Este documento apresenta uma coletânea de poemas de diversos autores da cidade de Capão Bonito, São Paulo. A coletânea reúne poemas de temática variada como amor, saudade, solidão e reflexões sobre a vida. Ao todo, são apresentados poemas de 11 autores diferentes da região, dando visibilidade à produção poética local.
1. Versos Gameleiros
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COLETÂNEA POÉTICA
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4. Prefácio
O poeta Fernando Pessoa, em ditosos versos, exalta que o rio
que corre em nossa aldeia é muito mais belo e importante e que, invaria-
velmente, é a nossa aldeia o depositário em que permanecem os regis-
tros dos momentos inesquecíveis, das coisas inexplicáveis e das pessoas
incomparáveis.
Corroborando esta assertiva há uma certa pessoa, em minha “al-
deia”, que tem o condão de estar sempre e agradavelmente nos surpre-
endendo.
Só para cismar, pontuo até como uma premonição, o dia em que
a Folha de SP em meados dos anos cinqüenta, especialmente num dia 7
,
de Setembro, quando veio estampado na Página do Interior com a
legenda Comemoração da Semana da Pátria, uma foto tirada em nosso
campo de terra do Ipiranga. Nessa foto, os alunos todos vestidos de
branco formavam uma pirâmide em que figurava no topo, o aluno
Juraci Braz das Chagas.
Embora denegue até hoje a importância daquele lugar ocupado,
modestamente, ele atribui tal destaque ao fato de que era o menor da
turma. Contudo, o conjunto de sua obra teima sempre em indicar o con-
trário.
Há, entretanto, para demovê-lo de sua incorrigível modéstia, o
seu singelo Projeto Cultural e Filantrópico, bem-vindo como um bom
vento, que busca recolher os melhores poemas de nossa “aldeia” em
uma bem cuidada “Coletânea de Versos Gameleiros”.
Trata-se de uma delicada obra incorporada pelos poemas de
mais dez novos talentos, compondo um verdadeiro time para ocupar
um espaço nunca antes sonhado, de poder expor e veicular seus poemas.
Por outro lado, isso proporciona a todos nós, a gratíssima e
importante oportunidade de conhecermos o trabalho e as novas poesias
destes moços e moças, gameleiros de raízes desta cidade, neste livro que
integra a primeira fase do “Projeto Cultural e Filantrópico Gameleiro”.
Como as coisas desta vida só são lindas se sentidas pelo coração,
há, no lançamento deste livro, a grande esperança de que esse senti-
mento alcance a sensibilidade dos leitores que é, também, o objeto
maior deste candente resgate telúrico.
Antonio Isidoro de Oliveira, Capão-bonitense e gameleiro.
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6. Versos Gameleiros
Agatha
Fabiane Paixão
Entre meio as borboletas azuis
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7. Versos Gameleiros
BIOGRAFIA
Entre meio as borboletas azuis,
Pelo fato de que um dia no meio do caminho
Elas voaram causando euforia.
Chamo-me Agatha Fabiane Santiago da Paixão, nasci
em Intervales numa manhã de frio e céu extremamente azul
no dia 18 de junho de 1989, faço parte de um grupo de
jovens denominado CJ (Coletivo Jovem do meio ambiente).
Comecei a me interessar a escrever quando numa
tarde de verão eu e mais dois amigos saímos pelas ruas de
Capão Bonito escrevendo juntos um poema; a partir daí
fundamos o grupo de poetas Vanguarda Contemporânea.
Logo começamos a participar do jornal Freguesia Velha, e essa
é minha primeira publicação em um livro.
Às vezes falar
Não adianta
Olhar
Não acalma
Abraço
Não ameniza
Escrever às vezes basta.
Agatha Fabiane Paixão
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8. Versos Gameleiros
DIA
Afeto, carinho...
Framboesas no caminho
Chuva de pétalas
Que caem suavemente
Como se à tarde
Fosse sempre assim
Sucumbiu no tempo
O aroma de mate
As ondas do rádio atravessam
Os livros
Nós ali... sentados.
Agatha Fabiane Paixão
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9. Versos Gameleiros
VENTO
Na janela
Eu sinto
O que sempre
Sentia antes
A solidão ditosa
Liberdade
Luzes
Apagadas
Das casas
Apenas as luzes
Dos postes
Lembro de seu
Beijo
Teus lábios
Doces sob os meus
A neblina vem
O céu antes límpido
Com estrelas
Cristalhantes
Some com a paz do tempo
Perdido...
.
Agatha Fabiane Paixão
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10. Versos Gameleiros
CAPÃO
Cada rua daqui
Me tem
E tem todos nós
Há magia em cada cantinho
De cada momento
Seja ele triste
Ou ditoso
A cidade parece
Um cenário
Nós os atores
De cada vida
Um fio que nos
Aproxima
Todos os lugares
Que vou, encontro
Um dos nossos,
Não tem jeito
Parece um ímã,
Sempre alguém diferente
Passa por aqui
E leva um pouco
Dessa fita de cetim
Amarrada no pulso.
Agatha Fabiane Paixão
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11. Versos Gameleiros
INVERSÃO DE VALORES
Estudar com o fim de ganhar
Passar pra pisar
Pisar pra ganhar
Tecnologia pra crescer
Externamente
Aparentemente
O mental excluído
No final
Sem espaço para o fundamental
Memória vazia
O brilhante reluz em pó
E este pó mata
E mato por ele!?
Agatha Fabiane Paixão
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12. Versos Gameleiros
ALUSÃO
Querer o que não é
Imaginar, sonhar pra ti
A raiva consome o desconhecido
E arde o amor
Palavras da cabeça em boca alheia
Coração raso d’água
Baby não sou papel escrito
A tinta... Pra sempre o mesmo conteúdo
Sou de carne e osso
Sou o que sou como tudo tenho essa essência
Não tente advinhar, não se engane
[Não seja eloqüente]
Constantes pensamentos mutantes
Minhas células mudam sempre
Infinitamente não serei a mesma pessoa
Sob o mesmo ponto de vista.
Agatha Fabiane Paixão
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13. Versos Gameleiros
VAIDADE
Vaidade?
Acho que não, ela
Só está se olhando
No espelho,
Você não viu o que
Há por dentro,
Dentro há um labirinto
Com becos fantasiosos
Que te levam a loucura
Tem quadros, e você
Vê neles o que você é
Comparado a ela
Mas, ela é apenas
Um bebê, que
Quer carinho
Uma incógnita
Como todos
No café
Distraída, ele ouvindo música
A outra lava roupa
À direita está rindo
Um grito destruiu a harmonia
Individual,
E daí?
Quem se importou ninguém
Apenas ouviram, mas lixar
As unhas é mais importante
Do que aquela poesia.
Agatha Fabiane Paixão
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14. Versos Gameleiros
EUFORIA
Preste atenção!
Esse é nosso último instante,
Essa canção nos conduzirá e
Esqueceremos do tempo.
Aí sentiremos um o corpo do outro.
A pulsação leve como a brisa
De nossos corpos mesclados.
Cortando o vento com a
Cumplicidade de anos.
As pétalas caíram
E tudo parou no instante
Em que as bocas cessaram
Sua dança.
Agatha Fabiane Paixão
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15. Versos Gameleiros
JUCUNDO
O que será que acontece
Você está cada vez
Mais plangente
Será que acontecerá de repente
Sua boca fria e vazia com
Teias e aranhas brancas
Tecendo, um perdão.
O tempo fala
Coisas que, só ele mesmo entende
E depois de sua visita,
Nós também entendemos.
Quando a aranha branca
Teceu a última carreira
A bela e formosa aranha vermelha
Desfilou em sua obra
Encontraram-se depois;
Debaixo de um mosquiteiro.
Agatha Fabiane Paixão
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16. Versos Gameleiros
ANGELICAL
Porque ficar se perguntando?
O que será que ela está pensando?
Você pode pensar que ela é fastidiosa
Mas eu entendo seu anseio
Um anjo frágil, com as mãos
Longas e finas, uma
Leve expressão no rosto
Olhos com uma lubricidade grandiosa
Mas sua aura soturna me é ignota
Quando escuto seu canto me surpreendo
Com as volúpias de suas canções veladas
Dilacerando meu coração com a dúvida
Será que me gostas ou me és indiferente.
Agatha Fabiane Paixão
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17. Versos Gameleiros
GOTA ILUMINADA
A primeira gota caiu
O céu estava cinza
A praça vazia iluminada
Deus não ouvia as preces
Para que as luzes se apagassem
Mas depois anjos caídos
Época de Natal
Um ritual cristão à frente
Jovens caídos sob bancos
Mal construídos
Murmurinhos
Livros, pensamentos voando com a brisa
Quando a noite caiu
Sem escuridão
Brincadeiras...]
Agatha Fabiane Paixão
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19. Versos Gameleiros
BIOGRAFIA
Juliana Maria da Costa, natural de Capão Bonito -
São Paulo, nascida a 27 de novembro de 1986. Estudante e
colaboradora de jornais e revistas da região. Menção honrosa
no XVIII PRÊMIO MOUTONNÉE DE POESIA, com
participação em livro.
Esta é sua segunda experiência como autora numa
coletânea poética.
Juliana Maria da Costa
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20. Versos Gameleiros
A LÁGRIMA
Rolou uma lágrima em sua face
Nada havia que a dor acalmasse
Você então chorou
Seu coração de tristeza não agüentou
A dor da despedida transpareceu em meu olhar
Trazendo a mesma dor latente, fazendo-me chorar
E nada havia que me fizesse esquecer
E que eu pude fazer
Se naquele momento
Fui incapaz de parar o tempo...
Juliana Maria da Costa
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21. Versos Gameleiros
LÁGRIMAS DA CHUVA
Oh, chuva que cai fina e silenciosa nesta tarde solitária e fria
Cessa as tuas gotas e traz um fio de alegria ainda neste dia
Porque eu não quero ficar só, sentindo as lágrimas escorrerem
Ouvindo as tuas suaves gotas em minha janela baterem
Oh, chuva meu amor tão longe está agora
E eu desejo tanto encontrá-lo, tão logo sem demora
Porque a saudade já toma conta do meu coração
E eu não quero ficar só, chorando triste na escuridão
Oh, chuva és constante e se recusas a passar
Por que fazes isso, será que não sabes o que é amar?
Hoje mesmo eu preciso estar perto do meu amor
Para acalmar esta saudade e tirar do peito tão forte dor.
Juliana Maria da Costa
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22. Versos Gameleiros
MOMENTOS
Silente e absorto vaga o meu coração ferido
Abandonado e desprezado, por um amor esquecido
Lágrimas amargas rolam de olhos tão cansados
Nada mais faz sentido, tudo já faz parte do passado
O que antes era motivo para riso e felicidade
Hoje é apenas uma lembrança triste que causa saudade
Nada conforta essa tristeza, tudo se tornou vazio e doloroso
Em meu coração a vagar ferido e silencioso
As mãos que acariciavam e davam carinho
Machucaram mais do que muitos espinhos
Tudo já é tão confuso, nada mais posso fazer
A saudade continua ainda a machucar e a doer
Momentos de felicidade que um dia eu vivi
Momentos de amor que eu nunca esqueci.
Juliana Maria da Costa
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23. Versos Gameleiros
DESPRENDIMENTO
Mais uma noite cai, chega junto o desespero e a solidão
E as marcas de dor e de tristeza que existem no coração
São vestígios de um sentimento que muito machucou
O vazio, o medo e a incerteza que o tempo não levou
Cessam as palavras, caem as lágrimas que fazem doer
As feridas causadas por um amor difícil de esquecer
Pensamentos e gestos que não querem se calar
Tornando maior o desejo de se libertar
Esquecer todas essas noites de lágrimas e solidão
Deixar para trás as lembranças e a desilusão
Encontrar a felicidade em algum lugar esquecida
Despertar para um novo dia, reviver uma nova vida.
Juliana Maria da Costa
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24. Versos Gameleiros
VERSOS NOVOS
Nas asas da inspiração
Vou além dos meus limites
Vou além da imaginação
Nas palavras que irradiam
Ardente luz que me fascina
Nesse sentimento que domina
Sinto reviver o coração
É vento forte que arrasta a solidão
Levando para longe o rancor
Trazendo luz à escuridão
Trazendo de volta o amor
Que se tem no coração
É só se deixar levar
Pelos caminhos da emoção
É mudança de estação
É mudança no viver
É momento de deixar a razão
Pensar mais com o coração
Deixar a alegria renascer
Nos momentos de inspiração
Tornar as palavras mais belas
E entregar-se com paixão.
Juliana Maria da Costa
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25. Versos Gameleiros
PALAVRAS
Nos momentos de inspiração
Deixo ir para longe a imaginação
Para buscar nas palavras perdidas
As expressões mais sentidas
Para despertar um coração
E essa sensação adormecida
No mais íntimo escondida
Faz renascer a paixão
Que transforma uma vida
Que traz luz à escuridão
E essa paixão sentida
Por muito tempo esquecida
Leva embora a sensação
Do abandono e da despedida
Usar as palavras com emoção
É trazer de volta para a vida
A felicidade e a paz perdida
É afastar para longe a dor e a ilusão.
Juliana Maria da Costa
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26. Versos Gameleiros
MÃE
Beijar-te-ei as mãos com afeto e carinho
E nesse momento encontrarei o caminho
Das palavras mais belas e sentidas
Para dizer como és importante em minha vida
És a luz que toda manhã ilumina
És o eterno encanto que a todos fascina
Brilhas no céu como a estrela mais bonita
És de beleza, és de perfeição infinita
És o calor sincero que o coração aquece
Traz a todos bênçãos em suas preces
És santa, és mãe imaculada
Fiel e verdadeira, és mãe abençoada
Desejo que nos caminhos da vida
Encontres a felicidade merecida
Nas orações eu pedirei a Deus
Que para sempre ilumine os passos seus.
Juliana Maria da Costa
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27. Versos Gameleiros
ADEUS PARA NUNCA MAIS
As horas passam devagar
E a tristeza que existe no meu coração
Tornam os dias e noites
Difíceis de suportar
Porque a alegria já não existe em mim
E tudo que restava da felicidade
Hoje chegou ao fim
Coração contrito sofre e chora
A saudade de um amor
Que para sempre foi embora
Levando para longe
Minha felicidade e minha paz
Num adeus incontido, adeus para nunca mais.
Juliana Maria da Costa
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28. Versos Gameleiros
REENCONTRO
Para sempre amarei você
Porque você eternamente está em mim
E cada vez que olho nos olhos teus
Sinto que jamais serei capaz
De um dia esquecer
Tudo o que juntos nós vivemos
Cada vez que penso em você
Sinto que jamais deixei de te amar
E que apesar de tudo o que aconteceu
Eu ainda sinto sua falta
E queria nesse momento estar com você
Reviver tudo o que passamos juntos
Sentir as alegrias e emoções de um amor
Que sobreviveu ao esquecimento e ao tempo
E que voltou em nós com toda força
Depois que nossos olhos
Novamente se encontraram
Juliana Maria da Costa
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29. Versos Gameleiros
ERRO MEU
Pelos caminhos da vida
Tristezas e ilusões eu encontrei
Muitas dores, muitas despedidas
Muitos momentos que chorei
Mas nos braços de um novo amor
Consolei a minha dor
Vi meu mundo transformar
Quando senti sua boca me beijar
Em tuas mãos entreguei meu coração
Não pensei jamais viver outra ilusão.
Juliana Maria da Costa
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31. Versos Gameleiros
BIOGRAFIA
Maria Madalena Rosa, 52 anos, católica praticante,
amante da paz e da justiça. Sonha com um mundo de paz,
união e fraternidade, extremamente caridosa e sensível.
Estudou até o nível técnico.
Já na sua adolescência escrevia poesias, acrósticos,
romances, etc. Escreveu um livro de aventuras chamado “Tião
e Tonho Perdidos nas Trilhas do Nordeste”. Um livro de
aventura cômica, mas também já se arriscou em uma ficção
científica voltada para o espaço.
Sua inclinação, porém, são os romances e histórias
infantis, os quais estão sendo projetados para o próximo ano.
Maria Madalena
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32. Versos Gameleiros
RUAS
Desertas e nuas, tão minhas, tão suas,
Tão cheias, vazias,
De gente que sobe ou desce,
Alegres ou tristes.
Crianças que vagam sem rumo, sem pão,
Mexem e remexem restos de lixo
Dividem, repartem com gatos e cães.
Ruas cruas...
Tão cheias, vazias,
De gente que dorme nas praças e becos,
Calçadas molhadas
Pela chuva que cai fazendo goteira
Naquela marquise, molhando o vivente,
Que dorme tranqüilo, sem nada sentir.
Carros que passam fazendo barulho!
Pelo meio das poças de lama ou de água,
Que molham, encharcam o pobre vivente,
Que dorme tranqüilo sem nada sentir!
Semáforos, placas! Quebrados, danados!
Vadios e vândalos mal educados!
Sem rumo! Sem Deus!
Nos becos, nos bares!
Menores, maiores!
Cavalos ou vacas pastando de graça,
Os matos em moitas das ruas largadas...
Assim são as ruas daquela cidade,
Esquecida no mapa daquela gaveta,
Naquele lugar...
Maria Madalena
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33. Versos Gameleiros
MELODIA DOS VENTOS
Ventos que sopram levando folhas, trazendo sementes!
Sementes que brotam, germinam e nascem,
E formam, e crescem...
Árvores frondosas... Ou uma simples flor!
Ventos fortes ou fracos que tocam o rosto,
Secando as lágrimas, trazendo alegria,
Levando a dor...
Dor da saudade, presença constante,
Lamento da alma de um sonhador!
Ventos que choram, vêm e devoram,
Com raiva ou desprezo...
Desprezo de amor,
Marcado, ferido, manchado e chorado,
Lágrimas cansadas da dor!
Ventos que sopram, fortes, fracos!
Ventos cantantes, melodia dos amantes,
Que amam e choram!
Lamentam distâncias
Que ferem a alma e machucam o coração!
Ventos uivantes... Calmaria dos andantes,
Que vão e voltam em busca da paz!!
Maria Madalena
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34. Versos Gameleiros
HINO AO CRIADOR
Levando a vida a brincar... Me enganei!
No meu engano fiquei... Silenciei!
No meu silêncio gritei... Ninguém ouviu!
E nesse grito de dor... Plantei amor!
O amor nasceu sem florir... Mas não morreu!
Do amor restou a raiz... Que replantei!
Alimentei a ilusão... Me machuquei!
Ainda assim insisti... Então caí!
E Deus me deu sua mão... Me levantou!
Ao me erguer então vi... O que perdi!
A flor do amor renasceu... Se transformou!
Saudade veio e ficou... Eu superei!
Levando a vida a buscar... Eu encontrei!
A tentação da ilusão... Eu resisti!
Valorizei a oração... Numa canção!
E como uma fonte a jorrar... Cantarolei!
Agora sou mais feliz... Porque aprendi!
Que Deus é Pai e Senhor... Do pecador!
E ao estender minhas mãos... Vou me lembrar!
Que ganhei mais um irmão...
E vou louvar!!
Maria Madalena
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35. Versos Gameleiros
ÚLTIMO ADEUS
Sobre o túmulo frio chora o infeliz.
Sobre o túmulo frio jaz sua alma gêmea.
As lágrimas lavam sua alma no mais longo e triste
silêncio...
No silêncio tenta um alento, desatento...
Sem rumo e sem voz...
Não fala, não ouve! Lamenta na mente!
A consciência o acusa e mais uma vez ele chora!
Chora sobre o túmulo daquela que amou...
Sai sem consolo... Pelas ruas anda sem graça!
Sem vontade senta num banco da praça... Perdido!
Lamenta o passado esquecido num dia qualquer!
Um adeus sem lágrima, sem despedida,
Sufocando o soluço preso na garganta!
É tarde demais!
E num último consolo,
Volta ao túmulo frio,
Nas mãos uma flor branca e luzente,
O único presente,
Que a ele ela pedira num lamento,
Chorosa e humildemente sofrida...
Coloca no túmulo a flor...
Símbolo do seu amor...
MARGARIDA!!!
Maria Madalena
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36. Versos Gameleiros
MARIA
Maria menina,
Maria mulher!
Maria sem graça,
Maria da Graça,
Maria, Maria,
Maria mulher!
São tantas Marias!
Das casas, das roças,
Das ruas e praças,
São pobres ou ricas,
Maldosas ou meigas,
Sinceras ou não!
Esposas ou noivas,
São filhas, são mães,
Solteiras ou não!
Nas ruas da vida, do lar ou das vias,
Perdidas ou não!
Sem rumo, sem glória,
Sem passado ou futuro,
Sem nada, sentadas,
Nos becos, calçadas,
Nos bares, aos pares,
Pedindo ou vendendo,
Seus corpos carentes,
De amor ou de pão!
Maria, Maria,
Maria das praças,
Marias sem graça,
Marias... São tantas!
Malvadas ou santas,
Marias... Ou não!
Maria Madalena
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37. Versos Gameleiros
PAIXÃO DE SAPO
O sapo encontrou a rãzinha
Na beira do ribeirão
Rãzinha sorriu para ele
O sapo ficou doidão
O sapo todo animado
Queria se aproximar
Rãzinha fugiu correndo
O sapo correu atrás
O sapo apaixonado
Começou então a cantar
Chamando sua rãzinha
Querendo só namorar:
“— De onde eu vim
Onde eu cresci!
Não existia
Rãzinhas lindas
Como as daqui!”
Maria Madalena
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38. Versos Gameleiros
ROSA AMARELA
Olha tímido o jardineiro
A mulher que passa apressada
Sem olhar dos lados
Despreocupada!
Não vês que eu te amo?
Não vês o que sinto?
É verdade, não minto!
Rosa amarela!
Tu és a mais bela
De todas as flores,
Do meu jardim,
Rosa amarela,
Entre todas, a mais bela!
Minha doce japonesa,
Porque não olhas para mim?
Mas um dia o jardineiro,
Distraído, entristecido!
Passeando pelas ruas
Logo vê a sua amada,
Amarela e perfumada!
Plantada em outro jardim!
Maria Madalena
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39. Versos Gameleiros
ANJO REBELDE
Quem és tu que perdoa quem te julga,
Que te calas e te escondes?
Quem és tu que tentas no silêncio,
Driblar os próprios sentimentos?
Quem és tu que não reclamas,
Não lamentas nem procuras um alento?
Anjo rebelde!!
Quem te expulsou do céu?
Quem és tu que amas sem limites,
Sem fronteiras, sem razão, quem te julga e te difama?
Quem és tu?
Se eu te chamo de anjo, te revestem de demônio!!
Deixa-te conhecer!
Desce do teu orgulho e mostra o teu valor!
Pequeno gigante!
Derrubaram-te do mais alto pedestal!
Anjo rebelde!!
Quebraram tuas asas!
Mesmo assim queres voar!
Tuas asas quebradas te deram a pureza de uma criança,
A meiguice da humildade...
E nos olhos o brilho do amor!
Quem és tu?!
Maria Madalena
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40. Versos Gameleiros
BRISA
Brisa que toca com suas mãos macias, fazendo gelar o coração...
Brisa que passa sem deixar vestígios, fazendo despertar paixões
irreversíveis, refreadas e contidas por medo da desilusão.
Brisa que vai e volta surpreendendo o mais íntimo da alma de
quem ama o mais puro e sincero dos amores...
Brisa que mexe e remexe trepidando as chamas da ilusão da
mente, da alma, do coração... Da paixão!
Brisa que transmite vida, alegria, saudade, desespero, paixão,
amor e solidão.
Brisa da manhã, da tarde, da noite, que faz esquecer que existe
sol, chuva, tempestade e vendaval!
Brisa! Doce e suave! Vem tocar a minha alma ansiosa e manhosa;
alma que chora, pede e implora pela sua presença divina!
Transparência cristalina do Criador!
Brisa mansa, calma e tranqüila, agradável companhia; serena e
amena, solidária e feliz, tão longe, distante, presença constante e
sagrada na vida de quem ama o mais puro dos amores...
Brisa branca, doce e suave! Transparência divina!
Fonte de inspiração às mais lindas poesias cantadas, declamadas
ou simplesmente sentidas...
Brisa calma... Tranqüila, serena e amena, que gela a alma e
queima o coração!
Brisa! A mais doce criação divina!!
Maria Madalena
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41. Versos Gameleiros
PINTASSILGO
Voa, Pintassilgo!
Abriram a porta da tua gaiola!
Foge pra longe, bem longe,
Das águias e gaviões,
Alcança os céus, toma as nuvens,
Sinta o vento, o sol, a brisa...
Vai...
Vai pra tua liberdade!
Alcança as outras aves,
Pequeninas como tu!
Bata as asas com vontade...
Sobe as montanhas mais altas!
E de lá admira o mundo,
Veja agora, está tudo aos teus pés!
Voa, Pintassilgo!
Pequeno pássaro!
Abriram a porta da tua prisão!
Vai pra tua liberdade!!
Maria Madalena
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43. Versos Gameleiros
BIOGRAFIA
Alcina Maria de Oliveira e Souza Queiroz Assis (NINA)
nasceu em Capão Bonito (SP), em outubro de 1.956.
Formada em Publicidade e Propaganda pela Universi-
dade de Mogi das Cruzes (UMC).
Foi professora de Língua Portuguesa e Literatura Infantil
na Escola Normal de Capão Bonito.
Foi professora do Ensino Fundamental, Artes e Traba-
lhos Manuais da Escola Waldorf Vale Encantado de Capão Boni-
to.
Hoje é artesã, artista plástica, gosta das poesias e de
tudo relacionado à arte.
Alcina Maria de Oliveira e Souza Queiroz Assis
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44. Versos Gameleiros
AMIZADE COM DEUS
Sentindo Tua presença
Ousei Te convidar
A acompanhar-me
A lugares mais inesperados
Caminhamos juntos
De mãos dadas
Sentia Tuas vestes
Roçando meus pés
Doce presença...
O Teu hálito quente
A falar bem perto
O Teu olhar envolvente
Cobrindo minhas misérias
Aceitando-me
Condescendente
Pus-me a cobrir-Te de mirra
Derramar sobre Tua cabeça, um raro perfume
Deitar bálsamo sobre Teus pés
Beijar Tuas chagas
Agradar Teus olhos
Louvar-Te da maneira que mereces
Emergir nas profundezas do coração
O amor, santo amor
E entregá-lo todo a Ti
Com toda força e ardor de minha alma.
Alcina Maria de Oliveira e Souza Queiroz Assis
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45. Versos Gameleiros
AQUI, ALI, ACOLÁ
Além da lenda
Atrás da colina
Existe a vivenda
Lenta moenda
Parlenda
Além da fonte
Água tranqüila
Sutil claridade
Suspira verdade
Bondade
Além do horizonte
Outro tom
Suave som
Gosto bom
Dom
Além da lembrança
Registro tristeza
Dor embebida
Na alma quieta
Ferida
Além do acolá
Aqui e ali
Instantes vivi
Sofri
Remi
Alcina Maria de Oliveira e Souza Queiroz Assis
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46. Versos Gameleiros
AZUL DE MARISTELA AZUL
Azul vibrante de lumeeira,
Azul intenso e molhado.
Um olhar, às vezes solto,
Outras vezes, apertado.
Contemplas a lua, absorta,
Embevecida.
O azul do olhar seduz.
Fica a lua, trêmula.
Estarrecida.
Quando as lágrimas pela face descem,
São de um tom puro e celeste;
Não desbota a cor dos olhos,
Compartilha um céu agreste.
Azul impetuoso, veemente.
Intrépido, audaz, forte azul,
Não lembra os mares do norte,
Traz saudade dos mares do sul.
Alcina Maria de Oliveira e Souza Queiroz Assis
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47. Versos Gameleiros
CAMUFLAGEM
Entre as caianas
Dourei-me
Entre os girassóis
Voltei-me ao sol
Entre as águas
Temperei-me
Tentei alcançar
O rouxinol.
Atrás do fogo
Que arde
Atrás de um vermelho
hibisco
Atrás de um pulso cerrado
coragem
Escondi-me
No aprisco
Suguei o orvalho
Da manhã
Mel tem a figueira
Cobri-me de folhas
Doce cegueira
Alcina Maria de Oliveira e Souza Queiroz Assis
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48. Versos Gameleiros
COMPRAZIMENTO
Fechei os olhos
E divaguei.
Nas rimas da poesia
Calei.
Uma a uma acomodou-se
Dentro de um espaço
Até onde pude ouvir o som.
Nitidamente, sem embaraço.
Fulgura a alma,
Relampeja o coração,
Luzeiros da emoção,
Cintila o caminho,
Abrindo-se em luz,
Conduz-me ligeiro,
Reluz, reluz.
Oh! Doce sabor
Que fome voraz,
Sacia o desejo
Onde tudo se compraz.
Alcina Maria de Oliveira e Souza Queiroz Assis
47
49. Versos Gameleiros
CONTÁGIO
Há qualquer coisa no ar,
Não sei se é magia ou alquimia,
Ou se é folia pela alegria,
Corrompe, contamina, contagia.
Há qualquer coisa no vento,
Não sei se é lamento,
Pois, se tornou violento,
Num tom quase cinzento.
Há qualquer coisa no mar,
Que eu não consigo ancorar,
Talvez por uma rejeição salutar,
Por não ser meu lugar.
Há qualquer coisa na terra,
Intrépida, forte que desperta,
Todo mal que se desterra,
Do chão livre, minha descoberta.
Alcina Maria de Oliveira e Souza Queiroz Assis
48
50. Versos Gameleiros
CZARINA
Alguma coisa perdeu-se,
Lá longe,
Atrás dos montes,
No passado.
Soltei âncora
Num porto
Lânguido,
Tecido com fios sortidos
Encontrados ressequidos.
Umedeci-os com perfume enântico
Num tom um tanto quanto romântico,
Suave doce,
Sem quebrar o encanto.
Cevei um pedaço do mar,
Hoje trago luz
Junto com nenúfar.
E a melancolia
Ingerida com ânimo confiante,
Não é mais relutante.
E o coração repousa
Sensato
Como a linda flor de lótus
Em tons pastel
Não apagados,
Mas fortemente delicados,
Seráficos.
Dança nas pausas da melodia,
Desnudando toda fantasia
No enlevo da maresia.
Alcina Maria de Oliveira e Souza Queiroz Assis
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51. Versos Gameleiros
LEVE MARESIA
Mar profundo
Águas mansas
Desprovido de sal.
Areia que cheira
Cor do marfim
Peneirada e clara
Sem começo
Nem fim.
Olhar comprido
Lambe a água
Perde no imenso
Só e indefeso
Paira suspenso.
Horizonte é um traço
Separa o céu
Bola de fogo
Que a água apaga
afaga
Ininterrupto e cruel.
Alcina Maria de Oliveira e Souza Queiroz Assis
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52. Versos Gameleiros
MONTANHÊS
Testa molhada
Odor balsâmico
Mão enrugada
Em tom cerâmico
Hálito quente
Cheira a pinhão
Bucólico ávido
Enfeita seu chão
Espera, que espera
Sozinho balbucia
Sentado no calcanhar
Uma canção assobia
Olha lá longe
Conhece o tempo
Cúmplice da lua
Amigo do vento
Escreve com o dedo
Riscando o chão
Faz contas precisas
Aguarda o verão
Lenhador braço forte
Parte a lenha, faz fogaréu
No fim do dia reza e agradece
Com a fumaça, a oração sobe ao céu
Alcina Maria de Oliveira e Souza Queiroz Assis
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53. Versos Gameleiros
OH JESUS!
Aos pés de tua cruz ajoelho-me,
Reverenciando-me numa profunda adoração,
Meu corpo se curva diante de Ti,
Quero dar-Te consolo e minha gratidão.
Levanto os olhos e fito o meu olhar em Ti,
Choro ao ver o meu Deus pregado numa cruz.
Oh! Homens cruéis, como puderam?
Ele só trouxe amor, paz e luz.
Contemplo demoradamente em tuas mãos cravadas,
Tenho vontade de beijá-las para suavizar tua dor.
Nada posso fazer para aplacar teu sofrimento.
Apenas amá-lo, Oh, meu Salvador!
Observo teus pés com grossos cravos,
Lembro-me que andastes somente fazendo o bem.
Espalhastes tua palavra e tuas promessas.
Quem deixou de ouvi-las? Nem eu, nem ninguém.
Deparo-me agora com a ferida do teu lado,
Oh, Senhor! Quanta angústia e aflição.
Foi por mim, foi por nós que padecestes.
Que nobreza, que grandeza, quanta resignação.
Queria deitar bálsamo em tuas chagas,
Queria cuidar da tua ferida,
Colocar medicamento estancando o teu sangue,
Cuidar dos teus hematomas e da tua vida.
Mas como não sei o que fazer
Para diminuir tua dor,
Aceite pelo menos do pouco,
Da pobreza do meu amor.
Alcina Maria de Oliveira e Souza Queiroz Assis
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55. Versos Gameleiros
BIOGRAFIA
Raquel Domingues Izaías, capão-bonitense nascida em
16 de fevereiro de 1973, filha de Antonino Domingues Izaías e
Maria Margarida Izaías. Concluiu o Ensino Fundamental já
adulta e é mãe de dois filhos, mas já mostrava forte inclinação
pela literatura e costumava escrever poemas e versos desde
pequena, sendo esse um hábito que herdou de seu pai que
também sempre gostou de escrever.
Tem formação profissional como costureira, porém,
na maior parte de sua vida atuou como ‘do lar’.
Descende de família bastante humilde, sendo todos
capão-bonitenses, o que não a impediu de mostrar seu
talento com a poesia expressando sentimentos e emoções
pessoais em relação a fatos e pessoas que fizeram ou fazem
parte de sua vida.
Com esse método consegue atrair a atenção do leitor,
fazendo com que este consiga ver refletida a sua própria vida
nos seus poemas, visto que muitos desses poemas são
dedicados a pessoa ou são escritos a pedido de alguém.
Simplicidade, sentimentos, emoções, histórias da vida
cotidiana são expressos com grande força em seus poemas.
Raquel Domingues simplesmente é uma pessoa que
consegue transformar fatos da vida em versos e rimas feitas de
maneira singela e inocente, mas com a força e o poder do
coração.
Raquel Domingues
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56. Versos Gameleiros
CRIAÇÃO
Os poemas que eu faço
São inspirados na vida.
Falo dos sonhos que temos
E das noites mal-dormidas.
Escrevo sobre os encontros
E os desencontros também.
Sobre pessoas que se amam
E aquelas que não têm ninguém.
Falo sobre a família,
Sobre fé, sobre paixão;
Amor, sonho, fantasia,
Romance, ternura, ilusão.
Enfim, tudo o que eu quero,
É poder a todos mostrar
Que o que importa é viver.
E através deles, eu espero,
Que eu consiga despertar
A emoção e o prazer.
Raquel Domingues
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57. Versos Gameleiros
ALGUÉM QUE ME AME
Por tudo o que nós vivemos,
Pelo amor que nos uniu.
Pelo que juntos aprendemos,
Por tudo o que a gente sentiu.
Pelo que estou passando,
Pelos sofrimentos meus.
Pelas lágrimas que estou chorando
E a saudades dos carinhos teus.
Quero te dizer, querido,
Que afinal valeu a pena
Um dia ter você comigo
Apesar de tantos problemas.
E hoje eu sinto saudade
Deste amor do meu passado,
Pois sei que era verdade,
Nosso amor era sagrado.
Não consigo esquecer
Que um dia eu te amei.
Ainda penso em você;
Eu nunca te esquecerei.
Pois você ainda faz parte
De grande parte de mim,
Pois nunca mais encontrei
Alguém que me ame assim.
Queria voltar ao passado
Para ter você por perto,
Mas está tudo acabado:
Que pena que não deu certo.
Raquel Domingues
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58. Versos Gameleiros
NÃO SOFRA
Hoje à tarde eu te vi.
Tão triste você estava!
No mesmo instante perecebi
Que por dentro você chorava.
Gostaria de saber
O que te deixou assim.
Você não vai me dizer?
Pode confiar em mim.
Saiba que sou seu amigo
E te quero muito bem.
E ao te ver tão deprimido,
Eu fico triste também.
Quando te vejo sofrendo
Meu coração se entristece
Por não poder te ajudar.
E fico assim, padecendo
E para mim até parece
Que eu sofro em seu lugar.
Queria possuir o dom
De acalmar seu coração
Pra não mais te ver sofrer.
Você é tudo de bom
E a sua doce amizade
É que me inspira a viver.
Raquel Domingues
57
59. Versos Gameleiros
TODO O AMOR DESTA VIDA
Gostaria de estar contigo
Por toda a eternidade,
Pois só com você eu consigo
Alcançar a felicidade.
Não é viver no paraíso,
Mas é dele estar bem perto.
Eu me perco em seu sorriso
E me sinto descoberto.
Você tem o grande dom
De desvendar meus segredos,
De entrar em minha alma
E acabar com meus medos.
Sinto que ao mesmo tempo,
Mata-me e me faz viver,
E por isso, a todo momento,
Eu me sinto renascer.
É uma sensação estranha
De entrega, de paixão.
Quando eu estou em seus braços
Eu me rendo à emoção.
Peço-te que não me deixe,
Sem você, vivo perdida.
Pois um dia eu te entreguei
Todo o amor desta vida.
Raquel Domingues
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60. Versos Gameleiros
TEU OLHAR
Hoje à tarde eu saí
Sem rumo, a lhe procurar;
E em cada rosto que vi
Eu buscava teu olhar.
Este teu olhar tão triste
De um brilho tão profundo,
E para mim não existe
Olhar mais lindo no mundo.
Foi por causa deste olhar
Que eu por ti me apaixonei.
Quando eu os vi a brilhar,
Confesso, não agüentei.
Entreguei-me a este amor
E agora estou perdida;
Dentro do meu peito há dor,
Pois sei que não tem saída.
Procurei-te em cada rua,
Em cada esquina eu te via.
Confesso: eu já sou sua,
Eu juro que não queria.
Não queria, porque sei
Que você ama outro alguém.
E ela vive ao seu lado
Porque te ama também.
Hoje me resta chorar,
Já sei meu destino, então:
Sem o brilho deste olhar
Viverei na escuridão.
Raquel Domingues
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61. Versos Gameleiros
INEVITÁVEL
Quando ela vier me buscar
Terei que ir, eu não poderei fugir.
E então ela irá me levar,
Ela é quem irá decidir.
Virá linda, toda de branco,
Como uma noiva cruel.
Eu não verei o seu rosto,
Pois estará sob um véu.
Mas sei que é bela
E que aguarda ansiosa por mim.
Eu não espero por ela,
Mas ela virá mesmo assim.
Quem sabe eu estarei dormindo,
Trabalhando ou fazendo amor.
Talvez eu esteja sorrindo,
Ou chorando, de sofrimento e dor.
Não quero que ela venha
Em alguns momentos.
E às vezes eu chamo por ela,
Em meio aos meus tormentos.
Tem dias que a procuro
Desesperado e louco;
Em outros não a quero;
Peço que espere um pouco.
Mas ela virá, pro meu azar,
Ou talvez pra minha sorte.
E eu tenho que esperar,
Ela é inevitável: Ela é a morte!
Raquel Domingues
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62. Versos Gameleiros
O SORRISO DE DEUS
Todos os quadros que vejo
Com a imagem de Jesus,
Uma coisa me chama a atenção:
É o olhar sempre triste
No rosto cheio de luz
Mostrando-nos compaixão.
E um dia pensei comigo:
Como eu gostaria de ver
O sorriso de Jesus.
Mostrando que é meu amigo,
Dizendo-me pra aprender
Sobre os mistérios da cruz,
Então o Senhor me falou:
— É só você que não vê,
Mas sempre contigo estou
Basta somente você crer.
Todo dia eu te abraço,
Seguro em suas mãos,
Acompanho cada passo,
Mostrando-te a direção.
Neste momento meu filho
Vem correndo aos braços meus,
Traz no seu rostinho um brilho,
E nos lábios, o sorriso de Deus!
Raquel Domingues
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63. Versos Gameleiros
VOCÊ, PÁSSARO FERIDO
É você, meu doce amigo,
Pássaro ferido e só;
Já não pode mais voar.
Mas, mesmo se sentindo fraco,
Saiba que estamos contigo
E sempre vamos te amar.
Aborrecimentos, tristezas,
Todos nós temos na vida,
Não tem como evitar.
Mas quando chegar a hora
Das preces serem ouvidas
Você vai se libertar.
Triste pássaro ferido
Na vida há consequências
Que temos que enfrentar.
Mas você, querido amigo,
Tenha sempre a consciência
Que a luta irá terminar;
Suas asas se curando
Você estará livre
Para outra vez voar.
Mas evite os espinhos,
Ande nos retos caminhos
Que a felicidade irá encontrar.
Abra logo a sua asa,
Volte correndo pra casa
Que estamos a te esperar.
Que o amor de Cristo te ilumine
E a cada dia te ensine
Que vale a pena lutar.
Raquel Domingues
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64. Versos Gameleiros
INTENSAMENTE
Quando olho para trás
Vejo que nada mais é capaz
De nos separar;
Tudo o que passamos juntos,
O tempo,
O momento,
Nada foi perdido, foi vivido:
Intensamente...
Tantos anos com você
Tem sido pra mim
Um aprendizado.
Estou aprendendo a cada dia
Amar, aceitar, perdoar;
E de novo amar... Amar... Amar...
Você é um menino
Brincando de ser um homem.
Você é meu homem
Querendo continuar sendo meu menino,
Você é um pai
Amando e dando-se ao seu filho.
Obrigado
Por me deixar te amar assim
E por me fazer tão feliz!
Raquel Domingues
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65. Versos Gameleiros
A LENDA DA PEQUENA ESTRELA
Existia no céu uma estrela.
Uma estrela bem pequenina,
Mas muito brilhante, porém.
Tão brilhante que ao vê-la,
Todos diziam que ela tinha
Algo que as outras não têm.
Até que um dia, de repente,
Esta estrela aqui desceu,
Ela transformou-se em gente
E na Terra ela nasceu.
Poucos anos se passaram,
Eu nasci e que alegria
Eu senti, pois me contaram, Esta estrela ainda tem
Que sua irmã eu seria. O mesmo brilho de outrora;
E é pequenina também,
Mas já é mulher agora.
A luz que ela traz no olhar
Ilumina minha vida
E o amor que ela tem pra dar
É que a torma tão querida.
Esta estrela é você
Minha irmã, que eu amo tanto.
E mesmo sem eu merecer
Enches minha vida de encanto.
E nesse encantamento
Peço a Deus, nosso Senhor,
Que a todo momento
Derrame-te paz e amor.
Raquel Domingues
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67. Versos Gameleiros
BIOGRAFIA
Antonio Celso dos Santos, poeta capão-bonitense que
há quase quatro décadas labuta na seara das letras, na constante
batalha das palavras procurando transformar as rimas em
mensageiras de sonhos e realidades sonhadas...
Desculpe leitor amigo, mas poeta não consegue deixar
de poetar, então vamos lá:
Estamos falando de um menino que nasceu em Capão
Bonito, funcionário público, casado e pai de filhos maravilhosos,
filhos que a vida cuidou de aumentar no decorrer dos anos, pois
devido o seu trabalho muitas daquelas crianças passaram a
ocupar um lugar no seu coração de sonhador. Até aquela que
hoje é a mãe de todos chegou a ele assim...
Autor do livro de poesias Gente lançado em 1984,
sempre com trabalhos publicados na imprensa local, vem hoje
através dessa coletânea procurando com a sua participação
somar algo mais num cabedal por si só já tão rico.
É sempre muito bom estar junto dos corações que
sonham fazendo da poesia seu veículo, sua linguagem de vida.
Nomeei minha participação nesta coletânea de
Fragmentos, então curtam os meus fragmentos em forma de
poesia...
Obrigado!
Antonio Celso
Antonio Celso
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68. Versos Gameleiros
A FELICIDADE
Essa vida tão cheia de estradas diferentes
às vezes nos levando para portos tão estranhos
vai nos fazendo viajantes e sonhadores...
Ah!... os sonhos...
Muitas vezes nos tornamos tão pequenos,
o horizonte está sempre tão distante
nos fazendo caminhar em busca do quê?
O amor? As conquistas? A própria vida?
Coração... ele nunca aprende sobre a felicidade,
está sempre com medo dela...
Afinal de contas nunca se está pronto
para ser realmente feliz,
pois o que é a felicidade?
Quanto tempo ela deve durar?
Se for só um minuto é pouco,
uma hora não dura nada,
se for um dia passa tão depressa,
uma semana é tão efêmera,
um mês não dá nem pra notar,
e se durar um ano?
Pra ser feliz não é nada!!!
Estamos sempre em busca de algo mais
e muitas vezes deixamos a nossa riqueza de lado
partindo em busca de uma ilusão qualquer,
e a felicidade fica então esquecida
em um cantinho abandonado do coração...
Ser feliz até que é fácil
basta entender o que ela vem a ser
e pra que serve,
são dois corações que se encontram
para construir e viver um sonho...
Antonio Celso
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69. Versos Gameleiros
AUSÊNCIA
Ah!
Se não houvesse a distância
não existiria você,
pois como explicar
a ausência toda
no meu viver.
Como transformar a saudade
em algo palpável
se toda essa ausência
tem corpo, tem nome
e até cheiro
que é todo você...
Antonio Celso
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70. Versos Gameleiros
AVE MARIA
Maria, você chegou em silêncio
assim como quem não quer nada...
Munida da paz e da emoção,
aquela sensação doce que o amor tem
e então o silêncio fala...
Façamos tudo o que Ele nos mandar,
amando o próximo por ele mesmo
e ao próprio coração com carinho
semeando flores entre os espinhos,
calçando as sandálias dos sonhos
com a responsabilidade do trabalhador
que sabe o caminho e o destino
que cada vida tem.
É... Maria...
Não é fácil nem simples
ser mãe e filho no show da vida,
afinal de contas o palco e a peça
mudam e se transformam constantemente,
mas sempre fica a lição
do amor da mãe e das necessidades do filho
fazendo constantemente a vida ser uma nova história
nem sempre de conquista ou glória
mas com certeza de muito, muito amor...
Antonio Celso
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71. Versos Gameleiros
CAMINHADA...
Parabéns caminheiro,
você que chegou de muito longe,
você que veio da metade do caminho
ou você que pegou a estrada agora.
Somos viajantes da ultima hora,
e a cada dia que passa
novos integrantes compõe a massa
e a turba que passa
não consegue ficar anônima,
sempre se sobressai.
Neste caminhar a que chamamos de vida
é maravilhoso não estarmos sós,
pois as dificuldades da jornada serão muitas.
Você, portanto, é muito importante
para todos os companheiros:
para aqueles que chegaram antes,
para os que chegaram juntos com você
e para os que vierem depois.
Formaremos uma corrente única,
onde não será possível definir
quem é o mais importante
na estrada...
Antonio Celso
70
72. Versos Gameleiros
É LINDO...
Mestre,
é lindo poder olhar a vida
e com os olhos marejados
sussurrar um obrigado.
É lindo quando com o corpo cansado
o viajor chega em casa
e abraçando seus corações queridos
olha para o céu e diz um obrigado...
É lindo como o dia surge brincalhão
e inundando o quarto
vai traçando um caminho de luz pelo chão.
É lindo quando o jardim florido
não é só perfume, não é só vida,
é luz, é paz, é amor...
É lindo, Senhor, poder sorrir,
poder sonhar, poder pedir,
poder doar, poder amar...
Mas, é mais lindo, Senhor
poder agradecer juntando
todos os pedacinhos da vida:
o ontem, o hoje e os amanhãs
e construindo o grande quebra-cabeças
saber que estou aqui,
obrigado,
Senhor...
Antonio Celso
71
73. Versos Gameleiros
ESPERANÇAS
Hoje só posso falar de alegria.
Ave!
Ainda bem, não?
Você abre o jornal
e as manchetes estão lá gritando:
Inflação! Roubo! Morte!
Seqüestros!!!! E...
Cadê o espaço, aquele espaço
para falar das coisas boas,
das coisas interessantes,
das coisas importantes?
E a TV, você já viu?
os noticiários são um resumo
das coisas ruins
que ocorreram durante o dia.
Sabe, ao invés de criticarmos,
de ficarmos denegrindo
a rota imagem do mundo
e nossa também,
devemos abrir as mãos
e o nosso coração
para ofertarmos essa coisa bonita
que temos dentro de nós
que se chama esperança...
Afinal, se nós quisermos
o mundo será melhor!
Você não acha???...
Antonio Celso
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74. Versos Gameleiros
FILHOS
Filho
é um presente de Deus
não um produto,
uma peça que se construiu,
algo que se possuiu.
Filho é alguém que chegou
para que ao ajudá-lo a crescer
aprendamos juntos o que é a vida,
e ao ensiná-lo a falar
aprendamos uma nova língua.
É um sonho que cresce todos os dias,
um passarinho que logo
aprenderá a voar
e, que ao galgar os céus da vida
sempre levará um pedaço de nós,
pais e também filhos...
Antonio Celso
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75. Versos Gameleiros
MULHER
Você!
Sempre a eterna poderosa,
o ser completo e dominante
fazendo a vida acontecer...
Quem pensa a conhecer,
que sabe de tudo de você
muitas vezes apenas padece
de solidão e mau viver...
Menina, moça, mãe,
amiga, amante,
companheira, irmã...
Afinal, o que é mesmo você?
Muitas vezes só uma incógnita
que na matemática da vida
alterando a posição dos fatores
coloca nos seus devidos lugares
emoção, carinho, coração...
É... depender de você
transforma o homem em cidadão,
em parte integrante e atuante do mundo e da
sociedade.
Faz um sonho tornar-se realidade
e realiza a felicidade
que ele sonha tanto ser...
Faça o homem e o mundo
onde ele habita e acontece
tornar-se alguém e algo melhor,
Mulher...
Antonio Celso
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76. Versos Gameleiros
SONHAR
Deixe-me sonhar
e sonhe também.
Dá-me sua mão
e vamos a mais além.
Se a vida é curta
e repleta de problemas,
se há desilusões e dores
nascem flores também
e as coisas mais lindas que a vida tem
são sempre anônimas.
Não passe por ela
como alguém alheio,
construa seu mundo,
gaste seus anseios,
use a emoção pisando fundo.
Lembre-se que o seu
é o mais belo dos mundos,
e que a vida
é um sonho que vale a pena,
e, que você já é um sonho realizado...
Antonio Celso
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77. Versos Gameleiros
VOCÊ
Você bem sabe
que já fui muito apaixonado,
desses tipos tresloucados
de fazer e acontecer.
Hoje já tô mais acomodado
tenho você do meu lado,
não preciso mais correr,
mas se eu sentir
que tem alguém de butuca
me dá um frio na nuca
e parto pro vamo vê.
Não adianta nem pensar
em me segurar
porque não há parada que um tabefe
não ensine a respeitar.
Nesses aspectos sou macho toda vida,
mas você sabe minha querida
que só brigo por você...
Antonio Celso
76
79. Versos Gameleiros
BIOGRAFIA
Nascido na cidade de Colombo, estado do Paraná, filho de
Avelino Machado e Faustina Guimarães Machado, em 2 de agosto de
1945. Seu pai, apesar de ter estudado em seminário religioso, preferiu
casar-se e viverem como pequenos agricultores. Aos dois anos de
idade, seu pai e o restante da família mudaram-se para a pequena
cidade de Pedra Preta, atualmente Tunas do Paraná, onde cresceu em
um sítio, trabalhando na lavoura familiar, muito comum naquela
época. Estudou no pequeno Grupo Escolar da cidade até a quarta série
(única formação daquela época nas cidades pequenas). Viveu até os
seus dezoito anos em meio a natureza, vivendo intensamente as coisas
do campo, matas, rios e cachoeiras existentes na região. Viveu sob os
costumes rígidos da época. O seu dom para a poesia apareceu aos
quinze ou dezesseis anos de idade, quando escreveu seus primeiros
versos, adotando o pseudônimo SORE, que nada mais é que seu nome
escrito ao inverso. Aos dezenove anos, tendo cumprido com o serviço
militar, empregou-se nas minas de chumbo da Plumbum S.A., na
cidade de Adrianópolis/PR, onde através dessa empresa continuou
seus estudos, formando-se Agrimensor. Exercendo essa profissão,
acabou vindo para a cidade de Capão Bonito em 1971 quando do
início da construção da fábrica de cimento da Itabira Agro Industrial S.
A. (hoje Cimento Ribeirão Grande). Apesar de ter vivido nesta cidade
desde 1971, esteve trabalhando no Paraguai, Minas Gerais, Goiás,
Mato Grosso e vários estados do nordeste do país, assimilando bem as
culturas dessas regiões.
Além de poeta é compositor e cantor de música sertaneja raiz,
sendo que atualmente integra o grupo sertanejo 'Jóias da Terra', aqui
da cidade de Capão Bonito.
Eros Sebastião Machado
78
80. Versos Gameleiros
QUERER
Quero, e porque quero, sofro
As duras penas do querer.
Porque o que eu quero,
É lindo demais para que mo dêem
Quero, e por querer
Sou chamado de louco.
Por querer o que de mais belo há no mundo,
Sou chamado de revoltado, e considerado
Insignificante aos olhos do mundo.
Quero, e por isso sou combatido por todos.
Por querer o que eu quero, dizem que não me entendem
Que não há coerência no que eu digo que quero.
Mas o que eu quero, todos querem.
Embora o neguem, dentro de si,
Sabem que também querem.
Porém seu querer é apenas um sopro
de vida, num monte de barro já morto
............POR ELES MESMOS............
Eros Sebastião Machado
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81. Versos Gameleiros
VIDA
Estou só... é raiar da aurora.
Observo as flores, as gotas d'água
Formadas pelo sereno.
Os raios de sol que banham de ouro
os pequeninos e cristalinos pingos d'água.
V I D A!!!!!!
O beija-flor zumbindo de flor em flor.
As borboletas vagando suavemente
Como que a exercitar-se para aquecer-se.
Mais adiante, crianças vozeirando, rindo,
transmitindo inocência.
Olho para o céu, o infinito azul,
tão azul que meus olhos ardem.
Num galho de árvore o sabiá gorjeia,
a cigarra canta “com seu cantar estridente”,
o gafanhoto salta impulsionado por molas
que a natureza lhe deu, que a vida... vida?
Oh! é vida sim! Tu estás em tudo.
Tu estás em mim!
Oh! Como é bom sentir a vida.
Oh! vida, deixa-me senti-la.
Deixa-me vivê-la até o êxtase da loucura.
Pois dentro em pouco chegarão os “HUMANOS”,
e então, eu morrerei por mais um pouco de tempo.
Eros Sebastião Machado
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82. Versos Gameleiros
MODERNOS JOAQUINS SILVÉRIOS
Tu que estás de poder investido
Que no parlamento dizes que o povo defendes
Tem pose de mocinho, contra o bandido
Falando aos pobres, a voz, o braço suspendes
Tu que ganhas muito bem, porém come de graça
E aparece sorrindo de quatro em quatro anos
Enquanto o pobre se entope de cachaça
Você enriquece por debaixo dos panos
Tu que não conheces frio, fome ou dissabor
Que em campanha acusa até amigo de salafrário
Promete casa, emprego, fala até de amor
Queria ver-te vivendo, com apenas um salário
Tu que tens o canhão, a tropa, a artilharia
Que ao menor sinal de protesto: rechaça
Incurso estás também no Código, e devia
Pra ti também erguer-se, uma forca lá na praça
Eros Sebastião Machado
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83. Versos Gameleiros
SIMPLES... HUMANO
Porque é Humano chora
A flor esmagada
ou o ramo arrancado
e lançado ao chão grosseiro
Porque é Humano
Crê na liberdade
de pássaros em vôo
e de pedras no terreiro
Porque é Humano
Crê na alegria
da farta folhagem
sob o vento aventureiro
Porque é Humano crê
Na fonte jorrando
límpidas águas
E um sol brejeiro
E assim é a vida do Homem
Que vive a natureza
de forma tão ousada
E não o assusta
o que jorra de si
O simples vive
A vida que lhe foi dada
Eros Sebastião Machado
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84. Versos Gameleiros
CONJECTURANDO
Jaz na tristeza pesada
A alegria que externa fugaz
Num instante de delírio
Inverno ao entardecer
Ah! a imperfeição na alegria
Choraremos os sorrisos
Que ousaram esconder a dor
De nossa inconsciência
Ah! se o brilho do sol
Não abandonasse no toldar
Em trevas da noite fria
Os reflexos do querer bem
Ah! se o dia fosse escuro
E a noite mais densa
Cantaríamos na tristeza
A alegria de um novo dia
Ah! se banais risos não houvessem
E a luz estivesse morta
Para nas trevas — breve
Um spot matutino fosse
No abandono poder-se-ia
Sorrir na alegria
Ou nelas chorar amarguras
Sem ouvir outras lamúrias
Eros Sebastião Machado
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85. Versos Gameleiros
SOLIDÃO
De repente eu vejo
Alguém sentado, refestelado, acomodado,
cerveja do lado, bem acompanhado
Invejado.
Seu jeito indolente, parece contente
A cara me diz, estar muito feliz
Não lembra de nada, não pensa em nada,
só batucada na mesa lotada
Que coisa legal, um quadro genial
Felicidade total
De repente me viro
Vejo assustado, alguém que sentado,
rosto sulcado, num canto apertado,
mal acomodado... abandonado
Seu jeito apreensivo, olhar pensativo
Denota tristeza, muita estranheza,
naquilo que vê
De tudo esquecido, parece perdido
Em nada ele crê
Só o vazio, tudo é fastio,
no seu coração
Que coisa medonha, cena tristonha
- A SOLIDÃO -
Eros Sebastião Machado
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86. Versos Gameleiros
REVELAÇÃO
Como coelhinho assustado
A esconder-se na sebe
Como alguém que incendiado
Num jorro d'água se embebe
Como alguém que nas trevas
Ao deparar-se com a luz
Assim estou me sentindo
Ao encontrar-te — JESUS
Como alguém que perdido
Ao encontrar o caminho
Como o Eremita se sente
Ao surpreender-se sozinho
Como um cego na dúvida
Encontra alguém que o conduz
Assim estou me sentindo
Ao encontrar-te — JESUS
Como a flor ressequida
Recebe um pouco de água
Como alguém perdoando
Se vê liberto da mágoa
Como alguém perseguido
Vê a liberdade surgindo
Ao encontrar-te — JESUS
Assim estou me sentindo
Vendo o horizonte se abrindo
E o sol meu mundo iluminar
O meu ser sendo inundado
Por uma alegria sem par
Meus olhos, privilegiados
Por avistar essa luz
Humildemente eu afirmo
Estás comigo — JESUS
Eros Sebastião Machado
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87. Versos Gameleiros
PERDÃO
Perdoar, é amar, é doar-se
É pôr no coração a força de um Rei!...
Perdoar, é crescer, é sublimar-se!...
Chorei!... Sofri demais!... e perdoei!...
Perdoar é sublime!... A vingança
É mesquinha!... Própria de amor interesseiro
Perdoar, é de quem o céu alcança!...
Pois, antes de se amar!... ame primeiro!...
Estando perturbado, quase perdendo o juízo
Não deseje o inferno!... ofereça o paraíso!...
E ainda dê o seu riso juvenil!...
Ofereça o aconchego do seu seio!... dê amor!...
Pois, se a injúria for grande como a dor
Dê um perdão maior do que o Brasil!...
Eros Sebastião Machado
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88. Versos Gameleiros
AQUELES OLHOS
Aqueles olhos me seguiram
Pelos mares imensos desta vida
Na alegria brilhante do Rei-Sol
Na escuridão da noite entristecida
No calor intenso do deserto
No estranho frio das geleiras
No colorido denso da floresta
No acalanto suave da cachoeira
No arrulho alegre de pombos amantes
No uivo triste de um cão solitário
Na torrente chuva esfumaçada
No cantar mavioso de um canário
Por terras distantes eu andei
Nos confins do mundo me escondi
Lembrei-me “deles” o tempo todo
Dos meus, prejudicados, me esqueci
Andei!... Corri!... Disparei!... Me perdi
Voltei!... Cabisbaixo!... Triste regressei
Fitei!... Chorei!... E embevecido
O círculo vicioso da vida eu fechei
E aqueles olhos fixos em mim
Desisti! Capitulei!... e reconheci
Parei!.. Meditei!... E disse, Sim
A razão do meu viver, estão ali!
Eros Sebastião Machado
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89. Versos Gameleiros
SÚPLICA
Volta!... Retorna!... Vem!... pois a saudade é imensa
O que sinto por ti!... É uma coisa tão linda
Vivemos juntos!... O paraíso. Sem a sua presença
A alegria morreu e a felicidade é finda
Volta!... Eu sou quem canta e incensa
Teus olhos divinais!... vem!... Serás bem-vinda
Não demores tanto!... A minha dor é intensa
Te vejo em sonho, oh! Saudade!... E tu não vens ainda
Retorna!... Em teu lugar ficou um vácuo horrendo
E os meus olhos fiéis, aqueles que te adoram
Estão em constantes lágrimas, gemendo!...
E os “bons fluídos” aos poucos se evaporam
Retorna a quem te ama, flor querida
Vem reinar sobre mim!... Meus sentidos imploram
Regressa!... Vem!... dá sentido a minha vida
Sem você, a tristeza, a solidão, o infortúnio, me devoram
Volta!... Vem!... Arranca-me da escâncara do nada
Vem!... Põe vida nesta vida que já morreu
Com teu regresso, virá a luz da eterna madrugada
Uma nova terra! Um novo céu!... teremos, tu e eu
Eros Sebastião Machado
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91. Versos Gameleiros
BIOGRAFIA
João Lafayetti Gomes Barreto (jlgbarreto@hotmail.com)
— pinhalense (PR) por nascimento, mas capão-bonitense de
coração — é, entre outras coisas, poeta, contista e cronista,
pois adora escrever, adquiriu este hábito quando, nos tempos
de estudante foi nomeado redator de O Lábaro, periódico
estudantil, onde, por muitas vezes, tinha que completar
espaços em branco das colunas.
Lafayetti Barreto
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92. Versos Gameleiros
O REGATO
Eu sou aquele regato
De águas claras
Que vem lá do sertão.
Eu sou aquele regato
Que gostava daquele menino
Que vinha descalço
Molhar-se nas águas minhas,
Que pescava o lambari,
O cascudo, a taraíra,
Que se deitava no espraiado,
Que brincava distraído,
Que não ligava pra nada.
Eu gostava daquele menino.
O tempo correu,
Sofri cheias,
Sofri estios,
Mas minhas águas sempre correram.
Tenho saudade daquele menino
Que vinha descalço
Molhar-se nas águas minhas.
O tempo passou
Continuo correndo,
O menino,
Nunca mais voltou.
Lafayetti Barreto
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93. Versos Gameleiros
METÁFORAS
“Te darei o céu,
O sol,
As estrelas!”
Sei que tudo isto já deves ter ouvido
E sei, deve ter te agradado,
Mas são metáforas,
Meras metáforas;
Eu serei direto, conciso,
E mesmo não sendo romântico,
Digo: — Te amo!
E te darei o meu amor,
Puro, verdadeiro,
E não te darei o céu,
E nem o sol
E nem as estrelas.
Lafayetti Barreto
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94. Versos Gameleiros
AUGÚRIO
Mas quando eu poderia esperar, quando,
Que um dia deixarias de me amar?
Fico tonto, eu que vivia sonhando
Que jamais poderias me deixar.
Então, pelo sofrer que estou passando,
Ouças bem o que vou te desejar:
Quando outro “pensares” estar amando,
Tudo dele te fará me lembrar,
No riso dele, me verás sorrindo,
Nos beijos, me sentirás te beijando,
No falar, a mim estarás ouvindo,
E de saudades acabarás chorando,
E ansiosa me quererás de volta,
E me encontrarás aqui, te esperando.
Lafayetti Barreto
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95. Versos Gameleiros
CABELOS BRANCOS
Que importam os cabelos brancos?
Eu os ostento com orgulho,
Galardão que a vida me ofereceu
Por tudo que passei,
Pelo que vivi, pelo que chorei,
Pelas batalhas vencidas,
Mesmo pelas batalhas inglórias,
Pelos momentos tristes,
Pelos momentos alegres,
Pelas derrotas, pelas vitórias,
E, afinal estou aqui.
Das coisas tristes, esqueci,
As boas, trago sempre comigo,
Assim como num livro
Que estou sempre a reler.
No final, estou aqui.
Os cabelos prateados
Indicam a idade do corpo,
Mas nunca a idade da alma,
E apesar do tempo passado,
E de ter passado por tudo o que passei,
Ainda sou criança,
É o que diz lá do fundo,
Meu coração compassado,
Que ainda sou criança,
Que ainda sou menino!
E, afinal, estou aqui,
Menino,
Menino de cabelos brancos.
O menino mais velho do mundo!
Lafayetti Barreto
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96. Versos Gameleiros
DIA-A-DIA
Chegando cansado, no fim do dia,
Encontro teu sorriso me esperando,
E vejo nos teus olhos, alegria
E de ansiedade, teu peito arfando
E me beija tua boca macia,
E tuas mãos vão me acariciando,
E esqueço todo o cansaço do dia
Ouvindo as juras que vais murmurando.
E me guia tua mão firmemente
Rumo ao quarto, entre ansiosa e apressada,
Tão linda, nervosa, afoita, insistente;
Depois da festa de amor terminada,
Eu, feliz e descansado sorrio,
E tu sorris, bela e cansada.
Lafayetti Barreto
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97. Versos Gameleiros
OBJETO USADO
Mais uma vez me procuras arfante,
E outra vez dizes estar me amando,
E todo este teu amor inconseqüente
Tu mostras carinhosamente me beijando.
Mais uma vez me procuras ardente,
E mais uma vez eu fico pensando
Que tu não estás de carinho carente,
E sim que estás de verdade me amando.
Ilusão, novamente me enganei
E novamente fui por ti enganado,
E eu, que sonhos tolos imaginei,
Fico como simples objeto usado,
Pois os teus desejos eu saciei,
E objeto que sou, sou posto de lado.
Lafayetti Barreto
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98. Versos Gameleiros
MORTE NO CERRADO
O sol cresta inclemente o cerrado,
E mal este se põe
Avermelhando o horizonte,
Inicia-se a vida noturna
Que com o sair da lua
Fervilha oculta.
E, como que numa orquestra
Afinando os instrumentos,
Ouvem-se sons tímidos, aqui e ali,
Graves, profundos, agudos, estridentes,
Cicios e trilares.
Em pouco a orquestra entoa seu noturno.
De quando em vez, ao luar
Se vislumbra uma silhueta veloz.
Súbito, um som mais alto sobressai,
Ecoa como um grito chocante, pavor!
E toda a orquestra se cala,
O solo torna-se súplice e pára.
Pouco depois a orquestra reinicia tímida,
E aos poucos, num crescendo, volta ao auge.
Do céu, plácida, a lua assiste.
Lafayetti Barreto
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99. Versos Gameleiros
SAUDADE
O velho peão já não vê o gado passando
E sente que a vida se foi com a boiada.
O gado,
O cavalo,
O cão amigo não existem mais,
Existem ainda, a capa gaúcha,
A guaiaca vazia,
O berrante empoeirado
E o velho chapéu,
Que de vez em quando
Era batido na cabeça do arreio
Para tirar o pó da estrada.
Hoje, o velho chapéu não sai mais da velha cabeça,
Tem a impressão de que se o sacudir,
Sua vida se esvairia com a poeira,
Que não é poeira da estrada,
A poeira do tropel;
É a poeira da solidão,
Da tristeza,
A poeira da vida
Que se transformou em saudade...
Lafayetti Barreto
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100. Versos Gameleiros
REENCONTRO
Andando sem destino pela rua,
Casualmente passas ao meu lado,
E, revendo assim a imagem tua,
Percebi que nunca esqueci o passado,
E, chamei-te com alegria enorme;
Paraste hesitante, perturbada,
E, espantada murmuraste meu nome
Estendendo-me a mão delicada.
Afoito e sorrindo a aperto calado,
Te olhando sem saber o que falar,
Pensando no amor há muito acabado
E na razão do teu me abandonar.
Teus lábios, lindos me sorriam,
Teus olhos escuros, meigos me fitavam
E deles, lentas lágrimas corriam,
Os meus, lentamente se molhavam.
Eu, pensando em beijar-te longamente,
Mas te esquivas rápido, e voltando
Te misturas à multidão que indiferente
Te arrasta, e eu, estático fico olhando,
Não te segui, nem sequer te chamei,
Voltei-me, as lágrimas enxugando,
E só, triste, novamente caminhei
Como triste e só vinha caminhando.
Lafayetti Barreto
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101. Versos Gameleiros
JURAS
Beijando-me tão louca, apaixonada,
Toda nua nos meus braços, fremente
Te entregas, doce, mansa, atordoada,
Murmurando ser minha tão somente,
E baixinho, depois do amor cansada:
— Eu te amo, serei tua eternamente
E eternamente quero ser tua amada,
E te entregas sôfrega novamente.
E logo depois, sorrindo eloqüente:
— Eu te amo, te quero mais que ninguém!
E agora, sussurrando docemente:
— Que sejas meu eternamente também
E eu, beijando teus olhos, fascinado
Respondo: — Para todo o sempre, amém!
Lafayetti Barreto
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103. Versos Gameleiros
BIOGRAFIA
Nasci em 29 de junho do ano de 1966, capão-boniten-
se de alma e coração.
A minha formação acadêmica? Não tenho. Me formei
pela “Universidade da vida’', aquela em que acolhe a todos,
sem vestibulares.
Desde a mais tenra idade rabisco meus versos, buscan-
do na arte da nossa língua uma maneira de expressar meus
sentimentos mais profundos.
Às vezes com alegria, outras com tristeza..., o mais
importante é que encontro na poesia uma maneira de meus
sentimentos chegarem até vocês.
Pedro Paulo de Oliveira
Pedro Paulo de Oliveira
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104. Versos Gameleiros
SAUDADE
Sinto saudade
Daquele beijo,
Dado meio sem jeito
Meio que roubado,
Lembro dos seus olhos assustados
O seu rosto rosado
E o coração disparado
Do riso achando graça.
Sinto saudade
Daquele canto lá da praça
De novos, velhos enamorados
Das noites quentes
Ou frias
Não importa
Éramos todos amados...
Sinto saudade
Daquela inocência que se vai longe
Mas que nos fez descobrir
Que sonhar é preciso
E amar é imprescindível...
Pedro Paulo de Oliveira
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105. Versos Gameleiros
DEFINIÇÃO DE AMOR
Amor não se define
Apenas se entrega
Quando caminha pela veia,
Respira por poros
Onde suor em abundância,
Faz-se de magia
Onde o calor,
Irradia odor
Entre corpo e alma.
Sua pele macia
Supremacia de quem se ama
Amor assim abraça
Coração batendo em descompasso
Não se assusta
Nesse amor, já concebido...
Pedro Paulo de Oliveira
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106. Versos Gameleiros
LÁGRIMAS
Coração inflama, de dor derrama
suas lágrimas ao chão...
Reclama pelo mundo,
Pela paz que não existe,
Pela vida que ilude
Pelo sentimento que hoje
Deixa alguém na solidão.
Coração argumenta tristonho,
pois todo aquele sonho
explodiu pelo ar.
Sumiu no tempo
pairou nas alturas,
no infinito escondeu-se...
No universo da minha memória.
Coração manifestou-se na hora errada,
sem saber que naquela fachada
estava a destruição
que destruiu a esperança
a mera coincidência
de ficar mais um pouco.
Que com seu pensamento de desamor
destruiu o amor de um coração.
Pedro Paulo de Oliveira
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107. Versos Gameleiros
LINDA MENINA
Linda menina que passa
Faz de conta que não me vê
No entanto não sabe
O quanto me faz sofrer...
Seus passos mágicos acompanho
Cabelos esvoaçados pelo vento
São tão raros
Que meus olhos
Buscam a todo momento...
Linda menina que passa
Aliviou meu sofrimento
Com tal zelo e tempo
Sorrateira me observava
O quanto a esperava...
Pedro Paulo de Oliveira
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108. Versos Gameleiros
SONHO
Dormi;
Pensava que fosse sonho
De repente sua imagem vi
Como se fosse um anjo
Anjo você é...
No travesseiro molhado
No êxtase de ter te encontrado
No afago tanto desejado
Na lágrima no meu rosto derramada
Acordei, você me ama
Pensei que me amava
Era apenas sonho
Estar com você
É voar como anjo.
Pedro Paulo de Oliveira
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109. Versos Gameleiros
VOCÊ
Olhei para você,
Como a primeira vez que enxergava;
Tudo em você é diferente,
Apaixonante,
Intrigante,
Como primeira vez que amava,
Seu sorriso reluzente;
Inquietante,
Sobressai em meio a tanta gente;
Toma conta da minha mente.
Como capricho,
me põe de castigo
No laço do seu amor
Escapar não consigo...
Pedro Paulo de Oliveira
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