1. UNIVERDIDADE DO ESTADO DA BAHIA
DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS HUMANAS – CAMPUS IV
COLEGIADO DE GEOGRAFIA
ESTÁGIO SUPERVISIONADO IV
TEMA: CLIMATOLOGIA BRASILEIRA
ESTAGIÁRIAS: ADRIELLE VALOIS E SAANE CARVALHO
Nordeste: a indústria da seca
Trata-se de um fenômeno natural, caracterizado pelo atraso na precipitação
de chuvas ou a sua distribuição irregular, que acaba prejudicando o crescimento ou
desenvolvimento das plantações agrícolas.
O problema não é novo, nem exclusivo do Nordeste brasileiro. Ocorre com
freqüência, apresenta uma relativa periodicidade e pode ser previsto com uma certa
antecedência. A seca incide no Brasil, assim como pode atingir a África, a Ásia, a
Austrália e a América do Norte.
No Nordeste, de acordo com registros históricos, o fenômeno aparece com
intervalos próximos a dez anos, podendo se prolongar por períodos de três, quatro
e, excepcionalmente, até cinco anos. As secas são conhecidas, no Brasil, desde o
século XVI.
As chuvas no semi-árido nordestino normalmente ocorrem de dezembro a
abril. Quando elas não chegam até março, é sinal de que haverá seca. Muitas vezes
fica sem chover dois ou três anos; em casos excepcionais, a falta de chuvas pode
durar até cinco anos, como aconteceu de 1979 a 1984.
A seca se manifesta com intensidades diferentes. Quando há uma deficiência
acentuada na quantidade de chuvas no ano, inferior ao mínimo do que necessitam
as plantações, a seca é absoluta. Em outros casos, quando as chuvas são
suficientes apenas para cobrir de folhas mas não permitem o desenvolvimento
normal dos plantios agrícolas, dá-se a seca verde.
2. Essas variações climáticas prejudicam o crescimento das plantações e
acabam provocando um sério problema social, uma vez que expressivo contingente
de pessoas que habita a região vive, verdadeiramente, em situação de extrema
pobreza.
A seca é o resultado da interação de vários fatores, alguns externos à região
(como o processo de circulação dos ventos e as correntes marinhas, que se
relacionam com o movimento atmosférico, impedindo a formação de chuvas em
determinados locais), e de outros internos (como a vegetação pouco robusta, a
topografia e a alta refletividade do solo).
Muitas têm sido as causas apontadas, tais como o desflorestamento,
temperatura da região, quantidade de chuvas, relevo topográfico e manchas solares.
Ressalte-se, ainda, o fenômeno "El Niño", que consiste no aumento da temperatura
das águas do Oceano Pacífico, ao largo do litoral do Peru e do Equador.
A ação do homem também tem contribuído para agravar a questão, pois a
constante destruição da vegetação natural por meio de queimadas acarreta a
expansão do clima semi-árido para áreas onde anteriormente ele não existia.
A seca é um fenômeno ecológico que se manifesta na redução da produção
agropecuária, provoca uma crise social e se transforma em um problema político.
As conseqüências mais evidentes das grandes secas são a fome, a
desnutrição, a miséria e a migração para os centros urbanos (êxodo rural).
Geralmente o problema da seca costuma ser exagerado, de tal maneira que a
maioria das pessoas pensa que ela é a maior causa da pobreza no Nordeste. Na
verdade, o problema principal do Nordeste é de ordem social e tem origem não na
escassez ou falta de chuvas, mas na desigual distribuição da terra e da renda
gerada na região. Ao transformar a seca na grande culpada pelos males
nordestinos, está-se criando o chamando “mito da seca”.
Simultaneamente, existe a tão falada mas nunca erradicada “indústria da
seca”. Trata-se de um conjunto de expedientes ou procedimentos de poderosos
3. grupos nordestinos que se valem do fenômeno e sobretudo do mito da seca para
colherem benefícios governamentais em proveito próprio.
A questão da seca não se resume à falta de água. A rigor, não falta água no
Nordeste. Faltam soluções para resolver a sua má distribuição e as dificuldades de
seu aproveitamento. É "necessário desmistificar a seca como elemento
desestabilizador da economia e da vida social nordestina e como fonte de elevadas
despesas para a União ...desmistificar a idéia de que a seca, sendo um fenômeno
natural, é responsável pela fome e pela miséria que dominam na região, como se
esses elementos estivessem presentes só aí".
Alimentando de forma dramática o noticiário sobre a seca veiculado pelos
meios de comunicação, esses grupos conseguem obter do governo verbas e
auxílios a título de socorro às regiões atingidas pela falta de chuvas.
Porém, a ajuda governamental beneficia muito mais os membros de tais
grupos do que a população efetivamente castigada pela seca. Ao controlarem a
distribuição do dinheiro recebido, fazendeiros e políticos de influência – vereadores,
deputados etc. – manipulam a ajuda a ser concedida, dirigindo-a para pessoas e
lugares de onde possam obter vantagens ou favores: afilhados ou parentes, redutos
eleitorais, etc. Ao mesmo tempo, sob a argumento de que ficaram arruinados com a
seca, empresários não só deixam de pagar suas dividas bancárias, como ainda
conseguem novos empréstimos em condições especiais.
No que se refere às tentativas de solução do problema, o governo é
influenciado a conseguir grandes obras, como barragens e enormes açudes, que
consomem formidáveis verbas públicas. A maior parte dessas verbas vai para o
pagamento das empresas construtoras, muitas vezes ligadas direta ou indiretamente
a pessoas que fazem parte dos grupos dominantes regionais. Além disso, as obras
grandiosas geralmente beneficiam apenas aos grandes fazendeiros e não aos que
realmente sofrem com a seca – os pequenos produtores. Quando de pequeno porte,
os açudes construídos pelo governo são feitos em terras de grandes fazendeiros,
que integram os grupos favorecidos pela “indústria da seca”.
4. Nessas condições, não é de estranhar que o problema das secas não se
resolva. Sua efetiva solução deitaria por terra os interesses mesquinhos de grupos
poderosos, que conseguem vantagens com a pobreza e o sofrimento de milhares de
nordestinos.
A tragédia da seca encobre interesses escusos daqueles que têm influência
política ou são economicamente poderosos, que procuram eternizar o problema e
impedir que ações eficazes sejam adotadas. A idéia de resolver o problema da água
no semi-árido foi, basicamente, a diretriz traçada pelo Governo Federal para o
Nordeste e prevaleceu, pelo menos, até meados de 1945. Na época em que a
Constituição brasileira de 1946 estabeleceu a reserva no orçamento do Governo de
3% da arrecadação fiscal para gastos na região nordestina, nascia nova postura
distinta da solução hidráulica na política anti-seca, abandonando-se a ênfase em
obras em função do aproveitamento mais racional dos recursos.
Como ações emergenciais, tem-se apelado para a distribuição de alimentos,
por meio de cestas básicas e frentes de trabalho, criadas para dar serviço aos
desempregados durante o período de duração das secas, dirigidas para a
construção de estradas, açudes, pontes.
Não é possível se eliminar um fenômeno natural. As secas vão continuar
existindo. Mas é possível conviver com o problema. O Nordeste é viável. Seus
maiores problemas são provenientes mais da ação ou omissão dos homens e da
concepção da sociedade que foi implantada, do que propriamente das secas de que
é vítima.
Soluções implicam a adoção de uma política oficial para a região, que
respeite a realidade em que vive o nordestino, dando-lhes condições de acesso à
terra e ao trabalho. Não pode ser esquecida a questão do gerenciamento das
diretrizes adotadas, diante da diversidade de órgãos que lidam com o assunto.
Medidas estruturadoras e concretas são necessárias para que os dramas das secas
não continuem a ser vivenciados.
Autoria: Silvana Bahia Alves
5. Referências
MOREIRA, João Carlos / SENA, Eustáquio de. “Trilhas da Geografia – O passado e o
presente. Volume 6.
http://www.fundaj.gov.br/docs/pe/pe0114.html