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Renata Cardoso de Sousa
Universidade Federal do Rio de Janeiro
Centro de Filosofia e Ciências Humanas
Instituto de História
Laboratório de História Antiga
Iniciação Científica – Conselho Nacional
de Desenvolvimento Científico e
Tecnológico
Orientador: Prof. Dr. Fábio de Souza
Lessa
 Problema: por que Páris é representado
desse modo por Homero?
 Recorte temporal: c. século VIII a.C.
 Fontes:
HOMERO. Ilíada. Tradução, Carlos Alberto
Nunes. São Paulo: Ediouro, 2009.
HOMERO. Odisséia. Tradução, Carlos
Alberto Nunes. São Paulo: Ediouro, 2009.
 Método:
CARDOSO, Ciro Flamarion. Narrativa,
Sentido, História. Campinas: Papirus,
1997.
Nossos objetivos são:
Denotar a importância
das obras de Homero e do
herói para se expressar
todo um código de
conduta adotado para a
formação dos “belos e
bons”, da aristocracia;
Mostrar como isso é feito
ao longo dessas epopeias;
Imiscuir, adotando as
concepções de Norbert
Elias, as ideias de indivíduo
e sociedade, possibilitando
uma pesquisa que
contemple ambos.
A poesia como instrumento de
paideía: as epopeias encerram mitos;
o mito “possui o espantoso poder de
engendrar as noções fundamentais
da ciência e as principais formas da
cultura” (DETIENNE, 2008, p. 34) e
por isso a sua difusão constitui uma
prática de paideía.
Do mesmo modo, a conduta
expressa pelos heróis também se
constitui em modelo.
DETIENNE, Marcel. Os Gregos e
Nós: Uma Antropologia Comparada da Grécia
Antiga. São Paulo: Edições Loyola, 2008.
 Sociedade em foco: “o
herói da epopeia nunca é, a
rigor, um indivíduo. [...] seu
objeto não é um destino
pessoal, mas o de uma
comunidade” (LUKÁCS,
2007, p. 67).
 Indivíduo em foco: “[...] a
honra do herói era
puramente individual, pois
vivia por ela e por ela lutava
tão só em defesa dela e no
interesse próprio” (FINLEY,
1982, p. 111).
 “As pessoas vivenciam o ‘indivíduo’ e a
‘sociedade’ como coisas distintas e
frequentemente opostas [...] Uma das
condições fundamentais da existência
humana é a presença simultânea de
diversas pessoas interrelacionadas. [...]
Não existe um grau zero de
vinculabilidade social do indivíduo, um
‘começo’ ou ruptura nítida em que ele
ingresse na sociedade como que vindo
de fora, como um ser não afetado pela
rede, e então comece a se vincular a
outros seres humanos. [...] Somente
através de um processo social de
moldagem, no contexto de
características sociais específicas, é que
a pessoa desenvolve as características e
estilos comportamentais que a
distinguem de todos os demais
membros da sociedade. A sociedade
não apenas produz o semelhante e o
típico, mas também o individual (ELIAS,
1994, p. 75, 27, 31, 55 e 56).
ELIAS, Norbert. A Sociedade dos Indivíduos. Rio de
Janeiro: Jorge Zahar Ed., 1994.
 “Penso, com efeito, que não
podemos falar dos homens fora
do grupo nos quais esses
homens estão inseridos, fora
de seu contexto social preciso;
[...]. Não encontramos, de um
lado, indivíduos humanos
isolados que poderiam ser
submetidos a um estudo
psicológico e, de outro,
realidades sociais que seriam
coisas inertes, submetidas em
sua evolução a uma espécie de
determinismo exterior, e que
poderíamos estudar como
objetos. Uma sociedade é um
sistema de relações entre os
homens, [...]. E, na concretude
de sua existência, os homens
definem-se também pela rede
das práticas que os ligam uns
aos outros” (VERNANT, 2009,
p. 54). VERNANT, Jean-Pierre. Entre Mito e Política. São
Paulo: EDUSP, 2009.
Devemos ter em mente o que a sociedade espera de
um herói, a fim de compreender as suas ações como
um meio de paideía.
SOCIEDADE
HOMÉRICA
Odisseu
“astucioso guerreiro” (v. 200); “em toda sorte de ardis entendido
e varão prudentíssimo” (v. 203); “o astucioso” (v. 216) -> astúcia,
inteligência estratégica.
Menelau “de Ares forte discípulo” (v. 206) -> belicosidade.
Ájax Telamônio
“de bem maior estatura e de espaldas mais largas que os outros”
(v. 227); “gigante” (v. 229) -> força corporal, imponência.
Páris
“Páris funesto, de bela forma, louco por mulheres, sedutor” (v.
39); “Esses cabelos, a cítara, os dons de Afrodite, a beleza” (v. 55)
-> beleza, habilidade musical, habilidade de sedução.
 As obras homéricas, uma vez
difusora dos mitos, constitui-se
num instrumento profícuo de
paideía.
 Como a sociedade e o indivíduo
são partes de um par
complementar, que se
interrelacionam, é mister
considerar o que a sociedade
espera de um indivíduo a fim de
analisarmos a paideía dentro dos
textos de Homero.
 Contudo, cada herói mantém sua
individualidade: esse grupo não é
uma “massa indistinta” de pessoas,
mas, como em toda sociedade,
cada um se difere por uma
habilidade diferente.

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Sociedade Homérica, Sociedade Grega: Noções Importantes para o Estudo da “Paideía”

  • 1. Renata Cardoso de Sousa Universidade Federal do Rio de Janeiro Centro de Filosofia e Ciências Humanas Instituto de História Laboratório de História Antiga Iniciação Científica – Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico Orientador: Prof. Dr. Fábio de Souza Lessa
  • 2.  Problema: por que Páris é representado desse modo por Homero?  Recorte temporal: c. século VIII a.C.  Fontes: HOMERO. Ilíada. Tradução, Carlos Alberto Nunes. São Paulo: Ediouro, 2009. HOMERO. Odisséia. Tradução, Carlos Alberto Nunes. São Paulo: Ediouro, 2009.  Método: CARDOSO, Ciro Flamarion. Narrativa, Sentido, História. Campinas: Papirus, 1997.
  • 3. Nossos objetivos são: Denotar a importância das obras de Homero e do herói para se expressar todo um código de conduta adotado para a formação dos “belos e bons”, da aristocracia; Mostrar como isso é feito ao longo dessas epopeias; Imiscuir, adotando as concepções de Norbert Elias, as ideias de indivíduo e sociedade, possibilitando uma pesquisa que contemple ambos.
  • 4.
  • 5. A poesia como instrumento de paideía: as epopeias encerram mitos; o mito “possui o espantoso poder de engendrar as noções fundamentais da ciência e as principais formas da cultura” (DETIENNE, 2008, p. 34) e por isso a sua difusão constitui uma prática de paideía. Do mesmo modo, a conduta expressa pelos heróis também se constitui em modelo. DETIENNE, Marcel. Os Gregos e Nós: Uma Antropologia Comparada da Grécia Antiga. São Paulo: Edições Loyola, 2008.
  • 6.  Sociedade em foco: “o herói da epopeia nunca é, a rigor, um indivíduo. [...] seu objeto não é um destino pessoal, mas o de uma comunidade” (LUKÁCS, 2007, p. 67).  Indivíduo em foco: “[...] a honra do herói era puramente individual, pois vivia por ela e por ela lutava tão só em defesa dela e no interesse próprio” (FINLEY, 1982, p. 111).
  • 7.  “As pessoas vivenciam o ‘indivíduo’ e a ‘sociedade’ como coisas distintas e frequentemente opostas [...] Uma das condições fundamentais da existência humana é a presença simultânea de diversas pessoas interrelacionadas. [...] Não existe um grau zero de vinculabilidade social do indivíduo, um ‘começo’ ou ruptura nítida em que ele ingresse na sociedade como que vindo de fora, como um ser não afetado pela rede, e então comece a se vincular a outros seres humanos. [...] Somente através de um processo social de moldagem, no contexto de características sociais específicas, é que a pessoa desenvolve as características e estilos comportamentais que a distinguem de todos os demais membros da sociedade. A sociedade não apenas produz o semelhante e o típico, mas também o individual (ELIAS, 1994, p. 75, 27, 31, 55 e 56). ELIAS, Norbert. A Sociedade dos Indivíduos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 1994.
  • 8.  “Penso, com efeito, que não podemos falar dos homens fora do grupo nos quais esses homens estão inseridos, fora de seu contexto social preciso; [...]. Não encontramos, de um lado, indivíduos humanos isolados que poderiam ser submetidos a um estudo psicológico e, de outro, realidades sociais que seriam coisas inertes, submetidas em sua evolução a uma espécie de determinismo exterior, e que poderíamos estudar como objetos. Uma sociedade é um sistema de relações entre os homens, [...]. E, na concretude de sua existência, os homens definem-se também pela rede das práticas que os ligam uns aos outros” (VERNANT, 2009, p. 54). VERNANT, Jean-Pierre. Entre Mito e Política. São Paulo: EDUSP, 2009.
  • 9. Devemos ter em mente o que a sociedade espera de um herói, a fim de compreender as suas ações como um meio de paideía.
  • 11. Odisseu “astucioso guerreiro” (v. 200); “em toda sorte de ardis entendido e varão prudentíssimo” (v. 203); “o astucioso” (v. 216) -> astúcia, inteligência estratégica. Menelau “de Ares forte discípulo” (v. 206) -> belicosidade. Ájax Telamônio “de bem maior estatura e de espaldas mais largas que os outros” (v. 227); “gigante” (v. 229) -> força corporal, imponência. Páris “Páris funesto, de bela forma, louco por mulheres, sedutor” (v. 39); “Esses cabelos, a cítara, os dons de Afrodite, a beleza” (v. 55) -> beleza, habilidade musical, habilidade de sedução.
  • 12.  As obras homéricas, uma vez difusora dos mitos, constitui-se num instrumento profícuo de paideía.  Como a sociedade e o indivíduo são partes de um par complementar, que se interrelacionam, é mister considerar o que a sociedade espera de um indivíduo a fim de analisarmos a paideía dentro dos textos de Homero.  Contudo, cada herói mantém sua individualidade: esse grupo não é uma “massa indistinta” de pessoas, mas, como em toda sociedade, cada um se difere por uma habilidade diferente.