SlideShare une entreprise Scribd logo
1  sur  12
“Mas muito medrosos [são]
     os Troianos”: a
representação do Outro na
    Ilíada de Homero
          Renata Cardoso de Sousa
  Orientador: Fábio de Souza Lessa
Alteridade


             “o Outro é um Eu”
           (AUGÉ, 1998, p. 103).



AUGÉ, Marc. A guerra dos sonhos: exercícios de etnoficção. Tradução,
Maria Lúcia Pereira. Campinas: Papirus, 1998.
Alteridade na Ilíada
• Na Ilíada é onde é utilizada pela primeira
  vez a palavra barbarophónos (Il. II, v.
  867), de onde surgirá a palavra bárbaros.

• Ela é utilizada para se referir à
  composição do exército aliado troiano.

• Levando-se em consideração que a
  língua é o traço marcante de uma cultura,
  essa diferenciação linguística é relevante.
• Na Ilíada, a alteridade que se dá entre os helenos
  do Peloponeso e os troianos não tem a ver com
  estes serem o estrangeiro, ou o não-grego, uma
  vez que os habitantes de Troia pertencem à faixa
  asiática de território heleno, sendo, portanto,
  também helenos.
• Na Ilíada, a alteridade que se dá entre os helenos
  do Peloponeso e os troianos não tem a ver com
  estes serem o estrangeiro, ou o não-grego, uma
  vez que os habitantes de Troia pertencem à faixa
  asiática de território heleno, sendo, portanto,
  também helenos.
“Aquiles é inimigo de Heitor, detesta-o,
não porque ele é troiano (não há nação,
não há chauvinismo, gregos e troianos se
entendem muito bem, falam a mesma
língua, têm as mesmas reações, e os
troianos são descritos pelo poeta com a
mesma simpatia), mas porque Heitor
matou aquele que era para ele como um
irmão, Pátroclo” (VERNANT, 2009, p.
91).



VERNANT, Jean-Pierre. A travessia das fronteiras – Entre mito e
política II. Tradução de Mary Amazonas Leite de Barros. São Paulo:
EDUSP, 2009.
• O que marca a alteridade entre gregos e
  troianos, então, é o fato de estes serem
  inimigos daqueles.

• Essa afirmação é legítima à medida que “(...)
  a identidade helênica conhece tensões,
  fissuras e oposições de alteridades internas
  no seu seio – o Outro pode, também, ser o
  Grego, como rival, inimigo, invasor,
  infrator de códigos de comportamento”
  (FIALHO, 2010, p. 114).

  FIALHO, Maria do Céu. Rituais de cidadania na Grécia Antiga. In:
  FERREIRA, José Ribeiro; FIALHO, Maria do Céu; LEÃO, Delfim Ferreira
  (Orgs.). Cidadania e Paideía na Grécia Antiga. Coimbra: Centro de
  Estudos Clássicos e Humanísticos, 2010, p. 112-144.
Como essa constatação
 influencia na compreensão da
    personalidade de Páris?
• Páris, de fato, é um herói de pouca areté
  guerreira, como se pode constatar na análise de
  sua personalidade.
• Um dos fatores que fazem com que ele seja
  representado dessa maneira é o fato de ele ser o
  Outro, o inimigo, apresentando, pois, menos areté
  guerreira do que os combatentes do exército
  grego.
• Páris infringe uma etiqueta extremamente cara
  aos helenos, que é a xénia, a hospitalidade, ao
  retirar Helena de Menelau durante sua estadia em
  Esparta.
Mas Homero não “torcia” pelos
        troianos?
• Não. Lembremo-nos de que os troianos
  ficaram em vantagem por boa parte da
  Ilíada porque Aquiles desentendeu-se com
  Agamêmnon e se retirou da batalha,
  rogando a Zeus que desse a vitória aos
  troianos para que o chefe aqueu visse o
  impacto de sua ausência na peleja.
• Questão da areté do exército troiano em
  geral: ele é mostrado de maneira valorosa
  também porque uma vitória sobre um
  exército fraco não é uma vitória gloriosa.
Conclusão
• O troiano é o Outro porque é o inimigo.
• Páris é “vaidoso”, “frívolo” (RUTHERFORD,
  1996, p. 33), “afeminado”, “frouxo” (LORAUX,
  1989, p. 93), “playboy”, “patético” (HUGHES,
  2009, p. 219), “fujão”, “covarde” (AUBRETON,
  1956, p. 168), como constataram alguns autores
  contemporâneos, dentre outros motivos, porque
  ele é o Outro, isto é, ele é aquilo que o grego não
  é.

RUTHERFORD, Richard B. Homer (Greece and Rome New Surveys in the Classics, n. 26). Oxford,
   Oxford University Press (Classical Association), 1996.
LORAUX, Nicole. Crainte et tremblement du guerrier. In: __________. Les experiences de Tirèsias: le
   fémenin et l´homme grec. Paris, Gallimard, 1989.
HUGHES, Bettany. Helena de Tróia: Deusa, Princesa e Prostituta. Rio de Janeiro, Record, 2009.
AUBRETON, Robert. Introdução a Homero. São Paulo, DIFEL, 1956.
• Entretanto,     para     além    de
  desqualificar um herói dessa maneira
  nossos trabalhos, o que importa,
  realmente, é entendermos o porquê
  de Homero compô-lo dessa maneira
  em sua epopeia.
Imagem Utilizada
Localização: Museu do Louvre, Paris, França – G 115.
Temática: luta entre Páris e Menelau, conhecida pelo
   Canto III da Ilíada de Homero.
Proveniência: Cápua.
Forma: kýlix.
Estilo: figuras vermelhas.
Pintor/Ceramista: Douris/Kalliades.
Data: 490 - 460 a.C.
Indicação bibliográfica: BEAZLEY, John Davidson.
   Attic Red-Figure Vase-Painters. 2nd edition. The
   Clarendon Press: Oxford, 1963, p. 434.
Descrição: Menelau (centro-esquerda) persegue Páris
   (centro-direita), enquanto Afrodite (esquerda) e
   Ártemis (direita) observam.

Contenu connexe

Plus de Renata Cardoso

A Arquearia entre a Cinésica Social e a Análise de Discurso
A Arquearia entre a Cinésica Social e a Análise de DiscursoA Arquearia entre a Cinésica Social e a Análise de Discurso
A Arquearia entre a Cinésica Social e a Análise de DiscursoRenata Cardoso
 
O Cineclube de História como instrumento de prática pedagógica
O Cineclube de História como instrumento de prática pedagógicaO Cineclube de História como instrumento de prática pedagógica
O Cineclube de História como instrumento de prática pedagógicaRenata Cardoso
 
Páris homérico e Páris trágico
Páris homérico e Páris trágicoPáris homérico e Páris trágico
Páris homérico e Páris trágicoRenata Cardoso
 
“As Próprias Gestas dos Heróis das Idades Corridas nos Dizem”: Homero e sua F...
“As Próprias Gestas dos Heróis das Idades Corridas nos Dizem”: Homero e sua F...“As Próprias Gestas dos Heróis das Idades Corridas nos Dizem”: Homero e sua F...
“As Próprias Gestas dos Heróis das Idades Corridas nos Dizem”: Homero e sua F...Renata Cardoso
 
Sociedade Homérica, Sociedade Grega: Noções Importantes para o Estudo da “Pai...
Sociedade Homérica, Sociedade Grega: Noções Importantes para o Estudo da “Pai...Sociedade Homérica, Sociedade Grega: Noções Importantes para o Estudo da “Pai...
Sociedade Homérica, Sociedade Grega: Noções Importantes para o Estudo da “Pai...Renata Cardoso
 
Sociedade e indivíduo na Ilíada de Homero
Sociedade e indivíduo na Ilíada de HomeroSociedade e indivíduo na Ilíada de Homero
Sociedade e indivíduo na Ilíada de HomeroRenata Cardoso
 
A poesia como documento histórico: reflexões transdisciplinares
A poesia como documento histórico: reflexões transdisciplinaresA poesia como documento histórico: reflexões transdisciplinares
A poesia como documento histórico: reflexões transdisciplinaresRenata Cardoso
 
A individualidade do herói na "Ilíada" de Homero - SOUSA, Renata Cardoso de.
A individualidade do herói na "Ilíada" de Homero - SOUSA, Renata Cardoso de.A individualidade do herói na "Ilíada" de Homero - SOUSA, Renata Cardoso de.
A individualidade do herói na "Ilíada" de Homero - SOUSA, Renata Cardoso de.Renata Cardoso
 
Apresentação de "Introdução a Homero"
Apresentação de "Introdução a Homero"Apresentação de "Introdução a Homero"
Apresentação de "Introdução a Homero"Renata Cardoso
 

Plus de Renata Cardoso (11)

A Arquearia entre a Cinésica Social e a Análise de Discurso
A Arquearia entre a Cinésica Social e a Análise de DiscursoA Arquearia entre a Cinésica Social e a Análise de Discurso
A Arquearia entre a Cinésica Social e a Análise de Discurso
 
Homero e seus poemas
Homero e seus poemasHomero e seus poemas
Homero e seus poemas
 
O Cineclube de História como instrumento de prática pedagógica
O Cineclube de História como instrumento de prática pedagógicaO Cineclube de História como instrumento de prática pedagógica
O Cineclube de História como instrumento de prática pedagógica
 
Páris homérico e Páris trágico
Páris homérico e Páris trágicoPáris homérico e Páris trágico
Páris homérico e Páris trágico
 
“As Próprias Gestas dos Heróis das Idades Corridas nos Dizem”: Homero e sua F...
“As Próprias Gestas dos Heróis das Idades Corridas nos Dizem”: Homero e sua F...“As Próprias Gestas dos Heróis das Idades Corridas nos Dizem”: Homero e sua F...
“As Próprias Gestas dos Heróis das Idades Corridas nos Dizem”: Homero e sua F...
 
Sociedade Homérica, Sociedade Grega: Noções Importantes para o Estudo da “Pai...
Sociedade Homérica, Sociedade Grega: Noções Importantes para o Estudo da “Pai...Sociedade Homérica, Sociedade Grega: Noções Importantes para o Estudo da “Pai...
Sociedade Homérica, Sociedade Grega: Noções Importantes para o Estudo da “Pai...
 
Sociedade e indivíduo na Ilíada de Homero
Sociedade e indivíduo na Ilíada de HomeroSociedade e indivíduo na Ilíada de Homero
Sociedade e indivíduo na Ilíada de Homero
 
A poesia como documento histórico: reflexões transdisciplinares
A poesia como documento histórico: reflexões transdisciplinaresA poesia como documento histórico: reflexões transdisciplinares
A poesia como documento histórico: reflexões transdisciplinares
 
A individualidade do herói na "Ilíada" de Homero - SOUSA, Renata Cardoso de.
A individualidade do herói na "Ilíada" de Homero - SOUSA, Renata Cardoso de.A individualidade do herói na "Ilíada" de Homero - SOUSA, Renata Cardoso de.
A individualidade do herói na "Ilíada" de Homero - SOUSA, Renata Cardoso de.
 
Seminário Antiga I
Seminário Antiga ISeminário Antiga I
Seminário Antiga I
 
Apresentação de "Introdução a Homero"
Apresentação de "Introdução a Homero"Apresentação de "Introdução a Homero"
Apresentação de "Introdução a Homero"
 

Dernier

Educação Financeira - Cartão de crédito665933.pptx
Educação Financeira - Cartão de crédito665933.pptxEducação Financeira - Cartão de crédito665933.pptx
Educação Financeira - Cartão de crédito665933.pptxMarcosLemes28
 
PROJETO DE EXTENSÃO I - TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO Relatório Final de Atividade...
PROJETO DE EXTENSÃO I - TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO Relatório Final de Atividade...PROJETO DE EXTENSÃO I - TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO Relatório Final de Atividade...
PROJETO DE EXTENSÃO I - TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO Relatório Final de Atividade...HELENO FAVACHO
 
Seminário Biologia e desenvolvimento da matrinxa.pptx
Seminário Biologia e desenvolvimento da matrinxa.pptxSeminário Biologia e desenvolvimento da matrinxa.pptx
Seminário Biologia e desenvolvimento da matrinxa.pptxReinaldoMuller1
 
Currículo - Ícaro Kleisson - Tutor acadêmico.pdf
Currículo - Ícaro Kleisson - Tutor acadêmico.pdfCurrículo - Ícaro Kleisson - Tutor acadêmico.pdf
Currículo - Ícaro Kleisson - Tutor acadêmico.pdfTutor de matemática Ícaro
 
Estudar, para quê? Ciência, para quê? Parte 1 e Parte 2
Estudar, para quê?  Ciência, para quê? Parte 1 e Parte 2Estudar, para quê?  Ciência, para quê? Parte 1 e Parte 2
Estudar, para quê? Ciência, para quê? Parte 1 e Parte 2Maria Teresa Thomaz
 
PROJETO DE EXTENSÃO - EDUCAÇÃO FÍSICA BACHARELADO.pdf
PROJETO DE EXTENSÃO - EDUCAÇÃO FÍSICA BACHARELADO.pdfPROJETO DE EXTENSÃO - EDUCAÇÃO FÍSICA BACHARELADO.pdf
PROJETO DE EXTENSÃO - EDUCAÇÃO FÍSICA BACHARELADO.pdfHELENO FAVACHO
 
Produção de Texto - 5º ano - CRÔNICA.pptx
Produção de Texto - 5º ano - CRÔNICA.pptxProdução de Texto - 5º ano - CRÔNICA.pptx
Produção de Texto - 5º ano - CRÔNICA.pptxLeonardoGabriel65
 
19- Pedagogia (60 mapas mentais) - Amostra.pdf
19- Pedagogia (60 mapas mentais) - Amostra.pdf19- Pedagogia (60 mapas mentais) - Amostra.pdf
19- Pedagogia (60 mapas mentais) - Amostra.pdfmarlene54545
 
O que é arte. Definição de arte. História da arte.
O que é arte. Definição de arte. História da arte.O que é arte. Definição de arte. História da arte.
O que é arte. Definição de arte. História da arte.denisecompasso2
 
Plano de aula Nova Escola períodos simples e composto parte 1.pptx
Plano de aula Nova Escola períodos simples e composto parte 1.pptxPlano de aula Nova Escola períodos simples e composto parte 1.pptx
Plano de aula Nova Escola períodos simples e composto parte 1.pptxPaulaYaraDaasPedro
 
Cartão de crédito e fatura do cartão.pptx
Cartão de crédito e fatura do cartão.pptxCartão de crédito e fatura do cartão.pptx
Cartão de crédito e fatura do cartão.pptxMarcosLemes28
 
About Vila Galé- Cadeia Empresarial de Hotéis
About Vila Galé- Cadeia Empresarial de HotéisAbout Vila Galé- Cadeia Empresarial de Hotéis
About Vila Galé- Cadeia Empresarial de Hotéisines09cachapa
 
A Revolução Francesa. Liberdade, Igualdade e Fraternidade são os direitos que...
A Revolução Francesa. Liberdade, Igualdade e Fraternidade são os direitos que...A Revolução Francesa. Liberdade, Igualdade e Fraternidade são os direitos que...
A Revolução Francesa. Liberdade, Igualdade e Fraternidade são os direitos que...DirceuNascimento5
 
Pesquisa Ação René Barbier Livro acadêmico
Pesquisa Ação René Barbier Livro  acadêmicoPesquisa Ação René Barbier Livro  acadêmico
Pesquisa Ação René Barbier Livro acadêmicolourivalcaburite
 
8 Aula de predicado verbal e nominal - Predicativo do sujeito
8 Aula de predicado verbal e nominal - Predicativo do sujeito8 Aula de predicado verbal e nominal - Predicativo do sujeito
8 Aula de predicado verbal e nominal - Predicativo do sujeitotatianehilda
 
PROJETO DE EXTENSÃO I - SERVIÇOS JURÍDICOS, CARTORÁRIOS E NOTARIAIS.pdf
PROJETO DE EXTENSÃO I - SERVIÇOS JURÍDICOS, CARTORÁRIOS E NOTARIAIS.pdfPROJETO DE EXTENSÃO I - SERVIÇOS JURÍDICOS, CARTORÁRIOS E NOTARIAIS.pdf
PROJETO DE EXTENSÃO I - SERVIÇOS JURÍDICOS, CARTORÁRIOS E NOTARIAIS.pdfHELENO FAVACHO
 
GÊNERO CARTAZ - o que é, para que serve.pptx
GÊNERO CARTAZ - o que é, para que serve.pptxGÊNERO CARTAZ - o que é, para que serve.pptx
GÊNERO CARTAZ - o que é, para que serve.pptxMARIADEFATIMASILVADE
 
Apresentação ISBET Jovem Aprendiz e Estágio 2023.pdf
Apresentação ISBET Jovem Aprendiz e Estágio 2023.pdfApresentação ISBET Jovem Aprendiz e Estágio 2023.pdf
Apresentação ISBET Jovem Aprendiz e Estágio 2023.pdfcomercial400681
 
migração e trabalho 2º ano.pptx fenomenos
migração e trabalho 2º ano.pptx fenomenosmigração e trabalho 2º ano.pptx fenomenos
migração e trabalho 2º ano.pptx fenomenosLucianoPrado15
 
PROJETO DE EXTENSÃO I - AGRONOMIA.pdf AGRONOMIAAGRONOMIA
PROJETO DE EXTENSÃO I - AGRONOMIA.pdf AGRONOMIAAGRONOMIAPROJETO DE EXTENSÃO I - AGRONOMIA.pdf AGRONOMIAAGRONOMIA
PROJETO DE EXTENSÃO I - AGRONOMIA.pdf AGRONOMIAAGRONOMIAHELENO FAVACHO
 

Dernier (20)

Educação Financeira - Cartão de crédito665933.pptx
Educação Financeira - Cartão de crédito665933.pptxEducação Financeira - Cartão de crédito665933.pptx
Educação Financeira - Cartão de crédito665933.pptx
 
PROJETO DE EXTENSÃO I - TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO Relatório Final de Atividade...
PROJETO DE EXTENSÃO I - TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO Relatório Final de Atividade...PROJETO DE EXTENSÃO I - TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO Relatório Final de Atividade...
PROJETO DE EXTENSÃO I - TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO Relatório Final de Atividade...
 
Seminário Biologia e desenvolvimento da matrinxa.pptx
Seminário Biologia e desenvolvimento da matrinxa.pptxSeminário Biologia e desenvolvimento da matrinxa.pptx
Seminário Biologia e desenvolvimento da matrinxa.pptx
 
Currículo - Ícaro Kleisson - Tutor acadêmico.pdf
Currículo - Ícaro Kleisson - Tutor acadêmico.pdfCurrículo - Ícaro Kleisson - Tutor acadêmico.pdf
Currículo - Ícaro Kleisson - Tutor acadêmico.pdf
 
Estudar, para quê? Ciência, para quê? Parte 1 e Parte 2
Estudar, para quê?  Ciência, para quê? Parte 1 e Parte 2Estudar, para quê?  Ciência, para quê? Parte 1 e Parte 2
Estudar, para quê? Ciência, para quê? Parte 1 e Parte 2
 
PROJETO DE EXTENSÃO - EDUCAÇÃO FÍSICA BACHARELADO.pdf
PROJETO DE EXTENSÃO - EDUCAÇÃO FÍSICA BACHARELADO.pdfPROJETO DE EXTENSÃO - EDUCAÇÃO FÍSICA BACHARELADO.pdf
PROJETO DE EXTENSÃO - EDUCAÇÃO FÍSICA BACHARELADO.pdf
 
Produção de Texto - 5º ano - CRÔNICA.pptx
Produção de Texto - 5º ano - CRÔNICA.pptxProdução de Texto - 5º ano - CRÔNICA.pptx
Produção de Texto - 5º ano - CRÔNICA.pptx
 
19- Pedagogia (60 mapas mentais) - Amostra.pdf
19- Pedagogia (60 mapas mentais) - Amostra.pdf19- Pedagogia (60 mapas mentais) - Amostra.pdf
19- Pedagogia (60 mapas mentais) - Amostra.pdf
 
O que é arte. Definição de arte. História da arte.
O que é arte. Definição de arte. História da arte.O que é arte. Definição de arte. História da arte.
O que é arte. Definição de arte. História da arte.
 
Plano de aula Nova Escola períodos simples e composto parte 1.pptx
Plano de aula Nova Escola períodos simples e composto parte 1.pptxPlano de aula Nova Escola períodos simples e composto parte 1.pptx
Plano de aula Nova Escola períodos simples e composto parte 1.pptx
 
Cartão de crédito e fatura do cartão.pptx
Cartão de crédito e fatura do cartão.pptxCartão de crédito e fatura do cartão.pptx
Cartão de crédito e fatura do cartão.pptx
 
About Vila Galé- Cadeia Empresarial de Hotéis
About Vila Galé- Cadeia Empresarial de HotéisAbout Vila Galé- Cadeia Empresarial de Hotéis
About Vila Galé- Cadeia Empresarial de Hotéis
 
A Revolução Francesa. Liberdade, Igualdade e Fraternidade são os direitos que...
A Revolução Francesa. Liberdade, Igualdade e Fraternidade são os direitos que...A Revolução Francesa. Liberdade, Igualdade e Fraternidade são os direitos que...
A Revolução Francesa. Liberdade, Igualdade e Fraternidade são os direitos que...
 
Pesquisa Ação René Barbier Livro acadêmico
Pesquisa Ação René Barbier Livro  acadêmicoPesquisa Ação René Barbier Livro  acadêmico
Pesquisa Ação René Barbier Livro acadêmico
 
8 Aula de predicado verbal e nominal - Predicativo do sujeito
8 Aula de predicado verbal e nominal - Predicativo do sujeito8 Aula de predicado verbal e nominal - Predicativo do sujeito
8 Aula de predicado verbal e nominal - Predicativo do sujeito
 
PROJETO DE EXTENSÃO I - SERVIÇOS JURÍDICOS, CARTORÁRIOS E NOTARIAIS.pdf
PROJETO DE EXTENSÃO I - SERVIÇOS JURÍDICOS, CARTORÁRIOS E NOTARIAIS.pdfPROJETO DE EXTENSÃO I - SERVIÇOS JURÍDICOS, CARTORÁRIOS E NOTARIAIS.pdf
PROJETO DE EXTENSÃO I - SERVIÇOS JURÍDICOS, CARTORÁRIOS E NOTARIAIS.pdf
 
GÊNERO CARTAZ - o que é, para que serve.pptx
GÊNERO CARTAZ - o que é, para que serve.pptxGÊNERO CARTAZ - o que é, para que serve.pptx
GÊNERO CARTAZ - o que é, para que serve.pptx
 
Apresentação ISBET Jovem Aprendiz e Estágio 2023.pdf
Apresentação ISBET Jovem Aprendiz e Estágio 2023.pdfApresentação ISBET Jovem Aprendiz e Estágio 2023.pdf
Apresentação ISBET Jovem Aprendiz e Estágio 2023.pdf
 
migração e trabalho 2º ano.pptx fenomenos
migração e trabalho 2º ano.pptx fenomenosmigração e trabalho 2º ano.pptx fenomenos
migração e trabalho 2º ano.pptx fenomenos
 
PROJETO DE EXTENSÃO I - AGRONOMIA.pdf AGRONOMIAAGRONOMIA
PROJETO DE EXTENSÃO I - AGRONOMIA.pdf AGRONOMIAAGRONOMIAPROJETO DE EXTENSÃO I - AGRONOMIA.pdf AGRONOMIAAGRONOMIA
PROJETO DE EXTENSÃO I - AGRONOMIA.pdf AGRONOMIAAGRONOMIA
 

"Mas muito medrosos [são] os troianos": a representação do Outro na Ilíada de Homero

  • 1. “Mas muito medrosos [são] os Troianos”: a representação do Outro na Ilíada de Homero Renata Cardoso de Sousa Orientador: Fábio de Souza Lessa
  • 2. Alteridade “o Outro é um Eu” (AUGÉ, 1998, p. 103). AUGÉ, Marc. A guerra dos sonhos: exercícios de etnoficção. Tradução, Maria Lúcia Pereira. Campinas: Papirus, 1998.
  • 3. Alteridade na Ilíada • Na Ilíada é onde é utilizada pela primeira vez a palavra barbarophónos (Il. II, v. 867), de onde surgirá a palavra bárbaros. • Ela é utilizada para se referir à composição do exército aliado troiano. • Levando-se em consideração que a língua é o traço marcante de uma cultura, essa diferenciação linguística é relevante.
  • 4. • Na Ilíada, a alteridade que se dá entre os helenos do Peloponeso e os troianos não tem a ver com estes serem o estrangeiro, ou o não-grego, uma vez que os habitantes de Troia pertencem à faixa asiática de território heleno, sendo, portanto, também helenos.
  • 5. • Na Ilíada, a alteridade que se dá entre os helenos do Peloponeso e os troianos não tem a ver com estes serem o estrangeiro, ou o não-grego, uma vez que os habitantes de Troia pertencem à faixa asiática de território heleno, sendo, portanto, também helenos.
  • 6. “Aquiles é inimigo de Heitor, detesta-o, não porque ele é troiano (não há nação, não há chauvinismo, gregos e troianos se entendem muito bem, falam a mesma língua, têm as mesmas reações, e os troianos são descritos pelo poeta com a mesma simpatia), mas porque Heitor matou aquele que era para ele como um irmão, Pátroclo” (VERNANT, 2009, p. 91). VERNANT, Jean-Pierre. A travessia das fronteiras – Entre mito e política II. Tradução de Mary Amazonas Leite de Barros. São Paulo: EDUSP, 2009.
  • 7. • O que marca a alteridade entre gregos e troianos, então, é o fato de estes serem inimigos daqueles. • Essa afirmação é legítima à medida que “(...) a identidade helênica conhece tensões, fissuras e oposições de alteridades internas no seu seio – o Outro pode, também, ser o Grego, como rival, inimigo, invasor, infrator de códigos de comportamento” (FIALHO, 2010, p. 114). FIALHO, Maria do Céu. Rituais de cidadania na Grécia Antiga. In: FERREIRA, José Ribeiro; FIALHO, Maria do Céu; LEÃO, Delfim Ferreira (Orgs.). Cidadania e Paideía na Grécia Antiga. Coimbra: Centro de Estudos Clássicos e Humanísticos, 2010, p. 112-144.
  • 8. Como essa constatação influencia na compreensão da personalidade de Páris? • Páris, de fato, é um herói de pouca areté guerreira, como se pode constatar na análise de sua personalidade. • Um dos fatores que fazem com que ele seja representado dessa maneira é o fato de ele ser o Outro, o inimigo, apresentando, pois, menos areté guerreira do que os combatentes do exército grego. • Páris infringe uma etiqueta extremamente cara aos helenos, que é a xénia, a hospitalidade, ao retirar Helena de Menelau durante sua estadia em Esparta.
  • 9. Mas Homero não “torcia” pelos troianos? • Não. Lembremo-nos de que os troianos ficaram em vantagem por boa parte da Ilíada porque Aquiles desentendeu-se com Agamêmnon e se retirou da batalha, rogando a Zeus que desse a vitória aos troianos para que o chefe aqueu visse o impacto de sua ausência na peleja. • Questão da areté do exército troiano em geral: ele é mostrado de maneira valorosa também porque uma vitória sobre um exército fraco não é uma vitória gloriosa.
  • 10. Conclusão • O troiano é o Outro porque é o inimigo. • Páris é “vaidoso”, “frívolo” (RUTHERFORD, 1996, p. 33), “afeminado”, “frouxo” (LORAUX, 1989, p. 93), “playboy”, “patético” (HUGHES, 2009, p. 219), “fujão”, “covarde” (AUBRETON, 1956, p. 168), como constataram alguns autores contemporâneos, dentre outros motivos, porque ele é o Outro, isto é, ele é aquilo que o grego não é. RUTHERFORD, Richard B. Homer (Greece and Rome New Surveys in the Classics, n. 26). Oxford, Oxford University Press (Classical Association), 1996. LORAUX, Nicole. Crainte et tremblement du guerrier. In: __________. Les experiences de Tirèsias: le fémenin et l´homme grec. Paris, Gallimard, 1989. HUGHES, Bettany. Helena de Tróia: Deusa, Princesa e Prostituta. Rio de Janeiro, Record, 2009. AUBRETON, Robert. Introdução a Homero. São Paulo, DIFEL, 1956.
  • 11. • Entretanto, para além de desqualificar um herói dessa maneira nossos trabalhos, o que importa, realmente, é entendermos o porquê de Homero compô-lo dessa maneira em sua epopeia.
  • 12. Imagem Utilizada Localização: Museu do Louvre, Paris, França – G 115. Temática: luta entre Páris e Menelau, conhecida pelo Canto III da Ilíada de Homero. Proveniência: Cápua. Forma: kýlix. Estilo: figuras vermelhas. Pintor/Ceramista: Douris/Kalliades. Data: 490 - 460 a.C. Indicação bibliográfica: BEAZLEY, John Davidson. Attic Red-Figure Vase-Painters. 2nd edition. The Clarendon Press: Oxford, 1963, p. 434. Descrição: Menelau (centro-esquerda) persegue Páris (centro-direita), enquanto Afrodite (esquerda) e Ártemis (direita) observam.