policies is an important condition to succeed in this endeavour. Key words: Multinational enterprises. Globalization of technology. Foreign Direct Investment related policies. os anos recentes, vem-se consolidando no Brasil O elevado grau de internacionalização da economia N a percepção de que é preciso corrigir um dese- quilíbrio existente em nosso sistema nacional de inovação: sua excessiva dependência do setor público e brasileira é tradicionalmente invocado como uma das explicações para o baixo envolvimento das empresas com P&D. O argumento é que as empresas multinacionais dos gastos governamentais. O fraco engajamento das em- (EMNs) estrangeiras seriam essencialmente importadoras presas em atividades tecnológicas, particularmente em de tecnologia desenvolvida em seus países de origem, e pesquisa e desenvolvimento (P&D), é hoje visto como um assim não teriam por que realizar esforços de P&D local. problema que a política de ciência, tecnologia e inovação Nesse caso, as firmas nacionais arcariam com a maior parte (C,T&I) precisa resolver. Dados de pesquisas realizadas da responsabilidade pela promoção do desenvolvimento recentemente, como a Pesquisa Industrial da Inovação tecnológico. Tecnológica – Pintec (do Instituto Brasileiro de Geogra- Entretanto, como será mostrado adiante, o conjunto das fia e Estatística – IBGE) e a Pesquisa de Atividade Eco- subsidiárias de EMNs responde por parcela significativa nômica Paulista – Paep (da Fundação Sistema Estadual do esforço em P&D das empresas instaladas no país. Em de Análise de Dados – Seade), revelam que apenas 14% alguns setores, essas subsidiárias têm hoje um papel mui- das empresas inovadoras realizaram P&D contínuo em to destacado. Mais ainda, o que esse artigo pretende mos- 2000 (4,4% do total de empresas industriais da Pintec). trar é que elas podem ser induzidas a desempenhar um Ou que apenas 180 empresas industriais empregavam mais papel ainda mais relevante no sistema nacional de inova- de 10 empregados de nível superior em atividades perma- ção. Considerando as possibilidades de atrair para o Bra- nentes de P&D, em 1996 (QUADROS et al., 2003). sil mais investimento em tecnologia da parte dessas em- SÃO PAULO EM PERSPECTIVA, v. 19, n. 2, p.51-59, abr./jun. 2005 51
  • 2. SÉRGIO QUEIROZ / RUY DE QUADROS CARVALHO presas, presume-se que elas poderão contribuir para a desvalorização cambial do final de 1998, que resultou num correção do desequilíbrio acima apontado. salto no movimento de aquisição de empresas brasileiras O texto está estruturado em cinco intens, além desta por suas concorrentes multinacionais. introdução. O primeiro mostra que há forte penetração das EMNs na economia brasileira, especialmente em alguns TABELA 1 setores. O seguinte trata dos esforços tecnológicos dessas Fluxos de Investimento Direto Estrangeiro (IDE) empresas. O terceiro discute o fenômeno da globalização para o Brasil Brasil – 1992-2003 da tecnologia: como esta pode criar oportunidades de in- vestimento em P&D no Brasil e a importância das políti- cas públicas para o aproveitamento dessas oportunidades. Ano Em Milhões de Dólares O último item traz as considerações finais. 1992-1997 (Média Anual) 6.615 1998 28.865 A PRESENÇA DAS MULTINACIONAIS 1999 28.578 NO BRASIL 2000 32.779 2001 22.457 O fechamento ao comércio e a abertura ao capital são 2002 16.590 características marcantes da industrialização brasileira. As 2003 10.144 empresas estrangeiras assumiram um papel importante ao Fonte: Unctad (2004a). longo de nossa história, especialmente a partir da segun- da metade dos anos 50, quando o Plano de Metas do go- Como resultado, o estoque de IDE no Brasil cresceu verno Kubitschek configurou o tripé em que se apoiaria o significativamente e representa hoje cerca de um quarto pretendido “salto de cinqüenta anos em cinco”: governo, do PIB (Tabela 2). Esse valor, embora abaixo da média capital privado nacional e capital privado internacional. dos países em desenvolvimento (31,4% do PIB em 2003), Naquele momento, o investimento das empresas multina- é elevado quando se compara com países recentemente cionais impulsionou decisivamente certos segmentos da industrializados da Ásia como Coréia do Sul e Taiwan indústria – o setor automobilístico é o grande exemplo. (7,8% e 11,9% do PIB, respectivamente). Em suma, o peso Assim, em um padrão bastante típico da América Latina, das subsidiárias de empresas multinacionais na economia e em contraste com o que se observou em certos países do brasileira cresceu bastante nos últimos anos e atingiu um sudeste asiático, como a Coréia do Sul, as empresas de valor expressivo. capital estrangeiro instalaram-se solidamente no Brasil. Na segunda metade dos anos 90, ocorreu um cresci- TABELA 2 mento expressivo do investimento direto estrangeiro (IDE). Estoque de Investimento Direto Estrangeiro (IDE) Brasil – 1980-2003 Como se vê na Tabela 1, o país recebeu US$ 28,9 bilhões de IDE em 1998, versus uma média anual de US$ 6,6 bi- lhões no período entre 1992-1997. Esses investimentos Ano Em Milhões de Dólares % do PIB continuaram crescendo até 2000 e começaram a cair a 1980 17.480 7,4 partir daí, quando a economia brasileira estagnou: em 1985 25.664 11,5 2001, em função da crise energética; em 2002, pelo cená- 1990 37.143 8,0 rio político; e em 2003, um ano de recessão. Os dados 1995 41.696 5,9 preliminares de 2004 indicam uma recuperação que deve 2000 103.015 17,2 continuar em 2005. Acrescente-se ainda que a excepcio- 2002 100.847 22,3 nal expansão do IDE, entre 1998 e 2000, esteve, em gran- 2003 128.458 25,8 de medida, relacionada com dois movimentos complemen- Fonte: Unctad (2004a). tares de desnacionalização patrimonial. De um lado, as oportunidades criadas pelos programas de privatização Observando a presença das empresas de capital estran- federal e estaduais, em especial nos setores de telecomu- geiro por setores de atividade, constata-se uma variação nicações e energia elétrica. De outro, a atração à aquisi- muito grande. Somadas, elas representam 35% do VTI e ção de ativos privados, decorrrente da súbita e intensa apenas 3% do número total – o que indica um tamanho 52 SÃO PAULO EM PERSPECTIVA, v. 19, n. 2, p.51-59, abr./jun. 2005
  • 3. EMPRESAS MULTINACIONAIS E I NOVAÇÃO TECNOLÓGICA NO BRASIL médio muito superior ao das nacionais (IBGE, 2002). En- responsabilidade das multinacionais (Tabela 3). Os seto- tretanto, em setores como fabricação de produtos do fumo; res em que a participação dessas empresas é baixa (infe- de máquinas para escritório e equipamentos de informática; rior a 20%) são poucos e de limitada importância: fabri- de máquinas, aparelhos e materiais elétricos; de material cação de produtos têxteis; confecção de artigos do eletrônico e de aparelhos e equipamentos de comunica- vestuário e acessórios; preparação de couros e fabricação ções; e fabricação e montagem de veículos automotores, de artefatos de couro, artigos de viagem e calçados; fa- reboques e carrocerias mais de dois terços do VTI são de bricação de produtos de madeira; edição, impressão e re- TABELA 3 Participação das Empresas de Capital Estrangeiro na Base da Pintec, por Número e VTI, segundo Setores da CNAE Brasil – 2000 Empresas Estrangeiras VTI Setores da CNAE Nos Absolutos % do Total Em R$ 1.000 % do Total Total 2.218 3,1 87.429.896 35,0 Indústrias Extrativas 42 2,4 1.860.218 26,8 Indústrias de Transformação 2.176 3,1 85.569.677 35,3 Fabricação de Produtos Alimentícios e Bebidas 225 2,2 11.046.507 30,8 Fabricação de Produtos do Fumo 17 32,3 1.941.530 97,3 Fabricação de Produtos Têxteis 75 2,6 995.540 14,4 Confecção de Artigos do Vestuário e Acessórios 11 0,1 272.895 5,9 Preparação de Couros e Fabricação de Artefatos de Couro, Artigos de Viagem e Calçados 30 0,9 203.266 4,4 Fabricação de Produtos de Madeira 20 0,4 314.410 10,1 Fabricação de Celulose, Papel e Produtos de Papel 46 3,4 3.650.515 35,1 Edição, Impressão e Reprodução de Gravações 74 2,2 743.790 7,8 Fabricação de Coque, Refino de Petróleo, Elaboração de Combustíveis Nucleares e Produção de Álcool 19 10,0 286.353 0,8 Fabricação de Produtos Químicos 372 12,3 16.244.219 52,1 Fabricação de Artigos de Borracha e Plástico 166 3,9 2.454.312 30,0 Fabricação de Produtos de Minerais Não-Metálicos 64 1,1 3.141.277 34,7 Metalurgia Básica 37 3,0 6.638.497 43,3 Fabricação de Produtos de Metal 88 1,5 1.924.330 26,2 Fabricação de Máquinas e Equipamentos 347 8,9 7.398.514 57,0 Fabricação de Máquinas para Escritório e Equipamentos de Informática 20 12,9 2.186.754 68,7 Fabricação de Máquinas, Aparelhos e Materiais Elétricos 166 11,4 4.230.771 73,0 Fabricação de Material Eletrônico e de Aparelhos e Equipamentos de Comunicações 64 11,9 6.051.749 72,0 Fabricação de Equipamentos de Instrumentação Médico-Hospitalares, Instrumentos de Precisão e Ópticos, Equipamentos para Automação Industrial, Cronômetros e Relógios 92 13,1 810.873 41,1 Fabricação e Montagem de Veículos Automotores, Reboques e Carrocerias 150 8,6 12.802.864 74,8 Fabricação de Outros Equipamentos de Transporte 23 5,7 1.189.122 30,3 Fabricação de Móveis e Indústrias Diversas 63 1,0 1.005.384 18,8 Reciclagem 5 4,1 36.208 58,1 Fonte: IBGE (2002) Pintec 2000. SÃO PAULO EM PERSPECTIVA, v. 19, n. 2, p.51-59, abr./jun. 2005 53
  • 4. SÉRGIO QUEIROZ / RUY DE QUADROS CARVALHO produção de gravações; fabricação de móveis e indústri- possível identificar uma série de casos de filiais de as diversas. A única e óbvia exceção é o setor de fabrica- multinacionais engajadas em atividades tecnológicas. O ção de coque, refino de petróleo, elaboração de combus- setor automotivo ilustra bastante bem esse processo de tíveis nucleares e produção de álcool – que é de grande acumulação gradativa de capacidades tecnológicas por importância e tem baixa presença de multinacionais devi- parte de subsidiárias de empresas estrangeiras. do à Petrobras. Pode-se tomar como exemplo a General Motors do Bra- sil – GMB, que começou nos anos 70 adquirindo a compe- A ATUAÇÃO TECNOLÓGICA DAS EMNs tência de adaptar seus modelos às condições locais – os automóveis lançados pela GMB eram projetados pela Opel, As recentes pesquisas de inovação realizadas no Bra- subsidiária alemã da corporação. No início dos anos 90, a sil – Pintec (IBGE) e Paep (Seade) – mostraram que as filial brasileira já tinha avançado um pouco além desse pro- filiais de EMNs, tomadas em conjunto, são bastante ati- cesso de adaptação, conhecido como “tropicalização” do vas em P&D. Alguns estudos baseados nessas pesquisas veículo, e adquirido capacidades técnicas suficientes para sugerem inclusive um esforço tecnológico dessas empre- a concepção local de derivativos baseados nos modelos Opel sas, em média, mais intenso do que o das empresas de – como no caso do Corsa Sedan, do Corsa Picape e do Astra capital nacional (COSTA; QUEIROZ, 2002). Sedan. Em meados da década, a GMB iniciou o projeto Observando-se o gasto médio em atividades internas de “Arara Azul”, que resultou no modelo Celta, em que a equipe P&D por classe de tamanho, constata-se que as companhias de desenvolvimento de produto foi envolvida em todas as estrangeiras estão sempre à frente das nacionais (Tabela 4). suas fases. Por fim, no projeto da minivan compacta Meriva No caso das grandes empresas (500 e mais empregados), o papel da GMB foi ainda mais proeminente. O conceito essa diferença é a menor de todas, mas ainda assim o gasto foi proposto pela subsidiária brasileira e aceito pela das estrangeiras é, em média, o dobro do das nacionais. Esse corporação como um derivativo global do novo Corsa. Pela argumento precisa ser qualificado pelo fato de que o VTI primeira vez, o Brasil foi a base do desenvolvimento de um médio das empresas estrangeiras é sistematicamente um projeto, de forma que a GMB assumiu a responsabilidade múltiplo do VTI das nacionais do grupo equivalente: de 8 pela coordenação de todos os seus estágios. Como resulta- vezes no grupo das menores a 1,8, no das maiores. Assim, do, o carro foi lançado primeiramente no Brasil e só depois mesmo não se podendo afirmar categoricamente que as na Europa, invertendo (também pela primeira vez) a seqüên- empresas estrangeiras, descontado seu tamanho, despendam cia tradicional. Mesmo a Meriva não sendo uma nova pla- em média mais em P&D do que as nacionais, pode-se pelo taforma, seu desenvolvimento implicou uma reengenharia menos questionar o argumento convencional de que as significativa da plataforma do Corsa (CONSONI, 2004; empresas multinacionais realizem esforço tecnológico in- CONSONI ; QUADROS, 2005). ferior ao das empresas nacionais. Com ritmos e inflexões distintos, trajetórias semelhan- Saindo do panorama geral oferecido pelas pesquisas tes podem ser observadas em outras montadoras estabe- de inovação para entrar em uma análise mais detalhada, é lecidas há mais tempo no país, como no caso da Volks- TABELA 4 Atividades Internas de Pesquisa e Desenvolvimento, segundo Classes de Tamanho das Empresas Brasil – 2000 Nacional Estrangeira Classes de Tamanho Número de Valor Gasto Médio Número de Valor Gasto Médio B/A Empresas (R$ 1.000) (A) Empresas (R$ 1.000) (B) Total 6.655 2.019.779 303 757 1.721.793 2.274 7,5 De 10 a 99 4.904 288.990 59 213 34.506 162 2,8 De 100 a 249 832 169.241 203 182 111.908 615 3,0 De 250 a 499 412 170.261 413 109 151.057 1.387 3,4 Com 500 e Mais 507 1.391.287 2.745 254 1.424.322 5.618 2,0 Fonte: IBGE (2002) Pintec 2000. 54 SÃO PAULO EM PERSPECTIVA, v. 19, n. 2, p.51-59, abr./jun. 2005
  • 5. EMPRESAS MULTINACIONAIS E I NOVAÇÃO TECNOLÓGICA NO BRASIL wagen, Fiat e Ford. Todas elas estão percorrendo esse primordialmente relacionadas com desenvolvimento ex- caminho, esquematizado na Figura 1, que vai dos esfor- perimental (de produtos e processos) – em outros ter- ços de tropicalização (limitada e avançada) à construção mos, o D da P&D. Raramente as funções de P&D de uma de derivativos locais e por fim, de derivativos globais – subsidiária de empresa estrangeira no Brasil são diver- nos quais o país assume a condição de sede de projeto sificadas o bastante para comportar atividade de pesqui- dentro da corporação. sa tecnológica interna à empresa. Acrescente-se que a Em setores como o de telecomunicações e em certos situação não é nada diferente na grande empresa indus- segmentos da indústria de bens de capital, também exis- trial nacional que realiza P&D. E que essa situação é, tem empresas estrangeiras que acumulam capacidades em grande medida, responsável pela sempre sublinhada tecnológicas relevantes. Por outro lado, em certos setores fragilidade de relacionamento das empresas industriais amplamente dominados pelo capital estrangeiro, os esfor- brasileiras com universidades e outras instituições de ços de P&D são muito limitados. O exemplo notório é o pesquisa. Quem não faz pesquisa não a demanda siste- setor farmacêutico, em que pesem os recentes investimen- maticamente. tos em pesquisa clínica realizados no país por diversas De qualquer maneira, a partir dos casos comentados, o multinacionais, esses esforços estão muito aquém do que argumento é que, quando a intenção é estimular o enga- caracterizaria um engajamento mais substantivo em ativi- jamento das empresas estrangeiras em atividades de P&D dades tecnológicas. no país não se está partindo do zero. Oportunidades geradas Pelo lado dos limites, considere-se ainda que, nos ca- a partir do cenário internacional podem reforçar ainda mais sos de maior engajamento, como o do setor automotivo esse engajamento – mas também é preciso criar as condições anteriormente comentado, as atividades tecnológicas são adequadas para aproveitar essas oportunidades. FIGURA 1 Evolução das Capacidades das Subsidiárias Brasileiras de Montadoras de Automóveis Capacidade de Tropicalização Limitada Capacidade de Tropicalização Avançada Capacidade de Design de Derivativos Capacidade de Sediar Projeto Fonte: Adaptado de Consoni e Quadros (2003). SÃO PAULO EM PERSPECTIVA, v. 19, n. 2, p.51-59, abr./jun. 2005 55
  • 6. SÉRGIO QUEIROZ / RUY DE QUADROS CARVALHO A GLOBALIZAÇÃO DA TECNOLOGIA: GRÁFICO 1 OPORTUNIDADES PARA AMPLIAR AS Gasto em P&D de Filiais Estrangeiras Países Selecionados – 1995-2001 (1) ATIVIDADES DE P&D DAS EMNS O Fenômeno da Globalização da Tecnologia A partir da década de 80, a expressão “globalização” difundiu-se amplamente, designando um conjunto de fe- nômenos nem sempre claramente interpretados. No âm- bito das empresas, é possível observar um certo movimento de integração mundial das funções corporativas. Partindo da distinção entre indústrias multidomésticas e indústrias Tch ública nha ido ália ha s da ia á nda nça a cia ido ão nad globais popularizada por Porter (1986), pode-se dizer que éci ngr pan eca Un lan dia ma str Jap Gré Un Fra Irla Su p Ca Hu Ho Au Es lân ino Ale Re os a competição país a país, característica das indústrias Re Fin tad Es multidomésticas, passou a dar lugar à competição em es- cala global, em que, para manter sua capacidade competi- Fonte: OECD (2004). Base de dados AFA, maio 2004. (1) Ou ano mais próximo disponível. tiva, as firmas são obrigadas a gerenciar suas atividades internacionais de modo cada vez mais integrado. Para Sachwald (1994), globalização é mais do que um aprofun- Esses indicadores também revelam que, em alguns paí- damento do processo de internacionalização das empre- ses industrializados europeus que não exercem liderança sas. Significa “a integração funcional de atividades geo- tecnológica, como a Hungria, Irlanda e a República Tche- graficamente dispersas das empresas multinacionais”. O ca, os dispêndios em P&D das empresas estrangeiras é resultado é que o todo é maior do que a soma das partes, responsável pela maior parte do dispêndio total em P&D isto é, as empresas globalmente integradas obtêm vanta- no setor industrial. gens competitivas frente àquelas que operam com filiais Alguns trabalhos tratam da globalização da tecnologia relativamente independentes e autônomas. com mais ceticismo. Primeiro, destacam o fato de que a Esse processo de integração abarca também as ativi- função tecnológica é muito menos internacionalizada do que dades tecnológicas – e, em particular, as de P&D, o que outras corporativas, como produção ou vendas. Depois, tem implicado tanto a maior articulação dessas atividades sublinham a concentração do fenômeno nos países desenvol- que estão dispersas por vários países, como também o vidos, particularmente, na chamada “Tríade” – EUA, Japão aumento da participação das filiais das EMNs no esforço e Europa (PATEL; PAVITT, 1998; KUEMMERLE, 1999). tecnológico global nos últimos anos, como apontam di- De fato, dados de patentes de 359 das maiores empresas versos trabalhos (OECD, 1998; DALTON; SERAPIO, mundiais no período de 1990-1994 mostram que as patentes 1999; KUEMMERLE, 1999; GRANSTRAND, 1999). registradas nos Estados Unidos, originárias das subsidiárias Dados do Bureau of Economic Analysis – BEA, do fora da “Tríade”, contabilizaram menos de 1% do total, ou Departamento de Comércio dos EUA, registram que os 7% da participação das filiais (MEYER-KRAHMER et al., gastos de P&D de filiais de empresas americanas no ex- 1998). Sendo assim, seria mais apropriado falar em terior passaram de US$ 14,6 bilhões em 1998, para “triadização”, e não em “globalização” da tecnologia. US$ 21,1 bilhões em 2002, portanto, houve um cresci- No entanto, cabe observar a grande velocidade com que mento de 44%. Esses gastos também aumentaram como as mudanças têm ocorrido nos anos recentes. Os países percentagem sobre as vendas das filiais, passando de em desenvolvimento (PEDs), com destaque para China e 0,74%, em 1998, para 0,83%, em 2002. Índia, estão se tornando um destino privilegiado do in- O Gráfico 1 revela, para 15 países da Organisation for vestimento direto estrangeiro (IDE) em tecnologia Economic Co-operation and Development (OECD), uma (KUMAR, 2001; WALSH, 2003). De acordo com os da- tendência quase generalizada de aumento da participação dos do BEA, os gastos em P&D das filiais americanas de da P&D das empresas estrangeiras no gasto total da P&D EMNs fora do Canadá, Europa e Japão passaram de 10,7% empresarial. Esse fato significa que, nesses países, a ati- do total em 1998, para 15,0% em 1999, 17,8% no ano 2000 vidade de P&D das empresas estrangeiras cresce mais e 20,3% em 2001. Assim, embora a parcela da P&D rea- rapidamente do que a das empresas domésticas. lizada pelas EMNs fora da Tríade seja ainda relativamen- 56 SÃO PAULO EM PERSPECTIVA, v. 19, n. 2, p.51-59, abr./jun. 2005
  • 7. EMPRESAS MULTINACIONAIS E I NOVAÇÃO TECNOLÓGICA NO BRASIL te pequena, ela é crescente, tendo praticamente dobrado Políticas Públicas para Atração de no curto período 1998-2001. Atividades de P&D A intensidade da migração de atividades tecnológicas para China e Índia nos últimos anos, originárias princi- Análises sobre os determinantes da globalização da palmente dos EUA, tem chamado a atenção para o fenô- P&D apontam as políticas como fatores relevantes. meno correlato da crescente subcontratação da P&D Hakanson e Nobel (1993) destacam o papel dos incenti- (BUSINESS WEEK, 2003; 2005). Os dois fenômenos – vos políticos para atrair determinados tipos de P&D, prin- o da realização de P&D no exterior (offshoring) e o da cipalmente aqueles relacionados a indústrias controladas subcontratação da P&D (outsourcing) – muitas vezes apa- pelo governo, como telecomunicações ou equipamento recem combinados. militar. O próprio caso do Brasil sugere que os incentivos O Quadro 1 diferencia as questões de localização da Política de Informática foram fundamentais na atração geográfica e de externalização da P&D. Embora a de investimentos em P&D de diversas EMNs nos setores discussão sobre globalização da tecnologia esteja teorica- de telecomunicações e informática. mente adstrita à situação do quarto quadrante (inferior à Entretanto, é preciso evitar o equívoco de reduzir as esquerda), em que responsabilidades tecnológicas são políticas de atração de atividades tecnológicas a incenti- transferidas para filiais da própria empresa no exterior vos. Em certos casos, os incentivos são o fator decisivo, (captive offshoring), a situação mostrada no terceiro no sentido de promover o desempate na decisão de deter- quadrante (inferior à direita), que combina offshoring com minado investimento entre este ou aquele país. Mas, iso- outsourcing, também deve ser incluída na agenda, uma ladamente, os incentivos não decidem a disputa – até por- vez que, em termos dos efeitos sobre as economias que são vistos como pouco estáveis, quando não são hospedeiras (e sobre as economias de origem dos investi- explicitamente transitórios. mentos), ambas são muito similares. Para um país inte- Portanto, as políticas de atração devem ser abordadas ressado em atrair investimentos tecnológicos de EMNs, a partir de uma perspectiva ampla que vai da formação de eles podem materializar-se tanto na forma de um centro recursos humanos de alto nível a incentivos eventuais, de P&D da filial como na subcontratação de outras passando por investimentos em infra-estrutura, pela polí- empresas já estabelecidas localmente. tica de compras do Estado, pela divulgação e marketing Em suma, os fenômenos offshoring e outsourcing, com- do país, entre outros. binados ou separadamente, criam oportunidades de inves- Países como China, Índia, Taiwan, Irlanda, Israel, timento em atividades tecnológicas também nos países em Cingapura, entre outros, têm sido bem-sucedidos nessa desenvolvimento (PEDs). O Brasil tem boas condições empreitada de atrair investimentos em P&D de EMNs em para disputar esses investimentos. No entanto, é preciso boa medida por terem políticas nacionais focadas neste promover permanentemente essas condições, tanto no sen- objetivo. O caso da China é exemplar de um país forte- tido de melhorá-las cada vez mais como no de torná-las mente empenhado em atrair atividades corporativas mais conhecidas entre os potenciais investidores. avançadas para seu território. Venkitaramanan (2000) QUADRO 1 P&D Estabelecida em Outros Países e Subcontratada Localização da P&D Internalizada Externalizada (Subcontratada) País de Origem P&D realizada dentro da empresa, P&D subcontratada de uma outra no país de origem empresa no país de origem País Hospedeiro P&D realizada pela filial de uma mesma P&D subcontratada de uma terceira EMN, em outro país (chamado captive offshoring) empresa no exterior: - para uma empresa local - para uma filial de outra EMN Fonte: UNCTAD (2004b), adaptado de WIR (2004). SÃO PAULO EM PERSPECTIVA, v. 19, n. 2, p.51-59, abr./jun. 2005 57
  • 8. SÉRGIO QUEIROZ / RUY DE QUADROS CARVALHO mostra que os chineses vêm usando habilmente sua enor- na o regime de propriedade intelectual – um fator certa- me capacidade de atrair IDE produtivo para ampliar a mente prioritário para empresas do setor farmacêutico –, apropriação de tecnologias, negociando investimentos em qual o melhor indicador para avaliar o grau de proteção P&D como contrapartida do acesso a seu mercado. Polí- oferecido pela legislação? Como avaliar a capacidade de ticas de comércio, de compras governamentais e de fazer cumprir a lei, o chamado enforcement? E assim por tecnologia são coordenadas com o sistema de aprovação diante. de investimento externo, de modo a desenvolver as capa- Terceiro, deve-se acompanhar de perto o trabalho dos cidades locais. Ao mesmo tempo, o país investe pesa- “concorrentes”. Quais as políticas de promoção de ativi- damente na formação de recursos humanos qualificados, dades tecnológicas ou de atração de IDE que os países – tanto internamente como no exterior. particularmente aqueles mais parecidos com o Brasil – Então, pergunta-se: no caso do Brasil, que pontos fun- estão adotando? damentais devem ser considerados por uma política que Quarto, a exemplo do que ocorre em relação à política busque criar um ambiente favorável para que as EMNs de informática, as demais políticas vigentes no país re- possam investir em tecnologia? querem avaliações periódicas e conclusivas sobre sua efi- Faltam estudos e conhecimento para responder ade- cácia na atração de IDE em P&D, bem como de todos os quadamente a essa questão. É preciso aprofundar o seus custos. entendimento, por exemplo, da relação entre o compor- Enfim, esses pontos servem basicamente para iniciar tamento das firmas e os fatores de atração de atividades uma agenda de discussão sobre políticas de atração de IDE tecnológicas para determinado país. O comportamento das em P&D que precisa, antes de tudo, ser encampada pelo firmas, por sua vez, está condicionado por características poder público. setoriais, associadas ao ambiente competitivo em que atuam, e pelas estratégias globais de P&D, de caráter CONSIDERAÇÕES FINAIS individual. Esse conhecimento é essencial para orientar corretamente sua política de atuação. De modo geral, as políticas de promoção de atividades A despeito dessas dificuldades, é possível sugerir al- tecnológicas nas empresas não tomam em consideração a guns elementos que, à primeira vista, são importantes para variável “origem do capital”. Esse artigo procura mostrar uma política eficaz de atração de IDE em P&D. que os diversos fenômenos condicionantes do investimento Primeiro, a política deve atuar no nível da empresa – em P&D das EMNs justificam um foco específico da po- não no do setor e menos ainda em níveis mais agrega- lítica de ação nessas empresas. dos. É certo que algumas medidas de caráter amplo irão Evidentemente, não se trata de atribuir às empresas favorecer genericamente os investimentos externos em multinacionais a responsabilidade principal sobre o de- atividades tecnológicas. Por exemplo, a formação de re- senvolvimento tecnológico do país. Não lhes compete cursos humanos de alto nível ou os investimentos em substituir as empresas de capital nacional no que diz res- infra-estrutura. Mas esse tipo de medida, embora neces- peito ao esforço tecnológico. Estas, por sua vez, preci- sário, é insuficiente. Situar a política no nível da empre- sam assumir firmemente o objetivo de expandir suas ati- sa significa identificar os alvos e definir ações sob me- vidades de P&D – e isto, de certo modo, já está sendo dida, estabelecendo, por exemplo, as áreas e subáreas feito. A Embraer e a Petrobras talvez sejam os exemplos em que é preciso investir na formação de doutores e mais visíveis de sucesso ancorado em grande medida na mestres, ou as estratégias de divulgação e marketing do tecnologia desenvolvida internamente, mas existem mui- país que sejam apropriadas para os alvos escolhidos. tos outros casos de grandes empresas brasileiras engajadas Afinal, cada empresa irá avaliar diferentemente a impor- em crescentes esforços tecnológicos. tância dos distintos fatores de atração, conforme as ne- Mas a questão aqui é outra. Independentemente de qual- cessidades ditadas pela concorrência que enfrenta e pe- quer comparação entre a atividade tecnológica de empre- las estratégias que adota. sas nacionais e multinacionais, o que se argumenta é que Segundo, devem ser desenvolvidos indicadores apro- as EMNs podem fazer mais do que já fazem. Políticas priados para cada fator relevante de atração – seja para adequadas permitiriam que o país aproveitasse melhor uma avaliar seu estado atual, seja para estabelecer e acompa- série de oportunidades surgidas em função do contexto nhar metas de progresso. Por exemplo, quando se exami- internacional. Por outro lado, as empresas estrangeiras 58 SÃO PAULO EM PERSPECTIVA, v. 19, n. 2, p.51-59, abr./jun. 2005
  • 9. EMPRESAS MULTINACIONAIS E I NOVAÇÃO TECNOLÓGICA NO BRASIL poderiam contribuir mais significativamente para refor- IBGE. Pesquisa Industrial – Inovação Tecnológica – Pintec 2000. Rio de Janeiro: 2002. çar o sistema nacional de inovação, especialmente em determinados setores nos quais já são um agente relevan- KUEMMERLE, W. Foreign direct investment in industrial research in the pharmaceutical and electronics industries – results from a te. Por exemplo, poderiam diversificar suas funções de survey of multinational firms. Research Policy, v. 28, p. 179-193, P&D de maneira a internalizar no Brasil uma parcela de 1999. sua demanda por conhecimento tecnológico novo. KUMAR, N. Developing country prospects for globalization of Para isso, é necessário que o governo se engaje na R&D. Science, Technology and Innovation. Viewpoint, 20 jun. 2001. Disponível em: disputa global pelo IDE em P&D atualmente em curso. <http://www.cid.harvard.edu/cidbiotech/comments/>. As políticas nacionais têm um peso importante na definição MEYER-KRAHMER, F. et al. Internationalisation of research and dos resultados dessa disputa, especialmente em uma technology: Trends, issues and implications for science and perspectiva de longo prazo em que haja empenho para technology policies in Europe. Brussels/ Luxembourg: OOPEC, July 1998. 75p. (ETAN Working Paper, prepared for the European transformar estruturalmente o ambiente favorável ao Commission). investimento em tecnologia. Ademais, as políticas não OCDE. Science, Technology and Industry Outlook. Paris: OECD, podem ser reduzidas a incentivos. Se, em determinados 2004. casos, os incentivos podem fazer a diferença frente a ________. Internationalisation of industrial R&D. Patterns and concorrentes diretos, em outros, em que o país possui trends. Paris: OECD, 1998. capacidades e vantagens para atrair investimentos em PATEL, P.; PAVITT, K. National systems of innovation under tecnologia, uma política bem elaborada deverá conter a strain: the internationalisation of corporate R&D. Science Policy Research Unit, Brighton, University of Sussex, 1998 (draft). oferta dos incentivos. PORTER, M.E. Competition in Global Industries: A Conceptual Framework. In: ________. Competition in global industries. Bos- ton: Harvard Business School Press, 1986. QUADROS, R.; FRANCO, E.; BERNARDES, R. Inovação REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS tecnológica na indústria – Resultados da Paep e da Paer. In: VIOTTI, E.B.; MACEDO, M. (Org.). Indicadores de Ciência, Tecnologia e Inovação no Brasil. Campinas: Ed. da Unicamp, 2003. BUSINESS WEEK. Outsourcing innovation, 21 mar. 2005. SACHWALD, F. Mondialisation et systèmes nationaux. In: ________. The rise of India, 8 dez. 2003. SACHWAL, F. Les défis de la mondialisation – Innovation et con- CONSONI, F. Da tropicalização ao projeto de veículos: um estudo currence. 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