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PRISCILA
CRUZ
Nº 31 - AGOSTO 2014
DIRETORA EXECUTIVA DO TODOS PELA EDUCAÇÃO
ENTREVISTADA POR FERNANDO LUZIO
Este ebook é melhor visualizado com o iPad na
posição horizontal.
Conversamos com Priscila Cruz,
Diretora Executiva do movimento
“Todos Pela Educação”. Graduada em
Administração de Empresas pela
Fundação Getulio Vargas de São
Paulo, e também em Direito pelo
Largo São Francisco (Universidade de
São Paulo), Priscila tem exercido uma
liderança competente e inspiradora
nos últimos anos, em prol da garantia
de uma Educação básica de qualidade
para todas as crianças e os jovens do
Brasil.
Nesta entrevista, falamos sobre
Educação, um tema absolutamente
estratégico para o desenvolvimento do
nosso país, apontado por empresários
e executivos que temos recebido em
nosso Programa como um dos gargalos
mais preocupantes para o avanço do
progresso empresarial do país.
A entrevista foi gravada no escritório
da Luzio em São Paulo, poucos dias
antes da partida da Priscila para
Harvard, onde fará um Mestrado em
Administração Pública. Apresentamos
a seguir trechos resumidos da
entrevista. A versão completa você
poderá assistir pelo site
www.luzio.com.br, baixar no seu
iPhone/iPad/iPod pelo site da Luzio
ou pela iTunes Store (utilize o link no
nosso site).
1
Fernando Luzio. Priscila, uma
questão que tem sido bastante
debatida nos meios empresarial e
acadêmico é o interesse crescente
de muitos jovens recém formados
em faculdades de Administração
de Empresas de se engajarem em
ONG's – e não em empresas
privadas. Conte um pouco da sua
história para que todos possam te
conhecer e saber como você
chegou lá.
Priscila Cruz. Fiz
Administração de Empresas na
Fundação Getulio Vargas, muito
influenciada por minha família de
empresários. Entrei na Faculdade
querendo abrir meu próprio
negócio e no meio do curso senti
que o conhecimento jurídico iria
me fazer falta no futuro, então
também fui fazer Direito.
Fiz estágios em Marketing e
Vendas e me formei em
Consultoria de Negócios. Adorei
este trabalho porque Consultoria
tem algo de empreendedorismo,
já que você fica o tempo todo
reformulando e criando coisas
novas.
Na raiz da minha formação está o
trabalho voluntário. Eu sempre
quis ser uma agente de mudanças
e dar melhores condições para as
pessoas. Na escola onde estudei
minha vida inteira, fazíamos este
tipo de trabalho nas manhãs de
sábado, no Jardim Varginha
(Zona Sul de São Paulo). Sempre
achei importante ter essa
consciência social.
Um dia, em uma conversa de bar
entre amigos, havia uma colega
minha da GV que era uma aluna
excepcional e que trabalhava no
Terceiro Setor. Disparado, ela era
a pessoa mais satisfeita e contente
dali, totalmente mergulhada num
trabalho bem bacana na área da
Cultura. E aquilo ficou na minha
cabeça como uma peça que depois
foi se encaixando durante a minha
trajetória.
Na minha época de Faculdade,
diferente de hoje, o Terceiro Setor
não existia. Havia o trabalho
social e voluntário de arrecadar
agasalho, distribuir sopa no
Centro da cidade, mas nada
próximo a uma profissão. Em
2011, surgiu a oportunidade de eu
participar do Ano Internacional
do Voluntário, criado pela ONU, e
cuja Presidente do Comitê
brasileiro era a Milu Villela –
coincidentemente, mãe de um
colega meu da Faculdade. Como
no empreendedorismo você não
pode ter muito medo, tem de
arriscar, fui falar com ela (e com a
Maria Lúcia que está conosco até
hoje no Todos Pela Educação), fui
aceita e comecei ganhando um
terço do que ganhava na época,
mas era muito mais feliz.
Fazíamos coisas incríveis e fomos
apresentar os resultados no Ano
Internacional em Genebra, onde o
Brasil ganhou destaque.
Quando voltamos, o Comitê se
desfez, já que tinha a duração de
um ano, e resolvemos fundar do
zero uma outra organização de
voluntariado na escola: o “Faça
Parte”. Durante os 5 anos em que
coordenei o “Faça Parte”,
percebemos que era muito
importante o aluno ter uma
experiência como voluntário para
ter consciência social e trabalhar
em prol um futuro melhor, seja
como Presidente de empresa,
como empreendedor, funcionário,
operário ou professor. Porém,
esse aluno com 12-13 anos de
idade não sabia ler nem escrever,
e foi aí que pensamos em fundar o
“Todos Pela Educação”,
organização em que me encontro
até hoje e da qual tenho muito
2
orgulho de fazer parte.
Fernando Luzio. Um debate recente e
efervescente, nos meios empresarial e
acadêmico, diz respeito à tentativa de
interpretar a crise estrutural do sistema
capitalista. Movimentos fora do país, como
o Conscious Capitalism, ou Capitalismo
Consciente, têm surgido para procurar
respostas para esta crise: o que está
acontecendo de errado no
Capitalismo? E uma resposta que
tem sido praticamente unânime é
que as empresas se voltaram
prioritariamente para os ganhos
financeiros de curto prazo e
acabaram se desconectando do
seu Higher Purpose, ou
Propósito Maior. Por isso,
inúmeros jovens recém-
formados em escolas de
Administração de primeira linha
nos Estados Unidos, por exemplo,
têm partido para as organizações do
Terceiro Setor, e não para a iniciativa
privada porque as empresas não estão
conseguindo focalizar sua causa maior,
com a qual estes jovens buscam se
identificar.
Priscila Cruz. Existe uma movimentação
interessante: a do Setor “Dois e Meio”. O
Primeiro Setor é o Governo; o Segundo é a
iniciativa privada; o Terceiro são as ONG's; e há
um setor intermediário, o “Dois e Meio”, que são
3
"Não adianta ficarmos só
reclamando. Todos nós somos
muito responsáveis pela nossa
realidade, começando pelo voto.
Somos um país democrático
desde 1988, e o artigo 205 da
Constituição Federal do Brasil
diz: “A Educação é um dever do
Estado e da família com a
colaboração da sociedade”. Não
devemos atuar porque o Estado
não faz a sua parte, mas sim
porque devemos cumprir com a
nossa parte. Esta é a
nossa obrigação e o segundo
pilar do Todos Pela Educação”.
Priscila Cruz
os negócios sociais privados. Juridicamente, não são
ONGs e nem OSCIPs (Organização da Sociedade Civil de
Interesse Público), podem ter lucro porque são
registrados juridicamente como empresa, mas com um
propósito social. Por exemplo, há muitas startups se
alastrando no Brasil com projetos de Tecnologia de
Educação cuja finalidade é ajudar na formação e
avaliação de professores, e ajudar o aluno a aprender
mais e a realizar projetos. Inclusive, o Brasil tem sido
uma referência mundial nisso.
E existem vários modelos de Setor “Dois e Meio”: desde
aqueles que vão ajudar ganhando dinheiro – e quanto
mais dinheiro, melhor, pois é legítimo; até aqueles que
vão ajudar reinvestindo o lucro na própria empresa,
sendo remunerados apenas pelo trabalho. Essa é uma
saída interessante para quem tem uma veia
empreendedora e não quer sair totalmente do setor
privado.
É importante compartilhar que vou todo dia trabalhar no
“Todos Pela Educação” sem pensar que estou indo
trabalhar, dou muito valor a esse privilégio que sei que é
para poucos, mas trata-se de um mercado difícil. As
possibilidades são obviamente muito menores do que na
iniciativa privada, as organizações são muito pequenas e
não há tantas posições disponíveis, nem estrutura
suficiente para se oferecer uma política de treinamento,
de formação e de carreira.
Carreira é super difícil porque as organizações são muito
pequenas. No “Todos Pela Educação” são 40 projetos
tocados por 15 pessoas. Não dá para crescer mais do que
isso porque você depende de financiamento, patrocínio,
doação, então essas estruturas são muito enxutas, é um
mercado muito restrito e difícil de entrar atualmente.
Quando eu entrei há 13 anos, não existia o que existe
hoje, era tudo mais informal, não havia os atuais
clusters. Avançamos muito, temos mais organizações
melhor estruturadas, mas ainda assim é fechado.
É importante saber que não é fácil. O jovem sai da
faculdade, chega com aquele gás todo querendo mudar o
Brasil e precisa saber que as coisas devem seguir uma
rotina, processos, governança para aprovação de projetos
e Conselho. Vejo meninos com brilhos nos olhos
querendo mudar, mas não querendo se submeter às
institucionalidades das organizações sociais, e aí o Setor
“Dois e Meio” é uma saída bem interessante e que tem
sido bastante procurada.
Uma outra estrutura que também tem surgido são os
Coletivos, que não precisam se institucionalizar muito,
podem começar de maneira mais informal, “testando a
pegada”, vendo se a coisa vai andar e evoluir,
amadurecer para um outro formato.
O fato é que nunca na história da Educação brasileira
tanta gente se envolveu para melhorar. E não só
diretamente com os Governos, como também na criação
de produtos e tecnologia. Hoje, meninos de várias áreas
como Administração, Direito, Computação e Pedagogia
podem fazer projetos incríveis, inclusive escalar graças à
tecnologia, então tem sido bem interessante toda essa
movimentação.
Fernando Luzio. Você pode dar algum exemplo de
organização do Setor “Dois e Meio” e do Coletivo para
quem tiver o interesse em conhecer esses modelos?
Priscila Cruz. Por exemplo, há um grupo de jovens que
se reuniu para criar uma instituição chamada “Juntos
por Você” – o site deles é juntos.com.vc. Para terem o
4
“vc”, ao invés do “br”, eles registraram o site numa ilha
caribenha. São garotos super criativos que concluíram a
Universidade há pouco tempo e criaram esta empresa
para arrecadar fundos para ONG's, o chamado
crowdfunding: com valores pequenos, pulverizados e
numa escala maior, e com mais pessoas colaborando,
eles acumulam uma determinada quantia de dinheiro
que poderá financiar um determinado projeto de
organização social.
Na área de Tecnologia, uns meninos que saíram do ITA
criaram um site incrível chamado “Quadrado Mágico”,
que começou informalmente e hoje é uma empresa que
tem feito coisas muito bacanas voltadas à Educação, à
formação de professores e com conteúdos bem
interessantes.
Há também, um empreendedor brasileiro do mercado
financeiro que fez Mestrado em Educação em Stanford e
quando voltou, fundou o “Geekie” que, hoje, direciona
conteúdos para milhões de jovens fazerem simulados e
poderem melhorar sua nota no ENEM.
Adoro o “Descomplica”, do Marco Fisbhen, um excelente
professor de Física de um cursinho do Rio de Janeiro que
pensou: “Minhas aulas são tão boas, demorei tanto
tempo para conseguir fazê-las redondinhas, e por que só
o aluno que tem dinheiro para pagar esse cursinho pode
ter acesso a elas? Por que que eu não filmo minha aula e
a coloco na Internet?” Foi assim que ele começou,
pedindo a outros colegas que também filmassem suas
aulas até o projeto se tornar uma empresa. Hoje, ele tem
milhares de aulas filmadas em vídeo, às quais uma
grande parte de alunos que prestam o ENEM assistem.
Se você quiser assistir a uma aula maravilhosa de
Biologia sobre célula, você encontra no “Descomplica”.
Isso é muito interessante porque você vai ampliando as
fronteiras da própria escola, e aí um menino lá do
interior do Maranhão que não tem acesso a uma escola
de qualidade, mas tem acesso à Internet, pode ter as
melhores aulas do Brasil acessando o “Geekie”, o
“Quadrado Mágico”, o “Descomplica”, organizações mais
ligadas à Tecnologia.
Soube há pouco tempo de uma outra organização incrível
que está surgindo em Belo Horizonte, e que faz tutorias:
ela reúne diversos alunos, sendo que um é bom em
Física, mas não em História; e o outro é bom em História
e não em Física, então eles trocam, online, seus
conhecimentos. Esta é uma forma de peer-to-peer
learning bem bacana!
Fernando Luzio. E o “Todos Pela Educação”? Quais
são os objetivos do movimento e o que vocês têm
conquistado até o momento?
Priscila Cruz. O “Todos Pela Educação” é meu maior
orgulho na vida, depois das minhas duas filhas. Ele é um
terceiro filho que eu compartilho com muitos outros pais
e mães.
Esta é a beleza do movimento: foi criado a partir de dois
grandes vetores. O primeiro é o da indignação. Somos
um país rico, lindo, com uma gente boa que quer
melhorar de vida, e mesmo tendo atingido indicadores
cada vez melhores, a exclusão, a pobreza, a desigualdade
e a injustiça ainda são muito intensas. E no berço disso
tudo está um Sistema Educacional muito desigual.
Temos ilhas de excelência no Brasil, Municípios inteiros
fazendo um trabalho maravilhoso, mas infelizmente são
apenas ilhas e não arquipélagos.
5
Indignada, eu me pergunto: por que uma criança que nasce
na Vila Madalena, em São Paulo, vai aprender em uma
escola pública de alta qualidade e recebe um tratamento
diferente da criança que nasce no interior de Alagoas? Por
que há essa diferença se as duas crianças são brasileiras,
detentoras de seus direitos, sendo a Educação o direito
social número um da nossa Constituição Federal?
O segundo vetor é o da corresponsabilidade. Não adianta
ficarmos só reclamando. Todos nós somos muito responsáveis
pela nossa realidade, começando pelo voto. Somos um país
democrático desde 1988, e o artigo 205 da Constituição Federal
do Brasil, do qual eu gosto muito, diz: “A Educação é um dever
do Estado e da família com a colaboração da sociedade”. Este
último é um ponto importante: não devemos atuar porque o
6
Estado não faz a sua parte, mas sim porque devemos cumprir com a nossa parte. Esta é a nossa obrigação e o segundo pilar do
“Todos Pela Educação”.
Lá, todos somos motivados por estes dois vetores e muitos têm o pragmatismo como característica, graças a Deus, pois acho que
na Educação falta este pragmatismo. Temos muito a cultura de metas, propósitos, políticas, gestão. Inclusive, nossa primeira
premissa foi construir um movimento que tivesse metas. Atualmente, estamos mais acostumados a falar em metas de Educação,
mas em 2005, quando começamos a gestar a ideia, era algo que não se encaixava e tivemos a coragem de dizer que precisávamos
de metas claras.
Desenhamos um processo que foi muito inteligente e acertado: primeiro ouvir, ouvir, ouvir, ouvir, ouvir e depois construir junto.
Podíamos ter feito um “comitezinho” para lançar as bases do movimento, mas não. Realizamos 70 entrevistas – das quais tive o
privilégio de participar de todas na íntegra – com pensadores e especialistas da Educação, gestores, empresários, jornalistas e
dirigentes de outras organizações sociais que geraram um material muito rico, colocado na mesa para os 70 envolvidos, num
workshop em Abril de 2006. Saímos de lá com outros dois materiais muito importantes para o movimento: um com as Metas (até
então não finalizadas), e outro com a Estratégia.
Ao sairmos do workshop com as Metas não finalizadas, constituímos um Comitê Técnico robusto, formado por pessoas com uma
pegada científica, com acúmulo de pesquisa e evidências, por exemplo o Ricardo Paes de Barros, o Marcelo Neri que hoje é
Ministro, o Chico Soares que é Presidente do INEP (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais), o Ruben Klein, a
Nilma Fontanive, a Maria Helena Guimarães de Castro, enfim, gente de primeiro time da Educação com perfis diferentes, uns mais
economistas, outros mais gestores, mas todos com uma pegada técnica.
Com base no material produzido no workshop e com um cuidado técnico muito grande, o Comitê definiu Metas e Indicadores com
uma nota explicando cada Meta. E quanto à Estratégia, definimos seu tripé: observatório, demanda e oferta.
No que se refere ao observatório, sentimos a necessidade de criar no Brasil uma cultura de transparência e de observação dos
resultados. Em 2005, quando iniciamos o “Todos Pela Educação”, a sociedade não acompanhava a Educação brasileira, seus
indicadores não estavam nos jornais, só diziam que a Educação estava boa ou ruim, dependendo do desenvolvimento econômico
social da região. Foi aí que criamos o Observatório da Educação, hoje concretizado no Observatório do PNE (Plano Nacional de
Educação) e acessível a todos pelo www.observatoriodopne.org.br, onde se pode conhecer as Metas e os dados.
Sabemos que é impossível fazer a gestão de qualquer coisa sem um bom diagnóstico em mãos. E o PNE é isso: um diagnóstico
constante da Educação para todos os Estados e Municípios. E agora, com o “Prova Brasil”, podemos ter também um diagnóstico
por escola.
Além do site e de outros veículos de divulgação desses dados, produzimos o “Anuário da Educação Básica”, uma publicação que
hoje está na mesa de todos os gestores e de todo mundo que queira trabalhar com Educação, com um resumo dos principais dados
7
brasileiros e do diagnóstico da Educação em geral. Por trás
disso tudo existe um trabalho imenso de pesquisa,
levantamento e interpretação de dados, pois não adianta
apenas dizer que a evasão do Ensino Médio está aumentando,
é preciso dizer o porquê.
A segunda base do tripé é a demanda por Educação de
qualidade por e para todos os brasileiros. Algo que diferencia
muito o Brasil dos países asiáticos, por exemplo, é que a
população deles demanda uma Educação de qualidade. Não é
porque há vaga na escola que está tudo certo. Aqui, porquê os
pais não puderam ir à escola, o fato de seus filhos poderem já
é a maior maravilha do mundo, graças a Deus, graças ao
Prefeito, ao Governador, ao Presidente da República! E não! É
um direito do seu filho estar numa escola de qualidade, sendo
alfabetizado e aprendendo durante todos os anos, até concluir
o Ensino Médio. É este direito que temos de demandar!
Nesta segunda base estão todos os nossos projetos de
Comunicação. Em 2006, a Educação era a sétima prioridade
dos brasileiros; hoje ela é a segunda. Ela entrou na pauta, está
nos principais jornais brasileiros com jornalistas
especializados no tema, e isso tudo se deve muito ao “Todos
Pela Educação”, ao fato de termos todos esses dados e
materiais sobre os quais trabalhar.
Qualificamos a cobertura jornalística sobre Educação em
todas as mídias (rádio, TV, jornal, Internet). Fazemos a
formação de jornalistas por temas, por exemplo: uma semana
antes de saírem os resultados do ENEM, reunimos os
jornalistas e fazemos sua formação sobre o ENEM.
Nosso projeto mais antigo é “No ar: Todos Pela Educação”,
com 3.500 rádios espalhadas por todo o Brasil divulgando
pacotes de informação. Temos um outro trabalho de
comunicação em massa, por meio de campanhas de televisão,
como esta que eu adoro: “Um bom professor, um bom
começo!”, pois o bom professor é o começo de todas as coisas
boas que temos na vida. Agora, vamos entrar com a campanha
das 5 Atitudes, as 5 Metas, as 5 Bandeiras. Portanto, a
comunicação é a nossa estratégia para qualificar a demanda
por uma Educação de qualidade.
E a terceira base do tripé é a oferta da política pública. Este foi
um tema que gerou muito debate e acredito que acertamos em
nos posicionarmos ao lado do Governo, apoiando-o. Claro que
temos uma voz crítica, muitas vezes incomodamos, cobramos,
somos chatos porque pegamos no pé, fazemos com que as
coisas andem na política pública, mas também construímos
junto com o Governo – este é o nosso trabalho de advocacy.
Porque não existe esta posição de “estou aqui te exigindo e se
vire porque você é a pessoa eleita e nomeada para ser o
Secretário”. Somos todos parte do mesmo bolo, então temos
que atuar juntos, colaborarmos em parceria, com cada um no
seu espaço, fazendo aquilo que tem que ser feito e que consta
em seu mandato, a fim de melhorarmos a oferta da Educação.
Nestes 8 anos de advocacy, temos um histórico de sucesso,
com conquistas recentes fundamentais. Primeiro, a ampliação
da obrigatoriedade da matrícula nas escolas, que irá vigorar
plenamente em 2016. Hoje, é obrigatório a matrícula de
crianças e jovens de 6 a 14 anos, mas a partir de 2016, a
criança e o jovem de 4 a 17 anos têm que estar na escola.
Uma outra conquista é o PNAIC (Pacto Nacional pela
Alfabetização na Idade Certa), um projeto que hoje atinge
todos os Municípios do Ministério da Educação e que está
formando um exército de professores alfabetizadores no
Brasil inteiro para que eles garantam a alfabetização de
crianças de até, no máximo, 8 anos de idade. Esta é nossa
Meta 2.
8
O PNAIC foi uma experiência muito
interessante, com uma trajetória bem
bacana. O Brasil não tinha política de
alfabetização porque, também, não tinha
dados, então desconhecia-se a situação
da alfabetização das crianças no período
em que elas tinham que estar sendo
alfabetizadas (até os 8 anos de idade).
Foi aí que realizamos nacionalmente a
Prova ABC com a CESGRANRIO, com o
Instituto Paulo Montenegro e com vários
outros parceiros, com crianças no final
do 2º e 3º anos, para termos evidências
da alfabetização.
Vimos que somente 44% das crianças
com 8 anos de idade estava alfabetizada,
portanto mais da metade estava fora do
seu direito e não iria aprender nos anos
seguintes. Se conseguissem concluir o
Ensino Médio, não iriam aprender tudo
aquilo a que tinham direito, tornando-se
fortíssimas candidatas à repetência e à
evasão. Tínhamos de fechar a torneira do
analfabetismo ali no início. Com a Prova
BC, acendemos a luz vermelha no
Ministério da Educação e eles lançaram
o PNAIC que, hoje, está fazendo um bom
trabalho.
Outra conquista mais recentemente que
contou com uma atuação forte do “Todos
Pela Educação” foi o Plano Nacional de
Educação que, durante
aproximadamente 4 anos, ficou
tramitando no Congresso. As 5 Metas, as
5 Bandeiras do nosso movimento estão
lá e, hoje, ele é um plano que atende à
demanda da sociedade brasileira.
Como eu disse anteriormente, em 2005
era um pecado falar em metas de
Educação, e hoje, além de ser linguagem
corrente, brigamos por metas cada vez
mais ambiciosas.
Além dessas conquistas que mencionei,
tivemos várias outras interessantes,
inclusive uma que ocorreu bem no início
do “Todos Pela Educação”: quando
9
"Metade do desempenho escolar de um aluno se deve às políticas públicas: excelência
na implementação, escola de qualidade, currículo, avaliação que funciona, gestão de
sala de aula, professor bem formado e remunerado, com atratividade para a carreira,
etc.; a outra metade se deve ao background familiar deste aluno."
Priscila Cruz
lançamos as 5 Metas, o Governo Federal lançou o IDEB
(Índice de Desenvolvimento da Educação Básica), uma
conjugação das Metas 3 e 4 do nosso movimento, e para
concretizá-lo, foi necessário realizar uma prova nacional, em
todas as escolas brasileiras – a “Prova Brasil”. Graças a isso,
passamos a ter informações sobre todas as escolas do país, o
que viabilizou várias políticas estruturantes importantíssimas
que hoje estão na rua.
Atualmente, estamos trabalhando sobre a Lei de
responsabilidade educacional e Lei de reformulação do
Ensino Médio, que são outras bandeiras nossas.
Fernando Luzio. Os empresários com quem conversamos,
inclusive aqui no Novos Intérpretes, são unânimes em
afirmar que um dos gargalos mais preocupantes do
desenvolvimento da força de trabalho e, portanto, do avanço
do desenvolvimento organizacional no país está atrelado às
grandes restrições e aos equívocos do modelo de Educação no
Brasil.
Por que temos uma Educação tão limitada, com esses
resultados tão preocupantes e, ao mesmo tempo, com essas
ilhas de excelência, como você mencionou, em alguns
Municípios?
Priscila Cruz. Quando fechamos o zoom, parece que está
tudo estagnado, mas quando abrimos, vemos o quanto nós
avançamos, basta analisarmos um gráfico da Educação desde
1950 – que historicamente é “ontem”. Entretanto, como o
nosso país viveu séculos de total descaso com ela, mesmo com
este avanço nós ainda estamos num patamar muito baixo e
inadmissível. Além disso, impactar as empresas e a sociedade
como um todo, impactar a vida inteira da Maria, do João e do
Pedro. E aqui, temos uma tríade a resolver.
Em primeiro lugar: a boa notícia é que pela primeira vez na
história do Brasil a Educação é nossa segunda prioridade – ela
só perde para a Saúde, o que é ótimo, pois é preciso estar vivo
para poder estudar. Portanto, hoje a Educação é uma
prioridade dos brasileiros, está no discursos dos empresários
e da sociedade. Tem gente trabalhando pela Educação no
Setor Privado, no “Dois e Meio”, no Terceiro setor, por todos
os lados.
Essa efervescência nos dá a esperança de que a coisa irá
melhorar ainda mais e de forma acelerada, que é exatamente
do que precisamos: de saltos, pois se continuarmos na
velocidade em que estamos hoje, teremos apenas 70% dos
alunos aprendendo em 2050 e não podemos permitir que isso
ocorra! Não adianta só continuarmos crescendo, temos que
criar uma aceleração na curva de crescimento.
Em segundo lugar, existe uma demanda crescente que ainda
não é pela qualidade da Educação. E aqui é importante uma
autocrítica: nem mesmo os empresários cobram qualidade
das escolas públicas no entorno de suas empresas. Há uma
interligação constante entre o público e o privado, e o
empresário que tem uma empresa, uma fábrica, uma
indústria, um serviço, um supermercado numa cidade; que
tem pautas com o Prefeito, com o Governador, poderia muito
bem incluir nestas pautas a Educação, por exemplo: “Entrei
no Observatório do ‘Todos Pela Educação’ e conheço o
diagnóstico ruim das escolas do meu entorno, então
precisamos fazer alguma coisa, e eu estou aqui me oferecendo
para ajudar”.
Esta postura de corresponsabilidade é fundamental, pois o
salto que esperamos e do qual precisamos não irá acontecer
sem a nossa participação. Por isso, não pode ser qualquer
demanda, tem que ser uma demanda qualificada, sobretudo
no sentido da participação e do apoio da sociedade como um
todo.
10
Em terceiro lugar: um fenômeno
cultural do Brasil é que adoramos
debater a Educação, mas no momento
em que a política sai do gabinete, da
mesa do investidor ou da ONG, e vai
descer para a sala de aula, sobra
pouco... Vamos nos perdendo... Claro
que existe toda uma estrutura
complicada, grande, engessada, por
exemplo no Estado de São Paulo, onde
as redes são gigantescas, com 6.500
escolas estaduais, então é muito
complicado de se chegar na ponta, e é
essa excelência de implementação que
nos falta.
Podemos dobrar os investimentos na
Educação, mas se não tivermos a
coragem de fazer as mudanças
necessárias, nada irá acontecer.
Precisamos mudar a formação dos
professores, melhorar sua
remuneração para podermos atrair os
melhores alunos do Ensino Médio que
queiram tornar-se professores, e assim
criarmos um ciclo positivo – todos os
países que estão bem em Educação
fazem isso. Mas no estado em que
estamos, quem conseguimos atrair
para a carreira docente? Quem está
indo fazer Pedagogia? Não são os
melhores alunos. Portanto, temos de
melhorar a atratividade.
E é preciso ter muita coragem para
fazer isso porque iremos mexer com
interesses colocados, teremos que abrir
espaço no orçamento para o
pagamento do professor, teremos que
discutir a questão dos aposentados,
pois queremos melhorar o salário para
atrairmos os novos professores, e não
os que já não estão mais na ativa, e esta
é uma discussão muito impopular,
complicada e difícil de ser negociada
com os Sindicatos. Não vamos
conseguir ampliar a remuneração dos
ativos e dos aposentados, então como
equacionar isso?
Enfim, há uma série de políticas que
nos demanda coragem para
implementar porque, em geral, existem
várias organizações na Educação que
têm apego aos seus privilégios e não
querem mudar. Coragem e boa
implementação é uma dupla que
precisa funcionar sempre junto.
O ponto crítico da gestão na Educação
é algo em que as empresas podem
ajudar bastante, porém não com a
lógica da iniciativa privada, não com
aquela postura do tipo “Sou um
empresário bem sucedido, veja o
tamanho da minha empresa e como eu
cresci nos últimos anos, vim aqui te
ensinar como gerir sua rede de
escolas...”. A abordagem deve ser
totalmente diferente, do tipo “Sou
muito bom no que faço, mas também
quero aprender como se faz gestão
pública e, quem sabe, podemos trocar
nossos conhecimentos”.
Já tivemos muitas experiências com a
iniciativa privada querendo nos ajudar
com toda a boa vontade, mas com uma
lógica que não se encaixa e que acaba
atrapalhando mais do que ajudando. E
também já tivemos casos maravilhosos
de empresários que aprenderam muito
com a lógica da gestão pública e
conseguiram aproveitar os
aprendizados para a sua própria
empresa.
E quanto às ilhas de excelência, temos
um caso maravilhoso em Sobral e em
outras cidades do interior de São Paulo
que conseguem ter um resultado muito
bom, sem pirotecnia. Não se trata de
discos voadores que baixaram na
Secretaria da Educação. Nada disso. O
que existe é continuidade, o que não
significa ter o mesmo Partido
ganhando o tempo inteiro, já que a
democracia pressupõe a alternância de
poder. Mesmo com a troca do poder
político naquela cidade, a Secretaria de
Educação deve ser blindada. O que está
funcionando continua, o que não está
funcionando é reformulado e aprende-
se com os erros.
No entanto, o que costuma acontecer é
11
que como eles sempre
querem deixar a sua marca,
destruindo tudo para
começar do zero, então
imagine os ciclos começando
e terminando a cada 4 anos?!
É impossível obter bons
resultados desta forma, ainda
mais com a maioria dos
projetos em Educação sendo
de longo prazo.Novamente a
importância da excelência na
implementação: avaliar,
rodar o PDCA (Plan-Do-
Check-Act), refazer,
implementar, errar, ajustar e
assim ir melhorando,
amadurecendo e tomando
outros rumos. E além disso, o
foco deve ser o aluno – e não
as instituições – para se
entregar uma Educação de
qualidade.
Ter uma equipe
comprometida também é
fundamental, e sabemos o
quanto isso é difícil. E esta é
uma questão que muda
muito do setor privado para
o público, pois os incentivos
são outros, a carreira pública
é diferente, há isonomia,
estabilidade, amarras de
gestão que não existem na
iniciativa privada. As
ferramentas desta não
podem ser usadas naquela,
onde são mais restritas.
Trata-se muito mais de um
trabalho de sedução, onde o
próprio Secretário tem que
engajar a Secretaria, as
escolas, os professores e os
alunos. Não adianta o
Secretário baixar uma norma
e achar que a coisa vai
acontecer lá na ponta; assim
como também, não adianta o
gestor ter uma ideia
maravilhosa, passar um e-
mail para todo mundo e
achar que a coisa vai
acontecer na empresa.
12
"Quando uma mãe lê para o seu filho um livrinho toda noite antes dele dormir, além de fazer um gesto de carinho e atenção, ela tam-
bém desenvolve o vocabulário da criança, treinando sua escuta, concentração, imaginação e entendimento, o que irá ajudá-la muito
na escola. Algo que é tão simples e automático parece não ter importância, mas tem um significado e um impacto muito grande na
vida futura da criança e precisa ser valorizado."



Priscila Cruz
Por isso, sempre digo que os 5.600
Secretários Municipais que temos no
Brasil precisam ser os melhores
gestores do país, pois está em suas
mãos nossa Educação. Devem
promover o engajamento por meio de
uma liderança legítima que as pessoas
incorporem.
E no dia a dia cabe se fazer o “feijão
com arroz” bem feito, com foco e
dentro do orçamento e de um tempo
limitados. Com o básico bem feito,
pode-se fazer coisas incríveis.
Fernando Luzio. Algo que tem
chamado minha atenção nas conversas
que tivemos é que algumas descobertas
recentes sobre Educação têm mudado
alguns paradigmas muito importantes,
por exemplo, o impacto que as
habilidades socioemocionais têm no
sucesso profissional de uma criança lá
no futuro – antigamente se achava que
o Q.I. (Quociente de Inteligência) era o
fator mais relevante.
Quais são os novos paradigmas ou as
novas referências que deveriam nortear
o aprimoramento do modelo de
Educação básica em qualquer escola,
seja ela pública ou privada?
Priscila Cruz. Temos dois conjuntos
de respostas para esta sua pergunta:
primeiro, é a personalização da
aprendizagem. A nossa formação de
professores ainda não incorporou os
achados mais recentes da
Neurociência. O estudo do cérebro
avançou muito nos últimos anos, hoje
sabemos muito mais sobre como
aprendemos, como construímos nossos
conhecimentos, sobre nossa memória e
todos esses processos de cognição, só
que, infelizmente, essas descobertas
ainda não foram incorporadas à
formação do professor, o que é
contraditório, pois o quê o professor
está fazendo ali? Está trabalhando com
a mente das crianças o tempo inteiro!
Portanto, é fundamental que ele
conheça as técnicas para promover a
aprendizagem do aluno. Levando-se
em conta que cada pessoa aprende de
forma e em ritmos diferentes.
Nossas escolas não foram constituídas
nesse modelo porque quem está
formulando nossas políticas, dirigindo
o país e as empresas, passou pelas
escolas que deram “certo” – com
muitas aspas – numa lógica fabril:
pego um lote de 25-35 alunos, passo
este lote por um processo único e este
lote tem que sair do outro lado do
processo com um certo acúmulo de
conhecimentos. Este seria o valor
agregado do processo. Todos os alunos
têm o mesmo tratamento, pois fazem
parte de um mesmo lote, e esperamos
deles o mesmo resultado. Entretanto,
numa sala de 25-35 alunos, há 25-35
pessoas absolutamente diferentes.
Todo gestor de empresa, de Recursos
Humanos sabe que os estímulos
precisam ser diferentes, a formação de
um é para uma coisa, a formação de
outro é para outra coisa, cada um vem
com deficiências, defasagens, vocações
e interesses tão diferentes que é preciso
dar tratamentos diferentes a eles.
Então, algo que hoje está muito claro é
que temos que tratar de maneira
diferente os diferentes. No entanto,
isso é muito difícil de implementar
porque enraizamos esse sistema de
tratamento único para todos. Na
Educação, é essencial respeitar os
tempos: posso ser muito rápido para
aprender Matemática, mas preciso de
mais tempo para a História, portanto
não adianta fazermos tudo
padrãozinho para todas as disciplinas,
senão eu vou ficar para trás em
História e vou me desestimular, já que
a classe inteira já aprendeu o que eu
ainda não aprendi.
E a tecnologia pode ajudar muito
porque de posse dos seus objetivos de
aprendizagem, o aluno pode ir atrás. E
o papel do professor muda
radicalmente: de ensinador a mediador
da aprendizagem. Obviamente, há
13
milhões de resistências, mas ou fazemos isso ou só teremos 70% dos alunos aprendendo em 2050.
Essa personalização da aprendizagem que precisamos implementar rapidamente dará mais autonomia e, portanto, mais
responsabilidade ao aluno. Ele resiste a esse novo sistema porque é mais cômodo esperar que o professor o ensine. Agora, ele terá
que se mexer para ir atrás de sua aprendizagem, o que será uma boa oportunidade para desenvolver habilidades importantes para
o resto da sua vida.
Outro ponto é a importância das habilidades não-cognitivas. Heckman, ganhador de Prêmio Nobel, conduziu um estudo
demostrando que o aluno com atributos não-cognitivos, socioafetivos e socioemocionais – mais concentrado, focado, responsável,
com maior controle das emoções, que não explode e não se deprime facilmente, mais resiliente – é preditor de sucessos escolar e
futuro, mais do que o aluno com um bom Q.I. (Quociente de Inteligência).
Vale destacar algo importante: estas habilidades socioemocionais não são uma responsabilidade apenas da escola, mas também
das empresas, famílias e sociedade como um todo.
Metade do desempenho escolar de um aluno se deve às políticas públicas já mencionadas: excelência na implementação, escola de
qualidade, currículo, avaliação que funciona, gestão de sala de aula, professor bem formado e remunerado, com atratividade para a
carreira, etc.; a outra metade se deve ao background familiar deste aluno. Isso explica, em grande parte, por quê as escolas
públicas têm resultados piores do que as escolas particulares: porque a escola particular tem alunos com background familiar mais
desenvolvido. A criança que vai à escola particular tem livro em casa, o que torna seu vocabulário mais rico – sabemos que o
número de palavras que uma criança fala aos 2 anos de idade tem um impacto enorme em sua aprendizagem futura –, está exposta
a situações mais diversas, está aprendendo o tempo todo e, quando chega na escola, ela decola; enquanto que a criança da escola
pública vai se alfabetizar apenas aos 5 anos de idade. E é justamente pelo fato destas realidades serem diferentes que o trabalho da
escola pública tem que ser melhor do que o da escola particular, tem que agregar um valor maior, a fim de compensar a falta de
background familiar.
Quero ilustrar isto com uma história pessoal: durante alguns anos, fui professora voluntária de teatro em um abrigo na Zona Sul
de São Paulo, onde as crianças têm backgrounds familiares muito complicados, os pais perderam suas guardas por algum tipo de
situação de violência, abuso e/ou pobreza extrema.
Minhas turmas tinham de 7 a 10 crianças, enquanto que as das escolas públicas têm 30 a 35 alunos. Ainda assim, demorei alguns
meses para conseguir fazer com que as crianças se sentassem em roda e ficassem 15 minutos escutando os comandos para as
atividades que iríamos fazer. Nossos filhos vão ao teatrinho e estão acostumados a se sentar, ouvir historinhas e se concentrar, aí
quando chegam na escola eles ficam sentadinhos bonitinhos, escutando a professora por um tempão.
Por conta disso tudo, o “Todos Pela Educação” fez uma grande pesquisa etnográfica com o Instituto Tellus que durou 5 meses,
onde percorremos todas as regiões do país acompanhando crianças com seus pais e avós em casa, indo e voltando da escola,
14
15
Cena do evento de lançamento do Todos Pela Educação 

no Museu do Ipiranga em São Paulo, 

em 6 de setembro de 2006
conversando com diretores e
professores. Cruzamos esses
resultados com as pesquisas mais
recentes de Neurociência para
identificarmos as 5 atitudes que
precisamos promover na
população para que essa criança
tire o melhor proveito da escola e
que essa escola tenha um aluno
mais preparado com habilidades
não-cognitivas, com um
repertório maior que irá facilitar o
trabalho das próprias escolas.
A primeira atitude é valorizar o
professor, a aprendizagem e o
conhecimento. Porque
infelizmente, é muito comum
haver dentro da própria casa uma
fala negativa sobre o professor,
sendo que a Educação acontece a
partir de uma relação entre o
professor e o aluno. Sem
perceberem, os pais ou avós que
desvalorizam os professores estão
enfraquecendo a conexão entre
estes e a criança, prejudicando
sua aprendizagem.
Os pais podem até achar que o
professor não é bom, que não está
dando a devida atenção ao seu
filho, mas não deveriam dizer isso
perto dele e sim ir lá na escola
cobrar. É fundamental valorizar o
professor que está ali para ajudar
o filho: “Filho, preste atenção ao
professor, se ele disse aquilo,
vamos entender porquê”.
Também, é fundamental valorizar
a aprendizagem e o
conhecimento. Nossa cultura
valoriza muito mais o cargo do
que a trajetória que levou ao
cargo. O que vale é passar de ano
com o menor esforço possível e
não o aprendizado que leva o
aluno a passar de ano. Temos que
mudar essa óptica com ações
muito simples ao alcance de
todos, por exemplo: quando os
pais chegam do trabalho, eles
podem perguntar ao filho o que
ele aprendeu de interessante, ou
“O papai não teve chance de ir à
escola, então me ensina o que
você aprendeu hoje?” Vários
profissionais bem sucedidos
relatam que os pais eram
analfabetos, mas tinham uma
preocupação muito importante
com sua aprendizagem.
A segunda atitude é colocar a
Educação no dia a dia, algo bem
básico e muito importante porque
comunica ao filho a importância
que a família dá à Educação.
Ações como ir às reuniões;
conversar com os professores; na
medida do possível, levar e/ou
buscar os filhos na escola; entrar
com eles na escola; relacionar-se
com os outros pais, com os
professores, com a direção, com a
coordenação pedagógica; ir aos
eventos que a escola oferece; usar
o espaço da escola como um
espaço de recreação, de
convivência familiar; perguntar
aos filhos se eles têm lição de
casa, vê-las com eles; perguntar se
eles têm prova – ações que
colocam a escola no dia a dia da
família.
Mesmo os pais ou avós
analfabetos que cuidam daquela
criança devem olhar o capricho do
seu caderno – algo
importantíssimo que revela o
respeito pelo professor que irá
corrigir aquela lição. E um
problema típico da classe média
ou da elite brasileira são os pais
que fazem a lição de casa junto
com o filho. Isso não é bom
porque é fundamental dar
autonomia ao filho, deixá-lo errar.
Também, algo que os RHs das
empresas poderiam fazer é ajudar
seus funcionários na educação dos
seus filhos, liberando-os para que
16
possam participar da reunião dos filhos na escola. Não é
só investir em creche – algo obrigatório por Lei –, mas
permitir que seus funcionários possam estar presentes
nas reuniões de pais e mestres. Os pais participam
menos da educação de seus filhos porque estão
trabalhando, muitas vezes em duplas jornadas.
Paralelamente, as escolas precisam facilitar a agenda
dessas reuniões, porque normalmente elas são marcadas
às 10h ou às 15h, quebrando muito as manhãs e as tardes
dos pais.
A terceira atitude é promover atividades que estimulem
habilidades importantes não-cognitivas e socioafetivas,
como a concentração, a responsabilidade, a autonomia e
o controle emocional. Quando uma mãe lê para o seu
filho um livrinho toda noite antes dele dormir, além de
fazer um gesto de carinho e atenção, ela também está
desenvolvendo o vocabulário da criança, treinando sua
escuta, concentração, imaginação e entendimento, o que
irá ajudá-la muito na escola. Algo que é tão simples e
automático parece não ter importância, mas tem um
significado e um impacto muito grande na vida futura da
criança e precisa ser valorizado. Algo que é muito difícil
para as famílias que se encontram no quinto inferior de
renda e vivem numa pobreza imensa, com um
analfabetismo muito grande, e que por isso precisam
muito da nossa ajuda para desenvolverem essas
habilidades.
A quarta atitude é apoiar o projeto de vida da criança e
do jovem. Para que a escola faça sentido e o aluno queira
aprender, ela precisa fazer parte da sua história, do seu
projeto de vida. Afinal, por que o jovem está evadindo
tanto no Ensino Médio? Porque essa escola do Ensino
Médio não faz sentido para o seu projeto de vida – sendo
que muitos nem têm um projeto de vida. E sem projeto
de vida, a escola perde totalmente o sentido.
Existe uma diferença muito grande entre as crianças do
quinto superior (elite e classe média) e as do quinto
inferior de renda: as primeiras têm as portas
escancaradas para a vida, têm oportunidades para vários
estímulos, conhecimentos e experiências que vão
compondo o seu projeto de vida; enquanto que as
crianças mais pobres veem a vida pelo buraquinho da
fechadura, têm um modelo muito mais viciado na
restrição, por isso as situações de vida às quais elas estão
expostas vão se repetindo de geração em geração. Esta
criança tem uma mãe quebradora de coco porque o avô
era quebrador de coco, porque o bisavô também já
quebrava coco e assim continuamente.
Temos de pensar nestas crianças e expandir seus
horizontes, caso contrário, não vamos conseguir ajudá-
las a criarem um novo projeto de vida. O que não
significa que elas tenham de criar projetos de vida com
os mesmos valores de sucesso das crianças do quinto
superior. Elas até podem continuar quebrando coco, mas
porque elas escolheram ser quebradoras de coco, por
valorizarem a herança familiar e porque este é o seu
projeto de vida, e não porque esta é a sua única opção.
E a quinta atitude, que está muito relacionada a todas as
outras, é ampliar o repertório esportivo e cultural da
criança. Quanto mais cultura e prática esportiva essa
criança puder acessar, mais ela irá aprender Português e
Matemática na escola. E esta é uma descoberta recente:
tudo que aprendemos de novo está relacionando a algo
que já aprendemos anteriormente, e precisamos fazer
esta conexão, porque quanto mais coisas aprendidas
existirem na nossa cabeça, mais conseguiremos
17
aprender.
Portanto, a exposição às manifestações culturais e esportivas mais diversas vai criando
conexões no cérebro da criança que depois irão facilitar muito sua aprendizagem.
Existe uma correlação muito forte entre a prática esportiva e a Matemática, sobretudo
a Geometria, que é a relação com o espaço físico. Então, quanto maior for a minha
experiência sensorial de espaço, mais eu consigo aprender Geometria. Além disso, o
esporte desenvolve habilidades não-cognitivas de responsabilidade, persistência,
treino, concentração e respeito às regras.
Fernando Luzio. Qual o caminho para quem quiser saber mais sobre as 5 atitudes?
Priscila Cruz. Basta entrar em nosso site www.todospelaeducacao.org.br e acessar os
materiais que temos à disposição do público. Em Agosto de 2014, faremos um
lançamento de todo esse Programa de forma mais completa.
Fernando Luzio. Se você fosse escrever uma carta para suas filhas compartilhando
as atitudes ou maneiras de pensar e encarar a vida que você aprendeu ao longo de sua
trajetória de vida, e que fazem toda a diferença no desenvolvimento profissional e
pessoal, qual seria a sua mensagem? Qual o legado que você deixaria para elas?
Priscila Cruz. Gostaria de deixar duas mensagens como legado para elas. A primeira
é para elas serem curiosas sempre, mergulharem nas aprendizagens, aproveitarem o
período escolar e depois a Universidade. Irem sempre atrás do que gostam de ler e
aprender. Pois toda criança nasce curiosa, querendo aprender, mas isso vai se
perdendo.
Não é preciso ir a fundo em tudo, eleja alguns interesses mais imediatos e outros nem
tanto, descubra os conhecimentos que mais te encantam e sejam leitoras e aprendizes
vorazes.
Em segundo lugar, quanto mais generosos formos com a vida, com os outros e com o
nosso meio, mais a vida nos retribui. Não importa o que elas escolham fazer, sejam
elas engenheiras, advogadas, chefes de cozinha ou fotógrafas, elas não precisam
trabalhar em organização social como a mãe, mas o que quer que escolham ser, sejam
abertas e generosas. Gosto muito da palavra “obrigada”, então agradeçam sempre por
tudo e a todos.
18
Fernando Luzio. Muito obrigado, Priscila. Quando
criamos o Programa Novos Intérpretes, há pouco mais de
um ano, tínhamos exatamente este objetivo: termos a
oportunidade e o privilégio de disseminar o conhecimento
de pessoas tão especiais como você.
Priscila Cruz. O prazer foi totalmente meu!
PROGRAMA NOVOS INTÉRPRETES
Entrevistador: Fernando Luzio

Idealização e Direção: Fernando Luzio

Supervisão Editorial: Patrícia Luzio

Edição e Fotografia: Robson Crociati

Apoio: Deborah Sabbatini

Produção: Luzio Solutions for Growth




Luzio Solutions for Growth
www.luzio.com.br / novosinterpretes@luzio.com.br

+55 11 3045-5651 Rua Afonso Braz, 473 - cj. 43

Vila Nova Conceição - São Paulo - SP 

04511-011 Brasil
19

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Priscila cruz

  • 1. PRISCILA CRUZ Nº 31 - AGOSTO 2014 DIRETORA EXECUTIVA DO TODOS PELA EDUCAÇÃO ENTREVISTADA POR FERNANDO LUZIO
  • 2. Este ebook é melhor visualizado com o iPad na posição horizontal. Conversamos com Priscila Cruz, Diretora Executiva do movimento “Todos Pela Educação”. Graduada em Administração de Empresas pela Fundação Getulio Vargas de São Paulo, e também em Direito pelo Largo São Francisco (Universidade de São Paulo), Priscila tem exercido uma liderança competente e inspiradora nos últimos anos, em prol da garantia de uma Educação básica de qualidade para todas as crianças e os jovens do Brasil. Nesta entrevista, falamos sobre Educação, um tema absolutamente estratégico para o desenvolvimento do nosso país, apontado por empresários e executivos que temos recebido em nosso Programa como um dos gargalos mais preocupantes para o avanço do progresso empresarial do país. A entrevista foi gravada no escritório da Luzio em São Paulo, poucos dias antes da partida da Priscila para Harvard, onde fará um Mestrado em Administração Pública. Apresentamos a seguir trechos resumidos da entrevista. A versão completa você poderá assistir pelo site www.luzio.com.br, baixar no seu iPhone/iPad/iPod pelo site da Luzio ou pela iTunes Store (utilize o link no nosso site). 1
  • 3. Fernando Luzio. Priscila, uma questão que tem sido bastante debatida nos meios empresarial e acadêmico é o interesse crescente de muitos jovens recém formados em faculdades de Administração de Empresas de se engajarem em ONG's – e não em empresas privadas. Conte um pouco da sua história para que todos possam te conhecer e saber como você chegou lá. Priscila Cruz. Fiz Administração de Empresas na Fundação Getulio Vargas, muito influenciada por minha família de empresários. Entrei na Faculdade querendo abrir meu próprio negócio e no meio do curso senti que o conhecimento jurídico iria me fazer falta no futuro, então também fui fazer Direito. Fiz estágios em Marketing e Vendas e me formei em Consultoria de Negócios. Adorei este trabalho porque Consultoria tem algo de empreendedorismo, já que você fica o tempo todo reformulando e criando coisas novas. Na raiz da minha formação está o trabalho voluntário. Eu sempre quis ser uma agente de mudanças e dar melhores condições para as pessoas. Na escola onde estudei minha vida inteira, fazíamos este tipo de trabalho nas manhãs de sábado, no Jardim Varginha (Zona Sul de São Paulo). Sempre achei importante ter essa consciência social. Um dia, em uma conversa de bar entre amigos, havia uma colega minha da GV que era uma aluna excepcional e que trabalhava no Terceiro Setor. Disparado, ela era a pessoa mais satisfeita e contente dali, totalmente mergulhada num trabalho bem bacana na área da Cultura. E aquilo ficou na minha cabeça como uma peça que depois foi se encaixando durante a minha trajetória. Na minha época de Faculdade, diferente de hoje, o Terceiro Setor não existia. Havia o trabalho social e voluntário de arrecadar agasalho, distribuir sopa no Centro da cidade, mas nada próximo a uma profissão. Em 2011, surgiu a oportunidade de eu participar do Ano Internacional do Voluntário, criado pela ONU, e cuja Presidente do Comitê brasileiro era a Milu Villela – coincidentemente, mãe de um colega meu da Faculdade. Como no empreendedorismo você não pode ter muito medo, tem de arriscar, fui falar com ela (e com a Maria Lúcia que está conosco até hoje no Todos Pela Educação), fui aceita e comecei ganhando um terço do que ganhava na época, mas era muito mais feliz. Fazíamos coisas incríveis e fomos apresentar os resultados no Ano Internacional em Genebra, onde o Brasil ganhou destaque. Quando voltamos, o Comitê se desfez, já que tinha a duração de um ano, e resolvemos fundar do zero uma outra organização de voluntariado na escola: o “Faça Parte”. Durante os 5 anos em que coordenei o “Faça Parte”, percebemos que era muito importante o aluno ter uma experiência como voluntário para ter consciência social e trabalhar em prol um futuro melhor, seja como Presidente de empresa, como empreendedor, funcionário, operário ou professor. Porém, esse aluno com 12-13 anos de idade não sabia ler nem escrever, e foi aí que pensamos em fundar o “Todos Pela Educação”, organização em que me encontro até hoje e da qual tenho muito 2
  • 4. orgulho de fazer parte. Fernando Luzio. Um debate recente e efervescente, nos meios empresarial e acadêmico, diz respeito à tentativa de interpretar a crise estrutural do sistema capitalista. Movimentos fora do país, como o Conscious Capitalism, ou Capitalismo Consciente, têm surgido para procurar respostas para esta crise: o que está acontecendo de errado no Capitalismo? E uma resposta que tem sido praticamente unânime é que as empresas se voltaram prioritariamente para os ganhos financeiros de curto prazo e acabaram se desconectando do seu Higher Purpose, ou Propósito Maior. Por isso, inúmeros jovens recém- formados em escolas de Administração de primeira linha nos Estados Unidos, por exemplo, têm partido para as organizações do Terceiro Setor, e não para a iniciativa privada porque as empresas não estão conseguindo focalizar sua causa maior, com a qual estes jovens buscam se identificar. Priscila Cruz. Existe uma movimentação interessante: a do Setor “Dois e Meio”. O Primeiro Setor é o Governo; o Segundo é a iniciativa privada; o Terceiro são as ONG's; e há um setor intermediário, o “Dois e Meio”, que são 3 "Não adianta ficarmos só reclamando. Todos nós somos muito responsáveis pela nossa realidade, começando pelo voto. Somos um país democrático desde 1988, e o artigo 205 da Constituição Federal do Brasil diz: “A Educação é um dever do Estado e da família com a colaboração da sociedade”. Não devemos atuar porque o Estado não faz a sua parte, mas sim porque devemos cumprir com a nossa parte. Esta é a nossa obrigação e o segundo pilar do Todos Pela Educação”. Priscila Cruz
  • 5. os negócios sociais privados. Juridicamente, não são ONGs e nem OSCIPs (Organização da Sociedade Civil de Interesse Público), podem ter lucro porque são registrados juridicamente como empresa, mas com um propósito social. Por exemplo, há muitas startups se alastrando no Brasil com projetos de Tecnologia de Educação cuja finalidade é ajudar na formação e avaliação de professores, e ajudar o aluno a aprender mais e a realizar projetos. Inclusive, o Brasil tem sido uma referência mundial nisso. E existem vários modelos de Setor “Dois e Meio”: desde aqueles que vão ajudar ganhando dinheiro – e quanto mais dinheiro, melhor, pois é legítimo; até aqueles que vão ajudar reinvestindo o lucro na própria empresa, sendo remunerados apenas pelo trabalho. Essa é uma saída interessante para quem tem uma veia empreendedora e não quer sair totalmente do setor privado. É importante compartilhar que vou todo dia trabalhar no “Todos Pela Educação” sem pensar que estou indo trabalhar, dou muito valor a esse privilégio que sei que é para poucos, mas trata-se de um mercado difícil. As possibilidades são obviamente muito menores do que na iniciativa privada, as organizações são muito pequenas e não há tantas posições disponíveis, nem estrutura suficiente para se oferecer uma política de treinamento, de formação e de carreira. Carreira é super difícil porque as organizações são muito pequenas. No “Todos Pela Educação” são 40 projetos tocados por 15 pessoas. Não dá para crescer mais do que isso porque você depende de financiamento, patrocínio, doação, então essas estruturas são muito enxutas, é um mercado muito restrito e difícil de entrar atualmente. Quando eu entrei há 13 anos, não existia o que existe hoje, era tudo mais informal, não havia os atuais clusters. Avançamos muito, temos mais organizações melhor estruturadas, mas ainda assim é fechado. É importante saber que não é fácil. O jovem sai da faculdade, chega com aquele gás todo querendo mudar o Brasil e precisa saber que as coisas devem seguir uma rotina, processos, governança para aprovação de projetos e Conselho. Vejo meninos com brilhos nos olhos querendo mudar, mas não querendo se submeter às institucionalidades das organizações sociais, e aí o Setor “Dois e Meio” é uma saída bem interessante e que tem sido bastante procurada. Uma outra estrutura que também tem surgido são os Coletivos, que não precisam se institucionalizar muito, podem começar de maneira mais informal, “testando a pegada”, vendo se a coisa vai andar e evoluir, amadurecer para um outro formato. O fato é que nunca na história da Educação brasileira tanta gente se envolveu para melhorar. E não só diretamente com os Governos, como também na criação de produtos e tecnologia. Hoje, meninos de várias áreas como Administração, Direito, Computação e Pedagogia podem fazer projetos incríveis, inclusive escalar graças à tecnologia, então tem sido bem interessante toda essa movimentação. Fernando Luzio. Você pode dar algum exemplo de organização do Setor “Dois e Meio” e do Coletivo para quem tiver o interesse em conhecer esses modelos? Priscila Cruz. Por exemplo, há um grupo de jovens que se reuniu para criar uma instituição chamada “Juntos por Você” – o site deles é juntos.com.vc. Para terem o 4
  • 6. “vc”, ao invés do “br”, eles registraram o site numa ilha caribenha. São garotos super criativos que concluíram a Universidade há pouco tempo e criaram esta empresa para arrecadar fundos para ONG's, o chamado crowdfunding: com valores pequenos, pulverizados e numa escala maior, e com mais pessoas colaborando, eles acumulam uma determinada quantia de dinheiro que poderá financiar um determinado projeto de organização social. Na área de Tecnologia, uns meninos que saíram do ITA criaram um site incrível chamado “Quadrado Mágico”, que começou informalmente e hoje é uma empresa que tem feito coisas muito bacanas voltadas à Educação, à formação de professores e com conteúdos bem interessantes. Há também, um empreendedor brasileiro do mercado financeiro que fez Mestrado em Educação em Stanford e quando voltou, fundou o “Geekie” que, hoje, direciona conteúdos para milhões de jovens fazerem simulados e poderem melhorar sua nota no ENEM. Adoro o “Descomplica”, do Marco Fisbhen, um excelente professor de Física de um cursinho do Rio de Janeiro que pensou: “Minhas aulas são tão boas, demorei tanto tempo para conseguir fazê-las redondinhas, e por que só o aluno que tem dinheiro para pagar esse cursinho pode ter acesso a elas? Por que que eu não filmo minha aula e a coloco na Internet?” Foi assim que ele começou, pedindo a outros colegas que também filmassem suas aulas até o projeto se tornar uma empresa. Hoje, ele tem milhares de aulas filmadas em vídeo, às quais uma grande parte de alunos que prestam o ENEM assistem. Se você quiser assistir a uma aula maravilhosa de Biologia sobre célula, você encontra no “Descomplica”. Isso é muito interessante porque você vai ampliando as fronteiras da própria escola, e aí um menino lá do interior do Maranhão que não tem acesso a uma escola de qualidade, mas tem acesso à Internet, pode ter as melhores aulas do Brasil acessando o “Geekie”, o “Quadrado Mágico”, o “Descomplica”, organizações mais ligadas à Tecnologia. Soube há pouco tempo de uma outra organização incrível que está surgindo em Belo Horizonte, e que faz tutorias: ela reúne diversos alunos, sendo que um é bom em Física, mas não em História; e o outro é bom em História e não em Física, então eles trocam, online, seus conhecimentos. Esta é uma forma de peer-to-peer learning bem bacana! Fernando Luzio. E o “Todos Pela Educação”? Quais são os objetivos do movimento e o que vocês têm conquistado até o momento? Priscila Cruz. O “Todos Pela Educação” é meu maior orgulho na vida, depois das minhas duas filhas. Ele é um terceiro filho que eu compartilho com muitos outros pais e mães. Esta é a beleza do movimento: foi criado a partir de dois grandes vetores. O primeiro é o da indignação. Somos um país rico, lindo, com uma gente boa que quer melhorar de vida, e mesmo tendo atingido indicadores cada vez melhores, a exclusão, a pobreza, a desigualdade e a injustiça ainda são muito intensas. E no berço disso tudo está um Sistema Educacional muito desigual. Temos ilhas de excelência no Brasil, Municípios inteiros fazendo um trabalho maravilhoso, mas infelizmente são apenas ilhas e não arquipélagos. 5
  • 7. Indignada, eu me pergunto: por que uma criança que nasce na Vila Madalena, em São Paulo, vai aprender em uma escola pública de alta qualidade e recebe um tratamento diferente da criança que nasce no interior de Alagoas? Por que há essa diferença se as duas crianças são brasileiras, detentoras de seus direitos, sendo a Educação o direito social número um da nossa Constituição Federal? O segundo vetor é o da corresponsabilidade. Não adianta ficarmos só reclamando. Todos nós somos muito responsáveis pela nossa realidade, começando pelo voto. Somos um país democrático desde 1988, e o artigo 205 da Constituição Federal do Brasil, do qual eu gosto muito, diz: “A Educação é um dever do Estado e da família com a colaboração da sociedade”. Este último é um ponto importante: não devemos atuar porque o 6
  • 8. Estado não faz a sua parte, mas sim porque devemos cumprir com a nossa parte. Esta é a nossa obrigação e o segundo pilar do “Todos Pela Educação”. Lá, todos somos motivados por estes dois vetores e muitos têm o pragmatismo como característica, graças a Deus, pois acho que na Educação falta este pragmatismo. Temos muito a cultura de metas, propósitos, políticas, gestão. Inclusive, nossa primeira premissa foi construir um movimento que tivesse metas. Atualmente, estamos mais acostumados a falar em metas de Educação, mas em 2005, quando começamos a gestar a ideia, era algo que não se encaixava e tivemos a coragem de dizer que precisávamos de metas claras. Desenhamos um processo que foi muito inteligente e acertado: primeiro ouvir, ouvir, ouvir, ouvir, ouvir e depois construir junto. Podíamos ter feito um “comitezinho” para lançar as bases do movimento, mas não. Realizamos 70 entrevistas – das quais tive o privilégio de participar de todas na íntegra – com pensadores e especialistas da Educação, gestores, empresários, jornalistas e dirigentes de outras organizações sociais que geraram um material muito rico, colocado na mesa para os 70 envolvidos, num workshop em Abril de 2006. Saímos de lá com outros dois materiais muito importantes para o movimento: um com as Metas (até então não finalizadas), e outro com a Estratégia. Ao sairmos do workshop com as Metas não finalizadas, constituímos um Comitê Técnico robusto, formado por pessoas com uma pegada científica, com acúmulo de pesquisa e evidências, por exemplo o Ricardo Paes de Barros, o Marcelo Neri que hoje é Ministro, o Chico Soares que é Presidente do INEP (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais), o Ruben Klein, a Nilma Fontanive, a Maria Helena Guimarães de Castro, enfim, gente de primeiro time da Educação com perfis diferentes, uns mais economistas, outros mais gestores, mas todos com uma pegada técnica. Com base no material produzido no workshop e com um cuidado técnico muito grande, o Comitê definiu Metas e Indicadores com uma nota explicando cada Meta. E quanto à Estratégia, definimos seu tripé: observatório, demanda e oferta. No que se refere ao observatório, sentimos a necessidade de criar no Brasil uma cultura de transparência e de observação dos resultados. Em 2005, quando iniciamos o “Todos Pela Educação”, a sociedade não acompanhava a Educação brasileira, seus indicadores não estavam nos jornais, só diziam que a Educação estava boa ou ruim, dependendo do desenvolvimento econômico social da região. Foi aí que criamos o Observatório da Educação, hoje concretizado no Observatório do PNE (Plano Nacional de Educação) e acessível a todos pelo www.observatoriodopne.org.br, onde se pode conhecer as Metas e os dados. Sabemos que é impossível fazer a gestão de qualquer coisa sem um bom diagnóstico em mãos. E o PNE é isso: um diagnóstico constante da Educação para todos os Estados e Municípios. E agora, com o “Prova Brasil”, podemos ter também um diagnóstico por escola. Além do site e de outros veículos de divulgação desses dados, produzimos o “Anuário da Educação Básica”, uma publicação que hoje está na mesa de todos os gestores e de todo mundo que queira trabalhar com Educação, com um resumo dos principais dados 7
  • 9. brasileiros e do diagnóstico da Educação em geral. Por trás disso tudo existe um trabalho imenso de pesquisa, levantamento e interpretação de dados, pois não adianta apenas dizer que a evasão do Ensino Médio está aumentando, é preciso dizer o porquê. A segunda base do tripé é a demanda por Educação de qualidade por e para todos os brasileiros. Algo que diferencia muito o Brasil dos países asiáticos, por exemplo, é que a população deles demanda uma Educação de qualidade. Não é porque há vaga na escola que está tudo certo. Aqui, porquê os pais não puderam ir à escola, o fato de seus filhos poderem já é a maior maravilha do mundo, graças a Deus, graças ao Prefeito, ao Governador, ao Presidente da República! E não! É um direito do seu filho estar numa escola de qualidade, sendo alfabetizado e aprendendo durante todos os anos, até concluir o Ensino Médio. É este direito que temos de demandar! Nesta segunda base estão todos os nossos projetos de Comunicação. Em 2006, a Educação era a sétima prioridade dos brasileiros; hoje ela é a segunda. Ela entrou na pauta, está nos principais jornais brasileiros com jornalistas especializados no tema, e isso tudo se deve muito ao “Todos Pela Educação”, ao fato de termos todos esses dados e materiais sobre os quais trabalhar. Qualificamos a cobertura jornalística sobre Educação em todas as mídias (rádio, TV, jornal, Internet). Fazemos a formação de jornalistas por temas, por exemplo: uma semana antes de saírem os resultados do ENEM, reunimos os jornalistas e fazemos sua formação sobre o ENEM. Nosso projeto mais antigo é “No ar: Todos Pela Educação”, com 3.500 rádios espalhadas por todo o Brasil divulgando pacotes de informação. Temos um outro trabalho de comunicação em massa, por meio de campanhas de televisão, como esta que eu adoro: “Um bom professor, um bom começo!”, pois o bom professor é o começo de todas as coisas boas que temos na vida. Agora, vamos entrar com a campanha das 5 Atitudes, as 5 Metas, as 5 Bandeiras. Portanto, a comunicação é a nossa estratégia para qualificar a demanda por uma Educação de qualidade. E a terceira base do tripé é a oferta da política pública. Este foi um tema que gerou muito debate e acredito que acertamos em nos posicionarmos ao lado do Governo, apoiando-o. Claro que temos uma voz crítica, muitas vezes incomodamos, cobramos, somos chatos porque pegamos no pé, fazemos com que as coisas andem na política pública, mas também construímos junto com o Governo – este é o nosso trabalho de advocacy. Porque não existe esta posição de “estou aqui te exigindo e se vire porque você é a pessoa eleita e nomeada para ser o Secretário”. Somos todos parte do mesmo bolo, então temos que atuar juntos, colaborarmos em parceria, com cada um no seu espaço, fazendo aquilo que tem que ser feito e que consta em seu mandato, a fim de melhorarmos a oferta da Educação. Nestes 8 anos de advocacy, temos um histórico de sucesso, com conquistas recentes fundamentais. Primeiro, a ampliação da obrigatoriedade da matrícula nas escolas, que irá vigorar plenamente em 2016. Hoje, é obrigatório a matrícula de crianças e jovens de 6 a 14 anos, mas a partir de 2016, a criança e o jovem de 4 a 17 anos têm que estar na escola. Uma outra conquista é o PNAIC (Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa), um projeto que hoje atinge todos os Municípios do Ministério da Educação e que está formando um exército de professores alfabetizadores no Brasil inteiro para que eles garantam a alfabetização de crianças de até, no máximo, 8 anos de idade. Esta é nossa Meta 2. 8
  • 10. O PNAIC foi uma experiência muito interessante, com uma trajetória bem bacana. O Brasil não tinha política de alfabetização porque, também, não tinha dados, então desconhecia-se a situação da alfabetização das crianças no período em que elas tinham que estar sendo alfabetizadas (até os 8 anos de idade). Foi aí que realizamos nacionalmente a Prova ABC com a CESGRANRIO, com o Instituto Paulo Montenegro e com vários outros parceiros, com crianças no final do 2º e 3º anos, para termos evidências da alfabetização. Vimos que somente 44% das crianças com 8 anos de idade estava alfabetizada, portanto mais da metade estava fora do seu direito e não iria aprender nos anos seguintes. Se conseguissem concluir o Ensino Médio, não iriam aprender tudo aquilo a que tinham direito, tornando-se fortíssimas candidatas à repetência e à evasão. Tínhamos de fechar a torneira do analfabetismo ali no início. Com a Prova BC, acendemos a luz vermelha no Ministério da Educação e eles lançaram o PNAIC que, hoje, está fazendo um bom trabalho. Outra conquista mais recentemente que contou com uma atuação forte do “Todos Pela Educação” foi o Plano Nacional de Educação que, durante aproximadamente 4 anos, ficou tramitando no Congresso. As 5 Metas, as 5 Bandeiras do nosso movimento estão lá e, hoje, ele é um plano que atende à demanda da sociedade brasileira. Como eu disse anteriormente, em 2005 era um pecado falar em metas de Educação, e hoje, além de ser linguagem corrente, brigamos por metas cada vez mais ambiciosas. Além dessas conquistas que mencionei, tivemos várias outras interessantes, inclusive uma que ocorreu bem no início do “Todos Pela Educação”: quando 9 "Metade do desempenho escolar de um aluno se deve às políticas públicas: excelência na implementação, escola de qualidade, currículo, avaliação que funciona, gestão de sala de aula, professor bem formado e remunerado, com atratividade para a carreira, etc.; a outra metade se deve ao background familiar deste aluno." Priscila Cruz
  • 11. lançamos as 5 Metas, o Governo Federal lançou o IDEB (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica), uma conjugação das Metas 3 e 4 do nosso movimento, e para concretizá-lo, foi necessário realizar uma prova nacional, em todas as escolas brasileiras – a “Prova Brasil”. Graças a isso, passamos a ter informações sobre todas as escolas do país, o que viabilizou várias políticas estruturantes importantíssimas que hoje estão na rua. Atualmente, estamos trabalhando sobre a Lei de responsabilidade educacional e Lei de reformulação do Ensino Médio, que são outras bandeiras nossas. Fernando Luzio. Os empresários com quem conversamos, inclusive aqui no Novos Intérpretes, são unânimes em afirmar que um dos gargalos mais preocupantes do desenvolvimento da força de trabalho e, portanto, do avanço do desenvolvimento organizacional no país está atrelado às grandes restrições e aos equívocos do modelo de Educação no Brasil. Por que temos uma Educação tão limitada, com esses resultados tão preocupantes e, ao mesmo tempo, com essas ilhas de excelência, como você mencionou, em alguns Municípios? Priscila Cruz. Quando fechamos o zoom, parece que está tudo estagnado, mas quando abrimos, vemos o quanto nós avançamos, basta analisarmos um gráfico da Educação desde 1950 – que historicamente é “ontem”. Entretanto, como o nosso país viveu séculos de total descaso com ela, mesmo com este avanço nós ainda estamos num patamar muito baixo e inadmissível. Além disso, impactar as empresas e a sociedade como um todo, impactar a vida inteira da Maria, do João e do Pedro. E aqui, temos uma tríade a resolver. Em primeiro lugar: a boa notícia é que pela primeira vez na história do Brasil a Educação é nossa segunda prioridade – ela só perde para a Saúde, o que é ótimo, pois é preciso estar vivo para poder estudar. Portanto, hoje a Educação é uma prioridade dos brasileiros, está no discursos dos empresários e da sociedade. Tem gente trabalhando pela Educação no Setor Privado, no “Dois e Meio”, no Terceiro setor, por todos os lados. Essa efervescência nos dá a esperança de que a coisa irá melhorar ainda mais e de forma acelerada, que é exatamente do que precisamos: de saltos, pois se continuarmos na velocidade em que estamos hoje, teremos apenas 70% dos alunos aprendendo em 2050 e não podemos permitir que isso ocorra! Não adianta só continuarmos crescendo, temos que criar uma aceleração na curva de crescimento. Em segundo lugar, existe uma demanda crescente que ainda não é pela qualidade da Educação. E aqui é importante uma autocrítica: nem mesmo os empresários cobram qualidade das escolas públicas no entorno de suas empresas. Há uma interligação constante entre o público e o privado, e o empresário que tem uma empresa, uma fábrica, uma indústria, um serviço, um supermercado numa cidade; que tem pautas com o Prefeito, com o Governador, poderia muito bem incluir nestas pautas a Educação, por exemplo: “Entrei no Observatório do ‘Todos Pela Educação’ e conheço o diagnóstico ruim das escolas do meu entorno, então precisamos fazer alguma coisa, e eu estou aqui me oferecendo para ajudar”. Esta postura de corresponsabilidade é fundamental, pois o salto que esperamos e do qual precisamos não irá acontecer sem a nossa participação. Por isso, não pode ser qualquer demanda, tem que ser uma demanda qualificada, sobretudo no sentido da participação e do apoio da sociedade como um todo. 10
  • 12. Em terceiro lugar: um fenômeno cultural do Brasil é que adoramos debater a Educação, mas no momento em que a política sai do gabinete, da mesa do investidor ou da ONG, e vai descer para a sala de aula, sobra pouco... Vamos nos perdendo... Claro que existe toda uma estrutura complicada, grande, engessada, por exemplo no Estado de São Paulo, onde as redes são gigantescas, com 6.500 escolas estaduais, então é muito complicado de se chegar na ponta, e é essa excelência de implementação que nos falta. Podemos dobrar os investimentos na Educação, mas se não tivermos a coragem de fazer as mudanças necessárias, nada irá acontecer. Precisamos mudar a formação dos professores, melhorar sua remuneração para podermos atrair os melhores alunos do Ensino Médio que queiram tornar-se professores, e assim criarmos um ciclo positivo – todos os países que estão bem em Educação fazem isso. Mas no estado em que estamos, quem conseguimos atrair para a carreira docente? Quem está indo fazer Pedagogia? Não são os melhores alunos. Portanto, temos de melhorar a atratividade. E é preciso ter muita coragem para fazer isso porque iremos mexer com interesses colocados, teremos que abrir espaço no orçamento para o pagamento do professor, teremos que discutir a questão dos aposentados, pois queremos melhorar o salário para atrairmos os novos professores, e não os que já não estão mais na ativa, e esta é uma discussão muito impopular, complicada e difícil de ser negociada com os Sindicatos. Não vamos conseguir ampliar a remuneração dos ativos e dos aposentados, então como equacionar isso? Enfim, há uma série de políticas que nos demanda coragem para implementar porque, em geral, existem várias organizações na Educação que têm apego aos seus privilégios e não querem mudar. Coragem e boa implementação é uma dupla que precisa funcionar sempre junto. O ponto crítico da gestão na Educação é algo em que as empresas podem ajudar bastante, porém não com a lógica da iniciativa privada, não com aquela postura do tipo “Sou um empresário bem sucedido, veja o tamanho da minha empresa e como eu cresci nos últimos anos, vim aqui te ensinar como gerir sua rede de escolas...”. A abordagem deve ser totalmente diferente, do tipo “Sou muito bom no que faço, mas também quero aprender como se faz gestão pública e, quem sabe, podemos trocar nossos conhecimentos”. Já tivemos muitas experiências com a iniciativa privada querendo nos ajudar com toda a boa vontade, mas com uma lógica que não se encaixa e que acaba atrapalhando mais do que ajudando. E também já tivemos casos maravilhosos de empresários que aprenderam muito com a lógica da gestão pública e conseguiram aproveitar os aprendizados para a sua própria empresa. E quanto às ilhas de excelência, temos um caso maravilhoso em Sobral e em outras cidades do interior de São Paulo que conseguem ter um resultado muito bom, sem pirotecnia. Não se trata de discos voadores que baixaram na Secretaria da Educação. Nada disso. O que existe é continuidade, o que não significa ter o mesmo Partido ganhando o tempo inteiro, já que a democracia pressupõe a alternância de poder. Mesmo com a troca do poder político naquela cidade, a Secretaria de Educação deve ser blindada. O que está funcionando continua, o que não está funcionando é reformulado e aprende- se com os erros. No entanto, o que costuma acontecer é 11
  • 13. que como eles sempre querem deixar a sua marca, destruindo tudo para começar do zero, então imagine os ciclos começando e terminando a cada 4 anos?! É impossível obter bons resultados desta forma, ainda mais com a maioria dos projetos em Educação sendo de longo prazo.Novamente a importância da excelência na implementação: avaliar, rodar o PDCA (Plan-Do- Check-Act), refazer, implementar, errar, ajustar e assim ir melhorando, amadurecendo e tomando outros rumos. E além disso, o foco deve ser o aluno – e não as instituições – para se entregar uma Educação de qualidade. Ter uma equipe comprometida também é fundamental, e sabemos o quanto isso é difícil. E esta é uma questão que muda muito do setor privado para o público, pois os incentivos são outros, a carreira pública é diferente, há isonomia, estabilidade, amarras de gestão que não existem na iniciativa privada. As ferramentas desta não podem ser usadas naquela, onde são mais restritas. Trata-se muito mais de um trabalho de sedução, onde o próprio Secretário tem que engajar a Secretaria, as escolas, os professores e os alunos. Não adianta o Secretário baixar uma norma e achar que a coisa vai acontecer lá na ponta; assim como também, não adianta o gestor ter uma ideia maravilhosa, passar um e- mail para todo mundo e achar que a coisa vai acontecer na empresa. 12 "Quando uma mãe lê para o seu filho um livrinho toda noite antes dele dormir, além de fazer um gesto de carinho e atenção, ela tam- bém desenvolve o vocabulário da criança, treinando sua escuta, concentração, imaginação e entendimento, o que irá ajudá-la muito na escola. Algo que é tão simples e automático parece não ter importância, mas tem um significado e um impacto muito grande na vida futura da criança e precisa ser valorizado."
 
 Priscila Cruz
  • 14. Por isso, sempre digo que os 5.600 Secretários Municipais que temos no Brasil precisam ser os melhores gestores do país, pois está em suas mãos nossa Educação. Devem promover o engajamento por meio de uma liderança legítima que as pessoas incorporem. E no dia a dia cabe se fazer o “feijão com arroz” bem feito, com foco e dentro do orçamento e de um tempo limitados. Com o básico bem feito, pode-se fazer coisas incríveis. Fernando Luzio. Algo que tem chamado minha atenção nas conversas que tivemos é que algumas descobertas recentes sobre Educação têm mudado alguns paradigmas muito importantes, por exemplo, o impacto que as habilidades socioemocionais têm no sucesso profissional de uma criança lá no futuro – antigamente se achava que o Q.I. (Quociente de Inteligência) era o fator mais relevante. Quais são os novos paradigmas ou as novas referências que deveriam nortear o aprimoramento do modelo de Educação básica em qualquer escola, seja ela pública ou privada? Priscila Cruz. Temos dois conjuntos de respostas para esta sua pergunta: primeiro, é a personalização da aprendizagem. A nossa formação de professores ainda não incorporou os achados mais recentes da Neurociência. O estudo do cérebro avançou muito nos últimos anos, hoje sabemos muito mais sobre como aprendemos, como construímos nossos conhecimentos, sobre nossa memória e todos esses processos de cognição, só que, infelizmente, essas descobertas ainda não foram incorporadas à formação do professor, o que é contraditório, pois o quê o professor está fazendo ali? Está trabalhando com a mente das crianças o tempo inteiro! Portanto, é fundamental que ele conheça as técnicas para promover a aprendizagem do aluno. Levando-se em conta que cada pessoa aprende de forma e em ritmos diferentes. Nossas escolas não foram constituídas nesse modelo porque quem está formulando nossas políticas, dirigindo o país e as empresas, passou pelas escolas que deram “certo” – com muitas aspas – numa lógica fabril: pego um lote de 25-35 alunos, passo este lote por um processo único e este lote tem que sair do outro lado do processo com um certo acúmulo de conhecimentos. Este seria o valor agregado do processo. Todos os alunos têm o mesmo tratamento, pois fazem parte de um mesmo lote, e esperamos deles o mesmo resultado. Entretanto, numa sala de 25-35 alunos, há 25-35 pessoas absolutamente diferentes. Todo gestor de empresa, de Recursos Humanos sabe que os estímulos precisam ser diferentes, a formação de um é para uma coisa, a formação de outro é para outra coisa, cada um vem com deficiências, defasagens, vocações e interesses tão diferentes que é preciso dar tratamentos diferentes a eles. Então, algo que hoje está muito claro é que temos que tratar de maneira diferente os diferentes. No entanto, isso é muito difícil de implementar porque enraizamos esse sistema de tratamento único para todos. Na Educação, é essencial respeitar os tempos: posso ser muito rápido para aprender Matemática, mas preciso de mais tempo para a História, portanto não adianta fazermos tudo padrãozinho para todas as disciplinas, senão eu vou ficar para trás em História e vou me desestimular, já que a classe inteira já aprendeu o que eu ainda não aprendi. E a tecnologia pode ajudar muito porque de posse dos seus objetivos de aprendizagem, o aluno pode ir atrás. E o papel do professor muda radicalmente: de ensinador a mediador da aprendizagem. Obviamente, há 13
  • 15. milhões de resistências, mas ou fazemos isso ou só teremos 70% dos alunos aprendendo em 2050. Essa personalização da aprendizagem que precisamos implementar rapidamente dará mais autonomia e, portanto, mais responsabilidade ao aluno. Ele resiste a esse novo sistema porque é mais cômodo esperar que o professor o ensine. Agora, ele terá que se mexer para ir atrás de sua aprendizagem, o que será uma boa oportunidade para desenvolver habilidades importantes para o resto da sua vida. Outro ponto é a importância das habilidades não-cognitivas. Heckman, ganhador de Prêmio Nobel, conduziu um estudo demostrando que o aluno com atributos não-cognitivos, socioafetivos e socioemocionais – mais concentrado, focado, responsável, com maior controle das emoções, que não explode e não se deprime facilmente, mais resiliente – é preditor de sucessos escolar e futuro, mais do que o aluno com um bom Q.I. (Quociente de Inteligência). Vale destacar algo importante: estas habilidades socioemocionais não são uma responsabilidade apenas da escola, mas também das empresas, famílias e sociedade como um todo. Metade do desempenho escolar de um aluno se deve às políticas públicas já mencionadas: excelência na implementação, escola de qualidade, currículo, avaliação que funciona, gestão de sala de aula, professor bem formado e remunerado, com atratividade para a carreira, etc.; a outra metade se deve ao background familiar deste aluno. Isso explica, em grande parte, por quê as escolas públicas têm resultados piores do que as escolas particulares: porque a escola particular tem alunos com background familiar mais desenvolvido. A criança que vai à escola particular tem livro em casa, o que torna seu vocabulário mais rico – sabemos que o número de palavras que uma criança fala aos 2 anos de idade tem um impacto enorme em sua aprendizagem futura –, está exposta a situações mais diversas, está aprendendo o tempo todo e, quando chega na escola, ela decola; enquanto que a criança da escola pública vai se alfabetizar apenas aos 5 anos de idade. E é justamente pelo fato destas realidades serem diferentes que o trabalho da escola pública tem que ser melhor do que o da escola particular, tem que agregar um valor maior, a fim de compensar a falta de background familiar. Quero ilustrar isto com uma história pessoal: durante alguns anos, fui professora voluntária de teatro em um abrigo na Zona Sul de São Paulo, onde as crianças têm backgrounds familiares muito complicados, os pais perderam suas guardas por algum tipo de situação de violência, abuso e/ou pobreza extrema. Minhas turmas tinham de 7 a 10 crianças, enquanto que as das escolas públicas têm 30 a 35 alunos. Ainda assim, demorei alguns meses para conseguir fazer com que as crianças se sentassem em roda e ficassem 15 minutos escutando os comandos para as atividades que iríamos fazer. Nossos filhos vão ao teatrinho e estão acostumados a se sentar, ouvir historinhas e se concentrar, aí quando chegam na escola eles ficam sentadinhos bonitinhos, escutando a professora por um tempão. Por conta disso tudo, o “Todos Pela Educação” fez uma grande pesquisa etnográfica com o Instituto Tellus que durou 5 meses, onde percorremos todas as regiões do país acompanhando crianças com seus pais e avós em casa, indo e voltando da escola, 14
  • 16. 15 Cena do evento de lançamento do Todos Pela Educação 
 no Museu do Ipiranga em São Paulo, 
 em 6 de setembro de 2006
  • 17. conversando com diretores e professores. Cruzamos esses resultados com as pesquisas mais recentes de Neurociência para identificarmos as 5 atitudes que precisamos promover na população para que essa criança tire o melhor proveito da escola e que essa escola tenha um aluno mais preparado com habilidades não-cognitivas, com um repertório maior que irá facilitar o trabalho das próprias escolas. A primeira atitude é valorizar o professor, a aprendizagem e o conhecimento. Porque infelizmente, é muito comum haver dentro da própria casa uma fala negativa sobre o professor, sendo que a Educação acontece a partir de uma relação entre o professor e o aluno. Sem perceberem, os pais ou avós que desvalorizam os professores estão enfraquecendo a conexão entre estes e a criança, prejudicando sua aprendizagem. Os pais podem até achar que o professor não é bom, que não está dando a devida atenção ao seu filho, mas não deveriam dizer isso perto dele e sim ir lá na escola cobrar. É fundamental valorizar o professor que está ali para ajudar o filho: “Filho, preste atenção ao professor, se ele disse aquilo, vamos entender porquê”. Também, é fundamental valorizar a aprendizagem e o conhecimento. Nossa cultura valoriza muito mais o cargo do que a trajetória que levou ao cargo. O que vale é passar de ano com o menor esforço possível e não o aprendizado que leva o aluno a passar de ano. Temos que mudar essa óptica com ações muito simples ao alcance de todos, por exemplo: quando os pais chegam do trabalho, eles podem perguntar ao filho o que ele aprendeu de interessante, ou “O papai não teve chance de ir à escola, então me ensina o que você aprendeu hoje?” Vários profissionais bem sucedidos relatam que os pais eram analfabetos, mas tinham uma preocupação muito importante com sua aprendizagem. A segunda atitude é colocar a Educação no dia a dia, algo bem básico e muito importante porque comunica ao filho a importância que a família dá à Educação. Ações como ir às reuniões; conversar com os professores; na medida do possível, levar e/ou buscar os filhos na escola; entrar com eles na escola; relacionar-se com os outros pais, com os professores, com a direção, com a coordenação pedagógica; ir aos eventos que a escola oferece; usar o espaço da escola como um espaço de recreação, de convivência familiar; perguntar aos filhos se eles têm lição de casa, vê-las com eles; perguntar se eles têm prova – ações que colocam a escola no dia a dia da família. Mesmo os pais ou avós analfabetos que cuidam daquela criança devem olhar o capricho do seu caderno – algo importantíssimo que revela o respeito pelo professor que irá corrigir aquela lição. E um problema típico da classe média ou da elite brasileira são os pais que fazem a lição de casa junto com o filho. Isso não é bom porque é fundamental dar autonomia ao filho, deixá-lo errar. Também, algo que os RHs das empresas poderiam fazer é ajudar seus funcionários na educação dos seus filhos, liberando-os para que 16
  • 18. possam participar da reunião dos filhos na escola. Não é só investir em creche – algo obrigatório por Lei –, mas permitir que seus funcionários possam estar presentes nas reuniões de pais e mestres. Os pais participam menos da educação de seus filhos porque estão trabalhando, muitas vezes em duplas jornadas. Paralelamente, as escolas precisam facilitar a agenda dessas reuniões, porque normalmente elas são marcadas às 10h ou às 15h, quebrando muito as manhãs e as tardes dos pais. A terceira atitude é promover atividades que estimulem habilidades importantes não-cognitivas e socioafetivas, como a concentração, a responsabilidade, a autonomia e o controle emocional. Quando uma mãe lê para o seu filho um livrinho toda noite antes dele dormir, além de fazer um gesto de carinho e atenção, ela também está desenvolvendo o vocabulário da criança, treinando sua escuta, concentração, imaginação e entendimento, o que irá ajudá-la muito na escola. Algo que é tão simples e automático parece não ter importância, mas tem um significado e um impacto muito grande na vida futura da criança e precisa ser valorizado. Algo que é muito difícil para as famílias que se encontram no quinto inferior de renda e vivem numa pobreza imensa, com um analfabetismo muito grande, e que por isso precisam muito da nossa ajuda para desenvolverem essas habilidades. A quarta atitude é apoiar o projeto de vida da criança e do jovem. Para que a escola faça sentido e o aluno queira aprender, ela precisa fazer parte da sua história, do seu projeto de vida. Afinal, por que o jovem está evadindo tanto no Ensino Médio? Porque essa escola do Ensino Médio não faz sentido para o seu projeto de vida – sendo que muitos nem têm um projeto de vida. E sem projeto de vida, a escola perde totalmente o sentido. Existe uma diferença muito grande entre as crianças do quinto superior (elite e classe média) e as do quinto inferior de renda: as primeiras têm as portas escancaradas para a vida, têm oportunidades para vários estímulos, conhecimentos e experiências que vão compondo o seu projeto de vida; enquanto que as crianças mais pobres veem a vida pelo buraquinho da fechadura, têm um modelo muito mais viciado na restrição, por isso as situações de vida às quais elas estão expostas vão se repetindo de geração em geração. Esta criança tem uma mãe quebradora de coco porque o avô era quebrador de coco, porque o bisavô também já quebrava coco e assim continuamente. Temos de pensar nestas crianças e expandir seus horizontes, caso contrário, não vamos conseguir ajudá- las a criarem um novo projeto de vida. O que não significa que elas tenham de criar projetos de vida com os mesmos valores de sucesso das crianças do quinto superior. Elas até podem continuar quebrando coco, mas porque elas escolheram ser quebradoras de coco, por valorizarem a herança familiar e porque este é o seu projeto de vida, e não porque esta é a sua única opção. E a quinta atitude, que está muito relacionada a todas as outras, é ampliar o repertório esportivo e cultural da criança. Quanto mais cultura e prática esportiva essa criança puder acessar, mais ela irá aprender Português e Matemática na escola. E esta é uma descoberta recente: tudo que aprendemos de novo está relacionando a algo que já aprendemos anteriormente, e precisamos fazer esta conexão, porque quanto mais coisas aprendidas existirem na nossa cabeça, mais conseguiremos 17
  • 19. aprender. Portanto, a exposição às manifestações culturais e esportivas mais diversas vai criando conexões no cérebro da criança que depois irão facilitar muito sua aprendizagem. Existe uma correlação muito forte entre a prática esportiva e a Matemática, sobretudo a Geometria, que é a relação com o espaço físico. Então, quanto maior for a minha experiência sensorial de espaço, mais eu consigo aprender Geometria. Além disso, o esporte desenvolve habilidades não-cognitivas de responsabilidade, persistência, treino, concentração e respeito às regras. Fernando Luzio. Qual o caminho para quem quiser saber mais sobre as 5 atitudes? Priscila Cruz. Basta entrar em nosso site www.todospelaeducacao.org.br e acessar os materiais que temos à disposição do público. Em Agosto de 2014, faremos um lançamento de todo esse Programa de forma mais completa. Fernando Luzio. Se você fosse escrever uma carta para suas filhas compartilhando as atitudes ou maneiras de pensar e encarar a vida que você aprendeu ao longo de sua trajetória de vida, e que fazem toda a diferença no desenvolvimento profissional e pessoal, qual seria a sua mensagem? Qual o legado que você deixaria para elas? Priscila Cruz. Gostaria de deixar duas mensagens como legado para elas. A primeira é para elas serem curiosas sempre, mergulharem nas aprendizagens, aproveitarem o período escolar e depois a Universidade. Irem sempre atrás do que gostam de ler e aprender. Pois toda criança nasce curiosa, querendo aprender, mas isso vai se perdendo. Não é preciso ir a fundo em tudo, eleja alguns interesses mais imediatos e outros nem tanto, descubra os conhecimentos que mais te encantam e sejam leitoras e aprendizes vorazes. Em segundo lugar, quanto mais generosos formos com a vida, com os outros e com o nosso meio, mais a vida nos retribui. Não importa o que elas escolham fazer, sejam elas engenheiras, advogadas, chefes de cozinha ou fotógrafas, elas não precisam trabalhar em organização social como a mãe, mas o que quer que escolham ser, sejam abertas e generosas. Gosto muito da palavra “obrigada”, então agradeçam sempre por tudo e a todos. 18
  • 20. Fernando Luzio. Muito obrigado, Priscila. Quando criamos o Programa Novos Intérpretes, há pouco mais de um ano, tínhamos exatamente este objetivo: termos a oportunidade e o privilégio de disseminar o conhecimento de pessoas tão especiais como você. Priscila Cruz. O prazer foi totalmente meu! PROGRAMA NOVOS INTÉRPRETES Entrevistador: Fernando Luzio
 Idealização e Direção: Fernando Luzio
 Supervisão Editorial: Patrícia Luzio
 Edição e Fotografia: Robson Crociati
 Apoio: Deborah Sabbatini
 Produção: Luzio Solutions for Growth 
 
 Luzio Solutions for Growth www.luzio.com.br / novosinterpretes@luzio.com.br
 +55 11 3045-5651 Rua Afonso Braz, 473 - cj. 43
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 04511-011 Brasil 19